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1 MÓDULO: SAÚDE MENTAL ANA CAROLINA CAIRES ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA “DESVENDANDO A MENTE” TERMOS ORIENTAÇÕES ALOPSÍQUICA Diz respeito à capacidade de orientar-se em relação ao mundo, isto é, quanto ao espaço (orientação espacial) e quanto ao tempo (orientação temporal). ORIENTAÇÕES AUTOPSÍQUICA Orientação do indivíduo em relação a si mesmo. Revela se o sujeito sabe quem é, idade, data de nascimento, profissão, estado civil e etc. ASSOCIAÇÕES POR ASSONÂNCIA Pensamentos associados pelo som das palavras (ex.: rimas) e não pelo significado. Descarrilamento do pensamento – situação em que o pensamento não tem ligação entre si ou estão ligados de forma ilógica. PROLIXIDADE Exagero de dados desnecessários (incapacidade de sintetizar). Se subdivide em: - Circunstancialidade: raciocínio do paciente “dá voltas em torno do tema/pergunta” sem entrar na questão essencial, mas consegue atingir o objetivo e existe conexão entre as afirmativas. - Tangencialidade: paciente também ronda o tema semelhante a circunstancialidade, mas não atinge o tema central da discussão e os assuntos são irrelevantes ou relacionados de uma maneira menor. HIPOTENAZ Paciente não consegue manter a capacidade de concentração. TIPOS DE ENTREVISTA Na entrevista aberta, o entrevistador não segueum roteiro rígido e pré-determinado, permitindo queo entrevistado fale o mais livremente possível, de tal forma que o curso da entrevista seja por ele determinado. Este tipo de entrevista permitiria um acesso mais fácil ao material inconsciente, através da observação da ordem em que os assuntos são comunicados, da associação entre os mesmos, das interrupções, das respostas emocionais, etc. Suas principais limitações são: apequena possibilidade de concordância entre diferentes entrevistadores; a dificuldade para formulação de diagnósticos consistentes, em razão da investigação assistemática dos sintomas; o tempo imprevisível e, muitas vezes, longo para a obtenção de informações. Nas entrevistas estruturadas, a forma pela qual seobtém as informações, a seqüência das perguntas e os registros dos resultados são pré-determinados. Geral-mente, os formulários dessas entrevistas contém glossários, que procuram descrever, acuradamente, os termos empregados. A principal vantagem desse tipo de entrevista é aumentar a confiabilidade do diagnóstico psiquiátrico, facilitando a concordância entre diferentes profissionais. As entrevistas semi-estruturadas, tem um nível de estruturação maior ou menor, dependendo da entrevista, mas permitem sempre uma certa flexibilidade na seqüência e/ou forma de formular as perguntas. Várias entrevistas semi- estruturadas são padronizadas, estabelecendo os limites dessa flexibilidade. Estas entrevistas, em geral, mantém níveis elevados de confiabilidade. As entrevistas psiquiátricas habituais, embora não padronizadas, podem ser consideradas do tipo semi- estruturada, porque o entrevistador, de alguma forma, procura, ativamente, obter dados que lhe permitam preencher uma história clínica e elaborar um exame das funções mentais, seguindo algum roteiro,mesmo que não claramente explicitado. Assim, é importante que o psiquiatra tenha sempre presente uma estrutura de história clínica e exame do estado mental, que lhe permita dirigir a entrevista, sem perder a dimensão do todo a ser explorado. ENTEVISTA Possui três objetivos básicos: a formulação de um diagnóstico, a formulação de um prognóstico e o planejamento terapêutico. ANAMNESE A avaliação psiquiátrica começa antes mesmo do início da entrevista, com a observação da expressão facial do paciente, seus trajes, movimentos, maneira de se apresentar, etc. O início da entrevista deve ser pouco diretiva, permitindo a livre expressão do paciente, com interferência mínimado entrevistador e apenas com o objetivo de esclarecer pontos obscuros do relato. Após a exposição inicial do paciente, o entrevistador deve adotar um papel mais ativo, conduzindo a entrevista, com tato, para cobrir todos os aspectos da anamnese. É importante salientar que o entrevistador deve adaptar sua entrevista ao paciente e não forçar o paciente a adaptar-se à entrevista. 2 MÓDULO: SAÚDE MENTAL ANA CAROLINA CAIRES No decorrer da entrevista, é importante atentar-se não apenas ao que o paciente diz, mas também à forma como se expressa e ao que faz enquanto fala. Na parte final da entrevista, o entrevistador pode fazer perguntas mais diretas para esclarecer os pontos que faltem para completar a história psiquiátrica ou o exame do estado mental. segue, em linhas gerais, o roteiro da anamnese em medicina, mas este não pode perturbar a espontaneidade da entrevista. Os itens da anamnese psiquiátrica são: identificação, queixa principal, motivo do atendimento, história da doença atual, história patológica pregressa, história fisiológica, história pessoal, história social e história familiar. Além da anamnese, incluem-se na avaliação psiquiátrica: o exame psíquico, a súmula psicopatológica, o exame físico, os exames complementares, o diagnóstico (sindrômico e nosológico) e a conduta terapêutica. IDENTIFICAÇÃO A identificação pode ser de grande auxílio para a formulação do diagnóstico. Por exemplo, o alcoolismo é mais comum em homens; esquizofrênicos em geral não são casados; pacientes com retardo mental costumam apresentar um baixo nível educacional etc. QUEIXA PRINCIPAL Convém relacionar no máximo três queixas, de preferência apenas uma. Caso o paciente apresente vária queixas, pede-se para ele escolher a que mais o incomoda. HISTÓRIA DA MOLESTIA ATUAL Relato sobre a época e modo de início da doença, a presença de fatores desencadeantes, tratamentos efetuados e o modo de evolução, o impacto sobre a vida do paciente, intercorrência de outros sintomas e as queixas atuais. Faz-se necessário identificar sempre, para cada informação, qual foi a fonte. São ainda incluídas na HDA informações (sobre alterações psíquicas e físicas) pesquisadas ativamente pelo entrevistador, mesmo que não tenham sido trazidas espontaneamente pelo paciente ou informante. Fazem parte também da HDA os negativos pertinentes, ou seja, certos sintomas cuja ausência pode ser significativa para a identificação da doença ou da fase evolutiva em que esta se encontra. Episódios psiquiátricos anteriores devem ser relatados também aqui, já que estes devem estar relacionados ao atual, visto que os transtornos mentais são, em geral, crônicos. HISTÓRIA PATOLOGICA PREGRESSA São investigadas principalmente as seguintes ocorrências: enurese, sonilóquio, pesadelos frequentes, terror noturno, sonambulismo, asma, tartamudez, fobia escolar, na infância; convulsões ou desmaios; doenças