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2009 Gravura Profª. Sandra Maria Correia Favero Copyright © UNIASSELVI 2009 Elaboração: Profª. Sandra Maria Correia Favero Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: 760 S5861g Favero, Sandra Maria Correia. Caderno de Estudos: Gravura / Sandra Maria Correia Favero. Centro Universitário Leonardo da Vinci. – :Indaial, Grupo UNIASSELVI, 2009.x ; 186 p.: il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830- 167-5 1. Arte Gráfica - Gravura I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título III apresentação Caro Acadêmico! A disciplina que estudaremos a partir de agora é a Gravura. Confesso a você que estou bastante apreensiva quanto aos resultados que obteremos com as unidades que deveremos seguir. Você deve estar se perguntando: por que uma disciplina sobre Gravura, certo? Eu vou tentar justificar esta escolha do curso, expondo-a da maneira como se apresentam os fatos. Tomara que eu consiga! Faremos então uma breve viagem pela História da Gravura, as suas relações com a comunicação e os desdobramentos contínuos de acontecimentos da nossa civilização, até nos depararmos com a gravura artística como meio de expressão. Abordaremos também conceitos e definições relacionados às características de cada uma das gravuras: a xilogravura, a gravura em metal, a litografia e a serigrafia. Faremos também uma introdução aos meios contemporâneos, para que possamos pensar na gravura como espaço experimental de atividade artística que contribui para um diálogo produtivo entre as categorias artísticas e as novas tecnologias. Conto com a sua disposição para um ‘mergulho’ na Gravura! Quem sabe, daqui para frente possamos nos dar momentos de experiências teóricas e práticas bem significativas que venham a estimular o processo criativo de cada um de nós! Bons estudos!! Prof.ª Sandra Maria Correia Favero IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII UNIDADE 1 – A GRAVURA E SUA HISTÓRIA .............................................................................. 1 TÓPICO 1 – A TRAJETÓRIA DA GRAVURA ................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 PRINCÍPIOS QUE DEFINEM A GRAVURA .................................................................................. 3 3 A ESCRITA E A GRAVURA ............................................................................................................... 6 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 17 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 18 TÓPICO 2 – A GRAVURA COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO ................................................. 19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19 2 A MATRIZ DA DISSEMINAÇÃO COMUNICANTE .................................................................. 19 3 A XILOGRAVURA ORIENTAL ......................................................................................................... 21 4 O MOMENTO HISTÓRICO E SOCIAL FAVORÁVEL À DIFUSÃO DA XILOGRAVURA ............................................................................................................................ 24 5 A ESTÉTICA DA GRAVURA - ALBERT DÜRER .......................................................................... 27 6 A GRAVURA EM METAL OU CALCOGRAFIA ........................................................................... 29 7 A LITOGRAFIA ................................................................................................................................... 32 8 A SERIGRAFIA OU SILK SCREEN ................................................................................................... 34 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 36 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 37 TÓPICO 3 – A GRAVURA COMO MEIO DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA ................................... 39 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 39 2 A IMPORTÂNCIA DA GRAVURA DO SÉCULO XX ................................................................... 45 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 50 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 52 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 53 TÓPICO 4 – A GRAVURA NO BRASIL .............................................................................................. 55 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 55 2 O BRASIL COLONIAL ........................................................................................................................ 56 3 A IMPLANTAÇÃO DA GRAVURA NO BRASIL .......................................................................... 57 4 A FERTILIDADE DOS ANOS 50/60 .................................................................................................61 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 65 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 66 UNIDADE 2 – PROCESSOS E TÉCNICAS DE GRAVURA ........................................................... 67 TÓPICO 1 – A MONOTIPIA VISTA COMO POSSIBILIDADE GRÁFICA: PROCESSO, TÉCNICAS, MATERIAIS, IMPRESSÃO ............................................. 69 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 69 2 PROCESSO ............................................................................................................................................ 70 3 TÉCNICA ................................................................................................................................................ 71 sumário VIII 3.1 MONOTIPIA – DESENHO POR ADIÇÃO E POR SUBTRAÇÃO – IMPRESSÃO ..............71 3.2 MONOTIPIA – COM TINTA ‘CHAPADA’, COM TINTA POR ADIÇÃO E POR SUBTRAÇÃO ..................................................................................................................................73 3.3 MONOTIPIA COM MATERIAIS ALTERNATIVOS COMO FROTTAGE .............................75 3.4 MONOTIPIA COM MÁSCARA .................................................................................................75 3.5 MONOTIPIA COM TRANSFERÊNCIA DE FOTOCÓPIA .....................................................75 4 MATERIAIS .........................................................................................................................................76 4.1 SUPORTES ......................................................................................................................................76 4.2 TINTAS DE CORES VARIADAS .................................................................................................76 4.3 PINCÉIS E INSTRUMENTOS VARIADOS ................................................................................76 4.4 PAPÉIS VARIADOS .......................................................................................................................77 4.5 MATERIAIS ALTERNATIVOS PARA EXPERIMENTAÇÕES ................................................77 4.6 PRODUTOS PARA LIMPEZA .....................................................................................................77 5 IMPRESSÃO ........................................................................................................................................78 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................79 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................80 TÓPICO 2 – A XILOGRAVURA E O LINÓLEO . ............................................................................81 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................81 2 A MADEIRA ........................................................................................................................................81 3 O LINÓLEO .........................................................................................................................................82 4 PROCESSO ..........................................................................................................................................82 5 TÉCNICA ..............................................................................................................................................83 5.1 XILOGRAVURA .............................................................................................................................84 5.1.1 Xilogravura a cores ...............................................................................................................86 5.1.2 Xilogravura e linóleo com matriz perdida ........................................................................87 6 MATERIAIS .........................................................................................................................................88 6.1 FERRAMENTAS ............................................................................................................................89 6.2 PAPÉIS PARA A IMPRESSÃO .....................................................................................................90 6.3 MATERIAL DE LIMPEZA ............................................................................................................91 6.4 MATERIAIS DIVERSOS ................................................................................................................91 6.5 TINTA DE IMPRESSÃO ...............................................................................................................91 6.6 UTENSÍLIOS PARA A IMPRESSÃO ..........................................................................................91 7 O PREPARO DA TINTA....................................................................................................................92 8 OS CUIDADOS PARA A IMPRESSÃO .........................................................................................92 8.1 A LIMPEZA DA MATRIZ E DOS UTENSÍLIOS .......................................................................93 9 AS CÓPIAS IMPRESSAS ..................................................................................................................93 10 A ASSINATURA ...............................................................................................................................93 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................95 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................96 TÓPICO 3 – A GRAVURA EM METAL ............................................................................................97 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................97 2 PROCESSO ..........................................................................................................................................98 2.1 O PROCESSO DIRETO .................................................................................................................99 2.2 O PROCESSO INDIRETO .............................................................................................................99 2.3 A IMPRESSÃO ...............................................................................................................................100 3 TÉCNICA ..............................................................................................................................................100 3.1 DIRETA ............................................................................................................................................100 3.1.1 A ponta-seca ..........................................................................................................................100 3.1.2 Buril ........................................................................................................................................101 3.1.3 Maneira negra ou mezzotinto ..............................................................................................102 IX 3.2 INDIRETA .......................................................................................................................................102 3.2.1 Água-forte ..............................................................................................................................1033.2.2 Água-tinta ..............................................................................................................................104 4 MATERIAIS .........................................................................................................................................105 4.1 FERRAMENTAS ............................................................................................................................105 4.2 PAPÉIS PARA A IMPRESSÃO .....................................................................................................105 4.3 MATERIAL DE LIMPEZA ............................................................................................................106 4.4 MATERIAIS DIVERSOS ................................................................................................................106 4.5 TINTA DE IMPRESSÃO ...............................................................................................................106 4.6 UTENSÍLIOS PARA A IMPRESSÃO ..........................................................................................106 5 O PREPARO DA TINTA....................................................................................................................107 5.1 OS CUIDADOS PARA A IMPRESSÃO ......................................................................................107 5.2 A LIMPEZA DA MATRIZ E DOS UTENSÍLIOS .......................................................................108 5.3 AS CÓPIAS IMPRESSAS ..............................................................................................................108 5.4 A ASSINATURA ............................................................................................................................108 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................109 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................110 TÓPICO 4 – A SERIGRAFIA ...............................................................................................................111 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................111 2 PROCESSO ..........................................................................................................................................112 2.1 A MONTAGEM DA MATRIZ ......................................................................................................114 3 OS PROCESSOS E AS TÉCNICAS .................................................................................................115 3.1 O PROCESSO DIRETO .................................................................................................................116 3.1.1 Aplicação da emulsão ..........................................................................................................117 3.1.2 Para secar a tela com a emulsão ..........................................................................................118 3.1.3 Gravando a tela .....................................................................................................................118 3.1.4 Como revelar a tela gravada e fazer pequenos retoques ................................................120 3.2 PROCESSOS INDIRETOS .............................................................................................................123 4 MATERIAIS .........................................................................................................................................124 5 A IMPRESSÃO ....................................................................................................................................125 6 ASSINATURA .....................................................................................................................................126 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................127 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................128 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129 UNIDADE 3 – A GRAVURA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO .......................................131 TÓPICO 1 – A GRAVURA E O ESPAÇO HÍBRIDO DA ARTE CONTEMPORÂNEA ...........133 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................133 2 A GRAVURA NA SUA NOVA CONDIÇÃO ................................................................................134 2.1 A INSERÇÃO DOS CONCEITOS DA GRAVURA ...................................................................135 2.1.1 O múltiplo ..............................................................................................................................139 2.1.2 A matriz de reprodução e a matriz evolutiva ...................................................................141 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................142 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................143 TÓPICO 2 – O DIÁLOGO DA GRAVURA ......................................................................................145 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................145 2 A GRAVURA COM OUTRAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS ..................................................145 3 A GRAVURA E OS RECURSOS DIGITAIS ..................................................................................148 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................150 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................151 X TÓPICO 3 – A GRAVURA NO COTIDIANO .................................................................................153 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................153 2 ARTE POSTAL ....................................................................................................................................153 3 FANZINE OU ZINE ............................................................................................................................154 4 FOTOCÓPIA ........................................................................................................................................155 5 STICKER ART ......................................................................................................................................155 6 LAMBE-LAMBE ..................................................................................................................................156 7 ESTÊNCIL ............................................................................................................................................157 8 LIVROS DE ARTISTA .......................................................................................................................157 9 OUTROS MEIOS ................................................................................................................................158 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................159 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................160TÓPICO 4 – O GRAVADOR ESSENCIAL E O ARTISTA MULTIMÍDIA .................................161 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................161 2 O GRAVADOR ESSENCIAL ............................................................................................................162 3 O ARTISTA MULTIMÍDIA ..............................................................................................................164 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................167 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................168 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................169 TÓPICO 5 – ALTERNATIVAS PARA SALA DE AULA .................................................................171 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................171 2 MONOTIPIA .......................................................................................................................................171 2.1 MONOTIPIA COM UMA IMPRESSÃO ....................................................................................172 2.2 MONOTIPIA COM SOBREPOSIÇÃO DE IMPRESSÕES ........................................................172 3 FROTTAGE ..........................................................................................................................................173 4 MATRIZ DE ARGILA ........................................................................................................................173 5 ESTÊNCIL ............................................................................................................................................174 6 JOGOS ...................................................................................................................................................175 7 LAMBE-LAMBE ..................................................................................................................................175 8 ADESIVO .............................................................................................................................................176 9 POSTAL ................................................................................................................................................176 10 MATERIAIS ALTERNATIVOS ......................................................................................................177 10.1 CAIXA DE LEITE .........................................................................................................................178 10.2 BANDEJA DE ISOPOR ...............................................................................................................178 10.3 CARIMBOS ...................................................................................................................................179 10.4 LIVROS DE ARTISTA .................................................................................................................179 10.5 GARRAFA PET ............................................................................................................................180 10.6 FILTRO DE PAPEL USADO ......................................................................................................180 11 FANZINE OU ZINE ..........................................................................................................................180 12 TRANSFERÊNCIA DE IMAGEM OU TRANSFER ....................................................................181 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................182 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................183 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................185 1 UNIDADE 1 A GRAVURA E SUA HISTÓRIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, o acadêmico estará apto a: • expor os princípios que definem a Gravura; • contextualizar a História da Gravura, procurando fazer um paralelo com o surgimento da escrita em determinadas regiões do mundo antigo até o surgimento da imprensa; • relacionar a Gravura à necessidade de comunicação do ser humano; • apresentar a Gravura como meio de expressão artística. Esta primeira unidade será dividida em quatro tópicos. No final de cada tópico, você encontrará atividades que contribuirão para sua reflexão e análise dos estudos já realizados. TÓPICO 1 – A TRAJETÓRIA DA GRAVURA TÓPICO 2 – A GRAVURA COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO TÓPICO 3 – A GRAVURA COMO MEIO DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA TÓPICO 4 – A GRAVURA NO BRASIL 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 A TRAJETÓRIA DA GRAVURA 1 INTRODUÇÃO A importância da gravura está relacionada aos caminhos que podemos encontrar na trajetória da sua história: a necessidade humana de se comunicar e a necessidade de se expressar artisticamente. Podemos dizer que estes dois caminhos foram se alimentando das situações que surgiam e principalmente das necessidades humanas que se apresentavam. Vejamos a seguir alguns passos oportunos que a humanidade foi seguindo e imprimindo para que a gravura passasse a fazer parte da História. Mas antes disso precisamos saber qual é o princípio da gravura. 2 PRINCÍPIOS QUE DEFINEM A GRAVURA Gravar é surpreender com marcas o suporte que você escolhe para ser a matriz da sua ideia. É invadir enérgica ou suavemente o espaço da matéria, forçando-o a aceitar o seu suposto domínio sobre as ações que seguirão. Mas o controle é limitado pelas circunstâncias que passam a dividir com o artista a feitura da imagem. O artista não detém o poder exclusivo, o tempo pode ou não ser seu aliado, como também a escolha instrumental feita. Desde sempre, o homem procura deixar registrada a sua presença fixando marcas em lugares. Se nos tempos pré-históricos os nossos ancestrais imprimiam suas mãos sobre pedras de cavernas, quem de nós já não riscou o tampo da carteira do colégio, ou registrou suas iniciais no tronco de uma árvore ou numa parede? Gravou seu amor num coração? Ou, num exemplo bem atual, a ação dos grafiteiros pelos concretos das nossas cidades. UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 4 FONTE: Disponível em: <http://moraisfabio.blogspot.com/2007/08/arqueologia-de-recados- anotaes-e.html>. Acesso em: 14 mar. 2009. FIGURA 1 – AÇÃO DOS GRAFITEIROS FONTE: Disponível em: <http://www.revistarafe.com.br/wp-content/themes/rafe/images/ graffiti_big.jpg>. Acesso em: 10 abr. 2009. FIGURA 2 – AÇÃO DOS GRAFITEIROS Mas, é na gravura que as marcas são traduzidas em imagem, se emancipam! Se na intenção banal da ranhura produzida nos mais diversos suportes, como as que vemos nas figuras anteriores, nada além acontece, o ser humano, com intenções mais profundas voltadas para a investigação e reflexão sobre si mesmo e sobre ‘as coisas’ do mundo visando como finalidade o conhecimento, avança no desejo de expressar-se artisticamente, buscando a multiplicação da imagem que gravou em um suporte. Surge então a gravura. TÓPICO 1 | A TRAJETÓRIA DA GRAVURA 5 Veja a seguir o significado etimológico das palavras: GRAVAR e GRAVURA. Gravar = graver – francês (fazer risca nos cabelos, fazer entalhes em superfície dura). A palavra gravar, como está escrito no dicionário Houaiss, quer dizer: 1 traçar (figuras, caracteres) em metal, madeira, pedra etc., com instrumento cortante ou reagente químico, criando matriz para cópias; 2. fig. conservar na mente, memorizar 3. transferir (dados) paraum meio de armazenamento, para recuperá-los; salvar; 4. registrar (sons, imagens) em disco, vídeo etc.; 5. tornar- (se) perpétuo; conservar(se). Gravura = graphein – grego (escrever e desenhar). = cavare – latim (abrir, cavar, aprofundar). Encontramos no mesmo dicionário da língua portuguesa Houaiss a seguinte definição da palavra gravura: 1. impressão feita a partir de matriz de madeira, metal ou pedra; 2. estampa assim obtida. Portanto, gravura é tanto um processo de reprodução de uma imagem, quanto o resultado obtido pelo processo de reprodução dessa imagem. Implica gravar um suporte, madeira, metal, pedra, poliéster ou outro qualquer que seja plano e que suporte gravações; este suporte, ao receber as gravações, passa a chamar-se matriz. Esta contém a imagem gravada; essa imagem gravada é transferida para outro suporte, tradicionalmente o papel (mas pode ser outro, como tecido, por exemplo) e recebe o nome de estampa. A vantagem, se é que se pode chamar assim, é que essa matriz permite a reprodução, ou seja, pode-se obter mais que uma imagem da mesma matriz. A essa série de cópias, chamadas impressões, denominamos tiragem ou obra gráfica. Suporte > Matriz > Imagem > Estampa IMPORTANT E ATENCAO Acho que assim fica claro que o referencial comum do