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. 1 SEDUC/MT Técnico Administrativo Educacional PERÍODO COLONIAL. 1. Os bandeirantes: escravidão indígena e exploração do ouro; 2. A fundação de Cuiabá: Tensões políticas entre os fundadores e a administração colonial; 3. A fundação de Vila Bela da Santíssima Trindade e a criação da Capitania de Mato Grosso; 4. A escravidão negra em Mato Grosso.... .................................................................................................................................................. 1 PERÍODO IMPERIAL. 1. A crise da mineração e as alternativas econômicas da Província; 2. A Rusga; 3. Os quilombos em Mato Grosso; 4. Os Presidentes de Província e suas realizações; 5. A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai e a participação de Mato Grosso; 6. A economia matogrossense após a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai; 7. O fim do Império em Mato Grosso. ........................... 5 PERÍODO REPUBLICANO. 1.O coronelismo em Mato Grosso; 2. Economia de Mato Grosso na Primeira República: usinas de açúcar e criação de gado; 3. Relações de trabalho em Mato Grosso na Primeira República; 4. Mato Grosso durante a Era Vargas: política e economia; 5. Política fundiária e as tensões sociais no campo; 6. Os governadores estaduais e suas realizações; ..................................... 17 7. Tópicos relevantes e atuais de política, economia, sociedade, educação, tecnologia, energia, relações internacionais, desenvolvimento sustentável, segurança, ecologia e suas vinculações históricas.... ............................................................................................................................................ 30 Candidatos ao Concurso Público, O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom desempenho na prova. As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar em contato, informe: - Apostila (concurso e cargo); - Disciplina (matéria); - Número da página onde se encontra a dúvida; e - Qual a dúvida. Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O professor terá até cinco dias úteis para respondê-la. Bons estudos! 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 1 Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores @maxieduca.com.br Período Colonial1 Ocupações indígenas existiam no alto do rio Xingu desde o século IX. A primeira vez que o “homem branco” pisou em solo mato-grossense foi por volta de 1525, quando o navegante Pedro Aleixo Garcia percorreu as águas dos rios Paraná e Paraguai em direção à Bolívia. Já no início do século XVIII, em 1718, o bandeirante Antônio Pires de Campos informou os colonizadores que a região era boa para escravizar índios. Tempos depois, foi descoberto o potencial aurífero da região, este é considerado o início da história do Mato Grosso. Diversos garimpeiros portugueses e espanhóis migraram em busca de ouro e diamante. No período, os jesuítas realizaram missões entre os rios Paraguai e Paraná, com o intuito de assegurar os limites das terras portuguesas, que, após o Tratado de Tordesilhas, faziam limite com o lado espanhol. Em 1748 foi fundada a capitania de Mato Grosso. Portugal ofereceu isenções e privilégios para quem desejasse povoar o local e ainda financiou expedições que partiam de qualquer lugar do Brasil, respeitando os limites de Tordesilhas. Anos mais tarde, as bandeiras, como ficaram conhecidas as expedições, passaram a ser financiadas pelos paulistas, que ultrapassaram os limites espanhóis. As expedições paulistas visavam interesses econômicos. Serviam para captação de mão de obra indígena, ouro e pedras preciosas. Para fiscalizar a exploração de recursos naturais, a capitania de Mato Grosso era subordinada à de São Paulo, comandada por Rodrigo César de Menezes. O governador Menezes mudou-se para lá e elevou a capitania à categoria de vila, que passou-se a chamar Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá. O termo “Mato Grosso” foi utilizado pelo primeira vez pelos irmãos Fernando e Artur Paes de Barros, em 1734, quando buscavam índios Parecis e descobriram uma mina de ouro no rio Galera, no no vale do Guaporé. Chamaram o local de Minas do Mato Grosso. Os Bandeirantes2 Expansão Territorial: Bandeiras e Bandeirantes As bandeiras, tradicionalmente definidas como expedições particulares, em oposição às entradas, de caráter oficial, contribuíram decisivamente para a expando territorial do Brasil Colônia. A pobreza de São Paulo, decorrente do fracasso da lavoura canavieira no século XVI, a possibilidade da existência de metais preciosos no interior e, particularmente, a necessidade de mão-de-obra para o açúcar nordestino, durante a União Ibérica, levaram os paulistas a organizar a caça ao índio, o bandeirismo de contrato e a pesquisa mineral. A caça ao Índio Inicialmente a caça ao índio (Preação) foi uma forma de suprir a carência de mão-de-obra para a prestação de serviços domésticas aos próprios paulistas. Logo, porém, transformou-se em atividade lucrativa, destinada a complementar as necessidades de braços escravos, bem como para a triticultura paulista. Na primeira metade do século XVII, os vicentinos realizaram incursões, principalmente contra as 1 https://www.resumoescolar.com.br/historia-do-brasil/historia-do-mato-grosso/ 2 http://www.infoescola.com/mato-grosso/historia-do-mato-grosso/ PERÍODO COLONIAL. 1. Os bandeirantes: escravidão indígena e exploração do ouro; 2. A fundação de Cuiabá: Tensões políticas entre os fundadores e a administração colonial; 3. A fundação de Vila Bela da Santíssima Trindade e a criação da Capitania de Mato Grosso; 4. A escravidão negra em Mato Grosso. 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 2 reduções jesuíticas espanholas, resultando na destruição de várias missões, como as do Guairá, Itatim e Tape, por Antônio Raposo Tavares. Nesse período, os holandeses, que haviam ocupado uma parte do Nordeste açucareiro, também conquistaram feitorias de escravos negros na África, aumentando a escassez de escravos africanos no Brasil. O bandeirismo de contrato A ação de bandeirantes paulistas contratados pelo governador-geral ou por senhores de engenho do Nordeste, com o objetivo de combater índios inimigos e destruir quilombos, corresponde a uma fase do bandeirismo na segunda metade do século XVII. O principal acontecimento desse ciclo de bandeiras foi a destruição de um conjunto de quilombos situados no Nordeste açucareiro, conhecido genericamente como Palmares. A atuação do bandeirismo foi de fundamental importância para a ampliação do território português na América. Num espaço muito curto, os bandeirantes devassaram o interior da colônia, explorando suas riquezas e arrebatando grandes áreas do domínio espanhol, como é o caso das missões do Sul e Sudeste do Brasil. Antônio Raposo Tavares, depois de destruí-las, foi até os limites com a Bolívia e Peru, atingindo a foz do rio Amazonas, completando, assim, o famoso périplo brasileiro. Por outro lado, o bandeirantes agiram de forma violenta na caça de indígenas e de escravos foragidos, contribuindo para a manutenção do sistema escravocrata que vigorava no Brasil Colônia. Mato Grosso As primeirasexcursões feitas no território do mato grosso datam de 1525, quando Pedro Aleixo Garcia vai em direção à Bolívia, seguindo as águas dos rios Paraná e Paraguai. Posteriormente portugueses e espanhóis são atraídos à região graças aos rumores de que havia muita riqueza naquelas terras ainda não exploradas devidamente. Também vieram jesuítas espanhóis que construíram missões entre os rios Paraná e Paraguai. Assim, em 1718, um bandeirante chamado Pascoal Moreira Cabral Leme subiu pelo rio Coxipó e descobriu enormes jazidas de ouro, dando início à corrida do ouro, fato que ajudou a povoar a região. No ano seguinte foi fundado o Arraial de Cuiabá. Em 1726, o Arraial de Cuiabá recebeu novo nome: Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Em 1748, foi criada a capitania de Cuiabá, lugar que concedia isenções e privilégios a quem ali quisesse se instalar. As conquistas dos bandeirantes, na região do Mato Grosso, foram reconhecidas pelo Tratado de Madrid, em 1750. No ano seguinte, o então capitão-general do Mato Grosso, Antonio Rolim de Moura Tavares, fundou, à margem do rio Guaporé, a Vila Bela da Santíssima Trindade. Entre 1761 e 1766, ocorreram disputas territoriais entre portugueses e espanhóis, depois daquele período as missões espanholas e os espanhóis se retiraram daquela região, mas o Mato Grosso somente passou a ser definitivamente território brasileiro depois que os conflitos por fronteira com os espanhóis deixaram de acontecer, em 1802. O Ciclo do Ouro Quando foi divulgada a notícia da descoberta de jazidas auríferas, muitas pessoas dirigiram-se para as regiões do ouro, em especial para o atual território do estado de Minas Gerais. Praticamente todas as pessoas que que se dirigiram para a região o fizeram na intenção de dedicar-se exclusivamente na exploração do metal, deixando de lado até mesmo atividades essenciais para a sobrevivência, como a produção de alimentos, o que gerou uma profunda escassez de mercadorias nas Minas Gerais. Era comum entre os anos de 1700 e 1730 a ocorrência de crises de fome na região caso o acesso a outras regiões das quais os produtos básicos eram adquiridos fossem interrompidas. A situação começa a mudar com a expansão de novas atividades, e com a melhoria das vias de comunicação. Exploração do Ouro no Mato Grosso Com a exploração do interior do Brasil, promovida principalmente pela coroa portuguesa e por alguns senhores de engenho, no início do século XVIII, algumas bandeiras paulistas (como eram chamadas as expedições) alcançaram