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ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 c PROBLEMA 1 - TRANSTORNO BIPOLAR OBJETIVO 1- Conhecer a anamnese psiquiátrica e a avaliação do estado mental (exploração psicopatológica) Aspectos gerais A entrevista psiquiátrica tem 3 objetivos básicos: formular um diagnóstico, um prognóstico e um planejamento terapêutico. A entrevista pode ocorrer em situações muito diversas, desde a internação do paciente (voluntária ou não) até mesmo em via pública. De forma geral, existem algumas regras a serem seguidas: → Inicialmente, deve-se deixar o paciente falar livremente. Posteriormente, pergunta-se mais detalhadamente sobre algum ponto; → Não aceitar jargões fornecidos pelos pacientes, como “nervoso”, “deprimido” ou “tenho pânico”. Nessa ocasião, deve-se pedir para que eles expliquem o sentido dessas palavras; → Certificar-se do entendimento pelo paciente e, para isso, fazer uso de linguagem acessível, sem termos médicos. Além da anamnese, incluem-se na avaliação psiquiátrica: o exame psíquico, a súmula psicopatológica, o exame físico, os exames complementares, o diagnóstico (sindrômico e nosológico) e a conduta terapeutica. ID Nome, data de nascimento, sexo, estado civil, naturalidade, nível de instrução, profissão, etnia, religião, residência, procedência, filiação. QP Ela constitui o foco da história da doença atual. Como deve ser sucinta, convém relacionar no máximo três queixas – mas, preferencialmente, apenas uma. Ela deve ser redigida com as palavras do paciente, usando aspas ou sic. HDA Trata-se de um relato sobre a época e o modo do início da doença, abrangendo a presença de fatores desencadeantes, tratamentos efetuados, forma de evolução, impacto sobre a vida do paciente, intercorrência de outros sintomas e as queixas atuais. HPP Refere-se a estados mórbidos passados, em geral não psiquiátricos e que não mostrem possuir relação direta/indireta com a moléstia atual. Caso haja relação, eles são incluídos na HDA. Investiga-se, aqui, principalmente: pesadelos frequentes, terror noturno, sonambulismo, asma, fobia escolar, desmaios, alergias, enurese, hábitos tóxicos (álcool, tabaco, drogas...), uso de medicamentos, etc. Também devem estar incluídas as doenças ausentes. HISTÓRIA FISIOLÓGICA Investiga-se a gestação da mãe, o nascimento, aleitamento, desenvolvimento psicomotor (andar, falar, controle esfincteriano), menarca, catamênios, atividade sexual, gestações, partos, abortamentos, menopausa, padrões de sono e de aleitamento HP Esta seção pode corresponder a uma junção das histórias fisiológica, pessoal e social. Caso se mantenha separada, ela deve se aprofundar nas seguintes informações: a) Infância: personalidade, socialização, jogos e brincadeiras, aproveitamento escolar, ansiedade de separação. ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 b) Adolescência: desempenho escolar, uso de álcool e drogas, delinquência, relacionamentos interpessoais. c) Sexualidade: início, orientação e preferências/costumes. d) Vida profissional: vocação, estabilidade empregatícia, relacionamento na empresa, desempenho. e) Personalidade pró-mórbida: relacionamentos sociais, interesses, hábitos de lazer e culturais, padrão de humor, agressividade, intro/extroversão, egoísmo/altruísmo, independência/dependência, atividade/passividade, valores, adaptação ao ambiente. História Social Abarca informações relativas à moradia (condições sanitárias, número de cômodos...), situação socioeconômica, características socioculturais, atividade ocupacional atual, situação previdenciária, vínculo com o sistema de saúde, atividades religiosas e políticas, antecedentes criminais. História Familiar Abrange dados de doenças psiquiátricas e não psiquiátricas; gravidez dos pais foi desejada ou não; estrutura familiar; características das personalidades individuais; relacionamento entre os componentes da família. ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 APRESENTAÇÃO GERAL Aparência física (modo de vestir e cuidados pessoais), atitudes (expressão facial), conduta da pessoa diante do profissional (formar uma imagem do paciente) PSICOMOTRICIDADE O comportamento e a atividade motora – velocidade e intensidade da mobilidade geral na marcha e na gesticulação, manutenção da postura imposta por outros, obediência automática, negativismo (resistência imotivada) A atividade motora – agitação (hiperatividade) ou retardo (hipoatividade), a presença de tiques, tremores e estereotipias SITUAÇÃO DA INTERAÇÃO Observar as condições em que a interação ocorreu, local, presença de outras pessoas, intercorrências eventuais. Observar cooperação, oposição, tendência a conduzir a conversa, indiferença e negativismo LINGUAGEM E PENSAMENTO O profissional tem acesso indireto ao pensamento das pessoas – dircurso do mesmo Características da fala – é espontânea ou só ocorre em resposta à estimulação ou não ocorre (mutismo), avaliar se a fala é compreensível PROGRESSÃO DA FALA A quantidade e a velocidade da verbalização da pessoa Linguagem quantitativamente diminuída – fala o mínimo necessário Fluxo lento – são notadas longas pausas entre as palavras e ou latência para iniciar uma resposta Prolixidade – a pessoa fala muito, discorrendo longamente sobre todos os tópicos porem ainda dentro dos limites de uma conversação normal Fluxo acelerado – a pessoa fala, continuadamente, e com velocidade aumentada, o profissional encontra dificuldade ou não consegue interromper o discurso do paciente FORMA DE PENSAMENTO A organização da forma do pensamento, sua continuidade e eficácia em atingir um determinado objetivo Circunstancialidade – o objetivo final de uma determinada fala é longamente adiada pela incorporação de detalhes irrelevantes Tangencialidade – objetivo da fala não chega a ser atingido ou não é claramente definido, a pessoa afasta-se do tema que esta sendo discutido, introduzindo pensamento aparentemente não relacionadas, dificultando uma conclusão; fala de forma tão vaga que pouca informação é transmitida (pobreza do conteúdo do pensamento) Perseveranção – a pessoa repete a mesma resposta a uma variedade de questões, mostrando sua incapacidade de mudar sua respostas a uma mudança de tópico Fuga de ideias – ocorre sempre na presença de uma pensamento acelerado e caracteriza-se pelas associações inapropriadas entre os pensamentos Pensamento incoerente – ocorre uma perda na associaçãologica entre parte da sentença ou entre sentenças (afrouxamento de associações). Numa forma extrema de incoerência, observa-se uma sequência incompreensível de frases ou palavras (salada de palavras) Bloqueio de pensamento – ocorre uma interrupção súbita da fala, no meio da sentença. Quando uma pessoa consegue retomar o discurso, o faz com outro assunto, sem conexão com a ideia anterior ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 Neologismos – a pessoa cria uma palavra nova e ininteligível para outras pessoas, geralmente uma condensação de palavras existentes Ecolalia – repetição de palavras ou frases ditas pelo interlocular, as vezes com a mesma entonação e inflexão de voz CONTEÚDO DO PENSAMENTO Investigam-se os conteúdos emitidos pela pessoa durante o encontro e sua relação com a realidade Tema predominante e/ou com característica peculiares, tais como: Ansioso – preocupações exageradas consigo mesmo, com outros ou com o futuro Depressivos – desamparo, desesperança, ideação suicida, etc Fóbico – medo exagerado ou patológico diante de algum tipo de estímulo ou situação Obsessivos – pensamento recorrentes, invasivos e sem sentido, que a pessoa reconhece como produtos da sua mente e tenta afastá-los da consciência. Podem ser acompanhadas de comportamentos repetitivos, reconhecidos como irracionais, que visam neutralizar algum desconforto ou situação temida (compulsões) LOGICIDADE DO PENSAMENTO O quanto o pensamento pode ser sustentado por dados da realidade da pessoa Ideias supervalorizadas – o conteúdo do pensamento centraliza-se em torno de uma ideia em particular, que assume uma tonalidade afetiva acentuada, é irracional, porém sustentada por menos intensidade que umaideia delirante Delírios – crenças que refletem uma avaliação falsa da realidade, não são compartilhados por outros membros do grupo sociocultural da pessoa e das quais não podem ser dissuadidas através da argumentação contraditória, logica e irrefutável. Podem ser: Primários: quando não estão associados a outros processos psicopatológicos, ex inserção de pensamento (acredita que os pensamento são colocados em sua cabeça), irradiação de pensamento (cre que os próprios pensamento são audíveis ou captados pelos outros) Secundários: quando vinculados a outros processos psicopatológicos (derivados de alucionações, associadas a depressão ou a mania) DELÍRIOS Podem ser descritos pelo grau de organização: Sistematizados - relacionados a um único tema, mantendo uma lógica interna, ainda que baseado em premissas falsas, o que pode conferir maior credibilidade Não sistematizados - quando envolvem vários temas, são mais desorganizados e pouco convincentes Podem ser descritos pelo seu tema predominante: Delírio de referência – atribuição de um significado pessoa a observações ou comentários neutros Persecutório – ideia de que está sendo atacado, incomodado, prejudicado, perseguido ou sendo objetivo de conspiração De grandiosidade – o conteúdo envolve poder, conhecimento ou importância exagerada De culpa – acredita ter cometido uma falta ou um pecado imperdoável De ciúmes – acredita na infidelidade do parceiro De controle – acredita que seus pensamentos, sentimentos e ações são controladas por alguma força externa CAPACIDADE DE ABSTRAÇÃO Reflete a capacidade de formular conceitos e generalizações, a incapacidade de abstração é referida como pensamento concreto. Pode ser observado através de manifestações espontâneas da pessoa (ex: diante da pergunta “como vai?” a pessoa responde “vou de ônibus”) SENSO DE PERCEPÇÃO Avalia se as sensações ou percepções do paciente resultam da estimulação esperada dos correspondentes órgãos do sentido. ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 Através de relatos espontâneos de percepções alteradas Observação de comportamentos sugestivos de percepções, na ausência de estímulos externos (conversar consigo mesmo, rir sem motivo) Formulação de perguntas diretas sobre tais alterações. As principais alterações são: Despersonalização – refere-se a sensação de estranheza, como se seu corpo, ou partes dele não lhe pertencessem ou fossem irreais Desrealização – ambiente ao redor parece estranho e irreal, como se as pessoas ao seu redor estivessem desempenhando papéis Ilusão – interpretação perceptual alterada, resultante de um estímulo externo real Alucinação – percepção sensorial na ausência de estimulação externa do órgão sensorial envolvido, pode ser: → Auditiva – sons ou vozes → Visuais – luzes ou vultos → Táteis – toque, calor, vibração, dor → Olfatórias e gustativas Alucinações que ocorrem no estado de sonolência, que precede o sono (hipnagogicas) e no estado semiconsciente, que precede o despertar (hipnopompicas) são associadas ao sono normal e não são, necessariamente patológicas AFETIVIDADE E HUMOR A avaliação do afeto inclui a expressividade, o controle e a adequação das manifestações de sentimentos, envolvendo a intensidade, a duração, as flutuações do humor. A tonalidade de sentimentos mantido pela pessoa durante o encontro. Para a avaliação desta função considera-se: Conteúdo verbalizado O que se observa ou de deduz do tom de voz, expressão facial, postura corporal O modo como a pessoa exprime os próprios sentimentos Relato de oscilações de humor no curso do dia: Tonalidade emocional – observar a presença e a intensidade de manifestações de ansiedade, pânico, ambivalência, indiferença, opatia, hostilidade, etc Modulação – refere-se ao controle sobre seus afetos Hipomodulação Hipermodulação Associação pensamento/afeto – relação entre conteúdo do pensamento e o afeto manifesto Equivalente orgânicos – avaliados nas alterações de apetite, sono, peso e libido. Risco de auto ou heteroagressividade. Manifestações relativas a