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SAIBA A VERDADE! O dia a dia, as dificuldades e as soluções encontradas pelos gestores de empresas consagradas A ética, a onda verde e a responsabilidade social: como lidar com as preocupações da atualidade O desafio de gerir pessoas: unindo as individualidades em favor do todo e nos diferentes níveis hierárquicos ADMINISTRAÇÃO www.grupoa.com.br 2a Edição 34649_Serie A-Administracao 1 09/05/12 16:06 B328a Bateman, Thomas S. Administração [recurso eletrônico] / Thomas S. Bateman, Scott A. Snell ; tradução: Allan Vidigal Hastings ; revisão técnica: Gilmar Masiero. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012. Editado também como livro impresso em 2012. ISBN 978-85-8055-082-5 1. Administração. I. Snell, Scott A. II. Título. CDU 658 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 230 Administração atraia e energize as pessoas para que se comprometam com a empresa.4 A importância dos comportamentos cidadãos pode ser menos evidente do que a produtividade, mas esses comportamentos ajudam a empresa a operar sem percalços. E facilitam a vida dos gestores. A Plante & Moran é uma empresa de assessoria contábil e empre‑ sarial que estabelece um elevado padrão em termos de funcioná‑ rios fiéis e felizes. A empresa, que emprega 1,5 mil pessoas, está há nove anos consecutivos na lista de “100 melhores empresas onde traba‑ lhar”, da revista Fortune. A Fortune refere ‑se à cultura organizacional da Plante & Moran como “empregadocêntrica” e relata que seu giro é de apenas 11%, um dos menores em todo o setor de contabilidade. A Plante & Moran também tem uma das maiores porcentagens de sócias no setor – 19%. O motivo para essas estatísticas positivas é a preocupação da empresa com as famílias dos funcionários. Um dos programas da empresa, o Comitê de Ação para a Corda Bamba Pessoal (Personal Tightrope Action Committee), foi originalmente estabele‑ cido para atender as necessidades dos funcionários com filhos e hoje se concentra no equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Os funcionários gozam de benefícios como creche na empresa e cadeirões no refeitório. “Estamos muito satisfeitos com nosso pessoal e seu comprometimento com a Regra de Ouro, que é a base de nossa cultura vencedora”, diz o sócio ‑gerente Bill Hermann, concluindo: “as pessoas trabalham melhor quando gostam do ambiente e confiam em seus colegas”.5 Já foram propostas muitas ideias para ajudar os gestores a motivar as pessoas para que apresentem comportamen‑ tos construtivos. As mais úteis delas estão descritas nas páginas adiante. Começamos pelos processos mais funda‑ mentais que influenciam a motivação de todas as pessoas. Esses processos – descritos pelas teorias do estabeleci‑ mento de metas, do reforço e da expectativa – sugerem ati‑ tudes para os gestores. Depois discutiremos o conteúdo da‑ quilo que as pessoas desejam e precisam, a maneira como diferem umas das outras e a maneira como com preen der suas necessidades leva a “receitas” para a criação de cargos motivadores e a potencialização das pessoas para que apre‑ sentem o mais alto nível de desempenho possível. Final‑ mente, discutiremos as principais crenças e im pressões das pessoas quanto à justiça no trabalho e as implicações que trazem para a motivação. A recompensa por algo bem feito é tê-lo feito. Ralph Waldo Emerson, poeta norte-americano A fidelidade dos funcionários existe, mas depende daquilo que a empresa está disposta a fazer por eles. Vinnie, funcionário em um banco de investimentos de Nova York, a respeito de por que recusou um emprego que pagava 30% a mais para ficar com seu atual empregador, que lhe permite trabalhar em casa6 mais no mês seguinte.2 Esse gestor pode até ser muito criativo. Mas, se for avaliado por resultados da mesma maneira que avalia sua equipe, irá fracassar. Ele pode ter sucesso na moti‑ vação de algumas pessoas para que vendam mais, mas alguns bons vendedores se verão motivados a deixar a empresa. OA10.1 Identificar os tipos de comportamentos que os gestores preci- sam motivar nas pessoas. MOTIVAÇÃO PARA O DESEMPENHO Entender por que as pessoas agem como agem no trabalho não é uma tarefa fácil para os gestores. Prever sua reação a cada programa de produtividade é ainda mais difícil. Feliz‑ mente, sabe ‑se o bastante sobre motivação para fornecer ao gestor técnicas práticas e eficazes para aumentar os esforços e o desempenho das pessoas. Motivação tem a ver com as forças que energizam, orientam e sustentam os esforços das pessoas. Todos os com‑ portamentos, com exceção de reflexos involuntários – como piscar os olhos (que pouco têm a ver com a gestão) – são motivados. Uma pessoa altamente motivada irá esforçar ‑se mais para atingir metas de desempenho. Se dotada de níveis adequados de capacidade, de compreensão do cargo e de acesso aos recursos necessários, essa pessoa será altamente produtiva. Para serem motivadores eficazes, os gestores precisam saber que comportamentos desejam motivar nas pessoas. Embora pessoas produtivas façam um número aparente‑ mente interminável de coisas, a maioria das atividades rele‑ vantes se enquadra em uma dentre cinco categorias:3 1. Unir ‑se à empresa. 