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LIGA ACADÊMICA DE CARDIOLOGIA CLÍNICA- LAAC SAMANTHA LEÃO F. LIMA 1 Estenose pulmonar- LAAC 1. Diagnóstico Slide 09: • EXAME FÍSICO Em geral, os pacientes apresentam características físicas e crescimento normal, mas é importante prestar atenção à presença de alterações, como fácies sindrômica, baixa estatura, surdez, retardo mental e outras que sugiram alguma síndrome genética ou congênita. A cianose pode estar presente nos recém-nascidos com EP crítica ou naqueles pacientes com EP acentuada. À inspeção do tórax, raramente se observa abaulamento precordial. Na palpação, encontram-se com frequência impulsões sistólicas do ventrículo direito na borda esternal direita alta e frêmito sistólico, localizado no segundo e no terceiro espaço intercostal esquerdo, com irradiação para fúrcula e pescoço. Na ausculta cardíaca encontra-se primeira bulha normal. A segunda bulha (B2) apresenta o componente pulmonar normal, diminuído, ou mesmo ausente, conforme o grau de obstrução valvar. O desdobramento da B2 constitui achado semiológico importante, pois a duração do desdobramento é proporcional ao grau de estenose, chegando em EP acentuada. Pode ser auscultada uma quarta bulha na borda esternal esquerda em casos de obstrução acentuada. Slide 10: • ELETROCARDIOGRAMA Os achados eletrocardiográficos podem ser normais em até 50% dos casos com obstrução discreta, mas havendo alterações, estas podem ser úteis na avaliação do grau de estenose. Em geral, o ritmo é sinusal e raras vezes encontram-se outros ritmos como taquicardia LIGA ACADÊMICA DE CARDIOLOGIA CLÍNICA- LAAC SAMANTHA LEÃO F. LIMA 2 supraventricular, ritmo juncional, ou fibrilação atrial. A onda P está aumentada em casos de estenose moderada e acentuada em razão da dilatação atrial direita, em especial em D2 e V1 (onda positiva). Na estenose discreta encontra-se um ligeiro desvio do eixo do QRS para a direita.Em casos de estenose pulmonar moderada, o eletrocardiograma (ECG) é normal em menos de 10% dos pacientes. RX DE TÓRAX; O achado mais comum (80 a 90%) é a proeminência do arco médio decorrente de dilatação pós- estenótica do tronco pulmonar, que se estende até a artéria pulmonar esquerda e alcança dimensões aneurismáticas, principalmente na EP moderada (Figura 29.3). O tamanho da área cardíaca encontra-se normal na maior parte dos casos, exceto na EP acentuada e crítica com falência ventricular e dilatação do ventrículo direito. A silhueta ventricular direita aparece arredondada e elevada. Figura 29.3 – Radiografia de tórax em incidência posteroanterior. Observam-se aumento discreto da área cardíaca e dilatação do tronco pulmonar. Slide 11: • ECOCARDIOGRAMA; A ecocardiografia transtorácica possibilita a avaliação anatomofuncional não invasiva da obstrução ao fluxo de saída do ventrículo direito com precisão, reduzindo de modo considerável a indicação de estudo hemodinâmico diagnóstico nesses casos. Com o advento da ecocardiografia fetal, tornou-se possível o diagnóstico pré-natal e o adequado planejamento terapêutico para o pós-natal, sendo particularmente relevante nos casos que necessitam de intervenção precoce em centros terciários de cardiologia pediátrica e cirurgia cardíaca pediátrica. Na estenose pulmonar valvar, a ecocardiografia bidimensional proporciona importantes informações quanto à morfologia da valva e sobre as consequências hemodinâmicas ao ventrículo direito e ao tronco pulmonar. Esse estudo compreende: • Observação da valva e de seu grau de estenose. LIGA ACADÊMICA DE CARDIOLOGIA CLÍNICA- LAAC SAMANTHA LEÃO F. LIMA 3 • Presença ou não de estenose infundibular funcional hipertrófica. • Redução da cavidade do ventrículo direito e da valva tricúspide. • Dilatação pós-estenótica das artérias pulmonares, em particular a esquerda. • Patência ou não da fossa oval ou presença de um defeito orgânico do septo atrial. Os cortes mais utilizados no estudo são: subcostal de quatro câmaras para a análise do septo interatrial (Figura 29.5, A); subcostal com inclinação (Figura 29.5, B), em que se observam a via de saída do ventrículo direito, a presença ou não de estenose hipertrófica funcional do infundíbulo estreitado na sístole e alargado na diástole, refazendo mais ou menos sua morfologia normal na diástole (Figura 29.4, C e D). A estimativa do gradiente pressórico máximo instantâneo pela valva pulmonar é o método mais útil clinicamente para quantificar a gravidade da estenose pulmonar em crianças. A gravidade da obstrução pode ser então classificada conforme o gradiente sistólico máximo calculado: • Abaixo de 16 mmHg: sem repercussão hemodinâmica. • De 17 a 39 mmHg: discreta. • De 40 a 60 mmHg: moderada. • Acima de 60 mmHg: significativa. Na avaliação de crianças com estenose pulmonar crítica, deve-se ter em mente que o gradiente pressórico depende do fluxo através da valva e por isso nem sempre é um real indicador da gravidade da estenose. Assim, bebês com estenose pulmonar crítica têm função ventricular direita pobre, baixo volume de ejeção ventricular e desvio atrial da direita para a esquerda. O baixo fluxo sistólico ventricular direito pode causar baixo pico de velocidade sistólica no tronco pulmonar, mesmo na presença de estenose valvar grave. De modo similar, se