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Capítulos UNIDADE VII Estética 27 ãoo 3448 28 ra e arte 29 Ar e c o de , 30 a e 71 31 s as 3779 o dde Assiss, nio Frrannci 015 E N S M A G A R I U L S D IB / D R É A N 346 Vale observar que o ideal arquitetônico, tanto do ponto de vista funcional como da beleza, sofre s no ddeccorrer daa h stóóriaa e que essas muud ças em seer nnotadas num meesmmo as produzidas aqui, é os XVII XIX ee XX. Não se poode squueccer quue, emmboora a obra proojet por em (página sseguinnte), n seuu entoorn predomin m õess dos sécu os VIII e XIXX. Questões O fato de considerarmos as duas construções como obras de arte arquitetônicas nos leva a formu- lar algumas perguntas: 1. O que é uma obra de arte? 2. O conceito de belo é universal ou é relativo a um tempo e a um período? 3. O gosto varia de sujeito para sujeito ou é algo universal? 4. Por que a estética tem ligação com a arte? Discuta em grupo e anote as conclusões. Esses são os temas que vão nos guiar nesta unidade. e os Vla unić Fra k Geh emm Pra (Reppúblicca ca 2015. ética a óri a ou o s miinaar alal actete ca onn to ter ticcass c m nuns uee ese eencoonnttraaamm nn perccepç dee bjej caam aa oçoç o eest a dita aa oou lar daa asrr s formmaas ede arteee. é. Vocabuláário técnico ee crrítico daa filosofiaf São PPPaulo: Mart ns Foontes, 19993. p. 343-344 xtoo aacci bs a im e ois cioo mum odd to bell d tãão diife or,r, aa a aaada mm pat im nio h ó 76 e Abaaixx m ededifi íc oio ass c gânii as,, iiim o o XXXXX a dês m r déddd o ééccul I c d omoo dd sc taa. E S M A G T Y /G E U C E A N D 347 Estética: introdução conceitual CAPÍTULO 27 Natureza-morta com maçãs (a partir de Cézanne), de Vik Muniz, 2004. Essa obra de Vik Muniz, parte da s rie uadros de revistas apresenta-nos uma natureza-morta. Ela nos faz pensar em outro artista e em outra obra do século XX: o pintor pós-impressionista Paul zanne e sua Natureza-morta com maçãs. Seria então uma cópia? Não. De um lado, se imaginarmos as criações de Cézanne, teremos densas camadas de tinta a óleo aplicadas sobre uma tela, recorrendo tanto a pincéis como a espátulas. De outro, ao observarmos a obra reproduzida acima, veremos que um furador de papel e revistas parecem ter substituído os instrumentos usuais na composição da obra. Trata-se de uma releitura, como se convencionou chamar em arte contemporânea, ou seja, é uma apropriação de uma obra do passado em outro contexto. Nesse caso, o artista, fiel ao seu gosto pela pesquisa de materiais, refaz a pintura de Cézanne com pequenos círculos de papel de revista colados de maneira sobreposta. Ao final, ele fotografa o resultado. © M U N IZ , V IK /A U T V IS , B R A S IL , 2 0 1 6 – C O LE Ç Ã O P A R T IC U LA R 348 Os objetivos deste capítulo são: compreender que a estética é um ramo da loso a; compreender que o gosto, como julgamento sem preconceitos, é formado a partir da convivência com a obra de arte; entender o signi cado da polêmica sobre a subjetividade e objetividade do gosto por meio da história da loso a; dinstinguir a experiência estética de outras experiências a partir de suas características próprias; e compreender que a recepção estética não impõe regras externas à obra para julgá-la. Sugerimos que ao longo do estudo alguns termos sejam destacados: estética; gosto; valores estéticos; belo; feio; preferência; e experiência estética. comum que a arte contemporânea incorpore objetos e temáticas do cotidiano, o efêmero e os valores difundidos pelos meios de comunicação. No caso da obra de Vik Muniz, pode-se pesquisar outras referências para que os alunos notem os materiais não usuais com que o artista escolhe trabalhar. 