2. Permanecer na empresa. 3. Vir regularmente ao trabalho. 4. Desempenhar ‑se – ou seja, dar duro para atingir alta produção (produti‑ vidade) e alta qualidade. 5. Exibir boa cidadania, demonstrando comprometimento e apresentando desempenho acima e além do dever para ajudar a empresa. A respeito dos três primeiros pontos, devemos rejeitar a noção recentemente popularizada de que a fidelidade não existe mais e aceitar o desafio de criar um ambiente que Cap 10_gestao_BATEMAN.indd 230 16/02/2012 15:00:03 CAPÍTULO 10 | Motivação de Pessoas 231 OA10.2 Listar os princípios de estabelecimento de metas para motiva- ção dos funcionários. ESTABELECIMENTO DE METAS Fornecer metas ligadas ao trabalho é uma maneira alta‑ mente eficaz de estimular a motivação. Com efeito, talvez seja a abordagem mais importante, válida e útil para a moti‑ vação do desempenho. Segundo a teoria do estabelecimento de metas, as pessoas têm metas conscientes que as energizam e orientam seus pensamentos e comportamentos em direção a um determinado fim.7 Tendo em mente o princípio de que as metas têm importância, os gestores as estabelecem para seus funcionários ou colaboram com eles para que as estabeleçam para si. Por exemplo, uma empresa de TV via satélite pode estabelecer metas de aumento do número de novos assinan‑ tes, do número de assinantes existentes que pagam por canais premium, ou pela rapidez de resposta a consultas dos clientes.8 O estabelecimento de metas funciona para qual‑ quer cargo no qual as pessoas tenham controle sobre seu desempenho.9 Podemos estabelecê ‑las por desempenho em qualidade e quantidade, além de comportamentais, como cooperação ou trabalho em equipe.10 De fato, podemos esta‑ belecer metas para qualquer coisa que seja importante.11 Metas bem concebidas são altamente motivadoras As metas mais poderosas são significativas; são propósitos elevados que apelam aos valores “nobres” das pessoas e acrescentam ao poder de motivação.12 A Johnson & Johnson quer lucros, mas também se dedica a melhorar o atendimento de saúde. A ServiceMaster, uma empresa de limpeza e manutenção, tem um comprometimento reli‑ gioso que apela aos seus funcionários e a Hunts‑ man Chemical tem metas de reduzir sua dívida corporativa, mas, também, de reduzir o sofri‑ mento humano – patrocina diversas organiza‑ ções de caridade e pesquisas contra o câncer. Metas significativas também podem se basear em dados sobre os competidores; superar o desempenho dos concorrentes pode alimentar o espírito competitivo das pessoas e seu desejo de sucesso no mercado.13 Esse ponto não se refere apenas aos valores que as empresas abra‑ çam e às metas elevadas que procuram atingir: também diz respeito à liderança em um nível mais pessoal. Secomparados aos seguidores de líderes transacionais, os de líderes transforma‑ dores (como vimos no Capítulo 9) encaram seus trabalhos como mais importante, além de alta‑ mente congruente com suas metas pessoais.14 As metas também devem ser aceitáveis para os funcionários. Isso significa, entre outras coisas, que não devem entrar em conflito com os valores pessoais e que as pessoas devem ter motivos para procurar atingir as metas. Permitir que as pessoas participem do estabeleci‑ mento de suas metas – em vez de tê ‑las estabelecidas pelo chefe – tende a gerar metas que as pessoas aceitam e se dis‑ põem a atingir. Metas aceitáveis e de máxima motivação são desafiadoras, mas realizáveis. Ou seja, devem ser altas o bastante para ins‑ pirar melhor desempenho, mas não tão altas que jamais possam ser atingidas. Uma equipe de consultores contratados por uma empresa internacional criou mais de 40 programas voltados para a melhoria da qualidade. A empresa anunciou que não esperava ganhos significativos de qualidade até o quarto ano do programa. Uma meta assim não chega nem perto de ser desafiadora o bastante.15 Por outro lado, Robert R. Ruffolo Jr. recriou