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Sódio e Potássio __________________________DISTÚRBIOS HIDROELETROLÍTICOS_________________________ Medcurso 2019 DISTÚRBIOS DA ÁGUA CORPORAL (hipo/hipernatremia) FISIOLOGIA_________________________________________ O sódio é o principal determinante da osmolaridade dos nossos fluidos. Faixa de normalidade entre 135-145 mEq/L ou mmol/L. A osmolaridade é definida como o número de partículas ativas (soluto), ou seja, capazes de atrair moléculas de água, em uma certa quantidade de solução (solvente) - massa total de soluto/volume total de solvente (Osmolalidade que é a razão de massa/massa é igual porque a densidade da água é 1). A diferença de osmolaridade entre dois compartimentos fluidos que estão separados por uma membrana semipermeável (permeável à água, mas não aos solutos) gera uma pressão osmótica, levando a transferência de água do compartimento menos concentrado (hipo-osmolar) para o mais concentrado (hiperosmolar) com consequente equilíbrio. Intracelular (IC) | Extracelular (EC) → equilíbrio = 275 a 290 mOsm/L. O plasma que é um subcompartimento do EC pode ser considerado como Osmpl = OsmIC No plasma o principal soluto é o sódio (Na+), já na região intracelular o principal é o potássio (K+). A primeira também conta com ânions (Cl-, HCO3 -), glicose e ureia. A multiplicação por 2 é para contar os ânions livres que acompanham o sódio e mantém o meio neutro. Osmolaridade efetiva (ou tonicidade) → concentração de solutos que não passam livremente pela membrana plasmática. Todos os solutos do nosso corpo são ativos, contribuem para a osmolaridade total, mas nem todos são efetivos. Ex: a ureia, por ser uma molécula lipossolúvel, passa livremente pela membrana, ou seja, sua concentração plasmática é igual a concentração intracelular. Alterações na osmolaridade efetiva provocam oscilações no volume das células, prejudicando, particularmente, a função do neurônio, que não tolera tais variações. Por isso, é fundamental os mecanismos de controle (ADH e centro da sede). MECANISMOS REGULATÓRIOS DA OSMOLARIDADE PLASMÁTICA: 1. HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO: 🧠 Produzido no centro osmorregulador no hipotálamo, uma queda para abaixo de 275 mOsm/L praticamente suprime a liberação hormonal (se a quantidade de solutos ativos está baixa, provavelmente existe um aumento de volume, por isso a ação do ADH é bloqueada, promovendo a diurese). O mecanismo é bastante sensível: pequenas variações da osmolaridade (da ordem de 1-2%) já são capazes de alterar os níveis plasmáticos de ADH. O ADH age no TÚBULO COLETOR (néfron distal) estimulando a incorporação das aquaporinas na membrana luminal. Fazendo com que a célula tubular reabsorva água livre, levando a produção de uma urina concentrada. 💧 Urina concentrada: Osmolaridade ↑ = 800-1400 mOsm/L (densidade de 1.030) 💧 Urina diluída: Osmolaridade ↓ = 50-70 mOsm/L (densidade de 1003 - quase água pura) Qual a principal função do ADH? Nos proteger da hiperosmolaridade. Ele permite que o rim reabsorva água livre, aumentando o volume plasmático e tornando a urina concentrada. Para que ele possa agir é preciso que o interstício da medula renal esteja hiperosmolar. Quando o fluido tubular chega ao néfron distal, ele normalmente se encontra hipo-osmolar, por isso ocorre transferência por osmose (água vai pro meio hiperosmolar). Essa hiperosmolaridade é garantida pela porção ascendente espessa da alça de Henle (sítio de ação dos diuréticos de alça), local onde o NaCl é reabsorvido sem o acompanhamento de H2O. ● Os diuréticos de alça (ex: furosemida) bloqueiam essa ação, tornando a medula hiposmolar, reduzindo a capacidade de reabsorção de água livre no ducto coletor → leva a formação de urina quase isosmótica em relação ao plasma (300 mOsm/L - isostenúria). Outros tipos de estímulo que promovem secreção de ADH: ★ Redução maior ou igual a 8% no volume circulante efetivo (dentro do leito arterial), um mecanismo mediado por barorreceptores. Acontece no pós-operatório como resposta endócrino-metabólica ao trauma, em pacientes com ICC, cirrose hepática e síndrome nefrótica (situações que levam a hipovolemia). 2. CENTRO DA SEDE 🧠 Neurônios no hipotálamo anterior que são ativados por aumento da osmolaridade sérica (> 290 mOsm/L). A sede é o principal fator contra a hiperosmolaridade. Como não é possível parar de urinar e é preciso manter o equilíbrio hídrico, o estímulo à ingestão hídrica irá restaurar a homeostase osmolar do indivíduo. ⏰ O tempo de absorção intestinal da água é entre 20-30 min, ocorre saciedade transitória com o primeiro gole de água, principalmente com o consumo de água gelada, devido a receptores nervosos na orofaringe para respeitar esse tempo de absorção. No entanto, enquanto a osmolaridade não for restabelecida a sede irá voltar. HIPONATREMIA_____________________________________ Distúrbio eletrolítico mais encontrado em pacientes hospitalizados (prevalência superior a 20%). Expressa, muitas vezes, um estado hipo-osmolar ou hipotônico, definido por uma Osm pl (efetiva) < 275 mOsm/L. Este é o tipo mais importante de hiponatremia, chamado hiponatremia hipotônica, mas existem outros tipos. Esse tipo de hiponatremia pode ocorrer em condições em que a osmolaridade efetiva esteja baixa, embora a osmolaridade plasmática total encontre-se normal ou elevada ● Os principais exemplos são a azotemia grave e a intoxicação aguda por etanol (molécula lipossolúvel). Causas de hiponatremia hipotônica: (1) Hipovolêmicas ↓↓↓ A hipovolemia leva à secreção de ADH barroceptor-dependente, tornando os rins incapazes de excretar água livre. Com sódio urinário baixo (< 20mEq/L): perdas extrarrenais de volemia (vômitos , diarreia e/ou hemorragias). Ocorre intensa reabsorção tubular de sódio devido a queda da natriurese pressórica, além da ação da aldosterona no túbulo coletor. É uma hiponatremia secundária à insuf. renal aguda pré-renal. Com sódio urinário alto (>40 mEq/L): síndromes perdedoras de sal por via renal (diuréticos tiazídicos, hipoaldosteronismo e a síndrome cerebral perdedora de sal). ● Tiazídicos: Agem no túbulo contorcido distal, inibindo a reabsorção de NaCl não acompanhada de água. No entanto, o principal mecanismo é a espoliação volêmica do efeito diurético, que estimula a hipersecreção de ADH e diminui ainda mais a capacidade