público sobre o que é gravura não coincide com a definição de gravura como meio de expressão artística. Observe: Gravura não é a reprodução de uma pintura famosa emoldurada de dourado e pendurada na sala de visitas, muito embora já tenha feito este papel no decorrer da história, quando ainda não tínhamos a fotografia. UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 6 3 A ESCRITA E A GRAVURA A leitura feita de um pequeno texto, prefácio do livro de Roland Barthes, leva-me a abordar a escrita para introduzir o histórico da gravura. [...] sinto minha mão movimentando-se, girando, ligando, mergulhando, levantando e, frequentemente, devido ao jogo das correções, riscando ou fazendo surgir a linha, ampliando o espaço até a margem, construindo, assim, a partir de traços pequenos e aparentemente funcionais (as letras), um espaço que é simplesmente o espaço da arte: sou um artista, não que eu represente um objeto, porém, mais fundamentalmente, porque, durante o ato de escrever, meu corpo frui do prazer de traçar, de talhar ritmicamente uma superfície virgem (virgem infinitamente possível). Este prazer deve ser muito antigo: séries de incisões regularmente espaçadas foram encontradas nas paredes de algumas cavernas pré- históricas. Já seria escrita? De forma alguma. Tais traços, sem dúvidas, nada queriam dizer; mas ao próprio ritmo denotava uma atividade consciente, provavelmente mágica ou, mais amplamente simbólica: o traço dominado, organizado, sublimado (pouco importa) de uma pulsão. O desejo humano de fazer uma incisão – com o buril, o cálamo, o estilete, a pena – ou de acariciar – com o pincel ou a caneta de feltro – passou, sem dúvida, por muitos fantasmas que ocultaram a origem propriamente corporal da escrita. Contudo, é preciso que, de tempos em tempos, um pintor (tal como, hoje, Masson ou Twombly) incorpore formas gráficas à sua pintura para que sejamos conduzidos a essa evidência: escrever não é somente uma atividade técnica, mas é também uma prática corporal de prazer (BARTHES, 2002, prefácil). Esta abordagem de Barthes vem justificar-se à outra que também está relacionada à necessidade de cunho sociocultural do surgimento da gravura. Se a escrita e o escriba surgem com a necessidade de resolver impasses comerciais no desenvolvimento primário dos procedimentos agrícolas etc., para troca ou venda de grãos, receitas, vocabulários, normas e leis, cânticos religiosos, magia e textos registrando descobrimentos científicos: matemática, astronomia e medicina; a gravura também tem esta aproximação sociocultural no decorrer de sua história como meio utilizado para reproduzir, através de imagens, mensagens que não chegavam ao homem comum, pois este não sabia ler. A leitura restringia-se a poucos: escribas religiosos, clero, castas superiores, da aristocracia. Levantamentos históricos nos mostram que é na Suméria que encontramos o sistema de escrita mais antiga, antes dos hieróglifos egípcios. As ideias eram apresentadas através do desenho simplificado dos objetos num sistema denominado pictográfico. Com a utilização de placas de argila, os desenhos passaram a ser feitos com um caniço em forma de cunha, por isso passou a ser denominada “escrita cuneiforme”. A aproximação dos povos incentivou a sua comunicação, fazendo com que toda a região próxima, Mesopotâmia e vizinhos, adotasse o sistema dos sumérios. TÓPICO 1 | A TRAJETÓRIA DA GRAVURA 7 FONTE: Disponível em: <http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.algosobre. com.br/images/stories/historia/sumerios_01.jpg>. Acesso em: 15 mar. 2009. FIGURA 3 – LISTA DE DEUSES FEITA PELOS SUMÉRIOS NO SÉCULO 24 A.C. Para promover a comunicação, foi necessário pintar e gravar inscrições de caráter religioso ou relacionadas com heróis e governantes, registrar negociações, gerando o uso desses signos (ou representações) sobre pedras. Para difundir essa comunicação, foi preciso adaptar suportes menores, mais práticos, fáceis de transportar – as tabuletas, os óstracos, os papiros e os pergaminhos, que veremos a seguir: Veja a seguir na figura 4: Cálamo em bambu ou madeira – três tipos: triangular para formar os “cantos”; ponta côncava para formar as cunhas; e ponta arredondada para os algarismos. Plaqueta quadrada com ângulos arredondados datada de 2360 a.C. Formato característico da época da renascença sumeriana do império de UR III. Documento de economia representando uma leva de jumentos para diversas pessoas. UNI FONTE: Jean (2002, p. 15) FIGURA 4 – CÁLAMO – EM BAMBU OU MADEIRA – 3 TIPOS UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 8 FONTE: Disponível em: <http://lh5.ggpht.com/biohoffmann/SIILR6t7LtI/AAAAAAAAAPA/hWbLJh- -efo/Escrita%20Cuneiforme%5B6%5D.gif>. Acesso em: 15 mar. 2009. FIGURA 5 – PICTOGRAMAS A esses desenhos simplificados que representavam um objeto ou um ser específico, deu-se o nome de Pictogramas = do latim pictu = pintado + grego γ ράμμα = caracter, letra. A combinação de vários pictogramas expressava uma ideia, surgindo então a palavra ideograma. Se na região da Suméria eles se comunicavam através da escrita cuneiforme, egípcios, maias e hititas comunicavam-se através da escrita hieroglífica. FONTE: Disponível em: <http://www.amorc.org.br/Imagens_CCA/destaque/escrita-hieroglifica. jpg>. Acesso em: 15 mar. 2009. FIGURA 6 – ESCRITA HIEROGLÍFICA TÓPICO 1 | A TRAJETÓRIA DA GRAVURA 9 Hoje, como herança da escrita cuneiforme e da escrita hieroglífica, temos a Pictografia = forma de escrita pela qual ideias são transmitidas através de desenhos, ou seja, foi criado um sistema de representação pictórica internacional, desenvolvido em Viena pelo movimento ISOTYPE. FIGURA 7 – PICTOGRAMA FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Poptogramas>. Acesso em: 07 mar. 2009. FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Poptogramas>. Acesso em: 07 mar. 2009. O nome de um dos criadores do sistema de linguagem visual OSOTYPE é o gravurista e designer gráfico modernista Gerd Arntz. Ele é autor de xilogravuras compostas por desenhos bastante sintetizados, como podemos observar a seguir. Fiz este caminho da escrita cuneiforme até aqui para evidenciar a importância da gravura nesta relação com a comunicação, o que não pára por aí, segue na lenta, porém, constante evolução do conhecimento. FIGURA 8 – GERD ARNTZ, BARRACK OCCUPATION. XILOGRAVURA, 1931. UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 10 FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/Modules/Articles/Images/full-1- f28c4b5c44.jpg>. Acesso em: 15 mar. 2009. FIGURA 9 – TABULETAS As tabuletas eram constituídas a partir de uma base de madeira recoberta de material maleável. As mais antigas eram feitas debarro, facilmente encontrado nas regiões fluviais, podendo ser cozidas no forno e preservadas. As de cera eram fáceis de gravar e apagar, podendo ser reutilizadas. Veja na Figura 10, a seguir, Óstracos, na qual encontra-se gravado o nome de Címon, estadista ateniense. UNI FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93straco>. Acesso em: 7 mar. 2009. FIGURA 10 – ÓSTRACO TÓPICO 1 | A TRAJETÓRIA DA GRAVURA 11 Óstraco ou óstracon do grego = όστρακον ostrakon = concha ou fragmento de cerâmica UNI Em pedaços de vasos quebrados, estudos arqueológicos levantam formas e palavras escritas indicando uma determinada época. Era utilizado para eleições (Na Grécia Antiga, o público eleitor escrevia ou gravava o nome de uma pessoa num fragmento de cerâmica para decidir se ela deveria ser banida, de onde vem o termo “ostracismo”). A facilidade de gravar, oferecia a possibilidade de ser apagado e reutilizado, como um palimpsesto, cujo significado veremos um pouco adiante. Papiro é uma planta encontrada em abundância no delta do Rio Nilo. O uso do seu caule fibroso cortado em tiras finas, que são tramadas e coladas com seu próprio sumo e alisadas, permitiu a criação de um suporte revolucionário para a escrita - a folha de papiro, leve, fina e manuseável. Segundo Jean (2002), “[...] o papiro era exportado desde o terceiro milênio antes da nossa era, para toda a bacia do Mediterrâneo, representando, para o Egito, uma apreciável fonte de renda”. FIGURA 11 – PERGAMINHO FONTE: Jean (2002, p. 39) UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 12 Pergaminho do grego pergamênê = pele de Pérgamo e do latim pergamina ou pergamena. Instrumentos dos quais se serviam os escribas: estojo contendo cálamos pontiagudos, placa sobre a qual o escriba “alisava” o papiro e se apoiava para escrever, copinhos para tinta preta e vermelha e corta papiro. UNI O couro de carneiro, cabra, cordeiro ou ovelha era preparado para que nele pudesse ser escrito. A maleabilidade do pergaminho permitiu que os textos escritos fossem enrolados. Posteriormente, o pergaminho passou do formato de rolo ao códex, ou códice (o livro na forma como o conhecemos hoje). Para escrever, utilizavam-se cálamos e tinta de cobre. Por volta do século IV, os cálamos foram substituídos por penas de aves. Quando a pele era de bezerro ou de cordeiro, mais delicada, dava-se o nome de velino = do francês arcaico veel (vitelo), na qual era utilizada uma escrita mais delicada e clara para fins documentais e de obras relevantes, pois sua principal qualidade era não absorver a tinta e melhor conservar o colorido original. Segundo Jean (2002), essas são as razões pelas quais