com sucesso a área de pesquisa e desen‑ volvimento da Wyeth ao estabelecer cotas para o número de componentes que os cientistas deveriam fazer passar por cada etapa do processo de desenvolvimento, além de metas financeiras que cada projeto deveria atingir. Projetos que não atendam a esses requisitos são logo abandonados para que os cientistas possam se dedicar a ideias mais promissoras. MOTIVAÇÃO As forças que energizam, orientam e sustentam os esforços das pessoas. TEORIA DO ESTABELECIMENTO DE METAS Uma teoria da motivação segundo a qual as pessoas têm metas conscientes que as energizam e orientam seus pensamentos e comportamentos em direção a um fim determinado. A Ben & Jerry’s é conhecida por fazer alguns dos melhores sorvetes do mundo. Mas sua responsabilidade social também é de alta importância para muitos funcionários e clientes. A foto mostra Ben e Jerry com a banda de rock Daughtry, lançando seu mais recente sabor de sorvete, o “ONE Cheesecake Brownie”, cujos proventos ajudam na luta contra a pobreza em todo o mundo. Cap 10_gestao_BATEMAN.indd 231 16/02/2012 15:00:04 232 Administração A A Stonyfield Farm motiva por meio de sua missão A Stonyfield Farm, maior fabricante de iogur- te orgânico do mundo, provavelmente é um dos acasos mais afortunados da história. Foi fundada em New Hampshire como esco- la de agricultura orgânica; os professores Samuel Kaymen e Gary Hirshberg faziam e vendiam iogurte para ajudar a pagar as con- tas. Quando os clientes começaram a clamar por seus produtos, os dois fundadores deci- diram concentrar -se neles em vez da escola. Hoje, a Stonyfield Farm fatura US$ 320 mi- lhões ao ano com a venda de refrescos or- gânicos, soja cultivada, iogurte congelado e leite. A Stonyfield compra leite apenas de fazendas orgânicas e paga os proprietários para que não tratem suas vacas com hormô- nios bovinos sintéticos. Segundo Hirshberg, presidente -executivo da empresa, o objetivo da Stonyfield é tentar fazer com que as pessoas sintam -se bem. Isso começa com um produto saudável e de alta qualidade. Partindo da premissa de que alimentos saudáveis só podem vir de um pla- neta sadio, a Stonyfield imprime mensagens ambientalistas em suas embalagens e doa 10% de seus lucros para causas ambientais. A empresa põe suas palavras em prática e instalou uma usina solar para ajudar a suprir suas necessidades de energia. Hirshberg também quer que os funcio- nários se sintam bem. Com ideais elevados assim, a maneira mais básica de dar origem a esse sentimento é mostrar aos funcionários que seu trabalho contribui para o sucesso da empresa. Duas vezes por ano, todo o pessoal participa de reuniões de atualização das quais a administração compartilha dados sobre as finanças da empresa. As reuniões não tratam apenas de custos e vendas – são uma oportunidade para Hirshberg reforçar os valores corporativos, inclusive o compro- misso com a qualidade, que é especialmente crítico para uma empresa que vende uma marca premium. Nessas reuniões, Hirshberg incentiva a comunicação aberta e mostra -se aberto a perguntas para que os funcionários possam “ver o que está acontecendo”, inclu- sive os riscos e oportunidades da Stonyfield. O trabalho voluntário é incentivado – e recompensado. A Stonyfield introduziu um programa chamado “Fazendo a Diferença” (Making a Difference), sob o qual os funcio- nários são remunerados por até 16 horas por ano de serviço comunitário. Os vencedores do Prêmio Yogurtarian, promovido pela empresa, recebem prêmios em dinheiro por trabalhos realizados em prol da comunidade. Depois de Embora os pesquisadores tenham resistido às metas em um primeiro momento, perceberam que elas ajudam a focar seus esforços naquilo que mais importa.16 As metas ideais não apenas incentivam os funcionários em geral a melhorar o desempenho e dar o máximo de si. Em vez disso, devem ser específicas e quantificáveis, como a meta da Esco de que, até 2011, geraria pelo menos 5% de suas receitas a partir da venda de produtos recentemente inventados, ou a do Guitar Center, de que sempre que um telefone tocar em uma de suas lojas, um vendedor atenda antes do quarto toque.17 Reunindo esses princípios, a Microsoft usa a sigla SMART (“inteligente”, em inglês) para criar metas motivadoras: específicas, mensuráveis, realizá‑ veis, baseadas em resultados e com prazo determinado.18 Metas forçadas ajudam os funcionários a atingir novos patamares Atualmente, algumas empresas usam metas forçadas – metas excepcionalmente exigentes com que algumas pessoas jamais sequer sonhariam. Há dois tipos de metas forçadas:19 1. As metas forçadas verticais estão alinhadas com atividades existentes, abrangendo resultados de produtividade e financeiros. 