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LIDERANÇA E COOLHUNTING OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Definir poder e suas diferentes tipologias. > Relacionar assimetria de poder com exercício da liderança no cotidiano organizacional. > Descrever o impacto da centralização de decisões em equipes de alto desempenho. Introdução O exercício de poder depende da legitimidade da influência de um agente A em B (e do reconhecimento deste último); o poder não é, desse modo, um atributo estático. Em um contexto organizacional, o exercício da liderança incita o debate acerca da dinamicidade das relações de poder e das assimetrias que decorrem delas. O poder é um fenômeno complexo e dinâmico que tem sido investigado em diferentes ciências como uma força que permeia as relações sociais desde o início das sociedades humanas. Ele próprio se expressa pelo embate de forças. No âmbito do poder, a noção pura de assimetria se refere a diferenças estruturais, que podem ser naturais ou adquiridas. Neste capítulo, você vai estudar a definição de poder e suas diferentes tipologias por meio de noções formuladas por autores como Weber, Foucault e Mintzberg. Além disso, você vai ler sobre a assimetria de poder e o exercício da liderança no cotidiano organizacional, bem como sobre o impacto da cen- tralização de decisões em equipes de alto desempenho. Como você vai ver, Liderança e poder na organização Greice Tomazetti tal centralização é importante para manter um maior nível de integração nas organizações, para dar uniformidade a decisões e ações e, consequentemente, para aumentar o nível de controle das atividades. O poder e suas diferentes tipologias Nesta seção, você vai ler sobre o conceito de poder e sobre as diferentes tipologias do poder. A palavra “poder” deriva do termo latino “potere”, e seu significado remete à posse da capacidade ou faculdade de fazer algo, bem como ao mando e à imposição da vontade (CUNHA, 2010). O exercício da liderança é visto como uma tarefa especial, e o líder é capaz de conduzir seus liderados (ou equipes) rumo ao alcance de metas e objetivos organizacionais. Em algumas situações, o líder pode até ser encarado como um herói. Existem inúmeras pessoas empreendedoras que exemplificam esse mito. É o caso de Jeff Bezos (Amazon), Bill Gates (Microsoft), Steve Jobs (Apple), Mark Zuckerberg (Facebook) e Larry Page (Google). No Brasil, Antônio Luiz Seabra, da Natura, é um exemplo. Faria (2004) descreve a liderança como a capacidade de um sujeito, seja ele individual ou coletivo, de mobilizar outros sujeitos em prol do alcance de algum objetivo por meio da conciliação de interesses. Ou seja, a mobilização ocorre com a aceitação do grupo mobilizado. Ao poder, Faria (2004) atribui o mesmo princípio do fenômeno da liderança. No entanto, ele explica que, em muitas situações, as mobilizações realizadas por um sujeito são contrárias à vontade dos grupos mobilizados. A liderança, aliada ao estudo do poder por meio de seus diversos con- ceitos e contextos, observando a complexidade das relações, é essencial ao desempenho das organizações. As relações de poder e liderança geralmente são estruturas formais em organizações sistematizadas. O estudo das ca- racterísticas e manifestações da liderança, com suas diferentes tipologias, possibilita a melhor compreensão do fluxo de influências que percorrem as hierarquias das empresas. Isso permite que as decisões da liderança gerem efeitos mais assertivos, com o aperfeiçoamento da influência e o cumprimento dos objetivos de modo eficiente e comprometido. Definir o poder não é uma tarefa fácil para os estudiosos da área, pois são muitos os contextos que influenciam esse elemento e a sua definição. Alguns autores, como Hindess (1993 apud CHANLAT, 1996), tentaram definir o poder afirmando que ele não se resume a uma mera ferramenta de persuasão que pode ou não ser usada, mas que consiste em um artifício fundamental Liderança e poder na organização2 e indispensável para se obter a mobilização de recursos e para