venéreas; outras doenças infecciosas, tóxicas ou degenerativas; traumatismos cranianos; alergia; intervenções cirúrgicas; hábitos tóxicos (álcool, tabaco, drogas ilícitas); uso de medicamentos. HISTÓRIA FAMILIAR Doenças psiquiátricas e não psiquiátricas; ter sido a gravidez desejada ou não pelos pais do paciente, separação dos pais, quem criou o paciente; ordem de nascimento entre os irmãos, diferenças de idade; características de personalidade dos familiares, o relacionamento entre estes e destes com o paciente; atitude da família diante da doença do paciente; relacionamento com o cônjuge e filhos. HISTÓRIA FISIOLOGICA E PESSOAL HISTÓRIA SOCIAL Informações relativas à moradia – condições sanitárias, pessoas com quem convive, número de cômodos, privacidade, características sociodemográficas da região –; situação socioeconômica; características socioculturais; atividade ocupacional atual; situação previdenciária; vínculo com o sistema de saúde; atividades religiosas e políticas; antecedentes criminais. Buscamos por costumes dopaciente que podem levar a patologias. Escrevemos sobre uso de drogas, hábitos alimentares e atividade física. Alguns hábitos, como o uso de substâncias psicoativas, podem já constituir a doença psiquiátrica ou ajudar na exacerbação dela. EXAME PSIQUIÁTRICO O exame do estado mental é uma avaliação do funcionamento mental do paciente, no momento do exame, com base nas observações que foram feitas durante a entrevista. Assim, ele pode variar de um momento para outro, em função de mudanças na psicopatologia do paciente. É organizado por áreas (p.ex., pensamento, sensopercepção, afeto, etc.). APRESENTAÇÃO GERAL Trata-se de uma descrição da impressão geral advinda da aparência física, da atitude e conduta do paciente na interação com o entrevistador. APARÊNCIA 3 MÓDULO: SAÚDE MENTAL ANA CAROLINA CAIRES A descrição deve permitir formar uma imagem sobre o paciente, de forma a reconhecê-lo, englobando: a) aparência quanto à idade e à saúde; b) a presença de deformidades e peculiaridades físicas; c) o modo de vestir-se e os cuidados pessoais, incluindo ordem, asseio e excentricidades; d) a expressão facial, através da mímica e enquanto sinais sugestivos de doença orgânica, depressão, ansiedade. “Paciente é alto, atlético e apresenta-se para a entrevista em boas condições de higiene pessoal, com vestes adequadas, porém sempre com a camisa bem aberta...” PSICOMOTRICIDADE É a exteriorização comportamental motora dos estados psíquicos; divide-se entre as síndromes hipercinéticas e hipocinéticas. Nas primeiras, em que há aumento da atividade motora, o paciente pode se apresentar inquieto – com dificuldade de permanecer parado, senta-se e levanta-se repetidas vezes, mexe-se constantemente na cadeira (usual em quadros ansiosos) – ou agitado – quando já perdeu o controle de seu comportamento, podendo ser desde agitação leve até grave, em que ocorrem atos agressivos e destrutivos. As hipocinéticas são caracterizadas por inibição motora, com lentificação, inibição, até catatonia – quando há total ausência de atividade motora concomitantemente à flexibilidade cérea (em que o paciente assume a posição em que é deixado como se fosse um boneco de cêra) –, e catalepsia – em que há aumento do tônus e rigidez muscular. a) O comportamento e atividade motora, envolvendo a velocidade e intensidade da mobilidade geral na marcha, quando sentado e na gesticulação; b) A atividade motora, incluindo a agitação (hiperatividade) ou retardo (hipoatividade), a presença de tremores, de acatisia, estereotipias, maneirismos (movimentos involuntários estereotipados), tiques (movimentos involuntários e espasmódicos); c) A presença de sinais característicos de catatonia (anomalias motoras em distúrbios não orgânicos), como flexibilidade cérea (manutenção de posturas impostas por outros), obediência automática, resistência passiva e ativa, negativismo (resistência imotivada), estupor (lentificação motora, imobilidade) e catalepsia (manutenção de uma posição imóvel). “Sua mímica é ansiosa, torce as mãos ao falar, levando-as à boca para roer as unhas...” ou “Seu gestual é discreto...” SITUAÇÃO DA ENTREVISTA/INTERAÇÃO Deve-se descrever as condições em que a entrevista ocorreu abrangendo: a) o local; b) a presença de outros participantes; c) intercorrências eventuais. LINGUAGEM E PENSAMENTO A linguagem e o pensamento são avaliadas conjuntamente. PENSAMENTO A forma de acessar o pensamento do paciente é, sobretudo, por meio do discurso, cuja avaliação acaba tento, por conseguinte, muitos pontos em comum com a avaliação do pensamento. Deve-se analisá-lo quanto a forma, curso e conteúdo. A forma do pensamento diz respeito à maneira como as idéias são encadeadas ao longo do raciocínio. As alterações formais ocorrem principalmente nos quadros psicóticos ou maniformes: afrouxamento de associações (idéias relacionadas de forma pobre entre si), arboriforme (tendência à desorganização, mas mantendo ainda a meta do raciocínio), fuga de idéias (idéias levam a novas idéias, perdendo a meta, típica dos quadros maniformes) e desagregado (quando há perda completa da relação aparente entre as idéias). O curso e a velocidade do pensamento também se alteram, podendo haver aceleração, principalmente em síndromes maníacas, ou lentificação, quando o pensamento vai mais devagar, comum em depressões. Outros fenômenos podem ocorrer, como bloqueio e roubo do pensamento: no primeiro caso, o fluxo é interrompido abruptamente; no segundo, o paciente interpreta tal fenômeno como se o pensamento lhe houvesse sido roubado. Inserção de pensamentos, também típicas de esquizofrenia, é a vivência de um pensamento não próprio ocorrendo ao paciente, interpretado como inserido por terceiros. A sonorização do pensamento tem um componente também de alucinação auditiva, pois o paciente ouve um som que não foi produzido (seu pensamento). O conteúdo do pensamento é praticamente ilimitado, pois tudo pode estar contido no pensamento. Aqui, o que se deve avaliar é se há algum tema prevalente, que domine e sobrepuje a ocorrência de outros temas. O valor atribuído ao conteúdo, que pode conferir caráter delirante ao pensamento, é avaliado em uma função à parte, o juízo, que veremos adiante. O adoecer do pensamento, embora teoricamente extenso, na prática gravita em torno de poucos temas: culpa e pecado, religiosidade, sexualidade, morte, riqueza e poder ou ruína, perseguição ou adoecimento. LINGUAGEM Avaliada principalmente em seu componente verbal, devem considerados também a forma e o conteúdo. Quanto à forma, analisa-se a velocidade do discurso, que pode estar lentificado, caso em que normalmente se nota a latência de resposta, definida como uma