a região do Coxipó, em busca de índios para preação. Em meio aos conflitos com os indígenas, as “Minas de Cuyabá” foram encontradas, atraindo um imenso contingente populacional que rumava para região em busca do ouro. O metal foi de extrema importância para o desenvolvimento da região. Com o grande fluxo migratório em busca de riquezas, houve a elevação a Arraial de Cuiabá em 1719 e Villa de Cuiabá em 1727. Com a atenção voltada para o ouro, a produção de gêneros alimentícios era modesta, causando rapidamente a escassez de alimentos. A falta de segurança e o posterior esgotamento das jazidas contribuíram para 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 3 a decadência da região, acentuada ainda mais com a notícia da descoberta de novas jazidas na região do Guaporé. A Fundação de Cuiabá3 A cidade de Cuiabá foi fundada oficialmente no dia 08 de Abril de 1719. A história registra que os primeiros indícios de Bandeirantes paulistas na região, onde hoje fica a cidade, datam de 1673 e 1682, quando da passagem do bandeirante Manoel de Campos Bicudo pela região. Ele fundou o primeiro povoado da região, no ponto onde o rio Coxipó deságua no rio Cuiabá, localidade batizada de São Gonçalo. Em 1718, chega ao local, já abandonado, a bandeira do paulista de Sorocaba, Pascoal Moreira Cabral, que depois de uma batalha perdida para os índios coxiponés, viu-se compensado pela descoberta de ouro, passando a se dedicar ao garimpo. Em 08 de Abril de 1719, Pascoal Moreira Cabral assina a ata da fundação de Cuiabá, no local conhecido como Forquilha, às margens do rio Coxipó. Foi a forma encontrada para garantir os direitos pela descoberta à Capitania de São Paulo. Em 1726, chega à região o capitão-general governador da Capitania de São Paulo, Rodrigo César de Menezes, como representante do Reino de Portugal. No dia 1º de janeiro de 1727, Cuiabá é elevada à categoria de vila, com o nome de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Em 1748, foi criada a Capitania de Cuiabá, concedendo a coroa portuguesa isenções e privilégios a quem ali quisesse se instalar. Foram feitas diversas expedições financiadas por Portugal. Essas expedições partiam de qualquer lugar do Brasil e não ultrapassavam o Tratado de Tordesilhas. Mais tarde, as chamadas bandeiras foram financiadas pelos paulistas. Somente eles foram ao oeste, ultrapassando a linha de Tordesilhas. A Fundação de Vila Bela da Santíssima Trindade e a Capitania de Mato Grosso4 Primeira capital de Mato Grosso, Vila Bela da Santíssima Trindade foi fundada em 19 de março de 1752, pelo capitão dom Antonio Rolim de Moura, que chegou à região com ordens régias para instituir o governo da Capitania de Mato Grosso, desmembrada da Capitania de São Paulo. Vila Bela foi escolhida especialmente para a instalação da primeira capital mato-grossense, com projeto elaborado em Portugal. Pode ser considerada uma das primeiras cidades planejadas do país. Até projeto para implantação da primeira Faculdade de Medicina na capital de Vila Bela, nesse período colonial, foi determinado pela coroa portuguesa, o que não foi concretizado. D. Rolim de Moura, primo do rei de Portugal, d. João V, recebeu a recomendação para “ter vigilância e evitar desavenças com os vizinhos espanhóis”. O parentesco entre as famílias dos reis de Portugal e Espanha, associado à habilidade e diplomacia de Rolim de Moura, evitou confrontos com castelhanos e jesuítas, ao mesmo tempo em que fixou colonos na margem esquerda do Guaporé, fundou aldeias jesuítas, expandindo mais ainda a fronteira portuguesa ocidental. Com a colonização portuguesa ultrapassando a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas (1494), todas as questões de fronteiras foram resolvidas por tratados entre Portugal e Espanha: o de Madri (1750), o marco de Jauru (1754), o de El Pardo (1761), de Ildefonso (1777), entre outros. O nome “Mato Grosso” surgiu em 1735, com a descoberta de minas de ouro na Chapada dos Parecis, área de mata fechada entre os rios Jauru e Guaporé. Essas expansões deram origem ao Tratado de Madri (1750) com o famoso acordo “Uti Possidetis”, ou seja, posse do território onde estivesse efetivamente ocupando. A Coroa Portuguesa decidiu garantir a posse do novo território, criando a capitania de Mato Grosso. Capital de Mato Grosso de 1752 a 1820, Vila Bela da Santíssima Trindade teve grande destaque político e econômico, garantindo a expansão e preservação do território fronteiriço. A partir de 1820, dividiu com Cuiabá a administração provincial. Foi o ano da descentralização política e Vila Bela passou a denominar-se cidade de Mato Grosso. Em 1835, a capital de Mato Grosso passa a ter sede em Cuiabá. A cidade de Mato Grosso recuperou o nome definitivo de Vila Bela da Santíssima Trindade pela Lei Estadual nº 4.014, de 29 de novembro de 1978. As divisões e emancipações de distritos dos municípios de Vila Bela e Cáceres, no final do século XX, deram origem aos 22 novos municípios dessa região sudoeste mato-grossense, que fazem parte da faixa fronteiriça de 500 km com a Bolívia. 3 http://www.mtnacopa.mt.gov.br/imprime.php?sid=287&cid=76790 4 http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=408725 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 4 Escravidão Negra e os Quilombos no Mato Grosso5 Como marco oficial, a História de Mato Grossoiniciou-se, em 1719, nas margens do rio Coxipó-Mirim, com a descoberta de ouro pelos homens que acompanhavam o bandeirante Pascoal Moreira Cabral. Com o sucesso da mineração e a necessidade de garantir para Portugal, a posse de terras além Tratado de Tordesilhas, foi criado em 1748 a Capitania de Mato Grosso, sendo a primeira capital Vila Bela da Santíssima Trindade, na extremidade oeste do território colonial. Para trabalhar na mineração, chegaram, no século XVIII, em Mato Grosso, os primeiros escravos de origem africana. Como resistência à escravidão, as fugas foram constantes, sendo individuais ou coletivas, formando diversos quilombos. Por ocasião da presença da capital Vila Bela da Santíssima Trindade a região do vale do rio Guaporé foi onde houve maior concentração dessas aldeias de escravos fugitivos. O quilombo do Piolho ou Quariterê, no final do século XVIII, localizado próximo ao rio Piolho, ou Quariterê, reuniu negros nascidos na África e no Brasil, índios e mestiços de negros e índios (cafuzos). José Piolho, provavelmente foi o primeiro chefe do quilombo. Depois, assumiu o poder sua esposa, Teresa. Fugidos da exploração branca, os habitantes do quilombo conviviam comunitariamente em uma fusão de elementos culturais de origem indígena e africana. Os homens caçavam, lenhavam, cuidavam dos animais e conseguiam mel na mata; as mulheres preparavam os alimentos e fabricavam panelas com barro, artesanato e roupas. As dificuldades de abastecimento, principalmente de escravos, com que constantemente conviviam os habitantes da região guaporeana, levou-os a organizar uma bandeira para atacar os escravos fugitivos. O poder público, através da Câmara Municipal de Vila Bela da Santíssima Trindade, e os proprietários de escravos patrocinaram a bandeira para destruir o quilombo e recapturar seus moradores. A bandeira contendo cerca de trinta homens e comandada por João Leme de Prado, percorreu um mês de Vila Bela até o quilombo, e, de surpresa, atacou-o, prendendo quase a totalidade dos moradores. Alguns morreram no combate que se travou, outros fugiram. Os escravos que sobreviveram foram capturados e levados para Vila Bela, sendo colocados para reconhecimento público, a mando do capitão-general de Mato Grosso Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres e após o ato de reconhecimento, os escravos foram submetidos a outros momentos de castigos, com surras, tendo parte de suas orelhas cortadas e tatuados o rosto com a letra "F" — de Fugitivo feita com ferro em brasa. O objetivo da repressão era intimidar novas fugas, porém, a vontade, o desejo e a luta pela liberdade era maior que essa humilhação. Tal conquista esteve presente por um bom tempo e em 1791 — duas décadas após a primeira uma segunda bandeira foi organizada para recapturar negros fugitivos e, finalmente, acabar com o quilombo do Quariterê. Comandada pelo alferes de dragão, Francisco Pedro de Melo, a bandeira de 1791 continha 45 homens que destruíram as edificações e plantações do quilombo, recapturando sua população e devolvendo aos seus donos, em Vila Bela. Porém, percebendo a ineficiência dos castigos físicos, os escravos não mais foram torturados publicamente. Outros quilombos na região também foram destruídos, inclusive ao comando do mesmo alferes, Francisco de Melo, que assolou os quilombos de "João Félix" e o do "Mutuca". No local do quilombo do Piolho, após sua destruição a mando do capitão-general João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, foi organizada uma aldeia — a Aldeia da Carlota — que visava o interesse português em garantir a posse da terra num local tão isolado. Os moradores da aldeia contavam com o apoio do governador. Outros quilombos também foram organizados em terras mato-grossenses durante os séculos XVIII e XIX, podendo ser registrados aqui, apenas para exemplificar, os quilombos "Mutuca" e "Pindaituba", situados na Chapada dos Guimarães, os "Sepoutuba" e "Rio Manso", próximos a Vila Maria (atual Cáceres). A historiadora Elizabeth Madureira refere-se à organização de 11 quilombos em Mato Grosso, porém registra o pouco que ainda foi percorrido e pesquisado sobre o assunto. 