as mais belas iluminuras foram realizadas sobre velino. É importante salientar que o pergaminho, em muitas situações, passou a substituir o papiro pela sua resistência e durabilidade, usado não só no oriente como também no ocidente, especialmente na Idade Média, antes da chegada e difusão do papel, uma invenção do povo chinês. Hoje, o pergaminho, por ser considerado um material difícil de ser falsificado e pela sua durabilidade, é utilizado para a confecção de diplomas, letras e títulos do Tesouro Nacional. O Brasil mesmo se tornou um grande fornecedor de matéria-prima para o pergaminho. Palimpsesto, do grego antigo παλίμψηστος = riscar de novo É o nome dado para uma página de pergaminho ou velino cujo conteúdo foi apagado (por lavagem ou raspagem) e escrito novamente, ou nas linhas intermediárias ao primeiro texto ou transversalmente ao sentido do texto. TÓPICO 1 | A TRAJETÓRIA DA GRAVURA 13 FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cc/Codex_ ephremi.jpg>. Acesso em: 7 mar. 2009. FIGURA 12 – CODEX EPHRAEMI RESCRIPTUS. BIBLIOTECA NACIONAL DA FRANÇA O Codex Ephraemi Rescriptus, também conhecido como Manuscrito C ou 04 (Gregory-Aland), pertence ao século V. Possui quase todo o Novo Testamento, com exceção de II Tessalonicenses e II João. Trata-se de um palimpsesto, ou seja, um pergaminho que foi raspado para apagar-se o conteúdo original e possibilitar uma nova escrita. No século XII, Efraim Siro apagou o texto do Novo Testamento originalmente escrito no pergaminho para escrever os seus sermões, acabando por inutilizar algumas folhas e por jogar fora outras folhas deste precioso texto. UNI Códex = do latim codex = códice = livro O códice é um avanço no uso do pergaminho, e surge no século I da era cristã. As folhas podiam ser dobradas e costuradas umas sobre as outras, formando um conjunto que deu origem ao nosso conhecido livro impresso. FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/C%B3dice>. Acesso em: 7 mar. 2009. FIGURA 13 – FÓLIO 292R DO BOOK OF KELLS UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 14 Folio 292r do Book of Kells, que contém o texto que abre o Evangelho segundo João. UNI Iluminura como vocês podem ver na imagem anterior, era uma verdadeira produção formada por letras e imagens decoradas cuidadosamente que ilustravam o texto manuscrito. A cada início de capítulo, ou parágrafo, a primeira letra recebia adornos em folhas de ouro, desenhos de flores, figuras com cores vibrantes. O desenho era estruturado com um buril e em seguida as linhas eram formadas com penas de ganso e as partes internas cobertas com cores a pincel. Esse trabalho era executado por copistas que viviam em monastérios e abadias. Incunábulos são livros que foram impressos entre os anos de 1445 e 1500, período em que surgem os tipos móveis criados por Gutemberg. No início do século XV, imprimiam-se letras e imagens de cenas bíblicas gravadas sobre madeira. As impressões eram feitas manualmente, pressionando o papel sobre a madeira (matriz). Gutemberg mecaniza esse processo de impressão passa a utilizar o prelo = prensa. O que Gutenberg fez provocou a transformação da produção de livros, consequentemente, houve um intenso desenvolvimento dos livros e, a partir daí, uma acelerada transformação na comunicação humana. A produção de um livro passou a contar com a composição do texto por meio de cubos nos quais as letras apareciam em relevo. Essas letras eram alinhadas sobre uma espécie de régua, organizando as palavras, formando uma linha que era colocada dentro de uma forma que estabelecia o tamanho do texto dentro do espaço de uma folha. Ao final da montagem da forma, as letras recebiam tinta, sobre a tinta era colocada uma folha de papel e a prensa fazia a impressão. A quantidade de cópias era estipulada e o processo seguia a mesma ordem da primeira impressão. As imagens recebiam o mesmo tratamento dos textos. A maioria dos incunábulos conhecidos e identificáveis é de origem alemã, francesa ou italiana. A partir de 1457, encontram-se exemplares contendo no final da obra um colophon’ = indicação de autor, local e ano de impressão, assim como do editor. Páginas de título aparecem pela primeira vez em 1465. É necessário destacar que, antes de Gutemberg, os chineses já detinham todo este conhecimento: caracteres móveis e prelo. Ou melhor, antes de Gutemberg, os chineses já produziam livros, imprimindo sobre papel, que eles também inventaram. TÓPICO 1 | A TRAJETÓRIA DA GRAVURA 15 FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c1/Inkunabel. ValMax.001.jpg>. Acesso em: 7 mar. 2009. FIGURA 14 – INCUNÁBULO, LIVRO DE 1471 Papel: Historiadores concordam em atribuir à China o feitio dos primeiros papéis por volta de 105 d.C. O inventor seria um oficial de nome Cai Lun. Primeiramente, trapos e redes de pesca foram utilizados e mais tarde fibras vegetais, mais precisamente a fibra do linho, processadas num forte cozimento e, em seguida, essas fibras eram batidas e esmagadas para a obtenção de uma pasta. Sobre uma peneira de juncos unidos por fios de seda ou crina, a pasta era espalhada e depurada. A compressão dessa pasta sobre a trama da peneira daria a forma às folhas que, em seguida, passavam por um processo de secagem. Os chineses mantiveramo domínio sobre o conhecimento da fabricação do papel por cerca de quinhentos anos. Os japoneses vieram a começar a produzir o papel no século VII. A Europa passou a conhecer os segredos de fabricação do papel através dos mouros, quando estes invadiram a Península Ibérica no século IX. Dali a receita tecnológica se disseminou, seguindo para a Itália, França e Alemanha. FONTE: Disponível em: <http://www.aracruz.com.br/img/conteudo/curios_histpap_ilustra.gif>. Acesso em: 18 mar. 2009. FIGURA 15 – ILUSTRAÇÃO SOBRE A FABRICAÇÃO ARTESANAL DO PAPEL O ORIENTE UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 16 NOTA No site que aparece abaixo você poderá obter preciosas informações sobre a origem do livro do ponto de vista dos chineses. Não deixe de acessar! FONTE: Disponível em: <http://institutomandarim.net/blog3/2008/09/06/curso-chines- origem-livros-chineses-tipografia>. Acesso em: 18 mar. 2009. FIGURA 16 – ORIGEM DOS LIVROS CHINESES E TIPOGRAFIA Ao chegar até aqui, você percorreu um caminho de milênios que as civilizações fizeram na busca de uma melhor forma de se expressar, todos eles somando significados preciosos para os domínios que temos hoje. Nada deve ser eliminado, porque, em arte, tudo pode ser somado, renovado, revisitado. 17 Percorremos um caminho indicando a origem da gravura, a sua estreita relação com a necessidade do homem de se comunicar e registrar suas necessidades, crenças e conquistas. Tivemos a oportunidade de fazer alguns apontamentos, como: A introdução fala da necessidade humana de se comunicar e a necessidade de se expressar artisticamente. Princípios que definem a gravura: o que é gravar; o significado etimológico das palavras GRAVAR e GRAVURA; a extensão da palavra GRAVURA: Suporte > Matriz > Imagem > Estampa e tiragem ou Obra Gráfica. A escrita e a gravura: citação de Roland Barthes sobre o ato de escrever, o autor o aproxima do ato de gravar. Alguns apontamentos indicam a relação da escrita e a gravura, buscando a escrita cuneiforme, a escrita hieroglífica, os suportes utilizados para a escrita, o papiro, o pergaminho, o palimpsesto, o códex, o livro, a iluminura, o incunábulo, a imprensa, o papel. RESUMO DO TÓPICO 1 18 Caro acadêmico, para melhor fixar o conteúdo apresentado neste tópico, sugerimos que você resolva a seguinte atividade: Elabore um pequeno texto dando destaque aos princípios que caracterizam a gravura e a sua relação com as contribuições para o conhecimento através da escrita. AUTOATIVIDADE 19 TÓPICO 2 A GRAVURA COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A gravura foi utilizada, desde o seu surgimento, como veículo de multiplicação e reprodução de imagens, de ideias e de conhecimento. Uma arte de cunho artesanal, produzida em equipe, destinada ao coletivo, feita para proporcionar satisfações e informações às camadas mais baixas da população, foi testemunha das transformações ocorridas nos procedimentos criados para a reprodução de imagens. Tais transformações antes aconteciam muito lentamente, o tempo todo, a favor de séculos de história. É necessário firmarmos um pouco os conhecimentos sobre cada uma das técnicas da gravura para adentrarmos no Tópico 2. 