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História do Brasil: Guerra do Paraguai e Questões do Segundo Reinado

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Aula 05
História do Brasil p/ CACD (Diplomata)
Primeira Fase - Com Videoaulas -
Pós-Edital
Autores:
Diogo D'angelo, Pedro Henrique
Soares Santos
Aula 05
4 de Agosto de 2020
 
 
 
 1 
 
Sumário 
Apresentação ...................................................................................................................................................... 2 
O grande momento do nacionalismo imperial: entre Londres e Assunção .......................................................... 3 
A Questão Christie .......................................................................................................................................... 3 
A Guerra do Paraguai (1864-1870) ............................................................................................................. 8 
A situação no Prata ..................................................................................................................................... 9 
Da guerra ao travamento (1864-1867) ................................................................................................... 14 
O avanço aliado e o fim de Solano López (1868-1870) ......................................................................... 25 
O Prata do pós-guerra ................................................................................................................................. 27 
A política externa brasileira no ocaso do Império ........................................................................................... 28 
A crise do Segundo Reinado: as quatro questões ............................................................................................. 31 
A questão da escravidão .............................................................................................................................. 33 
A questão religiosa ....................................................................................................................................... 38 
A questão militar ........................................................................................................................................... 39 
A questão dinástica ....................................................................................................................................... 40 
O fim do Império .............................................................................................................................................. 41 
Esquema e detalhamento .................................................................................................................................. 45 
Questões Comentadas ...................................................................................................................................... 70 
Lista de Questões .............................................................................................................................................. 93 
Gabarito ......................................................................................................................................................... 104 
 
 
Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos
Aula 05
História do Brasil p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital
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 2 
 
APRESENTAÇÃO 
Caro aluno, seja bem-vindo à nossa segunda aula sobre o Segundo Reinado! 
Se na aula anterior nos concentramos em organizar como que o Segundo Reinado se estruturou e encontrou 
suas linhas definidoras, aqui o veremos em plena movimentação e contradição. Note bem o aluno que se 
trata de um momento muito delicado da vida brasileira, já que passaremos tanto pelo maior conflito armado 
da América do Sul – a Guerra do Paraguai (1864-1870) – quanto pela liquidação da escravidão no Brasil, 
para logo depois apontarmos para o período republicano brasileiro. 
Trata-se de um momento de grande amplitude na vida brasileira, em que questões centrais do primeiro 
século de independência são respondidas de alguma forma. Ainda que o examinador, na prova, não exija 
conhecimentos específicos sobre o período em tela, o aluno que conseguir organizar os principais pontos 
conseguirá depreender compreensões importantes para interpretar o início da República e os momentos 
anteriores ao Segundo Reinado. 
Entre tantos movimentos e possibilidades, avancemos do apogeu ao declínio definitivo da monarquia 
brasileira! 
Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos
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 3 
 
O GRANDE MOMENTO DO NACIONALISMO IMPERIAL: ENTRE LONDRES E 
ASSUNÇÃO 
Na década de 1860, o Império brasileiro enfrentou diversas situações internacionais que ajudaram em muito 
o fomento de uma posição nacionalista, com posições mais assertivas na sua condução internacional. Desde 
a vitória militar sobre Rosas e o deslocamento diplomático da Grã-Bretanha no Prata durante a década 
anterior, o Brasil conseguia colocar em movimento suas formulações domésticas de interesse nacional e de 
hegemonia no subsistema platino. 
Por sua vez, a situação internacional também criou um hiato muito favorável à nova posição brasileira. A 
ordem de Viena mostrava seu cansaço na Europa ao mesmo tempo que as atenções se estendiam sobre o 
Oriente. Uma vez derrotada a Restauração francesa e instituído o Segundo Império com Napoleão III, a 
Europa precisava reorganizar suas forças, baixando a pressão sobre a América. Com a Guerra da Crimeia 
entre 1853 e 1856, as potências europeias iam sendo exigidas em suas questões continentais, tornando-se 
patente a impossibilidade da manutenção do isolamento francês, mesmo com o retorno de um bonapartista. 
No plano americano, o expansionismo americano sofreu um forte revés doméstico por conta dos 
crudelíssimos cinco anos de Guerra de Secessão (1861-1865), consumindo todas as atenções do governo 
central americano para seu caos interno. Se os destinos da Europa e da América do Norte voltavam a ser 
decididos nos campos de batalha, o subsistema sul-americano ficava entregue às ações de seus atores 
regionais, com a importante diminuição da pressão internacional, ainda que isso não tenha se traduzido 
numa ausência total. 
Além disso, a realidade tecnológica da Guerra Civil Americana prenunciava uma alteração no modo de fazer 
guerra. Ao contrário do que seria esperado, o aumento da capacidade tecnológica e dos custos da guerra 
acenavam para a ampliação virtualmente infinita dos conflitos. As recentes doutrinas de guerra começavam 
a entender que a nova configuração das sociedades (pré) industriais geravam uma espécie de guerra total, 
afetando diretamente as populações civis, cada vez mais organizadas em cidades. A nova capacidade de 
arrastar a guerra defensiva deslocava a experiência bélica para lógicas muito diferentes das doutrinas 
clássicas. 
Neste contexto, as ações regionais expuseram o Império brasileiro à questões inéditas, exigindo respostas 
que apontariam para os destinos da própria monarquia. Comecemos pela grande contenda com a Grã-
Bretanha neste momento histórico de nosso país. 
A Questão Christie 
William Dougal Christie foi enviado ao Rio de Janeiro como representante britânico junto ao Brasil em 1859. 
Adepto de métodos heterodoxos de diplomacia, Christie sempre foi conhecido na corte brasileira por suas 
ações destemperadas e suas quebras de protocolo sem objetivo pragmático mais claro. Entre folclore e 
incômodos, Christie era algo próximo de uma caricatura da prepotência britânica em tempos de Palmerston 
e Aberdeen. 
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 4 
 
Em meados de 1861, Christie encontrou um bom mote para incomodar o governo brasileiro com suas 
ameaças. O cargueiro britânico Prince of Wales encalhara no extremosul brasileiro enquanto seguia para 
Buenos Aires com mercadorias. Em situação pouco clara, o navio foi saqueado por cidadãos brasileiros em 
meio a séries de negligências das autoridades locais brasileiras. No entanto, o que deveria ficar confinado a 
trocas de notas entre as chancelarias foi elevado por Christie a uma discussão sobre o estado civilizatório do 
Império brasileiro. 
 
Figura 1 - Gravura de William Dougal Christie 
 
Exigindo explicações e indenizações a favor da Coroa britânica, Christie passou a dar vazão para toda sua 
verve desrespeitosa contra o Estado brasileiro. A crise começava a se adensar de maneira perigosa sem que 
o representante britânico fizesse qualquer esforço para amenizá-la, muito pelo contrário, sempre atuou no 
sentido de exigir reparações e subserviência do Brasil, muito distante de qualquer diálogo de alto nível. 
Em 1862, cairia o gabinete conservador de Caxias para dar origem a um relativamente longo gabinete liberal, 
apesar de algumas substituições. Uma vez no poder, os liberais não estavam dispostos a ceder frente às 
afrontas de Christie, já que sempre criticaram as posições de Caxias frente ao descontrole do diplomata. Com 
as margens de manobra estreitadas pelos liberais, Christie não revisou suas posições e elevou a questão a 
um novo patamar em dezembro de 1862. 
Na noite de 5 de dezembro de 1862, três oficiais da marinha britânica (navio Fort), bêbados e paisanos, 
entraram pela noite carioca em arruaças e desacataram as autoridades policiais da capital brasileira. 
Naturalmente, foram presos pelas autoridades competentes, já que, desde a década de 1840, não existiam 
mais os critérios de extraterritorialidade que privilegiavam os cidadãos britânicos. Informado sobre a 
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 5 
 
situação, Christie passou a exigir uma ação do Marquês de Olinda, presidente do Conselho de Ministros, no 
sentido de destituir o chefe de polícia da capital, a desagravar os oficiais britânicos e, ainda, a pagar 
indenizações pelo caso do Prince of Wales. Animado por todo o histórico de disputas, Christie ainda emitiu 
um ultimato contra o Império brasileiro, sob ameaças de ação armada. 
Como o Marquês de Olinda não recuou frente ao ultimato, Christie deu ordens para que os navios britânicos 
agissem para bloquear a Baía da Guanabara, apreendendo cinco navios mercantes brasileiros. O 
estrangulamento do porto brasileiro e o risco militar contra a capital brasileira foram as medidas mais 
imediatas do britânico para fazer valer seu ultimato. Além disso, procurando arranhar o prestígio do 
Imperador, Christie se recusou a comparecer à festa de comemoração de aniversário do monarca brasileiro, 
que ocorreria nos dias seguintes. 
Ao final do ano de 1862 a população das grandes cidades brasileiras aderiu à coragem nacional contra a 
maior potência do mundo. As ruas do Rio de Janeiro celebraram a ação imperial de não se curvar ao ultimato 
de Christie. Com o bloqueio naval na capital, a situação poderia começar a representar delicadas perdas para 
a coroa brasileira, que optou por pagar, sob protestos, a indenização por conta do saque ao Prince of Wales, 
mas também exigiu a retirada de Christie do Rio de Janeiro em fevereiro de 1863. 
Completando o ímpeto nacionalista, o Império exigiria um pedido formal de desculpas de Londres pela ação 
do diplomata. Com o silêncio britânico, o governo brasileiro optou pela ruptura unilateral das relações 
diplomáticas com a Grã-Bretanha. O ato elevou em grande medida a estima da população brasileira para 
com o Imperador, que era ovacionado por onde quer que passasse. Nos bastidores, porém, três importantes 
lições eram aprendidas naquele momento. 
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Figura 2 - D. Pedro II é aclamado pela ruptura dos laços diplomáticos com Londres. 
 