5 http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=185 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 5 (O tópico 3 “Os quilombos em Mato Grosso” foi abordado junto de “A escravidão negra em Mato Grosso”, no Período Colonial.). Em 1824, quando entrou em vigor a Constituição Imperial do Brasil, as capitanias tornaram-se províncias. Mato Grosso foi regido por governo provisório constitucional até o ano seguinte, quando José Saturnino da Costa Pereira assumiu o governo. Nesse período ocorreu uma expedição russa, chefiada pelo Barão de Langsdorff, que realizou o primeiros registro de fatos e imagens da época. No mesmo ano Costa Pereira, através de negociações, ainda paralisou o avanço de 600 soldados chiquiteanos que iam para a região do Rio Guaporé. O governante também foi responsável pelo Arsenal da Marinha no porto de Cuiabá e o Jardim Botânico da cidade. No governo do tenente coronel João Poupino Caldas, em 1934, a província enfrenta a Rusga, uma revolta de nativos que invadiram casas e comércios portugueses. A crise da Mineração e as Alternativas Econômica da Província No século XVIII, o advento da mineração no Brasil possibilitou o desenvolvimento de centros urbanos, a articulação do mercado interno e a própria recuperação econômica portuguesa. Sendo um recurso não renovável, a riqueza conseguida com a extração do ouro começou a se escassear no fim desse mesmo século. Para entender tal fenômeno, é preciso buscar os vários fatores que explicam a curta duração que a atividade mineradora teve em terras brasileiras. Primeiramente, devemos salientar que o ouro encontrado nas regiões mineradoras era, geralmente, de aluvião, ou seja, depositado ao longo de séculos nas margens e leitos dos rios. O ouro de aluvião era obtido através de fragmentos que se desprendiam de rochas matrizes. Entre os séculos XVII e XVIII era inexistente qualquer recurso tecnológico que pudesse buscar o ouro diretamente dessas rochas mais profundas. Com isso, a capacidade de produção das jazidas era bastante limitada. Como se não bastassem tais limitações, alguns relatos da época indicam que o próprio processo de exploração do ouro disponível era desprovido de qualquer aprimoramento ou cuidado maior. Quando retiravam ouro da encosta das montanhas, vários mineradores depositavam esse material em outras regiões que ainda não haviam sido exploradas. Dessa forma, a falta de preparo técnico também foi um elemento preponderante para o rápido esgotamento das minas. Além desses fatores de ordem natural, também devemos atribuir a crise da atividade mineradora ao próprio conjunto de ações políticas estabelecidas pelas autoridades portuguesas. Por conta de sua constante debilidade econômica, as autoridades lusitanas entendiam que a diminuição do metal arrecadado era simples fruto do contrabando. Por isso, ampliavam os impostos, e não se preocupavam em aprimorar os métodos de prospecção e extração de metais preciosos. Mediante a falta de metais preciosos, vemos que o enrijecimento da fiscalização e a cobrança de impostos foi responsável por vários incidentes entre os mineradores e as autoridades portuguesas. Em 1789, esse sentimento de insatisfação e a criação da derrama, instigaram a organização da Inconfidência Mineira. Mais do que um levante anticolonialista, tal episódio marcou o desenvolvimento da crise mineradora no território colonial. Ao fim do século XVIII, o escasseamento das jazidas de ouro foi seguido pela recuperação das atividades no setor agrícola. A valorização de produtos como o algodão, açúcar e o tabaco marcaram o estabelecimento do chamado “renascimento agrícola”. Com o advento da revolução industrial, o tabagismo e a indústria têxtilalargaram a busca por algodão e tabaco. Paralelamente, as lutas de independência nas Antilhas permitiram a recuperação de mercado do açúcar brasileiro. No estado, na segunda metade do século XIX, a borracha despontou como produto de exportação. O látex produzido no Mato Grosso era exportado para diversas partes do mundo industrializado, com PERÍODO IMPERIAL. 1. A crise da mineração e as alternativas econômicas da Província; 2. A Rusga; 3. Os quilombos em Mato Grosso; 4. Os Presidentes de Província e suas realizações; 5. A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai e a participação de Mato Grosso; 6. A economia mato-grossense após a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai; 7. O fim do Império em Mato Grosso. 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 6 destaque para Diamantino, grande centro produtor e Cuiabá, centro comercial do produto. No território hoje correspondente ao Mato Grosso do Sul, a extração do mate, durante aproximadamente 20 anos, também rendeu bons lucros para a Província. Após a Proclamação da República em 1889, várias usinas açucareiras foram criadas e se desenvolveram. Entre elas se destacaram as usinas Conceição, Aricá, Flechas, São Miguel e Itaici. Esses grandes empreendimentos foram, na época, o maior indício de desenvolvimento industrial de Mato Grosso. A Rusga6 Após o processo de independência, o cenário político nacional se viu fragmentado em dois setores maiores que disputavam o poder entre si. De um lado, os políticos de tendência liberal defendiam a autonomia política das províncias e a reforma das antigas práticas instauradas durante a colonização. Do outro, os portugueses defendiam uma estrutura política centralizada e a manutenção dos privilégios que desfrutavam antes da independência. Com a saída de Dom Pedro I do governo e a instalação dos governos regenciais, a disputa entre esse dois grupos políticos se acirrou a ponto de deflagrar diversas rebeliões pelo Brasil. Na região do Mato Grosso, a contenda entre liberais e conservadores era representada, respectivamente, pela “Sociedade dos Zelosos da Independência” e a “Sociedade Filantrópica”. No ano de 1834, as disputas naquela província culminaram em um violento confronto que ganhou o nome de Rusga. Segundo pesquisas, os liberais mato-grossenses organizaram um enorme levante que pretendia retirar os portugueses do poder com a força das armas. No entanto, antes do ocorrido, as autoridades locais souberam do levante combinado. Com isso, tentando desarticular o movimento, decidiram colocar o tenente-coronel João Poupino Caldas – aliado dos liberais – como novo governador da província. Apesar da mudança, o furor dos revoltosos não foi contido. Na madrugada de 30 de maio de 1834, ao som de tiros e palavras de repúdio contra os portugueses, cerca de oitenta revoltosos partiram do Campo do Ourique e tomaram o Quartel dos Guardas Municipais. Dessa forma, conseguiram conter a reação dos soldados oficias e tomaram as ruas da capital em busca dos “bicudos”. “Bicudo” era um termo depreciativo dirigido aos portugueses que foi inspirado pelo nome do bandeirante Manuel de Campos Bicudo, primeiro homem branco que se fixou na região. A ordem dos “rusguentos” era de saquear a casa dos portugueses e matar cada um que se colocasse em seu caminho, levando como troféu a orelha de cada inimigo morto. Segundo alguns relatos, centenas de pessoas foram mortas pela violenta ação que aterrorizou as ruas de Cuiabá. Logo após o incidente, foram tomadas as devidas providências para que os líderes e participantes da Rusga fossem presos e julgados pelas autoridades. Em um primeiro momento, Poupino Caldas quis contornar a situação sem denunciar o ocorrido para os órgãos do governo regencial. Contudo, não suportando o estado caótico que se instalou na cidade, pediu socorro do governo central, que – de imediato – nomeou Antônio Pedro de Alencastro como novo governador da província. Contando com o auxílio da antiga liderança liberal, os cabeças do movimento foram presos e mandados para o Rio de Janeiro. Apesar de nenhum dos envolvidos sofrer algum tipo de punição das autoridades, o clima de disputa política continuava a se desenvolver em Cuiabá. O último capítulo dessa revolta aconteceu em 1836, quando João Poupino Caldas – politicamente desprestigiado – resolveu deixar a província. No exato dia de sua partida, um misterioso conspirador o alvejou pelas costas com uma bala de prata. Na época, esse tipo de projétil era especialmente utilizado para matar alguém que fosse considerado traidor. Os Presidentes de Província Primeiro Reinado (1822-1831) Luís de Castro Pereira 20 de agosto de 1821 - 1º de agosto de 1822 — Jerônimo Joaquim Nunes 1º de agosto de 1822 - 20 de agosto de 1822 — Antônio José de Carvalho Chaves 20 de agosto de 1822 - 30 de julho de 1823 6 http://guerras.brasilescola.uol.com.br/seculo-xvi-xix/rusga-mato-grosso.htm 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 7 — Manuel Alves da Cunha 30 de julho de 1823 José Saturnino da Costa Pereira 10 de setembro de 1825 - 3 de maio de 1828 — Jerônimo Joaquim Nunes — André Gaudie Ley 1º de janeiro de 1830 - 21 de janeiro de 1830 Período regencial (1831-1840) Antônio Correia da Costa 21 de julho de 1831 — André Gaudie Ley 19 de abril de 1830 - 4 de dezembro de 1830 — Antônio Correia da Costa 3 de dezembro de 1833 - 26 de maio de 1834 — José de Melo Vasconcelos 24 de maio de 1834 - 26 de maio de 1834 — João Poupino Caldas 28 de maio de 1834 - 22 de setembro de 1834 Antônio Pedro de Alencastro 22 de setembro de 1834 - 31 de janeiro de 1836 — Antônio José da Silva — Antônio Correia da Costa 1º de fevereiro de 1836 - 24 de fevereiro de 1836 — Antônio José da Silva José Antônio Pimenta Bueno, Marquês de São Vicente 26 de agosto de 1836 - 1838 — José da Silva Guimarães 21 de maio de 1838 - 16 de setembro de 1838 Estêvão Ribeiro de Resende 16 de setembro de 1838 - 25 de outubro de 1840 Segundo Reinado (1840-1889) — Antônio Correia da Costa 25 de outubro de 1840 - 28 de outubro de 1840 José da Silva Guimarães 28 de outubro de 1840 - 9 de dezembro de 1842 — Antônio Correia da Costa 9 de dezembro de 1842 - 11 de maio de 1843 — José da Silva Guimarães 11 de maio