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A atividade econômica organizada — a empresa — poderá ser efetuada por vários ângulos: subjetivo, objetivo, corporativo e funcional. O fenômeno empresa tendo em vista seu aspecto subjetivo, mais especificamente em relação ao empresário individual. Empreendedor, como gênero, do qual é espécie o empresário individual, em sentido estrito, e, mais recentemente, o Microempreendedor Individual (MEI), nos termos da Lei Complementar n. 128/2008. Assim, a caracterização do empresário individual se dá pelo efetivo exercício profissional de atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços. Há atividade empresarial sempre que houver uma série de atos orientados a um determinado fim. Por isso se diz atividade organizada. O empresário caracteriza-se como o empreendedor que, individualmente, predispõe-se a exercer a atividade empresarial. O risco de tal escolha se apresentará patente em caso de insucesso do empreendimento, hipótese em que o patrimônio particular do empreendedor também responderá pelo passivo a descoberto da atividade empresarial., o empresário não poderá invocar o princípio da separação patrimonial. ● INTUITO LUCRATIVO A justificativa da necessidade da presença de intuito lucrativo como requisito da figura do empresário varia conforme seu enquadramento na ideia de profissionalismo ou na ideia de economicidade: O profissionalismo é entendido pela doutrina como: ↪ Habitualidade (propósito de permanência) no exercício da atividade; ↪ O exercício da atividade com intuito de lucro. A economicidade é entendida pela doutrina como: ↪ O intuito lucrativo; ↪ A assunção dos riscos econômicos da atividade; ↪ O respeito ao regime de ingressos e saídas, de modo a possibilitar a consecução de um fim. Entretanto, há sociedades empresárias que, por força de lei, não têm a característica do intuito de lucro. São as sociedades empresárias do setor público (Sociedade de Economia Mista – lei 6.404/76 – art. 238). → Empresário é pessoa física (natural). ↪ Portanto não se confunde com sociedade empresária (Pessoa Jurídica). → Empresário (pessoa natural) é quem exerce em seu nome (individual) a atividade econômica (Empresário (Individual)). ↪ Portanto não se confunde com sócio (ou acionista) de sociedade empresária; ↪ O sócio (ou acionista) faz parte de um contrato (contrato social), mas quem exerce a atividade econômica é a sociedade (pessoa jurídica) resultante do contrato social. → Empresário é pessoa física (natural), ou seja, é sujeito de direito. ↪ Empresário (Individual) não se confunde com estabelecimento; ↪ Estabelecimento é conjunto de bens (mesa, cadeira, imóvel, veículos etc.), portanto objeto de direito – CCB/02 – art. 1.142. → Empresário (Individual) não se confunde com “firma”. ↪ Esta é uma técnica de identificação do nome do empresário; ↪ O nome da pessoa não se confunde com a própria pessoa. (Empresario) Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. ● ATIVIDADES EXCLUÍDAS DO CONTEXTO EMPRESARIAL A simples leitura do conceito de empresário contida no art. 966, caput, poderia englobar praticamente todo gênero de atividade econômica voltada para a produção ou circulação de bens ou serviços. Entretanto, o ordenamento jurídico brasileiro adotou o critério da empresarialidade por determinação legal. Isso significa que será a lei que determinará quem pode ou não ser considerado empresário. Dessa maneira, nem todos os agentes econômicos que exerçam atividade econômica organizada com intuito lucrativo, serão considerados empresários. Assim, aqueles que exercem profissão intelectual (gênero), qualificada pelo aspecto predominante científico, literária ou artística (espécie), regulamentada por estatuto próprio, também não serão tidos como empresários. Isso se dá porque esses profissionais já possuem estatuto próprio a regular sua atividade. Há também determinação legal