se atingir objetivos estabelecidos. Deustch (1966 apud FARIA, 2004) se aproxima da definição de Hindess (1993 apud CHANLAT, 1996). Ele propõe uma definição ampla, na qual o poder é ilustrado pela capacidade do indivíduo de configurar o ambiente em que atua em função de sua estrutura de raciocínio interna. Para Faria (2004), falar sobre poder é falar sobre a capacidade de suportar as exigências da vida, de preservar a liberdade de ação e de efetuar mudanças. Assim, esse autor apresenta uma definição com enfoque no caráter defensivo do poder, ou seja, ao dizer que o poder é a capacidade de suportar, Faria (2004) propõe a ideia de resistência. Faria (2004) ainda menciona o uso do poder para preservar a liberdade, ou seja, manter o status quo, seja ele de liberdade ou de qualquer outra configuração do ambiente. Portanto, não está em jogo apenas a mo- bilização de recursos em prol de um objetivo organizacional. Ainda no que diz respeito à conceituação de poder, Motta e Vasconcelos (2006) apontam quatro aspectos: � alienação econômica (perspectiva marxista da abordagem sobre o poder); � aspecto psicológico (poder como capacidade de imprimir dependên- cia, projeções e introjeções, bem como de formar sistemas de defesa sofisticados baseados no comportamento e no condicionamento de aspectos psicológicos inerentes ao ser humano); � aspecto político (imposição do controle e mobilização no trabalho); � aspecto ético e moral (poder como apropriador de significado e valores, ou seja, como licitador de ações e práticas de quaisquer naturezas). Friedberg (1995 apud FARIA, 2004, p. 119) se refere ao poder como a capaci- dade de um indivíduo de estabelecer processos de troca duráveis e favoráveis a si, explorando constrangimentos e oportunidades contingenciais de modo a atender a seus próprios interesses. Ou seja, o poder seria o ato de negociar formas de comportamento entre os participantes para atender a interesses recíprocos, porém nem sempre justos e, na maioria das vezes, com ganhos desproporcionais e consideravelmente favoráveis à parte dominante da negociação. Para Enriquez (2001 apud FARIA, 2004, p. 126), o poder é uma relação de caráter sagrado e de tipo assimétrico. Está em jogo uma relação em que um grupo dominante e dotado de meios legítimos para o exercício do poder o exerce sobre um grupo que responde com consentimento às imposições. Liderança e poder na organização 3 Um dos autores mais proeminentes que dissertam sobre o conceito de poder é o filósofo francês Michel Foucault (1926–1984). Foucault veio de família tradicional de médicos, rompeu essa tradição e acabou se graduando em história, filosofia e psicologia. Ele reconhece a vinculação do poder político com a manutenção das relações de produção, mas afirma que o poder existe, primariamente, como relação de força, sob a forma de guerra, de combate, de confronto. Foucault ainda foi além e discutiu a inserção do poder em instituições sociais que querem controlar os corpos e comportamentos. Para ele, os me- canismos de controle são adaptados a esse contexto e incumbem todos os cidadãos de realizar a vigilância. Ou seja, o sistema de vigilância se aperfeiçoa ao contar com o olhar dos pais sobre o comportamento dos filhos, e estes, por sua vez, demonstram às instituições governamentais, geralmente às escolas, o comportamento e todas as práticas de suas famílias. Isso garante uma vigilância contundente em cada unidade social (FERRARI, 2008). Ainda segundo o filósofo, a humanidade seria organizada de formas dis- tintas de acordo com o modo como ela lida politicamente com elementos vinculados à vida. Nesse sentido, entre as sociedades modernas e a sociedade contemporânea, por exemplo, há uma grande diferença, em especial nos sistemas políticos recentes (FERRARI, 2008). Foucault caracterizou as diferenças como relações microfísicas e macro- físicas. As relações macrofísicas se vinculam ao poder exercido em grande escala (macro) por meio domonarca, o único responsável por aplicar, pelo medo, a atividade necessária para