renal de eliminar água livre. ● Síndrome cerebral perdedora de sal: ocorre na primeira semana após lesão cerebral (menos frequente que a SIAD). Mecanismo: hiperativação simpática, que leva a um aumento da “natriurese pressórica”, isto é, o aumento da pressão arterial sistêmica (por efeito das catecolaminas) promove aumento da filtração glomerular e da natriurese; e secreção anômala de Peptídeo Natriurético Cerebral (BNP). Tem baixo débito devido a poliúria e na medida que a volemia se reduz, ocorre aumento dos níveis de ADH → se resolve espontaneamente em 2-4 semanas. ● Hipoaldosteronismo: déficit de reabsorção de sódio → hipovolemia → secreção de ADH → retenção de água livre → hiponatremia. (2) Hipervolêmica ↑↑↑ Aumento da água corporal total, marcado por edema, seja ele periférico ou de serosas (ascite, derrame pleural e pericárdico). ICC e cirrose hepática: ocorre deslocamento do volume arterial (redução do volume circulante efetivo) e o líquido é retido no sistema venoso (venoplegia), no interstício (edema) e nas serosas (ascite, derrame pleural e pericárdico). A hipovolemia relativa induz a secreção de níveis elevados de ADH. Insuficiência renal: Taxa de filtração glomerular abaixo de 10-20% predispõe à hiponatremia. Os néfrons remanescentes precisam excretar uma fração mais elevada de sódio e uréia, a fim de compensar a perda de néfrons, mas retém excesso de água livre (por isso os paciente tem restrição hídrica). Normalmente a osmolaridade urinária mínima pode chegar a 50 mOsm/L, mas nos casos de insuficiência renal avançada ela não cai abaixo de 200-250 mOsm/L. (3) Normovolêmica Diurese hipertônica (sódio urinário > 40 mEq/L): incapacidade renal de excretar água livre, secundária à hipersecreção de ADH,com osmolaridade urinária inapropriadamente elevada (> 100 mOsm/L). Causas: insuficiência suprarrenal (secundária), o hipotireoidismo (gênese desconhecida) e a Síndrome da Antidiurese Inapropriada (SIAD). ● Insuficiência suprarrenal (secundária): hipossecreção de ACTH pela hipófise leva ao hipocortisolismo, que isolado estimula a produção e liberação de ADH (retenção de água livre). SÍNDROME DE ANTIDIURESE INAPROPRIADA (SIAD) Representa uma das principais causas de hiponatremia na prática médica. Tipos: 1. Secreção de ADH na ausência de estímulos hemodinâmicos ou osmóticos, como nos casos de produção ectópica (ex.: câncer de pulmão) ou secreção induzida por drogas; 2. Reajuste do “osmostato” hipotalâmico (“reset osmostat”), gerando um novo alvo para a osmolaridade do plasma (típico de pacientes desnutridos, com caquexia); 3. Resposta normal do ADH aos estados hipertônicos, seguida de falha em sua supressão quando a osmolaridade se torna baixa (ex.: secção incompleta do pedículo hipofisário, situação em que o ADH “fica vazando” a partir dos axônios da neuro-hipófise). 4. Secreção de ADH abolida, porém, com mutações genéticas do tipo “ganho de função” nos receptores V2 do ADH no túbulo coletor. Ativados na presença de outro fator antidiurético não identificado. Retenção hídrica leva a estado de hiper-hidratação e edema celular, prejudicando a função dos neurônios. No entanto, a volemia é mantida, pois a tendência à hipervolemia é combatida com liberação do peptídeo atrial natriurético, que mantém uma elevada excreção urinária de sódio. Excreção de ácido úrico também se encontra aumentada pelo estímulo natriurético (hipouricemia). Lembrar de distinguir da síndrome perdedora de sal (CSWS - hipovolemia) na presença de quadro neurológico de base por meio da avaliação da volemia: Sugerem hipovolemia: ● Hipotensão postural. ● Taquicardia responsiva a volume. ● PVC diminuída, especialmente se não houver aumento após infusão de 1-2 L de soro fisiológico. Também favorece CSWS: Resposta favorável da natremia à infusão de SF 0,9% e diminuição da osmolaridade urinária após infusão de SF 0,9%. Diurese hipotônica (sódio urinário < 20 mEq/L): único grupo que cursa com osmolaridade urinária apropriadamente baixa (< 100 mOsm/L). Ocorre por influxo de soluções hipotônicas e pela baixa ingestão de solutos. ● Polidipsia primária: pacientes psiquiátricos que ingerem líquido compulsivamente. Uma ingesta diária > 16 L excede a capacidade renal fisiológica de eliminação de água livre, levando à hiponatremia. Nesse caso a urina encontra-se maximamente diluída (Osm entre 50-70 mOsm/L e densidade em torno de 1.003). ● Cirurgia de Ressecção Transuretral de Próstata (RTU) → instilação de um grande volume de solução isotônica (manitol) ou hipotônica (glicina, sorbitol) pode precipitar hiponatremia aguda nos pós-operatórios. ● Alcoolismo: leva a ingestão muito baixa de alimentos e sal, com consequente menor eliminação de solutos urinários. A excreção obrigatória normal de solutos é de 600-800 mOsm na urina. Caso haja necessidade de excretar um possível excesso de água, a diluição máxima chega a 50-70 mOsm/L (ingestão de 12L de líquido). Alcoólatras desnutridos eliminam no máximo 200 mOsm, o que os permitiria ingerir somente até 4L de líquido, mais que isso leva a hiponatremia (potomania). CAUSAS DE HIPONATREMIA NÃO HIPOTÔNICA É a hiponatremia relacionada às síndromes hiperglicêmicas do diabético (Cetoacidose e Estado Hiperosmolar Não-Cetótico). ● Um aumento importante da glicemia é capaz de elevar a osmolaridade plasmática o suficiente para “puxar” água de dentro das células, diluindo o sódio sérico. 🚩 Para calcular a osmolaridade efetiva (tonicidade) devemos usar a natremia real, e não a corrigida! DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO A investigação começa por um bom exame clínico e cálculo da osmolaridade sérica (1). Na maioria dos casos de hiponatremia a osmolaridade sérica estará reduzida (volemia aumentada) ● (2) Exclui-se hiperglicemia e pseudo-hiponatremia (hipertrigliceridemia e hiperproteinemia). (3) Osmolaridade urinária < 100 mOsm/L (urina adequadamente hipotônica) sugere como causa da hiponatremia a realização de RTU (com solução hipotônica de glicina), potomania e/ou desnutrição. (4) Avaliação da volemia: edema ou ascite → causas hipervolêmicas. (5) Bioquímica urinária para diferenciar normovolêmicos e hipovolêmicos (sódio urinário). ● Quando não dispomos da osmolaridade urinária, utilizamos a densidade urinária (1.025 de densidade corresponde a uma osmolaridade de 450 mOsm/L). (6) Quando o sódio urinário é limítrofe (ex.: entre 20-40 mEq/L) e uma osmolaridade urinária aumentada, o que não resolve a nossa dúvida entre hipo e normovolemia. Nesse caso, a conduta é a prova terapêutica com soro fisiológico! ● Se após infusão de 500-1000 ml de SF 0,9%, em curto intervalo de tempo, houver redução na osmolaridade urinária, o diagnóstico é de hipovolemia! Se não houver esta redução, estamos diante de normovolemia. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Sem lesões neurológicas → manifestações começam quando o sódio plasmático cai agudamente (horas) para um valor inferior a 125 mEq/L. Idosos e com hipertensão intracraniana → natremia inferior a 130 mEq/L já pode ser deletéria. Estado hipo-osmolar → transferência de água do extracelular para o intracelular, causando “edema celular” e principalmente neuronal (citotóxico). Sinais e sintomas: Encefalopatia Hipo-Osmolar): cefaleia, náuseas/vômitos, cãibras musculares, agitação, desorientação, letargia, sonolência, hiporreflexia, rigidez, tremor, nistagmo, ataxia, fasciculações, distonias e eventualmente sinais piramidais localizados. ● Hiponatremia aguda grave Na < 110-115 mEq/L → crise convulsiva tônico-clônica generalizada (com mortalidade podendo chegar a 50%), estupor, coma, hipertensão intracraniana, lesão cerebral irreversível, herniação cerebral, apneia e óbito. Quando a instalação é lenta e progressiva (> 48h = hiponatremia “crônica”) os pacientes podem ser totalmente assintomáticos, mesmo com sódio sérico muito baixo (ex.: 110 mEq/L). Isso porque os neurônios se protegem por meio de adaptação osmótico, liberam solutos e ficam com osmolaridade semelhante ao plasma, impedindo maior entrada de água. ● Nesses pacientes a correção abrupta é muito perigosa, porque tornar o meio extracelular hiperosmolar levará a desidratação neuronal, com lesão neurológica potencialmente irreversível. Sinais e sintomas: distúrbios da consciência (podendo evoluir para o coma), tetraparesia, disartria e disfagia (síndrome pseudobulbar). Os axônios da ponte são muito sensíveis a essa lesão, o que pode causar mielinólise pontina (vista na RNM) 💊 TRATAMENTO O paciente está ou não hipovolêmico? 1. HIPONATREMIA HIPOVOLÊMICA Reposição volêmica com cristaloides, sendo o soro fisiológico 0,9% a melhor escolha (154 mEq/L). Corrige a hiponatremia por aumentar a volemia e reduzir o estímulo à secreção de ADH (que tem meia-vida de 15-20 min, por isso a resposta da infusão de cristalóide é rápida). Na síndrome perdedora de sal após normalização da volemia pode-se aumentar o aporte de sal na dieta do paciente ou mesmo empregar a fludrocortisona (análogo da aldosterona). 2. HIPONATREMIA CRÔNICA ASSINTOMÁTICA, NORMOVOLÊMICA OU HIPERVOLÊMICA. Hiponatremias crônicas, mesmo quando moderadas (Na+ entre 120-129 mEq/L), se acompanham de déficits neurológicos discretos, porém, objetivamente mensuráveis em testes → ajuda a reduzir a incidência de quedas em idosos. (1) Suspender fatores etiológicos removíveis: medicamentos. Reposição hormonal na insuficiência suprarrenal e hipotireoidismo. (2) Se assintomático do ponto de vista neurológico: restrição hídrica (exceto nos casos de hiponatremia hipovolêmica. Se guiar pela relação: (sódio + potássio na urina)/sódio plasmático. Se o resultado for > 1 (pouca eliminação de água livre), recomenda-se restrição < 500 ml/dia. Se for ~ 1, a restrição deve ser de 500-700 ml/dia. Se o resultado for < 1, a restrição pode ser mais branda, < 1 L/dia. (3) Perda diáriade água livre deve ser maior que a ingesta ou infusão → caso não seja suficiente pode-se acrescentar furosemida. (4) Em pacientes com SIAD, a ingestão de sódio deve ser estimulada, porque a própria síndrome induz a perda renal de sódio. Em caso de hiponatremia refratária suplementar 30-90g de ureia na dieta, e se não funcionar adicionar um bloqueador de vasopressina (conivaptan ou tolvaptan). (5) Restringir a ingesta de sódio nos portadores de quadros edematosos – ICC, cirrose hepática e insuficiência renal crônica, que na verdade possuem excesso corporal de sal –> restrição hídrica + furosemida → se não funcionar, adicionar um vaptano (conivaptan - contraindicado na cirrose - ou tolvaptan - seletivo de V2) Uso de demeclociclina (antibiótico que tem a propriedade de “dessensibilizar” o túbulo coletor ao ADH) ou carbonato de lítio (diminui a responsividade renal ao ADH) → mais baratos, porém menos eficazes e com efeitos colaterais (nefrite intersticial crônica) Velocidade de correção da hiponatremia crônica: aumento do sódio sérico nesses casos deve ser inferior a 8-10 mEq/L em 24h e 18 mEq/L em 48h. Nos casos de hiponatremia crônica assintomática ou oligossintomática está contraindicada a reposição de sódio em soluções hipertônicas (NaCl 3%), pois o risco de mielinólise pontina é extremamente alto. 3. HIPONATREMIA AGUDA SINTOMÁTICA. O objetivo da terapia inicial é aumentar a natremia em 1 a 2 mEq/L por hora nas primeiras 3h, ou seja, aumentar 3 a 6 mEq/L em 3h (geralmente 3 mEq/L em 3h). Em seguida, 0,5 mEq/L por hora até completar 24h, respeitando uma elevação máxima de 12 mEq/L em 24h. ● A solução de reposição deve possuir osmolaridade superior à osmolaridade urinária do paciente. A osmolaridade da salina a 3% é 1026 mOsm/L. Como a osmolaridade do SF 0,9% é de 308 mOsm/L, este soro pode piorar a hiponatremia se a osmolaridade urinária do paciente estiver acima de 300 mOsm/L. 1g de sódio = 17 mEq 3g → 100mL (salina hipertônica a 3%) 3/100 = (x/17)/y (volume a ser infundido) Para aumentar a eficácia nos casos de SIAD, ICC ou cirrose hepática, devemos administrar inicialmente furosemida 20 mg venosa, para trazer a osmolaridade urinária para 300 mOsm/L. Após a reposição nas primeiras 24h o paciente deve ser mantido com restrição hídrica e furosemida oral. É importante que haja monitorização seriada da natremia (a cada 2-4h), com eventuais reajustes na taxa de infusão. E em casos de aumento da natremia acima do limites (pct suando muito, com aumento nas perdas insensíveis de água livre), pode repor solução hipotônica (SG 5% 6 ml/kg em duas horas) e desmopressina (2 UI IV ou SC, de 6/6h, podendo passar para 4 UI nos não respondedores). HIPERNATREMIA____________________________________ Estado hiperosmolar (Na > 145 mEq/L) com aumento da osmolaridade plasmática efetiva, ocorre pela perda de água livre corporal, sendo a definição