de se inscreverem em livros ou listas particulares, em detrimento da inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis. Fique atento, pois não são empresários os advogados e as sociedades de advogados, por exercerem atividade privativa de advogado e regrada, portanto, pelo Estatuto do Advogado (lei 8.906/1994 – art. 16). Assim, devem registro no Conselho Seccional da Ordem dos Advogados (lei 8.906/1994 – arts. 10 e 15, §1o). Agentes econômicos rurais (produtor rural) e profissionais liberais, em princípio não são empresários. Assim, as sociedades envolvendo produtores rurais, médicos, engenheiros, advogados, não são consideradas sociedades empresárias, porque entram no art. 966, parágrafo único. Contudo no art. 966, caput, (2a parte) já dá a exceção ao dizer: “salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”. Predomina o entendimento do ProfessorJosé Edwaldo Tavares Borba no sentido de que o aspecto intelectual constitui um dos fatores (elementos) ou instrumentos de atuação da atividade econômica. Não mais o principal aspecto, apenas mais um. A atividade passe a ser considerada empresária se o aspecto intelectual (científico, artístico ou literário) seja apenas mais um elemento dentro de uma cadeia de atos e negócios empresariais. Neste caso, a atividade econômica passa a ser considerada empresarial. ● PARA SER EMPRESÁRIO É IMPRESCINDÍVEL O REGISTRO? Para que alguém seja caracterizado como empresário, seria imprescindível o registro do empreendimento em órgão governamental? A resposta parece ser negativa. Isso porque o direito empresarial brasileiro, cuja teoria encontra-se sedimentada no Código Civil, atribuiu eficácia meramente declaratória ao registro, à luz de uma interpretação sistemática da normativa regente. No entanto, uma interpretação lógico-formal do art. 967 do CC poderia, deveras, levar a uma conclusão diversa. É que tal dispositivo preceitua ser obrigatória a inscrição do empresário. Porém, a literalidade do texto de lei permite a interpretação de que o registro é meramente declaratório, ao asseverar que é obrigatória a inscrição do empresário. Ocorre que o empresário que não realiza seu registro em órgão competente está realizando a atividade empresarial de forma irregular, mas isto não tira dele a qualidade de empresário, ele apenas o é de forma irregular. Por fim, há uma exceção para esta regra, o caso do empresário rural, que para ter a qualidade de empresário precisa realizar a inscrição, neste sentido dispõe o artigo 971 do Código Civil, leia-se: Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. Enunciado 198 da III Jornada de Direito Civil A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às normas do Código Civil e da legislação comercial, salvo naquilo em que forem incompatíveis com a sua condição ou diante de expressa disposição em contrário. Enunciado 198 da III Jornada de Direito Civil A inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador de sua regularidade, e não de sua caracterização. Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos osefeitos, ao empresário sujeito a registro. Para ser considerado empresário, basta preencher os requisitos para caracterização do empresário que são: → Pessoa física (natural) ter capacidade plena. → Exercício efetivo da empresa (profissionalismo – finalidade de lucro) → Ausência de proibição legal. (CC/02 – art. 972). O Registro na Junta Comercial não é, em regra, requisito para identificação do Empresário (Individual). Ainda que pessoa exerça a empresa sem o registro, será considerada empresária. A pessoa com capacidade que exercer a empresa com profissionalismo e com finalidade de lucro, ainda que legalmente proibida de exercer a empresa também será considerada empresária. ● EXERCÍCIO DA EMPRESA PELO INCAPAZ O incapaz também pode exercer a empresa. Entretanto, o incapaz somente poderá dar continuidade a uma empresa já iniciada, não