controlar as vontades de acordo com sua própria vontade (FERRARI, 2008). Já as relações microfísicas têm a ver com o poder exercido pelo que Foucault chamou de “sociedade disciplinar”. Tal sociedade seria composta por uma rede de poderes pequenos, exercidos em pequenos núcleos sociais por meio da aplicação de técnicas disciplinares relativas a atividades diversas (FERRARI, 2008). Os exemplos incluem escolas, igrejas, quartéis e fábricas, instituições disciplinares que aplicam a disciplinarização dos corpos. Por sua vez, os líderes de pequenos núcleos de poder, como os pais na família patriarcal, exercem algum tipo de poder microfísico sobre as pessoas subjugadas a eles. Outro filósofo importante que disserta sobre as tipologias de poder é Max Weber (1864–1920), que formulou a teoria da dominação carismática. Nesse contexto, trata-se a liderança como relação de poder, no sentido weberiano de autoridade (FRAGA, 2013). Liderança e poder na organização4 O poder constitui um tema legítimo da obra de Max Weber. Nela, há a ca- racterização da dominação e da legitimidade, que decorrem da possibilidade ou não de alguém em situação de destaque impor sua vontade própria ao comportamento de outra pessoa. Veja: Aqui o dominado, de certa forma, de maneira voluntária, mesmo com resistência manifesta, aceita e legitima a visão do dominador. Weber tem a dominação como um dos elementos mais importantes da ação social, que pode ser encontrada em toda parte. Para ele, uma posição de poder ordinariamente designada como de dominar pode emergir das relações sociais mais diversas, seja em uma sala de estar, no mercado, em uma tribuna, a partir de um posto de comando, em discussões acadêmicas ou esportivas e, até mesmo, em uma relação erótica ou caritativa etc (WHIMSTER, 2009, p. 191). Ao sistematizar seu trabalho, Weber elenca três dimensões de poder: econômico, social e político. Ele analisa mais profundamente o poder político. No entanto, salienta que o domínio se situa ao lado da atividade econômica como um dos traços salientes de todas as sociedades. Explica que, na eco- nomia moderna, as formas de operacionalização do poder e do controle na empresa e na política assemelham-se entre si, visto que a relação social básica é racionalmente ordenada, segundo regras fixas, por funcionários, configurando modos de comando similares (SILVA; CARVALHO NETO, 2012). Dessa forma, o sociólogo analisa os principais tipos de domínio e mostra seus efeitos controladores e formadores da atividade econômica. Weber reconhece a centralidade do poder econômico e sua interação com o poder social. Assim, todas as sociedades estão engajadas em uma luta pela distri- buição do poder. Assim, prestígio social, classe econômica e poder político são vistos por Weber como formas de interesses materiais. Isso explica a obstinação de Weber em tratar a religião como simples fator, um elemento separado que possa ser associado às três dimensões em caso de afinidade eletiva (WEBER, 2004; WHIMSTER, 2009). Para Max Weber, o poder é a imposição da vontade de uma pessoa ou instituição sobre os indivíduos. Tal imposição é direta e deliberada, e pode ter aceitação como força de ordem ou não. Quando as pessoas submetidas aceitam a ordem, há uma transição de forças do âmbito do poder para o âmbito da dominação, ou seja, a pessoa que aceita a imposição de ordem submete-se à autoridade da outra (WEBER, 2004). Liderança e poder na organização 5 De modo adicional, pode-se mobilizar, no âmbito do debate sobre o poder, o trabalho do sociólogo Henry Mintzberg (1939–). Ele entende o poder como uma força capaz de influenciar decisivamente os resultados operacionais das organizações. Para Mintzberg, o poder é um elemento-chave e importante para os comportamentos organizacionais (FALCINI, 1993). Mintzberg oferece inovação ao estudo do poder nas organizações, e dois aspectos chamam a atenção pela maneira diferente com que foram tratados em relação à literatura clássica sobre o tema. O primeiro diz respeito à con- ceituação de poder dada pelo