2 A MATRIZ DA DISSEMINAÇÃO COMUNICANTE Começaremos pela xilogravura = xylon = palavra grega que significa “madeira”, técnica que acompanhou o homem no desenrolar do surgimento da imprensa. O que é então que caracteriza uma xilogravura? É o corte de uma imagem sobre uma prancha de madeira. Esse corte retira matéria da superfície provocando um baixo relevo. A imagem que se forma sobre a superfície de madeira se chama matriz, que, recebendo tinta ou não, possibilita a impressão de inúmeras cópias “idênticas” (coloquei entre aspas porque dentro de um sistema artesanal de produção, é praticamente impossível conseguir cópias idênticas). Cada cópia impressa é denominada estampa, e o total de cópias forma o conjunto gráfico ao qual nós já nos referimos no Tópico I. A matriz assume o papel de um carimbo que pode ter tamanhos muito variados, à escolha de quem o produz. UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 20 FONTE: Belluzzo (2000) FIGURA 17 – CARMELA GROSS, CARIMBOS-LINHA, CARIMBOS-RABISCO E CARIMBOS- PINCELADA, 1977-8 Os cortes feitos sobre a superfície da madeira alteram a imagem. Cada linha formada pela extração de matéria torna-se uma linha branca sobre o papel. Quando a matriz recebe a tinta para a impressão, as linhas que formaram sulcos (pequenas valetas sobre a madeira) não são atingidas, ficando em branco. Portanto: o que se grava é o que fica em branco. IMPORTANT E Veja o exemplo: FONTE: Disponível em: <http://www.gravurabrasileira.com/CreateThumbnail. aspx?NomeImagem=customImages/obra/thumb.jpg&largura=190&altura=190>. Acesso em: 10 abr. 2009. FIGURA 18 – ERNESTO BONATO, SEM TÍTULO, XILOGRAVURA, PA, 2006, 59,5X59,5CM TÓPICO 2 | A GRAVURA COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO 21 A imensa possibilidade de multiplicação da imagem levou esta técnica a se tornar um veículo da comunicação, difusão de informações entre as pessoas numa época em que a escrita e, consequentemente, a leitura eram dominadas por pouquíssimas pessoas. Ou seja, a Gravura nasce sob o signo do múltiplo e não propriamente como arte, estreitamente ligada à sua utilidade: a multiplicação da escrita e da imagem. Não sei se todos compreendem o que eu quero dizer, mas antes do surgimento da possibilidade de multiplicar uma mesma imagem, seja ela uma escrita ou uma figura, todos os registros feitos pelo ser humano eram fixos em um determinado lugar, numa rocha, por exemplo, e só podiam ser vistos ali, naquela rocha; com a multiplicação através do caminho que pudemos observar no tópico anterior, mais pessoas passaram a dividir a visualização de uma mesma imagem. Começa então a disseminação da informação. Conforme Catafal e Oliva (2003, p. 14): [...] a gravura encontra-se entre as manifestações artísticas mais antigas da humanidade. Com efeito, entendemos por gravura o resultado de pressionar um objeto duro sobre um outro mais brando, com a finalidade de obter uma marca ou encaixe, e se entendermos por arte toda realização humana a que se acrescentou um elemento estético à função prática. Contudo, a gravura é uma manifestação artística peculiar, por um lado muito ligada ao mundo da indústria e da técnica e, portanto, ao mundo da produção em série e, por outro, ao mundo da criatividade e da arte. No Tópico I nós passamos por uma série de procedimentos adotados por alguns povos para podermos entender a relação entre o desenvolvimento do conhecimento através da escrita e as relações muito próximas com as características da Gravura. 3 A XILOGRAVURA ORIENTAL Até agora, tomamos conhecimento sobre a xilogravura como o primeiro meio empregado para proporcionar a disseminação da comunicação. Voltemo- nos agora para as questões históricas nas quais ela está inserida. O desenvolvimento da gravura ocidental está como já visto, ligado à imprensa e seu desenvolvimento. Mas, antes da chegada da imprensa no mundo ocidental, sabe-se que séculos anteciparam o desenvolvimento desse domínio. Os chineses utilizavam a gravação sobre pedra ou madeira como matriz para a impressão desde o século II. Nos séculos V e VI, eles costumavam utilizar a estampa de selos com carimbos sobre papel ou seda. Daí a impressão tabular ou tabulária = aquela em que o texto era inscrito em tábua de madeira. UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 22 Embora os chineses tenham usado a impressão tabulária antes de qualquer povo, o primeiro registro encontrado de uma impressão em massa através desse sistema ocorreu no Japão, em 770. Segundo Catafal e Oliva (2003, p. 14): [...] as primeiras estampas japonesas consistiam em simples gravuras, que se difundiram rapidamente por toda a zona influenciada pelo budismo e por todo o Extremo Oriente, incluindo o Japão. De fato, será dali, que, a partir do século XVI, se desenvolverão estampas populares, impressase inspiradas na pintura popular chamada Ukiyo-e. A ideia original consistia em produzir pinturas populares a preços acessíveis, que, a longo prazo, conduziu ao aparecimento de uma estética profundamente japonesa que chegou até hoje através do manga. FONTE: Jean (2002) FIGURA 19 – SELO CHINÊS TALHADO NO JADE. ANCESTRAL DOS CARACTERES DA IMPRENSA FONTE: Jean (2002) FIGURA 20 – SINAIS IMPRESSOS SOBRE PINTURA EM SEDA QUE CARACTERIZAM O AUTOR TÓPICO 2 | A GRAVURA COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO 23 Veja na Figura 21 a seguir: TOYOKUNI II (1845). Da série Episódios da vida de Lorde Minamoto. A gravura mostra uma cena palaciana em que duas nobres damas assistem a um menino que acaba de libertar dois pássaros. A composição é riquíssima em elementos arquiteturais e em detalhamento e cores dos quimonos. UNI FONTE: Disponível em: <http://www.touchofclass.com.br/ed_09/conteudo/cultura. htm#gravuras>. Acesso em: 23 mar. 2009. FIGURA 21 – TOYOKUNI II (1845) Veja a seguir, na Figura 22, de Kitagawa Utamaro (1805). Título da série: 5 mulheres. A gravura mostra uma “Bijin” (mulher bonita) lendo uma carta de seu amante. UNI FONTE: Disponível em: <http://www.touchofclass.com.br/ed_09/conteudo/cultura. htm#gravuras>. Acesso em: 23 mar. 2009. FIGURA 22 – KITAGAWA UTAMARO (1805) UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 24 Todo o conhecimento chinês nesse campo chegou à Europa através dos árabes; com eles, veio o papel, algumas tintas e, talvez, também, pequenas placas de madeira gravadas. 4 O MOMENTO HISTÓRICO E SOCIAL FAVORÁVEL À DIFUSÃO DA XILOGRAVURA Ao final do século XV, no fim da Idade Média, surgem as primeiras manifestações da gravura na Europa, sendo a xilogravura a mais conhecida e utilizada na época, apesar de que, no norte da Europa, a gravura em metal também já era conhecida. Para que a imagem gravada e a imprensa se difundissem, foi necessário não só que o momento histórico e social fosse propício, mas também que houvesse uma conjugação de fatores materiais que o permitissem: 1 O prelo ou prensa já era usado anteriormente para esmagar uva, lustrar papel e estampar tecidos. 2 O papel já era fabricado na Europa. Os italianos descobriram uma forma de impermeabilizar o papel, por meio de banhos com gordura animal, o que possibilitou a produção em série. 3 A execução das imagens em xilogravura era feita por artífices de imagens. Eram executadas com certa simplicidade, linhas de contorno ficavam na superfície, o resto era todo escavado, para que a imagem surgisse em preto. Após a impressão de muitas cópias dessas imagens, elas eram coloridas a mão. A xilogravura era usada para o texto e a imagem. 4 A Europa já utilizava amplamente o processo de impressão tabular, que auxiliou na modificação da transmissão de conhecimentos da época. Antes, como já foi visto, tudo era copiado à mão; não havia a produção em série. 5 O analfabetismo era a regra. Os mosteiros e conventos armazenavam as obras que continham o conhecimento da época. O clero dominava as funções de preservação e disseminação desse conhecimento e a reprodução manual de simples passou a procedimentos complexos e luxuosos enriquecidos por miniaturas e iluminuras. As ilustrações tornaram-se uma necessidade para manter viva a memória sobre as passagens e histórias bíblicas. 6 As cidades iam se tornando maiores e mais abastadas ,requisitavam escolas e universidades, era necessário o aumento da produção de livros. Foram se formando corporações fortes, constituindo novas profissões, livreiros, escritores profissionais. As coroas patrocinavam. TÓPICO 2 | A GRAVURA COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO 25 7 Nesse mesmo período, tecidos e toalhas de altar com motivos religiosos eram impressos como também cartas de baralho. Com origem no Oriente, as cartas passaram a ser produzidas pela Europa, sendo controladas pela Igreja. É possível que os mesmos artífices que produziam os santos executavam também as cartas de baralho. Não há muitos exemplares desse período, e os valores estéticos não eram considerados. As imagens religiosas recebiam pequenas inscrições de textos, nome do santo, oração, tudo era gravado na mesma matriz. Ao contrário do que ocorreu no Oriente, a imagem xilográfica nasceu ligada ao texto, representando papel fundamental para o entendimento e disseminação do texto escrito. 8 Até início do século XV, textos e imagens de santos ou cenas bíblicas gravadas sobre madeira eram impressas manualmente, mantendo as características dos livros manuscritos, ou seja, fortemente ilustrados. Gutenberg foi o primeiro a utilizar o prelo para a impressão desses textos e imagens fixos. 9 Assim, a Gravura se impõe e passa a ser usada para outras utilidades, tornando-se um meio de divulgação. Começaram, então, a ser produzidos em xilogravura, rótulos de produtos e até anúncios impressos. 