2. As metas forçadas horizontais envolvem o desenvolvimento profissional das pessoas, como a tentativa de aprendizado de coisas novas e difíceis. Por mais que as metas forçadas possam parecer impossíveis para algumas pessoas, elas na verdade são frequentemente realizáveis. As metas forçadas podem tirar as pessoas da mediocri‑ dade e impulsioná ‑las para grandes realizações. Mas não devemos punir alguém que tente de boa fé e, ainda assim, não atinja uma meta forçada – é preciso lembrar do quanto são difíceis! Nossa avaliação deve se basear na melhoria do desempenho, no desempenho comparado ao de outras pessoas e aos avanços obtidos.20 O estabelecimento de metas deve estar casado com outras ferramentas de gestão O estabelecimento de metas é uma técnica de gestão excep‑ cionalmente poderosa. Mas até metas específicas, desafia‑ doras e realizáveis funcionam melhor sob determinadas condições. Por exemplo, se as pessoas carecerem da capaci‑ dade e do conhecimento necessários, os gestores podem obter melhores resultados simplesmente incitando ‑as a dar o melhor de si ou estabelecendo uma meta de aprendizado e não de realização de um nível específico de desempenho.21 Metas individuais de desempenho podem criar problemas quando as pessoas trabalham em grupos e a cooperação entre os membros da equipe é essencial para o desempenho geral.22 Metas individualizadas podem criar competição e reduzir a cooperação. Quando a cooperação é importante, as metas de desempenho devem ser fixadas para a equipe. As metas podem levar a jogos de manipulação e a com‑ portamentos antiéticos. As pessoas, às vezes, encontram maneiras engenhosas de estabelecer metas fáceis e conven‑ cer seus chefes de que são difíceis.23 Ou podem concentrar meios de atender às metas apenas para receber uma recom‑ pensa, sem contribuir necessariamente para o sucesso da empresa. Por exemplo, uma medida do sucesso dos instruto‑ res é receber altas notas dos participantes quando preen‑ chem questionários depois de um programa de treinamento. Paraatingir a meta de obter uma nota alta, alguns instruto‑ res distribuem guloseimas ou brindes, ou encerram as aulas cedo – práticas que não acrescentam nada ao aprendizado efetivo dos alunos. Em um episódio ainda mais perverso, Cap 10_gestao_BATEMAN.indd 232 16/02/2012 15:00:04 CAPÍTULO 10 | Motivação de Pessoas 233 P: Perguntas para discussão • Como o presidente -executivo Gary Hirshberg e a missão da Stonyfield Farm motivam os funcionários? • Hirshberg acredita que a fidelidade dos clientes é fundamental para o sucesso da empresa. Como a motivação dos funcioná- rios pode contribuir para a fidelização da clientela? FONTES: Site da empresa, <http://www.stonyfield.com>, acessa do em 19 de junho de 2009; “Gary Hirshberg – Stonyfield Farm”, Starting Up Green [n.d.], <http://www.startingupgreen. com>, 19 de junho de 2009; “Stonyfield Farm”, SuperEco, 27 de outubro de 2008, <http://www.supereco.com>; Jackie Cook, “Best Green Companies for America’s Children”, Working Mother Media, 17 de abril de 2008, <http://www. workingmothermediainc.com>; “Gary Hirshberg Argues That His Company Is Doing a Lot to Support Organic Farmers”, Grist , 7 de março de 2008, <http://www.grist.org>; e Jacob Gordon, The TH Interview : Gary Hirshberg, CE -Yo of Stonyfield Farm, 6 de março de 2008, <http://www.tree hugger.com>. cinco anos na empresa, os funcionários fazem jus a um descanso sabático de oito semanas. O boletim interno da empresa fala dos funcio- nários que usaram seu tempo de folga para ajudar comunidades distantes em lugares como Israel e a República Dominicana. O bem -estar dos funcionários é uma parte tão fundamental das operações da Stonyfield que consta da missão da empresa, que, além de mencionar a venda de produ- tos de alta qualidade, a educação dos con- sumidores e a prática da responsabilidade ambiental, inclui o compromisso: “Fornecer um ambiente de trabalho sadio, produtivo e agradável para todos os funcionários, com oportunidades de conquista de novas habi- lidades e realização de metas pessoais de carreira”.