de 1843 - 7 de agosto de 1843 — Manuel Alves Ribeiro 7 de agosto de 1843 - 5 de outubro de 1843 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 8 — José Mariano de Campos 5 de outubro de 1843 - 24 de outubro de 1843 Zeferino Pimentel Moreira Freire 24 de outubro de 1843 - 26 de setembro de 1844 Ricardo José Gomes Jardim 26 de setembro de 1844 - 5 de abril de 1847 João Crispiniano Soares 5 de abril de 1847 - 6 de abril de 1848 — Manuel Alves Ribeiro 6 de abril de 1848 - 31 de maio de 1848 — Antônio Nunes da Cunha 31 de maio de 1848 - 30 de setembro de 1848 Joaquim José de Oliveira 27 de setembro de 1848 - 8 de setembro de 1849 João José da Costa Pimentel 8 de setembro de 1849 - 11 de fevereiro de 1851 Augusto João Manuel Leverger, Barão de Melgaço 11 de fevereiro de 1851 - 1º de abril de 1857 — Albano de Sousa Osório 1º de abril de 1857 - 28 de fevereiro de 1858 Joaquim Raimundo de Lamare, Visconde de Lamare 28 de fevereiro de 1858 - 13 de outubro de 1859 Antônio Pedro de Alencastro 13 de outubro de 1859 - 8 de fevereiro de 1862 Herculano de Souza Ferreira Pena 8 de fevereiro de 1862 - 14 de maio de 1863 — Augusto Leverger, Barão de Melgaço 9 de agosto de 1865 - 13 de fevereiro de 1866 Alexandre Manuel Albino de Carvalho 15 de julho de 1863 - 9 de agosto de 1865 Augusto Leverger, Barão de Melgaço 13 de fevereiro de 1866 - 1º de maio de 1866 — Albano de Sousa Osório1º de maio de 1866 - 2 de fevereiro de 1867 José Vieira Couto de Magalhães 2 de fevereiro de 1867 - 13 de abril de 1868 — João Batista de Oliveira, Barão de Aguapeí 13 de abril de 1868 - 7 de setembro de 1868 — José Vieira Couto de Magalhães 7 de setembro de 1868 - 17 de setembro de 1868 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 9 — Albano de Sousa Osório 17 de setembro de 1868 - 19 de setembro de 1868 — José Antônio Murtinho 19 de setembro de 1868- 26 de março de 1869 Augusto Leverger, Barão de Melgaço 26 de março de 1869 - 10 de fevereiro de 1870 — Luís da Silva Prado 10 de fevereiro de 1870 - 29 de maio de 1870 — Antônio de Cerqueira Caldas, Barão de Diamantino 29 de maio de 1870 - 12 de outubro de 1870 Francisco Antônio Raposo, Barão de Caruaru 12 de outubro de 1870 - 27 de maio de 1871 — Antônio de Cerqueira Caldas, Barão de Diamantino 27 de maio de 1871 - 29 de julho de 1871 Francisco José Cardoso Júnior 29 de julho de 1871 - 25 de dezembro de 1872 José de Miranda da Silva Reis 1872 - 6 de dezembro de 1874 — Antônio de Cerqueira Caldas, Barão de Diamantino 6 de dezembro de 1874 - 5 de junho de 1875 Hermes Ernesto da Fonseca 5 de julho de 1875 - 2 de março de 1878 — João Batista de Oliveira, Barão de Aguapeí 2 de março de 1878 - 6 de julho de 1878 João José Pedrosa 6 de julho de 1878 Rufino Enéas Gustavo Galvão, Visconde de Maracaju 5 de dezembro de 1879 - 2 de maio de 1881 — José Leite Galvão 2 de maio de 1881 - 31 de maio de 1881 José Maria de Alencastro 31 de maio de 1881 - 10 de março de 1883 — José Leite Galvão 10 de março de 1883 - 7 de maio de 1883 Manuel de Almeida Gama Lobo d'Eça,Barão de Batovi 7 de maio de 1883 - 13 de setembro de 1884 Floriano Peixoto 15 de novembro de 1884 -15 de novembro de 1885 — José Joaquim Ramos Ferreira 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 10 5 de outubro de 1885 - 5 de novembro de 1885 Joaquim Galdino Pimentel 5 de novembro de 1885 - 9 de novembro de 1886 — Antônio Augusto Ramiro de Carvalho 9 de novembro de 1886 - 9 de dezembro de 1886 Álvaro Rodovalho Marcondes dos Reis 9 de dezembro de 1886 - 28 de março de 1887 — Antônio Augusto Ramiro de Carvalho 28 de março de 1887 - 29 de maio de 1887 — José Joaquim Ramos Ferreira 29 de maio de 1887 - 16 de novembro de 1887 Francisco Rafael de Melo Rego 16 de novembro de 1887 - 6 de fevereiro de 1889 Antônio Herculano de Sousa Bandeira Filho 6 de fevereiro de 1889 - 1889 — Manuel José Murtinho 1889 Ernesto Augusto da Cunha Matos 9 de agosto de 1889 - 11 de dezembro de 1889 A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai A Guerra do Paraguai Entre novembro de 1864 e março de 1870, desenrolou-se a Guerra do Paraguai, a mais longa e sangrenta guerra na América do Sul, com consequências que influenciaram decisivamente a história dos países envolvidos. Até maio de 1865, enfrentaram-se apenas o Paraguai e o Brasil. A partir daí, com a assinatura do tratado da Tríplice Aliança, os paraguaios passaram a lutar contra o Brasil, a Argentina e o Uruguai. Dentre aos razoes que desencadearam a guerra do Paraguai, destacam-se em primeiro lugar as questões que dividiam os países do Prata. O Paraguai, em meados do século XIX, era um país diferente dos demais da América latina. Desde a sua independência em 1811, até a guerra, tivera apenas três governantes: Francia, Carlos Antônio Lopez e seu filho Francisco Solano Lopez. O governo paraguaio não era democrático, como não era nenhum dos outros governos latino-americanos. Apesar disso, o governo paraguaio, mais do que qualquer outro do continente, realizava uma política favorável às camadas populares. Desde os tempos de Francia, a elite agrária fora progressivamente eliminada, e suas terras expropriadas pelo governo e entregues em usufruto aos trabalhadores rurais. O mesmo acontecera com a exploração de madeira e erva-mate, produtos monopolizados pelo Estado. Assim, em meados do século XIX, o padrão médio de vida do povo paraguaio superava o de qualquer outro povo latino-americano: o analfabetismo fora quase erradicado e era garantido o emprego, a moradia, alimentação e vestuário para a maioria das famílias. Embora pobre, o Paraguai não tinha dívida externa, suas riquezas não eram exploradas por estrangeiros e estava começando a criar um parque industrial próprio. As causas da guerra Em 1850, brasil e Paraguai assinaram um tratado comprometendo-se a defender a independência do Uruguai. Pouco depois, Paraguai e Uruguai assinaram um novo tratado, estabelecendo que se qualquer vizinho invadisse um desses países, o outro lhe prestaria imediato auxilio militar. Por isso, em agosto de 1864, quando o Brasil já ameaçava claramente invadir o Uruguai para derrubar o governo de Aguirre, o 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 11 presidente paraguaio, Solano Lopez, comunicou ao Império que consideraria a invasão atentatória ao equilíbrio político do Prata e agiria conforme essa convicção. Mesmo assim, em setembro de 1864, o governo imperial ordenou o ataque ao Uruguai. Com base nos tratados anteriores e na certeza de que seriam as próximas vítimas, os paraguaios reagiram: em novembro, aprisionaram o navio Brasileiro “Marquês de Olinda” em frente a assunção, e logo em seguida, Solano Lopez declarou guerra ao Brasil. Entre novembro de 1864 e maio de 1865, a guerra envolveu apenas Brasil e Paraguai. A partir dessa data, com a oficialização da Tríplice Aliança, o Paraguai passou a enfrentar Brasil, Argentina e Uruguai. O balanço das forças, ao iniciar-se a guerra, era o seguinte: Brasil, 18000 soldados; Argentina, 8000; Uruguai, 1500; Paraguai, 60000. Apesar da vantagem no tamanho das tropas, o Paraguai enfrentava um grande número de desvantagens em relação aos inimigos. Os aliados tinham 13 milhões de habitantes, contra 800 mil do Paraguai, a dimensão territorial dos inimigos impedia que os paraguaios os ocupassem efetivamente. A única via de comunicação do Paraguai com o resto do mundo era o rio da Prata, facilmente bloqueável pelos aliados, que também contavam com superioridade naval: o Brasil possuía 42 navios, enquanto o Paraguai possuía apenas 14 e apenas 3 estavam preparados para a guerra. A última grande vantagem dos países inimigos era o apoio financeiro constante da Inglaterra, enquanto o Paraguai lutava sozinho. Sob o ponto de vista militar, a Guerra do Paraguai pode ser dividida em quatro grandes fases: -Ofensiva paraguaia (dezembro de 1864 a dezembro de 1865); a iniciativa militar coube aos paraguaios e a guerra desenrolou-se em território brasileiro e argentino; -Invasão do Paraguai (de janeiro de 1866 a janeiro de 1868): a guerra já em território paraguaio, foi comandada pelo aliado general Mitre; -Comando de Caxias (de janeiro de 1868 a janeiro de 1869): Caxias assumiu o comando geral dos Aliados; -Campanha da Cordilheira (janeiro de 1869 a março de 1870): sob o comando de Conde D’Eu, destruiu-se o remanescente do exército paraguaio. As consequências da Guerra A Guerra do Paraguai teve consequências dramáticas para ambos os lados. O Paraguai ficou completamente destruído, e perdeu 150000 km² de territórios cedidos ao Brasil e à Argentina. Durante a ocupação aliada (1870-1876), o nascente parque industrial paraguaio foi totalmente destruído pelos aliados, sendo a fundição de Ibicuí completamente demolida. A ferrovia foi vendida a preço de sucata para os ingleses e as reservas de mate e madeira vendidas para empresas estrangeiras. As terras públicas que eram cultivadas pelos camponeses passaram para as mãos de banqueiros ingleses, holandeses e estadunidenses, que passaram a aluga-las aos próprios paraguaios. Além desses aspectos, a consequência mais trágica da guerrafoi a dizimação da população paraguaia: estima-se que 75% da população paraguaia tenha morrido em decorrência da guerra, com 90% da população masculina dizimada. A Guerra no Mato Grosso7 Proclamada a 23 de julho de 1840 a maioridade de Dom Pedro II, Mato Grosso foi governado por 28 presidentes nomeados pelo Imperador, até à Proclamação de República, ocorrida a 15/11/1889. Durante o Segundo Império (governo de Dom Pedro II), o fato mais importante que ocorreu foi a Guerra da Tríplice Aliança, movida pela República do Paraguai contra o Brasil, Argentina e Uruguai, iniciada a 27/12/1864 e terminada a 01/03/0870 com a morte do