mais precisa do estado de desidratação. Geralmente é encontrada em recém-natos, lactentes, idosos, pacientes intubados e indivíduos com rebaixamento da consciência ou pacientes gravemente enfermos e acamados, os quais não têm livre acesso a água. A perda de água livre geralmente ocorre por aumento das “perdas insensíveis” → transpiração (perda cutânea, relacionada à febre ou clima quente), respiração (hiperpneia) e fezes (diarreia) 1. Perda isolada de água livre: Aumento das perdas cutâneas, perda respiratória e diabetes insipidus (insuficiência do ADH → urina, por definição, está inapropriadamente diluída, com aspecto semelhante à água. Queixa principal é de poliúria e polidipsia, que precisa ser diferenciada da DM e polidipsia primária. A DI pode ocorrer em pacientes internados, comatosos e sem acesso espontâneo à água ou com disfunção do centro da sede. A situação mais típica é no pós-operatório imediato de neurocirurgia, distúrbio é transitório, cedendo em dias ou semanas, após a regressão do edema operatório). 2. Perda de fluidos hipotônicos, (perda de água com eletrólitos (Na e K), mas em baixa concentração: Diarreia osmótica: causada pela presença de uma substância alimentar não absorvível pelo TGI. Ocorre por gastroenterites infecciosas (virais principalmente), laxantes, sorbitol, lactulose, manitol e enteropatias crônicas que levam à síndrome disabsortiva. Diuréticos de alça: reduzem o poder de concentração urinária, tornando a urina isosmolar (300 mOsm/L). Se a ingestão de líquidos for reduzida haverá predisposição à hipernatremia. Poliúria osmótica: Diabetes mellitus. Uma glicemia > 180 mg/dl excede o limiar renal de reabsorção da glicose, gerando glicosúria. Geralmente a hipernatremia está escondida e aparece após correção da hiperglicemia por reposição de insulina. Além disso, o uso de manitol (tratamento do edema cerebral) e aumento da ureia urinária também levam a diurese osmótica. 3. Redução patológica da ingestão de água (hipodipsia); Lesão no hipotálamo que leva diminuição da sensação de sede e a menores níveis plasmáticos de ADH devido ao osmostato reajustado para cima. 4. Ingestão de quantidades excessivas de sal ou ganho de soluções eletrolíticas hipertônicas. Infusão inadvertida de solução salina hipertônica, infusão de bicarbonato de sódio, ingestão excessiva de sal sem beber água, ingestão de água salgada (ou afogamento no mar), dieta enteral hiperosmolar, múltiplos clisteres salinos, diálise hipertônica etc. A reposição diária de soro fisiológico 0,9% em pacientes que não bebem água. Hiperaldosteronismo primário → adenomas ou adenocarcinomas suprarrenais ou na hiperplasia suprarrenal idiopática. DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO DI → osmolaridade < 250 mOsm/L e o EAS mostrará uma densidade urinária < 1.010 (geralmente < 1.005), mesmo na vigência de hipernatremia. ● teste da restrição em pacientes ambulatoriais: o paciente urina muito por que bebe muita água ou bebe muita água por que urina muito? Quem veio primeiro, a polidipsia ou a poliúria? Hipernatremia por perdas não urinárias (ex.: febre, hiperpneia, diarreia) → o paciente está necessariamente oligúrico e com urina hiperconcentrada (osmolaridade > 500 mOsm/L e densidade > 1.025). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A hipernatremia aguda grave leva à desidratação neuronal e cerebral, provocando distúrbios neurológicos (Encefalopatia Hiperosmolar), especialmente quando excede 160 mEq/L (osmolaridade efetiva > 330 mOsm/L). ● Rebaixamento da consciência, coma e crise convulsiva. ● Fraqueza e dor muscular → rabdomiólise hipernatrêmica. ● Hemorragia intraparenquimatosa, subaracnóide e subdural (desidratação de pequenas veias) A mortalidade pode chegar a 40-60% e dano cerebral permanente em ⅓ dos caso. Já a hipernatremia de instalação lenta leva a captura celular de substâncias osmóticas, tais como eletrólitos (Na+ , K+ , Cl- ), aminoácidos e inositol, levando as células a ficarem hiperosmolares, à semelhança do plasma, evitando uma desidratação celular acentuada. É preciso tomar cuidado com a reposição rápida devido a edema cerebral agudo. 💊TRATAMENTO Determinar se a perda foi de água livre ((perda cutânea, pela respiração, diabetes insipidus) ou de fluidos hipotônicos (diarréia, poliúria). ● Reposição de água livre: pela via oral ou enteral daremos água potável, e pela via parenteral utilizaremos soro glicosado 5%. ● Reposição de fluidos hipotônicos: se houver franca hipovolemia, inicialmente faremos SF 0,9% em bolus até a correção do volume circulante efetivo. Caso não haja instabilidade hemodinâmica: solução salina hipotônica de 0,2% ou 0,45%. Objetivo: O tratamento da hipernatremia aguda sintomática é baixar a natremia a uma taxa máxima de 10 mEq/L em 24 h. ● Se hipernatremia grave (Na+ > 160 mEq/L), é necessário corrigir o sódio sérico ao longo de 48-72h, para não ultrapassar o limite de 10 mEq/L a cada 24h. Consideramos que a água corporal representa somente 50% do peso dos homens e 40% das mulheres, a proporção do peso corporal que corresponde à água deve estar diminuída devido a perda que ocorre na hipernatremia. Lembre-se de adicionar a reposição das “perdas insensíveis”(1.500 ml) e de realizar dosagens a cada 2-4h, para melhor manejo da reposição e prevenção do edema cerebral iatrogênico. DISTÚRBIOS DO POTÁSSIO FISIOLOGIA_________________________________________ O potássio é um cátions de extrema importância e se localiza em sua maior parte no ambiente intracelular (98% do potássio corporal está nas células e os 2% restantes no compartimento extracelular), sendo o músculo esquelético o maior reservatório. O potássio corporal total é cerca de 40-50 mEq/kg. ● Faixa normal de calemia: 3,5-5,5 mEq/L. Uma importante função é a regulação da polaridade das membranas das células excitáveis (neurônios e células musculares), sendo o gradiente de concentração de potássio transmembrana o principal determinante desta polaridade. ● Concentração de K+ intracelular é de aproximadamente 155 mEq/L, enquanto a concentração de potássio extracelular é de 5 mEq/L. Para manter o potencial de repouso negativo (cerca de -70mV) ocorre saída constante de potássio da célula por canais continuamente abertos (leak channels), enquanto a Na-K-ATPase retorna o potássio para o interior da célula, mantendo o gradiente de potássio transmembrana. 