❖ quando a Rockford Acromatic Products Company promo‑ veu a saúde de dos funcionários por meio da oferta de boni‑ ficações aos que parassem de fumar por diversos meses, houve alguns que começaram a fumar para depois parar e conquistar a recompensa.24 Além disso, pessoas que não atingem suas metas apresentam maior probabilidade de exibir comportamento antiético do que aquelas que dão o máximo de si, mas não estão sujeitas a metas específicas. Isso é verdadeiro indepen‑ dentemente da existência de incentivos financeiros e é especialmente aplicável quando as pessoas che‑ gam muito perto de atingir suas metas.25 Outro exemplo familiar vem das páginas das demonstra‑ ções financeiras. Alguns executivos aprenderam a arte da “gestão de resultados”, atendendo com precisão as estimati‑ vas dos analistas de Wall Street ou superando ‑as por ques‑ tão de centavos.26 A imprensa alardeia e os investidores recompensam empresas que alcançam ou superam as esti‑ mativas. As pessoas, às vezes, atingem essa meta por meio da manipulação dos dados ou de campanhas sutis para que os analistas reduzam suas estimativas e facilitem sua reali‑ zação. O mercado deseja desempenho de curto prazo, tri‑ mestral, mas, no fim das contas, a viabilidade no longo prazo é mais importante para o sucesso das empresas. É importante não estabelecer uma só meta de produti‑ vidade se houver outras dimensões importantes de desem‑ penho.27 Por exemplo, se a aquisição de conhecimento e habilidade importante, podemos estabelecer, também, uma meta de aprendizado específica e desafiadora, como “identifi‑ car dez maneiras para desenvolver relacionamentos com os usuários de nossos produtos”. Metas de produção provavel‑ mente aumentarão a produtividade, mas podem fazer com que os funcionários negligenciem outras áreas, como aprendizado, novos projetos, ou soluções criativas para problemas relaciona‑ dos ao cargo. Os gestores que desejam motivar a criatividade podem estabelecer metas ligadas a essa dimensão para pessoas específicas ou para equipes de brainstorming.28 METAS FORÇADAS Metas excepcionalmente exigentes, às vezes, até consideradas impossíveis. LEI DO EFEITO Uma lei formulada por Edward Thorndike em 1911, segundo a qual comportamentos seguidos de consequências positivas provavelmente se repetirão. Vickie Stringer estabeleceu como meta publicar sua autobiografia e seguiu essa meta com determinação, chegando a vender 100 mil cópias. Ao longo do processo, desenvolveu relacionamentos com distribuidoras de livros e acabou fundando a própria empresa, chamada Triple Crown Publications. Isso é verdadeiro indepen‑ dentemente da existência de incentivos financeiros e é especialmente aplicável quando as pessoas che‑ gam muito perto de atingir suas metas. Cap 10_gestao_BATEMAN.indd 233 16/02/2012 15:00:05 234 Administração Metas próprias Também devemos estabelecer metas para nós mesmos – é uma ferramenta poderosa de autogestão. Estabeleça metas – não basta que nos esforcemos ou esperemos pelo melhor. Devemos criar uma declara‑ ção de propósito, abrangendo uma visão distante inspira‑ dora, uma meta de médio pra‑ zo e objetivos de curto prazo que exijam atenção imediata.29 Assim, se estivermos fundan‑ do uma empresa, podemos articular uma meta para as pes soas de negócios que dese‑ jamos ser daqui a cinco anos, os tipos de tarefas que podem criar oportunidades e nos ensinar o que precisamos saber, e os estudos e buscas específicos que podem nos aproximar do destino. Ao trabalhar, devemos aplicar os conselhos deste ca‑ pítulo a nós mesmos. OA10.3 Resumir como recompensar com eficácia o bom desempenho. REFORÇO DO DESEMPENHO As metas são motivadores universais. Os processos de refor‑ ço descritos nesta seção também o são. Em 1911, o psicólogo Edward Thorndike formulou a lei do efeito: comporta‑ mentos seguidos de consequências positivas provavelmente se repetirão.30 Esta poderosa lei do comportamento lançou as bases para incontáveis investigações a respeito dos efeitos das consequências positivas, chamados de reforços, que motivam o comportamento. A modificação do com- portamento organizacional procura influenciar o com‑ portamento das pessoas e melhorar o desempenho31 por meio da gestão sistemática das condições de trabalho e das consequências das atitudes das pessoas. Quatro consequências básicas da conduta podem enco‑ rajar ou desencorajar os comportamentos (ver Figura 10.1): 1. Reforço positivo – aplicar uma consequência que aumente a pro‑ babilidade de que a pessoa repita o comportamento que levou a ela. Alguns exemplos de reforços positivos são elogios, cartas de reco‑ mendação, avaliações de desempenho positivas e aumentos salariais. Chris Kinnersley, vice ‑presidente de segurança e desenvolvimento orga‑ nizacional da Staker & Parson Company (uma empresa de materiais e serviços de construção), ajudou os gestores da empresa a entender