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Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital Autores: Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 4 de Agosto de 2020 1 Sumário Apresentação ...................................................................................................................................................... 2 O grande momento do nacionalismo imperial: entre Londres e Assunção .......................................................... 3 A Questão Christie .......................................................................................................................................... 3 A Guerra do Paraguai (1864-1870) ............................................................................................................. 8 A situação no Prata ..................................................................................................................................... 9 Da guerra ao travamento (1864-1867) ................................................................................................... 14 O avanço aliado e o fim de Solano López (1868-1870) ......................................................................... 25 O Prata do pós-guerra ................................................................................................................................. 27 A política externa brasileira no ocaso do Império ........................................................................................... 28 A crise do Segundo Reinado: as quatro questões ............................................................................................. 31 A questão da escravidão .............................................................................................................................. 33 A questão religiosa ....................................................................................................................................... 38 A questão militar ........................................................................................................................................... 39 A questão dinástica ....................................................................................................................................... 40 O fim do Império .............................................................................................................................................. 41 Esquema e detalhamento .................................................................................................................................. 45 Questões Comentadas ...................................................................................................................................... 70 Lista de Questões .............................................................................................................................................. 93 Gabarito ......................................................................................................................................................... 104 Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 2 APRESENTAÇÃO Caro aluno, seja bem-vindo à nossa segunda aula sobre o Segundo Reinado! Se na aula anterior nos concentramos em organizar como que o Segundo Reinado se estruturou e encontrou suas linhas definidoras, aqui o veremos em plena movimentação e contradição. Note bem o aluno que se trata de um momento muito delicado da vida brasileira, já que passaremos tanto pelo maior conflito armado da América do Sul – a Guerra do Paraguai (1864-1870) – quanto pela liquidação da escravidão no Brasil, para logo depois apontarmos para o período republicano brasileiro. Trata-se de um momento de grande amplitude na vida brasileira, em que questões centrais do primeiro século de independência são respondidas de alguma forma. Ainda que o examinador, na prova, não exija conhecimentos específicos sobre o período em tela, o aluno que conseguir organizar os principais pontos conseguirá depreender compreensões importantes para interpretar o início da República e os momentos anteriores ao Segundo Reinado. Entre tantos movimentos e possibilidades, avancemos do apogeu ao declínio definitivo da monarquia brasileira! Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 3 O GRANDE MOMENTO DO NACIONALISMO IMPERIAL: ENTRE LONDRES E ASSUNÇÃO Na década de 1860, o Império brasileiro enfrentou diversas situações internacionais que ajudaram em muito o fomento de uma posição nacionalista, com posições mais assertivas na sua condução internacional. Desde a vitória militar sobre Rosas e o deslocamento diplomático da Grã-Bretanha no Prata durante a década anterior, o Brasil conseguia colocar em movimento suas formulações domésticas de interesse nacional e de hegemonia no subsistema platino. Por sua vez, a situação internacional também criou um hiato muito favorável à nova posição brasileira. A ordem de Viena mostrava seu cansaço na Europa ao mesmo tempo que as atenções se estendiam sobre o Oriente. Uma vez derrotada a Restauração francesa e instituído o Segundo Império com Napoleão III, a Europa precisava reorganizar suas forças, baixando a pressão sobre a América. Com a Guerra da Crimeia entre 1853 e 1856, as potências europeias iam sendo exigidas em suas questões continentais, tornando-se patente a impossibilidade da manutenção do isolamento francês, mesmo com o retorno de um bonapartista. No plano americano, o expansionismo americano sofreu um forte revés doméstico por conta dos crudelíssimos cinco anos de Guerra de Secessão (1861-1865), consumindo todas as atenções do governo central americano para seu caos interno. Se os destinos da Europa e da América do Norte voltavam a ser decididos nos campos de batalha, o subsistema sul-americano ficava entregue às ações de seus atores regionais, com a importante diminuição da pressão internacional, ainda que isso não tenha se traduzido numa ausência total. Além disso, a realidade tecnológica da Guerra Civil Americana prenunciava uma alteração no modo de fazer guerra. Ao contrário do que seria esperado, o aumento da capacidade tecnológica e dos custos da guerra acenavam para a ampliação virtualmente infinita dos conflitos. As recentes doutrinas de guerra começavam a entender que a nova configuração das sociedades (pré) industriais geravam uma espécie de guerra total, afetando diretamente as populações civis, cada vez mais organizadas em cidades. A nova capacidade de arrastar a guerra defensiva deslocava a experiência bélica para lógicas muito diferentes das doutrinas clássicas. Neste contexto, as ações regionais expuseram o Império brasileiro à questões inéditas, exigindo respostas que apontariam para os destinos da própria monarquia. Comecemos pela grande contenda com a Grã- Bretanha neste momento histórico de nosso país. A Questão Christie William Dougal Christie foi enviado ao Rio de Janeiro como representante britânico junto ao Brasil em 1859. Adepto de métodos heterodoxos de diplomacia, Christie sempre foi conhecido na corte brasileira por suas ações destemperadas e suas quebras de protocolo sem objetivo pragmático mais claro. Entre folclore e incômodos, Christie era algo próximo de uma caricatura da prepotência britânica em tempos de Palmerston e Aberdeen. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 4 Em meados de 1861, Christie encontrou um bom mote para incomodar o governo brasileiro com suas ameaças. O cargueiro britânico Prince of Wales encalhara no extremosul brasileiro enquanto seguia para Buenos Aires com mercadorias. Em situação pouco clara, o navio foi saqueado por cidadãos brasileiros em meio a séries de negligências das autoridades locais brasileiras. No entanto, o que deveria ficar confinado a trocas de notas entre as chancelarias foi elevado por Christie a uma discussão sobre o estado civilizatório do Império brasileiro. Figura 1 - Gravura de William Dougal Christie Exigindo explicações e indenizações a favor da Coroa britânica, Christie passou a dar vazão para toda sua verve desrespeitosa contra o Estado brasileiro. A crise começava a se adensar de maneira perigosa sem que o representante britânico fizesse qualquer esforço para amenizá-la, muito pelo contrário, sempre atuou no sentido de exigir reparações e subserviência do Brasil, muito distante de qualquer diálogo de alto nível. Em 1862, cairia o gabinete conservador de Caxias para dar origem a um relativamente longo gabinete liberal, apesar de algumas substituições. Uma vez no poder, os liberais não estavam dispostos a ceder frente às afrontas de Christie, já que sempre criticaram as posições de Caxias frente ao descontrole do diplomata. Com as margens de manobra estreitadas pelos liberais, Christie não revisou suas posições e elevou a questão a um novo patamar em dezembro de 1862. Na noite de 5 de dezembro de 1862, três oficiais da marinha britânica (navio Fort), bêbados e paisanos, entraram pela noite carioca em arruaças e desacataram as autoridades policiais da capital brasileira. Naturalmente, foram presos pelas autoridades competentes, já que, desde a década de 1840, não existiam mais os critérios de extraterritorialidade que privilegiavam os cidadãos britânicos. Informado sobre a Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 5 situação, Christie passou a exigir uma ação do Marquês de Olinda, presidente do Conselho de Ministros, no sentido de destituir o chefe de polícia