pausa acima do normal entre as perguntas feitas pelo entrevistador e a resposta do paciente. É comum ocorrer nas depressões ou em casos de desorganização do pensamento, pois o paciente demora-se ao procurar as respostas em meio à desorganização em que se encontra. Em casos extremos de depressão e em casos de catatonia, verifica- se mutismo. Entretanto, o discurso pode estar acelerado; quando o paciente, além de falar rapidamente, fala em grande quantidade, dizemo-no logorréico; se associada à logorréia houver fala em alto volume e ininterrupta, fala-se em pressão de discurso, sendo usual ocorrer em mania e em quadros ansiosos mais graves. Mussitação, verbigeração e ecolalia são automatismos verbais, semelhantes a uma reza contínua em voz baixa, no primeiro caso; no segundo, trata-se da repetição https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/pensamento.htm 4 MÓDULO: SAÚDE MENTAL ANA CAROLINA CAIRES sem sentido de frases ou palavras incessantemente; no último, da repetição automática das palavras pronunciadas pelo interlucutor. O conteúdo do discurso acompanha usualmente o conteúdo do pensamento, devendo ser descritos eventuais temas prevalentes. Ressaltamos a importância de afastar quadros de afasias com propedêutica adequada no exame da linguagem, que podem confundir o médico que não considerar a possibilidade de tais quadros. FORMA DE PENSAMENTO Neste item, deve ser examinada a organização formal do pensamento, sua continuidade e eficácia em atingir um determinado objetivo. Alguns distúrbios observados neste item são: - Circunstancialidade - o objetivo final de uma determinada fala é longamente adiado, pela incorporação de detalhes irrelevantes e tediosos. - Tangencialidade - o objetivo da fala não chega a ser atingido ou não é claramente definido. O paciente afasta-se do tema que está sendo discutido, introduzindo pensamentos aparentemente não relacionados, dificultando uma conclusão. O paciente fala de forma tão vaga, que apesar da fala estar quantitativamente adequada, pouca informação é transmitida (pobreza do conteúdo do pensamento). - Perseveração- o paciente repete a mesma resposta à uma variedade de questões, mostrando uma incapacidade de mudar sua resposta a uma mudança de tópico. - Fuga de idéias - ocorre sempre na presença de um pensamento acelerado e caracteriza-se pelas associações inapropriadas entre os pensamentos, que passam a serem feitas pelo som ou pelo ritmo das palavras (associações ressonantes). - Pensamento incoerente - ocorre uma perda na associação lógica entre partes de uma sentença ou entre sentenças (afrouxamento de associações). Numa forma extrema de incoerência, observa-se uma seqüência incompreensível de frases ou palavras (salada de palavras). - Bloqueio de pensamento - ocorre uma interrupção súbita da fala, no meio de uma sentença. Quando o paciente consegue retomar o discurso, o faz com outro assunto, sem conexão com a ideação anterior. - Neologismos - o paciente cria uma palavra nova e ininteligível para outras pessoas, geralmente uma condensação de palavras existentes. - Ecolalia - repetição de palavras ou frases ditas pelo interlocutor, às vezes com a mesma entonação e inflexão de voz. CONTEÚDO DO PENSAMENTO Neste item, investigam-se os conceitos emitidos pelo paciente durante a entrevista e sua relação com a realidade. Deve-se assinalar: Tema predominante e/ou com características peculiares, tais como: - Ansiosos - preocupações exageradas consigo mesmo, com os outros ou com o futuro. - Depressivos - desamparo, desesperança, ideação suicida, etc. - Fóbico - medo exagerado ou patológico diante de algum tipo de estímulo ou situação. - Obsessivos - pensamentos recorrentes, invasivos e sem sentido, que a pessoa reconhece como produtos de sua própria mente e tenta afastá-los da consciência. Podem ser acompanhados de comportamentos repetitivos, reconhecidos como irracionais, que visam neutralizar algum desconforto ou situação temida (Compulsões). LOGICIDADE DO PENSAMENTO Logicidade do pensamento, ou o quanto o pensamento pode ser sustentado por dados da realidade do paciente. Alguns tipos de pensamento ilógico são descritos abaixo: - Ideias supervalorizadas - o conteúdo do pensamento centraliza-se em torno de uma ideia particular, que assume uma tonalidade afetiva acentuada, é irracional, porém sustentada com menos intensidade que uma ideia delirante. - Delírios - crenças que refletem uma avaliação falsa da realidade, não são compartilhadas por outros membros do grupo sócio-cultural do paciente e das quais não pode ser dissuadido, através de argumentação contrária, lógica e irrefutável. Os delírios podem ser primários, quando não estão associados a outros processos psicológicos, p.ex., inserção de pensamento (crê que pensamentos são colocados em sua cabeça), irradiação de pensamento (acredita que os próprios pensamentos são audíveis ou captados pelos outros) e secundários, quando vinculados a outros processos psicológicos( derivados de uma alucinação, associados à depressão ou mania) . Os delírios podem ser descritos em função de seu grau de organização, em: sistematizados (relacionados a um único tema, mantendo uma lógica interna, ainda que baseada em premissas falsas, o que pode conferir maior credibilidade) e não sistematizados (quando envolvem vários temas, são mais desorganizados e pouco convincentes). Os delírios podem ser descritos, também, pelo seu tema predominante, p. ex., como delírio de referência (atribuição de um significado pessoal a observações ou comentários neutros), persecutório (idéia de que está sendo atacado, incomodado, prejudicado, perseguido ou sendo objeto de conspiração), de grandiosidade (o conteúdo envolve poder, conhecimento ou importância exagerados), somáticos (o conteúdo envolve uma mudança ou distúrbio no funcionamento corporal), de culpa (acredita ter cometido uma falta ou pecado imperdoável), de ciúmes (acredita na infidelidade do parceiro), de controle (acredita que seus pensamentos, sentimentos e ações são controlados por alguma força externa). CAPACIDADE DE ABSTRAÇÃO Reflete a capacidade de formular conceitos e generalizações. A incapacidade de abstração é referida como pensamento concreto. Este item pode ser avaliado, através da observação de algumas manifestações espontâneas, durante a entrevista (p.ex., diante da pergunta “como vai” o paciente responde “vou de ônibus”), ou através da solicitação para que o paciente interprete provérbios habituais para sua cultura. https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/linguagem.htm 5 MÓDULO: SAÚDE MENTAL ANA CAROLINA CAIRES SENSO – PERCEPÇÃO Observação de comportamentos sugestivos de percepções, na ausência de estímulos externos (conversar