Presidente do Paraguai, Marechal Francisco Solano Lopez, em Cerro-Corá. Os episódios mais notáveis ocorridos em terras mato-grossenses durante os 5 anos dessa guerra foram: a) o início da invasão de Mato Grosso pelas tropas paraguaias, pelas vias fluvial e terrestre; b) a heroica defesa do Forte de Coimbra; c) o sacrifício de Antônio João Ribeiro e seus comandados no posto militar de Dourados. d) a evacuação de Corumbá; e) os preparativos para a defesa de Cuiabá e a ação do Barão de Melgaço; f) a expulsão dos inimigos do sul de Mato Grosso e a retirada da Laguna; g) a retomada de Corumbá; h) o combate do Alegre; 7 http://www.mt.gov.br/historia 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 12 Pela via fluvial vieram 4.200 homens sob o comando do Coronel Vicente Barrios, que encontrou a heroica resistência de Coimbra ocupado por uma guarnição de apenas 115 homens, sob o comando do Tte. Cel. Hermenegildo de Albuquerque Porto Carrero. Pela via terrestre vieram 2.500 homens sob o comando do Cel. Isidoro Rasquin, que no posto militar de Dourados encontrou a bravura do Tte. Antônio João Ribeiro e mais 15 brasileiros que se recusaram a rendição, respondendo com uma descarga de fuzilaria à ordem para que se entregassem. Foi ai que o Tte. Antônio João enviou ao Comandante Dias da Silva, de Nioaque, o seu famoso bilhete dizendo: "Ser que morro mas o meu sangue e de meus companheiros será de protesto solene contra a invasão do solo da minha Pátria" A evacuação de Corumbá, desprovida de recursos para a defesa, foi outro episódio notável, saindo a população, através do Pantanal, em direção a Cuiabá, onde chegou, a pé, a 30 de abril de 1865. Na expectativa dos inimigos chegarem a Cuiabá, autoridades e povo começaram preparativos para a resistência. Nesses preparativos sobressaia a figura do Barão de Melgaço que foi nomeado pelo Governo para comandar a defesa da Capital, organizando as fortificações de Melgaço. Se os invasores tinham intenção de chegar a Cuiabá dela desistiram quando souberam que o Comandante da defesa da cidade era o Almirante Augusto Leverger - o futuro Barão de Melgaço -, que eles já conheciam de longa data. Com isso não subiram além da foz do rio São Lourenço. Expulsão dos invasores do sul de Mato Grosso- O Governo Imperial determinou a organização, no triângulo Mineiro, de uma "Coluna Expedicionária ao sul de Mato Grosso", composta de soldados da Guarda Nacional e voluntários procedentes de São Paulo e Minas Gerais para repelir os invasores daquela região. Partindo do Triângulo em direção a Cuiabá, em Coxim receberam ordens para seguirem para a fronteira do Paraguai, reprimindo os inimigos para dentro do seu território. A missão dos brasileiros tornava-se cada vez mais difícil, pela escassez de alimentos e de munições. Para cúmulo dos males, as doenças oriundas das alagações do Pantanal mato-grossense, devastou a tropa. Ao aproximar-se a coluna da fronteira paraguaia, os problemas de alimentos e munições se agravava cada vez mais e quando se efeito a destruição do forte paraguaio Bela Vista, já em território inimigo, as dificuldades chegaram ao máximo. Decidiu então o Comando brasileiro que a tropa segue até a fazenda Laguna, em território paraguaio, que era propriedade de Solano Lopez e onde havia, segundo se propalava, grande quantidade de gado, o que não era exato. Desse ponto, após repelir violento ataque paraguaio, decidiu o Comando empreender a retirada, pois a situação era insustentável. Iniciou-se aí a famosa "Retirada da Laguna", o mais extraordinário feito da tropa brasileira nesse conflito. Iniciada a retirada, a cavalaria e a artilharia paraguaia não davam tréguas à tropa brasileira, atacando-as diariamente. Para maior desgraça dos nacionais veio o cólera devastar a tropa. Dessa doença morreram Guia Lopes, fazendeiro da região, que se ofereceu para conduzir a tropa pelos cerrados sul mato-grossenses, e o Coronel Camisão, Comandante das forças brasileiras. No dia da entrada em território inimigo (abril de 1867), a tropa brasileira contava com 1.680 soldados. A 11 de junho foi atingido o Porto do Canuto, às margens do rio Aquidauana, onde foi considerada encerrada a trágica retirada. Ali chegaram apenas 700 combatentes, sob o comando do Cel. José Thomás Gonçalves, substituído de Camisão, que baixou uma "Ordem do dia", concluída com as seguintes palavras: "Soldados! Honra à vossa constância, que conservou ao Império os nossos canhões e as nossas bandeiras". A Retirada da Laguna A retirada da Laguna foi, sem dúvida, a página mais brilhante escrita pelo Exército Brasileiro em toda a Guerra da Tríplice Aliança. O Visconde de Taunay, que dela participou, imortalizou-a num dos mais famosos livros da literatura brasileira. A retomada de Corumbá foi outra página brilhante escrita pelas nossas armas nas lutas da Guerra da Tríplice Aliança. O presidente da Província, então o Dr. Couto de Magalhães, decidiu organizar três corpos de tropa para recuperar a nossa cidade que há quase dois anos se encontrava em mãos do inimigo. O 1º corpo partiu de Cuiabá a 15.05/1867, sob as ordens do Tte. Cel. Antônio Maria Coelho. Foi essa tropa levada pelos vapores "Antônio João", "Alfa", "Jaurú" e "Corumbá" até o lugar denominado Alegre. Dali em diante seguiria sozinha, através dos Pantanais, em canoas, utilizando o Paraguai -Mirim, braço do rio Paraguai que sai abaixo de Corumbá e que era confundido com uma "boca de baía". Desconfiado de que os inimigos poderiam pressentir a presença dos brasileiros na área, Antônio Maria resolveu, com seus Oficiais, desfechar o golpe com o uso exclusivo do 1º Corpo, de apenas 400 homens e lançou a ofensiva de surpresa. E com esse estratagema e muita luta corpo a corpo, consegui o Comandante a recuperação da praça, com o auxílio, inclusive, de duas mulheres que o acompanhavam desde Cuiabá e que atravessaram trincheiras paraguaias a golpes de baionetas. Quando o 2º Corpo dos Voluntário da Pátria chegou a Corumbá, já encontrou em mãos dos brasileiros. Isso foi a 13/06/1867. No entanto, com cerca de 800 homens às suas ordens o Presidente Couto de Magalhães, que participava do 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 13 2º Corpo, teve de mandar evacuar a cidade, pois a varíola nela grassava, fazendo muitas vítimas. O combate do Alegre foi outro episódio notável da guerra. Quando os retirantes de Corumbá, após a retomada, subiam o rio no rumo de Cuiabá, encontravam-se nesse porto "carneando" ou seja, abastecendo-se de carne para a alimentação da tropa eis que surgem, de surpresa, navios paraguaios tentando uma abordagem sobre os nossos. A soldadesca brasileira, da barranca, iniciou uma viva fuzilaria e após vários confrontos, venceram as tropas comandadas pela coragem e sangue frio do Comandante José Antônio da Costa. Com essa vitória chegaram os da retomada de Corumbá à Capital da Província (Cuiabá), transmitindo a varíola ao povo cuiabano, perdendo a cidade quase a metade de sua população. Terminada a guerra, com a derrota e morte de Solano Lopez nas "Cordilheiras" (Cerro Corá), a 1º de março de 1870, a notícia do fim do conflito só chegou a Cuiabá no dia 23 de março, pelo vapor "Corumbá", que chegou ao porto embandeiradoe dando salvas de tiros de canhão. Dezenove anos após o término da guerra, foi o Brasil sacudido pela Proclamação da República, cuja notícia só chegou a Cuiabá na madrugada de 9 de dezembro de 1889. Consequências do pós Guerra para a Província de Mato Grosso: - Reabertura da Bacia Platina. - Afirmação dos principais portos: Corumbá, Cuiabá e Cáceres. - Surgimento de um nova burguesia: comercio de importação e exportação. - Aumento territorial. - Imigração. Economia Mato-grossense após a Guerra da Tríplice Aliança POAIA - Também conhecida como Ipéca ou Ipecacuanha esta planta com o formato de um arbusto de aproximadamente 45 cm de altura, tem a sua raiz utilizada devidos as suas propriedades medicinais. A poaia destacou-se na economia de Mato Grosso, a partir de 1860, logo na segunda metade do século XIX período em que ocorreu a Revolução Industrial na Europa. A extração se dava na região oeste de Mato Grosso onde ela é nativa. Através do arrendamento de terras devolutas para empresários nacionais e estrangeiros extraiam a sua raiz sempre no período das chuvas. A seguir, esse produto do extrativismo vegetal era destinado ao mercado externo, mais especificamente a Europa, para atender as necessidades das indústrias farmacêuticas. Já no Brasil, esta raiz passou a ser consumida somente a partir da década de 40, com o desenvolvimento industrial promovido pelo governo Vargas. No século XIX, a poaia era escoada para a Europa através da Bacia Platina, sendo que a mão de obra utilizada para sua extração era assalariada, mas baseada na produção e os trabalhadores recebiam tratamento escravista. - BORRACHA - O auge da extração o látex em Mato Grosso se deu a partir de 1870 com o avanço da industrialização. E, 1834, a borracha já passava pelo processo da vulcanização desenvolvida por Charles Goodyear e pelo processo de elasticidade e resistência desenvolvida por Hancoock. Em Mato Grosso, a látex podia ser extraído tanto da seringueira, localizada na região norte (vale Amazônico), como da mangabeira, encontrada às margens dos Rios da Bacia Platina. Ao contrário da poaia, a borracha era sempre extraída no período das secas, uma vez que o látex malhasse, ele não poderia ser coagulado (processo pelo qual ele passava antes de ser transportado). O mercado consumidor da borracha era a Europa, e seu escoamento no século XIX ocorreu através da Bacia Platina. No século XX, o produto era escoado através da estrada de ferro Madeira-Mamoré até o porto de Manaus. A mão de obra utilizada