como escolher recompensas que fossem imediatas e pessoais. Por exemplo, os operadores de carregadeiras mais eficientes podem ser recompensados com designação para equipamentos mais confortáveis.32 2. Reforço negativo – remoção ou não aplicação de uma consequência indesejada. Por exemplo, um gestor pode tirar um funcionário da lista de observação por causa de um melhor desempenho. Um dos motivos para o sucesso do projeto Futuro do Trabalho (Future of Work) do Capital One é o fato de que se trata de uma espécie de reforço negativo. O projeto reconhece que manter um cargo pode ser desgastante se houver obrigações pessoais ou familiares conflitantes com a rotina estruturada de um cargo em tempo integral fora de casa. O projeto alivia parte dessa carga, permi‑ tindo que os funcionários usem laptops, iPods e BlackBerrys fornecidos pela empresa para evitar alguns dos conflitos de agenda do trabalho, trabalhando em casa ou na rua, além das instalações flexíveis do Capital One.333. Punição – aplicação de uma consequência adversa. Alguns exemplos são criticar um funcionário ou gritar com ele, atribuir uma tarefa pouco atraente e deixar um funcionário de licença não remunerada. O reforço negativo pode envolver a ameaça de punição, com a não aplicação de punições quando o desempenho dos funcionários é satisfatório. A puni‑ ção é a aplicação efetiva da consequência adversa. Os gestores usam punições quando acreditam que se justifiquem ou quando acreditam que é isso que se espera deles, e normalmente preocupam ‑se com o atendi‑ mento da política e dos procedimentos da empresa.34 4. Extinção – remoção ou não aplicação de uma consequência de reforço. Quando isso acontece, a motivação é reduzida e o comportamento se extingue, ou é eliminado. Os gestores podem extinguir involuntariamente comportamentos desejados ao não elogiar um trabalho bem feito, dei‑ xando de agradecer por favores, ou estabelecendo metas de desempenho impossíveis, por exemplo. A extinção também pode ser usada para aca‑ bar com comportamentos indesejados. O gestor pode ignorar observa‑ ções verborrágicas durante reuniões, ou deixar de tomar conhecimento de e ‑mails irrelevantes na esperança de que a falta de feedback desen‑ coraje a manutenção do comportamento. As duas primeiras consequências – reforço positivo e reforço negativo – são positivas para quem as recebe: a pessoa ganha algo, ou evita um acontecimento negativo. Com isso, quem experimenta essas consequências se verá motivado a comportar ‑se das maneiras que levaram ao reforço. As duas últimas consequências – punição e extin‑ ção – representam resultados negativos para quem as O pior erro que um chefe pode cometer é não dizer parabéns. John Ashcroft, político norte-americano As consequências do comportamentoF I G U R A 10.1 Comportamento Reforço positivo ou reforço negativo Punição ou extinção Tendência à repetição do mesmo comportamento Tendência de não repetição do mesmo comportamento Cap 10_gestao_BATEMAN.indd 234 16/02/2012 15:00:05 CAPÍTULO 10 | Motivação de Pessoas 235 recebe: a motivação de repetição do comportamento que levou aos resultados indesejados irá diminuir. Os gestores devem ter o cuidado de casar as consequên‑ cias com aquilo que os funcionários de modo eficaz consi‑ derarão desejável ou não. Na Staker & Parson, certa vez, um supervisor cometeu o erro de “punir” um funcionário que se atrasou com uma suspensão de três dias durante a esta‑ ção de pesca. O funcionário adorou.35 Cuidado com o que reforçamos Já tratamos dos efeitos positivos de um estilo de liderança transformador, mas recompensar quem apresente bom desempenho também é essencial.36 Infelizmente, as empre‑ sas e gestores, às vezes, reforçam os comportamentos erra‑ dos.37 Por exemplo, planos de remuneração que incluam opções de compra de ações têm por objetivo reforçar com‑ portamentos que aumentem o valor da empresa, mas essas opções também podem reforçar decisões que fornecem ganhos artificiais de curto prazo, ainda que prejudiquem a empresa no longo prazo. Em algumas empresas, os funcionários recebem reforços sob as formas de admiração e avaliações de desempenho positivas pela realização de múltiplas tarefas ao mesmo tempo – como digitar e ‑mails enquanto estão ao telefone, ou verificar mensagens de texto durante reuniões. Tais compor‑ tamentos podem parecer eficientes e sinalizar que o funcio‑ nário está atarefado e é valioso, mas cresce o volume de pesquisas que indicam que isso, na verdade, reduz a eficiên‑ cia do cérebro e pode contribuir para o surgimento de erros.38 