Primeira, a Marinha brasileira precisava de reforços urgentes, que começaram a ser empreendidos no 
mesmo ano. Desde o fortalecimento das escolas navais até a aquisição de novos navios de guerra, medidas 
de melhoria foram empreendidas pelo governo imperial para superar sua fragilidade militar. Ainda que não 
fosse capaz de projetar poder para além do subsistema platino, o reforço da Marinha imperial seria 
importante fator de dissuasão. 
Segundo, era o grande momento de acionar toda a diplomacia imperial para superar a situação de 
rompimento com a principal potência. A maior praça de crédito do mundo era Londres e o esforço militar 
brasileiro demandaria empréstimos internacionais; ou seja, era necessário um esforço diplomático para 
equacionar a solução. O bom trânsito internacional da monarquia brasileira foi acionado para que o 
rompimento diplomático com Londres não contaminasse nem o acesso a crédito nem a disposição europeia 
em mercar equipamentos militares com o Brasil para o esforço do rearmamento. A solução foi alcançada de 
maneira relativamente rápida e muito bem-sucedida, já que nem mesmo a praça financeira londrina se 
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fechou às demandas imperiais, conseguindo importantes empréstimos com os Rothschild para o novo 
esforço nacional de compra de equipamentos militares. 
Por fim, o ânimo nacionalista que invadiu a corte deslocou a percepção brasileira para um novo patamar. 
Antes de causar temor por uma guerra, a resistência aberta contra as investidas da maior potência mundial 
gerou um ânimo novo a favor do gabinete liberal. Depois de um início atabalhoado (com o primeiro gabinete 
Zacarias caindo após apenas três dias), os luzias conseguiam galvanizar importantes atores políticos e parte 
da população numa causa que resgatava orgulhos nacionais. Todo um aprendizado importante para o início 
e a condução da Guerra do Paraguai. 
As relações entre Londres e Rio de Janeiro só seriam retomadas em 23 de setembro de 1865, em 
Uruguaiana (RS). Na ocasião, o imperador se deslocara para o Rio Grande do Sul para acompanhar de perto 
a expulsão dos paraguaios do território brasileiro. O gabinete do Marques de Olinda já havia retomado 
negociações com o representante britânico em Buenos Aires, Edward Thornton. Sob influência da 
diplomacia monárquica da casa Habsburgo, a Rainha Vitória dera instruções para pedidos formais de 
desculpas ao monarca brasileiro e para reatar as relações. Como já estava deflagrada a Guerra do Paraguai, 
o governo brasileiro, por sua vez, recuou de qualquer pretensão de exigir reparações pecuniárias contra 
Londres; preferindo pôr fim à questão sem imobilizar recursos escassos numa outra contenda em meio à 
guerra. 
 
Figura 3 - Sir Edward Thornton, 2ª Conde de Cacilhas 
 
Reunidos Thornton e Pedro II, foram apresentados e aceitos os pedidos formais de desculpa da Rainha Vitória 
ao Imperador. Finda a expedição imperial para o Rio Grande do Sul, Thornton seguiu com a comitiva 
brasileira para o Rio de Janeiro e normalizou-se as relações entre os dois países. 
 
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A Guerra do Paraguai (1864-1870) 
Apesar de nem sempre ser bem estudada e dimensionada, a Guerra do Paraguai concentra em si toda uma 
fase do Segundo Reinado. Durante seus seis anos de duração, foi a protagonista de praticamente todos os 
assuntos brasileiros, comprometendo vidas, recursos e governos. 
Para vocês, candidatos do CACD, a Guerra do Paraguai deveria ser uma preocupação a mais. Francisco 
Doratioto, recorrente membro da banca, é autor da grande viradahistoriográfica sobre os estudos acerca 
da guerra: seu livro, Maldita Guerra – nova história da Guerra do Paraguai1, é uma das mais autorizadas 
referências sobre o período. Além da evidente importância da guerra para a história brasileira – tanto pelo 
tamanho do conflito quanto pelas implicações no nosso processo histórico –, o estudo sobre a guerra foi 
ponto focal de diversas disputas ideológico-interpretativas. O revisionismo historiográfico do século XX 
esteve muito alinhado à contestação do sistema capitalista e às glórias militares, já que contestá-los seria 
uma forma de combater bases simbólicas das ditaduras latino-americanas da segunda metade do último 
século. Como consequência, criou-se um mito generalizado de que a Guerra do Paraguai foi uma ação 
imperialista e covarde dos aliados sob influência do grande capitalismo internacional. O Paraguai de Solano 
López, seu caudilho, foram incensados como valentes resistências contra o capitalismo em esforços legítimos 
de desenvolvimento autônomo2. 
O profundo trabalho documental de Doratioto feriu de morte muitas dessas construções teóricas – e nos 
baseamos no seu trabalho para redigir esta aula. Segundo ele, a guerra hegemônica brasileira contra o 
Paraguai nunca existiu de fato, já que a república guarani foi quem empreendeu uma guerra agressiva contra 
o Império e contra a Argentina. Além disto, o famoso desenvolvimento independentista paraguaio nunca foi 
de fato constatado; muito pelo contrário, acabou se provando um Estado patrimonial de ação predatória da 
família López contra o Tesouro Nacional. Por seu turno, os grandes interesses capitalistas também não se 
verificaram na pesquisa documental, já que a Grã-Bretanha não dispunha de relações oficiais com o Brasil 
antes da guerra e os documentos das chancelarias britânica, francesa e americana pregam por um 
neutralismo muito simpático à ação paraguaia. 
Percebe o tamanho da transformação historiográfica ocorrida? Perguntas sobre a Guerra do Paraguai no 
CACD sempre tendem a exigir do candidato o justo conhecimento sobre essa transformação no estado da 
arte, tanto pela importância do período quanto por contar com a presença do autor na banca do concurso. 
Feitas estas considerações de base, empreendamos agora a construção de um quadro geral sobre o que foi 
a Guerra do Paraguai. 
 
 
1 DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, 617p. 
2 Destaca-se no Brasil, dentro desta escola revisionista de cunho marxista dos anos 1960 e 70, o livro “Genocídio americano: 
a guerra do Paraguai” do jornalista Julio Jose Chiavenato, publicada originalmente em 1979. 
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A situação no Prata 
Em 1862, a situação no Prata avançou para as condicionantes que criariam as engrenagens da guerra. No 
Brasil, como já foi dito, os liberais voltavam à presidência do Conselhos de Ministros dentro do sucesso da 
afirmação nacional na Questão Christie. A potência nacionalista brasileira se inflamava na certeza de que o 
interesse nacional passaria a ser respeitado e vocalizado de maneira inédita em nossa história quanto país 
até aquele momento. 
Na Argentina, o conflito interno entre federalistas e unitaristas chegava ao fim. A elite comercial de Buenos 
Aires, comandada por Bartolomé Mitre, levantara-se contra os federalistas, liderados por Urquiza, que 
tinham derrotado Rosas na década anterior. O jogo político argentino se dava, fundamentalmente, entre a 
proposta federalista e a proposta centralizadora de Buenos Aires. Os grandes produtores argentinos estavam 
localizados nas províncias mais distantes da capital, com especial destaque para Entre-Ríos e Corrientes, 
entre o Paraguai, Uruguai e Brasil. A preocupação central desses produtores estava na descentralização do 
poder contra Buenos Aires, dando-lhes maior poder de ação contra políticas comerciais excessivamente 
liberais e contra a centralização comercial no porto de Buenos Aires. Por sua vez, a elite portenha preferia 
uma solução política unitarista, fortalecendo a capacidade de Buenos Aires de concentrar todas as malhas 
comerciais e as grandes políticas públicas. Para essas elites, os principais interesses estavam em manter a 
capital forte, já que elas dominavam o comércio portuário argentino, conseguindo concentrar ganhos muito 
elevados sem propriamente aderir às cadeias produtivas. 
 