consigo mesmo, rir sem motivo, olhar repentinamente em determinada direção, na ausência de estímulo aparente); ou, ainda, pode formular perguntas diretas sobre tais alterações (p.ex., “Você já teve experiências estranhas, que a maioria das pessoas não costumam ter?” “Você já ouviu barulhos ou vozes, que outras pessoas, estando próximas, não conseguiram ouvir?”). As principais alterações da sensopercepção são comentadas abaixo: - Despersonalização: refere-se à sensação de estranheza, como se seu corpo, ou partes dele não lhe pertencessem, ou fossem irreais. - Desrealização: o ambiente ao redor parece estranho e irreal, como se “as pessoas ao seu redor estivessem desempenhando papéis”. - Ilusão: interpretação perceptual alterada, resultante de um estímulo externo real. - Alucinações: percepção sensorial na ausência de estimulação externa do órgão sensorial envolvido. As alucinações podem ser: auditivas (sons ou vozes; as vozes podem dirigir-se ao paciente ou discutirem entre si sobre ele), visuais (luzes ou vultos até cenas em movimento, nítidas e complexas), táteis (toque, calor, vibração, dor, etc.), olfatórias e gustativas. As alucinações que ocorrem no estado de sonolência, que precede o sono (hipnagógicas) e no estado semiconsciente, que precede o despertar (hipnopômpicas) são associadas ao sono normal e não são, necessariamente, patológicas. AFETIVIDADE E HUMOR Afeto é a manifestação da resposta emocional de alguém a eventos internos e externos, pensamentos, idéias, memórias evocadas e reflexões. Mostra o momento do indivíduo, podendo, quanto à qualidade, ser de alegria, raiva, tristeza, ansiedade, interesse, vergonha, culpa, surpresa. No que se refere ao tônus afetivo, ou seja, ao volume do afeto, pode estar aumentado, diminuído ou embotado, o que define o estado de quase ausência de afetos ou de modulação e ressonância afetiva. Modulação é a capacidade de variar entre afetos; ressonância é a capacidade de sintonizar com o ambiente, reagindo adequadamente à situação em que se encontra. Ambos podem ser aumentados ou diminuídos, sendo caracteristicamente menores nas depressões, maiores na mania e praticamente ausentes na esquizofrenia, daí o descrever como embotamento afetivo. O humor é o todo da vida emocional, a disposição afetiva de fundo, algo como a média dos afetos, podendo, portanto, estar polarizado (para depressão, hipomania ou mesmo mania); se mantém-se levemente deprimido de forma constante, pode-se considerá-lo distímico. Hipertímico, por sua vez, é a manutenção de um estado de leve elevação constante. Finalmente diz-se eutímico do humor sem clara tendência para um ou outro lado ao longo do tempo. A avaliação do afeto inclui a expressividade, o controle e a adequação das manifestações de sentimentos, envolvendo a intensidade, a duração, as flutuações do humor e seus componentes somáticos. Considera-se humor a tonalidade de sentimento mantido pelo paciente durante a avaliação. Para a avaliação desta função considera-se: a) o conteúdo verbalizado; b) o que se observa ou se deduz do tom de voz, da expressão facial, da postura corporal; c) a maneira como o paciente relata experimentaros próprios sentimentos, o que pode requerer um questionamento específico sobre “como os sentimentos são experimentados”; d) o relato de oscilações e variações de humor no curso do dia. - Tonalidade emocional: avalia-se a tonalidade emocional predominante durante a entrevista, observando-se a presença e a intensidade de manifestações de: ansiedade, pânico, tristeza, depressão, apatia, hostilidade, raiva, euforia, elação, exaltação, desconfiança, ambivalência, perplexidade, indiferença, embotamento afetivo (virtualmente, sem expressão afetiva, p. ex. voz monótona, face imóvel). - Modulação: Refere-se ao controle sobre os afetos, deve-se observar a presença de hipomodulação, associada à rigidez afetiva, caracterizada pela manutenção de uma certa fixidez no afeto externalizado, e de hipermodulação, associada à labilidade afetiva, caracterizada por marcadas oscilações no humor manifesto. - Associação pensamento/afeto: A avaliação da relação do conteúdo do pensamento ao afeto manifesto constitui-se em ponto importante, devendo-se considerar: o nível de associação / dissociação e a adequação / inadequação das manifestações, para tal deve-se levar em conta a temática e o contexto na qual ela está inserida. - Equivalentes orgânicos: Os equivalentes ou concomitantes orgânicos do afeto devem ser avaliados com base nas alterações do apetite, peso, sono e libido. É importante observar na avaliação desta a função, a presença de manifestações ou risco de auto e heteroagressividade, tais como idéias ou planos de suicídio, ou ainda idéias ou projetos de homicídio ou agressão voltada para o meio. Deve-se considerar, ainda, na avaliação desta função as manifestações relativas a auto-estima, e a volição, enquanto a energia que a pessoa está investindo e a disposição com a qual está se envolvendo na realização de seus projetos pessoais. ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO Para o exame psiquiátrico importa o nível de consciência, de alerta, de quão desperto e funcionante está o sistema nervoso central. Normalmente vai do grau de maior alerta, o estado vigil, passando pela sonolência, torpor (obnubilado), estupor (semicomatoso) e coma, que são graus de rebaixamento do nível de consciência, quando o paciente é dito confuso. O paciente sonolento usualmente oscila entre dormindo e acordado, e com algum esforço desperta e estabelece contato. O torporoso acorda com dificuldade, não plenamente despertando e permanecendo algo confuso. O estuporoso só acorda mediante estímulos muito vigorosos, não sendo capaz de se manter alerta espontaneamente. https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/humor.htm https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/consciencia.htm 6 MÓDULO: SAÚDE MENTAL ANA CAROLINA CAIRES O comatoso não acorda, apresentando o maior grau de rebaixamento do nível de consciência. Além das alterações quantitativas, a qualidade da consciência eventualmente se encontra alterada. O paciente pode apresentar estreitamento da consciência, quando o foco fica restrito, quer por alta ansiedade, intoxicações ou crises epilépticas; dissociação da consciência, quando vivencia momentos dos quais não se lembra ao retomar a integridade da consciência. Fazem parte ainda das alterações qualitativas os estados crepusculares, vistos em quadros orgânicos como epilepsia. MEMÓRIA A memória começa ser avaliada durante a obtenção da história clínica do paciente, com a verificação de como ele se recorda de situações da vida pregressa, tais como, onde estudou, seu primeiro emprego, perguntas