Varreduras da atividade cerebral mostram que o cérebro não consegue concentrar ‑se em duas coisas ao mesmo tempo: precisa de tempo para alternar entre as diferentes atividades realizadas simultaneamente. Com isso, gestores que elogiam o esforço dessas pessoas podem, sem querer, estar reforçando a ineficiência e a avaliação superficial de problemas. Para usar bem o reforço, os gestores devem identificar os tipos de comporta‑ mentos que reforçam e que desencora‑ jam. Segundo Michael LeBoeuf, um autor de livros populares de negócios, o maior dos princípios de gestão é “aquilo que recompensa se realiza”. LeBoeuf aconselha as atividades abaixo:39 • Soluções sólidas em vez de remédios rápidos. • Correr riscos em vez de evitá ‑los. • Criatividade aplicada em vez de conformismo alienado. • Ação decidida em vez de paralisia por análise excessiva. • Trabalho inteligente em vez de ocupação inútil. • Simplificação em vez de complicações desnecessárias. • Comportamento discretamente eficaz em vez de muito barulho por nada. • Trabalho de qualidade em vez de trabalho rápido. • Fidelidade em vez de giro. • Trabalhar junto em vez de trabalhar contra. Além disso, o sistema de recompensas precisa dar respal‑ do à estratégia da empresa, definindo o desempenho das pessoas de maneiras ajus‑ tadas aos objetivos estraté‑ gicos.40 As empresas devem recompensar os funcionários por se desenvolverem de ma‑ neiras estrategicamente im‑ portantes – pela construção de novas habilidades essen‑ ciais e para a criação de valor. Os gestores devem ser criativos ao usar reforços. A Sprint, onde muitos funcio‑ nários passam o dia em fren‑ te a uma tela de computador, reforça comportamentos sa‑ dios por meio do forneci‑ mento de instalações para atividades físicas na própria empresa, onde eles podem se exercitar durante o horário de almoço.41 Para Steven T. Bigari, proprietário de doze restaurantes McDonald’s, o desafio básico estava em como motivar funcionários que ganhavam baixos salá‑ rios a ficar na empresa, tendo dificuldades para encontrar creches e transporte acessí‑ veis. Enfrentando competi‑ ção acirrada da rede Taco Bell, Bigari concluiu que não podia pagar salários maiores, mas ajudou uma igreja da re‑ gião a estabelecer um programa de creche e visitou leilões da polícia durante seus intervalos para o almoço aos sábados para comprar car‑ ros baratos e confiáveis que revendia aos funcionários a preço de custo.42 Gestores inovadores usam recom‑ pensas não monetárias, co mo desa‑ fios intelectuais, maio res responsabi‑ lidades, autonomia, reconhecimento, benefícios flexíveis e maior influência sobre decisões. Julian Duncan, gestor adjunto de marca na Nike, sente ‑se valorizado e encorajado, pois os ges‑ tores graduados se dão ao trabalho de escutar o que tem a dizer e responder suas preocupações. Por exemplo, um vice ‑presidente passou meia hora com Duncan, discutindo com ele uma pergunta que fez por e ‑mail.43 Essas e outras recompensas para funcionários de alto desempenho, quan‑ do criativamente criadas e aplicadas, podem continuar a motivar quando há escassez de aumentos e promoções. Os funcionários da Brown Flynn – uma empresa que presta serviços que ajudam outras empresas a exercer responsa‑ bilidade social – recebem benefícios práticos, como parti‑ cipação nos lucros e outros mais criativos, como joias e vale ‑compras, mas talvez os mais importantes sejam os O Methodist Hospital System de Houston recentemente deu a cada um de seus funcionários um cartão- -presente de US$ 250 para a compra de gasolina.44 REFORÇOS Consequências positivas que motivam comportamentos. MODIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL A aplicação da teoria do reforço no ambiente organizacional. REFORÇO POSITIVO Aplicação de uma consequência que aumente a probabilidade de que alguém repita o comportamento que a gerou. REFORÇO NEGATIVO Remoção ou não aplicação de uma consequência indesejada. PUNIÇÃO Aplicação de uma consequência adversa. EXTINÇÃO Remoção ou não aplicação de uma consequência de reforço. Cap 10_gestao_BATEMAN.indd 235 16/02/2012 15:00:05 236 Administração intangíveis. Os funcionários da Brown Flynn a descrevem como fonte de desafios e recompensas, respeito mútuo, re‑ conhecimento pelo trabalho e oportunidades de exercício da liderança.45 E uma funcionária de Steven Bigari,no McDonald’s, disse que preferia trabalhar para ele a ganhar um pouco mais em outra loja por causa da maneira como Bigari trata seu pessoal: “Ele não está ali por si, está ali pe‑ las pessoas”.46 Devemos punir erros? A