na sua extração era assalariada, baseada na produção e com o tratamento escravista. A produção de borracha era realizada principalmente pelos nordestinos, que vieram trabalhar na extração da borracha com a promessa de uma vida melhor. A decadência da produção ocorreu a partir de 1912, quando os ingleses levaram mudas da seringueira para a Ásia. O plantio obteve sucesso, e não demorou para que os asiáticos se tornassem o maior produtos mundial da extração do látex. O governo brasileiro tentou reverter à situação, criando o “Plano de Defesa da Borracha”. Para isso tomou algumas medidas como incentivo da plantação de árvores, a isenção dos impostos para a importação de equipamentos que facilitassem a extração do látex. Mas estas tentativas não foram suficientes para colocar o Brasil novamente como líder mundial. Durante o Governo de Getúlio Vargas, com os incentivos dados a indústria nacional, o látex passou a atender o mercado interno. - CANA DE AÇÚCAR - Em relação à cana de açúcar na História de Mato Grosso podemos descrevê- la em dois momentos. Primeiramente no século XVIII, quando o governo português interessado na mineração, proibiu a instalação dos engenhos. O governo alegou que a produção de aguardente trazia efeitos prejudiciais aos escravos, e que ao invés de minerar só queriam se dedicar à fabricação dela. Os 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 14 engenhos eram movidos por tração animal ou através de uma roda d’água, sendo encontrados em pequenas propriedades, e voltados para abastecer o mercado interno, como por exemplo, as Minas de Cuiabá. Os engenhos se localizavam na região da Chapada (Serra acima) e nas margens do Rio Cuiabá (Santo Antonio do Rio abaixo). Os engenhos produziam rapadura, melado, açúcar e cachaça. No século XIX, temos o advento da Revolução Industrial e o surgimento das máquinas, os proprietários de terras importaram máquinas e instalaram as primeiras usinas. Essas usinas se localizavam as margens do Rio Paraguai, sendo a que mais se destacou foi a Usina Ressaca, e nas margens do Rio Cuiabá (na região de Santo Antonio) sendo as que mais se destacaram foram as Usinas Itaicí, maravilha, Conceição. As usinas se localizavam as margens dos rios devido a fertilidade do solo e a facilidade do escoamento da produção, pois nesse período a produção era escoada pela Bacia Platina e seu mercado consumidor era tanto o mercado interno como os países da América do Sul e outras províncias brasileiras. A mão de obra utilizada nas Usinas era assalariada, baseado na produção e com tratamento escravista. Os proprietários das usinas eram conhecidos como “Coronel” e as pessoas que trabalhavam nesta atividade eram chamados de “Camaradas”. A usina mais importante com certeza foi a de “Itaicí”. Era de propriedade de Totó Paes de Barros, e chegou a pagar os seus trabalhadores com a sua própria moeda. Essa moeda era feita de cobre e recebia o nome de “Tarefa”. Esse fato demonstra a força política de seu proprietário, considerado um dos maiores coronéis da região, e chegou a ocupar o cargo de Presidente do Estado de Mato Grosso. Os camaradas de Itaicí chegavam a trabalhar até 19 horas por dia no período das safras e eram castigados, humilhados pelo patrão. Na década de 30, com ascensão de Vargas, a sorte dos usineiros começou a mudar. Getúlio Vargas empreendeu uma série de medidas que visavam destruir o poder destes coronéis. Uma destas medidas foi a criação do I.A.A. (Instituto do Álcool e do Açúcar). Com o objetivo de financiar a produção das usinas, o governo federal estabeleceu que somente os grandes produtores receberiam financiamento, e como Mato Grosso tinha uma pequena produção, os usineiros de MT faliram. Outra medida que enfraqueceu mais ainda o poder destes produtores de açúcar foi a cobrança das leis trabalhistas. - PECUÁRIA - A pecuária no século XVIII abastecia o mercado interno. O gado era criado solto, consequentemente era uma economia de baixa produtividade. A região que mais se destacou na criação do gado foi Vila Maria de Cáceres. Uma das fazendas mais importantes desse período foi a Fazenda Jacobina. No século XIX, com a Revolução Industrial na Vila Maria de Cáceres esta começou a se destacar pelo surgimento das usinas de charque, sendo a mais importante a de Descalvado. Descalvado, localizada as margens do Rio Paraguai era uma saladeiro que foi construído com o capital belga e posteriormente foi vendido aos argentinos. O escoamento do charque era feito através da Bacia Platina, e a mão de obra utilizada era assalariada. No entanto, o pagamento feito ao peão geralmente era em gado. Durante o século XX, na Primeira República, com a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, a pecuária floresceu principalmente na região sul de Mato Grosso. O gado era criado em MT e transportado pel estrada de ferro até Bauru e Uberaba, onde era abatido e beneficiado. Com a pecuária, Corumbá se tornou local de instalação de grandes casas comerciais, em sua grande maioria estrangeiras. Ocorreu a valorização das terras nesse região, o aparecimento de cidades como Águas Claras e Três Lagoas, além do crescimento e desenvolvimento da região de Campo Grande, que passou a ambicionar o stratus de capital. - ERVA MATE - A erva mate é um produto do extrativismo vegetal rico em cálcio, magnésio, sódio, potássio e ferro. Era utilizada para descansar os músculos, atenuar a fome, tinhafunção diurética segundo os médicos e poder afrodisíaco. Era encontrada na região sul de Mato Grosso. Em 1870, após a Guerra do Paraguai, Tomás Laranjeira, empresário de visão e tinha sido Secretário do Governo Imperial, usou da sua influência política para arrendar as terras do sul ricas em ervais. Com o arrendamento concedido, Tomas Laranjeira funda a Companhia Mate Laranjeira. Devido a sua influência foi fácil conseguir financiamentos e sócios com os irmãos Murtinha. Joaquim Murtinho era Ministra da Fazenda do Governo Campos Salles e Manoel Murtinho era Senador da República e Presidente do Supremo Tribunal Federal. Essa empresa desenvolveu tanto, que a sua renda era seis vezes mais que o valor da renda do Estado de Mato Grosso, por isso se dizia que a Mate Laranjeira era um “Estado dentro de outro Estado”. A mão de obra utilizada era principalmente dos paraguaios, que estavam desempregados devido à guerra e entravam em Mato Grosso para trabalhar por qualquer salário. Os trabalhadores da era mate eram chamados de “Mineros” e eram assalariados, recebiam conforme a produção, porém o tratamento era escravista. Para a repressão daqueles que não queriam trabalhar quase como escravos existia a polícia particular da Companhia que se denominavam “Comitiveros”, que demonstra o poder dos seus proprietários, uma vez que o segundo a legislação somente o Estado podia constituir Polícia. A produção do mate era voltada principalmente para o mercado externo, sendo a Argentina o seu princiál comprador. 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 15 Em 1902, o Governo Campos Salles atravessou uma forte recessão, o Banco Rio e Mato Grosso faliu, as suas ações Cia Mate Laranjeiras foram colocadas à venda. O comprador foi Francisco Mendes, empresário argentino. Tal fato levou a empresa a mudar a sua razão social, e passou a ser chamada Laranjeiras, Mendes e Cia. Nesse momento Tomás Laranjeira ficou responsável pela extração em Mato Grosso e Francisco Mendes, pela sua industrialização, distribuição e venda na Argentina. A decadência da empresa ocorreu na década de 30, quando Getúlio Vargas estimulou a produção de erva mate no sul, e o governo não concedeu um novo arrendamento de terras alegando que as terras usadas pela Cia Mate Laranjeira seriam usadas para promover a colonização no sul de Mato Grosso. Além disso, a decadência da Companhia estava também associada a produção da erva mate em Corrientes e Missiones, assim a empresa perdeu o seu maior comprador. O Movimento Republicano e a Proclamação da República Mesmo com a manutenção do sistema escravista e de latifúndio exportador, na segunda metade do século XIX o Brasil começou a experimentar mudanças, tanto na economia como na sociedade. O café, que vinha ganhando destaque, cresceu ainda mais quando cultivado no Oeste Paulista. Juntamente com o café, na região amazônica a borracha também ganhava mercado, principalmente após a descoberta do processo de vulcanização, feito por Charles Goodyear em 1839. Com a ameaça do fim da escravidão, começaram os incentivos para a vinda de trabalhadores assalariados, gerando o surgimento de um modesto mercado interno, além da criação de pequenas indústrias. Surgiram diversos organismos de crédito e as ferrovias ganhavam cada vez mais espaço, substituindo boa parte dos transportes terrestres, marítimos e fluviais. As mudanças citadas acima não alcançaram todo o território brasileiro. Apenas a porção que hoje abrange as regiões Sul e Sudeste foi diretamente impactadas, levando inclusive ao crescimento dos núcleos urbanos. Em outras partes, como na região Nordeste por exemplo, o cultivo da cana-de-açúcar e do algodão, que por muito tempo representaram a maior parte das exportações nacionais, entravam em declínio. Muitos dos produtores e também da população dessas regiões em desenvolvimento passavam a questionar o centralismo político existente no império brasileiro, que tirava a autonomia local. A solução para resolver os problemas advindos da mudança pela qual o país passava foi encontrada no sistema federalista, capaz de garantir a tão desejada autonomia regional. Não é de se espantar que entre os principais apoiadores do sistema federalista estivessem os produtores de café do oeste paulista, que passavam a reivindicar com mais força seus