autor; Mintzberg deixa claro que conceituar o “poder” não é uma tarefa fácil, e os termos “influência” e “autoridade” estão muito presentes em sua teoria. Mintzberg (1983) preferiu se abster de uma discussão mais ampla sobre conceitos abstratos, entendendo o poder simplesmente como a capacidade de afetar os resultados organizacionais. Para ele, existe um “jogo de poder organizacional” com elementos básicos, os quais chama de “influenciadores”, analisando os meios e sistemas de influência utilizados para verificar quais sistemas de metas organizacionais podem ser resultantes. A composição desses elementos oferece uma teoria descritiva sobre as configurações de poder nas organizações. A premissa maior que permeia a teoria de Mintzberg é a de que existem várias razões para crer que “o mundo das organizações”, a exemplo de outros mundos na natureza, tende a uma organização “natural”, em grupos específicos com características comuns. Em seu livro Power In and Around Organizations, Mintzberg (1983) trata da estrutura e do fluxo do poder das organizações e busca identificar os elementos básicos do jogo chamado “poder organizacional”. Ele busca definir especificamente quem são os jogadores ou influenciadores, quais são os meios ou sistemas de influência que eles usam para ganhar poder e quais são os produtos que resultam dos seus esforços. Posteriormente, Mintzberg procura explicar como todos esses elementos são reunidos, para descrever as configurações básicas do poder organizacional; por último, tenta identificar a usabilidade dessas configurações, para compreender melhor o comporta- mento das organizações. O poder poderia ser convertido em um agente capaz de evocar sensações de desconforto nos indivíduos. Porém, percebe-se a importância desse fator e, assim, do seu entendimento, para a formação de um paradigma nessa área. Mintzberg contribuiu para a renovação do interesse pelos fenômenos comportamentais relacionados ao poder nas organizações. Liderança e poder na organização6 Conhecer os tipos de poder é fundamental para entender o significado e a amplitude do exercício do poder — tanto na gestão de empresas e na sociedade quanto na convivência entre as pessoas. Assimetria de poder e exercício da liderança no cotidiano organizacional A assimetria de poder está ligada a aspectos das relações humanas e também ao tema da liderança. Além disso, ela está presente nas conversações entre pessoas que ocupam posições de comando no trabalho organizado e pessoas subordinadas a elas, influenciando o propósito dos líderes de obter melhores relacionamentos e melhor desempenho. Sabe-se que a base de sustentação de qualquer negócio está na figura do líder, seja ele empreendedor ou líder de uma equipe dentro das organizações. A responsabilidade de um líder repercute e impacta diretamente a vida das pessoas. A liderança é encarada a partir de diferentes aspectos, tanto positivos quanto negativos. Há condições de poder próprias da organização do trabalho que podem interferir nas relações entre os trabalhadores e seus superiores hierárquicos, provocando um distanciamento considerável entre eles. Esse sistema está fundamentado na hierarquia e na divisão do poder, lembrando que o poder é essencial para sustentar o funcionamento dessa divisão, pois assegura a execução das tarefas e o atingimento de metas. Há conceitos que podem ser compreendidos mais facilmente por oposição, e o conceito de assimetria é um deles. É imprescindível, portanto, saber o que é a simetria para compreender a ideia de assimetria. Com origem no termo latino “symmetria”, a palavra “simetria” designa a qualidade de correspondência de dimensões, formas e localizações dos diversos componentes que formam um todo. Por isso, os dicionários definem a assimetria como a carência ou o contrário da simetria.Enriquez (1990, p. 17) afirma o seguinte: “Não existe líder sem homem sedu- tor e repressor; nem divisão do trabalho sem pessoas dominantes que têm o direito de pensar e exprimir sua palavra e sem pessoas submissas, mantidas a