1 Conceito e história do termo estética de a Pré-história e tenha ocupado lugar de grande im- portância em todas as civilizações, a palavra estética só foi introduzida no vocabulário filosófico em 1750, pelo filósofo alemão Alexander Baumgarten. Referia-se à cognição por meio dos sentidos, ou seja, o conhecimento sensível. Mais tarde, passou a usar o termo com referência à percepção da beleza, especialmente na arte. Para Baumgarten, a estética tem exigências pró- prias em termos de verdade, pois alia a sensação e o sentimento à racionalidade. A estética, para ele, completa a lógica e deve dirigir a faculdade do co- nhecer pela sensibilidade. Define a beleza estética como “a perfeição, à medida que é observável como fenômeno do que é chamado, em sentido amplo, gosto, é a beleza”.1 Kant daria continuidade a esse uso, utilizando a palavra estética para designar os julgamentos de beleza, tanto na arte quanto na natureza. Mais tarde, no século XX, a constatação da existência de muitos valores estéticos além da beleza levou o objeto da estética a deixar de ser “a produção voluntária do belo”. Mais recentemente, o conceito foi ampliado para referir-se a julgamentos e avaliações, como também às qualidades de um objeto, às atitudes do sujeito para considerar o objeto e, principalmente, à experiência prazerosa que o indivíduo pode ter diante de uma obra de arte. Mais importante do que tudo, o estético passou a denominar outros valores artísticos, que não só a beleza no sentido tradicional. Por isso, enquadramos a estética em um ramo da filosofia que estuda racionalmente os valores propostos pelas obras de arte e o sentimento que suscitam nos seres humanos. Ao estudar a história das artes, entretanto, en- contramos expressões como: estética renascentis- ta, estética realista, estética socialista etc. Nesses casos, a palavra estética, usada como substantivo, designa um conjunto de características formais que a arte assume em determinado período, que corresponde ao que chamamos de estilo. Esse é um significado restrito do termo estética, que atualmente também pode ser trocado por poética: “conjunto de princípios estéticos, explícitos ou implícitos, que orientam a atividade de um escri- tor, artista ou movimento literário ou artístico”.2 A poética, portanto, vai além dos princípios estéticos, na medida em que estes precisam aparecer em uma prática determinada. É nesse sentido que podemos falar da poética de Vik Muniz ou de Ismael Nery. A de Vik Muniz é pós-modernista porque inclui o uso de materiais do cotidiano, como lixo, revistas picadas, açúcar etc., além da releitura de obras de outros artistas e da fotografia. O principal, entretanto, é o seu modo próprio de ver o mundo. 1 HUISMAN, Denis. Dicionário dos filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 123. 2 Definição para o verbete oética Dicionário da língua portuguesa da Porto Editora. Disponível em ‹www. infopedia.pt/lingua-portuguesa/po%C3%A9tica›. Acesso em 28 mar. 2016. Estética. Do grego aisthesis, signifi ca “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”, “percepção totalizante”. Etimologia Quem é? Vik Muniz nasceu em São Paulo em 1961 e divide-se entre Nova York e Rio de Janeiro. Trabalha desde 1988 em séries nas quais usa ma- teriais inusitados, como açú- car, chocolate e lixo. Compõe as imagens com materiais instáveis sobre superfícies e depois as fotografa. As foto- grafi as em edições limitadas são o produto fi nal de seu trabalho. Sua pesquisa gira em torno dos materiais, da conservação e da circulação de obras efêmeras. Vik M niz F 2 1 Quem é? Alexander Gottlieb Baum- garten (1714-1762), filó- sofo alemão, deu o primeiro curso de estética em 1742. Esse curso foi a base do livro Estética (escrito original- mente em latim, com o título de Aesthetica), que fi caria inacabado até a morte do fi lósofo, em 1762. Graças a ele, a fi losofi a foi enrique- cida com essa nova rea do conhecimento. Alexander Gottlieb Baumgarten. Ilustração a partir de um retrato do século XVIII. Z U M A P R E S S /E A S Y P IX B R A S L E D U A R D O F R A N C S C O 349 R e p ro d u ç ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . O melhor de Calvin (1992), tirinha de Bill Watterson. Para Calvin, como para grande parte das pessoas ue não têm familiaridade com as propostas da arte de van uarda e da arte contemporânea, a vanguarda abriga toda e qualquer coisa, com ou sem valor estético. 