10 A necessidade de facilitar a impressão de textos levou um amigo de Gutenberg, Schoeffer, a descobrir uma forma de fundir caracteres. Aí surgiram os tipos móveis, formados por uma liga de chumbo e antimônio, ou seja, nasceu a tipografia. As imagens eram gravadas em madeira e impressas junto com os tipos móveis ou fixos. Em sua oficina, na Mogúncia, Alemanha, Gutenberg publica um Psalterium, com tipos móveis e as primeiras letras iniciais xilografadas. FONTE: Disponível em: <http://www.gutenberg-museum.de/uploads/Mainzer_Psalter.jpg>. Acesso em: 23 mar. 2009. FIGURA 23 – PSALTERIUM UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 26 A partir de ano de1462, a imprensa difundiu-se rapidamente pelo mundo. A aceleração da produção de livros impressos resultou muito mais do que a disseminação de ideias e conhecimentos, promoveu a fixação das línguas e literaturas nacionais. A xilogravura, que até então era colorida manualmente com pincel, passa a preocupar-se com a criação de volumes e dos meios-tons, e é inserida na impressão dos livros porque a altura dos tacos de madeira era a mesma dos tipos móveis, permitindo a impressão simultânea das letras e da imagem. Toma então, dois rumos diferentes: a ilustração de livros por um lado, e pelo outro passa a atender necessidades populares em imagens soltas, panfletos, calendários, livretos, como o cordel, por exemplo. FONTE: Novaes (1997) FIGURA 24 – LITERATURA DE CORDEL. REPENTE DICAS Saiba muito mais sobre a literatura de cordel no site: <http://www.ablc.com.br/gravuristas/gravuristas.html>. TÓPICO 2 | A GRAVURA COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO 27 FONTE: Disponível em: <www.melkzda.blogspot.com/2008/12/xilogravura.html>. Acesso em: 25 mar. 2009. 5 A ESTÉTICA DA GRAVURA - ALBERT DÜRER Albert Dürer, um artista que não pode deixar de ser mencionado, foi quem promoveu genialmente o desenvolvimento estético da xilogravura. Viveu no período entre 1471 e 1528, em Nuremberg, Alemanha, em pleno Renascimento. Filho de um ourives, foi pintor, filósofo, teórico, cientista e gravador. Iniciou trabalhando com um pintor famoso da cidade, que também gravava placas de madeira para um dos maiores impressores da época na Europa. Adquiriu o domínio dos instrumentos de gravar, especialmente o buril, tanto sobre a madeira, quanto sobre o cobre. O seu trabalho tinha um grau elevado de precisão, a qualidade das imagens com nuances do Renascimento, tinham profundidade, desenho rigoroso expressando dramaticidade e misticismo, próprios da Alemanha, que vivia no período antecedente à reforma religiosa. FIGURA 25 – ALBRECHT DÜRER, CAVALEIROS DO APOCALIPSE, XILOGRAVURA Dürer adapta a xilogravura à maneira de seu desenho, ou seja, deixa as linhas cruzadas receberem a tinta, eliminando todo o restante da superfície. Por ter se tornado muito famoso na época, chegou a ser falsificado. Passou então a ter o direito de assinar suas gravuras, gravando um monograma em suas matrizes. UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 28 FONTE: Disponível em: <http://www.miniweb.com.br/Literatura/artigos/escrita/mono.jpg>. Acesso em: 23 mar. 2009. FIGURA 26 – ESCRITA MONO Dürer consagrouas imagens avulsas em folhas soltas. Ele desenhava e gravava os seus desenhos contrariando o costume da época, que era de distribuição das funções, ou seja, o artista desenhava uma imagem, um artífice gravava sobre a madeira ou metal e um outro fazia a impressão. Essa distribuição de funções é utilizada, em muitos casos, ainda hoje, em grandes circuitos de gravura. Outro artista do período que deixou contribuições foi Lucas Cranach. Vivendo entre os anos de 1472 e 1553, foi amigo de Lutero e, através de suas gravuras, contribuiu com a difusão do conteúdo ideológico religioso, dando às suas gravuras essa função. DICAS Para que vocês possam apreciar e aprofundar a pesquisa de imagens dos artistas, indico o site: www.spencerart.ku.edu/collection/print/. FONTE: Disponível em: <http://tenthmedieval.files.wordpress.com/2008/03/lucas_cranach_-_ antichrist.pn>. Acesso em: 23 mar. 2009. FIGURA 27 – ANTICRISTO, LUCAS CRANACH TÓPICO 2 | A GRAVURA COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO 29 FONTE: Disponível em: <www.spencerart.ku.edu>. Acesso em: 27 mar. 2009. FIGURA 28 – GERMAN,1472-1553 THE TEMPTATION OF SAINT ANTHONY, LUCAS CRANACH, 1506 WOODCUT 406 MM X 279 MM MUSEUM PURCHASE, 1969.74 Na Alemanha, a gravura foi de grande importância. Entretanto, na Itália, em Florença e Veneza, floresceu com intenso vigor a serviço da reprodução e ilustração, alcançando durante o século XVI um nível elevadíssimo de qualidade e refinamento produtivo na editoração com imagens xilográficas. 6 A GRAVURA EM METAL OU CALCOGRAFIA Do grego khalkos = cobre e graphein = desenhar, escrever etc. Tem como suporte matrizes metálicas, geralmente de cobre, latão, alumínio ou zinco, que são trabalhadas com intervenção direta de ferramentas variadas ou com processos indiretos que, além dos instrumentos, recebem a ação de agentes intermediários, tais como mordentes mais o tempo de atuação destes (ceras, vernizes etc.). Mordente: solução preparada de água mais ácido nítrico ou cloreto de ferro ou holandês que provocam a corrosão do metal. UNI UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 30 Ao contrário do que acontece na xilogravura, na gravura em metal, tudo o que é marcado direta ou indiretamente é que aparecerá como resultado impresso. Ou seja, o inverso da xilogravura na qual temos o branco, o vazio retirado. Após a gravação da imagem formando a matriz, esta recebe a tinta que deverá preencher os sulcos e marcas provocadas pelas interferências na superfície; em seguida, inicia o processo de retirada do excesso de tinta, para tornar a aparecer a imagem. É um momento bastante delicado que requer atenção para não exceder na limpeza e acabar retirando tinta demais, ou deixando muita tinta. Os sulcos, rasgos ou corrosões retêm parte da tinta que é transferida para o papel, levando a imagem gravada. É o processo de impressão que acontece através da pressão oferecida pela prensa calcográfica utilizada. A imagem gravada nessa matriz pode também ser transferida sem tinta para o papel. FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_R7NarXrdx7U/Rz9RSU1vT5I/AAAAAAAAACc/ LTiUE9x gAv4/s1600-h/Calcografia.bmp>. Acesso em: 22 mar. 2009. FIGURA 29 – MATRIZ A B Un torchio calcografico. A) manubrio; B) regolatori per l'altezza del cilindro; C) rullo cilindrico; D) lastra inchiostrato posta sul foglio, a faccia in giú; E) foglio; F) piano scorrevole. F E D C TÓPICO 2 | A GRAVURA COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO 31 FONTE: Disponível em: <http://artemagiatecnologia.blogspot.com/2007/11/histria-das-tcnicas- de-reproduo.html>. Acesso em: 22 mar. 2009. FIGURA 30 – DESENHO IMPRESSO EM PAPEL No século XV, ateliês de ourivesaria e de armaduras tinham como hábito imprimir manualmente os desenhos das jóias e brasões em papel para melhor visualização das imagens (veja imagem anterior). Desse hábito surgiu a gravura em metal, também conhecida por calcografia. Possivelmente, os primeiros artífices gravadores foram os ourives, cujos projetos não eram necessariamente artísticos, mas voltados à ornamentação. Na Itália e na Alemanha, Vasari e Finiguerra (1426-1464), detentores de uma tradição artesanal familiar, foram os descobridores da impressão extraída de uma placa de metal. A gravura em metal surgiu no mesmo período histórico que a xilogravura, popularizando-se no norte da Europa durante o século XV. O desenvolvimento dos processos gráficos levou a uma busca por imagens de maior qualidade e resistência às grandes tiragens e edições. Entretanto, perdia para a xilogravura em termos de popularidade. Dürer foi um artista do Renascimento que desenvolveu tanto a xilogravura quanto a gravura em metal, obtendo de ambas as técnicas resultados muito aproximados. Por possibilitar maiores recursos técnicos, tornou-se a preferida de desenhistas e pintores que podiam ser mais fiéis às pinturas nas reproduções que executavam. A gravura em metal tornou-se assim um veículo para a divulgação das pinturas dos grandes mestres. Rubens (1577-1640) foi um dos grandes pintores que utilizou a gravura para difundir as suas pinturas, exigindo o máximo da perfeição na reprodução dos seus trabalhos. Cerca de 779 placas de cobre foram gravadas e impressas, inclusive com cores. UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 32 Nos Países Baixos, diferente do que acontecia em outras regiões européias, a gravura viveu momentos bastante diferenciados no século XVII, tendo em Rembrandt um gravador excepcional, de quem falaremos mais adiante. A distinção a ser feita é nos modos como a gravura passou a se apresentar naquela região: com uma estética burguesa e protestante; com a técnica da água-forte; e com uma função social que estava desligada do livro. Na Itália, mais precisamente no século XVIII, em Veneza, com a prosperidade econômica ali vivenciada, a gravura evolui muito direcionada para reproduções de luxo, ilustrando livros na prosperidade das atividades editoriais. 