distância de seus desejos e de suas palavras”. Em outra obra, esse mesmo autor apresenta um pensamento que complementa a afirmação anterior. Veja: Liderança e poder na organização 7 As organizações [...] mesmo aquelas que adotaram uma estrutura estratégica e, portanto, exigem de seus membros entusiasmo e iniciativa, têm tendência a inte- grar os indivíduos heterônomos e a desconfiar dos sujeitos autônomos. O primado atual do indivíduo é o primado do indivíduo conformado, massificado, ou ainda do homem que adota uma identidade coletiva forte, que é dominado pelo narcisismo individual e pelo narcisismo grupal ou organizacional (ENRIQUEZ, 1997, p. 121-122). As “relações assimétricas” podem ser definidas como relações humanas em que um dos lados detém mais poder ou algum outro atributo que o torne superior. Muitas vezes, tais relações se dão na esfera da liderança e perturbam os relacionamentos entre as pessoas, afastando-as. Esse tipo de relação interfere no propósito dos líderes de obter bons relacionamentos com os seus subordinados. Afinal, ao mesmo tempo em que querem desenvolver relacionamentos saudáveis, os líderes precisam obter o máximo desempenho dos seus colaboradores. No modelo de relação assimétrica de liderança, uma instância superior estabelece e concede objetiva e formalmente a uma pessoa o poder de de- terminar o que a outra ou as outras devem pensar, controlar, fazer ou deixar de fazer. Portanto, está presente uma dinâmica de subordinação. As relações assimétricas são cotidianas no trabalho organizado. Por isso, um dos principais desafios das organizações é a liderança. Nesse cenário, os líderes necessitam estar qualificados e preparados para conduzir adequadamente suas equipes, investir e cuidar da qualidade das relações no ambiente de trabalho. Eles também devem desenvolver as pessoas, motivá-las e aprimorar a comunicação. Todos esses pontos são fundamentais para atender às exigências de qualidade, produtividade e competividade nos negócios. Nas relações assimétricas, o uso intenso dos verbos “mandar”, “obe- decer”, “fazer” e “controlar”, entre outros com essas conotações, pode ter implicações complexas. De qualquer modo, o grau de exigência ou necessidade que é traduzido por esses verbos tem a ver com a constituição das bases que permitem assegurar o resultado organizacional. Você já parou para se perguntar se as empresas buscam chefes ou líde- res? Essa reflexão é importante. Na verdade, as empresas precisam de uma verdadeira liderança para conduzir processos e pessoas. No contexto atual, em que há muitos momentos de incerteza, a liderança é muito importante Liderança e poder na organização8 para que as empresas possam inovar e se reinventar. Quando a situação fica instável ou turbulenta, é possível ver quem de fato lidera com sabedoria e quem exerce apenas o cargo de chefia (LIMA, 2020). “E como podemos tirar proveito dos desafios desse ambiente para trazer o melhor de nós mesmos e de nossas equipes? Afinal, líderes não sabem tudo, eles não são super-heróis como inconscientemente muitos pensam” (LIMA, 2020, documento on-line). Agora mais do que nunca, conectar ações e aprender com um objetivo é muito relevante. Não é viável ficar estático e fazer as coisas do mesmo jeito todos os dias. Você certamente conhece exemplos de empresas que estão mudando suas operações para atender às necessidades de seus clientes, não é? O mercado de trabalho estático não existe mais no mundo contemporâneo, tecnológico e repleto de possibilidades. Faz parte do papel do líder garantir a produtividade de sua equipe e requalificar a força de trabalho para o ambiente digital. Ele precisa estar aberto e se reinventar constantemente (LIMA, 2020). O exercício de motivar os subordinados para que haja comprometimento deve ser constante. Se eles questionam, ou não cumprem o que é necessário, ou insistem em apresentar pedidos cujo atendimento é inviável, o exercício da liderança se torna mais difícil. Somente quando a equipe se mostra com- prometida com as metas é que o responsável por