3 Para mais informações sobre o belo e o gosto, conferir o capítulo 31, “Concepções estéticas”. 2 O belo e o feio: a questão do gosto O que é a beleza? Será possível defini-la ob- jetivamente? Ou será uma noção eminentemente subjetiva, isto é, que depende de cada um? A beleza De Platão ao classicismo, os filósofos tentaram fundamentar a objetividade da arte e da beleza. Para Platão, a beleza é a única ideia que resplandece no mundo. Se, por um lado, ele reconhece o caráter sensível do belo, por outro, continua a afirmar sua essência ideal, objetiva, porque existe no mundo das ideias. Segundo o pensamento platônico, somos obrigados a admitir a existência do “belo em si” inde- pendentemente das obras individuais que, na medida do possível, devem aproximar-se desse ideal universal. O classicismo vai ainda mais longe, pois deduz regras para o fazer artístico com base no belo ideal, fundan- do a estética normativa. É o objeto que passa a ter qualidades que o tornam mais ou menos agradável, independentemente do sujeito que as percebe. Para uma visão mais aprofundada sobre a objetivi- dade da arte e da beleza, leia o item “O naturalismo na arte grega”, no capítulo 31, “Concepções estéticas”. Para saber mais Nos séculos XVII e XVIII, do outro lado da polêmi- ca, os filósofos empiristas Locke e Hume relativizam a beleza, uma vez que ela não é uma qualidade das coisas, mas só o sentimento na mente de quem as con- templa. Por isso, o julgamento de beleza depende tão somente da presença ou ausência de prazer em nossas mentes. Todos os julgamentos de beleza, portanto, são verdadeiros, e todos os gostos são igualmente válidos. Aquilo que depende do gosto e da opinião pessoal não pode ser discutido racionalmente, donde o ditado: “Gosto não se discute”. O belo, portanto, não está mais no objeto, mas nas condições de recepção do sujeito.3 No século seguinte, Kant, na tentativa de superar a dualidade objetividade-subjetividade, debruça-se sobre os julgamentos estéticos, ou de beleza, e não so- bre a experiência estética. Afirma que o belo é “aquilo que agrada universalmente, ainda que não se possa justificá-lo intelectualmente”. Para ele, o objeto belo é uma ocasião de prazer, cuja causa reside no sujeito. O princípio do juízo estético, portanto, é o sentimento do sujeito, e não o conceito do objeto. Entretanto, esse sentimento é despertado pela presença do ob- jeto. Embora seja um sentimento, portanto, subjetivo individual, há a possibilidade de universalização desse juízo, pois as condições subjetivas da faculdade de julgar são as mesmas em cada ser humano. Belo, portanto, é uma qualidade que atribuímos aos objetos para exprimir certo estado da nossa subjetividade. Por isso, não há uma ideia de belo nem pode haver regras para produzi-lo. Há objetos belos, modelos exemplares e inimitáveis, como trata o último capítulo desta unidade. Hegel, em seguida, introduz o conceito de história ao estudo do belo, e, a partir do século XIX, a beleza muda de face e de aspecto através dos tempos. Essa mudança (devir), que se reflete na arte, depende mais da cultura e da visão de mundo vigentes do que de uma exigência interna do belo. Objetividade: julgamento fundado sobre a observação do objeto que tem validade para todos os indivíduos, não somente para este ou aquele. Subjetivo: que é individual, válido para cada sujeito; baseado em valores, preferências, limites e possibilidades individuais. C A LV IN & H O B B E S , B IL L W A T T E R S O N © 1 9 9 2 W A T T E R S O N /D IS T. B Y U N IV E R S A L U C L IC K 350 R e p ro d u ç ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 