poderá iniciar, em nome próprio, empresa própria (CC, art. 974). A permissão legislativa para o exercício da empresa pelo incapaz se dá em atenção à função social de empresa que visa permitir a preservação da empresa, da manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores. Tais situações ocorrem quando essa pessoa já era um empresário e se torna incapaz de forma superveniente; ou quando já era incapaz e herda bens de empresa estabelecida e organizada. Em ambos os casos, obviamente, a celebração de atos jurídicos dependerá da representação ou assistência. Entretanto, quem exerce a empresa é o incapaz. → A sua responsabilidade se dará nos termos do CC, art. 928 c/c art. 974, §2º. ↪ Os representantes ou assistentes se apresentam sob a categoria de administradores da atividade econômica e por isso respondem como tais – CC, art. 1.747 c/c. art. 1.748 c/c. art. 1.752. → Para que um incapaz possa validamente continuar uma empresa iniciada por alguém plenamente capaz deverá obter autorização judicial (CC, art. art. 974 §1º). ↪ Uma vez concedida, essa autorização deverá ser a mesma arquivada na respectiva Junta Comercial (CC, art. 976). → O próprio representante ou o assistente desse empresário incapaz não ter plena capacidade jurídica, ou ser impedido de exercer atividade empresarial. Neste caso, deverá, com autorização judicial, nomear administrador (CC, art. 975). ↪ Essa nomeação não isenta o representante ou assistente do empresário incapaz da responsabilidade pelos atos do gerente nomeado (CC, art. 975, §2º). → Regra excepcional para proteção do patrimônio não empresarial do incapaz autorizado à empresa (CC, art. 974, §2º). ↪ Trata-se de especial hipótese de patrimônio de afetação ou única hipótese de responsabilidade limitada para este específico empresário individual. ● EXERCÍCIO EFETIVO DA EMPRESA A atividade exercida pelo empresário dá-se o nome de empresa, que constitui o objeto do direito empresarial. No entanto, essa atividade deve ser exercida de maneira reiterada, constante, marcada pela realização ao longo do tempo de uma série de atos concatenados e voltados para uma finalidade empresarial. Se a atividade econômica não for efetivamente exercida por determinado período de tempo, o sujeito não poderá ser considerado empresário e por consequência não poderá ser decretada sua falência (lei 11.101/2005 – art. 1o c/c. art. 96, VIII). No mesmo sentido, não se considera empresário aquele que exerce certa atividade temporariamente, esporadicamente, mesmo que seus fins estejam pautados no lucro. Portanto, aquele que episodicamente organiza ou compra certas mercadorias para revenda, não pode ser considerado empresário. ● IMPEDIMENTO LEGAL Os proibidos para atividade empresária, a atividade econômica no Brasil se submete ao princípio da livre- iniciativa. Porém, a própria CF estabelece que o exercício de profissão estará sujeito ao atendimento dos requisitos previstos em lei ordinária (CF, art. 5º, XIII), que fundamenta a validade das proibições ao exercício da empresa. O proibido de exercer a empresa deve ser capaz, ou seja, possuir ampla disponibilidade para realização de negócios jurídicos, mas por força de uma vedação expressa na lei ele não pode exercer a empresa. Os principais impedidos de exercer a atividade empresarial são: Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos. Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. (+incisos) ↪ Membros da Magistratura (art. 95, PU, I da CF + Lei Orgânica da Magistratura Nacional (LOMAN)). ↪ Membros do Ministério Público (art. 128, §5º, II, (c) da CF + lei 8.625/93 (membros do MP) + LC 106/03 (LC estadual do MP/RJ). ↪ Servidores públicos ativos (art. 117, X + art. 132, XIII da lei 8.112/90) ↪ Militares da ativa (art. 29 da lei 6.880/80 + art. 204 do COM (Dl. 1001/69); ↪ Médicos não podem exercer a atividade farmacêutica (lei 5.991/93, art. 21 e art. 55 + Dec. 0.377/31. ↪ Devedores do INSS (lei 8.212/91, art. 95, §2º, (d)) ↪ Prepostos/Empregados (CC, art. 1170 + art. 482 CLT). ↪ Leiloeiro (art. 36, alínea a, 1o do Decreto 21.981/32) ↪ O falido não reabilitado (lei 11.101/2005, art. 102 + art. 158, III + art. 159). Entretanto, a despeito da proibição, se tais pessoas exercerem efetivamente a empresa, responderão como empresários (CC, art. 973). ● OBRIGAÇÕES PROFISSIONAIS DO EMPRESÁRIO Os empresários individuais possuem basicamente três obrigações fundamentais, para que suas atividades sejam legalmente amparadas: 1) dever de arquivamento de seus atos constitutivos na Junta Comercial; 2) dever de escrituração dos livros empresariais obrigatórios. 3) dever de levantar, periodicamente, o balanço patrimonial e de resultado econômico da empresa. ● EMPRESÁRIO ESTRANGEIRO O estrangeiro com visto definitivo pode ser empresário no Brasil, porém tem que ser domiciliado. Isso porque o estrangeiro com visto provisório não pode ser empresário individual no Brasil. Lei 6.815/1980 – art. 99. . A ideia da assunção do risco pelo titular da atividade costumava ser reforçada pelo princípio geral da ilimitação de responsabilidade do empresário, de modo que todo o seu patrimônio respondesse pelas obrigações decorrentes da referida atividade. Todavia, essa ilimitação da responsabilidade tinha o aspecto negativo de inibir, uma vez que nem todos estão dispostos a assumir riscos para obter rendimentos econômicos. Em razão disso, o direito criou técnicas de limitação de responsabilidade para incentivar o desenvolvimento da própria economia, incentivando que as pessoas apliquem seus recursos em atividades econômicas produtivas, sem, contudo, correr riscos extremos de perda de seu patrimônio. Tais técnicas de limitação de responsabilidade nas atividades empresariais estão originalmente ligadas à criação de sociedades personificadas, de modo que a sociedade tenha o risco da atividade, mas seus sócios possam ter riscos limitados. Com o advento do CC de 2002, criou-se uma hipótese excepcional de limitação dos riscos para o exercício individual da atividade empresarial, no caso de continuação da atividade pelo empresário incapaz (art. 974, § 2o). Fora dessa hipótese, os empresários individuais terão riscos ilimitados, o que é um desincentivo à atividade. Para tentar resolver esse problema, a Lei nº 12.441/2011 criou o instituto da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, a EIRELI, com o objetivo de permitir direta ou indiretamente o exercício individual da empresa com limitação de riscos. ● CONCEITOS DA EIRELI A EIRELI é um tipo societário de microempresa no qual é exigido apenas um sócio, o proprietário. Também é exigido um capital social mínimo, ou seja, declaração de uma quantia bruta investida para iniciar o negócio até que esse gerelucros, o proprietário precisa declarar possuir o correspondente a 100 vezes o salário mínimo vigente na época da abertura, exclusivo para essa finalidade. A EIRELI identifica-se como pessoa jurídica de direito privado voltada ao exercício de atividade econômica com titular e patrimônio próprio (CC, art. 44, VI). Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas. Art. 99. Ao estrangeiro titular de visto temporário e ao que se encontre no Brasil na condição do artigo 21, § 1°, é vedado estabelecer-se com firma individual, ou exercer cargo ou função de administrador, gerente ou diretor de sociedade comercial ou civil, bem como inscrever-se em entidade fiscalizadora do exercício de profissão regulamentada. Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. ● CARACTERÍSTICAS E DISTINÇÕES DA EIRELI → A EIRELI não se confunde com Empresário (Individual). ↪ O empresário identifica-se como pessoa física (natural) com Responsabilidade ilimitada (CC, art. 391) ↪ A EIRELI é uma pessoa jurídica (CC, art. 44, VI) cuja pessoa que a constitui tem Responsabilidade limitada (CC, art. 980-A). Ainda que não seja empresário (Individual), devem ser exigidos os requisitos (CC, art. 972) da figura do empresário para a pessoa física (natural) que queira constituir a EIRELI tendo em vista que ela (pessoa jurídica) age pelos atos dele (criador). → A EIRELI não se confunde com sociedade empresária. ↪ O Código Cívil faz expressa distinção entre as sociedades (CC, art. 44, II) e a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI – CC, art. 44, VI). Esta distinção pode ser percebida pelo fato de que as sociedades, em regra, exigem a presença de pelo menos dois sócios (CC, art. 981) e a EIRELI é constituída por apenas uma pessoa (CC, art. 980-A) e assim pode permanecer por prazo indeterminado. Desta distinção é possível afastar qualquer concepção de que a EIRELI seja sociedade unipessoal. → O ato constitutivo da EIRELI identifica-se como uma declaração unilateral de vontade. ↪ Assim, é espécie do gênero dos negócios jurídicos unilaterais. Afasta-se, portanto, da ideia de contrato (unilateral, bilateral ou plurilateral). → A limitação da responsabilidade patrimonial do titular do capital atribuído aos negócios realizados pela empresa exercida pela pessoa jurídica. Trata-se de inovação no direito brasileiro, pois a limitação da responsabilidade pelas obrigações decorrentes de uma atividade econômica só era atribuída apenas aos sócios de determinadas pessoas jurídicas. ↪ Quem realiza a atividade econômica é a pessoa jurídica, pois a pessoa que cria a EIRELI não pratica pessoalmente nenhum ato concernente aos fins da empresa, mas o faz como se fora ela, na qualidade de ser humano que exterioriza a vontade da pessoa jurídica. → A exigência de um capital mínimo. Neste ponto, pouco importa a atividade econômica exercida pela pessoa jurídica e a forma do ato de sua constituição. Como não há “sócios”, o capital deixa de ser fracionado em cotas ou ações, para consolidar-se como um todo indiviso. → A EIRELI não se confunde com um patrimônio de afetação. Este caracteriza-se como um conjunto de bens (patrimônio separado), porém inserido no patrimônio de um mesmo sujeito de direito, submetido a um regime jurídico próprio, diferente do regime jurídico que incide sobre o restante do patrimônio dessa mesma pessoa. Ocorre que o legislador atribuiu personalidade jurídica (CC, art. 44, VI c/c art. 45) a esse novo sujeito (EIRELI), não há como enquadrá-la assim. → A EIRELI não se confunde com fundação. Embora ambas as hipóteses sejam pessoa jurídica de direito privado (CC, art. 44, III e VI) passível de atribuição de direitos e obrigações (personalização – CC, art. 45), há várias diferenças entre elas: a) Fundação deve ter finalidade não econômica (CC, art. 62) enquanto a EIRELI pode ser constituída com fim lucrativo empresarial (CC, art. 980-A, caput c/c §5º). b) Além disso, uma vez criada a fundação, esta destaca-se da pessoa do fundador, ao passo que a EIRELI permanece sempre vinculada ao criador. Do mesmo modo, o patrimônio da fundação desprende-se totalmente da pessoa do instituidor, sem qualquer contrapartida, ao passo que o daquela, conquanto autônomo, mantém-se vinculado à pessoa que for titular do seu capital. c) A dissolução da EIRELI pode ser determinada a qualquer tempo pelo titular do seu capital, retornando os bens remanescentes ao patrimônio do criador ou, por seu falecimento, incorporando-se ao de seus herdeiros. Diversamente ocorre na fundação, em que a dissolução se dá sem participação do instituidor, mesmo em caso de morte deste em que também não afeta a pessoa jurídica (fundação), e os bens dela, em regra, migram para entidade de fins iguais ou semelhantes (salvo cláusula em contrário). → A EIRELI não se confunde com estabelecimento empresarial. Como já afirmado a EIRELI é pessoa jurídica de direito privado (CC, art. 44, VI). Portanto é passível de ser sujeito titular de direito e obrigações (CC, art. 