ela consegue “sentir-se em equilíbrio”. Hunter (2006) afirma que a liderança exige algumas qualidades. É o caso da paciência, que, aliada ao autocontrole, é primordial para lidar com situa- ções complicadas. Tanto a paciência como o autocontrole geram reações, e as atitudes positivas do líder se refletirão no comportamento dos liderados (atos consistentes e também previsíveis) e no sucesso da organização. O líder deve ser transparente com a equipe para evitar clima de incerteza. Ele deve mostrar o que os colaboradores precisam entregar para que a ope- ração seja saudável e para que os resultados almejados sejam alcançados, promovendo uma cultura de confiança. Para criar essa cultura, o líder deve realizar ações que gerem proximidade e que tenham frequência, duração e intensidade adequadas (RABELO, 2020). Entre os desafios enfrentados pelo líder, está a criação de um plano de ação, necessário para a análise de performance: “[...] caso alguém esteja entregando resultados abaixo do combinado, o líder tem o dever de conversar sobre o assunto individualmente, mostrar as consequências reais caso o resultado não seja entregue e criar um plano de ação junto com o colaborador para ajudá-lo a entregar” (RABELO, 2020, documento on-line). Liderança e poder na organização 9 Estar próximo da equipe é essencial para que o líder compreenda o contexto organizacional e conheça as pessoas, suas dificuldades e potencialidades. Essa é uma prática eficaz para aproximar a liderança dos demais colaboradores, sendo um elemento-chave para a influência, assim como a comunicação clara das metas. Ao colocar essa proximidade em prática, o líder é capaz de definir os rumos da empresa e da equipe, tornando os objetivos e princípios conhecidos, compreendidos, aceitos e incorporados à cultura organizacional. Veja o que afirma Costa (2017, documento on-line): A perda de controle pela liderança principal pode ocasionar no desenvolvimento de coalizões internas dentro da equipe, que tenderão a se digladiar pela busca de interesses setorizados e não compartilhados com a coalizão concorrente, fazen- do com que se crie um “racha” na condução das atividades e a perda do foco da liderança, que deveria ser coordenar para ordenar e reconquistar confiabilidade. Como o contexto empresarial é dinâmico, a liderança se desenvolve na prática do dia a dia. Assim, o líder precisa aperfeiçoar o tempo todo a sua habilidade de liderança, mantendo-se em constante desenvolvimento. A ideia é que ele esteja disponível principalmente para interlocuções de longa dura- ção, oferecendo a dedicação necessária e exemplar aos seus subordinados. Impacto da centralização de decisões em equipes de alto desempenho No século XXI, têm ocorrido profundas transformações na sociedade e nos negócios, o que gera tanto oportunidades quanto desafios. Com o desen- volvimento e o aumento da competição entre as empresas, a disputa por espaços no mercado torna-se cada vez mais acirrada, fato que se evidencia com o desenvolvimento do fenômeno da globalização. Ser um bom líder não é fator de sorte. Como um jogo de xadrez, a lide- rança envolve estratégia e tática. Cada peça é cuidadosamente estudada e movimentada, e muitas vezes, para evitar o xeque-mate, determinada peça assume a função única de proteger o rei. Infelizmente, em muitas organizações, os cargos de liderança são ocupados por pessoas que não foram preparadas para esse posto, muitas vezes não sendo escolhidas pelas suas competências (BUENO, 2018). No âmbito da liderança, a tomada de decisões assertivas é fundamental. Decisões são tomadas a todo instante e, para que elas sejam tomadas cor- retamente, uma pessoa hábil deve assumira responsabilidade. Esse tipo de ação requer cautela, discernimento e conhecimento. Liderança e poder na organização10 Na transformação de grupos em equipes, é importante que todos entendam que a liderança é a capacidade de transformar visão em re- alidade. Esse conceito é de Warren Bennis, conselheiro de quatro ex-presidentes dos Estados Unidos (RIVERA; ARTMANN, 