sobre pessoas significativas de sua vida passada, tratamentos anteriores, etc. A memória pode ser avaliada, também, através de testes específicos, alguns deles bastante simples, e que podem ser introduzidos numa entrevista psiquiátrica habitual. A investigação da memória é, particularmente, importante quando se suspeita de quadros de etiologia orgânica. Habitualmente, divide-se a avaliação da memória em três tipos: - Memória Remota: avalia a capacidade de recordar-se de eventos do passado, podendo ser avaliada durante o relato feito pelo paciente, de sua própria história. - Memória Recente: avalia a capacidade de recordar-se de eventos que ocorreram nos últimos dias, que precederam a avaliação. Para esta avaliação o examinador pode perguntar sobre eventos verificáveis dos últimos dias, tais como: o que o paciente comeu numa das refeições anteriores, o que viu na TV na noite anterior, etc. - Memória Imediata: avalia a capacidade de recordar-se do que ocorreu nos minutos precedentes. Pode ser testada, pedindo-se ao paciente que memorize os nomes de três objetos não relacionados e depois de 5 minutos, durante os quais se retomou a entrevista normal, solicitando-se que o paciente repita esses três nomes. ORIENTAÇÃO A avaliação envolve aspectos auto e alopsíquicos. - Autopsíquica: Os aspectos autopsíquicos se caracterizam pelo reconhecimento de si envolvendo: a) saber o próprio nome; b) reconhecer as pessoas do seu meio imediato, através de seu nome ou de seu papel social; b) reconhecer as pessoas do seu meio imediato, através de seu nome ou de seu papel social. - Alopsíquica: Com relação aos aspectos alopsiquícos são avaliados: a) a orientação no tempo, englobando saber informar - o ano, o mês, o dia da semana, o período do dia, ou ainda a estação do ano, ou marcos temporais como Natal/ Carnaval/ Páscoa; b) a orientação no espaço envolve saber informar onde se encontra no momento, nomeando o lugar, a cidade e o estado. CONSCIÊNCIA Clinicamente é subdividida em memória de longa duração, de curta duração e imediata. A memória de longa duração, ou remota, refere-se aos fatos gravados há mais tempo, às recordações antigas, e pode ser avaliada enquanto o paciente conta sua história; a de curta duração, ou recente, trata de dados a serem mantidos por pouco tempo, como um número de telefone até que ele seja discado. A memória imediata, chamada memória de trabalho, permite, por exemplo, que um leitor entenda a coerência de uma frase, embora já não lembre exatamente de quais eram as primeiras palavras lidas. Está intimamente ligada à atenção. As memórias podem ser medidas com testes simples específicos, como gravar palavras ou nomes. Os déficits podem dar ensejo a confabulações, que são falsas memórias criadas pelo paciente para suprir as lacunas abertas na memória, sendo associadas a quadros de amnésia orgânica, como nas demências. CAPACIDADE INTELECTUAL Envolve uma estimativa do nível de desempenho intelectual esperado, em função da escolaridade e do nível sócio-cultural, enquanto capacidade de compreensão e integração de experiências. Trata-se de uma função complexa, pois seu comprometimento pode refletir o prejuízo de outras funções como pensamento, atenção - concentração, ou ainda a não aquisição de habilidades, em função de baixa escolaridade ou de experiência em um meio sócio-cultural pobre. Na situação de entrevista deve ser observado: o vocabulário, sua propriedade e nível de complexidade, e a capacidade de articular conceitos, de abstrair e generalizar. - Prejuízo intelectual: Para a avaliação deste item, a observação da situação de entrevista, pode ser complementada com a proposição de atividades como: a) perguntas que avaliam as informações sobre assuntos ou temas gerais (por exemplo, quem é o Presidente da República); b) a resolução de problemas aritméticos (por exemplo, quanto receber de troco em uma situação de compra e venda); c) a leitura de textos escritos comentando a compreensão dos mesmos. É importante observar o nível sócio-cultural do paciente na seleção das atividades e na complexidade das mesmas. - Deterioração: Deve-se estar atento à presença de uma deterioração global, com prejuízo no funcionamento intelectual, sem obnubilação da consciência no caso de demência(disfunção cerebral orgânica) ou pseudodemência (depressão). https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/confabulacoes.htm 7 MÓDULO: SAÚDE MENTAL ANA CAROLINA CAIRES JUÍZO CRÍTICO DA REALIDADE O juízo é a capacidade de dar valor a fatos e idéias, e apresenta- se alterado no paciente que tem delírios. Estes são certezas subjetivas de algo, não encadeadas no fluxo normal de pensamentos, não compartilhadas (não fazem parte de um conjunto de crenças culturalmente aceitas), irrefutáveis e de conteúdo improvável. Embora normalmente de conteúdo bizarro, podem ser plausíveis, como no exemplo do alcoolista traído que tem delírios de ciúme. Por isso é importante determinar a forma de surgimento da idéia em questão: o delírio surge por interpretação delirante, quando o paciente interpreta fatos corriqueiros de forma psicótica; por intuição delirante, caso em que o delírio simplesmente surge, como uma revelação inquestionável que não carece de explicação; ou por percepção delirante, quando, ao receber um estímulo qualquer, o paciente o entende como explicação para os delírios, como quando, ao ver a garrafa de cerveja na mesa, o paciente descobre que a mulher o estava traindo. Os delírios podem incluir os mais diversos temas, mas os mais comuns são os místicos, de persecutoriedade e de grandeza. Crítica é definida arbitrariamente como a capacidade do paciente de entender sua condição, ter insight sobre seu estado, podendo estar preservada, abolida ou ser parcial, quando o paciente entende que algo está diferente, mas não consegue definir bem o que ocorre. EXAME FÍSICO GERAL No exame físico deve ser dada ênfase ao exame neurológico e ao do sistema endócrino. A Escala de Movimentos Involuntários Anormais (Abnormal Involuntary Movement Scale; AIMS) é um teste de triagem importante a ser seguido quando se utiliza medicamento antipsicótico para monitorar efeitos colaterais potenciais, como discinesia tardia. Uma avaliação neurológica focalizada é uma parte importante da avaliação psiquiátrica. EXAMES COMPLEMENTARES Duas questões recentes levaram a avaliação clínica e os exames laboratoriais em pacientes psiquiátricos para o centro das atenções da maioria dos médicos: o amplo reconhecimento do problema generalizado da síndrome metabólica na psiquiatria clínica e a expectativa de vida mais curta de pacientes psiquiátricos comparada com a da população em geral. Os fatores que podem contribuir para a comorbidade