7 A LITOGRAFIA Do grego lithos = pedra e graphein = escrita, tem como característica a sua superfície planográfica baseada no princípio da repulsão da água pela gordura e da gordura pela água, envolvendo a gravação de uma imagem através de material gorduroso. A superfície da matriz é, então, uma pedra calcária que não recebe interferências de sulcos ou marcas que são extraídas da superfície, como na xilogravura ou na gravura em metal, mas absorve em sua superfície material gorduroso com o qual o gravador produz a imagem. FONTE: Disponível em: <http://tipografos.net/tecnologias/litografia.jpg>. Acesso em: 15 abr. 2009. FIGURA 31 – PEDRA LITOGRÁFICA O processo foi inventado por Alois Senefelder e recebeu como primeiro nome poliautografia significando a produção de múltiplas cópias de manuscritos e desenhos originais. TÓPICO 2 | A GRAVURA COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO 33 Por volta de 1796, Senefelder estava pesquisando um meio de impressão para seus textos para teatro e partituras e acabou dando um salto nos processos de impressão. A descoberta favoreceu economicamente e agilizou a produção, difundindo-se rapidamente. A ação de desenhar/escrever sobre pedra já era conhecida em Nuremberg, Alemanha. A Senefelder coube a formulação dos princípios básicos da impressão a partir de textos encontrados de um sacerdote e professor bávaro que já pensava nessa pedra calcária como matriz para reprodução. No início do século XIX, a litografia foi amplamente utilizada na imprensa para a confecção de rótulos, documentos, cartazes, mapas, jornais. Torna-se um produto de consumo. Com ela, polularizou-se a coleção de estampas. Entre tantos artistas, Honnoré Daumier foi um litógrafo dos mais especializados. Produziu cerca de quatro mil litografias para jornais e revistas, abordando situações de forma crítica, muitas vezes irônica, contra a tirania e a hipocrisia nos acontecimentos da época. Paralelamente ao desenvolvimento e à aplicabilidade da litografia, ressurge a xilogravura em revistas de grande difusão e a gravura satírica, apresentando-se como formamais barata de reprodução, contrapondo-se à litografia e à gravura em metal, ambas de maior qualidade. Mas toda essa produção gráfica industrial passa a sofrer uma crise com o descobrimento e a difusão da fotografia e as técnicas que com ela surgiram. Os sistemas de reprodução fotomecânicos reproduzem com maior fidelidade as imagens sobre finas placas de zinco ou alumínio. As pedras litográficas tornam-se atrativas para os artistas. FONTE: Disponível em: <www.artic.edu/.../toulouse_lautrec/lagoulue.html>. Acesso em: 11 abr. 2009. FIGURA 32 – MOULIN ROUGE: LA GOULUE, 1891. TOULOUSE LAUTREC, LITOGRAFIA UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA 34 FONTE: Disponível em: <http://www.assemblee-nationale.fr/histoire/suffrage_universel/suffrage- referendum.asp#Daumier>. Acesso em: 11 abr. 2009. FIGURA 33 – AVIS AUX AMATEURS. HONORÉ DAUMIER. PARU DANS LE CHARIVARI DU 22 NOVEMBRE 1871 A litografia é planográfica: o desenho é feito através da gordura aplicada sobre a superfície da matriz, e não através de fendas e sulcos na matriz, como na xilogravura e na gravura em metal formando a imagem. IMPORTANT E 8 A SERIGRAFIA OU SILK SCREEN Segundo Catafal e Oliva (2003, p. 14), a serigrafia é “[...] uma modalidade de reprodução da obra artística que supõe o culminar da evolução da gravura”. Do grego sericos = seda e graphos = escrever, ou do inglês silk = seda, torna-se peça de impressão = screen. Recebeu este nome do inglês Anthony Velonis, caracteriza-se como um dos processos da gravura, determinado pela permeabilidade. Ou seja, serigrafia ou silk-screen é um processo de impressão no qual a tinta é vazada – pela pressão de um rodo ou puxador – através de uma tela preparada. A tela, normalmente de seda, náilon ou poliéster, é esticada em um bastidor de madeira, alumínio ou aço. TÓPICO 2 | A GRAVURA COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO 35 A “gravação” da tela se dá pelo processo de fotossensibilidade, cuja matriz é preparada com uma emulsão fotossensível, colocada sobre um fotolito, sendo este conjunto (matriz + fotolito) colocado, por sua vez, sobre uma mesa de luz. Os pontos escuros do fotolito correspondem aos locais que ficarão vazados na tela, permitindo a passagem da tinta pela trama do tecido, e os pontos claros (em que a luz passará pelo fotolito, atingindo a emulsão) são impermeabilizados pelo endurecimento da emulsão fotossensível que foi exposta à luz. Seu princípio está relacionado ao estêncil já utilizado em tempos remotos, no oriente, para a aplicação e padronagens em tecidos, móveis e paredes. Por estar muito próxima do mundo do consumo e da propaganda, a serigrafia foi até muito poco tempo considerada uma categoria menor entre as gravuras, na verdade, nem sequer era considerada como gravura, pois assim como a litografia ela não é atacada por incisões. O artista Andy Warhol, nos anos sessenta, passou a se valer do meio serigráfico para destacar sua produção motivada por conceitos da publicidade, reproduzindo, com visão crítica, temas encontrados no cotidiano: garrafas de coca-cola, nomes de destaque na imprensa da época etc. Essa abordagem artística de Warhol reforça, de certa maneira, a relação da gravura com a comunicação. FONTE: Disponível em: <http://gatosembotas.blogs.sapo.pt/13878.html>. Acesso em: 23 mar. 2009. FIGURA 34 – LATA SE SOPA CAMPBELL’S. ANDY WARHOL 36 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você viu: A gravura como meio de comunicação. A gravura como veículo de multiplicação e reprodução de imagens, de ideias e de conhecimento. As características da xilogravura; como signo do múltiplo e do utilitário. A xilogravura oriental. Os fatores que apontam o momento histórico favorável à difusão da xilogravura. Dürer e sua importância. A gravura em metal; suas características; os ateliês de ourivesaria. A litografia: suas características e sua rápida disseminação; o sistema de reprodução foto-mecânica. A serigrafia e suas características; Andy Warhol. 37 Caro acadêmico, para melhor fixar o conteúdo apresentado neste tópico, sugerimos que você resolva a seguinte atividade: Vimos que algumas características da xilogravura, da gravura em metal, da litografia e da serigrafia foram sendo introduzidas na comunicação humana. Com poucas palavras, destaque o que diferencia cada uma delas. AUTOATIVIDADE 38 39 TÓPICO 3 A GRAVURA COMO MEIO DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Para dar início a este Tópico quero me reportar a um texto que encontrei na internet, e que considero bastante relevante para entendermos a independência adotada pelos artistas que passaram a desenvolver sua arte através dos meios que a linguagem da Gravura oferece. Paiva Raposo escreve que: Vivemos num mundo de múltiplos, de que o objeto gravado ocupa um dos últimos lugares, pela sua insignificância. Os múltiplos, ao nível de outras formas de expressão, nomeadamente a literária, musical, fílmica, ultrapassam, em muito, qualquer tipo de eventual relevância que se quisesse atribuir ao múltiplo gravado. Aliás, o primeiro corte nesse cordão umbilical que historicamente ligou e liga a obra gravada ao múltiplo, verifica-se com o aparecimento e desenvolvimento técnico dos primeiros processos de reprodução fotográfica, nomeadamente de reprodução de obras plásticas originais. Progressivamente, ao longo do século XIX e XX, as novas tecnologias de reprodução de imagens foram retirando sentido à gravura de reprodução e progressivamente à própria razão de ser do múltiplo enquanto processo de multiplicação de imagens gravadas. Esse sem sentido da multiplicação da imagem gravada, que já não se justifica pela sua divulgação e, muito menos, por razões comerciais de redução de custos, tem como consequência criar um espaço de autonomia e de emancipação da imagem gravada, espaço em que, atualmente, se geram todo um conjunto de reflexões sobre o estatuto da gravura enquanto linguagem autônoma, portadora de uma identidade específica e suportada historicamente. FONTE: RAPOSO, Paiva. Ainda a Gravura: novas reflexões. In: Cadernos de Gravura - notas para um entendimento teórico da gravura. Disponível em: <http://cadernosdegravura.blogspot. com/>. Acesso em: 15 mar. 2005. 40 UNIDADE 1 | A GRAVURA E SUA HISTÓRIA Inúmeros são os artistas que depositaram energias na gravura e passaram a utilizá-la não apenas como uma possibilidade de divulgação de seu trabalho, mas como parte do processo criativo, como meio expressivo autônomo. Como é impossível abordarmos todos os artistas que se envolveram com a gravura, passaremos a citar e comentar alguns que têm importância fundamental. Já falamos de Dürer, indiscutivelmente excepcional em sua trajetória como gravador, levando a xilogravura e a gravura em metal a um nível de excelência, dominando como ninguém o buril, nas temáticas religiosas, figuras femininas e masculinas. Nos Países Baixos, durante o século XVII, período e região em que a gravura passa a ter uma função social, distanciada do livro, com uma estética burguesa e religiosa (Lutero e o Protestantismo), destacamos Rembrandt (1609- 1669) que tratou a sua gravura com muita pessoalidade e desenvoltura, adotando procedimentos com maior liberdade do que até então encontrada nos artistas. Podemos dizer que a gravava para si mesmo, permitia-se estudos de paisagens, retratos, cenas envolvidas em misteriosos claros e escuros com marcas de traços espontâneos em água-forte. Goya, no século XVIII, destaca-se como um dos maiores gravadores, e “[...] desenvolveu um estilo absolutamente próprio, que ao mesmo tempo refletia a alma apaixonada e a cultura de seu país”. Tinha como característica em suas gravuras a dramaticidade e o exagero, valendo-se dos valores tonais para expressar criticamente a situação política/religiosa vivida no período em que a Espanha estava mergulhada na Inquisição. (SENAC, 1999, p. 20). FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mestres_da_Gravura>. Acesso em: 16 abr. 2009. FIGURA 35
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