2006). Nesse sentido, tenha em mente que a busca de conhecimento para qualificar as relações ao longo da jornada precisa da curiosidade e do entusiasmo do líder, tanto no contexto das empresas como no contexto social em geral. O fato de uma pessoa centralizar decisões tem a ver com o modo como ela se situa no sistema hierárquico da empresa. Quem centraliza decisões ocupa o topo da hierarquia, possuindo a mais alta autoridade dentro da organização, e os demais colaboradores devem acatar essa autoridade de acordo com as suas posições na estrutura do organograma. Os fatores que influenciam a centralização são: a cultura da empresa, o grau de formalização, o ambiente, a forma como o poder é distribuído, o tamanho da organização, a tecnologia, os recursos, as estratégias, etc. Em síntese, a centralização ocorre quando a maioria das decisões é tomada pelos líderes, ou seja, pessoas que estão estrategicamente posicionadas em níveis hierárquicos superiores, tendo autoridade para decidir o que for necessário. Comumente, a centralização acontece para manter o nível de integração da empresa mais alto, assim como a uniformidade das decisões e ações. A ideia é que a empresa consiga administrar melhor as urgências. Os respon- sáveis geralmente são capacitados, o que permite a tomada de decisões mais consistentes com os objetivos gerais da empresa. Nesse sentido, há a influência da centralização das decisões nas equipes de alto desempenho. Entende-se por equipes de alto desempenho aquelas que produzem resultados de alta qualidade e que têm orgulho de fazer parte de um dos pilares da empresa; são aquelas que sempre desempenham bem suas missões, nas quais há cooperação para o desenvolvimento e a conquista do sucesso mútuo. Bandeira (2002) reforça que, para o sucesso do trabalho das equipes de alto desempenho, é essencial uma boa formação do grupo. Para isso, deve- -se considerar a escolha dos componentes, a obtenção da visão do trabalho (definição do contexto e da missão) e a constituição de um espírito de equipe. Somente a partir disso o grupo passa a trabalhar de forma cooperativa. A valorização das pessoas como capital humano constitui um dos mais pre- ciosos elementos de obtenção de resultados em um ambiente marcado pela Liderança e poder na organização 11 competitividade, ganhando destaque cada vez maior. É necessário perceber que a diversidade humana nas empresas possui grande potencial estratégico. Quando um líder sabe que pode confiar na sua equipe, tendo a certeza de que todos trabalham com seu máximo potencial, os resultados da em- presa são afetados positivamente. O desafio é transformar uma equipe que entrega os resultados esperados em uma equipe que se supera diariamente, que naturalmente busca performar além do esperado. Para isso, a equipe precisa ser formada por bons profissionais que trabalhem em sinergia. As habilidades devem ser complementares, e os colaboradores precisam estar comprometidos uns com os outros, além de ter em vista o mesmo objetivo. Equipes de alto desempenho são aquelas que possuem objetivos claros e membros capacitados para alcançá-los por meio das mais diversas tarefas. Tais equipes atuam com paixão e propósito, sabem aonde querem chegar e compreendem por que desejam alcançar seus objetivos. Nessas equipes, também existe o alinhamento entre o que a liderança espera e o que a empresa busca alcançar; tal alinhamento ocorre por meio de feedbacks constantes para correções e reconhecimentos. Com esse equilíbrio, é mais fácil entender em que pontos a gestão está acertando e em que aspectos pode melhorar de alguma forma. Para construir tudo isso, é necessário buscar o alto desempenho das equipes, isto é, liderar, interagir, participar e se envolver no processo dinâmico de produção — e, consequentemente, nas relações humanas. As empresas têm como objetivo principal obter lucro, mas não podem se esquecer de que o potencial humano deve ser trabalhado com mais ênfase para que essa meta seja alcançada. 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