45). O estabelecimento por sua vez caracteriza-se como um conjunto (complexo) de bens materiais ou imateriais utilizados pelo Empresário (Individual), sociedade empresária ou pela própria EIRELI para o exercício da empresa (CC, art. 1.142). Dessa forma, não se pode falar em transferência onerosa da EIRELI como se esta fosse objeto de trespasse (CC, art. 1.145 c/c art. 1.146). O que pode ocorrer é a pessoa jurídica da EIRELI negociar o seu próprio estabelecimento, dispondo livremente de seus bens, inclusive da totalidade deles, dá- los em usufruto ou onerá-los. Neste caso a EIRELI, figura como parte na relação jurídica que o tenha o estabelecimento como objeto, ressalvada a hipótese de a EIRELI alienar o próprio estabelecimento para o titular e criador do seu capital, sendo a EIRELI sujeito ativo ou passivo de uma relação jurídica da qual participe em polo oposto o seu criador. Esta vedação se dá porque quem manifesta a vontade da EIRELI é seu próprio do criador da empresa – o que elimina a caráter intersubjetivo da relação. ● O TITULAR DO CAPITAL DA EIRELI O capital da EIRELI pode, desde março de 2017, ser constituído por qualquer pessoa: pessoa física (natural) ou pessoa jurídica. O criador da EIRELI somente terá direito à Responsabilidade limitada se atendidas as regras estabelecidas para sua regular constituição e que seu capital esteja totalmente integralizado no momento em que o ato constitutivo for levado a registro perante a Junta Comercial. Caso haja irregularidade na sua constituição não se pode falar em produção dos efeitos de limitação da responsabilidade de seu criador. Dessa forma, cabe à Junta Comercial local aferir a presença dos requisitos da constituição da EIRELI (CC, art. 1153). ● MODO DE CONSTITUIÇÃO DA EIRELI A constituição da EIRELI deve se dar por meio de uma declaração unilateral de vontade, firmada pelo seu criador, em instrumento público ou particular, no qual devem estar presentes as exigências regulamentares constantes do Manual dos Atos de Registro, aprovado pela já noticiada DREI – IN no 38/2017 – Anexo V. Após inscrição do ato constitutivo na Junta Comercial, a EIRELI adquire personalidade jurídica (CC, arts. 44 e 45). ● NOME EMPRESARIAL DA EIRELI A EIRELI deve ser identificada por seu nome empresarial. Este nome pode ser uma firma como uma denominação, à semelhança das sociedades limitadas (CC, art. 980-A, §1º c/c §6º). Para distingui-la do empresário e da sociedade empresária, a lei determina que seja acrescida a expressão “EIRELI” no final do nome que fora ela atribuído. A eventual omissão da sigla “Eireli” na firma ou denominação implica perda da limitação da responsabilidade da pessoa física que a gerou. (CC, art. 1.158, §3º). ● OBJETO DA EIRELI A atividade econômica da EIRELI tem de figurar de forma precisa e completa no ato constitutivo. Deve-se destacar que é recomendável que se adote um ramo da atividade econômica próprio de empresário, tendo em vista que desde a sua origem o sujeito que se pretendia atender e a atividade econômica visada era a atividade econômica empresarial evidencia-se que a EIRELI foi criada especialmente com o propósito de limitar a responsabilidade do empresário (individual), sendo sujeita à inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis. (CC, art.1.033, parágrafo único). Entretanto, o legislador expressamente permite que a EIRELI seja constituída para a prestação de serviço de qualquer natureza (CC, art. 980-A, §5º). Deste modo, a EIRELI não necessariamente deva envolver atividade econômica de natureza empresarial, mas sim e também atividade econômica intelectual ou rural. ● CAPITAL DA EIRELI A EIRELI deve ter um capital para determinar sua situação econômico-financeira assim como ocorre com o empresário e a sociedade empresária. Em que pese o argumento de evitar entidades fictícias, a obrigatoriedade de sua constituição com um piso não inferior ao valor