Figura 4 - Bartolomé Mitre (1821-1906) 
 
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A derrota de Rosas na década anterior não havia sido suficiente para eliminar a proposta unitarista portenha, 
que foi reavivada com a ascensão de Mitre na política nacional. A abertura comercial e a disposição para 
diálogos mais ativos com a região unia os interesses de Mitre àquelas dos liberais brasileiros; enquanto uma 
vitória dos federalistas de Urquiza, antigos aliados brasileiros, acabava por representar uma dificuldade a 
mais para o novo gabinete brasileiro. A centralidade comercial de Buenos Aires e o liberalismo econômico 
eram pontos de convergência importantes, principalmente porque a proposta federalista argentina previa 
uma maior proximidade com o porto de Montevidéu para enfraquecer a posição portenha. Em 1862, Mitre 
derrotou os federalistas tanto nas batalhas quanto nas urnas e consolidou a República Argentina, sendo seu 
primeiro presidente após a unificação com as províncias federalistas. 
Por sua vez, o Paraguai viu a morte de seu líder, Carlos Antonio López, em 1862. Desde que assumira a 
presidência paraguaia em 1844, Carlos Antonio López manteve o caudilhismo do país, mas passou a forcejar 
por sua modernização militar e orientou o Estado para algumas reformas. Ainda que ressentido pela falta de 
uma saída para o mar, o presidente paraguaio viu que a solução não passaria pelo isolamento absoluto dos 
anos anteriores de governo Francia. Se Francia sonhara com um desenvolvimento guarani por meio do 
isolacionismo, López viu no ambiente internacional um lugar para buscar os elementos que julgava 
necessários, mas não propriamente um espaço de inserção polivalente. 
Com o Estado detendo boa parte de todos os recursos do país e com instituições bastante frágeis, o Paraguai 
de López tinha uma capacidade de manobra bastante grande sob a vontade de seu ditador. Nesse sentido, 
o presidente paraguaio passou a concentrar esforços no rearmamento nacional e na expansão das forças 
armadas paraguaias. López tinha plena noção da fragilidade da posição de seu país, principalmente entre 
dois gigantes como Argentina e Brasil, com quem sequer tinha tratados definitivos sobre as fronteiras3. A 
superação do isolamento regional, portanto, deveria ser antecedido por uma minimização das assimetrias 
de força entre o Paraguai e seus vizinhos. 
Nesse sentido, o governo paraguaio começou a empreender esforços de aquisição de equipamentos ao 
mesmo tempo que construía séries de fortificações sob consultorias internacionais de europeus e de 
brasileiros. Preparando um importante esquema defensivo ao longo do rio Paraguai e dos difíceis terrenos 
pantanosos de suas fronteiras, a república guarani também passou a expandir seus efetivos militares, 
modernizando seus padrões de treinamento com a contratação de militares europeus. O forte controle do 
poder central sobre toda a economia redundou numa importante orientação militarista que transformou as 
capacidades militares paraguaias de maneira ímpar. Além disso, o isolacionismo cultural paraguaio facilitou 
a criação de uma potente propaganda doméstica de um nacionalismo aguerrido, segundo o qual o 
desenvolvimento nacional passaria pela superação das humilhações impostas pelos vizinhos. 
Em 1842, falecia CarlosAntonio López e surgia Francisco Solano López, seu filho. Em seu leito de morte, o 
velho caudilho orientou seu filho (e sucessor) a evitar a todo custo uma guerra contra o Império, porque isso 
poderia custar a própria existência paraguaia. Uma vez no poder, o jovem Solano López (então com 35 anos) 
manteve o sistema centralizador e personalista do pai, aprofundando o corte autoritário do regime. Por 
 
3 Tampouco o tinha sobre as fronteiras com a Bolívia. No entanto, em 1854, López celebrou um acordo provisório com o 
Império sobre as fronteiras: ao mesmo tempo em que regulava algumas práticas comerciais e liberava a navegação brasileira 
pelo rio Paraguai, era reticente sobre marcos definitivos de fronteira. Na ocasião, o acordo tinha validade de dez anos, ao 
fim dos quais deveria ocorrer uma outra negociação lindeira. 
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outro lado, a campanha de modernização e ampliação das forças militares foi aprofundada, já que Solano 
López tinha sido enviado pelo seu pai para a Europa para que comprasse equipamentos militares novos 
(instante em que conheceu a irlandesa e sua futura esposa Elisa Alicia Lynch na corte de Napoleão III em 
Paris). Portanto, o novo caudilho, apesar de jovem, conhecia bem a capacidade militar nova que se instalava 
no seu país. 
 
Figura 5 - Ditador paraguaio Francisco Solano López 
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Figura 6 - Elisa Alicia Lynch (1833-1886) aos 20 anos de idade, recém-chegada ao isolado Paraguai 
 
No entanto, Solano López era bem menos econômico do que seu pai na política platina. A vantagem material 
que o Paraguai estava construindo sobre seus vizinhos em relativo segredo dava rompantes de valentia ao 
jovem López. Com a vitória de Mitre na Argentina, a saída para o mar para o Paraguai jamais encontraria 
importante respaldo em Buenos Aires. Ou seja, os ressentidos federalistas argentinos poderiam ser 
importantes aliados nos planos regionais do Paraguai. Ao mesmo tempo, o alinhamento entre Mitre e o 
gabinete liberal brasileiro inspirava fortes desconfianças em Assunção. 
Por sua vez, o Uruguai vivia um momento de esgarçamento político importante sob o governo de Prudencio 
Berro. Desde 1860, estavam no poder os blancos, facção política muito relacionada a Oribe, que fora 
derrotado militarmente dez anos antes. Com orientação política de hostilidade ao Império e muito animado 
pelo nacionalismo caudilhista, os blancos olhavam com muitas reservas a vitória de Mitre porque o 
alinhamento entre Brasil e Argentina trazia difíceis lembranças para os herdeiros políticos de Oribe. No 
entanto, o independentismo blanco dialogava com facilidade com o Paraguai de Solano López, ambos em 
posição de distanciamento frente ao Império, além das possibilidades de entendimento sobre a saída para o 
mar. Ao mesmo tempo, Berro assumia posições protecionistas contra o comércio do Império brasileiro, 
dificultando a cadeia produtiva da província gaúcha com uma nova política tributária. Além disso, os 
descontentamentos dos federalistas argentinos poderiam ser galvanizados num eixo entre Assunção e 
Montevidéu, afinal, nenhuma das três partes desejava uma maior presença do Brasil na região nem um 
fortalecimento excessivo de Buenos Aires. 
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 13 
 
Internamente, o Uruguai vivia o crescimento do descontentamento dos colorados do general Venancio 
Flores, paulatinamente mais dispostos a pegar em armas contra os excessos do governo blanco. No início de 
1863, o general Flores partiu de Buenos Aires em direção ao Uruguai com apoio do governo Mitre: iniciava-
se a guerra civil uruguaia. Dado o mal disfarçado apoio de Mitre aos colorados uruguaios, o governo de Berro 
procurou apoio com o Paraguai, que, sabidamente, vinha ampliando sua mobilização militar nos anos 
anteriores. Ciente do delicado equilíbrio platino, López acenou com um possível apoio ao governo uruguaio, 
mas se recusou a tomar parte prontamente em qualquer guerra. 
A ruptura uruguaia acabou sendo a senha para movimentar todo o equilíbrio de poder no Prata, uma vez 
que acionava as preferências nacionais na construção de um futuro para a região. López, enfim, tinha meios 
de alardear a força paraguaia, enquanto os federalistas argentinos de Urquiza tinham capacidade de 
contrapor-se novamente a Buenos Aires. No entanto, os avanços a favor de Berro foram mais tímidos do que 
aqueles que se aliaram ao general Flores. 
Os excessos do governo Berro atingiram súditos brasileiros. Com uma fronteira instável entre Uruguai e 
Brasil, sempre foi comum a passagem de brasileiros e uruguaios com seus rebanhos para um lado e outro, 
bem como havia importante presença de proprietários brasileiros. Havia registros e denúncias formais contra 
maus tratos e assassinatos praticados pelo governo blanco contra súditos brasileiros em território uruguaio, 
além da ação de agentes do governo uruguaio num ato de vilipêndio à bandeira imperial nas ruas de 
Montevidéu entre 1863 e 1864. O orgulho nacional brasileiro, inflado pela Questão Christie, exigia uma 
reparação uruguaia contra os agravos praticados pelos orientais contra o Império. 
Paralelamente, Argentina e Brasil já reconheciam certa inevitabilidade de uma intervenção sobre a Guerra 
Civil Uruguaia. No segundo semestre de 1863, foi enviada a Buenos Aires a Missão Loureiro, com o objetivo 
de afinar objetivos e compromissos dos dois países sobre a questão oriental. Para o Brasil, era fundamental 
que a Argentina não fosse a única aliada de Flores em caso de vitória e que ambos os vizinhos estivessem 
comprometidos com a manutenção das fronteiras e da independência uruguaia. Por sua vez, a Argentina não 
poderia abrir mais uma frente de combate por simples desentendimentos sobre os limites de ação quanto 
ao Império, já que também havia resistência por parte dos federalistas de Urquiza. 
Enquanto diminuíam as tensões entre Brasil e Argentina, a Guerra Civil Uruguaia entrava em 1864 em meio 
ao fim do mandato de Berro. Na impossibilidade de realizar-se eleições livres, deu-se posse a um governo 
provisório de Anastasio Aguirre; gerando um novo clima para as negociações. Já adiantado o entrosamento 
político com a Argentina, o governo brasileiro enviou José Antonio Saraiva ao Uruguai com ordens de 
desagravar o Império e exigir reparações, era a Missão Saraiva de 1864. Junto com Saraiva, despachou-se 
também a renovada e poderosa esquadra imperial sob o comando do almirante Tamandaré para que as 
palavras do diplomata fossem sublinhadas pelas armas. 
Saraiva trabalhou em conjunto com Thornton, diplomata britânico em Buenos Aires (mesmo com o 
rompimento formal entre Londres e Rio de Janeiro), e com Rufino de Elizalde, chanceler argentino. Os 
diplomatas conseguiram, nos primeiros movimentos, concessões interessantes por parte de Aguirre, que 
chegou a acenar a uma aceitação de compor um governo com os colorados de Flores, além de compromissos 
sobre o respeito aos súditos brasileiros. No entanto, a negociação começou a sofrer com o aumento de ruídos 
por várias partes. Tamandaré exigia uma humilhação uruguaia como ato de desagravo ao Império. Emissários 
de López chegaram a Montevidéu oferecendo mediação nas negociações e demonstrando grande interesse 
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pela permanência do governo blanco; no entanto, nem Argentina nem Brasil tinham observado de fato o 
poder militarque o Estado guarani acumulara nos anos anteriores. Além disso, a missão já extrapolara suas 
orientações originais, indo muito além da situação dos súditos brasileiros no Uruguai. 
Em julho de 1864, Aguirre enviou a López um alerta sobre o imperialismo na região, pedindo apoio de armas 
paraguaias porque o Paraguai poderia, em sua leitura, ser a próxima vítima do intervencionismo regional. 
Em agosto, após Aguirre ter voltado atrás no acordo que chegara a elaborar para encerrar a guerra civil, 
Saraiva emitiu o ultimato contra Montevidéu, colocando a força armada brasileira como a próxima medida 
contra Aguirre. 
Com a recusa de Aguirre, Brasil e Argentina delimitaram os seus termos de ação, comprometendo-se com a 
cooperação e com o respeito à independência uruguaia. O serviço diplomático paraguaio ainda ameaçou o 
Império com a possibilidade de uma guerra, apontando que a intervenção no Uruguai poderia desdobrar-se 
num conflito de proporções muito maiores. O gabinete liberal brasileiro, incentivado pelo apoio popular e 
na onda de otimismo contra Aguirre, não deu ouvidos e manteve o ultimato, que foi respondido com o 
rompimento de relações. 
Em outubro de 1864, Tamandaré assinava os termos de apoio a Flores e o Brasil entrava definitivamente ao 
lado dos colorados na Guerra Civil Uruguaia, marchando para território estrangeiro em plena colaboração 
com Flores, incluindo o apoio naval. Estava traçado o destino da região, a guerra já era uma realidade e os 
passos se acelerariam. 
Aguirre não resistiria até fevereiro de 1865 ao assédio de Flores e das forças brasileiras, fugindo de 
Montevidéu em meio a importantes deserções das forças oficiais a favor dos colorados. Antes do final 
daquele mês, o general Flores assumia a presidência do Uruguai e colocava fim à guerra civil. No entanto, os 
conflitos platinos só estavam começando. 
 