1. REGULAÇÃO Em uma alimentação normal, consome-se entre 40-150 mEq (0,5-2 mEq/kg) de potássio por dia. Equivale à ingestão diária de 3-10 g de KCl. Este é quase totalmente absorvido pelo intestino, ganha o plasma e logo é “tamponado” pelas células – pela bomba de sódio e potássio. Hormônios que ajudam para que essa distribuição ocorra de forma rápida e eficaz: ● Insulina e adrenalina: aumentam o influxo celular de potássio. ● Aldosterona: após 6-8h promove a reabsorção de sódio em troca de potássio e hidrogênio no túbulo coletor cortical. Vale ressaltar que 90% de todo o potássio filtrado é reabsorvido no túbulo contorcido proximal. Assim, quanto mais sódio chegar ao néfron distal mais potássio e H+ serão secretados. Este segmento tubular é o único capaz de reabsorver sódio sem acompanhamento de cloreto, levando a uma eletronegatividade luminal que estimula a secreção de outros cátions (1 K+ ou 1 H+). O equilíbrio acidobásico também está associado, com a hipercalemia ligada à acidose e a hipocalemia ligada à alcalose. Quando ocorre baixo consumo de potássio pode haver. 1) Liberação de potássio das células para o plasma e 2) Redução da excreção urinária de potássio para um mínimo de 5-25 mEq/dia (depende da supressão da aldosterona). Nesse segundo caso pode inclusive surgir um mecanismo de reabsorção, por adaptação das células do túbulo coletor (mas demora pelo menos 5-7 dias, podendo ocorrer perda de potássio nesse período). Por fim, pacientes com incapacidade de eliminação renal de K+ podem excretá-lo pelo tubo digestivo. HIPOCALEMIA____________________________________ Detectada em 15-20% dos pacientes internados, sendo sua forma grave (K < 3,0 mEq/L) observada em 5% dos casos. A causa geralmente é multifatorial. MANIFESTAÇÕES CLÍNICA E ECG Acontecem quando K+ < 3,0 mEq/L e quando há instalação aguda, associado a alterações característica no ECG. Por mexer com a eletrofisiologia das células musculares e lisas, a hipocalemia pode levar a arritmias e distúrbios de condução, paralisia hipocalêmica e íleo metabólico (céls. lisas do intestino). Sinais e sintomas mais comuns: ● Fraqueza muscular. ● Fadiga, intolerância ao exercício. ● Palpitações (extrassistolia ou arritmias). ● Dispneia (fraqueza dos músculos respiratórios). ● Parestesias, cãibras musculares (principalmente após o exercício, quando a depleção de potássio vai inibir a resposta vasodilatadora, levando a isquemia muscular), hiporreflexia. ● Constipação, distensão abdominal. Das complicações crônicas pode haver diabetes insipidus nefrogênico, com ou sem nefropatia tubulointersticial associada, podendo o paciente evoluir com insuficiência renal crônica. As arritmias são mais frequentes quando a hipocalemia está associada à hipomagnesemia (observada em até 40% dos casos), sendo a extrassistolia a mais comum, atrial ou ventricular. A fibrilação ventricular é o principal mecanismo de morte súbita e os digitálicos, usados no tratamento das arritmias e ICC, competem com o K+ na Na-K-ATPase cardíaca, logo, a presença de baixas concentrações de K+ resulta em maior ligação do digital a essa bomba, predispondo à intoxicação digitálica. Além disso, a hipocalemia levará a alcalose metabólica, porque cronicamente produz acidose intracelular, por expulsar o potássio pra o meio externo em troca de H+. A acidose das células tubulares renais estimula a produção de amônia (NH3), principal carreador do H+ urinário. A amônia é responsável pela excreção renal da maior parte do H+, levando então a uma alcalose metabólica. Também pode desencadear encefalopatia hepática em paciente cirróticos, porque em vigência de alcalose, o amônio será transformado em amônia e está por ser lipossolúvel, passa livremente pela barreira hematoencefálica, sendo um dos principais “vilões” da encefalopatia hepática. ● A natremia também pode baixar, pela excreção do potássio intracelular pro plasma sanguíneo e entra do sódio na célula. Alterações do ECG (deve ser feito em todo paciente com hipocalemia) por ordem de gravidade: a) Onda T aplainada e aumento do intervalo QT. b) Aumento da onda U. c) Onda U proeminente, maior que a onda T. d) Desaparecimento da onda T + onda U proeminente. CAUSAS DE HIPOCALEMIA e) Onda P apiculada e alta. f) Alargamento do QRS (raro). CAUSAS DE HIPOCALEMIA 1. PERDA EXTERNA DE POTÁSSIO PERDAS GASTROINTESTINAIS ACIMA DO PILORO: vômitos recorrentes, alta drenagem nasogástrica e fístula gástrica levam à espoliação corporal de potássio por perda urinária. ABAIXO DO PILORO: Diarréia, fístulas do tipo biliar, pancreática ou entérica levam a perdas muito ricas em potássio (50-90 mEq/L). Eles não apresentam alcalose metabólica, e sim acidose, pois também perdem líquido rico em bicarbonato. Apenas o adenoma viloso leva a alcalose por perda digestiva abaixo do piloro, devido a secreção muito rica em potássio e pobre em bicarbonato. ALCALOSE METABÓLICA: Desloca o potássio do extracelular para a célula e aumenta a excreção urinária de potássio – efeito caliurético. Mecanismos: (1) no túbulo coletor, o K+ compete com o H+ para ser secretado, em troca do sódio reabsorvido; como na alcalose há pouco H+ no plasma, o K+ é secretado em seu lugar; (2) a presença de bicarbonato na urina, ou bicarbonatúria (presente quando o bicarbonato sérico excede 28 mEq/L) por ser um ânion não reabsorvido no néfron distal, leva consigo o potássio. DIURÉTICOS: agem antes do túbulo coletor aumentando o aporte de sódio a este segmento, consequentemente aumentam o fluxo de água pelo néfron distal, “lavando” o potássio luminal. No caso dos inibidores da anidrase carbônica, o bicarbonato é um ânion que “arrasta” o potássio (cátion) no néfron distal. POLIÚRIA: aumento do fluxo de água pelo néfron distal, por si só, aumenta a secreção de potássio no túbulo coletor, pois a água “lava” o potássio luminal. Principais causas: DM (na cetoacidose principalmente o beta-hidroxibutirato funciona como um ânion não reabsorvido), diuréticos e o manitol. HIPOMAGNESEMIA: O magnésio é um modulador natural dos canais de “vazamento” de potássio na membrana luminal das células do túbulo coletor. Na hipomagnesemia, ocorre maior “vazamento” e perda de potássio. ANFOTERICINA B (aumenta a permeabilidade da membrana luminal do túbulo coletor ao potássio, aumentando sua secreção tubular), AMINOGLICOSÍDEOS (perda urinária