Hoje, de uma perspectiva fenomenológica, con- sideramos o belo como uma qualidade de certos objetos singulares que nos são dados à percepção. Beleza é, também, a imanência total de um sentido ao sensível. O objeto é belo porque realiza sua finalida- de, é autêntico, verdadeiramente segundo seu modo de ser, isto é, por ser um objeto singular, sensível, carrega um significado que só pode ser percebido na experiência estética. Não existe mais a ideia de um único valor estético que seja base para julgarmos todas as obras. Cada objeto singular estabelece seu próprio tipo de beleza. O feio A questão do feio está implícita na problemática do belo. Por princípio, o feio não pode ser objeto da arte. No entanto, podemos distinguir, de imediato, dois modos de representação do feio: No primeiro caso, embora o assunto “feio” tenha sido banido do território artístico durante séculos pelo menos desde a Antiguidade grega até a época medieval no século XIX ele foi reabilitado. No momento em que a arte rompe com a ideia de ser cópia do real para ser considerada criação autônoma com a função de revelar as possibilida des do real, ela passa a ser avaliada de acordo com a autenticidade da sua proposta e sua capacidade de falar ao sentimento, como aborda o capítulo 29, “Arte como forma de pensamento”. No segundo caso, trata-se de percebermos que o problema do belo e do feio foi deslocado do assunto para o modo de representação. Só haverá obras “feias” na medida em que forem malfeitas, isto é, que não corresponderem plenamente à sua proposta. Em outras palavras, se houver uma obra feia – neste último sentido –, não haverá obra de arte. Gosto e subjetividade O conceito de gosto não deve ser encarado como uma preferência arbitrária e imperiosa da nossa subjetividade. Quando o gosto é entendido desse modo, ele se refere mais a si mesmo do que ao mundo dentro do qual se forma, e esse tipo de julgamento estético decide o que prefiro em virtude do que sou. Passo a ser a medida absoluta de tudo (a uilo de ue eu gosto é bom e aquilo de que eu não gosto é ruim), e essa atitude só pode levar ao dogmatismo e ao preconceito. A subjetividade em relação ao objeto estéti- co precisa estar mais interessada em conhecer entregando-se às particularidades de cada objeto, do que em preferir. Nesse sentido, ter gosto é ter capacidade de julgamento sem preconceitos. É a própria presença da obra de arte que forma o gosto: torna-nos disponíveis, supera as particularidades da subjetividade, converte o particular em universal. Segundo o filósofo francês Mikel Dufrenne (1910- -1995), a obra de arte: [...] convida a subjetividade a se constituir como olhar puro, livre abertura para o objeto, e o conteúdo particular a se pôr a serviço da com- preensão em lugar de ofuscá-la fazendo prevalecer as suas inclinações. À medida que o sujeito exer- ce a aptidão de se abrir, desenvolve a aptidão de compreender, de penetrar no mundo aberto pela obra. Gosto é, finalmente, comunicação com a obra para além de todo saber e de toda técnica. O poder de fazer justiça ao objeto estético é a via da universalidade do julgamento do gosto. DUFRENNE, Mikel. Phénoménologie de l’expérience esthétique. Paris: PUF, 1967. p. 100. v. 2. (Tradução nossa) Nessa obra, o artista retrata sua esposa, tendo por tema não a pessoa dela propriamente, mas o ser humano e sua postura diante do mundo e de si mesmo. Você acha que é um retrato feio ou bonito? Explique por que essa pintura indica a busca pela fi- gura humana ideal, ou seja, por que é uma figura tipo. Para refletir Retrato de Adalgisa, pintura de Ismael Nery. Óleo sobre cartão, 34,6 cm x 26,5 cm. IS M A EL N ER Y – C O LE Ç Ã O P A R T U LA R 351 R e p ro d u ç ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d oC ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 3 A atitude estética Apreciar as qualidades estéticas de uma obra de arte é bem