Buscar

19 arrependimento posterior

Prévia do material em texto

CAPÍTULO 19 – ARREPENDIMENTO POSTERIOR
19.1 CONCEITO
Art. 16, CP.
É a causa pessoal e obrigatória de diminuição da pena que ocorre quando o responsável pelo crime praticado sem violência à pessoa ou grave ameaça voluntariamente e até o recebimento da denúncia ou queixa, restitui a coisa ou repara o dano provocado por sua conduta.
19.2 ALOCAÇÃO DO INSTITUTO
Para diferenciar do arrependimento eficaz o legislador tratou do arrependimento posterior no âmbito da teoria do crime. Mas na verdade, o assunto deveria ter sido disciplinado na seara da teoria da pena, por influir na dosagem, em nada alterando a adequação típica do fato concreto, ao contrário do que se dá no arrependimento eficaz.
19.3 NATUREZA JURÍDICA
É causa pessoal e obrigatória de diminuição de pena, incidindo na terceira fase de aplicação de pena privativa de liberdade. Enquanto que a desistência voluntária e o arrependimento eficaz são causas de exclusão da tipicidade.
19.4 EXTENSÃO DO BENEFÍCIO
O arrependimento posterior alcança qualquer crime que com ele seja compatível, e não apenas os delitos contra o patrimônio. Basta que exista um dano causado em razão da conduta penalmente ilícita.
Embora com alguma controvérsia, prevalece o entendimento de que a reparação do dano moral enseja aplicação do arrependimento posterior.
19.5 FUNDAMENTOS
(1) proteção a vítima, que deve ser amparada em relação aos danos sofridos e (2) fomento ao arrependimento por parte do agente.
19.6 REQUISITOS
a) natureza do crime: o crime deve ter sido praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa. A violência do crime contra a coisa não exclui o benefício.
Em caso de violência culposa, é cabível o arrependimento posterior. Não houve violência na conduta, mas sim no resultado. Ex: lesão corporal culposa.
No tocante aos crimes perpetrados com violência imprópria, duas posições se destacam:
1) É possível o arrependimento posterior, pois a lei só exclui a violência própria.
2) Não se admite o benefício, pois violência imprópria é violência dolosa, reduzindo a impossibilidade de resistência da vítima.
b) reparação do dano ou restituição da coisa: deve ser voluntária, pessoal e integral.
Voluntária – deve ser realizada sem coação física ou moral. Pode se dar por orientação de familiares, advogado, etc. Não se exige espontaneidade.
Pessoal – salvo na hipótese de comprovada impossibilidade, em que terceira pessoa, o representando, pode proceder a reparação do dano ou a restituição da coisa. Por óbvio não pode ser resultante da atuação policial ao apreender o produto do crime, pois essa circunstância excluiria a voluntariedade.
Integral – a completude deve ser analisada no caso concreto, ficando a cargo da vítima, principalmente, a sua constatação.
c) limite temporal: deve ser efetuada até o recebimento da denúncia ou da queixa. Se a reparação do dano for efetuada após o recebimento da denúncia ou da queixa, mas antes do julgamento, aplica-se a atenuante genérica prevista no art. 65, III, “b”, parte final, CP.
19.7 COMUNICABILIDADE DO ARREPENDIMENTO POSTERIOR NO CONCURSO DE PESSOAS
A reparação do dano ou restituição da coisa tem natureza objetiva. Consequentemente, comunica-se aos demais coautores e partícipes do crime, na forma definida pelo art. 30, CP.
19.8 CRITÉRIO PARA REDUÇÃO DA PENA
A redução dentro dos parâmetros legais (1 a 2/3) deve ser calculada com base na celeridade e na voluntariedade da reparação do dano ou da restituição da coisa.
19.9 RECUSA DO OFENDIDO EM ACEITAR A REPARAÇÃO DO DANO OU A RESTITUIÇÃO DA COISA
O agente não pode ser privado da diminuição da pena se preencher os requisitos legalmente previstos para a concessão do benefício.
Assim, a entrega da coisa será à autoridade policial, que deverá lavrar auto de apreensão, para a remessa do juízo competente. Em casos extremos faz o depósito em juízo, em ação de consignação em pagamento.
19.10 DISPOSITIVOS ESPECIAIS ACERCA DA REPARAÇÃO DO DANO
19.10.1 Peculato Culposo
Art. 312, §3°, CP. No peculato culposo, a reparação do dano, se anterior à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade, e, se lhe for posterior, reduz de metade a pena imposta. Essa regra especial afasta a incidência do art. 16,CP.
19.10.2 Juizados Especiais Criminais
A composição dos danos civis entre o autor do fato e o ofendido, em se tratando de crimes de ação penal privada ou ação penal pública condicionada à representação, acarreta na renúncia ao direito de queixa ou de representação, com a conseqüente extinção da punibilidade (art. 74, § único, lei 9.099/95)
19.10.3 Apropriação Indébita previdenciária
Art. 168-A, §2°, CP, há extinção da punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento.
19.10.4 Súmula 554 do STF
“O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal”.
Sua interpretação a contrário sensu autoriza que o pagamento de cheque sem previsão de fundos, até o recebimento da denúncia, impede o prosseguimento da ação penal.
A jurisprudência atual é dominante no sentido de considerar a súmula válida, com a justificativa de não se referir ao arrependimento posterior, mas sim à ausência de justa causa para a denúncia, por falta de fraude. É o atual entendimento do STJ, HC 61.928/SP.
Vale destacar, porém, já ter decidido o STJ, em oposição a súmula 554, STF, que o pagamento da dívida resultante da emissão dolosa de cheque sem fundos, ainda que posteriormente ao recebimento da denúncia ou queixa, importa na extinção da punibilidade. (HC 93.893/SP).

Continue navegando