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Hipercalemi� 1. Hipercalemia A insuficiência renal é a causa mais comum e preocupante da hipercalemia. Sem a diálise, alguns pacientes evoluem para parada cardíaca por efeito direto dos altos níveis plasmáticos de potássio sobre o coração. A maioria dos pacientes com insuficiência renal crônica, ainda assim, podem eliminar alguma quantidade de potássio pela urina e pelas fezes, impedindo a hipercalemia fatal. O excesso de potássio normalmente é rapidamente tamponado para o interior das células pela ação da NaK-ATPase da membrana celular. O influxo fisiológico de potássio é estimulado por dois hormônios: a insulina e a adrenalina. O potássio é excretado pela urina pela ação da aldosterona. Quando a ingestão de potássio aumenta, os rins podem aumentar a excreção de 50 mEq/dia para 400 mEq/dia, devido ao efeito da aldosterona no néfron distal, deixando-o hipertrofiado. Pacientes com insuficiência renal crônica são normocalêmicos até as fases avançadas da síndrome urêmica, quando a taxa de filtração glomerular chega abaixo de 10 ml/min. Os néfrons remanescentes hipertrofiam pela aldosterona e conseguem eliminar mais potássio. A mucosa colônica também responde à aldosterona e secreta potássio pelas vezes, cerca de 50% da eliminação dos pacientes renais crônicos é pela via fecal. A síndrome urêmica contudo inibe a NaK-ATPase das células, impedindo a tolerância de cargas agudas de potássio. 2. Manifestações Clínicas As hipercalemias são frequentemente assintomáticas, elevações agudas e proeminentes de potássio costumam causar consequências clínicas potencialmente graves. Os tecidos afetados são o cardíaco e o muscular esquelético. Uma calemia acima de 6,5 mEq/L, principalmente aguda, provoca alterações fisiopatológicas de importância. O sistema de condução especializado do coração, assim como o miocárdio atrial e ventricular, sofrem de hipocondutividade. A lentificação da condução cardíaca acontece de forma heterogênea, predispondo-o às arritmias por reentrada, como a fibrilação ventricular. As arritmias mais frequentes são: fibrilação ventricular, bradiarritmias e bloqueios, assistolia. Elevações rápidas acima de 8 mEq/L podem levar à paresia ou à paralisia da musculatura esquelética. Os músculos mais afetados são os membros inferiores, sendo a musculatura respiratória normalmente poupada. Na paralisia periódica, a disfunção pode começar com níveis de 5,5 mEq/L. 3. Eletrocardiograma ( ECG) Há um padrão progressivo de alterações, de acordo com a gravidade e rapidez de instalação do estado hipercalêmico. A primeira alteração é a diminuição do intervalo QT, associada a uma onda T alta e apiculada. Temos uma repolarização ventricular precoce, que causa este efeito. Logo depois, a lentificação da condução do miocárdio aparece com o aplainamento da onda P e o alargamento do QRS. No final a onda P desaparece, tornando o ritmo semelhante a um ritmo idioventricular. Porém, o ritmo continua a ser sinusal, sem a presença de atividade miocárdica atrial. O denominado ritmo sinoventricular. ECG em Hipercalemia Principais alterações eletrocardiográficas: a. Redução do intervalo QT, com ondas T altas e apiculadas; b. Achatamento da onda P; c. Alargamento do QRS; d. Desaparecimento da onda P. 4. Hipercalemia e Insuficiência Renal A insuficiência renal aguda( IRA) é a causa mais importante de hipercalemia em pacientes hospitalizados. Ela normalmente está associada à insuficiência renal oligúrica, ocorrendo na necrose tubular aguda isquêmica e séptica, na rabdmoliólise, na síndrome de lise tumoral e na glomerulonefrite rapidamente progressiva. O fator contribuinte, especialmente naqueles com sepse grave, é o estado hipercatabólico, o qual estimula a liberação de potássio das células. Na rabdomiólise, a lesão muscular libera muito potássio na circulação já que ele é o maior reservatório do íon. A calemia pode chegar a 12 mEq/L em casos graves. Na IRA pré-renal, podemos ter hipercalemia devido ao baixo fluxo tubular distal, que diminui a secreção de potássio. Os