diferente de notar suas propriedades físicas: tamanho, peso, material de que é feito. Seu valor econômico, de troca, também não entra em consideração na apreciação estética. Costuma-se dizer que a experiência estética, ou a experiência do belo, é gratuita, é desinteressada, ou seja, não visa a um interesse prático imediato. Só nesse sentido podemos entender a gratuidade dessa experiência; jamais como inutilidade, uma vez que ela responde a uma necessidade humana e social. Ressalte-se que a experiência estética: termos de verdade determinado fim. Algumas vezes essa atitude desinteressada é chamada de “contemplativa”. Não nos enganemos, entretanto, com o significado dessa palavra. A con- templação não se opõe à ação: ao contrário, ela é também uma ação, pois é percepção ativa, que envol- ve a antecipação e a reconstrução. É o que se verifica na experiência musical (por ser uma arte temporal, precisamos reter na memória as notas já tocadas para poder seguir a melodia); nas artes visuais (sobretudo em seus aspectos formais, como a relação da figura com o fundo, as formas, cores e tonalidades, os dife- rentes planos etc.); na literatura (a estrutura narrativa). Por exemplo, nosso interesse pela obra de Vik Mu- niz, que abriu este capítulo, não é guiado pelo fato de estarmos com fome. O interesse é pelo uso incomum de círculos de papel colorido formando a imagem que foi fotografada; pelo fato de que esse método de certa forma relembra o pontilhismo (ou a sobreposição de pontos coloridos para formar as cores secundárias e terciárias), usado por alguns impressionistas. Todos es- ses aspectos formais da obra de arte contribuem para ue possamos fazer uma leitura de seus si nificados. 4 A recepção estética A experiência estética é a experiência da presença tanto do objeto estético como do sujeito que o percebe. Nenhum ar umento racional ou con unto de regras poderá nos convencer de que um objeto é belo se não pudermos percebê-lo por nós mesmos, se não estivermos frente a frente com ele. A obra de arte, como já dissemos, pede uma re- cepção justa, que se abra para ela e ao mesmo tempo não lhe imponha normas externas. Essa recepção tem por finalidade o desvelamento do objeto, por meio de um sentimento que o acolhe e lhe é solidário. A obra de arte espera que aquele que a aprecia “jogue seu jogo”, isto é, entre no seu mundo, de acordo com as regras ditadas pela própria obra para que seus múltiplos sentidos possam aparecer. O espectador, ao acolhê-la, atualiza as possibili- dades de significado da arte e testemunha o surgi- mento de algumas significações contidas na obra. Outros irão vê-la, e outros significados surgirão. 5 A compreensão pelos sentidos Agora fica mais fácil entender a definição de estética como “compreensão pelos sentidos” e “per- cepção totalizante”. A arte desafia o nosso intelecto tanto quanto as nossas capacidades perceptivas e emocionais. Quando nos expomos a uma obra de arte – seja ela erudita, seja popular – de peito aberto, sem preconceitos e sem impor limites à experiência, todo o nosso ser, tudo o que somos, pensamos e sen- timos se faz presente e contribui para o surgimento de um sentido no sensível. Ao mesmo tempo, cada experiência estética educa o nosso gosto, torna a nossa sensibilidade mais aguda, nos enriquece emo- cional e intelectualmente, por meio do prazer e da compreensão que essa experiência nos proporciona. Estrada com cipreste e estrela (1890), pintura de Vincent van Gogh. O pintor holandês compreendia o valor emocional das cores, que dão um “estilo grandioso para as coisas”, e usava-as pelo seu valor expressivo. Nessa tela, as cores justapostas e as pinceladas que formam linhas curvas dão movimento à cena retratada. V IN C E N T V A N G O G H – R IJ K S M U S E U M A M S T E R D Ã 352 R e p ro d u ç ã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . Leitura complementar “O racionalismo clássico e o