interesses econômicos. O ideal de federação, que se adequava aos anseios dos vários grupos políticos do Brasil, só seria atingido com uma República Federativa. O desgaste enfrentado pelo império brasileiro, evidenciado na questão religiosa, na questão escravista e na questão militar são fatores importantes para entender e completar a lista de fatores que levaram à proclamação de uma República em 1889. Desde o período colonial eclodiram diversos movimentos baseados nos ideais republicanos. A Inconfidência Mineira de 1789 e a Conjuração Baiana de 1798 são exemplos que buscavam a separação de seus territórios do poder colonial e a implantação de repúblicas, em oposição ao domínio real. Apesar das influências republicanas nas revoltas e tentativas de separação desde o século XVIII, foi apenas na década de 1870, com a publicação do Manifesto Republicano, que o ideal foi consolidado através da sistematização partidária. O Manifesto foi publicado em 3 de dezembro de 1870, no jornal A República, redigido por Quintino Bocaiúva, Saldanha Marinho e Salvador de Mendonça, e assinado por cinquenta e oito cidadãos, entre políticos, fazendeiros, advogados, jornalistas, médicos, engenheiros, professores e funcionários públicos. Defendia o federalismo (autonomia para as Províncias administrarem seus próprios negócios) e criticava o poder pessoal do imperador. A formação do Partido Republicano no Brasil está ligada à queda do Gabinete de Zacarias de Góes, motivada por questão pessoal com o Duque de Caxias, e a cisão dos liberais em radicais e moderados. A facção radical adotou, em sua maioria, ideais republicanos. Após a publicação do Manifesto, entre 1870 e 1889 os ideais republicanos espalharam-se rapidamente pelo país. Um dos principais frutos foi o Partido Republicano Paulista, fundado na Convenção de Itu em 1873 e marcado pela heterogeneidade de seus membros e da efetiva participação dos cafeicultores do Oeste Paulista. Os republicanos brasileiros divergiam em seus ideais, criando duas tendências dentro do partido: A Tendência Evolucionista e a Tendência Revolucionária. 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 16 Defendida por Quintino Bocaiuva, a Tendência Evolucionista partia do princípio de que a transição do império para a república deveria ocorrer de maneira pacífica, sem combates. De preferência após a morte do imperador. Já a Tendência Revolucionária, defendida por Silva Jardim e Lopes Trovão, dizia que a República precisava “ser feita nas ruas e em torno dos palácios do imperante e de seus ministros” e que não se poderia “dispensar um movimento francamente revolucionário”. A eleição de Quintino Bocaiuva (maio de 1889) para a chefia do Partido Republicano Nacional expurgou dos quadros republicanos as ideias revolucionárias. O final da Guerra do Paraguai (1870) provocou o recrudescer dos antagonismos entre o Exército e a Monarquia; entre o grupo militar e o Civilismo do governo; entre o "homem-de-farda" e o "homem-de- casaca". O exército institucionalizava-se. Os militares sentiam-se mal recompensados e desprezados pelo Império. Alguns jovens oficiais, influenciados pela doutrina de Augusto Comte (positivismo) e liderados por Benjamin Constant, sentiam-se encarregados de uma "missão salvadora" e estavam ansiosos por corrigir os vícios da organização política e social do país. A "mística da salvação nacional" não era aliás privativa deste pequeno grupo de jovens. Muitos oficiais mais graduados compartilhavam das mesmas ideias. Generalizara-se entre os militares a ideia de que só os homens de farda eram "puros" e "patriotas",ao passo que os civis, os "casacas" como diziam, eram corruptos, venais e sem nenhum sentimento patriótico. No ano de 1888, a abolição da escravidão, promovida pelas mãos da princesa Isabel deu o último passo em direção ao fim da Monarquia Brasileira. O latifúndio e a sociedade escravista que justificavam a presença de um imperador enérgico e autoritário, não faziam mais sentido às novas feições da sociedade brasileira do século XIX. Os clubes republicanos já se espalhavam em todo o país e naquela mesma época diversos boatos davam conta sobre a intenção de Dom Pedro II em reconfigurar os quadros da Guarda Nacional. O Visconde de Ouro Preto, membro do Partido Liberal, foi nomeado presidente do Conselho em junho de 1889. O novo governo precisava remover os obstáculos representados pelo republicanismo e pelos militares descontentes. Para vencer o primeiro, apresentou um programa de amplas reformas: liberdade de culto, autonomia para as províncias, temporariedade dos mandatos dos senadores, ampliação do direito de voto e Conselho de Estado com funções meramente administrativas. Acusado tanto de radical como de moderado, o programa foi rejeitado pela Câmara dos Deputados. Diante disso, ela foi dissolvida, provocando protestos gerais. Contra o exército, Ouro Preto agiu tentando reorganizar a Guarda Nacional e removendo batalhões suspeitos. A situação tornou-se tensa. Os republicanos instigavam os militares contra o governo. A ameaça de deposição e mudança dentro do exército serviu de motivação suficiente para que o Marechal Deodoro da Fonseca agrupasse as tropas do Rio de Janeiro e invadisse o Ministério da Guerra. Segundo alguns relatos, os militares pretendiam inicialmente exigir somente a mudança do Ministro da Guerra. No entanto, a ameaça militar foi suficiente para dissolver o gabinete imperial e proclamar a República. A Proclamação resultou da conjugação de duas forças: o exército, descontente, e o setor cafeeiro da economia, pretendendo este eliminar a centralização vigente por meio de uma República Federativa que imporia ao país um sistema favorável a seus interesses. Portanto, a Proclamação não significou uma ruptura no processo histórico brasileiro: a economia continuou dependente, baseada no setor agroexportador. Afora o trabalho assalariado, o sistema de produção continuou o mesmo e os grupos dominantes continuaram a sair da camada social dos grandes proprietários. Houve apenas uma modernização institucional. O golpe militar promovido em 15 de novembro de 1889 foi reafirmado com a proclamação civil de integrantes do Partido Republicano, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Ao contrário do que aparentou, a proclamação foi consequência de um governo que não mais possuía base de sustentação política e não contou com intensa participação popular. Conforme salientado pelo ministro Aristides Lobo, a proclamação ocorreu às vistas de um povo que assistiu tudo de forma bestializada. 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 17 O coronelismo em Mato Grosso na República Velha 8 A Primeira República, ou República Velha, em Mato Grosso, foi marcada politicamente pela disputa entre as oligarquias do Norte, composta pelos usineiros de açúcar, e do Sul, composta por pecuaristas, comerciantes, ligados à importação e exportação, e pelos coronéis da erva-mate. Essas oligarquias alternaram-se no poder após lutas violentas entre coronéis e seus bandos de lado a lado. Os episódios mais graves dessas disputas foram: Massacre da Bahia Garcez, em 1901; o assassinato do governador Totó Paz, em 1906; a Caetanada, em 1916, que culminou com a intervenção federal em Mato Grosso; Morbeck X Carvalinho verdadeira guerra na região dos garimpos no Araguaia, em Garças. O massacre da Baía do Garcez: foi o assassinato de 17 presos, onde um ano após o ocorrido a Baía secou e os corpos vieram à tona, no entanto ninguém foi preso e Tótó Paes vence as eleições. A Caetanada: em 1915 as eleições em Mato grosso foram disputadas pelos republicanos e pelos liberais, Caetano de Albuquerque, o que sugere o nome do movimento sofreu duras perseguições e chegou a desistir, contudo resolveu voltar a disputa encontrando resistência por parte de Manoel Escolástico Virgilio. Morbeck e Carvalinho: Esse movimento ocorreu em 1926 sob governo de Pedro Celestino, Morbeck se revoltou com a nomeação de Carvalinho para o cargo de delegado e rompe com o amigo governador partindo para pequenos ataques, afim de minimizar a situação Pedro Celestino destitui Carvalinho que armou um bando e promoveu ataques aos quartéis, Carvalinho foi preso e em seguida liberado. Era Vargas - O estado de Mato Grosso e a Era Vargas As décadas de 1930 e 1940 foram marcadas pela política centralizadora de Getúlio Vargas. Interventores federais foram nomeados por entre exercícios de curto governo. Em 16 de julho de 1934 foi promulgada a nova Constituição Federal, seguida pela estadual mato-grossense, em 07 de setembro de 1935. O título de presidente foi substituído pelo de governador. Os constituintes estaduais elegeram o Dr. Mário Corrêa da Costa. O governo de Costa foi marcado por agitações políticas, que acabaram somente com a eleição do bacharel Júlio Strubing Müller pela Assembleia Legislativa em 1937. Após a saída de Vargas, com a aprovação da nova Constituição Federal de 1946, a Assembleia Constituinte de Mato Grosso elegeu o Dr. Arnaldo Estevão de Figueiredo para o governo do Estado. Em 03 de outubro de 1950 houveram eleições para governador, concorrendo Filinto Müller, pelo Partido Social Democrata e Fernando Corrêa da Costa pela União Democrática Nacional. Venceu Fernando Corrêa, que tomou posse em 31 de janeiro de 1951, governando até 31 de janeiro de 1956. Fernando Corrêa da Costa instalou a Faculdade de Direito de Mato Grosso, núcleo inicial da futura Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT. A política implementada por governos de estado na esfera federal visou a ocupação do território durante o século XX, com a criação de várias colônias agrícolas, visando a produção de alimentos. Com a ocupação das áreas produtoras de látex no Leste Asiático durante a Segunda Guerra Mundial, a produção do material ganhou destaque novamente. Na década de 1960, com as mudanças político-administrativas no país e o surgimento de fatores estruturais, a agricultura brasileira sofreu profundas transformações. Com a escassez de terras desocupadas e utilização de tecnologia moderna no Centro-Sul, muitos migrantes chegaram a Mato Grosso dispostos a ocupar as áreas do Estado. O interesse de fazer crescer 8 http://historiografiamatogrossense.blogspot.com.br/2009/12/o-coronelismo-em-mato-grosso-na.html#!