autoestima e a energia que investe na realização de projetos pessoais ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO Avaliar a capacidade de focalizar e manter a atenção em uma atividade envolvendo atenção/distração, frente aos estímulos externos ou internos. Quando prejudicado é preciso repetir as perguntas feitas. M anutenção prejudicada – dificuldade de manter a atenção localizada sobre os estímulos mais relevantes do meio, desviando a atenção para os estímulos irrelevantes e exigindo intervenções do profissional para manter a atenção aos estímulos principais Focalização prejudicada – dificuldade de focalizar a atenção sobre os estímulos mais relevantes do meio, não atende as intervenções do profissional Desatenção seletiva – desatenção frente a temas que geram ansiedade MEMÓRIA ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 Avaliada durante a obtenção da história clínica, testes específicos. Avaliação da memória em 3 tipos: Memória remota – avalia a capacidade de recordar-se de eventos passados, ao contar a sua própria história Memória recorrente – avalia a capacidade de recordar-se de eventos que ocorreram nos últimos dias, que precederam a avaliação. Pode perguntar sobre eventos verificáveis nos últimos dias. Memória imediata – avalia a capacidade de recordar-se do que ocorreu nos minutos precedentes À observação de deficiências de memória é importante para alguns diagnósticos diferenciais. Observar como a pessoa lida com o déficit, tem reação catastrófica, nega ou tenta não valorizar o prejuízo da memória, preenche lacunas com recordações falsas ORIENTAÇÃO A avaliação envolve aspectos auto e alo psíquicos Autopsiquica – se caracterizam pelo reconhecimento de si envolvendo: saber o próprio nome, reconhecer pessoas do seu meio imediato Alopsiquica – orientação do tempo, sabendo informar o ano, mês, dia, semana, marcos temporais (natal, carnaval); orientações do espaço, saber informar onde se encontra, nomear o lugar, a cidade e o próprio endereço CONSCIÊNCIA Avaliar o nível de consciência da pessoa – dentro de um continuo que vai desde o estado de: Consciência plena – percebe o que ocorre a sua volta e responde a sua percepção Coma – não responde a estimulação em diferentes graus Alterações de consciência – sonolência, obnubilação da consciência, estupor, delirium, estado crepuscular CAPACIDADE INTELECTUAL Avaliação envolve uma estimativa do nível de desempenho intelectual esperado, em função da escolaridade e do nível sociocultural, enquanto capacidade de compreensão e integração das experiências. Observar vocabulário, sua propriedade e nível de complexidade e a capacidade de articular conceitos, de abstrair e generalizar Prejuízo intelectual – perguntas sobre temas gerais, resolução de problemas aritiméticos, leitura de textos escritos e compreensão dos mesmos Deterioração – atento a presença de uma deterioração global, com prejuízo no funcionamento intelectual JUÍZO CRÍTICO DA REALIDADE Verificar se as ações da pessoa são determinadas por uma avaliação coerente da realidade, do ponto de vista do funcionamento mental e da capacidade adaptativa, incluindo a nível realista dos projetos e da avaliação dos próprios realizações. Alterada – quando as decisões da pessoa são determinadas por delírios ou alucinações INSIGHT Capacidade de ter consciência e entender um problema ou uma doença e ser capaz de reverter suas causas prováveis e chegar a soluções viáveis, caso isso não seja possível Diagnósticos psiquiátricos OBJETIVO 2 - Compreender o transtorno de bipolaridade (Definição, fisiopatologia, quadro clínico, tipos, diagnóstico e tratamento) O Transtorno Bipolar (TB), também conhecido como “transtorno afetivo bipolar” e originalmente chamado de “insanidade maníaco-depressiva”, é uma condição psiquiátrica caracterizada por alterações graves de humor, que envolvem períodos de humor elevado e de depressão (polos opostos da experiência afetiva) intercalados por períodos de remissão, e estão associados a sintomas cognitivos, físicos e comportamentais específicos. ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022O transtorno se diferencia em dois tipos principais: o Tipo I, em que a elevação do humor é grave e persiste (mania), e o Tipo II, em que a elevação do humor é mais branda (hipomania). A utilização do especificador “com características mistas” se aplica aos estados em que há a ocorrência concomitante de sintomas maníacos e depressivos, embora estes sejam vistos como polos opostos do humor. Já o quadro de Transtorno Ciclotímico se caracteriza pela alternância entre períodos hipomaníacos e depressivos ao longo de pelo menos dois anos em adultos (ou um ano em crianças) sem, entretanto, atender os critérios para um episódio de mania, hipomania ou depressão. O DSM 5 inclui ainda a categoria “outro transtorno bipolar e transtorno relacionado especificado” para classificar quadros atípicos, marcados pela ocorrência de sintomas que não preenchem os critérios de duração e frequência mínimos para caracterizar sequer um episódio de hipomania. Quadros semelhantes a esses, além de outros que não se encaixariam adequadamente nas categorias de classificação previstas no DSM, poderiam encontrar lugar dentro da ideia de um espectro bipolar representado por um continuum de condições que interligariam a depressão à esquizofrenia Caracterização da doença O humor elevado ou irritável pode ser classificado como mania ou hipomania, dependendo de sua gravidade e da presença de sintomas psicóticos. Classifica-se como mania o estado severo de humor elevado ou irritabilidade, associado ou não a sintomas psicóticos, que provocam alterações no comportamento e na funcionalidade do indivíduo. A duração do estado de mania deve ser de no mínimo uma semana, estando o humor elevado ou irritabilidade presente na maior parte do dia, quase todos os dias. O critério de duração mínima é dispensável se a hospitalização se fizer necessária. Na hipomania as elevações de humor e os distúrbios comportamentais/funcionais são menos graves e com duração mais breve que o estado de