da capital, a desagravar os oficiais britânicos e, ainda, a pagar indenizações pelo caso do Prince of Wales. Animado por todo o histórico de disputas, Christie ainda emitiu um ultimato contra o Império brasileiro, sob ameaças de ação armada. Como o Marquês de Olinda não recuou frente ao ultimato, Christie deu ordens para que os navios britânicos agissem para bloquear a Baía da Guanabara, apreendendo cinco navios mercantes brasileiros. O estrangulamento do porto brasileiro e o risco militar contra a capital brasileira foram as medidas mais imediatas do britânico para fazer valer seu ultimato. Além disso, procurando arranhar o prestígio do Imperador, Christie se recusou a comparecer à festa de comemoração de aniversário do monarca brasileiro, que ocorreria nos dias seguintes. Ao final do ano de 1862 a população das grandes cidades brasileiras aderiu à coragem nacional contra a maior potência do mundo. As ruas do Rio de Janeiro celebraram a ação imperial de não se curvar ao ultimato de Christie. Com o bloqueio naval na capital, a situação poderia começar a representar delicadas perdas para a coroa brasileira, que optou por pagar, sob protestos, a indenização por conta do saque ao Prince of Wales, mas também exigiu a retirada de Christie do Rio de Janeiro em fevereiro de 1863. Completando o ímpeto nacionalista, o Império exigiria um pedido formal de desculpas de Londres pela ação do diplomata. Com o silêncio britânico, o governo brasileiro optou pela ruptura unilateral das relações diplomáticas com a Grã-Bretanha. O ato elevou em grande medida a estima da população brasileira para com o Imperador, que era ovacionado por onde quer que passasse. Nos bastidores, porém, três importantes lições eram aprendidas naquele momento. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 6 Figura 2 - D. Pedro II é aclamado pela ruptura dos laços diplomáticos com Londres. Primeira, a Marinha brasileira precisava de reforços urgentes, que começaram a ser empreendidos no mesmo ano. Desde o fortalecimento das escolas navais até a aquisição de novos navios de guerra, medidas de melhoria foram empreendidas pelo governo imperial para superar sua fragilidade militar. Ainda que não fosse capaz de projetar poder para além do subsistema platino, o reforço da Marinha imperial seria importante fator de dissuasão. Segundo, era o grande momento de acionar toda a diplomacia imperial para superar a situação de rompimento com a principal potência. A maior praça de crédito do mundo era Londres e o esforço militar brasileiro demandaria empréstimos internacionais; ou seja, era necessário um esforço diplomático para equacionar a solução. O bom trânsito internacional da monarquia brasileira foi acionado para que o rompimento diplomático com Londres não contaminasse nem o acesso a crédito nem a disposição europeia em mercar equipamentos militares com o Brasil para o esforço do rearmamento. A solução foi alcançada de maneira relativamente rápida e muito bem-sucedida, já que nem mesmo a praça financeira londrina se Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 7 fechou às demandas imperiais, conseguindo importantes empréstimos com os Rothschild para o novo esforço nacional de compra de equipamentos militares. Por fim, o ânimo nacionalista que invadiu a corte deslocou a percepção brasileira para um novo patamar. Antes de causar temor por uma guerra, a resistência aberta contra as investidas da maior potência mundial gerou um ânimo novo a favor do gabinete liberal. Depois de um início atabalhoado (com o primeiro gabinete Zacarias caindo após apenas três dias), os luzias conseguiam galvanizar importantes atores políticos e parte da população numa causa que resgatava orgulhos nacionais. Todo um aprendizado importante para o início e a condução da Guerra do Paraguai. As relações entre Londres e Rio de Janeiro só seriam retomadas em 23 de setembro de 1865, em Uruguaiana (RS). Na ocasião, o imperador se deslocara para o Rio Grande do Sul para acompanhar de perto a expulsão dos paraguaios do território brasileiro. O gabinete do Marques de Olinda já havia retomado negociações com o representante britânico em Buenos Aires, Edward Thornton. Sob influência da diplomacia monárquica da casa Habsburgo, a Rainha Vitória dera instruções para pedidos formais de desculpas ao monarca brasileiro e para reatar as relações. Como já estava deflagrada a Guerra do Paraguai, o governo brasileiro, por sua vez, recuou de qualquer pretensão de exigir reparações pecuniárias contra Londres; preferindo pôr fim à questão sem imobilizar recursos escassos numa outra contenda em meio à guerra. Figura 3 - Sir Edward Thornton, 2ª Conde de Cacilhas Reunidos Thornton e Pedro II, foram apresentados e aceitos os pedidos formais de desculpa da Rainha Vitória ao Imperador. Finda a expedição imperial para o Rio Grande do Sul, Thornton seguiu com a comitiva brasileira para o Rio de Janeiro e normalizou-se as relações entre os dois países. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 8 A Guerra do Paraguai (1864-1870) Apesar de nem sempre ser bem estudada e dimensionada, a Guerra do Paraguai concentra em si toda uma fase do Segundo Reinado. Durante seus seis anos de duração, foi a protagonista de praticamente todos os assuntos brasileiros, comprometendo vidas, recursos e governos. Para vocês, candidatos do CACD, a Guerra do Paraguai deveria ser uma preocupação a mais. Francisco Doratioto, recorrente membro da banca, é autor da grande viradahistoriográfica sobre os estudos acerca da guerra: seu livro, Maldita Guerra – nova história da Guerra do Paraguai1, é uma das mais autorizadas referências sobre o período. Além da evidente importância da guerra para a história brasileira – tanto pelo tamanho do conflito quanto pelas implicações no nosso processo histórico –, o estudo sobre a guerra foi ponto focal de diversas disputas ideológico-interpretativas. O revisionismo historiográfico do século XX esteve muito alinhado à contestação do sistema capitalista e às glórias militares, já que contestá-los seria uma forma de combater bases simbólicas das ditaduras latino-americanas da segunda metade do último século. Como consequência, criou-se um mito generalizado de que a Guerra do Paraguai foi uma ação imperialista e covarde dos aliados sob influência do grande capitalismo internacional. O Paraguai de Solano López, seu caudilho, foram incensados como valentes resistências contra o capitalismo em esforços legítimos de desenvolvimento autônomo2. O profundo trabalho documental de Doratioto feriu de morte muitas dessas construções teóricas – e nos baseamos no seu trabalho para redigir esta aula. Segundo ele, a guerra hegemônica brasileira contra o Paraguai nunca existiu de fato, já que a república guarani foi quem empreendeu uma guerra agressiva contra o Império e contra a Argentina. Além disto, o famoso desenvolvimento independentista paraguaio nunca foi de fato constatado; muito pelo contrário, acabou se provando um Estado patrimonial de ação predatória da família López contra o Tesouro Nacional. Por seu turno, os grandes interesses capitalistas também não se verificaram na pesquisa documental, já que a Grã-Bretanha não dispunha de relações oficiais com o Brasil antes da guerra e os documentos das chancelarias britânica, francesa e americana pregam por um neutralismo muito simpático à ação paraguaia. Percebe o tamanho da transformação historiográfica ocorrida? Perguntas sobre a Guerra do Paraguai no CACD sempre tendem a exigir do candidato o justo conhecimento sobre essa transformação no estado da arte, tanto pela importância do período quanto por contar com a presença do autor na banca do concurso. Feitas estas considerações de base, empreendamos agora a construção de um quadro geral sobre o que foi a Guerra do Paraguai. 1 DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, 617p. 2 Destaca-se no Brasil, dentro desta escola revisionista de cunho marxista dos anos 1960 e 70, o livro “Genocídio americano: a guerra do Paraguai” do jornalista Julio Jose Chiavenato, publicada originalmente em 1979. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 9 A situação no Prata Em 1862, a situação no Prata avançou para as condicionantes que criariam as engrenagens da guerra. No Brasil, como já foi dito, os liberais voltavam à presidência do Conselhos de Ministros dentro do sucesso da afirmação nacional na Questão Christie. A potência nacionalista brasileira se inflamava na certeza de que o interesse nacional passaria a ser respeitado e vocalizado de maneira inédita em nossa história quanto país até aquele momento. Na Argentina, o conflito interno entre federalistas e unitaristas chegava ao fim. A elite comercial de Buenos Aires, comandada por Bartolomé Mitre, levantara-se contra os federalistas, liderados por Urquiza, que tinham derrotado Rosas na década anterior. O jogo político argentino se dava, fundamentalmente, entre a proposta federalista e a proposta centralizadora de Buenos Aires. Os grandes produtores argentinos estavam localizados nas províncias mais distantes da capital, com especial destaque para Entre-Ríos e Corrientes, entre o Paraguai, Uruguai e Brasil. A preocupação central desses produtores estava na descentralização do poder contra Buenos Aires, dando-lhes maior poder de ação contra políticas comerciais excessivamente liberais e contra a centralização comercial no porto de Buenos Aires. Por sua vez, a elite portenha preferia uma solução política unitarista, fortalecendo a capacidade de Buenos Aires de concentrar todas as malhas comerciais e as grandes políticas públicas. Para essas elites, os principais interesses estavam em manter a capital forte, já que elas dominavam o comércio portuário argentino, conseguindo concentrar ganhos muito elevados sem propriamente aderir às cadeias produtivas. Figura 4 - Bartolomé Mitre (1821-1906) Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 10 A derrota de Rosas na década anterior não havia sido suficiente para eliminar a proposta unitarista portenha, que foi reavivada com a ascensão de Mitre na política nacional. A abertura comercial e a disposição para diálogos mais ativos com a região unia os interesses de Mitre àquelas dos liberais brasileiros; enquanto uma vitória dos federalistas de Urquiza, antigos aliados brasileiros, acabava por representar uma dificuldade a mais para o novo gabinete brasileiro. A centralidade comercial de Buenos Aires e o liberalismo econômico eram pontos de convergência importantes, principalmente porque a proposta federalista argentina previa uma maior proximidade com o porto de Montevidéu para enfraquecer a posição portenha. Em 1862, Mitre derrotou os federalistas tanto nas batalhas quanto nas urnas e consolidou a República Argentina, sendo seu primeiro presidente após a unificação com as províncias federalistas. Por sua vez, o Paraguai viu a morte de seu líder, Carlos Antonio López, em 1862. Desde que assumira a presidência paraguaia em 1844, Carlos Antonio López manteve o caudilhismo do país, mas passou a forcejar por sua modernização militar e orientou o Estado para algumas reformas. Ainda que ressentido pela falta de uma saída para o mar, o presidente paraguaio viu que a solução não passaria pelo isolamento absoluto dos anos anteriores de governo Francia. Se Francia sonhara com um desenvolvimento guarani por meio do isolacionismo, López viu no ambiente internacional um lugar para buscar os elementos que julgava necessários, mas não propriamente um espaço de inserção polivalente. Com o Estado detendo boa parte de todos os recursos do país e com instituições bastante frágeis, o Paraguai de López tinha uma capacidade de manobra bastante grande sob a vontade de seu ditador. Nesse sentido, o presidente paraguaio passou a concentrar esforços no rearmamento nacional e na expansão das forças armadas paraguaias. López tinha plena noção da fragilidade da posição de seu país, principalmente entre dois gigantes como Argentina e Brasil, com quem sequer tinha tratados definitivos sobre as fronteiras3. A superação do isolamento regional, portanto, deveria ser antecedido por uma minimização das assimetrias de força entre o Paraguai e seus vizinhos. Nesse sentido, o governo paraguaio começou a empreender esforços de aquisição de equipamentos ao mesmo tempo que construía séries de fortificações sob consultorias internacionais de europeus e de brasileiros. Preparando um importante esquema defensivo ao longo do rio Paraguai e dos difíceis terrenos pantanosos de suas fronteiras, a república guarani também passou a expandir seus efetivos militares, modernizando seus padrões de treinamento com a contratação de militares europeus. O forte controle do poder central sobre toda a economia redundou numa importante orientação militarista que transformou as capacidades militares paraguaias de maneira ímpar. Além disso, o isolacionismo cultural paraguaio facilitou a criação de uma potente propaganda doméstica de um nacionalismo aguerrido, segundo o qual o desenvolvimento nacional passaria pela superação das humilhações impostas pelos vizinhos. Em 1842, falecia CarlosAntonio López e surgia Francisco Solano López, seu filho. Em seu leito de morte, o velho caudilho orientou seu filho (e sucessor) a evitar a todo custo uma guerra contra o Império, porque isso poderia custar a própria existência paraguaia. Uma vez no poder, o jovem Solano López (então com 35 anos) manteve o sistema centralizador e personalista do pai, aprofundando o corte autoritário do regime. Por 3 Tampouco o tinha sobre as fronteiras com a Bolívia. No entanto, em 1854, López celebrou um acordo provisório com o Império sobre as fronteiras: ao mesmo tempo em que regulava algumas práticas comerciais e liberava a navegação brasileira pelo rio Paraguai, era reticente sobre marcos definitivos de fronteira. Na ocasião, o acordo tinha validade de dez anos, ao fim dos quais deveria ocorrer uma outra negociação lindeira. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 11 outro lado, a campanha de modernização e ampliação das forças militares foi aprofundada, já que Solano López tinha sido enviado pelo seu pai para a Europa para que comprasse equipamentos militares novos (instante em que conheceu a irlandesa e sua futura esposa Elisa Alicia Lynch na corte de Napoleão III em Paris). Portanto, o novo caudilho, apesar de jovem, conhecia bem a capacidade militar nova que se instalava no seu país. Figura 5 - Ditador paraguaio Francisco Solano López Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 12 Figura 6 - Elisa Alicia Lynch (1833-1886) aos 20 anos de idade, recém-chegada ao isolado Paraguai No entanto, Solano López era bem menos econômico do que seu pai na política platina. A vantagem material que o Paraguai estava construindo sobre seus vizinhos em relativo segredo dava rompantes de valentia ao jovem López. Com a vitória de Mitre na Argentina, a saída para o mar para o Paraguai jamais encontraria importante respaldo em Buenos Aires. Ou seja, os ressentidos federalistas argentinos poderiam ser importantes aliados nos planos regionais do Paraguai. Ao mesmo tempo, o alinhamento entre Mitre e o gabinete liberal brasileiro inspirava fortes desconfianças em Assunção. Por sua vez, o Uruguai vivia um momento de esgarçamento político importante sob o governo de Prudencio Berro. Desde 1860, estavam no poder os blancos, facção política muito relacionada a Oribe, que fora derrotado militarmente dez anos antes. Com orientação política de hostilidade ao Império e muito animado pelo nacionalismo caudilhista, os blancos olhavam com muitas reservas a vitória de Mitre porque o alinhamento entre Brasil e Argentina trazia difíceis lembranças para os herdeiros políticos de Oribe. No entanto, o independentismo blanco dialogava com facilidade com o Paraguai de Solano López, ambos em posição de distanciamento frente ao Império, além das possibilidades de entendimento sobre a saída para o mar. Ao mesmo tempo, Berro assumia posições protecionistas contra o comércio do Império brasileiro, dificultando a cadeia produtiva da província gaúcha com uma nova política tributária. Além disso, os descontentamentos dos federalistas argentinos poderiam ser galvanizados num eixo entre Assunção e Montevidéu, afinal, nenhuma das três partes desejava uma maior presença do Brasil na região nem um fortalecimento excessivo de Buenos Aires. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 13 Internamente, o Uruguai vivia o crescimento do descontentamento dos colorados do general Venancio Flores, paulatinamente mais dispostos a pegar em armas contra os excessos do governo blanco. No início de 1863, o general Flores partiu de Buenos Aires em direção ao Uruguai com apoio do governo Mitre: iniciava- se a guerra civil uruguaia. Dado o mal disfarçado apoio de Mitre aos colorados uruguaios, o governo de Berro procurou apoio com o Paraguai, que, sabidamente, vinha ampliando sua mobilização militar nos anos anteriores. Ciente do delicado equilíbrio platino, López acenou com um possível apoio ao governo uruguaio, mas se recusou a tomar parte prontamente em qualquer guerra. A ruptura uruguaia acabou sendo a senha para movimentar todo o equilíbrio de poder no Prata, uma vez que acionava as preferências nacionais na construção de um futuro para a região. López, enfim, tinha meios de alardear a força paraguaia, enquanto os federalistas argentinos de Urquiza tinham capacidade de contrapor-se novamente a Buenos Aires. No entanto, os avanços a favor de Berro foram mais tímidos do que aqueles que se aliaram ao general Flores. Os excessos do governo Berro atingiram súditos brasileiros. Com uma fronteira instável entre Uruguai e Brasil, sempre foi comum a passagem de brasileiros e uruguaios com seus rebanhos para um lado e outro, bem como havia importante presença de proprietários brasileiros. Havia registros e denúncias formais contra maus tratos e assassinatos praticados pelo governo blanco contra súditos brasileiros em território uruguaio, além da ação de agentes do governo uruguaio num ato de vilipêndio à bandeira imperial nas ruas de Montevidéu entre 1863 e 1864. O orgulho nacional brasileiro, inflado pela Questão Christie, exigia uma reparação uruguaia contra os agravos praticados pelos orientais contra o Império. Paralelamente, Argentina e Brasil já reconheciam certa inevitabilidade de uma intervenção sobre a Guerra Civil Uruguaia. No segundo semestre de 1863, foi enviada a Buenos Aires a Missão Loureiro, com o objetivo de afinar objetivos e compromissos dos dois países sobre a questão oriental. Para o Brasil, era fundamental que a Argentina não fosse a única aliada de Flores em caso de vitória e que ambos os vizinhos estivessem comprometidos com a manutenção das fronteiras e da independência uruguaia. Por sua vez, a Argentina não poderia abrir mais uma frente de combate por simples desentendimentos sobre os limites de ação quanto ao Império, já que também havia resistência por