Da guerra ao travamento (1864-1867) 
Solano López daria um passo decisivo na direção da guerra em novembro de 1864, quando decidiu aprisionar 
o vapor brasileiro Marquês de Olinda, fazendo prisioneiro, inclusive, o novo presidente da província do Mato 
Grosso, que subia para Cuiabá pela navegação do rio Paraguai. 
Nos anos anteriores, López já tinha entrado no mapa dos estadistas do Império, ainda que não percebessem 
completamente as proporções das assimetrias estabelecidas com o rearmamento paraguaio. López não quis 
voltar à mesa de negociação sobre os limites territoriais com o Brasil, mesmo após vencida a moratória 
estabelecida nos acordos de 1854. Em caráter provisório, mantinha-se a livre navegação brasileira pelo rio 
Paraguai; mas a posição guarani frente à diplomacia imperial já não aceitava o estado de inferioridade 
sempre suposto pela atuação brasileira. 
Preocupados com a situação da província do Mato Grosso em caso de fechamento do rio Paraguai, os 
governantes brasileiros desenvolveram uma estratégia acanhada de reorganização das forças imperiais 
naquela província. No entanto, a “anemia estrutural” (termo utilizado por Doratioto) do Estado brasileiro 
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nos seus interiores impunha um ritmo altamente ineficiente aos arranjos em torno do Mato Grosso. Sabia-
se que, fechada a navegação, qualquer ação brasileira em direção à província do oeste seria duramente 
retida pelas dificuldades de terreno; no entanto, pouco se aproveitou da possibilidade de navegação, mesmo 
com as desconfianças contra López. 
 
