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Muito embora não seja uma obrigação, todo Estado necessita manter relações com outros Estados e com organizações internacionais, sendo que essa capacidade de firmar esse tipo de relações é um dos elementos caracterizadores desse tipo de pessoa jurídica de Direito Internacional. Até mesmo para que o Estado receba reconhecimento de outros Estados e organizações internacionais, é necessário que relações diplomáticas sejam, ainda que minimamente, estabelecidas. Uma das bases das relações diplomáticas é o direito de legação, que é o direito de enviar e de receber diplomatas, o qual somente é reconhecido aos sujeitos de direito internacional. Especificando-o, temos os direitos de legação: Ativa: que se realiza quando há a remessa de missões diplomáticas para outro Estado; Passiva: que se refere ao direito de receber, em seu território, missões diplomáticas enviadas por outro Estado. Entre dois sujeitos de Direito Internacional, o exercício do direito de legação parte do pressuposto de que ambos aceitam a existência soberana um do outro e que desejam estabelecer relações diplomáticas, sendo que essas são realizadas pelas missões diplomáticas. Há uma nomenclatura específica, utilizada para identificar o Estado que exerce o seu direito de legação ativa ou passiva; dessa forma, temos o Estado de: Origem ou acreditante: é aquele que, no exercício de seu direito de legação ativa, envia uma missão diplomática para representá-lo; Acolhimento ou acreditado: é quem, no exercício de seu direito de legação passiva, recebe uma missão diplomática em seu território para que esta, em nome do Estado acreditante, mantenha relações diplomáticas. Muito embora a doutrina aponte outras possibilidades, em geral, os Estados Modernos adotam dois tipos básicos de formas de governo, a saber: República; Monarquia constitucional. Decorre dessa classificação a possibilidade de dois tipos de sistemas de governo: Presidencialismo; Parlamentarismo. Combinando-se as formas e os sistemas de governo, temos, basicamente, três possibilidades mais comuns, ou seja, as monarquias parlamentaristas, as repúblicas presidencialistas e as repúblicas parlamentaristas. Nas monarquias e repúblicas parlamentaristas há duas funções distintas: Não há compatibilidade na combinação da monarquia com o presidencialismo, em razão da acumulação de poderes característicos deste último. Chefe de Estado é uma função desempenhada pelo rei – imperador ou outro tipo de denominação semelhante –, ou pelo presidente da República, de modo que se caracteriza, em especial, pela responsabilidade de manter relações diplomáticas com outros Estados e com as organizações internacionais; Chefe de Governo, função desempenhada pelo primeiro ministro – ou denominação semelhante –, que é o encarregado de realizar a gestão interna do país. Já nas repúblicas presidencialistas essas duas funções são realizadas por uma pessoa no desempenho do cargo de presidente da República. É certo, contudo, que essa consagrada classificação apresenta certas dificuldades quando verificamos o que ocorre nos Estados Modernos, pois: Cabe ao direito interno estabelecer a exata distribuição de tarefas entre os chefes de Estado e de Governo, razão pela qual, em muitos casos, essa divisão de funções se dá, exatamente, da forma acima indicada; Em muitos Estados, sobretudo naqueles que adotam a monarquia como forma de governo, o rei – ou equivalente – desempenha funções mais limitadas, tanto interna como externamente, o que acarreta maiores atribuições, inclusive no âmbito internacional, para o primeiro ministro – chefe de Governo. Diante desse quadro e respeitando as peculiaridades estabelecidas pelas normas de direito interno, em regra, as relações entre Estados se dão por atuação de seus respectivos chefes de Estado; contudo, há várias questões que, em virtude do acima exposto, são da alçada do chefe de Governo. Já nas repúblicas presidencialistas, tais como no caso brasileiro, essa dificuldade não se apresenta. Outra questão que também é relevante diz respeito à constatação de que, normalmente, o Poder Legislativo também tem uma atuação na condução das relações externas, em especial, no que se refere à participação desse poder em ratificações de tratados e na nomeação de chefes de missões diplomáticas permanentes. Deve também ser destacado o papel que, no Poder Executivo, é realizado pelo ministro das relações exteriores que, no Brasil e na maioria dos países da América Latina, é também conhecida como a de chanceler. Trata-se do principal auxiliar do chefe do Poder Executivo na formulação e execução da política externa do Estado. Além disso, é chefe dos funcionários diplomáticos e consulares do país. Em razão dessa função, é esse ministro que, em muitos casos, representa o chefe do “O direito internacional considera o chefe de Estado [...] seja este o monarca ou o presidente da República, como órgão par excellence encarregado das relações internacionais, a não ser que haja uma declaração formal em contrário” Poder Executivo em tratativas com outros Estados e com os membros das diversas missões diplomáticas que se encontram no território do Estado. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I- Independência nacional; II- Prevalência dos direitos humanos; III- Autodeterminação dos povos; IV- Não intervenção; V- Igualdade entre os Estados; VI- Defesa da paz; VII- Solução pacífica dos conflitos; VIII- Repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX- Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X- Concessão de asilo político. Esses princípios mostram, em resumo, que nosso país busca o pleno respeito dos direitos humanos e a cooperação entre os diversos Estados Nacionais. Dentro da estrutura dos poderes da República, estabelece a Constituição Federal que cabe ao presidente da República: A nomeação dos chefes de missões diplomáticas de caráter permanente; contudo, essa nomeação deve ser precedida de autorização do Senado Federal (Art. 52, Inc. IV); Manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos (Art. 84, Inc. VII); Celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional (Art. 84, Inc. VIII). Sobre este último item, deve ser esclarecido que esse referendo do Congresso Nacional somente será necessário se o instrumento internacional acarretar encargo ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. Em geral, podemos afirmar que as relações entre os sujeitos de Direito Internacional se desenvolvem de duas formas, as chamadas relações diplomáticas e consulares, as quais possuem como principal fundamento o consentimento mútuo entre os evolvidos. As relações diplomáticas cuidam dos interesses políticos dos sujeitos de Direito Internacional – relações Estado- Estado ou Estado-Organização Internacional. Para normatizar essas relações, o mais importante instrumento é a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (CVRD), assinada em 18 de abril de 1961 e incorporada ao nosso ordenamento interno pelo Decreto n.º 56.435/65. Já as relações consulares abrangem temas significativamente variados, em especial aqueles ligados à promoção comercial e à prática de atos administrativos – notariais. Essas relações possuem como principal norma reitora a Convenção de Viena sobre Relações Consulares (CVRC), assinada em 24 de abril de 1963. Em nosso país, essa norma foi internalizada pelo Decreto n.º 61.078/67. O serviçodiplomático, de que cuida a Convenção de 1961, goza de estatuto acentuadamente mais favorável que aquele próprio do serviço consular, versado na Convenção de 1963. Com efeito, é da tradição do direito das gentes não perder de vista a natureza diversa dessas instituições. O diplomata representa o Estado de origem junto à soberania local, e para o trato bilateral dos assuntos de Estado. Já o cônsul representa o Estado de origem para o fim de cuidar, no território onde atue, de interesses privados – os de seus compatriotas que ali se encontrem a qualquer título, e os de elementos locais que tencionam, por exemplo, visitar aquele país, de lá importar bens, ou para lá exportar. O início da missão diplomática se dá com a nomeação do diplomata chefe da missão, sendo que, para que não haja constrangimentos, essa nomeação é precedida de uma consulta ao Estado acreditado, denominada de pedido de agrément, ou de agréation. Não havendo qualquer discordância, ocorrerá a nomeação. O chefe da missão permanente é nomeado pelo presidente da República, sendo que essa nomeação é precedida de aprovação do Senado Federal – como já foi visto. Com a nomeação, o diplomata recebe as credenciais, ou seja, uma carta de apresentação, assinada pelo chefe de Estado e referendada pelo ministro das relações exteriores, que o acredita perante aquele Estado que o receberá. O início dos trabalhos do chefe da missão diplomática se dá após a acreditação, ou seja, do ato formal pelo qual o Estado de acolhimento recebe as credenciais do diplomata enviado pelo Estado de origem e o reconhece como representante deste. Segundo a CVRD, a acreditação também poderá ocorrer com a comunicação da chegada do chefe da missão diplomática ao Estado de acolhimento e a apresentação de cópia de suas credenciais ao Ministério das Relações Exteriores. A CVRD apresenta, em seu Artigo 1º, algumas importantes definições que acabam por ser importantes elementos para a compreensão de suas disposições. A saber: Chefe de missão é a pessoa encarregada pelo Estado acreditante de agir nessa qualidade; Membros da missão são o chefe da missão e os elementos do pessoal dessa; Membros do pessoal da missão são os elementos do pessoal diplomático, administrativo e técnico e do pessoal de serviço da missão; Membros do pessoal diplomático são os elementos do pessoal da missão que tiverem a qualidade de diplomata; Agente diplomático é o chefe da missão ou um membro do pessoal diplomático da missão; Membros do pessoal administrativo e técnico são os elementos do pessoal da missão empregados no serviço administrativo e técnico dessa; Membros do pessoal de serviço são os elementos do pessoal da missão empregados no serviço doméstico dessa; Criado particular é a pessoa