parte dos federalistas de Urquiza. Enquanto diminuíam as tensões entre Brasil e Argentina, a Guerra Civil Uruguaia entrava em 1864 em meio ao fim do mandato de Berro. Na impossibilidade de realizar-se eleições livres, deu-se posse a um governo provisório de Anastasio Aguirre; gerando um novo clima para as negociações. Já adiantado o entrosamento político com a Argentina, o governo brasileiro enviou José Antonio Saraiva ao Uruguai com ordens de desagravar o Império e exigir reparações, era a Missão Saraiva de 1864. Junto com Saraiva, despachou-se também a renovada e poderosa esquadra imperial sob o comando do almirante Tamandaré para que as palavras do diplomata fossem sublinhadas pelas armas. Saraiva trabalhou em conjunto com Thornton, diplomata britânico em Buenos Aires (mesmo com o rompimento formal entre Londres e Rio de Janeiro), e com Rufino de Elizalde, chanceler argentino. Os diplomatas conseguiram, nos primeiros movimentos, concessões interessantes por parte de Aguirre, que chegou a acenar a uma aceitação de compor um governo com os colorados de Flores, além de compromissos sobre o respeito aos súditos brasileiros. No entanto, a negociação começou a sofrer com o aumento de ruídos por várias partes. Tamandaré exigia uma humilhação uruguaia como ato de desagravo ao Império. Emissários de López chegaram a Montevidéu oferecendo mediação nas negociações e demonstrando grande interesse Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 14 pela permanência do governo blanco; no entanto, nem Argentina nem Brasil tinham observado de fato o poder militarque o Estado guarani acumulara nos anos anteriores. Além disso, a missão já extrapolara suas orientações originais, indo muito além da situação dos súditos brasileiros no Uruguai. Em julho de 1864, Aguirre enviou a López um alerta sobre o imperialismo na região, pedindo apoio de armas paraguaias porque o Paraguai poderia, em sua leitura, ser a próxima vítima do intervencionismo regional. Em agosto, após Aguirre ter voltado atrás no acordo que chegara a elaborar para encerrar a guerra civil, Saraiva emitiu o ultimato contra Montevidéu, colocando a força armada brasileira como a próxima medida contra Aguirre. Com a recusa de Aguirre, Brasil e Argentina delimitaram os seus termos de ação, comprometendo-se com a cooperação e com o respeito à independência uruguaia. O serviço diplomático paraguaio ainda ameaçou o Império com a possibilidade de uma guerra, apontando que a intervenção no Uruguai poderia desdobrar-se num conflito de proporções muito maiores. O gabinete liberal brasileiro, incentivado pelo apoio popular e na onda de otimismo contra Aguirre, não deu ouvidos e manteve o ultimato, que foi respondido com o rompimento de relações. Em outubro de 1864, Tamandaré assinava os termos de apoio a Flores e o Brasil entrava definitivamente ao lado dos colorados na Guerra Civil Uruguaia, marchando para território estrangeiro em plena colaboração com Flores, incluindo o apoio naval. Estava traçado o destino da região, a guerra já era uma realidade e os passos se acelerariam. Aguirre não resistiria até fevereiro de 1865 ao assédio de Flores e das forças brasileiras, fugindo de Montevidéu em meio a importantes deserções das forças oficiais a favor dos colorados. Antes do final daquele mês, o general Flores assumia a presidência do Uruguai e colocava fim à guerra civil. No entanto, os conflitos platinos só estavam começando. Da guerra ao travamento (1864-1867) Solano López daria um passo decisivo na direção da guerra em novembro de 1864, quando decidiu aprisionar o vapor brasileiro Marquês de Olinda, fazendo prisioneiro, inclusive, o novo presidente da província do Mato Grosso, que subia para Cuiabá pela navegação do rio Paraguai. Nos anos anteriores, López já tinha entrado no mapa dos estadistas do Império, ainda que não percebessem completamente as proporções das assimetrias estabelecidas com o rearmamento paraguaio. López não quis voltar à mesa de negociação sobre os limites territoriais com o Brasil, mesmo após vencida a moratória estabelecida nos acordos de 1854. Em caráter provisório, mantinha-se a livre navegação brasileira pelo rio Paraguai; mas a posição guarani frente à diplomacia imperial já não aceitava o estado de inferioridade sempre suposto pela atuação brasileira. Preocupados com a situação da província do Mato Grosso em caso de fechamento do rio Paraguai, os governantes brasileiros desenvolveram uma estratégia acanhada de reorganização das forças imperiais naquela província. No entanto, a “anemia estrutural” (termo utilizado por Doratioto) do Estado brasileiro Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 15 nos seus interiores impunha um ritmo altamente ineficiente aos arranjos em torno do Mato Grosso. Sabia- se que, fechada a navegação, qualquer ação brasileira em direção à província do oeste seria duramente retida pelas dificuldades de terreno; no entanto, pouco se aproveitou da possibilidade de navegação, mesmo com as desconfianças contra López. Figura 7 - Rios interiores a partir do estuário do Prata Por sua vez, o caudilho paraguaio se precipitou demais para dar uma resposta contra o “projeto hegemônico”. Mesmo com a sorte de Aguirre já estando praticamente definida, López insistiu em agilizar as represálias contra o Império ainda que seu exército não estivesse pronto para ações de projeção de poder. Ainda que o sistema defensivo paraguaio tivesse capacidades relevantes, as suas forças ainda esperavam a chegada de alguns novos equipamentos – incluindo navios de guerra – quando López precipitou a guerra. Com mais alguns meses, a capacidade bélica paraguaia teria sido muito incrementada. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 16 No início de dezembro de 1864, as tropas paraguaias cruzaram a fronteira brasileira na província do Mato Grosso, dando início à Guerra do Paraguai. Entre este mês e abril de 1865, as tropas paraguaias se aprofundaram no território brasileiro com séries de vitórias contra débeis posições brasileiras. Seja por impossibilidades materiais de combate, seja por ações de seus oficiais, a ação brasileira no Mato Grosso foi cercada por uma precariedade total de meios e de ações – salvo alguns atos de bravura extrema que, infelizmente, pouco colaboraram com o rumo da guerra. Acumulando sucessos em pontos como Miranda, Dourados e Corumbá, as tropas paraguaias se aprofundaram no Mato Grosso até a cidade de Coxim, seu ponto máximo. Duas foram as maiores respostas brasileiras. O gabinete organizou a chamada Coluna de São Paulo, enviando um grande contingente para o Mato Grosso; mas as condições de combate e as assimetrias entre as duas frentes redundaram num grande fracasso brasileiro. Grande volume de combatentes brasileiros da coluna foram vítimas da cólera e das péssimas condições de abastecimento do exército imperial. Outro esforço foi a ação local do Barão de Melgaço, que, concentrando recursos da província, conseguiu elaborar um relevante plano de defesa de Cuiabá, fazendo refluir a força invasora. Em outras palavras, as dificuldades administrativas do Império e as displicências políticas levaram ao abandono do Mato Grosso à sua própria sorte após o fracasso da coluna. Entre a facilidade de penetração e os poucos recursos para a manutenção das tropas, o governo paraguaio deixou um pequeno contingente no Mato Grosso e concentrou recursos no segundo movimento da guerra: Entre-Ríos e Rio Grande do Sul. Com a experiência no Mato Grosso, o Exército imperial se deparou com uma infausta realidade: a debilidade de suas forças. Ainda que a Marinha tenha recebido todo o investimento já discutido, o Exército continuou relegado a uma posição inferior, atraindo, mormente, desajustados sociais em seus quadros mais baixos, concentrando um estigma negativo. A aristocracia brasileira preferia os corpos da Guarda Nacional, cujo controle dependia das instâncias de negociação entre os poderes locais e o governo central. Com as dificuldades do Exército e uma posição reticente sobre a guerra por parte da Guarda Nacional, o governo imperial lançou o programa de Voluntários da Pátria. Insuflando certo patriotismo e exigindo esforços de adesão em várias províncias, o governo imperial tentava engrossar suas fileiras com um misto de voluntariado patriótico e exigências administrativas. Os tais voluntários também tinham a capacidade de indicar que outros se “voluntariassem” em seus lugares nos esforços de mobilização, bem como era comum que a maior pressão fosse feita em redutos eleitorais dos saquaremas, uma vez que o gabinete na ocasião era liberal. Enquanto isso, o Paraguai avançava entre anos de preparação relativamente sólida e os arroubos autoritários de Solano López. Animado com o sucesso da campanha contra o Mato Grosso, López planejou um ataque contra o Rio Grande do Sul, o que o colocaria, no mínimo, em posição de franca vantagem para renegociar com o Império. No entanto, a escolha de métodos para a ação assinalou o início de uma sucessão de erros de López. Contando com o risco de contaminação política de Entre-Ríos e não querendo comprometer esforços numa difícil transposição da fronteira via São Paulo e Paraná, o ditador paraguaio exigiu que Mitre permitisse a passagem de tropas paraguaias em solo argentinopara o ataque contra o Império. Com a recusa argentina, López não insistiu na via diplomática e entrou em guerra contra mais um vizinho, dessa vez ocupando Corrientes e Entre-Ríos em abril de 