Figura 7 - Rios interiores a partir do estuário do Prata 
 
Por sua vez, o caudilho paraguaio se precipitou demais para dar uma resposta contra o “projeto 
hegemônico”. Mesmo com a sorte de Aguirre já estando praticamente definida, López insistiu em agilizar as 
represálias contra o Império ainda que seu exército não estivesse pronto para ações de projeção de poder. 
Ainda que o sistema defensivo paraguaio tivesse capacidades relevantes, as suas forças ainda esperavam a 
chegada de alguns novos equipamentos – incluindo navios de guerra – quando López precipitou a guerra. 
Com mais alguns meses, a capacidade bélica paraguaia teria sido muito incrementada. 
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No início de dezembro de 1864, as tropas paraguaias cruzaram a fronteira brasileira na província do Mato 
Grosso, dando início à Guerra do Paraguai. Entre este mês e abril de 1865, as tropas paraguaias se 
aprofundaram no território brasileiro com séries de vitórias contra débeis posições brasileiras. Seja por 
impossibilidades materiais de combate, seja por ações de seus oficiais, a ação brasileira no Mato Grosso foi 
cercada por uma precariedade total de meios e de ações – salvo alguns atos de bravura extrema que, 
infelizmente, pouco colaboraram com o rumo da guerra. Acumulando sucessos em pontos como Miranda, 
Dourados e Corumbá, as tropas paraguaias se aprofundaram no Mato Grosso até a cidade de Coxim, seu 
ponto máximo. Duas foram as maiores respostas brasileiras. O gabinete organizou a chamada Coluna de São 
Paulo, enviando um grande contingente para o Mato Grosso; mas as condições de combate e as assimetrias 
entre as duas frentes redundaram num grande fracasso brasileiro. Grande volume de combatentes 
brasileiros da coluna foram vítimas da cólera e das péssimas condições de abastecimento do exército 
imperial. Outro esforço foi a ação local do Barão de Melgaço, que, concentrando recursos da província, 
conseguiu elaborar um relevante plano de defesa de Cuiabá, fazendo refluir a força invasora. 
Em outras palavras, as dificuldades administrativas do Império e as displicências políticas levaram ao 
abandono do Mato Grosso à sua própria sorte após o fracasso da coluna. Entre a facilidade de penetração e 
os poucos recursos para a manutenção das tropas, o governo paraguaio deixou um pequeno contingente no 
Mato Grosso e concentrou recursos no segundo movimento da guerra: Entre-Ríos e Rio Grande do Sul. 
Com a experiência no Mato Grosso, o Exército imperial se deparou com uma infausta realidade: a debilidade 
de suas forças. Ainda que a Marinha tenha recebido todo o investimento já discutido, o Exército continuou 
relegado a uma posição inferior, atraindo, mormente, desajustados sociais em seus quadros mais baixos, 
concentrando um estigma negativo. A aristocracia brasileira preferia os corpos da Guarda Nacional, cujo 
controle dependia das instâncias de negociação entre os poderes locais e o governo central. Com as 
dificuldades do Exército e uma posição reticente sobre a guerra por parte da Guarda Nacional, o governo 
imperial lançou o programa de Voluntários da Pátria. Insuflando certo patriotismo e exigindo esforços de 
adesão em várias províncias, o governo imperial tentava engrossar suas fileiras com um misto de 
voluntariado patriótico e exigências administrativas. Os tais voluntários também tinham a capacidade de 
indicar que outros se “voluntariassem” em seus lugares nos esforços de mobilização, bem como era comum 
que a maior pressão fosse feita em redutos eleitorais dos saquaremas, uma vez que o gabinete na ocasião 
era liberal. 
Enquanto isso, o Paraguai avançava entre anos de preparação relativamente sólida e os arroubos autoritários 
de Solano López. Animado com o sucesso da campanha contra o Mato Grosso, López planejou um ataque 
contra o Rio Grande do Sul, o que o colocaria, no mínimo, em posição de franca vantagem para renegociar 
com o Império. No entanto, a escolha de métodos para a ação assinalou o início de uma sucessão de erros 
de López. Contando com o risco de contaminação política de Entre-Ríos e não querendo comprometer 
esforços numa difícil transposição da fronteira via São Paulo e Paraná, o ditador paraguaio exigiu que Mitre 
permitisse a passagem de tropas paraguaias em solo argentinopara o ataque contra o Império. Com a recusa 
argentina, López não insistiu na via diplomática e entrou em guerra contra mais um vizinho, dessa vez 
ocupando Corrientes e Entre-Ríos em abril de 1865. 
A essa altura, duas importantes variáveis para o curso da guerra foram se tornando mais claras. Primeiro, as 
tropas argentinas e brasileiras estavam mal preparadas e defasadas em vários sentidos quando comparadas 
com as paraguaias. O avanço rápido dos paraguaios dava conta do tamanho da dificuldade de mobilização 
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militar em um tempo em que o equilíbrio tecnológico e as doutrinas de guerra davam franca vantagem para 
os defensores. Segundo, o Paraguai avançava debaixo da espada de López e sob o comando de um oficialato 
muito inexperiente. O despreparo ficou patente com a condução do paraguaio Robles, quando este 
conseguiu controlar a praça de Corrientes com seu exército. Robles seria visto várias vezes em estado de 
embriaguez por seus subordinados, enquanto obedecia cegamente às ordens vindas de Assunção. Entre a 
inexperiência e o autoritarismo, criou-se um sistema disfuncional de comando sobre as tropas paraguaias, 
no qual López despachava as ordens e condenava sumariamente aqueles que não as seguissem mesmo em 
situações adversas. Mais do que isso, com o avançar da guerra, os assessores de López passariam a evitar 
informá-lo sobre derrotas com o medo de serem mortos por atitudes derrotistas contra o Paraguai. 
Com a invasão de Corrientes e a eminente agressão paraguaia contra o Rio Grande do Sul, Brasil e Argentina 
convergiram para a necessidade de celebrar uma aliança contra a guerra expansionista de López. Com o 
sucesso da ação coordenada em favor dos colorados uruguaios no mesmo ano, o Uruguai de Flores também 
se juntaria à aliança. Em 1º de maio de 1865 era celebrado um acordo secreto entre os três países, 
instituindo uma aliança militar contra o Paraguai e delimitando tanto os limites de ação durante a guerra 
quanto os termos para o pós-guerra. Para a guerra, dava-se o comando-em-chefe das forças terrestres a 
Mitre, enquanto a Marinha imperial – peça maior da guerra naval dos aliados – ficaria sob comando do 
almirante Tamandaré. As três partes se comprometiam em não negociar em separado com o Paraguai, 
estando os três empenhados na deposição do governo López sem possibilidade de atenuantes. O 
financiamento do esforço de guerra partiria, majoritariamente, dos cofres do Império em empréstimos aos 
aliados, além da ação financeira e comercial do Barão de Mauá, principalmente no Uruguai. 
Embebidos na certeza de uma guerra rápida contra os paraguaios, os aliados já estabeleciam também os 
termos da vitória. D. Pedro II exigia pessoalmente a deposição e, no mínimo, o exílio de Solano López; 
enquanto o gabinete liberal acrescentava sua exigência sobre a manutenção da independência do Paraguai 
e do Uruguai ao final da guerra. Era a grande manobra da diplomacia imperial para congelar os poderes 
expansionistas da Argentina mesmo após uma grave agressão paraguaia, já que não interessava ao Brasil 
compartilhar uma fronteira ainda maior com a Argentina. O Paraguai se convertia em uma espécie de Estado 
tampão nas estratégias para o pós-guerra. Para tanto, o tratado da aliança já previa que as três partes e o 
próximo governo paraguaio aceitariam as demandas de demarcação de limites apresentadas pelo Império, 
pacificando a fronteira brasileira com a república guarani. Por seu turno, o governo Mitre conseguia que o 
Império o apoiasse no estabelecimento de novas fronteiras com o Paraguai, ressalvadas as zonas de disputa 
com a Bolívia sobre o chaco. Construía-se um consórcio internacional para pacificar as fronteiras paraguaias 
num momento precioso, já que o governo que resultasse da derrota de López não teria a menor condição 
de opor resistência contra os vitoriosos. 
Por outro lado, ainda que açodado, o arranjo político da Tríplice Aliança consagrava a fórmula básica para a 
diminuição das tensões entre Rio de Janeiro e Buenos Aires: ambos os lados tinham de acreditar na 
reciprocidade de intenções quanto à manutenção das fronteiras de Paraguai e Uruguai. Sendo parte do 
acordo, o Uruguai também conseguia que ambas as potências regionais reconhecessem sua soberania, 
afastando os fantasmas da anexação uma vez finda a guerra. O desespero de López para atacar o Rio Grande 
do Sul conseguiu, ao fim e ao cabo, fazer sublimar as muitas desconfianças entre brasileiros e argentinos a 
ponto de construírem uma aliança militar. 
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No entanto, a Tríplice Aliança demoraria a dar frutos mais robustos. Invadida Corrientes, a Argentina 
dependia de uma delicada equação político-militar para dar combate aos invasores, já que se tratava de um 
território dominado pelos federalistas, ainda ressentidos pela derrota da Confederação frente a Buenos 
Aires. Urquiza era o grande comandante das milícias correntinas e sua autoridade tinha de ser observada 
por Mitre, mesmo depois do tratado de 1º de maio. Cooptado Urquiza para o lado dos aliados, surgiu uma 
nova dificuldade inesperada: os habitantes de Corrientes se recusavam a combater os paraguaios, tidos 
como aliados dos federalistas, que preferiam uma guerra contra o Império do que contra o Paraguai. Mesmo 
sob o comando de Urquiza, as tropas da região sofreram com uma epidemia de deserções, facilitando a 
penetração paraguaia até a fronteira com o Brasil. A impopularidade da guerra e um certo grau de improviso 
das ações tornavam várias posições aliadas insustentáveis, apesar de alguns êxitos militares. A aliança só 
tomaria melhor forma quando a Marinha imperial iniciasse seus movimentos, além da mobilização de outras 
tropas. 
Por sua vez, López iniciava uma campanha doméstica de vitimização do Paraguai, segundo a qual o país fora 
vítima de agressão internacional. Nas declarações do ditador paraguaio, seu país havia sido vítima de uma 
agressão internacional, tendo optado por revidar ataques brasileiros e argentinos, que já estariam sendo 
arquitetados desde a intervenção na Guerra Civil Uruguaia. Na versão de López sobre a guerra, o Paraguai 
era tragado para um conflito existencial contra os projetos de hegemonia dos vizinhos, restando apenas a 
guerra total. Isto é, o país teria de dedicar todos os recursos (humanos e econômicos) para sustentar a 
guerra, devendo os seus soldados lutarem até o fim ainda que em condições extremas. 
Os anos de isolamento cultural e político do Paraguai acabaram por azeitar os caminhos da propaganda 
lopista, que atingiu profundamente sua população, com especial destaque para os seus soldados. Além de 
toda a violência do aparato repressor do Estado paraguaio e os constantes fuzilamentos daqueles vistos por 
Solano López como traidores, os soldados guaranis demonstraram uma bravura inédita ao longo da guerra, 
rendendo-se em raras ocasiões, ainda que, principalmente a partir de 1867, convivessem com a fome e a 
escassez absoluta de meios para desenvolver as ações exigidas por López. 
Em 10 de junho de 1865, as tropas paraguaias avançaram sobre território brasileiro, invadindo São Borja no 
norte do Rio Grande do Sul. As tropas brasileiras na província padeciam de uma desorganização crônica, 
além de precárias linhas de abastecimento sob o comando do controverso general Canabarro, que se 
recusava a colocar suas tropas em combate, sequer para defender as cidades brasileiras. Até agosto, as 
tropas invasoras conseguiram percorrer a fronteira até o extremo sul, tomando à cidade de Uruguaiana, que, 
apesar de bem municiada, caiu sem resistência brasileira. 
Pelo lado brasileiro, houve dois pontos de inflexão importantes nessa fase daguerra. Com todas as 
dificuldades de abastecimento, o Exército imperial tinha caído numa perigosa rotina de realizar compras de 
mantimentos em condições de emergência, exaurindo as reservas destinadas para a guerra; ao mesmo 
tempo, o general Canabarro insistia em evitar embates, apostando na exaustão das linhas de suprimento 
dos paraguaios. Entre julho e agosto, o próprio Imperador decidiu ir para a província sulista a fim de averiguar 
as demoras nos preparativos da guerra e da rede logística necessária. Uma vez Pedro II presente, muitas das 
dificuldades que vinham sendo impostas ao cotidiano das tropas simplesmente sublimaram e o Exército saiu 
de um constante estado de emergência para conseguir articular uma ofensiva real e consistente. 
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Paralelamente, em 11 de junho de 1865, a sorte da Marinha paraguaia foi decidida na Batalha Fluvial do 
Riachuelo. Na oportunidade, López ordenara um ataque surpresa contra a retaguarda da poderosa Marinha 
imperial para conseguir superar o isolamento ao qual o país foi submetido pelo bloqueio dos rios. Agindo 
sob constante medo de punições, o oficialato da Marinha do Paraguai desconsiderou alterações importantes 
nas condições de combate e empreendeu um ataque contra a esquadra brasileira sem articulação necessária 
e sem considerar as dificuldades de combater navios couraçados como os brasileiros. Sendo atacada por 
água e terra, a Marinha imperial conseguiu reverter a situação e inutilizou praticamente toda esquadra 
paraguaia, inclusive encalhando o Marquês de Olinda, que fora apreendido pelos paraguaios no ano anterior. 
Finda a batalha e destruídas as fortificações paraguaias ao sul de Humaitá, a Marinha brasileira conseguiu 
impor o bloqueio fluvial ao Paraguai, sufocando o comércio exterior e inviabilizando a chegada de novos 
materiais bélicos. O Império começava a reagir. 
 
Figura 8 - A Batalha do Riachuelo 
 
No final de agosto de 1865, com a presença de Pedro II como observador de suas tropas, findava a invasão 
paraguaia no Rio Grande do Sul, com a rendição dos seus sobreviventes em Uruguaiana. Dias depois, Edward 
Thornton procuraria Pedro II para apresentar os pedidos formais de desculpas da Coroa britânica pela 
Questão Christie, reatando as relações diplomáticas meses depois. Isto é, apesar de todos os contratempos 
vividos, ao final de agosto, o Império conseguira organizar um novo Exército com relativa eficiência e saíra 
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da delicada posição de rompimento com Londres, além de efetivar sua superioridade naval. Forças Armadas 
e diplomacia, enfim, saíam do seu imobilismo inicial e estreitavam as forças contra o Paraguai. Além disso, 
as tropas brasileiras marchavam com ânimo redobrado, já que voltava à frente de batalha o general Osório, 
figura com trânsito muito melhor do que Urquiza ou Mitre. Finalmente, o Império caminhava rumo a 
Assunção. 
 