a persistência do canal arterial é ampla, a pressão no tronco pulmonar está elevada. Em casos como esses, o examinador deve confiar na informação combinada de ambos, a ecocardiografia bidimensional e o exame com Doppler, para avaliar a gravidade da estenose. LIGA ACADÊMICA DE CARDIOLOGIA CLÍNICA- LAAC SAMANTHA LEÃO F. LIMA 4 Slide 12: • CATETERISMO CARDÍACO O cateterismo cardíaco diagnóstico fica reservado aos pacientes com malformações associadas, em que os métodos não invasivos foram insuficientes para o esclarecimento da patologia. A confirmação dos achados ecocardiográficos por meio das medidas pressóricas e angiografias é necessária antes da realização ou contraindicação do tratamento percutâneo por cateter-balão. A manometria é realizada pelo recuo do cateter desde o tronco pulmonar até o átrio direito, sendo necessário definir especificamente o local da obstrução para optar pelo tipo de tratamento. O gradiente pode aparecer acima da valva, em nível valvar, subvalvar, ou intraventricular, podendo ser único ou múltiplo (Figura 29.6). A medida da pressão do ventrículo direito e sua relação com a pressão sistêmica constituem dados importantes para a estimativa da gravidade da obstrução. Slide 13: 2. Tratamento • Valvoplastia pulmonar percutânea A escolha do tratamento intervencionista baseia-se em avaliação ecocardiográfica prévia, que deve determinar morfologia valvar, diâmetro do anel pulmonar, localização da obstrução, presença de insuficiência valvar, tamanho e função do ventrículo direito e lesões associadas. Têm-se definindo o procedimento como o tratamento de escolha para essa patologia, definindo as seguintes indicações para o tratamento com balão da estenose pulmonar. Classe I • Estenose valvar com gradiente maior que 50 mmHg, independentemente dos sintomas. • EP crítica do recém-nascido. • Pacientes com dispneia aos esforços, angina, ou síncope e gradiente maior que 40 mmHg. • Pacientes com baixo débito cardíaco, independentemente do gradiente. LIGA ACADÊMICA DE CARDIOLOGIA CLÍNICA- LAAC SAMANTHA LEÃO F. LIMA 5 Classe IIa • Displasia valvar e hipoplasia discreta do anel ou da região supravalvar, com o objetivo de aliviar a obstrução e assim adiar ou evitar o tratamento cirúrgico. • Estenose pulmonar valvar com gradiente entre 40 e 49 mmHg. Classe IIb • Estenose pulmonar valvar com gradiente de 30 a 39 mmHg. Classe III • Estenose infundibular fixa ou supravalvar sem componente valvar. • Gradiente menor que 30 mmHg. TécnicaO balão escolhido deve ter diâmetro 30 a 40% maior que o anel pulmonar . Ocasionalmente, se faz necessária a realização de dilatações sucessivas com balões maiores, em especial em casos de estenose pulmonar crítica. O número de dilatações deve ser o suficiente para eliminar a imagem de “cintura” observada na radioscopia, tendo sempre o cuidado de manter a relação entre balão e anel adequada. No final do procedimento, repetem-se as manometrias para avaliar a presença e a localização de gradiente residual e a ventriculografia direita para avaliar o aparecimento de insuficiência pulmonar e tricúspide e espasmo infundibular. Nesse último caso, pode ser necessário o uso de betabloqueador intravenoso, de preferência metoprolol com manutenção ambulatorial durante dois meses, por via oral (VO) até regressão da hipertrofia infundibular. Com a escolha adequada dos pacientes e a utilização correta da técnica, a valvoplastia pulmonar tem resultados muito similares aos obtidos com a cirurgia, com as vantagens de ser menos invasiva, ter menores custos e permanência hospitalar mínima. • Tratamento cirúrgico LIGA ACADÊMICA DE CARDIOLOGIA CLÍNICA- LAAC SAMANTHA LEÃO F. LIMA 6 Indica-se a cirurgia apenas nos casos em que, por alterações anatômicas significativas, o tratamento percutâneo não foi satisfatório, ou nos casos em que exista obstrução subvalvar ou supravalvar associada que não ceda por via percutânea. O recém-nascido portador de EP crítica é ducto-dependente e se apresenta em geral cianótico, hipotenso e acidótico. Deve-se, portanto, iniciar imediatamente a administração de prostaglandina PGE1 e corrigir a hipotensão e a acidose. Assim que houver melhora clínica, o paciente é enviado à hemodinâmica para valvoplastia pulmonar com balão. O resultado pode ser transitório se o ventrículo direito for hipoplásico, muito hipertrofiado, ou se o anel pulmonar for pequeno ou tiver estenose supravalvar. Se imediatamente após a valvotomia houver boa evolução, a criança deve ser seguida clinicamente, pois podem aparecer gradientes sistólicos significativos decorrentes basicamente da falta de crescimento do anel valvar ou por displasia de folhetos. Essas alterações, se significativas, indicam reintervenção, a qual pode ser nova dilatação percutânea ou cirurgia. Na cirurgia, é necessária a ampliação da câmara de saída do ventrículo direito, do anel, do tronco e das artérias pulmonares. Em crianças maiores e nos adultos, a primeira opção continua sendo a valvoplastia percutânea se o paciente apresentar sintomas e se o ventrículo direito for hipertrófico e os gradientes significativos. A cirurgia fica reservada para os casos de banda anômala de ventrículo direito e nos casos em que juntamente com a estenose valvar grave há estenose infundibular ou supravalvar.