empirismo sensualista apresentam, embora por mo- tivos contrários, o mesmo defeito: ambos levam a fundamentar o ‘senso comum’que se cria em torno do objeto belo, de modo tal que a subjetividade se vê, por assim dizer, reifi cada e, por isso mesmo, negada. Nos clássicos, a personalidade própria do autor de um juízo de gosto dissolve-se numa razão universal que se comporta de maneira dogmática para com o particular. Nos empiristas, a particularidade dos sujeitos parece estar, num primeiro momento, preservada. Porém, a intersub- jetividade acha-se ao fi nal reduzida a um princípio puramente material, à ideia de uma estrutura psíquica e orgânica comum a uma espécie de indivíduos. A partir daí a experiência estética não exige mais nada que seja especifi camente humano, o belo apenas é uma variedade do agradável e a arte e culinária, o modelo da estética em geral. [...] a faculdade de julgar em geral é a faculdade que consiste em pensar o particular como compreendido no universal. Se o universal (a regra, o princípio, a lei) é dado, então a faculdade de julgar, que subsume o particular ao universal, é determinante [...]. Se é dado só o particular, e se a faculdade de julgar deve encontrar o universal (que lhe corresponde), ela é simplesmente refl exionante. E. KANT. Crítica da faculdade de julgar, Introdução, IV. É nesses termos que Kant realiza a partilha entre o juízo de conhecimento, juízo determinante, e o juízo de gosto, juízo refl exionante. Com essa simples distinção, Kant já se situa no oposto do classicismo racionalista, que confunde juízo estético e ento de uma arte poética’ que venha a ser uma verdadeira ciência de produção do belo. Portanto é a noção de refl exão que se deve destacar, já que nela se situa claramente a originalidade da posição kantiana. O termo refl exão – unívoco em Kant tanto na Crítica da razão pura quanto na Crítica da faculdade de julgar mente, r uma ativi a e inte ectua caracteriza a por cinco momentos. Um reve juízo estético. Para forjar o conceito empírico de um conjunto de objetos que nos são desconhecidos – por exemplo, uma variedade de ár- vores ainda não classifi cadas –, é preciso realizar uma classifi ca- ção. Ao se compararem semelhanças, ao se fazer abstração de diferenças julgadas secundárias, chegar-se-á a reagrupar numa classe comum os objetos considerados e, desse modo, a criar um conceito empírico ao qual se poderá atribuir um nome. Nessa operação simples, os cinco momentos constitutivos da refl exão – do julgamento refl exionante – já estão presentes.” FERRY, Luc. Homo aestheticus. A invenção do gosto na era democrática. São Paulo: Ensaio, 1994. p. 126-128. Questões 1. O juízo de gosto é determinante ou reflexionante? Por quê? 2. Quais são os cinco momentos da reflexão? 3. Procure identificar o valor ico de A fonte, de Duchamp. A fonte (1917), obra de Marcel Duchamp. Os ready-made são objetos industrializados reutilizados como arte, como um mictório ou uma roda de bicicleta. © S U C C E S S O N M A R C E L D U C H A M P/ A U T V IS , B R A SI L, 2 0 1 6 . B R ID G E M A N M A G E S /K E Y S T O N E B R A S IL M U S E U D E I S R A E L, J E R U S A LÉ M 353 A solução da antinomia do gosto: do indivíduo ao sujeito https___p.calameoassets.com_170426190453-c13586168ebecda9f037e32fd65ad49c_p348 https___p.calameoassets.com_170426190453-c13586168ebecda9f037e32fd65ad49c_p349 https___p.calameoassets.com_170426190453-c13586168ebecda9f037e32fd65ad49c_p350 https___p.calameoassets.com_170426190453-c13586168ebecda9f037e32fd65ad49c_p351https___p.calameoassets.com_170426190453-c13586168ebecda9f037e32fd65ad49c_p352 https___p.calameoassets.com_170426190453-c13586168ebecda9f037e32fd65ad49c_p353 https___p.calameoassets.com_170426190453-c13586168ebecda9f037e32fd65ad49c_p354 https___p.calameoassets.com_170426190453-c13586168ebecda9f037e32fd65ad49c_p355
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