1865. A essa altura, duas importantes variáveis para o curso da guerra foram se tornando mais claras. Primeiro, as tropas argentinas e brasileiras estavam mal preparadas e defasadas em vários sentidos quando comparadas com as paraguaias. O avanço rápido dos paraguaios dava conta do tamanho da dificuldade de mobilização Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 17 militar em um tempo em que o equilíbrio tecnológico e as doutrinas de guerra davam franca vantagem para os defensores. Segundo, o Paraguai avançava debaixo da espada de López e sob o comando de um oficialato muito inexperiente. O despreparo ficou patente com a condução do paraguaio Robles, quando este conseguiu controlar a praça de Corrientes com seu exército. Robles seria visto várias vezes em estado de embriaguez por seus subordinados, enquanto obedecia cegamente às ordens vindas de Assunção. Entre a inexperiência e o autoritarismo, criou-se um sistema disfuncional de comando sobre as tropas paraguaias, no qual López despachava as ordens e condenava sumariamente aqueles que não as seguissem mesmo em situações adversas. Mais do que isso, com o avançar da guerra, os assessores de López passariam a evitar informá-lo sobre derrotas com o medo de serem mortos por atitudes derrotistas contra o Paraguai. Com a invasão de Corrientes e a eminente agressão paraguaia contra o Rio Grande do Sul, Brasil e Argentina convergiram para a necessidade de celebrar uma aliança contra a guerra expansionista de López. Com o sucesso da ação coordenada em favor dos colorados uruguaios no mesmo ano, o Uruguai de Flores também se juntaria à aliança. Em 1º de maio de 1865 era celebrado um acordo secreto entre os três países, instituindo uma aliança militar contra o Paraguai e delimitando tanto os limites de ação durante a guerra quanto os termos para o pós-guerra. Para a guerra, dava-se o comando-em-chefe das forças terrestres a Mitre, enquanto a Marinha imperial – peça maior da guerra naval dos aliados – ficaria sob comando do almirante Tamandaré. As três partes se comprometiam em não negociar em separado com o Paraguai, estando os três empenhados na deposição do governo López sem possibilidade de atenuantes. O financiamento do esforço de guerra partiria, majoritariamente, dos cofres do Império em empréstimos aos aliados, além da ação financeira e comercial do Barão de Mauá, principalmente no Uruguai. Embebidos na certeza de uma guerra rápida contra os paraguaios, os aliados já estabeleciam também os termos da vitória. D. Pedro II exigia pessoalmente a deposição e, no mínimo, o exílio de Solano López; enquanto o gabinete liberal acrescentava sua exigência sobre a manutenção da independência do Paraguai e do Uruguai ao final da guerra. Era a grande manobra da diplomacia imperial para congelar os poderes expansionistas da Argentina mesmo após uma grave agressão paraguaia, já que não interessava ao Brasil compartilhar uma fronteira ainda maior com a Argentina. O Paraguai se convertia em uma espécie de Estado tampão nas estratégias para o pós-guerra. Para tanto, o tratado da aliança já previa que as três partes e o próximo governo paraguaio aceitariam as demandas de demarcação de limites apresentadas pelo Império, pacificando a fronteira brasileira com a república guarani. Por seu turno, o governo Mitre conseguia que o Império o apoiasse no estabelecimento de novas fronteiras com o Paraguai, ressalvadas as zonas de disputa com a Bolívia sobre o chaco. Construía-se um consórcio internacional para pacificar as fronteiras paraguaias num momento precioso, já que o governo que resultasse da derrota de López não teria a menor condição de opor resistência contra os vitoriosos. Por outro lado, ainda que açodado, o arranjo político da Tríplice Aliança consagrava a fórmula básica para a diminuição das tensões entre Rio de Janeiro e Buenos Aires: ambos os lados tinham de acreditar na reciprocidade de intenções quanto à manutenção das fronteiras de Paraguai e Uruguai. Sendo parte do acordo, o Uruguai também conseguia que ambas as potências regionais reconhecessem sua soberania, afastando os fantasmas da anexação uma vez finda a guerra. O desespero de López para atacar o Rio Grande do Sul conseguiu, ao fim e ao cabo, fazer sublimar as muitas desconfianças entre brasileiros e argentinos a ponto de construírem uma aliança militar. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 18 No entanto, a Tríplice Aliança demoraria a dar frutos mais robustos. Invadida Corrientes, a Argentina dependia de uma delicada equação político-militar para dar combate aos invasores, já que se tratava de um território dominado pelos federalistas, ainda ressentidos pela derrota da Confederação frente a Buenos Aires. Urquiza era o grande comandante das milícias correntinas e sua autoridade tinha de ser observada por Mitre, mesmo depois do tratado de 1º de maio. Cooptado Urquiza para o lado dos aliados, surgiu uma nova dificuldade inesperada: os habitantes de Corrientes se recusavam a combater os paraguaios, tidos como aliados dos federalistas, que preferiam uma guerra contra o Império do que contra o Paraguai. Mesmo sob o comando de Urquiza, as tropas da região sofreram com uma epidemia de deserções, facilitando a penetração paraguaia até a fronteira com o Brasil. A impopularidade da guerra e um certo grau de improviso das ações tornavam várias posições aliadas insustentáveis, apesar de alguns êxitos militares. A aliança só tomaria melhor forma quando a Marinha imperial iniciasse seus movimentos, além da mobilização de outras tropas. Por sua vez, López iniciava uma campanha doméstica de vitimização do Paraguai, segundo a qual o país fora vítima de agressão internacional. Nas declarações do ditador paraguaio, seu país havia sido vítima de uma agressão internacional, tendo optado por revidar ataques brasileiros e argentinos, que já estariam sendo arquitetados desde a intervenção na Guerra Civil Uruguaia. Na versão de López sobre a guerra, o Paraguai era tragado para um conflito existencial contra os projetos de hegemonia dos vizinhos, restando apenas a guerra total. Isto é, o país teria de dedicar todos os recursos (humanos e econômicos) para sustentar a guerra, devendo os seus soldados lutarem até o fim ainda que em condições extremas. Os anos de isolamento cultural e político do Paraguai acabaram por azeitar os caminhos da propaganda lopista, que atingiu profundamente sua população, com especial destaque para os seus soldados. Além de toda a violência do aparato repressor do Estado paraguaio e os constantes fuzilamentos daqueles vistos por Solano López como traidores, os soldados guaranis demonstraram uma bravura inédita ao longo da guerra, rendendo-se em raras ocasiões, ainda que, principalmente a partir de 1867, convivessem com a fome e a escassez absoluta de meios para desenvolver as ações exigidas por López. Em 10 de junho de 1865, as tropas paraguaias avançaram sobre território brasileiro, invadindo São Borja no norte do Rio Grande do Sul. As tropas brasileiras na província padeciam de uma desorganização crônica, além de precárias linhas de abastecimento sob o comando do controverso general Canabarro, que se recusava a colocar suas tropas em combate, sequer para defender as cidades brasileiras. Até agosto, as tropas invasoras conseguiram percorrer a fronteira até o extremo sul, tomando à cidade de Uruguaiana, que, apesar de bem municiada, caiu sem resistência brasileira. Pelo lado brasileiro, houve dois pontos de inflexão importantes nessa fase daguerra. Com todas as dificuldades de abastecimento, o Exército imperial tinha caído numa perigosa rotina de realizar compras de mantimentos em condições de emergência, exaurindo as reservas destinadas para a guerra; ao mesmo tempo, o general Canabarro insistia em evitar embates, apostando na exaustão das linhas de suprimento dos paraguaios. Entre julho e agosto, o próprio Imperador decidiu ir para a província sulista a fim de averiguar as demoras nos preparativos da guerra e da rede logística necessária. Uma vez Pedro II presente, muitas das dificuldades que vinham sendo impostas ao cotidiano das tropas simplesmente sublimaram e o Exército saiu de um constante estado de emergência para conseguir articular uma ofensiva real e consistente. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 19 Paralelamente, em 11 de junho de 1865, a sorte da Marinha paraguaia foi decidida na Batalha Fluvial do Riachuelo. Na oportunidade, López ordenara um ataque surpresa contra a retaguarda da poderosa Marinha imperial para conseguir superar o isolamento ao qual o país foi submetido pelo bloqueio dos rios. Agindo sob constante medo de punições, o oficialato da Marinha do Paraguai desconsiderou alterações importantes nas condições de combate e empreendeu um ataque contra a esquadra brasileira sem articulação necessária e sem considerar as dificuldades de combater navios couraçados como os brasileiros. Sendo atacada por água e terra, a Marinha imperial conseguiu reverter a situação e inutilizou praticamente toda esquadra paraguaia, inclusive encalhando o Marquês de Olinda, que fora apreendido pelos paraguaios no ano anterior. Finda a batalha e destruídas as fortificações paraguaias ao sul de Humaitá, a Marinha brasileira conseguiu impor o bloqueio fluvial ao Paraguai, sufocando o comércio exterior e inviabilizando a chegada de novos materiais bélicos. O Império começava a reagir. Figura 8 - A Batalha do Riachuelo No final de agosto de 1865, com a presença de Pedro II como observador de suas tropas, findava a invasão paraguaia no Rio Grande do Sul, com a rendição dos seus sobreviventes em Uruguaiana. Dias depois, Edward Thornton procuraria Pedro II para apresentar os pedidos formais de desculpas da Coroa britânica pela Questão Christie, reatando as relações diplomáticas meses depois. Isto é, apesar de todos os contratempos vividos, ao final de agosto, o Império conseguira organizar um novo Exército com relativa eficiência e saíra Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 20 da delicada posição de rompimento com Londres, além de efetivar sua superioridade naval. Forças Armadas e diplomacia, enfim, saíam do seu imobilismo inicial e estreitavam as forças contra o Paraguai. Além disso, as tropas brasileiras marchavam com ânimo redobrado, já que voltava à frente de batalha o general Osório, figura com trânsito muito melhor do que Urquiza ou Mitre. Finalmente, o Império caminhava rumo a Assunção. Figura 9 - General Osório Apesar de todas as dificuldades de organização do Exército argentino em Corrientes, as posições paraguaias na Argentina se tornaram insustentáveis em novembro de 1865. Após vários desacertos entre o oficialato paraguaio e López, a situação ficaria ainda pior, forçando a retirada das tropas paraguaias de volta para seu território nacional. Começava, então, o grande martírio dos aliados: a guerra de posições. Com o refluxo paraguaio e a nova fase da guerra, Urquiza e suas tropas restantes se retiraram discretamente do esforço de guerra argentino. Urquiza, que fora um dos grandes mercadores que abasteceram as tropas aliadas durante a invasão paraguaia, refugiava-se em seus ganhos astronômicos enquanto a população da Argentina federalista assumia de vez seu ódio contra a guerra. Ninguém mais de Entre-Ríos e de Corrientes aceitaria uma guerra ao lado dos brasileiros e contra os paraguaios. Paralelamente, o novo regime uruguaio também começaria a perder apoio popular, demandando mais atenção doméstica do que um esforço de guerra de porte. Com o avanço da guerra para dentro do território paraguaio, a diplomacia brasileira pelo mundo acionou sua rede de importante capilaridade. Ao contrário do isolacionista Paraguai, o Império conseguia dialogar com diferentes governos, conseguindo convencê-los a manter a neutralidade frente à guerra. Com a garantia de neutralidade, apesar de haver relevantes simpatias pelos paraguaios nos Estados Unidos, na França e na Grã- Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 21 Bretanha, o governo imperial conseguia consolidar a assimetria de condições conseguida em novembro de 1865. O golpe final contra Solano López, cuja deposição era exigência de Pedro II, ocorreria em franca vantagem para os aliados e sem socorro estrangeiro a Assunção. No entanto, a realidade do teatro de guerra impunha um travamento grave às ações. Os anos de isolamento paraguaio deram poucas chances para que os vizinhos conhecessem a geografia guarani, que é dominada, em suas fronteiras, por áreas alagadiças e acidentes geográficos severos. Ainda que se conhecesse o curso do rio Paraguai, não se tinha real noção das rotas e dos meios de empreender combates de agressão no terreno paraguaio. Isto é, o desembarque das tropas, apesar de toda superioridade e do apoio da Marinha imperial, ocorria em severa escuridão de informações confiáveis. Os chefes militares aliados teriam de avançar no escuro contra um inimigo em posição defensiva e embrutecido ao extremo. Os aliados iniciaram o ano de 1866 cientes de que o passo decisivo para se tomar Assunção seria a queda da fortaleza de Humaitá, epicentro do sistema defensivo paraguaio. Uma vez vencido o desembarque e tomada Tuiuti, os aliados conseguiram consolidar sua entrada nas fronteiras inimigas, mas também ficaram em situação delicada. Ainda que tenham imposto pesadas derrotas aos paraguaios quando estes tentaram atacar os acampamentos aliados, as tropas não conseguiam avançar por conta das dificuldades de terreno, desgastando os governos frente às opiniões públicas e despendendo de importantes recursos dos tesouros, além de cansar as tropas em questões típicas do ócio em meio à mobilização. Travada a guerra de posições com ganhos modestos de terreno, dois eventos importantes sinalizaram nova dinâmica para a guerra. Em setembro de 1866, López convidou o comando aliado para uma reunião para negociar os termos da paz, mas com vistas a fraturar a aliança. Os generais brasileiros, seguindo a ordem do Imperador de não negociar com López, se recusaram ao encontro; Flores deixou a reunião logo em seu início; e Mitre, comandante-em-chefe dos aliados, permaneceu no encontro enquanto López buscava persuadi-lo por um rompimento com o Império. Ainda que inútil, a reunião voltou a adensar nuvens de desconfiança entre Argentina e Brasil, mesmo que de ambos os lados houvesse genuína vontade de fazer prosperar a aliança e de derrotar Solano López. O segundo evento se daria alguns dias depois do encontro. Desconhecendo os novos cuidados defensivos paraguaios – possibilitados exatamente pelo tempo de inação aliada –, as tropas aliadas avançaram contra o forte de Curupaiti, que havia se transformado em um complexo de trincheiras e de baterias de artilharia de difícil acesso. Finalmente, os chefes militares dos exércitos aliados convenceram o almirante Tamandaré a autorizar a subida da esquadra imperial pelo rio Paraguai, afim de apoiar a ação das tropas terrestres. Até àquela altura, travava-se forte debate sobre o papel da Marinha imperial na guerra, tudo em clima de desconfiançade ambos os lados. Mitre e setores do comando (e da política) brasileiro insistiam que as belonaves imperiais deveriam subir pelo rio Paraguai e ultrapassar a posição de Humaitá. Uma vez conquistada a posição acima, as comunicações e as linhas de abastecimento estariam cortadas, fazendo definhar o sistema defensivo paraguaio. Além disso, o canhoneio da esquadra deveria arrasar parte importante das fortalezas e das baterias inimigas, evitando perdas terrestres. Tamandaré, cujo comando foi alvo de críticas por várias figuras desde o início da guerra, insistia em pensar na conservação da esquadra imperial. Para o almirante, a vitória aliada era tão eminente que já conviria planejar o pós-guerra, para o qual era fundamental a projeção de poder naval do Brasil. No pensamento de Tamandaré, a insistência de Mitre Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 22 no emprego da Marinha imperial escondia uma vontade de arruinar as belonaves, já que eram muitas as dificuldades logísticas da operação, podendo haver grandes baixas para a Marinha brasileira. Na ação contra Curupaiti, em setembro de 1866, o canhoneio da Marinha sobre as fortificações se revelou pouco efetivo e as animosidades dentro dos corpos de exército aliados foi desdobrado numa crítica desarticulação de comandos. Com comandos enfraquecidos e um avanço desarticulado, as tropas aliadas sofreram importante derrota frente às fortalezas paraguaias sem conseguir ameaçar de fato as posições de Humaitá. Retomadas as posições originais, era patente o cansaço do esforço de guerra, que fora projetado para ser breve. As condições sanitárias e alimentícias das tropas sempre foram muito precárias dos dois lados das linhas inimigas. A cólera e as intoxicações alimentares eram praxe das tropas e vitimavam mais combates do que o engajamento militar em si. Com o travamento da guerra, novos voluntários escasseavam e as perseguições políticas para compor quadro de conscritos também mostravam seu cansaço. O Império começava a incentivar o alistamento de escravos em troca de indenizações e de alforrias, mandando homens despreparados para o teatro de guerra. A Argentina, por sua vez, via a exaustão de suas reservas financeiras, solicitando novo empréstimo ao Império, que, por sua vez, recorreu às praças internacionais e ao seu próprio tesouro para financiar a aliança. O Uruguai ameaçava a vacilar para o abismo de nova guerra civil, forçando a retirada de Flores para Montevidéu logo depois da derrota em Curupaiti. Do lado paraguaio, o horror se multiplicava com soldados mal fardados e famélicos protagonizando cenas mortificantes. Ao mesmo tempo em que combatiam com um fervor ímpar (além da obediência cega a López), os paraguaios eram capazes de saquear cadáveres em campos de batalha para conseguir roupas e algum alimento. A guerra assumia uma face infinita de horror. O gabinete liberal de Zacarias de Góes sinalizou que sentiu o golpe da grande derrota de Curupaiti. Ainda sob o espírito da Conciliação, fez um movimento político certeiro: nomearia o conservador Marquês de Caxias (futuro Duque) para ser o comandante brasileiro e afastaria Tamandaré da esquadra, nomeando o Visconde de Inhaúma. Com o movimento, o gabinete liberal conseguiria dividir a responsabilidade de uma guerra extremamente impopular com os conservadores, além de aplicar novo ânimo no teatro de operações. Durante quase um ano, Caxias trabalhou para unificar os comandos dos Exércitos brasileiros, além de trabalhar com Inhaúma num plano para atingir Humaitá o quanto antes. Paralelamente, o governo central argentino sofreria derrotas militares para os federalistas – agora sob liderança de Felipe Varela –, exigindo a retirada de Mitre do front, transmitindo o comando-em-chefe para Caxias. Com plenos poderes sobre a tropa, Caxias aprofunda sua reorganização, ainda que enfrentando uma severa epidemia de cólera nos acampamentos aliados. Enquanto a isolada província de Mato Grosso ia se recuperando no primeiro semestre de 1867 (chegando à desastrosa Retirada da Laguna4), as tropas no Paraguai só voltariam a movimentar-se no segundo semestre daquele ano. Caxias decidira-se por procurar alguma manobra de flanco contra o sistema de Humaitá, concentrando as tropas para forçar a passagem. Com o retorno de Mitre ao teatro de operações, retomava- se o debate sobre o emprego da Marinha imperial contra Humaitá. Mitre insistia na tese de ultrapassagem 4 Na ocasião, a coluna paulista que partira em 1864 em socorro ao Mato Grosso chegou a invadir o território paraguaio em alguns quilômetros. Apesar de terem certo objetivo de fustigar Assunção, as tropas brasileiras sofreram importantes reveses na incursão, sendo obrigada a retirar-se às pressas para território brasileiro. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 23 de Humaitá a qualquer custo, enquanto o comando brasileiro lhe respondia que os termos do tratado de 1865 não lhe davam poderes sobre as belonaves brasileiras. Caxias e Inhaúma optaram por uma solução intermediária, forçando uma passagem da esquadra para uma posição entre Humaitá (mais ao norte) e Curupaiti, ao mesmo tempo em que as tropas conseguiram impor um cerco por terra ao sistema paraguaio. Ainda que o canhoneio tenha dado resultados tímidos, a estratégia de cerco enfraqueceu as posições paraguaias de maneira importante, sem que as ações de López conseguissem romper as posições aliadas. Até o fim de 1867, a diplomacia brasileira teve de esgrimir seus melhores argumentos sobre o direito sobre a guerra, porque Estados Unidos e Reino Unido acenaram com ofertas de mediação. O desgaste por uma guerra tão longa colocava a diplomacia em posição delicada, optando por sua tática de dissuasão pelo prolongamento dos prazos até o esvaziamento da questão. No campo de batalha, uma nova configuração se firmaria ao final de 1857: com a morte de Marcos Paz, vice-presidente argentino, em Buenos Aires, Mitre foi obrigado a retornar em definitivo para a capital. Ou seja, Caxias teria poder total sobre as tropas. Era o momento de romper com o imobilismo da guerra de posições. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 24 Figura 10 - Demonstração da localização estratégica do Forte de Humaitá em um ponto chave do Rio Paraguai Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 25 O avanço aliado e o fim de Solano López (1868-1870) O ano de 1868 iniciaria com um dos lances mais esperados da guerra: a Marinha imperial, enfim, subiria o rio Paraguai e ultrapassaria a posição de Humaitá, isolando os pontos fundamentais da defesa inimiga. Com Assunção desprotegida e sob alcance das belonaves brasileiras, López transferiu a capital para Luque. Na eminência do desastre militar completo, Solano López iniciou uma campanha desesperada com suas forças exaustas, exigindo esforços ímpares da população e de todo aparato burocrático-militar paraguaio. A loucura de López intensificou as perseguições políticas e os fuzilamentos ao mesmo tempo que lançou seus soldados famélicos em missões suicidas para tomar a esquadra imperial. Se, por um lado, a guerra parecia ter um fim eminente; por outro, o custo de uma guerra total começava a amargas os ânimos dos aliados. E o gabinete Zacarias se desgastava com uma velocidade impressionante dentro do governo. Já contavam quase dois anos do envio de Caxias para o comando dos exércitos aliados, quando se achava que apenas alguns reforços seriamsuficientes para derrotar López. O imobilismo generalizado e os custos importantes da guerra faziam com que os liberais tentassem empurrar para o conservador Caxias a responsabilidade do cansaço do esforço de guerra. A crise se avolumava dentro do Império à medida que as campanhas de alistamento enfrentavam desconfianças por parte da população brasileira, além do cansaço do orçamento público. A promessa de uma liquidação rápida da guerra feita por Caxias em 1866, por sua vez, parecia longe de se concretizar. Em julho de 1868, a queda do gabinete liberal parecia irreversível por conta dos danos políticos de uma guerra impopular sem grandes lances que justificassem qualquer ânimo. Zacarias nem podia intensificar as ações a favor da guerra, como não podia ir contra a disposição do Imperador de derrotar completamente Solano López. Preso num paradoxo, o gabinete Zacarias estava condenado à queda, mas nem queria Pedro II demiti-lo propriamente, nem podiam os liberais deixar o poder como uma baixa desonrosa. Complicando ainda mais a posição liberal, Caxias chegou a apresentar um pedido formal de demissão, dando como justificativa a desconfiança do Conselho de Ministros contra o seu trabalho. Sendo dissuadido por conservadores e por parte do gabinete, Caxias permanecia à frente das tropas, mas já com um trunfo político fundamental contra Zacarias de Góes. A solução apareceu em meio a uma crise política por conta da nomeação de um novo senador, quando Pedro II optou por um nome conservador advindo da lista tríplice. Alegando um desprestígio e uma afronta política, Zacarias e todo o gabinete liberal pediriam demissão. Neste ponto, ocorria uma inflexão importante nos rumos políticos do país. A fórmula da Conciliação (que perdurara por quase vinte anos) mostrava seu cansaço definitivo. Ao mesmo tempo, os liberais decaídos com a crise, como veremos mais adiante, se rearranjaram num grupo radical, que daria embocadura a contestações importantes contra a monarquia. A guerra atingia a estrutura política do Império, ainda que este estivesse em vantagem nos campos de batalha. Ironicamente, dias após a queda de Zacarias, as forças aliadas conseguiram tomar Humaitá, posição que já havia sido enfraquecida pelo próprio Solano López em manobras de retaguarda. Ao final de julho de 1868, os conservadores voltaram ao poder no Rio de Janeiro e um conservador conseguia uma das grandes vitórias da guerra no Paraguai. Com maior facilidade política, Caxias acenava para o Ministério da Guerra brasileiro com a possibilidade de encerrar a guerra, já que não havia mais possibilidade de agressão paraguaia, considerada saldadas todas as afrontas cometidas por López. Num lance ímpar de personalismo, o discreto Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 26 Pedro II ordenou que fosse mantida a guerra: Solano López tinha de ser apeado do poder vivo ou morto, e esta era uma ordem do Imperador! Os líderes aliados, no entanto, sabiam que a guerra seria reduzida a pequenas batalhas com grandes riscos, despendendo de homens e recursos já sem motivos que justificassem qualquer morticínio. Neste contexto, o general argentino na frente de batalha respondeu que as tropas argentinas já não responderiam mais a Caxias, já que Buenos Aires não empenharia vidas numa guerra esvaziada de sentido. O Império, por sua vez, considerou rompida a aliança de 1º de maio de 1865; avançando sozinho para derrubar López. Ainda que, em outubro, argentinos e uruguaios tenham concordado em seguir na guerra, estava oficialmente extinto o cargo de comandante-em-chefe e os três exércitos apenas fariam ações coordenadas, mas já não conjuntas. O final da guerra, portanto, estava, mais do que nunca, a cargo do Brasil. Em dezembro de 1868, as tropas imperiais travaram combates absolutamente decisivos contra os paraguaios (foi a chamada “Dezembrada”), aniquilando qualquer possibilidade de surpresa mesmo no perigoso Chaco. López estava sem capacidade alguma de resistência frontal, chegando a fugir de seu quartel-general à vista dos comandantes brasileiros. Sem esquema fortificado e sem tropas, o Paraguai já estava completamente vencido, ocorrendo a ocupação de Assunção em 1º de janeiro de 1869 pelas tropas imperiais. Consolidada a posição brasileira na capital paraguaia e verificada a absoluta falta de condição paraguaia de manter uma luta real contra as forças inimigas (pouco tempo depois, López ainda perderia sua fundição de material bélico, única indústria paraguaia), Caxias comunica abertamente que dá por encerrada a guerra, mesmo sem a captura de López. Com a saúde combalida e convicto de que nada justificaria empenhar mais esforços, Caxias se retira do Paraguai antes do final de janeiro e sem receber nenhuma autorização para tal. Decidido a encerrar o conflito, Caxias deslocou-se para Montevidéu, mas só em março teria seu pedido de demissão aceito pelo governo brasileiro. Uma vez no Rio de Janeiro, Caxias chega de maneira discreta, mas, ainda assim, é condecorado pelo Imperador, recebendo o título de duque, o mais alto da nobreza brasileira, que jamais fora nem voltaria a ser concedido. Ainda que tendo recebido todas as honrarias, Duque de Caxias não foi ouvido pelo Imperador, que nomeou o Conde d’Eu, seu genro, para o comando-em-chefe das forças brasileiras no Paraguai. Mais uma vez, o Imperador exigia a queda de Solano López. A chegada do conde no Paraguai foi seguida por uma série de avanços contra as últimas posições paraguaias, ocupando cidades e perseguindo as constantes retiradas de López. Ao mesmo tempo, o desgaste das tropas e a lassidão do novo comandante abriram as portas para gravíssimos excessos contra prisioneiros de guerra. Ainda que sob escaramuças entre os comandos brasileiro e argentino, constituiu-se um governo provisório no Paraguai, mas as tentativas de reorganização do Estado em meio à guerra foram eivadas por corrupção e desorganização de um país que jamais tivera instituições sólidas. Em 16 de agosto de 1869, ocorreu a última grande batalha da Guerra do Paraguai, a batalha de Acosta-Ñu, quando López já empregava velhos e crianças na frente de combate. Mesmo sofrendo de paranoias e assassinando boa parte daqueles que lhe cercavam, Solano López conseguiu arrastar sua fuga até 1º de março de 1870, quando é morto na batalha de Cerro Corá. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 27 Figura 11 - Chico Diabo atravessando com uma lança Solano López (Semana Illustrada nº 485, 27/03/1870). O Prata do pós-guerra Morto López, era a hora de negociar a paz, já que acabava a última exigência de Pedro II. O governo provisório paraguaio aceitava as condições impostas pelos aliados, que, por sua vez, seguiam o rito e as condições fundadas no Tratado da Tríplice Aliança cinco anos antes. Entre julho e novembro de 1870, o Paraguai viveria a eleição de sua Assembleia Nacional e a promulgação de sua primeira Constituição sob a tutela dos governos aliados, ainda elegendo Cirilo Rivarola como presidente. Em 1871, aliados e paraguaios negociavam os termos finais de paz, quando Brasil (representado pelo Barão de Cotegipe) e Argentina (Manuel Quintana) Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 28 se desentenderam sobre os termos de paz. Com a retirada de Quintana para Buenos Aires, Cotegipe sustenta unilateralmente as negociações e, em janeiro de 1872, celebra um acordo de paz, amizade, navegação e limites com o Paraguai (Tratado Loizaga-Cotegipe), rompendo explicitamente os termos acordados em 1865. Com a traição de Cotegipe aos termos da aliança,a Argentina empreendeu forte reação, inclusive não reconhecendo os novos limites do Paraguai. Entre 1872 e 1876, as relações entre Brasil e Argentina passariam por grandes avanços e retrocessos, tendo como ponto focal a questão paraguaia. Os representantes brasileiros em Assunção, lastreados pela presença das tropas, tinham grande influência sobre o governo paraguaio, fazendo malograr as iniciativas argentinas de negociar termos de paz em separado com o Paraguai. Entre pressões sobre o parlamento paraguaio para não reconhecer tratados e tentativa de golpe, os esforços argentinos só estabilizariam em 1876, quando Irigoyen e Machaín celebraram um acordo guarani-argentino, estabelecendo a paz definitiva e as linhas fundamentais dos limites. Não por acaso, a retirada das tropas brasileiras do Paraguai só iniciaria em 1º de maio de 1876, quando a questão com a Argentina já estava solucionada. Onze anos após a constituição da Tríplice Aliança, o Império começava sua política de distensão no Prata e a Guerra do Paraguai tinha seus derradeiros ecos. A questão paraguaia seria sepultada definitivamente apenas em 30 de julho de 1877, ocasião em que foi celebrado o Protocolo de Montevidéu. O protocolo definia que os três aliados de 1865 concorreriam para garantir ao Paraguai independência, soberania e integridade territorial no prazo de cinco anos. Após quase uma década de escaramuças mal disfarçadas entre Rio de Janeiro e Buenos Aires, a guerra chegava a um bom termo no plano político. Porque, financeiramente, o esforço de guerra foi seguido por um calote uruguaio contra o Império, levando o Barão de Mauá à ruína sem que nada fosse feito para socorrer aquele que fora peça importante na projeção de poder brasileira no Prata. As dívidas paraguaias também passaram por um calote inevitável, com o Barão de Cotegipe, chanceler conservador em 1886, reconhecendo a absoluta incapacidade paraguaia de saldar qualquer compensação. Com os cofres exauridos e aprisionado por contradições domésticas, o Império mergulhava em sua fase de distensão no Prata, abandonando qualquer possível posição de imperialismo brasileiro. A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO OCASO DO IMPÉRIO Finda a Guerra do Paraguai em 1870, o governo brasileiro podia voltar a desempenhar uma política externa com maior desenvoltura, sem a mácula permanente de uma guerra assimétrica contra um vizinho. Nos vinte anos finais da monarquia, o Brasil passou por algumas modulações de seus temas anteriores. Entre perdas de potência e algumas revisões, os últimos anos do Império apresentaram alguns pontos de política externa que merecem ser objeto de estudo. Sem as demonstrações de força que seriam de se esperar de um “imperialismo brasileiro”, o governo brasileiro entrou em fase de distensão e de reativação pacífica de sua política externa. Superadas as questões com Estados Unidos e Reino Unido, o país voltava a integrar-se ao centro do sistema capitalista dentro de suas condições de periferia. Em meio à distensão política regional, o Brasil arrefeceu seu ânimo de normalização de suas fronteiras após a guerra. Na década de 1870, o Senado colombiano rejeitaria o tratado Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 29 firmado em 1853 e duas negociações lindeiras com a Bolívia fracassariam, bem como emperrariam as negociações na região das Guianas. Criava-se um novo sentimento de necessidade de relativizar os princípios férreos surgidos ao longo das duas primeiras décadas do reinado de Pedro II, o que incluía uma nova abordagem sobre a arbitragem internacional. No entanto, era preservada a tônica fundamental das décadas anteriores, mesmo após a ruína da Conciliação, colocando a política externa, na grande maioria dos casos, muito acima das divergências partidárias. Com importante protagonismo do Visconde de Rio Branco, as relações com a Argentina, entre avanços e contrações, conseguiram solidificar pontos importantes mesmo após o arrefecimento geral da política sul- americana. No período, foi gestada a resolução da questão de Palmas entre os dois países, cujo resultado só seria alcançado na República (1895), com vitória brasileira sob arbitragem internacional. Para o Visconde, mesmo sob os litígios lindeiros, ambos os países só conseguiriam alguma estabilidade sobre a paz caso fossem ampliados os laços de interdependência e cooperação, com importante destaque ao comércio. De lado a lado, importantes lideranças políticas atuaram para que as relações bilaterais concluíssem sua travessia após anos de belicismo sem que se resvalasse para a guerra novamente. Ainda que com dificuldades, Brasil e Argentina conseguiram pavimentar um caminho viável para relações pacíficas. Ainda no plano regional, a diplomacia brasileira conseguiu atrair Bolívia e Chile para sua esfera de influência, superando anos de dificuldade e de limitações na região. A diversificação de parceiros e a dinamização via neutralidade pacífica foram peças importantes para superar as dificuldades das relações com Bueno Aires. O imobilismo geopolítico acabou sendo amolecido pela criatividade diplomática brasileira. O ponto mais alto dessa criatividade diplomática se deu com a diplomacia de prestígio encabeçada por Pedro II. O ponto focal da política estava no empenho do prestígio pessoal do Imperador para perseguir o interesse nacional internacionalmente. O bom trânsito do monarca entre intelectuais, cientistas, governantes e políticos de todo o mundo capitalizava a diplomacia de prestígio com acessos privilegiados, além de envernizar a figura de Pedro II como o rei-filósofo dos trópicos. Em 1871, 1875 e 1887, o Imperador lançou- se em importantes viagens pelo Ocidente, estabelecendo vínculos importantes pelo mundo, dos Estados Unidos à Rússia czarista e o Império Otomano. A incursão internacional do Imperador trouxe frutos importantes para a inserção internacional brasileira, uma vez que o país passou a ser convidado para participar de exposições até arbitragens internacionais. Mesmo na última década da (já decadente) monarquia, o Brasil foi chamado para séries de relevantes eventos internacionais. Dentre eles, destaca-se a presença do próprio Pedro II na Exposição Mundial da Filadélfia em 1876, ocasião em que dividiu as atenções com Ulysses Grant, presidente americano. Em meio a um contexto de crescente importância do mercado americano para as exportações brasileiras, o Imperador acenava com simpatia para o aumento do intercâmbio comercial, abrindo o país para a importação das tecnologias apresentadas na exposição. Importante notar que todo o aparato simbólico das primeiras décadas do Segundo Reinado foi traduzido numa bem articulada expressão internacional. Se os trajes imperiais se tornavam mais sóbrios e alinhados às práticas europeias, a construção do Império tropical, ao final da monarquia, servia para inserir os produtos brasileiros nos grandes mercados sob o alumbramento provocado por tão exótico país e seu Imperador sui generis. Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos Aula 05 História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 30 A última década da monarquia ainda veria o estabelecimento de inesperadas relações com a China. Procurando dinamizar os emperrados caminhos da imigração para o Brasil, a diplomacia brasileira viu na China, além da miríade do comércio internacional, a possibilidade de importação de mão de obra. Apesar do sucesso ao estabelecer relações formais e amigáveis (além da liberação de comércio), o acordo com a China sobre a imigração acabou malogrando por resistências domésticas dos dois países, além da resistência pessoal do Imperador brasileiro em estabelecer um tratado internacional de caráter desigual, buscando distância das práticas imperialistas emergentes na Europa.
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