de potássio, pela tubulopatia proximal.) E PENICILINA G (efeito dos ânions penicilinatos (carga negativa) carreando o potássio para a urina) USO DE “COLA DE SAPATEIRO” (tolueno): leva a produção do hipurato, que quando em grande quantidade no túbulo coletor (após filtração glomerular) funciona como um ânion não reabsorvido. HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO: hipertensão, hipocalemia e alcalose metabólica, a maior excreção renal de potássio aumenta com a maior retenção de sódio. HIPERTENSÃO RENOVASCULAR: o aumentoda produção de renina leva à estenose da artéria renal e promove o hiperaldosteronismo hiperrreninêmico. Leva a hipocalemia em 15% dos casos.Outras causas de aumento de renina são a hipovolemia (principal) e o uso de anticoncepcionais, além da secreção paraneoplásica de renina. HIPERCORTISOLISMO: (Cushing) glicocorticoide também apresenta efeito mineralocorticoide quando em níveis suprafisiológicos, por isso a administração de hidrocortisona em dose alta (ex.: controle da crise asmática grave), também provoca perda urinária de potássio. ACIDOSES TUBULARES RENAIS: Na ATR distal (tipo I) o H+ não consegue ser secretado no túbulo coletor, e como existe competição entre K+ e H+ neste nível do néfron, mais potássio acaba sendo eliminado. Na ATR proximal (tipo II), ocorre bicarbonatúria que estimula a caliurese. SÍNDROMES GENÉTICAS: Síndrome de Bartter (quadro de retardo no crescimento associado a hipovolemia, poliúria, hipocalemia e alcalose metabólica. É como se o paciente estivesse intoxicado por furosemida), Gitelman (variante branda. O defeito é no carreador luminal Na-Cl, presente no túbulo contorcido distal – justamente aquele inibido pelos tiazídicos) e Liddle (hiperfunção do túbulo coletor cortical, como se houvesse um excesso de aldosterona). DIÁLISE: O banho dialítico de rotina não contém potássio, porque geralmente é feito em pacientes hipercalêmicos. Naqueles pacientes que não apresentam esse excesso pode haver perda excessiva de potássio. 2. ENTRADA DE POTÁSSIO NAS CÉLULAS Administração de insulina: promove influxo celular de potássio, por estimulação da Na-K-ATPase. Pico de adrenalina no estresse: Influxo celular de potássio através da ativação dos receptores beta-2 das células musculares esqueléticas. Dobutamina e outras aminas simpaticomimética tem o mecanismo semelhante. Beta-2-agonistas: nfluxo celular de potássio. O uso concomitante de hidrocortisona exacerba e mantém a hipocalemia desses pacientes. Alcalemia: a alcalose metabólica aguda causa hipocalemia transitória por influxo celular de potássio. Sai H+ da célula (tamponamento) em troca da entrada de K+ → para cada 0,1 ponto de aumento do pH plasmático, a calemia reduz, em média, 0,5 mEq/L. Hipotermia: causa comum de hipocalemia em pacientes no pós-operatório de cirurgias no arco aórtico, leva a estímulo direto para o influxo intracelular de potássio. Tratamento da anemia megaloblástica: Reposição de folato ou vit. B12 leva nas primeiras 48h a um pico de produção de novas hemácias, que captam o potássio extracelular, causando hipocalemia. Daí a necessidade de reposição de K de rotina nesses casos. Paralisia periódica hipocalêmica (rara): episódios agudos de paraparesia ou tetraparesia, desencadeados por dietas ricas em carboidratos (pela liberação de insulina) ou pelo estresse (pela liberação de adrenalina). A melhora é espontânea (6-48h), mas pode levar a paresia da musculatura respiratória. Hipertireoidismo: Ocorre influxo celular de potássio por estímulo direto da Na+ /K+ ATPase e por “up-regulation” de receptores β-adrenérgicos. 3. PSEUDO-HIPOCALEMIA (rara) É descrita em pacientes com leucemia mieloide aguda. Quando o sangue do paciente, após a coleta, é deixado por um tempo prolongado em temperatura ambientes, os mieloblastos consomem o potássio plasmático, reduzindo falsamente a calemia para níveis de até 1 mEq/L. DIAGNÓSTICO Investigar causas relacionadas a baixa ingestão e ao deslocamento celular. ● Comuns: poliúria, baixa reposição de potássio, vômitos, diarreia, uso de diuréticos, insulina, beta-2-agonistas e hidrocortisona ● Causas ocultas: uso de laxativos, a hipomagnesemia, hiperaldosteronismo primário e as síndromes genéticas. Se dúvida: dosar potássio urinário. Perda renal e de cloro alta: GTTK = (K+ U / K+ P) / (OsmP / OsmU) (em que K+ U é o potássio urinário; K+ P é o potássio plasmático, OsmU é osmolaridade urinária e OsmP é osmolaridade plasmática) Valores acima de 3 apontam aumento de secreção distal do potássio, relacionando a hipocalemia a um estado hipermineralocorticoide, como no hiperaldosteronismo ou no uso de corticoide. Valores menores que 3 indicam resposta adequada tubular à hipocalemia, que ocorre por hiperfiltração ou hipoabsorção tubular, como no uso de diuréticos ou na diurese osmótica. 💊TRATAMENTO Qual é o sal de potássio que deve ser usado? Reposição de KCL, porque o cloreto é um dos principais ânions do meio extracelular, prendendo o potássio ali. ● Se hipofosfatemia: preferência ao K2 H2 PO4 (fosfato ácido de potássio). ● Se acidose (diarreia ou acidose tubular): bicarbonato ou citrato de potássio (convertido no fígado em bicarbonato). Por qual via o potássio deve ser reposto? Quando o paciente pode ingerir alimentos e não apresenta distúrbios gastrointestinais → VIA ORAL (quase 100% do K+ ingerido é absorvido pela mucosa). 👄 ORAL: xarope de KCl a 6%. Pela sua composição, há cerca de 8 mEq de K+ (ou 0,6 g de KCl) em cada 10 ml do xarope. Situações em que a via venosa deverá ser utilizada: 1) Intolerância gastrointestinal; 2) Perdas gastrointestinais importantes: vômitos, diarréia, fístulas, 3) Hipocalemia grave. 