mania (quatro dias consecutivos), o que geralmente não coloca a pessoa perante atenção médica. No entanto, a hipomania pode progredir para a mania. Cabe destacar que a presença de sintomas psicóticos é sempre indicativa de quadro grave ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 No polo oposto, os quadros de depressão do TB, também chamados de Episódio Depressivo Maior, são caracterizados pelo humor deprimido ou perda de interesse/prazer por quase todas as atividades durante pelo menos duas semanas. Além disso, o indivíduo pode apresentar perturbações nas funções vegetativas, incluindo: alterações no apetite ou peso, no padrão de sono e atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimento de culpa e/ou desvalia; dificuldade para pensar ou concentrar-se ou tomar decisões; pensamentos recorrentes sobre a morte, ideação, planos ou mesmo tentativas suicidas. O especificador “com características mistas” se aplica a situações em que ocorrem durante a vigência de um episódio maníaco, hipomaníaco ou depressivo pelo menos três ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA O TB é um transtorno complexo e multideterminado, causado pela interação de fatores genéticos e ambientais. Estudos com gêmeos indicaram que os transtornos do espectro bipolar são hereditários, com incidência superior a 80% em gêmeos idênticos, caindo para 6% em parentes de primeiro grau. O surgimento e a evolução do TB são possivelmente influenciados pelo trauma precoce, por eventos aversivos significativos da vida e pelo uso indevido de álcool e drogas. O aparecimento da doença pode ser particularmente influenciado pelo estresse sofrido no final da adolescência, mas os primeiros episódios de mania podem se manifestar ao longo de toda a vida. Foi demonstrado que o risco de desenvolver TB-II é maior entre familiares de pessoas com a doença. Em contraste, o desenvolvimento do TB-I e do Transtorno Depressivo Maior tende a ter menos relação com a genética. Os fatores genéticos podem ainda influenciar a idade de início do Transtorno Bipolar *Serotonina: Controle de impulsos, a agressividade e a tendência suicida. Uma deficiência na sua neurotransmissão pode levar a estados tanto maníacos quanto depressivos, uma vez que a diminuição na liberação e atividade da serotonina pode levar à ideação suicida, bem como à tentativa e, muitas vezes, ao próprio suicídio. *Dopamina: A grande atividade dopaminérgica induzida pelo aumento da liberação de dopamina, a redução da capacidade da vesícula sináptica ou a elevada sensibilidade do receptor dopaminérgico estão associados aos sintomas maníacos, e a redução na atividade dopaminérgica está relacionada com a depressão. *Noradrenalina: uma menor sensibilidade dos receptores noradrenérgicos ocasiona o estado de depressão. Porém, o aumento na atividade noradrenérgica pode resultar em um estado de mania. *GABA: a disfunção desse neurotransmissor pode levar a estados maníacos e depressivos, visto que, em pacientes bipolares, os níveis plasmáticos de GABA estão diminuídos. *Glutamato: O sistema glutamatérgico apresenta-se associado com o transtorno bipolar, uma vez que estudos demonstram a ação de estabilizadores de humor na sua ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 neurotransmissão. *Proteína G: No sistema nervoso central, existem receptores que são modulados pela proteína G, incluindo receptores noradrenérgicos, serotoninérgicos, dopaminérgicos, colinérgicos, histaminérgicos, dentre outros. O efeito da proteína G pode ser estimulado ou inibido. Logo, quando a proteína é estimulada, ela se classifica em proteína Gs e, quando é inibida, ela se classifica em proteína Gi. Estudos demonstram que na desordem bipolar ocorre um aumento nos níveis de proteÌna Gs, que, quando ativada, modula o fluxo iônico por meio da regulação da atividade do canal iônico. Outra função da proteína G é regular a enzima adenilato ciclase, que catalisa a formação de AMPc. O AMPc é um importante segundo mensageiro, cuja função é ativar a proteína quinase A (PKA), a qual regula os canais iônicos e fatores de transcrição. Estudos mostraram que em pacientes bipolares ocorre um aumento na atividade da adenilato ciclase, AMPc e PKA, um aumento que pode estar associado a disfunções da proteína G. Quando a proteína G é ativada, o sistema de neurotransmissão utiliza a via do fosfoinositol, pois nela a proteína G estimula a fosfolipase C, que hidrolisa fosfolipídios da membrana, formando fosfoinositol (PIP2 ) que leva à formação de dois importantes segundos mensageiros, o diacilglicerol (DAG) e o inositol trifosfato (IP3 ). O IP3 tem receptor específico situado no retículo endoplasmático liso, que ativa a liberação de cálcio estocado. O DAG tem a função de ativar a proteína kinase C, envolvida com processos celulares que incluem secreções, expressão gênica, modulação da conduta iônica, proliferação celular entre outras. Diante disso, estudos relatam que, na desordem bipolar, ocorrem alterações no caminho fosfoinositol. *Estudos mostram que a diminuição no metabolismo energético cerebral parece estar associada com o transtorno bipolar, bem como as doenças de Alzheimer, Parkinson, Huntington e isquemia cerebral, pois a redução na produção de energia no cérebro pode comprometer a síntese de neurotransmissores e lipídios, e a deficiência no funcionamento normal da cadeia respiratória mitocondrial pode levar a uma rápida queda na produção de energia e morte celular QUADRO CLÍNICO → Mania e Hipomania: Alegria ou raiva exagerada, grandiosidade, aceleração de pensamento, aumento de comportamentos de risco, etc. Depressão: Tristeza, anedonia, culpa, pensamentos de morte, dificuldades de concentração, etc. Misto: Um pouco dos dois polos. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Para Mania - 7 dias de humor elevado (3 critérios ) ou disfórico (4 critérios) associado a: Grandiosiade ou autoestima elevada; Redução da necessidade de sono; Fala acelerada ou pressão pra falar; Pensamento acelerado ou fuga de ideias; Distratibilidade; Aumento de atividade ou agitação psicomotora; Envolvimento em atividades com risco; Hipomania: É um quadro mais leve, com menos sintomase sintomas mais leves, menos impacto funcional, nunca teve sintomas psicóticos e é mais curto (pelo menos 4 dias). Depressão – 15 dias ou mais de, pelo menos 5 critérios: Tristeza; Anedonia; Alterações de sono; Alterações de apetite ; Pensamentos de morte; Alteração de psicomotricidade; Alterações de atenção e cognição; Culpa ou desesperança; Fadiga ou falta de energia; DIAGNÓSTICO O DSM5 inclui os seguintes diagnósticos: transtorno bipolar tipo I, transtorno bipolar tipo II, transtorno ciclotímico, transtorno bipolar e transtorno relacionado induzido por substância/medicamento, transtorno bipolar e transtorno relacionado devido a outra condição médica, outro transtorno bipolar e transtorno relacionado especificado, e transtorno bipolar e transtorno relacionado não especificado ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 Curso da doença O curso clínico do TB pode variar bastante. Embora o TB possa começar ao longo do ciclo de vida, estudos apontam que os sintomas da doença surgem mais cedo do que no Transtorno Depressivo Maior. A idade média do primeiro episódio do TB-I é 18 anos, enquanto no TB-II o início dos sintomas ocorre em torno dos 25 anos de idade. O aparecimento dos primeiros sintomas maníacos (ex.: desinibição sexual ou social) no fim da idade adulta ou na terceira idade pode indicar a existência de outras condições médicas, tal como quadros de demência fronto-temporal, ou de ingestão/abstinência de substância e devem ser investigados. Apesar da caracterização do TB ser baseada em sintomas de mania ou hipomania, a depressão é geralmente o quadro mais comum e persistente entre os pacientes com TB, e também a principal causa de incapacitação. Particularmente no TB-II, é comum os indivíduos apresentarem inúmeros episódios de Depressão Maior antes da ocorrência do primeiro episódio de hipomania. Esses casos ilustram a dificuldade de diagnosticar o TB-II, e 12% dos pacientes com diagnóstico inicial de Transtorno Depressivo Maior são reclassificados como tendo TBII após a identificação de um episódio hipomaníaco. Frequentemente, a ocorrência de um episódio maníaco precede de maneira imediata um episódio de Depressão Maior (60% dos casos). Em contraste, a mudança de um episódio depressivo para um episódio de Mania ou Hipomania pode ocorrer de maneira espontânea ou durante o tratamento dos sintomas depressivos. Além disso, a recorrência de episódios de humor é comum em cerca de 90% dos indivíduos que tiveram um único episódio de mania, e em cinco anos, 70 dos pacientes recaem. A caracterização da ocorrência de múltiplos episódios de humor (quatro ou mais) ao longo de um ano é realizada através do especificador “com ciclagem rápida”, esse é o caso de 5 a 15% dos pacientes com TB-II. A propensão de desenvolver sintomas ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 hipomaníacos é maior em pacientes com TB-I se comparados aos pacientes com TB-II. Por outro lado, pacientes com TB-II tendem a ter uma quantidade maior de episódios de humor (de depressão maior ou hipomania) em comparação a pacientes com TB-I e Transtorno Depressivo Maior. No entanto, no curso de um TB-II, o intervalo entre episódios de humor tende a diminuir com o envelhecimento. Nos pacientes com TB-II, os episódios depressivos são mais duradouros e incapacitantes ao longo do tempo. Apesar disso, a ocorrência de sintomas psicóticos nesses pacientes durante os episódios depressivos maiores é menos frequente do que no TB-I. Entre 5 e 15% dos pacientes com TB-II desenvolvem um Episódio de Mania e têm o diagnóstico alterado para TB-I. DEPRESSÃO UNIPOLAR vs. DEPRESSÃO BIPOLAR A distinção entre depressão unipolar e depressão relacionada ao TB é fundamental para a definição do tratamento e para o prognóstico. No entanto, cabe notar que elas não podem ser seguramente distinguidas uma da outra com base apenas nos sintomas. Uma revisão abrangente de estudos que comparam a depressão unipolar e bipolar apontou que, embora não existam sintomas específicos que distinguem a depressão nos dois transtornos, é provável que existam características clínicas (perfil dos sintomas, história familiar, e curso da doença) típicas em cada manifestação. Enquanto cerca de metade dos pacientes com TB apresentam no início da doença um episódio de mania, a outra metade apresenta sintomas de depressão, podendo ser erroneamente diagnosticados como depressivos “unipolares”. Por esse motivo, um grande número de pacientes com TB é tratado exclusivamente com antidepressivos e tem seu quadro agravado em função do tratamento. Cabe notar ainda que muitas pessoas podem apresentar vários episódios depressivos antes que ocorra o primeiro episódio subsequente de mania ou hipomania. Alguns fatores podem indicar que um paciente em primeiro episódio depressivo pode estar na verdade apresentando TB. Uma vez que o TB é uma doença com carga genética forte, considerar a história familiar do paciente pode ser um indicativo com 56% de sensibilidade e 98% de especificidade. A idade de início do episódio depressivo também pode ser sugestiva do TB. Em um estudo de seguimento durante 15 anos, 46% das pacientes jovens que foram hospitalizadas com depressão unipolar apresentaram pelo menos um episódio de hipomania ou mania no período. Outros fatores que podem indicar um TB incluem o início no pós-parto, a presença de sintomas psicóticos durante o episódio depressivo e a ocorrência de depressão transgeracional ou em muitas pessoas da mesma família. Considerar o espectro bipolar parece ser um ponto chave para distinguir pacientes depressivos unipolares de bipolares na prática clínica. Nesse sentido, o conceito de espectro bipolar chama a atenção para a história familiar de TB em parentes de primeiro grau, personalidade hipertímica, episódio depressivos recorrentes e breves, depressão de subtipo atípica com sintomas psicóticos e de início antes dos 25 anos, e tolerância/resistência a antidepressivos. → Diferenciar através da anamnese e levar em consideração se não houve episódios de hipomania ou mania anteriormente. Se sim, trata -se de uma depressão bipolar. → A Depressão Bipolar apresenta início mais precoce, episódios m is frequentes, inícios mais abruptos, mais sintomas psicóticos, maior risc o d e suicídio, mais retardamento p sicomotor, mais sintomas atípicos (depressão agitada) e história familiar positiva TB. → O transtorno bipolar tem alta he rdabilidade e grande influência genética, distribuição igual entr e os se xos, maior risco de suicídio e início mais precoce q ue depressão (20 anos). O diagnóstico é clínico e sempre excluir outras causas de alteração de comportamento, especialmente se o paciente estiver psicótico. ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 TRATAMENTO TRATAMENTO OBJETIVOS DO TRATAMENTO 1. Retirar da crise 2. Prevenir novos episódios 3. Estabelecer bom vínculo 4. Psicoeducação INDICAÇÃO DE INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA • Risco de suicídio ou homicídio • Risco de auto ou heteroagressividade • Falta de crítica e não adesão ao tratamento • Comportamento francamente desorganizado ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 • Falta de suporte social AVALIAÇÃO INICIAL → LABORATÓRIO • Hemograma • Eletrólitos • Uréia e creatinina • Função hepática • Glicemia de jejum • Lipidograma • Teste de gravidez: Se necessário. • TSH, T4 e anti-TPO: Para fazer lítio. TRATAMENTO DA MANIA MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS • Excluir causas orgânicas • Descontinuar imediatamente os antidepressivos • Desencorajar o uso de estimulantes: Cafeína, álcool, nicotina. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA MANIA • Primeira-linha: Lítio, quetiapina e ácido valpróico são as principais medicações. (Quetiapina não tem no SUS, as outras duas tem). • Terapia de combinação: Resposta mais rápida, mas efeitos colaterais mais protuberantes. o Quetiapina + Lítio o Aripiprazol + Lítio • Segunda-linha: Olanzapina, Carbamazepina, Olanzapina + Lítio. Causam alteração metabólica! TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA DEPRESSÃO • Primeira linha: Quetiapina, lítio e lamotrigina. • Segunda linha: Divalproex (ácido valpróico)é o principal! • Não prescrever antidepressivos em monoterapia! OBJETIVO 3 - Entender o transtorno depressivo (Definição, fisiopatologia, quadro clínico, tipos (DSM-5), diagnóstico e tratamento) É uma doença psiquiátrica crônica e recorrente que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite TIPOS − Episódio de depressão e transtorno depressivo maior recorrente (CID -11 e DSM-5): No episódio depressivo, evidentes sintomas depressivos (humor deprimido, anedonia, fatigabilidade, diminuição da concentração e da autoestima, ideias de culpa e de inutilidade, distúrbios do sono e do apetite) devem estar presentes por pelo menos duas semanas e não mais que dois anos de forma ininterrupta. Os episódios na comunidade podem ser curtos (cerca de 50% duram menos do que três meses) o u longos. Cerca de 15 a 26% das pessoas com depressão maior apresentam um curso crônico de depressão, com duração de mais d e dois anos (Rubio et al., 2011) − Transtorno depressivo persistente e transtorno distímico (CID- 11 e DSM-5): Um grupo de pacientes desenvolve a forma crônica de depressão, muito duradoura (pelo menos dois anos ininterruptos), que pode ser de intensidade leve (distimia) ou de moderada a grave. Ela começa geralmente na adolescência ou no início da vida adulta e persiste por vários anos. Os sintomas depressivos mais importantes são, em primeiro lugar, o humor deprimido, triste, na maior ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 parte do dia, na maioria dos dias. Além disso, o paciente deve ter pelo menos dois dos seguintes sintomas: diminuição da autoestima, fatigabilidade aumentada ou falta de energia, insônia ou hipersonia, apetite diminuído ou aumentado, dificuldade em tomar decisões ou em se concentrar e sentimentos de desesperança. Também são comuns na distimia o mau humor crônico e a irritabilidade. Em adultos, os sintomas devem estar presentes de forma ininterrupta por, pelo menos, dois anos e, em crianças e adolescentes, por pelo menos um ano (nesse grupo, o humor básico pode ser a irritabilidade em vez do humor triste) − Depressão atípica (DSM-5): Trata-se de um subtipo de depressão que pode ocorrer em episódios depressivos de intensidade leve a grave, em transtorno unipolar ou bipolar. Além de reatividade do humor aumentada (melhora rapidamente com eventos positivos e piora rapidamente com eventos negativos), o indivíduo deve apresentar dois ou mais dos seguintes sintomas: ganho de peso ou aumento do apetite (principalmente para doces); aumento do sono (hipersonia, geralmente mais do que 10 horas por dia ou 2 horas a mais que quando não deprimido); sensação de corpo, braços ou pernas muito pesados (paralisia “de chumbo”); a pessoa se sente, de modo geral, “pesada”, com uma sobrecarga sobre os ombros; sensibilidade exacerbada à rejeição interpessoal, às vezes a indicativos mínimos e subjetivos de possível rejeição, podendo se manter mesmo quando a pessoa não esteja n o episódio depressivo. − Depressão tipo melancólica ou endógena (CID-11 e DSM-5): Trata-se de u m subtipo no qual predominam o s sintomas classicamente endógenos. Nesse caso, a pessoa deve apresentar: 1) perda de prazer ou incapacidade de sentir prazer (anedonia) em todas ou quase todas as atividades ou 2) falta de reatividade a estímulos em geral prazerosos. Além de um desses dois sintomas, deve apresentar pelo menos três dos seguintes sintomas: humor depressivo característico com prostração profunda, desespero, hiporreatividade geral; lentificação psicomotora, demora em responder às perguntas (aumento da latência entre perguntas e resposta s) o u agitação psicomotora; ideias ou sentimento d e culpa excessivos e/ou inadequados; perda do apetite e /ou de peso corporal; depressão pior pela manhã, que pode melhorar um pouco ao longo do dia. Na depressão melancólica ou endógena, também se pode constatar a chamada tristeza