do serviço doméstico de um membro da missão que não seja empregado do Estado acreditante; Locais da missão são os edifícios, ou parte desses, e terrenos anexos, seja quem for o seu proprietário, utilizados para as finalidades da missão, inclusive a residência do chefe da missão. A missão diplomática é formada pelo conjunto de diplomatas que representam um Estado perante outro sujeito de Direito Internacional – Estado ou organização internacional. Pode ter diversas naturezas: Embaixadas – responsáveis pela representação política; Consulados – praticam atos voltados à representação comercial e atos administrativos notariais; Delegações, missões ou escritórios – realizam, de forma mais reduzida, alguns dos trabalhos que seriam próprios de embaixadas e/ou consulados. Em razão do baixo volume de relações diplomáticas e comerciais, bem como para propiciar a racionalização de gastos na manutenção de missões diplomáticas, é possível que: Um Estado seja representado pela missão diplomática de outro Estado. É o que ocorre, por exemplo, se o Estado A solicita que o Estado B realize a sua representação perante o Estado C; Um Estado pode manter uma missão diplomática que o represente em vários Estados de determinada região. Assim, por exemplo, a missão diplomática de A, situada no Estado B, realiza também a sua representação nos Estados C, D e E, todos vizinhos. É enviada a um Estado ou organização internacional com o objetivo de realizar tarefa determinada ou para participar de negociação específica. Como exemplos desse tipo de missão, temos aquelas formadas especificamente para prestigiar a cerimônia de posse de um chefe de Estado ou de Governo de um Estado com quem se mantém relações diplomáticas, ou ainda para participar de convenção internacional que discute a formação de um novo tratado multilateral. Cada Estado tem ampla liberdade de escolher o pessoal que atuará em sua representação, porém, em regra, devem possuir a nacionalidade do Estado acreditante. Segundo o nosso sistema constitucional, como foi mencionado, em se tratando de diplomatas de carreira, somente é admissível que sejam brasileiros natos; contudo, brasileiros naturalizados e estrangeiros – e que, portanto, não integram essa carreira – podem desempenhar outras atividades na missão, tais como as de membros do pessoal administrativo e técnico ou do pessoal de serviço. Há, porém, uma limitação, pois o Estado acreditado: Pode não consentir que uma pessoa que possui a sua nacionalidade exerça funções na missão diplomática; Mesmo que inicialmente tenha consentido nessa situação, o Estado acreditado pode voltar atrás a qualquer tempo; Esse mesmo direito pode ser exercido em relação a estrangeiros que não sejam nacionais do Estado acreditante. O Estado acreditado poderá, sem a necessidade de justificar a sua decisão, notificar o Estado acreditante que o chefe da missão ou qualquer membro do pessoal diplomático da missão é persona non grata, ou que qualquer outro membro da missão não é aceitável. Nesse caso, o Estado acreditante deverá: Retirar essa pessoa da missão diplomática; Dar por terminada as suas funções na missão, desvinculando-a da representação do Estado acreditante. Isso somente ocorre em situações extremamente graves, tais como no caso da prática de crimes ou de crises diplomáticas mais sérias. As relações consulares possuem objeto próprio e forma de tratamento similar para o pessoal consular e aos locais consulares, porém, com menos extensão de algumas práticas e imunidades. Precisamos destacar, contudo, que em razão da diversidade de missões, o rompimento de relações diplomáticas não acarreta a invalidação de relações consulares, sendo que, quando isso ocorrer, o Estado receptor – aquele que recebe a representação consular de outro Estado – deve respeitar e proteger o local consular, seus bens e arquivos, mesmo que estejam em guerra. O chefe da repartição consular pode pertencer a quatro categorias: Cônsules-gerais; Cônsules; Vice-cônsules; Agentes consulares. Os funcionários consulares devem ter, em regra, a mesma nacionalidade do Estado que envia, sendo que a nomeação de pessoas da nacionalidade do Estado receptor somente poderá ocorrer com a sua concordância. Os consulados são repartições públicas, estabelecidas pelos Estados, em portos e cidades de outros Estados, com a missão de velar pelos seus interesses comerciais, prestar assistência e proteção de seus nacionais, legalizar documentos, exercer a polícia de navegação e fornecer informações de natureza econômica e comercial sobre o país ou distrito onde se acham instalados. Com a concordância do Estado receptor, dois ou mais Estados podem nomear a mesma pessoa como funcionário consular. Assim como ocorre com o chefe da missão diplomática, anomeação de um cônsul é precedida de consulta ao Estado que o receberá, mediante exequatur. A amplitude da inviolabilidade dos agentes diplomáticos não se repete em relação aos funcionários consulares, pois estes poderão ser presos “em crimes graves” e em razão de decisão judicial.
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