clínica incluem abuso de tabaco, álcool e drogas, hábitos dietéticos ruins e obesidade. Além disso, muitos medicamentos psicotrópicos estão associados com riscos à saúde que incluem obesidade, síndrome metabólica e hiperprolactinemia. Consequentemente, a monitoração da saúde física de pacientes psiquiátricos tem-se tornado uma questão mais proeminente. Uma abordagem lógica e sistemática ao uso da avaliação clínica e de exames laboratoriais pelo psiquiatra é vital para alcançar os objetivos de chegar a diagnósticos corretos, identificar comorbidades clínicas, implementar tratamento adequado e fornecer tratamento custo-efetivo. Com respeito ao diagnóstico ou tratamento de doença clínica, a consulta com colegas de outras especialidades é importante. Os bons médicos reconhecem os limites de sua expertise e a necessidade de consultar seus colegas não psiquiatras. MONITORAÇÃO DA SAÚDE FÍSICA A monitoração da saúde física de pacientes psiquiátricos tem dois objetivos: fornecer tratamento adequado para doenças existentes e proteger a saúde atual do paciente de possíveis prejuízos futuros. A prevenção de doenças deve começar com um conceito claro da condição a ser evitada. De maneira ideal, em psiquiatria isso seria um foco em condições comumente encontradas que poderiam ser uma fonte significativa de morbidade ou mortalidade. É claro que, em psiquiatria, um pequeno número de problemas clínicos está na base de um número significativo de prejuízos e mortes prematuras. EXAMES DE IMAGEM Os exames por imagens do sistema nervoso central (SNC) podem ser divididos amplamente em dois domínios: estrutural e funcional. As imagens estruturais fornecem uma visualização detalhada, não invasiva, da morfologia do cérebro, enquanto as funcionais fornecem uma visualização da distribuição espacial de processos bioquímicos específicos. As imagens estruturais incluem a TC de raios X e a imagem por ressonância magnética (IRM). As imagens funcionais incluem a tomografia por emissão de pósitrons (PET), a tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT), a IRM funcional (IRMf) e a espectroscopia por ressonância magnética (ERM). Com a limitada exceção do escaneamento por PET, as técnicas de imagens funcionais são consideradas instrumentos de pesquisa que ainda não estão prontos para uso clínico de rotina. IMAGEM POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA Os escaneamentos por IRM são usados para distinguir anormalidades cerebrais estruturais que podem estar associadas com as alterações comportamentais de um paciente. Esses exames fornecem ao médico imagens de estruturas anatômicas vistas de perspectivas transversais, coronais ou oblíquas. A IRM pode detectar uma grande variedade de anormalidades estruturais. Ela é particularmente útil para examinar os lobos temporais, o cerebelo e as estruturas subcorticais profundas e é única em sua capacidade de identificar hiperintensidades da substância branca periventricular. Os escaneamentos por IRM são úteis para examinar doenças específicas, como neoplasias não meníngeas, malformações vasculares, focos convulsivos, transtornos desmielinizantes, transtornos neurodegenerativos e infartos. As vantagens da IRM incluem a ausência de radiação ionizante e de agentes de contraste à base de iodo. Ela é contraindicada quando o paciente tem marca-passo, clipes de aneurisma ou corpos estranhos ferromagnéticos. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA Os escaneamentos por TC são usados para identificar anormalidades cerebrais estruturais que podem contribuir para as anormalidades comportamentais de um paciente. Esses exames fornecem ao médico imagens de raio X transversais do cérebro. A TC pode detectar uma grande variedade de anormalidades estruturais nas regiões corticais e subcorticais do cérebro. Ela é útil quando um médico está buscando https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/delirios.htm 8 MÓDULO: SAÚDE MENTAL ANA CAROLINA CAIRES evidências de um AVC, hematoma subdural, tumor ou abscesso. Esses estudos também permitem a visualização de fraturas de crânio. Os escaneamentos por TC são a modalidade preferida quando existe suspeita de um tumor meníngeo, lesões calcificadas, hemorragia subaracnoide ou parenquimal aguda ou infarto parenquimal agudo. Esses escaneamentos podem ser realizados com ou sem contraste. O propósito do contraste é aumentar a visualização de doenças que alteram a barreira hematencefálica, tais como tumores, AVCs, abscessos e outras infecções. TOMOGRAFIA POR EMISSÃO DE PÓSITRONS Os escaneamentos por PET são realizados predominantemente em centros médicos universitários. Eles requerem um tomógrafo de emissão de pósitron (o escâner) e um cíclotron para criar os isótopos relevantes. Esse tipo de escaneamento envolve a detecção e a medição da radiação de pósitron emitida após a injeção de um composto que foi marcado com um isótopo emissor de pósitron. Em geral, os escaneamentos por PET utilizam fluorodesoxiglicose (FDG) para medir o metabolismo de glicose cerebral regional. A glicose é a principal fonte de energia para o cérebro. Esses escaneamentos fornecem informações sobre a ativação relativa de regiões do cérebro, visto que o metabolismo de glicose regional é diretamente proporcional à atividade neuronal. Os escaneamentos cerebrais com FDG são úteis no diagnóstico diferencial de doença demencial. O achado mais consistentena literatura sobre a PET é o padrão de hipometabolismo de glicose temporal-parietal em pacientes com demência do tipo Alzheimer. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA POR EMISSÃO DE FÓTON ÚNICO A SPECT está disponível na maioria dos hospitais, mas raramente é usada para estudar o cérebro. Ela costuma ser utilizada para estudar outros órgãos, como o coração, o fígado e o baço. Alguns estudos recentes, entretanto, tentam correlacionar as imagens cerebrais por SPECT com transtornos mentais. IMAGEM POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA FUNCIONAL A IRMf é um escaneamento usado na pesquisa para medir o fluxo sanguíneo cerebral regional. Com frequência, os dados da IRMf são sobrepostos a imagens de IRM convencionais, resultando em mapas detalhados da estrutura e da função do cérebro. A medição do fluxo sanguíneo envolve o uso da molécula heme como agente de contraste endógeno. A taxa de fluxo de moléculas heme pode ser medida, resultando em uma avaliação do metabolismo cerebral regional. ESPECTROSCOPIA POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA A ERM é outro método de pesquisa para medir o metabolismo cerebral regional. Os escaneamentos por ERM são realizados em dispositivos de IRM convencionais que passaram por atualizações específicas de hardware e