vital, que é uma tristeza diferente, um peso , uma agonia “ sentida no corpo” (qualitativamente diferente da tristeza normal). Pode ser observado também um padrão de sono característico em que o indivíduo tende a apresentar a chamada insônia terminal (acorda de madrugada, às 3h ou 4h, e não consegue mais dormir) (Del Porto, 2000). A depressão melancólica é considerada como d e natureza mais neurobiológica, mais independente de fatores psicológicos em comparação com os outros tipos d e depressão (embora toda depressão maior tenha um significativo componente neurobiológico). − Depressão psicótica (CID-1 1 e DSM-5): Trata-se d e depressão muito grave, na qual ocorrem, associados aos sintomas depressivos, um ou mais sintomas psicóticos, como delírio e/ou alucinação. Nesse caso, os mais frequentes são sintomas como delírio de ruína ou culpa, delírio hipocondríaco ou de negação de órgãos ou alucinações com conteúdos depressivos, com vozes que dizem “você não presta”, “você vai morrer na miséria” ou "seus filhos vão passar fome”. As alucinações também podem ter o conteúdo de "punição merecida” (“vou morrer, vou sofrer, pois mereço isso”). Se os sintomas psicóticos são de conteúdo negativo, depressivo, classificam-se como sintomas psicóticos humor congruentes (de culpa, doença, morte, negação de órgãos, punição merecida, entre outros). Caso contrário, são denominados sintomas psicóticos humor -incongruentes (delírio de perseguição, de inserção de pensamentos, autorreferente, entre outros − Estupor depressivo ou depressão catatônica (DSM -5): Trata-se de estado depressivo muito grave, no qual o paciente permanece dias na cama ou sentado, em estado de catalepsia (imóvel; em geral rígido), com negativismo que se exprime pela ausência de respostas às solicitações ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 ambientais, geralmente e m estado de mutismo (não fala com as pessoas, apesar de estar consciente e não ter afasia), recusando alimentação, às vezes urinando no leito. O indivíduo pode, nesse estado, desidratar e vir a falecer por complicações clínicas (pneumonia, insuficiência pré -renal, desequilíbrios hidroeletrolíticos, sepse, entre outras). − Depressão ansiosa ou com sintomas ansiosos proeminentes (CID -11 e DSM5) e transtorno misto de depressão e ansiedade (CID-11): A ansiedade é, de modo geral, um componente frequente e importante nos quadros depressivos. O DSM-5 e a CID -11 propõem que se distinga uma forma de depressão, geralmente moderada ou grave, com marcante componente de ansiedade, tensão e inquietação psicomotora, chamada depressão ansiosa ou depressão agitada. O paciente se queixa de angústia ou ansiedade acentuada associada aos sintomas depressivos; sente-se nervoso, tenso, não para quieto; apresenta-se insone; irritado; anda de um lado para outro, desesperado. Pode ter, ainda, dificuldade para se concentrar devido a muitas preocupações; tem medo de que algo horrível possa ou irá acontecer. Também pode ter o sentimento de perda do controle de si mesmo. Na depress ão ansiosa, há risco ainda maior de suicídio. A depressão ansiosa grave é, muitas vezes, difícil de diferenciar de um episódio misto do transtorno bipolar (TB). Já a CID-11 propõe o transtorno misto de depressão e ansiedade, no qual há sintomas, geralmente leves, de ambas as condições na maioria dos dias , por pelo menos duas semanas. A diferença em relação a o DSM -5 é que, na CID- 11, nesse transtorno misto não pode haver sintomas suficientemente graves e numerosos para justificar o diagnóstico de episódio depressivo, distimia ou transtorno de ansiedade (como ansiedade generalizada ou pânico). Assim, essa categoria estaria reservada para ser mais utilizada na atenção primária (nas UBSs), onde os quadros de humor são, de modo geral, leves ou moderados, e uma mistura de sintomas depressivos e ansiosos leves é muito frequente. − Depressão unipolar ou depressão bipolar: Ao se diagnosticar um quadro depressivo que ocorre pela primeira vez na vida, os profissionais, os pacientes,seus familiares e amigos podem se perguntar se esse episódio está abrindo um possível transtorno depressivo recorrente (o que é frequente, e a depressão , então, é denominada “unipolar” ) ou se é o início de um TB, com episódios futuros de mania ou hipomania (então a depressão é denominada "bipolar"). Essa não é uma questão trivial e sem maiores implicações. Por exemplo, o ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 tratamento com antidepressivos pode frequentemente desencadear uma fase de mania quando é empregado em depressões bipolares, a fase de mania podendo ter consequências muito graves na vida da pessoa. Há muitos anos, os pesquisadores têm buscado verificar se algum ou alguns aspectos no episódio depressivo revelam se o caso se trata de depressão unipolar ou bipolar. FISIOPATOLOGIA HIPÓTESE MONOAMINÉRGICA DA DEPRESSÃO (a) No cérebro de pessoas sadias, os neurotransmissores monoaminérgicos (5-HT, NA e dopamina-amarelo) são liberados e se ligam em receptores encontrados em neurônios pós-sinápticos. Estes neurotransmissores podem ser recaptados por transportadores específicos (rosa) em neurônios pré-sinápticos ou degradados pela enzima monoaminaoxidase. (b) Pacientes depressivos apresentam diminuições nos níveis sinápticos de monoaminas. (c) O bloqueio de transportadores de monoaminas pelo tratamento com antidepressivos aumenta as concentrações e biodisponibilidade de monoaminas na fenda sináptica, reestabelecendo o humor de pacientes depressivos → Essa hipótese porém, não explica o surgimento do efeito clínico dos antidepressivos somente algumas semanas depois do início de seu uso, assim foi proposta uma nova hipótese para tentar explicar essa latência, denominada, hipótese da regulação pós-sináptica, que propõe que o atraso no surgimento dos efeitos dos antidepressivos, se deve a alterações no número e sensibilidade dos receptores monoaminérgicos. → até recentemente eram o CENTRO das teorias da etiologia dos transtornos, definindo que a depressão era uma CONSEQUÊNCIA DIRETA da menor concentração