maneira como os gestores reagem aos erros das pessoas tem alto impacto sobre a motivação. As punições são adequa‑ das em alguns casos, como quando as pessoas infringem a lei, os padrões éticos, regras de segurança importantes ou padrões de comportamento interpessoal, ou quando deixam de comparecer, ou ainda são preguiçosas. Mas, às vezes, os gestores punem as pessoas indevidamente – quando o fraco desempenho não é culpa delas, ou descarregam as próprias frustrações nas pessoas erradas. Os gestores que exageram nas punições ou as utilizam de maneira indevida criam um clima de medo no ambiente de trabalho.47 O medo faz com que as pessoas se concentrem no curto prazo, às vezes levando a problemas no longo prazo. O medo também dirige o foco de cada pessoa para si e não para o grupo e a empresa. B. Joseph White, presidente da Universidade de Illinois, lembra ‑se de prestar consultoria a um empreendedor do setor de tecnologia que ouviu uma pro‑ posta de um gestor e reagiu com críticas brutais: “Isso... é a coisa mais burra que já ouvi. Estou decepcionado”. Segundo White, esse talentoso gestor ficou tão incomodado que nunca mais se sentiu capaz de contribuir plenamente.48 Para evitar danos como esse, o segredo é pensar sobre os erros e sobre como lidar com eles. Reconhecer que todos erram e que é possível lidar construtivamente com os erros, debatendo o assunto e aprendendo. Não punir, mas elogiar quem dê más notícias aos chefes. Tratar a inação como fra‑ casso, mas não punir fracassos decorrentes de esforços de boa fé. Se formos líderes, conversar com as pessoas sobre nossos erros e mostrar como aprendemos com eles. Dar às pessoas uma segunda chance, talvez até uma terceira. Incentivá ‑las a experimentar coisas novas e não puni ‑las quando essas coisas derem errado. O feedback é um reforço essencial A maioria dos gestores não fornece feedback o bastante e a maioria das pessoas não recebe e nem pede o suficiente.49 Como gestores, deve‑ mos considerar todas as causas em potencial do mau desempenho, dar toda a atenção quando os funcionários pedem feedback ou querem conversar sobre problemas de desem‑ penho, e fornecer feedback de acordo com as orientações das quais tratamos no Capítulo 7. O feedback pode ser fornecido de diversas maneiras.50 Os clientes, às vezes, o oferecem diretamente; também podemos pedir feedback ao cliente e repassá ‑lo ao funcionário. Podemos fornecer estatísticas sobre trabalhos que a pessoa tenha influenciado direta‑ mente. Empresas industriais podem incluir no produto o número de telefone ou o site da equipe de produção para que os clientes entrem em contato diretamente. Avaliações de desempenho devem ser realizadas regularmente. E os chefes devem fornecer feedback regular e constante – isso ajuda a resolver problemas imediatamente, dá reforço ime‑ diato pelo trabalho bem feito e previne surpresas quando for a hora da avaliação formal. Quanto a nós, devemos procurar não ter medo de rece‑ ber feedback; em vez disso, devemos buscá ‑lo ativamente. E, quando o obtivermos, nunca o ignorar. Devemos tentar evi‑ tar emoções negativas como raiva, mágoa, uma atitude defensiva, ou resignação. É preciso ter em mente que cabe a nós conseguir o feedback de que precisamos; temos que saber a respeito de nosso desempenho e nosso comporta‑ mento; conhecer a nós mesmos nos ajuda a identificar necessidades e criar novas oportunidades; é melhor saber do que não saber; tomar a iniciativa a esse respeito nos dá mais poder e influência sobre nossas carreiras.51 OA10.4 Descrever as principais crenças que afetam a motivação das pessoas. CRENÇAS LIGADAS AO DESEMPENHO Ao contrário da teoria do reforço, que descreve os processos por meio dos quais fatores do ambiente de trabalho afetam o comportamento das pessoas, a teoria da expectância trata de alguns dos processos cognitivos que se dão em suas men‑ tes. Segundo a teoria da expectância, os esforços de tra‑ balho da pessoa levam a um dado nível de desempenho.52 O desempenho, por sua vez, resulta em mais resultados para a pessoa. A Figura 10.2 ilustra o processo. As pessoas desen‑ volvem dois tipos importantes de crenças que interligam esses três eventos: 1. Expectativa, que liga esforço e desempenho. 2. Instrumentalidade, que liga desempenho a resultados. Conceitos básicos da teoria da expectânciaF I G U R A 10.2 Expectativa Esforço Desempenho Resultado Instrumentalidade Cap 10_gestao_BATEMAN.indd 236 16/02/2012 15:00:06 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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