💪 INTRAVENOSA: ampola de KCl a 10%. Cada ampola contém 10 ml, o que dá 1 g de KCl. Em cada grama de KCl existe 13 mEq de K+. Idealmente, as ampolas de KCl a 10% devem ser acrescentadas à salina 0,45%. No entanto, estudos comprovaram que o risco de flebite “cáustica” por concentrações elevadas de K+ nas soluções intravenosas não é tão significativo, principalmente quando tais soluções são ministradas por curtos períodos! Existem evidências de que a utilização de soluções com 200 mEq/l de K+ é segura e efetiva. Estas soluções mais concentradas de K+ podem ser dadas tanto por veia central quanto por veia periférica, desde que, é claro, o paciente esteja sob monitorização cardíaca contínua e a taxa de infusão não ultrapasse 100 ml/h (20 mEq/h). Quanto é o total de K+ a ser reposto? ● HIPOCALEMIA LEVE/MODERADA (K entre 3-3,5 mEq/L) Via oral entre 40-80 mEq/dia → xarope de KCl a 6% (10 ml = 8mEq) na dose de 15-30 ml, três vezes ao dia. ● HIPOCALEMIA GRAVE (K < 3,0 mEq/L) Reposição intravenosa, infundindo-se 10-20 mEq/h (solução com cerca de 200 mEq/l de K+) até o potássio sérico chegar próximo a 3 mEq/l (após o que poderemos utilizar o tratamento oral exclusivo) ● Se houverem manifestações graves (insuficiência respiratória aguda) → acesso femoral e velocidade máxima de infusão (40mEq/h) c/ monitorização contínua. Devemos também tentar controlar as perdas atuais → diuréticos “poupadores de K+” após o término da reposição, como o amiloride ou a espironolactona. Se após 72h não houver melhora com a reposição, deve-se suspeitar de depleção de magnésio associada → reposição de sulfato de magnésio 2-3 g/dia. [ampolas: existe a 10% (1 g/10 ml) e a 50% (1 g/2 ml)]. Por via oral, o sulfato de magnésio é feito a 720 mg/dia divididos em três tomadas. Caso o pct esteja em dieta zero ou dieta enteral elementar ou parenteral, a necessidade diária deve ser acrescentada à reposição (0,5-1,5 mEq/kg/dia). Estimando o déficit corporal (nos casos de perdas externas - vômitos, diarreia, poliúria): 1 mEq/l de queda na calemia há uma perda corporal média de 200-400 mEq de potássio. Como na vida real, muitos pacientes apresentam os dois mecanismos operando em conjunto (perda exógena + translocação), e pode haver hipercalemia de rebote (potássio que foi deslocado pro interior da célula sair pro resolução do quadro), existe imprevisibilidade da resposta ao tratamento – por isso a importância de repetir a dosagem da calemia a intervalos regulares durante a reposição (ex.: a cada 2-4h). ● Estudos mostraram que reposição de 20 mEq/h resulta numa elevação da calemia de 0,25 mEq/l a cada hora, ou seja, 1 mEq/l a cada 4h. HIPERCALEMIA______________________________________ A insuficiência renal está entre as causas mais comuns e mais preocupantes de hipercalemia → rabdomiólise e a síndrome de lise tumoral são as causas de insuficiência renal aguda que mais elevam a calemia,que pode superar a cifra de 12 mEq/L. Mecanismos para combater a hipercalemia: excesso de potássio plasmático é rapidamente “tamponado” para o interior das células, por ação da Na-K-ATPase da membrana celular (ação da insulina e adrenalina). Após 6-8h o aumento da produção de aldosterona estimula a excreção renal de potássio. Quando a ingestão de potássio aumenta paulatinamente, o rim consegue aumentar bastante sua capacidade de excreção (de 50 mEq/dia para 400 mEq/dia). Já o paciente com insuficiência renal crônica mantém-se normocalêmico até as fases avançadas da síndrome urêmica (inibe a Na-K-ATPase das células), momento em que a taxa de filtração glomerular encontra-se abaixo de 10 ml/min. Os néfrons remanescentes hipertrofiam por efeito da aldosterona e conseguem eliminar mais potássio. A mucosa colônica também responde à aldosterona e passa a secretar potássio nas fezes. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E ECG É frequentemente assintomática, a não ser nas elevações agudas e graves (acima de 6,5 mEq/L). Afeta os tecidos cardíaco e o muscular esquelético. Alterações do ECG por ordem de gravidade: a) Redução do intervalo QT, com ondas T altas e apiculadas (repolarização ventricular precoce). b) Achatamento da onda P (lentificação da condução miocárdica). c) Alargamento do QRS (lentificação da condução miocárdica). d) Desaparecimento da onda P (ritmo idioventricular). Ocorre o chamado ritmo sinoventricular (o estímulo chega ao nódulo AV através dos feixes internodais sem ativar o miocárdio atrial). A hipercalemia leva a um estado de hipocondutividade, predispondo principalmente a (1) fibrilação ventricular; (2) bradiarritmias e bloqueios; (3) assistolia. Elevações rápidas da calemia para níveis acima de 8 mEq/L podem levar à paresia ou à paralisia muscular esquelética. Os músculos mais afetados são os dos membros inferiores. CAUSA DE HIPERCALEMIA 1. RETENÇÃO DE POTÁSSIO ADMINISTRAÇÃO DE EXCESSO DE POTÁSSIO: A ingestão ou administração de quantidades superiores a 130 mEq (equivalente a 10 g de KCl), de uma só vez, pode elevar os níveis de potássio para uma faixa acima de 6,0 mEq/L. Cuidado com crianças pequenas!! INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA: causa mais importante de hipercalemia em pacientes hospitalizados. Associada ao estado hipercatabólico, que estimula a liberação de potássio das células. Ligada à insuficiência renal oligúrica, ocorrendo na necrose tubular aguda isquêmica e séptica, na rabdomiólise, na síndrome de lise tumoral e na glomerulonefrite rapidamente progressiva. A perda urinária de potássio só passa a ser importante quando há lesão tubular proximal (ex: leptospirose - não reabsorve sódio, que acumula e causa maior secreção de potássio no coletor) ● IRA PRÉ-RENAL: pode cursar com hipercalemia, devido ao baixo fluxo tubular distal, reduzindo a secreção de potássio. Estes pacientes encontram-se, via de regra, oligúricos. INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA: Graças à inibição da Na-K-ATPase pela uremia, esses pacientes podem desenvolver hipercalemia grave se receberem uma carga aguda de potássio. Quando o clearance de creatinina cai abaixo de 10 ml/min, o indivíduo passa a reter potássio, evoluindo com hipercalemia progressiva. Nesse momento, já existe indicação de terapia dialítica crônica ACIDOSE METABÓLICA: Estando em excesso no tubulo coletor, o H+ será secretado no lugar do potássio, que então será retido nos estados de acidose. INSUFICIÊNCIA SUPRARRENAL PRIMÁRIA (causas: doença de Addison, AIDS, tuberculose, sepse): Ocorre depleção de cortisol (glicocorticoide) e de aldosterona (mineralocorticóide). Estes pacientes também apresentam emagrecimento, anorexia, hipovolemia e hipotensão arterial refratária a volume. HIPOALDOSTERONISMO HIPORRENINÊMICO: responsável por 50-70% dos casos de hipercalemia crônica inexplicada. 