Figura 9 - General Osório 
Apesar de todas as dificuldades de organização do Exército argentino em Corrientes, as posições paraguaias 
na Argentina se tornaram insustentáveis em novembro de 1865. Após vários desacertos entre o oficialato 
paraguaio e López, a situação ficaria ainda pior, forçando a retirada das tropas paraguaias de volta para seu 
território nacional. Começava, então, o grande martírio dos aliados: a guerra de posições. 
Com o refluxo paraguaio e a nova fase da guerra, Urquiza e suas tropas restantes se retiraram discretamente 
do esforço de guerra argentino. Urquiza, que fora um dos grandes mercadores que abasteceram as tropas 
aliadas durante a invasão paraguaia, refugiava-se em seus ganhos astronômicos enquanto a população da 
Argentina federalista assumia de vez seu ódio contra a guerra. Ninguém mais de Entre-Ríos e de Corrientes 
aceitaria uma guerra ao lado dos brasileiros e contra os paraguaios. Paralelamente, o novo regime uruguaio 
também começaria a perder apoio popular, demandando mais atenção doméstica do que um esforço de 
guerra de porte. 
Com o avanço da guerra para dentro do território paraguaio, a diplomacia brasileira pelo mundo acionou sua 
rede de importante capilaridade. Ao contrário do isolacionista Paraguai, o Império conseguia dialogar com 
diferentes governos, conseguindo convencê-los a manter a neutralidade frente à guerra. Com a garantia de 
neutralidade, apesar de haver relevantes simpatias pelos paraguaios nos Estados Unidos, na França e na Grã-
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Bretanha, o governo imperial conseguia consolidar a assimetria de condições conseguida em novembro de 
1865. O golpe final contra Solano López, cuja deposição era exigência de Pedro II, ocorreria em franca 
vantagem para os aliados e sem socorro estrangeiro a Assunção. 
No entanto, a realidade do teatro de guerra impunha um travamento grave às ações. Os anos de isolamento 
paraguaio deram poucas chances para que os vizinhos conhecessem a geografia guarani, que é dominada, 
em suas fronteiras, por áreas alagadiças e acidentes geográficos severos. Ainda que se conhecesse o curso 
do rio Paraguai, não se tinha real noção das rotas e dos meios de empreender combates de agressão no 
terreno paraguaio. Isto é, o desembarque das tropas, apesar de toda superioridade e do apoio da Marinha 
imperial, ocorria em severa escuridão de informações confiáveis. Os chefes militares aliados teriam de 
avançar no escuro contra um inimigo em posição defensiva e embrutecido ao extremo. 
Os aliados iniciaram o ano de 1866 cientes de que o passo decisivo para se tomar Assunção seria a queda da 
fortaleza de Humaitá, epicentro do sistema defensivo paraguaio. Uma vez vencido o desembarque e tomada 
Tuiuti, os aliados conseguiram consolidar sua entrada nas fronteiras inimigas, mas também ficaram em 
situação delicada. Ainda que tenham imposto pesadas derrotas aos paraguaios quando estes tentaram 
atacar os acampamentos aliados, as tropas não conseguiam avançar por conta das dificuldades de terreno, 
desgastando os governos frente às opiniões públicas e despendendo de importantes recursos dos tesouros, 
além de cansar as tropas em questões típicas do ócio em meio à mobilização. 
Travada a guerra de posições com ganhos modestos de terreno, dois eventos importantes sinalizaram nova 
dinâmica para a guerra. Em setembro de 1866, López convidou o comando aliado para uma reunião para 
negociar os termos da paz, mas com vistas a fraturar a aliança. Os generais brasileiros, seguindo a ordem do 
Imperador de não negociar com López, se recusaram ao encontro; Flores deixou a reunião logo em seu início; 
e Mitre, comandante-em-chefe dos aliados, permaneceu no encontro enquanto López buscava persuadi-lo 
por um rompimento com o Império. Ainda que inútil, a reunião voltou a adensar nuvens de desconfiança 
entre Argentina e Brasil, mesmo que de ambos os lados houvesse genuína vontade de fazer prosperar a 
aliança e de derrotar Solano López. 
O segundo evento se daria alguns dias depois do encontro. Desconhecendo os novos cuidados defensivos 
paraguaios – possibilitados exatamente pelo tempo de inação aliada –, as tropas aliadas avançaram contra 
o forte de Curupaiti, que havia se transformado em um complexo de trincheiras e de baterias de artilharia 
de difícil acesso. Finalmente, os chefes militares dos exércitos aliados convenceram o almirante Tamandaré 
a autorizar a subida da esquadra imperial pelo rio Paraguai, afim de apoiar a ação das tropas terrestres. 
Até àquela altura, travava-se forte debate sobre o papel da Marinha imperial na guerra, tudo em clima de 
desconfiançade ambos os lados. Mitre e setores do comando (e da política) brasileiro insistiam que as 
belonaves imperiais deveriam subir pelo rio Paraguai e ultrapassar a posição de Humaitá. Uma vez 
conquistada a posição acima, as comunicações e as linhas de abastecimento estariam cortadas, fazendo 
definhar o sistema defensivo paraguaio. Além disso, o canhoneio da esquadra deveria arrasar parte 
importante das fortalezas e das baterias inimigas, evitando perdas terrestres. Tamandaré, cujo comando foi 
alvo de críticas por várias figuras desde o início da guerra, insistia em pensar na conservação da esquadra 
imperial. Para o almirante, a vitória aliada era tão eminente que já conviria planejar o pós-guerra, para o qual 
era fundamental a projeção de poder naval do Brasil. No pensamento de Tamandaré, a insistência de Mitre 
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no emprego da Marinha imperial escondia uma vontade de arruinar as belonaves, já que eram muitas as 
dificuldades logísticas da operação, podendo haver grandes baixas para a Marinha brasileira. 
Na ação contra Curupaiti, em setembro de 1866, o canhoneio da Marinha sobre as fortificações se revelou 
pouco efetivo e as animosidades dentro dos corpos de exército aliados foi desdobrado numa crítica 
desarticulação de comandos. Com comandos enfraquecidos e um avanço desarticulado, as tropas aliadas 
sofreram importante derrota frente às fortalezas paraguaias sem conseguir ameaçar de fato as posições de 
Humaitá. Retomadas as posições originais, era patente o cansaço do esforço de guerra, que fora projetado 
para ser breve. As condições sanitárias e alimentícias das tropas sempre foram muito precárias dos dois lados 
das linhas inimigas. A cólera e as intoxicações alimentares eram praxe das tropas e vitimavam mais combates 
do que o engajamento militar em si. 
Com o travamento da guerra, novos voluntários escasseavam e as perseguições políticas para compor 
quadro de conscritos também mostravam seu cansaço. O Império começava a incentivar o alistamento de 
escravos em troca de indenizações e de alforrias, mandando homens despreparados para o teatro de guerra. 
A Argentina, por sua vez, via a exaustão de suas reservas financeiras, solicitando novo empréstimo ao 
Império, que, por sua vez, recorreu às praças internacionais e ao seu próprio tesouro para financiar a aliança. 
O Uruguai ameaçava a vacilar para o abismo de nova guerra civil, forçando a retirada de Flores para 
Montevidéu logo depois da derrota em Curupaiti. Do lado paraguaio, o horror se multiplicava com soldados 
mal fardados e famélicos protagonizando cenas mortificantes. Ao mesmo tempo em que combatiam com 
um fervor ímpar (além da obediência cega a López), os paraguaios eram capazes de saquear cadáveres em 
campos de batalha para conseguir roupas e algum alimento. A guerra assumia uma face infinita de horror. 
O gabinete liberal de Zacarias de Góes sinalizou que sentiu o golpe da grande derrota de Curupaiti. Ainda 
sob o espírito da Conciliação, fez um movimento político certeiro: nomearia o conservador Marquês de 
Caxias (futuro Duque) para ser o comandante brasileiro e afastaria Tamandaré da esquadra, nomeando o 
Visconde de Inhaúma. Com o movimento, o gabinete liberal conseguiria dividir a responsabilidade de uma 
guerra extremamente impopular com os conservadores, além de aplicar novo ânimo no teatro de operações. 
Durante quase um ano, Caxias trabalhou para unificar os comandos dos Exércitos brasileiros, além de 
trabalhar com Inhaúma num plano para atingir Humaitá o quanto antes. Paralelamente, o governo central 
argentino sofreria derrotas militares para os federalistas – agora sob liderança de Felipe Varela –, exigindo a 
retirada de Mitre do front, transmitindo o comando-em-chefe para Caxias. Com plenos poderes sobre a 
tropa, Caxias aprofunda sua reorganização, ainda que enfrentando uma severa epidemia de cólera nos 
acampamentos aliados. 
Enquanto a isolada província de Mato Grosso ia se recuperando no primeiro semestre de 1867 (chegando à 
desastrosa Retirada da Laguna4), as tropas no Paraguai só voltariam a movimentar-se no segundo semestre 
daquele ano. Caxias decidira-se por procurar alguma manobra de flanco contra o sistema de Humaitá, 
concentrando as tropas para forçar a passagem. Com o retorno de Mitre ao teatro de operações, retomava-
se o debate sobre o emprego da Marinha imperial contra Humaitá. Mitre insistia na tese de ultrapassagem 
 