software. As atualizações permitem que o sinal dos prótons seja suprimido e outros compostos sejam medidos. (As imagens por IRM convencional são, na realidade, um mapa da distribuição espacial de prótons encontrados na água e na gordura.) ANGIOGRAFIA POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA A angiografia por ressonância magnética (ARM) é um método para criar mapas tridimensionais do fluxo sanguíneo cerebral. Os neurologistas e os neurocirurgiões são os que mais utilizam esse teste. Ele raramente é usado por psiquiatras. ESTUDOS DE TOXICOLOGIA Os exames urinários para drogas de abuso são imunoensaios que detectam barbitúricos, benzodiazepínicos, metabólitos de cocaína, opiáceos, fenciclidina, tetra-hidrocanabinol e antidepressivos tricíclicos. Esses testes rápidos fornecem resultados em uma hora. Entretanto, são testes de triagem; uma testagem adicional é necessária para confirmar os resultados. CONCENTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS A testagem para determinar as concentrações sanguíneas de certos medicamentos psicotrópicos permite ao médico determinar se os níveis sanguíneos dos medicamentos estão em níveis terapêuticos, subterapêuticos ou tóxicos. Sintomas psiquiátricos não são raros quando medicamentos prescritos estão em níveis tóxicos. Em pacientes debilitados e nos idosos, sintomas patológicos podem ocorrer em concentrações terapêuticas. Os valores de referência normais variam entre os laboratórios. É importante verificar com o laboratório que realiza o exame para obter sua variação de referência normal. CONCENTRAÇÃO DE DROGAS A testagem para drogas de abuso geralmente é realizada em amostras de urina. Também pode ser feita em amostras de sangue, hálito (álcool), cabelo, saliva e suor. Os exames de urina fornecem informações sobre uso recente de drogas de abuso frequente, como álcool, anfetaminas, cocaína, maconha, opioides e fenciclidina junto com 3,4- metilenedioximetanfetamina (MDMA) (ecstasy). Muitas substâncias podem produzir falso-positivos em exames de urina para drogas. Quando há suspeita de um falso-positivo, um teste confirmatório pode ser solicitado. Um exame toxicológico qualitativo abrangente em geral é realizado por cromatografia líquida e gasosa. Sua realização pode exigir muitas horas, e ele raramente é feito em situações clínicas de rotina. Ele costuma ser realizado em pacientes com toxicidade inexplicável e um quadro clínico atípico. AVALIAÇÕES ENDÓCRINAS As doenças endócrinas são de grande relevância na psiquiatria. O tratamento de doenças psiquiátricas é complicado por doenças endócrinas comórbidas. Essas doenças, muitas vezes, têm manifestações psiquiátricas. Por essas razões, a avaliação para doença endócrina costuma ser de relevância para o psiquiatra. DOENÇA SUPRARRENAL A doença suprarrenal pode ter manifestações psiquiátricas, incluindo depressão, ansiedade, mania, demência, psicose e 9 MÓDULO: SAÚDE MENTAL ANA CAROLINA CAIRES delirium. Todavia, pacientes com essa doença raramente recebem atenção de psiquiatras. A avaliação e o tratamento desses pacientes são realizados em conjunto com especialistas. Níveis plasmáticos de cortisol baixos são encontrados na doença de Addison. Esses pacientes podem ter sintomas que também são comuns em condições psiquiátricas, incluindo fadiga, anorexia, perda de peso e indisposição. Os pacientes também podem ter comprometimento da memória, confusão ou delirium. É possível ocorrer depressão ou psicose com alucinações e delírios. Níveis elevados de cortisol são observados na síndrome de Cushing. Cerca de metade de todos os pacientes com essa síndrome desenvolve sintomas psiquiátricos, entre os quais labilidade, irritabilidade, ansiedade, ataques de pânico, humor deprimido, euforia, mania ou paranoia. As disfunções cognitivas podem incluir lentidão cognitiva e memória de curto prazo deficiente. Os sintomas geralmente melhoram quando o cortisol se normaliza. Se não, ou se os tomas forem graves, o tratamento psiquiátrico pode ser necessário. USO DE ESTEROIDES ANABOLIZANTES O uso dessas substâncias tem sido associado com irritabilidade, agressividade, depressão e psicose. Atletas e fisiculturistas são abusadores comuns de esteroides anabolizantes. Amostras de urina podem ser usadas para a triagem desses agentes. Visto que tantos compostos foram sintetizados, uma variedade de testes pode ser necessária para confirmar o diagnóstico, dependendo do composto que tem sido utilizado. A consulta com um especialista é aconselhada. Geralmente, os andrógenos além da testosterona podem ser detectados por cromatografia gasosa e espectroscopia de massa. HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO A arginina vasopressina (AVP), também chamada de hormônio antidiurético (ADH), está diminuída no diabetes insípido (DI) central. O DI pode ser central (devido à hipófise ou ao hipotálamo) ou nefrogênico. O DI nefrogênico pode ser adquirido ou causado por uma condição hereditária ligada ao X. O DI induzido por lítio é um exemplo de uma forma dessa doença adquirida. Foi demonstrado que o lítio diminui a sensibilidade dos túbulos renais a AVP. Pacientes com DI central respondem à administração de vasopressina com uma diminuição na produção de urina. O DI central secundário pode se desenvolver em resposta a traumatismo craniano que produza dano à hipófise ou ao hipotálamo. GONADOTROFINA CORIÔNICA HUMANA A gonadotrofina coriônica humana (hCG) pode ser avaliada na urina e no sangue. O exame de urina para hCG é a base para o teste de gravidez mais comumente utilizado. Esse teste imunométrico é capaz de detectar gravidez cerca de duas semanas após um período menstrual esperado ter passado. Os exames de rotina são mais precisos quando realizados 1 a 2 semanas após a ausência de um período menstrual, e não há uma precisão confiável até o período de duas semanas ter passado. Entretanto, existem exames de hCG urinários ultrassensíveis que podem detectar gravidez precisamente sete dias após a fertilização. Os testes de gravidez muitas vezes são obtidos antes do início do tratamento com certos medicamentos psicotrópicos, como lítio, carbamazepina e valproato, que estão associados com anomalias congênitas. PARATORMÔNIO O paratormônio (hormônio paratireoidiano) modula as concentrações séricas de cálcio e fósforo. A desregulação nesse hormônio e a resultante produção de anormalidades no cálcio e no fósforo podem produzir depressão ou delirium. PROLACTINA Os níveis de prolactina podem se tornar elevados em resposta à administração de agentes antipsicóticos. Elevações na prolactina sérica resultam do bloqueio de receptoresde dopamina na hipófise. Esse bloqueio produz aumento na síntese e na liberação de prolactina. Obs.: Os níveis de prolactina podem se elevar um pouco após uma convulsão. Por essa razão, sua medição imediata após uma possível atividade convulsiva pode ajudar a diferenciar uma convulsão de uma pseudoconvulsão. HORMÔNIO TIREOIDIANO As doenças da tireoide estão associadas com muitas manifestações psiquiátricas e são mais comumente relacionadas com depressão e ansiedade, mas também podem dar origem a sintomas de pânico, demência e psicose. As doenças tireoidianas podem imitar a depressão. É difícil alcançar a eutimia se um paciente não estiver eutireóideo. LES O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é um transtorno autoimune. Os testes para LES são embasados na detecção de anticorpos formados como parte da doença. Anticorpos antinucleares são encontrados em praticamente todos os pacientes com LES. Os níveis de anticorpo também são usados para monitorar a gravidade da doença. Um teste fluorescente é utilizado para detectar os anticorpos antinucleares. Esse teste pode ser positivo em uma variedade de doenças reumáticas. Por essa razão, um resultado positivo em geral é seguido por teste adicionais, incluindo um teste para detectar anticorpos antiácido desoxirribonucleico (DNA). Os anticorpos anti-DNA, quando associados com anticorpos antinucleares, são fortemente sugestivos de um diagnóstico de lúpus. Os anticorpos antiDNA são acompanhados para monitorar a resposta ao tratamento. FUNÇÃO PANCREÁTICA A medição da amilase sérica é usada para monitorar a função pancreática. Elevações nos níveis de amilase podem ocorrer em indivíduos abusadores de álcool que desenvolvem pancreatite. Os níveis séricos de amilase também podem ser fracionados em componentes salivares e pancreáticos. BIOQUÍMICA ELETRÓLITOS SÉRICOS 10 MÓDULO: SAÚDE MENTAL ANA CAROLINA CAIRES Os níveis de eletrólitos séricos podem ser úteis na avaliação inicial de um paciente psiquiátrico. Esses níveis, muitas vezes, são anormais em indivíduos com delirium. Anormalidades também podem ocorrer em resposta à administração de medicamentos psicotrópicos. Níveis séricos de cloreto baixos podem ser encontrados em pacientes com transtornos alimentares que induzem o vômito. Os níveis séricos de bicarbonato podem ser elevados em pacientes que purgam ou que abusam de laxantes e costumam ser baixos naqueles que hiperventilam em resposta a ansiedade. POTÁSSIO Hipocalemia pode estar presente em pacientes com transtornos alimentares que purgam ou abusam de laxantes e no vômito psicogênico. O abuso de diuréticos por esses pacientes também pode produzir hipocalemia. Níveis baixos de potássio estão associados com fraqueza e fadiga. Alterações no ECG características ocorrem com hipocalemia e consistem em arritmias cardíacas, ondas U, ondas T achatadas e depressão do segmento ST. FÓSFORO Pacientes com transtornos alimentares com anorexia nervosa ou bulimia nervosa em geral recebem um razoável conjunto de exames laboratoriais-padrão, incluindo eletrólitos séricos (em particular potássio e fósforo), glicose sanguínea, teste de função tireoidiana, enzimas hepáticas, proteína total, albumina sérica, ureia, creatinina, hemograma completo e ECG. A amilase sérica é frequentemente avaliada em pacientes bulímicos. MAGNÉSIO Os níveis de magnésio podem estar baixos em indivíduos que abusam de álcool. Níveis de magnésio baixos estão associados com agitação, confusão e delirium. Se não tratados, é possível a ocorrência de convulsões e coma HIPONATREMIA Hiponatremia é verificada na polidipsia psicogênica e na SIADH e em resposta a certos medicamentos, como carbamazepina. Níveis de sódio baixos estão associados com delirium. OUTROS EXAMES FUNÇÃO RENAL Os testes de função renal incluem ureia e a creatinina. Outros exames laboratoriais relevantes envolvem a análise urinária de rotina e a depuração de creatinina. A ureia elevada frequentemente resulta em letargia ou delirium. A ureia costuma estar elevada com a desidratação. As elevações de ureia muitas vezes estão associadas com depuração de lítio prejudicada. Um índice de função renal menos sensível é a creatinina. Elevações da creatinina podem indicar comprometimento renal extensivo. Níveis elevados ocorrem quando cerca de 50% dos néfrons estão comprometidos. FUNÇÃO HEPÁTICA Os testes da função hepática (TFHs) costumam incluir os níveis séricos de aminotransferases, fosfatase alcalina, γglutamil transpeptidase e testes de função sintética, em geral as concentrações séricas de albumina e o tempo de protrombina, e a bilirrubina sérica, que reflete a capacidade de transporte hepático. VITAMINAS Folato e B12. Deficiências de folato e B12 são comuns em pacientes que abusam de álcool e estão associadas com demência; delirium; psicose, incluindo paranoia; fadiga; e alteração da personalidade. Folato e B12 podem ser medidos diretamente. Baixos níveis de folato podem ser encontrados em pacientes que usam pílulas anticoncepcionais ou outras formas de estrogênio, que bebem álcool ou que tomam fenitoína. DSTs A testagem para doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) se tornou comum, dada a frequência atual dessas doenças. Algumas doenças psiquiátricas, como mania e abuso de substância, estão relacionadas com um risco mais alto de contrair DSTs. Essas doenças incluem herpes simples tipos 1 e 2, clamídia, vírus da hepatite, gonorreia, sífilis e vírus de imunodeficiência humana (HIV). Os fatores de risco para uma DST incluem contato com profissionais do sexo, abuso de drogas, história anterior de DSTs, encontrar parceiros na internet, múltiplos parceiros sexuais, um parceiro sexual novo e ser jovem e solteiro. Outra doença a se pensar é causada pelo vírus Epstein-Barr. ELETRENCEFALOGRAMA O EEG avalia a atividade elétrica cortical cerebral regional. A neurociência clínica tem uma longa história de uso do EEG. Ele pode ser usado de diferentes maneiras para estudar estados ou atividades cerebrais específicos por meio de modificações da técnica de coleta de dados ou dos próprios dados. Os dados do EEG podem ser exibidos em traçados sobre papel na maneira dos registros convencionais. ECG O ECG é uma representação gráfica da atividade elétrica do coração. As anormalidades nessa atividade estão correlacionadas com patologia cardíaca. O ECG é usado mais comumente na psiquiatria para avaliar os efeitos colaterais de medicamentos psicotrópicos. FONTES Compêndio de Psiquiatria: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica – Kaplan e Sadock; Introdução à Psiquiatria – Andreasen Semiologia Médica – Porto Artigo: Semiologia psiquiátrica - Docentes do Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. 11 MÓDULO: SAÚDE MENTAL ANA CAROLINA CAIRES
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