/tcmbck PERÍODO REPUBLICANO. 1.O coronelismo em Mato Grosso; 2. Economia de Mato Grosso na Primeira República: usinas de açúcar e criação de gado; 3. Relações de trabalho em Mato Grosso na Primeira República; 4. Mato Grosso durante a Era Vargas: política e economia; 5. Política fundiária e as tensões sociais no campo; 6. Os governadores estaduais e suas realizações; 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 18 o setor agrícola e a necessidade de atender as pressões demográficas de grupos de pequenos e médios proprietários levou o poder público a uma efetiva ocupação do território mato-grossense. O incremento desta ocupação e a caracterização da função de Mato Grosso como estado eminentemente agrícola se consolidou na década de 1970, a partir principalmente do estímulo à colonização privada e à exploração de terras. A colonização, que atraiu primeiramente colonos com larga experiência agrícola, mas também, acostumados ao manejo tradicional e ainda arredios às modernas técnicas de agricultura. A Nova Economia do Brasil A política trabalhista foi taxada de “paternalista” por intelectuais de esquerda, que acusavam Getúliode tentar anular a influência desta sobre o proletariado, desejando transformar a classe operária num setor sob seu controle nos moldes da Carta del Lavoro do fascista italiano Benito Mussolini. Os defensores de Getúlio Vargas diziam que em nenhum outro momento da história do Brasil houve avanços comparáveis nos direitos dos trabalhadores. Os expoentes máximos dessa posição foram João Goulart e Leonel Brizola, sendo Brizola considerado o último herdeiro político do “Getulismo”, ou da “Era Vargas”, na linguagem dos brasileiros. A crítica de direita, ou liberal, argumenta que, em longo prazo, as leis trabalhistas prejudicam os trabalhadores porque aumentam o chamado “custo Brasil”, onerando muito as empresas e gerando a inflação que corrói o valor real dos salários. Segundo esta versão, o Custo Brasil faz com que as empresas brasileiras contratem menos trabalhadores, aumentem a informalidade e faz que as empresas estrangeiras se tornem receosas de investirem no Brasil. Assim, segundo a crítica liberal, as leis trabalhistas gerariam, além da inflação, mais desemprego e subemprego entre os trabalhadores. As Forças de oposição ao Regime Oligárquico No decorrer das três primeiras décadas do século XX houveram uma série de manifestações operárias, insatisfação dos setores urbanos e movimentos de rebeldia no interior do Exército (Tenentismo). Eram forças de oposição ao regime oligárquico, mas que ainda não representavam ameaça à sua estabilidade. Esse quadro sofreu uma grande modificação quando, no biênio 1921-30, a crise econômica e o rompimento da política do café-com-leite por Washington Luís colocaram na oposição uma fração importante das elites agrárias e oligárquicas. Os acontecimentos que se seguiram (formação da Aliança Liberal, o golpe de 30) e a consequente ascensão de Vargas ao poder podem ser entendidos como o resultado desse complexo movimento político. Ele se apoiou em vários setores sociais liderados por frações das oligarquias descontentes com o exclusivismo paulista sobre o poder republicano federal. O Governo Provisório Com Washingtom Luís deposto e exilado, Getúlio Vargas foi empossado como chefe do governo provisório. As medidas do novo governo tinham como objetivo básico promover uma centralização política e administrativa que garantisse ao governo sediado no Rio de Janeiro o controle efetivo do país. Em outras palavras, o federalismo da República Velha caía por terra. Para atingir esse objetivo, foram nomeados interventores para governar os estados. Eram homens de confiança, normalmente oriundos do Tenentismo, cuja tarefa era fazer cumprir, em cada estado, as determinações do governo provisório. Esse fato e mais o adiamento que Getúlio Vargas foi impondo à convocação de novas eleições desencadearam reações de hostilidade ao seu governo, especialmente no estado de São Paulo. As eleições dariam ao país uma nova constituição, um presidente eleito pela população e um governo com legitimidade jurídica e política. Mas poderia também significar a volta ao poder dos derrotados na Revolução de 30. A Reação Paulista A oligarquia paulista estava convencida da derrota que sofreu em 24 de outubro de 1930, mas não admitia perder o controle do Executivo em “seu” próprio estado. A reação paulista começou com a não aceitação do interventor indicado para São Paulo, o tenentista João Alberto. Às pressões pela indicação de um interventor civil e paulista, começa a se somar a reivindicação de eleições para a Constituinte. Essas teses foram ganhando rapidamente simpatia popular. As manifestações de rua começaram a ocorrer com o apoio de todas as forças políticas do estado, até por aquelas que tinham simpatizado com o movimento de 1930 (exemplo do Partido Democrático - PD). Diante das pressões crescentes, Getúlio resolveu negociar com a oligarquia paulista, indicando um interventor do próprio estado. Isso foi interpretado como um sinal de fraqueza. Acreditando que poderiam derrubar o governo federal, os oligarcas articularam com outros estados uma ação nesse sentido. 1335131 E-book gerado especialmente para ELISON FRANCISCO PACHECO MOURA . 19 Manifestações de rua intensificaram-se em São Paulo. Numa delas, quatro jovens, Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo foram mortos e se transformaram em mártires da luta paulista em nome da legalidade constitucional. Getúlio, por seu lado, aprovou outras “concessões”: elaborou o código eleitoral (que previa o voto secreto e o voto feminino), mandou preparar o anteprojeto para a Constituição e marcou as eleições para 1933. A Revolução Constitucionalista de 1932 A oligarquia paulista, entretanto, não considerava as “concessões” suficientes. Baseada no apoio popular que conseguira obter e contando com a adesão de outros estados, desencadeou em 9 de julho de 1932, a chamada Revolução Constitucionalista. Ela visava a derrubada do governo provisório e a aprovação imediata das medidas que Getúlio protelava. Entretanto, o apoio esperado dos outros estados não ocorreu e, depois de três meses, a revolta foi sufocada. Até hoje, o caráter e o significado da Revolução Constitucionalista de 1932 geram polêmicas. De qualquer forma, é inegável que o movimento teve duas dimensões. No plano mais aparente, predominaram as reivindicações para que o país retornasse à normalidade política e jurídica, lastreadas numa expressiva participação popular. Nesse sentido, alguns destacam que o movimento foi um marco na luta pelo fortalecimento da cidadania no Brasil. Num plano menos aparente, mas muito mais ativo, estava o rancor das elites paulistas, que viam no movimento uma possibilidade de retomar o controle do poder político que lhe fora arrebatado em 1930. Se admitirmos que existiu uma revolução em 1930, o que aconteceu em São Paulo, em 1932, foi a tentativa de uma contra revolução, pois visava restaurar uma supremacia que, durante mais de 30 anos, fez a nação orbitar em torno dos interesses da cafeicultura. Nesse sentido, o movimento era marcado por um reacionarismo elitista, contrário ao limitado projeto modernizador de 1930. As Leis Trabalhistas Foi aprovado também um conjunto de leis que garantiam direitos aos trabalhadores, destacando-se entre eles: salário mínimo, jornada de oito horas, regulamentação do trabalho feminino e infantil, descanso remunerado (férias e finais de semana), indenização por demissão, assistência médica, previdência social. A formalização dessa legislação trabalhista teve vários significados e implicações. Representou a primeira modificação importante na maneira de o Estado enfrentar a questão social e definiu as regras a partir das quais o mercado de trabalho e as relações trabalhistas poderiam se organizar. Garantiu, assim, uma certa estabilidade ao crescimento econômico. Por fim, foi muito útil para obter o apoio dos assalariados urbanos à política getulista. Essa legislação denota a grande habilidade política de Getúlio. Ele apenas formalizou um conjunto de conquistas que, em boa parte, já vigoravam nas relações de trabalho nos principais centros industriais. Com isso, construiu a sua imagem como “Pai dos Pobres” e benfeitor dos trabalhadores. O Controle Sindical A aprovação da legislação sindical representou um grande avanço nas relações de trabalho no Brasil, pois pela primeira vez o trabalhador obtinha, individualmente, amparo nas leis para resistir aos excessos da exploração capitalista. Por outro lado, paralelamente à sua implantação, o Estado definiu regras extremamente rígidas para a organização dos sindicatos, entre as quais a que autorizava o seu funcionamento (Carta Sindical), as que regulavam os recursos da entidade e as que davam ao governo direito de intervir nos sindicatos, afastando diretorias se julgasse necessário. Mantinha, assim, os sindicatos sob um controle rigoroso. Eleições Presidenciais de 1934 Uma vez promulgada a Constituição de 1934, a Assembleia Constituinte converteu-se em Congresso Nacional e elegeu
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