4 Na ocasião, a coluna paulista que partira em 1864 em socorro ao Mato Grosso chegou a invadir o território paraguaio em 
alguns quilômetros. Apesar de terem certo objetivo de fustigar Assunção, as tropas brasileiras sofreram importantes reveses 
na incursão, sendo obrigada a retirar-se às pressas para território brasileiro. 
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de Humaitá a qualquer custo, enquanto o comando brasileiro lhe respondia que os termos do tratado de 
1865 não lhe davam poderes sobre as belonaves brasileiras. 
Caxias e Inhaúma optaram por uma solução intermediária, forçando uma passagem da esquadra para uma 
posição entre Humaitá (mais ao norte) e Curupaiti, ao mesmo tempo em que as tropas conseguiram impor 
um cerco por terra ao sistema paraguaio. Ainda que o canhoneio tenha dado resultados tímidos, a estratégia 
de cerco enfraqueceu as posições paraguaias de maneira importante, sem que as ações de López 
conseguissem romper as posições aliadas. 
Até o fim de 1867, a diplomacia brasileira teve de esgrimir seus melhores argumentos sobre o direito sobre 
a guerra, porque Estados Unidos e Reino Unido acenaram com ofertas de mediação. O desgaste por uma 
guerra tão longa colocava a diplomacia em posição delicada, optando por sua tática de dissuasão pelo 
prolongamento dos prazos até o esvaziamento da questão. No campo de batalha, uma nova configuração se 
firmaria ao final de 1857: com a morte de Marcos Paz, vice-presidente argentino, em Buenos Aires, Mitre foi 
obrigado a retornar em definitivo para a capital. Ou seja, Caxias teria poder total sobre as tropas. Era o 
momento de romper com o imobilismo da guerra de posições. 
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Figura 10 - Demonstração da localização estratégica do Forte de Humaitá em um ponto chave do Rio 
Paraguai 
 
 
 
 
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O avanço aliado e o fim de Solano López (1868-1870) 
O ano de 1868 iniciaria com um dos lances mais esperados da guerra: a Marinha imperial, enfim, subiria o 
rio Paraguai e ultrapassaria a posição de Humaitá, isolando os pontos fundamentais da defesa inimiga. Com 
Assunção desprotegida e sob alcance das belonaves brasileiras, López transferiu a capital para Luque. Na 
eminência do desastre militar completo, Solano López iniciou uma campanha desesperada com suas forças 
exaustas, exigindo esforços ímpares da população e de todo aparato burocrático-militar paraguaio. 
A loucura de López intensificou as perseguições políticas e os fuzilamentos ao mesmo tempo que lançou 
seus soldados famélicos em missões suicidas para tomar a esquadra imperial. Se, por um lado, a guerra 
parecia ter um fim eminente; por outro, o custo de uma guerra total começava a amargas os ânimos dos 
aliados. E o gabinete Zacarias se desgastava com uma velocidade impressionante dentro do governo. 
Já contavam quase dois anos do envio de Caxias para o comando dos exércitos aliados, quando se achava 
que apenas alguns reforços seriamsuficientes para derrotar López. O imobilismo generalizado e os custos 
importantes da guerra faziam com que os liberais tentassem empurrar para o conservador Caxias a 
responsabilidade do cansaço do esforço de guerra. A crise se avolumava dentro do Império à medida que as 
campanhas de alistamento enfrentavam desconfianças por parte da população brasileira, além do cansaço 
do orçamento público. A promessa de uma liquidação rápida da guerra feita por Caxias em 1866, por sua 
vez, parecia longe de se concretizar. 
Em julho de 1868, a queda do gabinete liberal parecia irreversível por conta dos danos políticos de uma 
guerra impopular sem grandes lances que justificassem qualquer ânimo. Zacarias nem podia intensificar as 
ações a favor da guerra, como não podia ir contra a disposição do Imperador de derrotar completamente 
Solano López. Preso num paradoxo, o gabinete Zacarias estava condenado à queda, mas nem queria Pedro 
II demiti-lo propriamente, nem podiam os liberais deixar o poder como uma baixa desonrosa. Complicando 
ainda mais a posição liberal, Caxias chegou a apresentar um pedido formal de demissão, dando como 
justificativa a desconfiança do Conselho de Ministros contra o seu trabalho. Sendo dissuadido por 
conservadores e por parte do gabinete, Caxias permanecia à frente das tropas, mas já com um trunfo político 
fundamental contra Zacarias de Góes. A solução apareceu em meio a uma crise política por conta da 
nomeação de um novo senador, quando Pedro II optou por um nome conservador advindo da lista tríplice. 
Alegando um desprestígio e uma afronta política, Zacarias e todo o gabinete liberal pediriam demissão. 
Neste ponto, ocorria uma inflexão importante nos rumos políticos do país. A fórmula da Conciliação (que 
perdurara por quase vinte anos) mostrava seu cansaço definitivo. Ao mesmo tempo, os liberais decaídos com 
a crise, como veremos mais adiante, se rearranjaram num grupo radical, que daria embocadura a 
contestações importantes contra a monarquia. A guerra atingia a estrutura política do Império, ainda que 
este estivesse em vantagem nos campos de batalha. 
Ironicamente, dias após a queda de Zacarias, as forças aliadas conseguiram tomar Humaitá, posição que já 
havia sido enfraquecida pelo próprio Solano López em manobras de retaguarda. Ao final de julho de 1868, 
os conservadores voltaram ao poder no Rio de Janeiro e um conservador conseguia uma das grandes vitórias 
da guerra no Paraguai. Com maior facilidade política, Caxias acenava para o Ministério da Guerra brasileiro 
com a possibilidade de encerrar a guerra, já que não havia mais possibilidade de agressão paraguaia, 
considerada saldadas todas as afrontas cometidas por López. Num lance ímpar de personalismo, o discreto 
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Pedro II ordenou que fosse mantida a guerra: Solano López tinha de ser apeado do poder vivo ou morto, e 
esta era uma ordem do Imperador! 
Os líderes aliados, no entanto, sabiam que a guerra seria reduzida a pequenas batalhas com grandes riscos, 
despendendo de homens e recursos já sem motivos que justificassem qualquer morticínio. Neste contexto, 
o general argentino na frente de batalha respondeu que as tropas argentinas já não responderiam mais a 
Caxias, já que Buenos Aires não empenharia vidas numa guerra esvaziada de sentido. O Império, por sua vez, 
considerou rompida a aliança de 1º de maio de 1865; avançando sozinho para derrubar López. Ainda que, 
em outubro, argentinos e uruguaios tenham concordado em seguir na guerra, estava oficialmente extinto o 
cargo de comandante-em-chefe e os três exércitos apenas fariam ações coordenadas, mas já não conjuntas. 
O final da guerra, portanto, estava, mais do que nunca, a cargo do Brasil. 
Em dezembro de 1868, as tropas imperiais travaram combates absolutamente decisivos contra os paraguaios 
(foi a chamada “Dezembrada”), aniquilando qualquer possibilidade de surpresa mesmo no perigoso Chaco. 
López estava sem capacidade alguma de resistência frontal, chegando a fugir de seu quartel-general à vista 
dos comandantes brasileiros. Sem esquema fortificado e sem tropas, o Paraguai já estava completamente 
vencido, ocorrendo a ocupação de Assunção em 1º de janeiro de 1869 pelas tropas imperiais. 
Consolidada a posição brasileira na capital paraguaia e verificada a absoluta falta de condição paraguaia de 
manter uma luta real contra as forças inimigas (pouco tempo depois, López ainda perderia sua fundição de 
material bélico, única indústria paraguaia), Caxias comunica abertamente que dá por encerrada a guerra, 
mesmo sem a captura de López. Com a saúde combalida e convicto de que nada justificaria empenhar mais 
esforços, Caxias se retira do Paraguai antes do final de janeiro e sem receber nenhuma autorização para tal. 
Decidido a encerrar o conflito, Caxias deslocou-se para Montevidéu, mas só em março teria seu pedido de 
demissão aceito pelo governo brasileiro. 
Uma vez no Rio de Janeiro, Caxias chega de maneira discreta, mas, ainda assim, é condecorado pelo 
Imperador, recebendo o título de duque, o mais alto da nobreza brasileira, que jamais fora nem voltaria a 
ser concedido. Ainda que tendo recebido todas as honrarias, Duque de Caxias não foi ouvido pelo Imperador, 
que nomeou o Conde d’Eu, seu genro, para o comando-em-chefe das forças brasileiras no Paraguai. Mais 
uma vez, o Imperador exigia a queda de Solano López. 
A chegada do conde no Paraguai foi seguida por uma série de avanços contra as últimas posições paraguaias, 
ocupando cidades e perseguindo as constantes retiradas de López. Ao mesmo tempo, o desgaste das tropas 
e a lassidão do novo comandante abriram as portas para gravíssimos excessos contra prisioneiros de guerra. 
Ainda que sob escaramuças entre os comandos brasileiro e argentino, constituiu-se um governo provisório 
no Paraguai, mas as tentativas de reorganização do Estado em meio à guerra foram eivadas por corrupção e 
desorganização de um país que jamais tivera instituições sólidas. 
Em 16 de agosto de 1869, ocorreu a última grande batalha da Guerra do Paraguai, a batalha de Acosta-Ñu, 
quando López já empregava velhos e crianças na frente de combate. Mesmo sofrendo de paranoias e 
assassinando boa parte daqueles que lhe cercavam, Solano López conseguiu arrastar sua fuga até 1º de 
março de 1870, quando é morto na batalha de Cerro Corá. 
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Figura 11 - Chico Diabo atravessando com uma lança Solano López (Semana Illustrada nº 485, 27/03/1870). 
 