80% dos pacientes são diabéticos, geralmente com disfunção renal leve a moderada (clearance de creatinina entre 40-75 ml/min. Ocorre queda na produção de renina pelo aparelho justaglomerular, levando a predisposição à hipercalemia e acidose metabólica → acidose tubular renal tipo IV. PSEUDO-HIPOALDOSTERONISMO: quadro de acidose tubular renal tipo IV, com resistência do túbulo coletor ao efeito da aldosterona (está aumentada, diferente do hipoaldost. hiporreninêmico). DROGAS RETENTORAS DE POTÁSSIO: diuréticos poupadores de potássio (espironolactona, amiloride, triamtereno) agem no túbulo coletor, inibindo a reabsorção de sódio e a secreção de potássio e H+. Os inibidores da ECA, os antagonistas da angio II e a heparina provocam um hipoaldosteronismo leve. Os anti-inflamatórios (AINE), o trimetoprim e a pentamidina em altas doses, além da ciclosporina, também podem reter potássio. SÍNDROME DE GORDON (raríssima): tríade que envolve hipercalemia, acidose metabólica e expansão volêmica. Ocorre reabsorção anormal de Cl- no néfron distal, juntamente com Na+ (reabsorção NÃO ELETROGÊNICA de sódio, anulando o gradiente eletroquímico para a secreção de H+ e K+ ). 2. SAÍDA DE POTÁSSIO DA CÉLULA HIPEROSMOLARIDADE: efeito hipercalêmico direto devido à saída de líquido das células para o extracelular, concentrando o potássio intracelular que, portanto, também tende a sair da célula. Em média, para cada 10 mOsm/L de aumento da osmolaridade plasmática, a calemia se eleva em 0,6 mEq/L. EXERCÍCIO FÍSICO EXTENUANTE: um exercício prolongado e extenuante pode levar a uma perda muscular de potássio tão grande (canais se abrem para responder a vasodilatação) a ponto de causar hipercalemia, eventualmente chegando a 6,0 mEq/L. ACIDOSE METABÓLICA: o H+ entra na célula para ser tamponado e em troca sai K+. Para cada 0,1 ponto de queda no pH, a calemia aumenta 0,5 mEq/L (ocorre mais na acidose urêmica). RABDOMIÓLISE: Se a lesão for extensa, muita mioglobina é liberada, promovendo lesão tubular renal e IRA oligúrica. A bioquímica é marcada, além da hipercalemia grave, por hiperfosfatemia, hiperuricemia e aumento do lactato (acidose lática). HEMÓLISE MACIÇA: extravasamento de K+ das hemácias lesadas. Evoluindo para IRA oligúrica nos casos de hemólise intravascular aguda grave. DROGAS: digitálicos, ao inibirem a Na-K-ATPase, dificultam a entrada de potássio nas células. Os beta-bloqueadores inibem a ação da adrenalina sobre os receptores beta-2. Succinilcolina ao despolarizar a membrana dos miócitos, promove o efluxo celular de potássio. Penicilina potássica (tomar cuidado em crianças e pct com insuficiência renal) PARALISIA PERIÓDICA HIPERCALÊMICA (rara): crises episódicas de fraqueza muscular generalizada (poupando a musculatura respiratória) precipitada pelo repouso e pela ingestão de potássio (mesmo pequenas quantidades). A calemia está elevada, mas pouco. Melhora espontânea após 1-2h. 3. PSEUDO-HIPERCALEMIA Falso aumento da calemia, devido à perda de potássio das células sanguíneas após a coleta do material. É muito comum que haja certo grau de hemólise durante a coleta de sangue por venipunção. Deve ser suspeitada quando o potássio sérico está muito aumentado isoladamente. Efluxo de potássio dos miócitos da musculatura do antebraço de onde é colhido o sangue. O abrir e fechar da mão durante um tempo prolongado pode liberar potássio para a circulação local. Quando o sangue coagula no tubo para formar o soro, há perda de potássio dos leucócitos e das plaquetas. Nas doenças mieloproliferativas com leucocitose acima de 100.000 isso também pode ocorrer. DIAGNÓSTICO A presença de oligúria, com ou sem insuficiência renal importante, é um fator bastante comum relacionado à hipercalemia. ★ Causas menos comuns: tais como a insuficiência suprarrenal e hipoaldosteronismo hiporreninêmico (comum nos diabéticos nefropatas) → dosar potássio urinário e calcular gradiente transtubular de potássio (GTTK). Um gradiente menor que 8, na vigência de hipercalemia, sugere muito o diagnóstico de hipoaldosteronismo. TRATAMENTO Hipercalemia grave e potencialmente fatal um K+ > 7,5 mEq/L. 🅰 Qual é a primeira conduta na hipercalemia grave “sintomática”? reposição rápida de cálcio para protegerfibras cardíacas. aumento dos níveis extracelulares de cálcio ativa os canais de sódio que estavam inibidos pela hipercalemia, revertendo os distúrbios da eletrofisiologia cardíaca. ● Gluconato de cálcio ou o cloreto de cálcio → via intravenosa, infundidos em 2-3 minutos. A dose inicial é uma ampola (10 ml) de gluconato de cálcio a 10%. ● Se não houver resposta eletrocardiográfica a dose pode ser repetida em 5-10 min. ❌Contraindicação: intoxicação digitálica (O cálcio aumenta a toxicidade cardíaca dos digitálicos). Pacientes sem sinais de toxicidade e que fazem uso da droga podem receber em uma taxa de infusão mais lenta (ex.: 10 ml de gluconato de cálcio a 10% diluído em 100 ml de SG 5%, em 20-30 minutos). 🅱 Como baixar os níveis plasmáticos de potássio de forma rápida e eficaz? Glicose hipertônica para evitar hipoglicemia (5:1). O potássio sérico cai em média 0,5-1,5 mEq/L – e o efeito é transitório, pois a meia-vida da insulina regular é de apenas 4-6h. ● Paciente hiperglicêmico: não adicionar glicose. ● Paciente hipoglicêmico e hipercalêmico: glicose hipertônica isolada (glicose a 50% 100 ml IV). Outras medidas usadas concomitantemente: infusão venosa de bicarbonato de sódio (alcaliniza o plasma, promovendo a entrada de potássio nas células, em troca da saída de H+) e a nebulização com beta-2-agonistas (beta-2-agonistas estimulam a entrada de potássio nas células, pela ação nos receptores beta-2 adrenérgicos). TERAPIA DE MANUTENÇÃO Retirar toda a reposição de potássio, além de restringir o potássio da dieta (dietas enterais não precisam ser suspendidas). Se o paciente estiver urinando, devemos prescrever diuréticos de alça (furosemida), para aumentar a perda calêmica na urina ● Oligúricos refratários à furosemida e naqueles oligoanúricos com insuficiência renal → utilização de uma resina de troca, administrada por via enteral durante as refeições (poliestirenossulfonato de cálcio - Sorcal, vendido em envelopes contendo 30 g de pó. Este deve ser diluído em água ou suco e administrado na dose de um envelope VO 12/12 h). Hipoaldosteronismo → fludrocortisona, na dose de 0,1 mg/d, por via oral. Quando indicar a diálise? 1) Quando o paciente não estiver urinando (anúria ou oligoanúria); 2) Quando a hipercalemia for grave e refratária às medidas convencionais. Hemodiálise é mais rápida e eficaz.
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