de 100 salários mínimos pode impossibilitar ou pelo menos dificultar a adoção do instituto da EIRELI pelo microempreendor individual – MEI, pois este profissional já possui vantagens tributárias se obtiver no ano receita bruta inferior a R$ 60.000,00. (art. 18-A, §1º, da LC 123/2006) ● ADMINISTRAÇÃO DA EIRELI A administração da EIRELI pode ser feita pela própria pessoa (natural ou jurídica) que a criou, de forma direta, ou por pessoa estranha à vontade constitutiva originária. A possibilidade de administrador diferente da pessoa criadora da EIRELI decorre de não haver vedação legal e por estar em consonância com a possibilidade de administrador estranho ao quadro constitutivo da sociedade limitada (CC, art. 1.061). Art. 1.153. Cumpre à autoridade competente, antes de efetivar o registro, verificar a autenticidade e a legitimidade do signatário do requerimento, bem como fiscalizar a observância das prescrições legais concernentes ao ato ou aos documentos apresentados. Parágrafo único. Das irregularidades encontradas deve ser notificado o requerente, que, se for o caso, poderá saná-las, obedecendo às formalidades da lei. Art. 1.158. Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura. §3º A omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade. Neste caso, o administrador diverso da pessoa criadora da EIRELI, age pela pessoa jurídica, fazendo-a presente, obrigando (CC, art. 47) e responsabilizando (CC, art. 391) a EIRELI pelos atos praticados em seu nome. Agindo de boa-fé, com o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios (CC, art. 1.011) não se vincula aos atos que pratica em nome dela; age como se fosse a própria pessoa jurídica. Porém, responsabiliza-se pelos atos de administrador que culposamente causar danos a terceiros. (CC, art. 980-A, §6º c/c. Art. 1.053 c/c. Art. 1016). Probo = de caráter íntegro, honrado, honesto. A categoria de Microempreendedor Individual (MEI) é a que abriga, como pessoa jurídica, a pessoa que trabalha por conta própria e resolve se formalizar enquanto pequeno empresário. Cuja atividade deve ser exercida por apenas uma pessoa, isto é, não permite a existência de sócios, porém admite a contratação de um empregado com carteira assinada. A Lei Complementar nº 128, de 2008, criou condições especiais para tornar-se um MEI legalizado, com registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), enquadramento no Simples Nacional e unificação dos impostos federais (imposto de renda, PIS, Cofins, IPI e CSLL). Há uma lista de profissões que podem ser enquadradas nesse regime, mas atua geralmente como empresa virtual, através de formas que independem de estabelecimento fixo, como Internet, porta-a-porta, máquinas automáticas, correios, tele mensagens e outros meios virtuais previstos em lei. A responsabilidade do MEI é ilimitada, isto é, o patrimônio do sócio não se distingue do patrimônio da pessoa jurídica, caso haja algum problema financeiro relevante, ou mesmo falência, os bens do empreendedor serão utilizados para quitação das dívidas. ● CARACTERÍSTICAS DO MEI Para ser classificado como Microempreendedor Individual, é necessário o profissional faturar no máximo até R$ 81.000,00 por ano ou R$ 6.750,00 por mês e não ter participação em outra empresa como sócio ou titular. Ao se cadastrar como MEI, será enquadrado no Simples Nacional e isentado dos tributos federais, como Imposto de Renda, PIS, COFINS, IPI e CSLL. Será necessário, porém, pagar uma taxa mensal. Essa taxa mensal trata-se de aproximadamente 5% do salário mínimo vigente para a Previdência Social (Empreendedor Individual INSS), apenas 1 real de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços) para o Estado em que está registrado e somente 5 reais a título de ISS (Imposto sobre Serviços) para o município em que você atua. Art. 1.061. A designação de administradores não sócios dependerá de aprovação da unanimidade dos sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, e de 2/3 (dois terços), no mínimo, após a integralização. Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo. Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor. Art. 1.011. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios. Art. 980, §6º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas. Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. O MEI também pode ter um empregado contratado que receba o salário mínimo ou o piso da categoria. ● BENEFÍCIOS DO MEI Além do baixo valor das contribuições e toda tributação em geral, o MEI não vai correr mais o risco de ter sua mercadoria confiscada pela prefeitura pela falta de legalização do seu negócio ou atividade. Ao ter um CNPJ, o MEI poderá emitir NFe (notas fiscais eletrônicas), abrir uma conta bancária e terá acesso mais fácil a crédito. Outros benefícios e direitos de ser um MEI: ↪ Cobertura previdenciária para o empreendedor e seus familiares; ↪ Aposentadoria – por idade ou por invalidez; ↪ Auxílio-doença; ↪ Licença-maternidade; ↪ Pensão por morte para dependentes; ↪ Auxílio-reclusão; ↪ Isenção de taxas para a formalização; ↪ Redução da carga tributária com imposto fixo mensal; ↪ Imediato funcionamento pela concessão de alvará provisório; ↪ Redução da burocracia; ↪ Acesso ao crédito e aos serviços bancários com taxas diferenciadas; abrir conta jurídica e tomar empréstimos exclusivos para MEIs ou outros serviços financeiros; ↪ Possibilidade de fornecer para o governo e outras empresas; ↪ Segurança para exercer sua atividade de forma legal; ↪ Apoio técnico do Sebrae e demais entidades;↪ Possibilidade de emitir nota fiscal. ↪ Emitir nota fiscal como pessoa jurídica; ↪ Contratar um funcionário. ● CADASTRO NO MEI Desde janeiro de 2010, o processo é realizado de forma online, o que dispensa de declaração em papel e da respectiva assinatura física. O objetivo é tornar o processo mais simples e ágil, facilitando as inscrições e evitando cancelamentos. A abertura pode ser feita diretamente pelo empresário no Portal do Microempreendedor do Governo Federal, com os documentos pessoais em mãos: CPF, RG, nome da mãe, endereço com CEP, título de eleitor e o número da declaração do imposto de renda, caso seja declarante, e fazer uma consulta prévia junto à Prefeitura para se assegurar de que o endereço escolhido poderá ser utilizado como sede da empresa. O CNPJ é emitido no mesmo momento. Se preferir, mesmo não sendo necessário, o usuário poderá ter assistência de escritórios de contabilidade ou empresas de assessoria. ● DECLARAÇÃO MENSAL E ANUAL Todos os meses, até o dia 20 de cada mês, o Microempreendedor Individual deve fazer o Relatório Mensal das Receitas Brutas referente ao mês anterior. Esse relatório não precisa ser enviado para nenhum local, deve ficar arquivado com o MEI, juntamente com as notas fiscais do mês. Todos os anos o microempreendedor individual deve realizar a declaração anual simplificada referente ao ano que passou. A primeira declaração pode ser feita por contador optante pelo Simples, de forma gratuita. ● MEI X EMPRESÁRIO INDIVIDUAL O empresário individual é o empresário que opta por registrar uma firma individual, como titular do negócio, sem a existência de um sócio. Porém, para esse tipo de firma o faturamento pode chegar a R$ 4.800.000,00 e é enquadrada como microempresa para aquelas que faturam até R$ 360.000,00 ou empresa de pequeno porte para faturamento até R$ 4.800.000,00. E, para esse tipo de empresa não há limite na contratação de empregados. Outro ponto que diferencia esses dois modelos de empresas é o pagamento de suas obrigações. O MEI faz um pagamento mensal fixo de 5% do valor do salário mínimo e mais R$ 1,00 para as empresas classificadas como indústria ou comércio e R$ 5,00 para as empresas prestadoras de serviços.
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