O Prata do pós-guerra 
Morto López, era a hora de negociar a paz, já que acabava a última exigência de Pedro II. O governo provisório 
paraguaio aceitava as condições impostas pelos aliados, que, por sua vez, seguiam o rito e as condições 
fundadas no Tratado da Tríplice Aliança cinco anos antes. Entre julho e novembro de 1870, o Paraguai viveria 
a eleição de sua Assembleia Nacional e a promulgação de sua primeira Constituição sob a tutela dos governos 
aliados, ainda elegendo Cirilo Rivarola como presidente. Em 1871, aliados e paraguaios negociavam os 
termos finais de paz, quando Brasil (representado pelo Barão de Cotegipe) e Argentina (Manuel Quintana) 
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se desentenderam sobre os termos de paz. Com a retirada de Quintana para Buenos Aires, Cotegipe sustenta 
unilateralmente as negociações e, em janeiro de 1872, celebra um acordo de paz, amizade, navegação e 
limites com o Paraguai (Tratado Loizaga-Cotegipe), rompendo explicitamente os termos acordados em 1865. 
Com a traição de Cotegipe aos termos da aliança,a Argentina empreendeu forte reação, inclusive não 
reconhecendo os novos limites do Paraguai. Entre 1872 e 1876, as relações entre Brasil e Argentina 
passariam por grandes avanços e retrocessos, tendo como ponto focal a questão paraguaia. Os 
representantes brasileiros em Assunção, lastreados pela presença das tropas, tinham grande influência sobre 
o governo paraguaio, fazendo malograr as iniciativas argentinas de negociar termos de paz em separado com 
o Paraguai. Entre pressões sobre o parlamento paraguaio para não reconhecer tratados e tentativa de golpe, 
os esforços argentinos só estabilizariam em 1876, quando Irigoyen e Machaín celebraram um acordo 
guarani-argentino, estabelecendo a paz definitiva e as linhas fundamentais dos limites. 
Não por acaso, a retirada das tropas brasileiras do Paraguai só iniciaria em 1º de maio de 1876, quando a 
questão com a Argentina já estava solucionada. Onze anos após a constituição da Tríplice Aliança, o Império 
começava sua política de distensão no Prata e a Guerra do Paraguai tinha seus derradeiros ecos. A questão 
paraguaia seria sepultada definitivamente apenas em 30 de julho de 1877, ocasião em que foi celebrado o 
Protocolo de Montevidéu. 
O protocolo definia que os três aliados de 1865 concorreriam para garantir ao Paraguai independência, 
soberania e integridade territorial no prazo de cinco anos. Após quase uma década de escaramuças mal 
disfarçadas entre Rio de Janeiro e Buenos Aires, a guerra chegava a um bom termo no plano político. Porque, 
financeiramente, o esforço de guerra foi seguido por um calote uruguaio contra o Império, levando o Barão 
de Mauá à ruína sem que nada fosse feito para socorrer aquele que fora peça importante na projeção de 
poder brasileira no Prata. 
As dívidas paraguaias também passaram por um calote inevitável, com o Barão de Cotegipe, chanceler 
conservador em 1886, reconhecendo a absoluta incapacidade paraguaia de saldar qualquer compensação. 
Com os cofres exauridos e aprisionado por contradições domésticas, o Império mergulhava em sua fase de 
distensão no Prata, abandonando qualquer possível posição de imperialismo brasileiro. 
A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO OCASO DO IMPÉRIO 
Finda a Guerra do Paraguai em 1870, o governo brasileiro podia voltar a desempenhar uma política externa 
com maior desenvoltura, sem a mácula permanente de uma guerra assimétrica contra um vizinho. Nos vinte 
anos finais da monarquia, o Brasil passou por algumas modulações de seus temas anteriores. Entre perdas 
de potência e algumas revisões, os últimos anos do Império apresentaram alguns pontos de política externa 
que merecem ser objeto de estudo. 
Sem as demonstrações de força que seriam de se esperar de um “imperialismo brasileiro”, o governo 
brasileiro entrou em fase de distensão e de reativação pacífica de sua política externa. Superadas as questões 
com Estados Unidos e Reino Unido, o país voltava a integrar-se ao centro do sistema capitalista dentro de 
suas condições de periferia. Em meio à distensão política regional, o Brasil arrefeceu seu ânimo de 
normalização de suas fronteiras após a guerra. Na década de 1870, o Senado colombiano rejeitaria o tratado 
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firmado em 1853 e duas negociações lindeiras com a Bolívia fracassariam, bem como emperrariam as 
negociações na região das Guianas. Criava-se um novo sentimento de necessidade de relativizar os princípios 
férreos surgidos ao longo das duas primeiras décadas do reinado de Pedro II, o que incluía uma nova 
abordagem sobre a arbitragem internacional. No entanto, era preservada a tônica fundamental das décadas 
anteriores, mesmo após a ruína da Conciliação, colocando a política externa, na grande maioria dos casos, 
muito acima das divergências partidárias. 
Com importante protagonismo do Visconde de Rio Branco, as relações com a Argentina, entre avanços e 
contrações, conseguiram solidificar pontos importantes mesmo após o arrefecimento geral da política sul-
americana. No período, foi gestada a resolução da questão de Palmas entre os dois países, cujo resultado só 
seria alcançado na República (1895), com vitória brasileira sob arbitragem internacional. Para o Visconde, 
mesmo sob os litígios lindeiros, ambos os países só conseguiriam alguma estabilidade sobre a paz caso 
fossem ampliados os laços de interdependência e cooperação, com importante destaque ao comércio. De 
lado a lado, importantes lideranças políticas atuaram para que as relações bilaterais concluíssem sua 
travessia após anos de belicismo sem que se resvalasse para a guerra novamente. Ainda que com 
dificuldades, Brasil e Argentina conseguiram pavimentar um caminho viável para relações pacíficas. 
Ainda no plano regional, a diplomacia brasileira conseguiu atrair Bolívia e Chile para sua esfera de influência, 
superando anos de dificuldade e de limitações na região. A diversificação de parceiros e a dinamização via 
neutralidade pacífica foram peças importantes para superar as dificuldades das relações com Bueno Aires. 
O imobilismo geopolítico acabou sendo amolecido pela criatividade diplomática brasileira. 
O ponto mais alto dessa criatividade diplomática se deu com a diplomacia de prestígio encabeçada por Pedro 
II. O ponto focal da política estava no empenho do prestígio pessoal do Imperador para perseguir o interesse 
nacional internacionalmente. O bom trânsito do monarca entre intelectuais, cientistas, governantes e 
políticos de todo o mundo capitalizava a diplomacia de prestígio com acessos privilegiados, além de 
envernizar a figura de Pedro II como o rei-filósofo dos trópicos. Em 1871, 1875 e 1887, o Imperador lançou-
se em importantes viagens pelo Ocidente, estabelecendo vínculos importantes pelo mundo, dos Estados 
Unidos à Rússia czarista e o Império Otomano. 
A incursão internacional do Imperador trouxe frutos importantes para a inserção internacional brasileira, 
uma vez que o país passou a ser convidado para participar de exposições até arbitragens internacionais. 
Mesmo na última década da (já decadente) monarquia, o Brasil foi chamado para séries de relevantes 
eventos internacionais. Dentre eles, destaca-se a presença do próprio Pedro II na Exposição Mundial da 
Filadélfia em 1876, ocasião em que dividiu as atenções com Ulysses Grant, presidente americano. Em meio 
a um contexto de crescente importância do mercado americano para as exportações brasileiras, o Imperador 
acenava com simpatia para o aumento do intercâmbio comercial, abrindo o país para a importação das 
tecnologias apresentadas na exposição. 
Importante notar que todo o aparato simbólico das primeiras décadas do Segundo Reinado foi traduzido 
numa bem articulada expressão internacional. Se os trajes imperiais se tornavam mais sóbrios e alinhados 
às práticas europeias, a construção do Império tropical, ao final da monarquia, servia para inserir os produtos 
brasileiros nos grandes mercados sob o alumbramento provocado por tão exótico país e seu Imperador sui 
generis. 
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A última década da monarquia ainda veria o estabelecimento de inesperadas relações com a China. 
Procurando dinamizar os emperrados caminhos da imigração para o Brasil, a diplomacia brasileira viu na 
China, além da miríade do comércio internacional, a possibilidade de importação de mão de obra. Apesar do 
sucesso ao estabelecer relações formais e amigáveis (além da liberação de comércio), o acordo com a China 
sobre a imigração acabou malogrando por resistências domésticas dos dois países, além da resistência 
pessoal do Imperador brasileiro em estabelecer um tratado internacional de caráter desigual, buscando 
distância das práticas imperialistas emergentes na Europa.

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