pacientes ficam oligúricos e a reposição de soro fisiológico restaura o fluxo tubular e o débito urinário, corrigindo o quadro. A insuficiência renal crônica( IRC) os pacientes ficam normocalêmicos até a fase mais avançada da síndrome, quando a filtração glomerular está abaixo de 10 ml/min. O mecanismo de adaptação permite que os néfrons remanescentes secretem mais potássio, mantendo uma excreção renal razoável enquanto a taxa de filtração glomerular for maior que 10 ml/min e houver diurese. A secreção de potássio pela mucosa colônica contribui para excreção potássica. Ainda assim, devido à inibição da NaK-ATPase pela uremia, os pacientes podem desenvolver hipercalemia grave quando recebem carga aguda de potássio. Quando o clearance de creatinina cai abaixo de 10ml/min o paciente retém potássio, evoluindo com hipercalemia progressiva. O tratamento é a terapia dialítica crônica neste estágio. 5. Tratamento A hipercalemia é grave quando o potássio atinge valores acima de 7,5 mEq/L. Ou seja, precisamos corrigir com urgência a calemia. Qualquer hipercalemia que corra com alterações eletrocardiográficas é considerada grave. A primeira conduta é a reposição de cálcio, que apesar de não reduzir a calemia, protege as fibras cardíacas contra a hipercalemia. O aumento dos níveis de cálcio reativam os canais de sódio que revertem os distúrbios da eletrofisiologia cardíaca. O gluconato de cálcio ou o cloreto de cálcio, podem ser feitos por via intravenosa por 2-3 minutos. A dose inicial é uma ampola de glucanato a 10%. Esta conduta fica fixa na hipercalemia com repercussão eletrocardiográfica, sintomática. A dose pode ser repetida em 5-10 min se não tivermos resposta eletrocardiográfica. A contraindicação do tratamento é a intoxicação digitálica, na qual o cálcio aumenta a toxicidade cardíaca dos digitálicos. Pacientes que não apresentam os sinais de cardiotoxicidade dessas drogas podem receber o glucanato de cálcio, desde que ele seja de infusão mais lenta, por 20-30 minutos diluído em 100ml de soro fisiológico à 5%. Para abaixar os níveis plasmáticos de potássio é necessário a administração de insulina venosa. Pois ela promove o influxo celular de potássio por ativar a NaK-ATPase. Utiliza-se, inicialmente, dez unidades de insulina regular via intravenosa. Devemos evitar hipoglicemia, associando glicose hipertônica na proporção de 5:1, caso o paciente esteja normoglicêmico. Concomitantemente à glicoinsulinoterapia, podemos fazer a infusão venosa de bicarbonato de sódio e a nebulização com beta-2-agonistas. O bicarbonato de sódio alcaliniza o plasma, promovendo a entrada de potássio e saída H+. É a droga de escolha na parada cardiorrespiratória por hipercalemia, os beta-2-agonistas estimulam a entrada de potássio nas células, pela ação dos receptores beta-2-adrenérgicos. A terapia de manutenção é a retirada de toda reposição de potássio e a restrição do potássio alimentar. Facilitando, as de dietas enterais já tem pouco potássio. Caso o paciente urine, devemos prescrever diuréticos de alça( furosemida) para aumentar a perda calêmica. O hipoaldosteronismo deve ser tratado com reposição de mineralocorticoides( fludocortisona ou hidrocortisona). Os pacientes oligúricos refratários à furosemida e naqueles com insuficiência renal, a conduta deve ser utilizar uma resina de troca, via enteral durante as refeições. Ela não é absorvida pela mucosa gastrointestinal e promove a secreção do cátion potássio, em troca de sódio ou cálcio. A resina usada em nosso meio é o poliestirenossulfonato de cálcio. Pacientes com hipoaldosteronismo, tem como tratamento de escolha a fludrocortisona. A diálise é indicada para pacientes que não urinam ou quando a hipercalemia for grave e refratária às medidas convencionais. Ambos os tipos, peritoneal e hemodiálise, conseguem eliminar o potássio, porém a hemodiálise é mais rápida e eficaz. 6. Referências MEDCURSO 2021 - Volume 3 -Distúrbio do Equilíbrio Eletrolítico-acidobásico / Interpretação da Gasometria Arterial -
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