de aminas biogênicas cerebrais, especialmente serotonina, noradrenalina e dopamina – até hoje não se sabe ao certo qual a deficiência neurobiológica que afeta os transtornos de humor, mas sabe -se a influência de diversos neurotransmissores aminogênicos → os antidepressivos visam POR DOIS CAMINHOS aumentar a disponibilidade desses neurotransmissores na fenda sináptica, tanto pela inibição da recaptação como pela inibição da degradação / de uma forma geral, as monoaminas interagem com SEGUNDOS MENSAGEIROS na membrana pós-sináptica / essa hipótese é muito COMPLEXA, uma vez que não envolve somente a presença de NEUROTRANSMISSORES NA FENDA, mas também do NÚMERO DE RECEPTORES e sua POTÊNCIA DE AÇÃO → geralmente a depressão é decorrente do aumento de RECEPTORES MONOAMINÉRG ICOS na membrana pós-sináptica • Medicamentos que causam DEPRESSÃO SECUNDÁRIA podem estar relacionados com a teoria monoaminérgica → RESERPINA, um inibidor do transporte ativo de noradrenalina e serotonina (os neurotransmissores ficam no citoplasma e são degradados pela MAO) , é usado na hipertensão – ISONIAZIDA, inibe a monoaminoxidase, usada no tratamento de TUBERCULOSE, servindo como protótipo para as IMAO • Serotonina – as vias serotonérgicas podem exercer função INIBITÓRIA ou FACILITADORA, refletindo em diversos comportamentos possíveis - a serotonina, em conjunto com noradrenalina e a dopamina, modula um comportamento em situações específicas de ESTRESSE AGUDO, não relacionada ao estresse crônico → em pcts depressivos, há uma correlação com a DIMINUIÇÃO DE RESPONSIVIDADE SEROTONÉRGICA por diminuição do seu metabólito 5-HIAA no LCR e inúmeros marcadores de serotonina (densidade de transportador, receptor pós-sinaptico) • Noradrenalina - importante na teoria monoaminégica se levar em consideração as PROJEÇÕES NORADRENÉRGICAS PARA AMÍGDALA E HIPOCAMPO, que influenciam na memória emocional e na sensibilização comportamental ao estresse ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 → os corpos celulares dos neurônios noradrenérgicos estão no LOCUS CERULEUS no TE, projetando-se para o sistema límbico – assim, a depressão pode estar associada com a capacidade de iniciar e manter a ativação límbica • Dopamina – as associações entre ANEDONIA e disfunção do SISTEMA DE RECOMPENSA são decorrentes de uma diminuição dopaminérgica → além disso, medicamentos que reduzem o tônus dopaminérgico podem induzir depressão – doenças com perda dopaminérgica (Parkinso n e Coréia de Huntington) apresentam depressão como comorbidade/neurônios dopaminérgicos da área tegmental ventral projetam-se para o córtex orbitofrontal, corpo estriado e giro do cíngulo anterior • O factor neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) é uma proteína dimérica, membro da família das neurotrofinas. Este influencia o desenvolvimento do SNC durante a vida embrionária e está envolvido no crescimento, diferenciação, plasticidade e apoptose dos neurónios no adulto, participando assim na integridade neuronal ao longo da vida. Encontra-se presente no SNC, constituindo a principal neurotrofina do hipocampo, e no sistema nervoso periférico (SNP), armazenado em plaquetas. O BDNF pode-se ligar a 2 tipos de receptores: o receptor acoplado à cínase B da tirosina (TRkB) e o receptor p75 das neurotrofinas (p75RNT). Ao interagir com o primeiro, o BDNF promove sobrevivência celular e long-term potentiation. Por sua vez, o seu precursor (pró-BDNF), ao interagir com o receptor p75 das neurotrofinas, reduz as sinapses (origina diminuição das espinhas dendríticas) e pode inibir a apoptose. O BDNF também inibe redes neuronais ao regular as vias de transmissão de neurotransmissores (glutamato, GABA, 5-HT, noradrenalina, acetilcolina, dopamina, hormonas). A hipótese neurotrófica constitui uma das principais teorias para a neurobiologia da depressão, e associa a diminuição da expressão de BDNF e atrofia de estruturas límbicas com a depressão, e por sua vez o aumento plasmático desta neurotrofina com o efeito antidepressivo,acreditando que tais mecanismos estão dependentes da neurogénese. Segundo esta hipótese, o stresse e a predisposição genética ao regularem a expressão de factores de crescimento e receptores celulares, vão ser responsáveis pela elevação dos glicocorticóides e pela alteração da plasticidade neuronal. Esta redução de factores de crescimento (como o BDNF) induz atrofia celular no hipocampo e em outras estruturas do sistema límbico. A remissão desta atrofia está dependente do restabelecimento dos níveis de BDNF. Existem estudos que revelam a diminuição da concentração plasmática de BDNF em indivíduos deprimidos e o aumento destes valores no hipocampo de ratinhos com a administração de antidepressivos. Sabe-se que a neurogénese do hipocampo é diminuída pelo stresse e aumentada por tratamento antidepressivo. Apesar de tais achados, não há evidência suficiente para dizer que há uma relação directa entre a redução de BDNF, a neurogénese e os sintomas associados à depressão, ou se a diminuição destes valores é apenas uma consequência do stresse. Estudos imagiológicos revelam atrofia do hipocampo, córtex pré-frontal e amígdala em indivíduos deprimidos. Ainda não está muito bem esclarecido em que sub-regiões do hipocampo é que a expressão de BDNF vai ter tradução na depressão, embora se saiba que a circunvolução denteada dorsal (dDG) parece ser a mais afectada e o subículo ventral (vSUB) esteja envolvido no sintoma anedonia. QUADRO CLÍNICO − Anedonia − Alteração de peso − Distúrbios do sono − Agitação ou apatia psicomotora − Fadiga e perda de energia constante − Culpa excessiva − Dificuldade de concentração − Ideias suicidas − Baixa autoestima − Alteração da libido DIAGNÓSTICO Critérios Diagnósticos: A – Cinco (ou mais) dos sintomas presentes quase todos os dias, durante o período mínimo de 2 semanas (pelo menos um dos sintomas é humor deprimido ou perda do interesse ou prazer): 1- Humor deprimido na maior parte do dia 2- Interesse ou prazer acentuadamente diminuído (anedonia) 3- Diminuição ou aumento do apetiteou de peso 4- Insônia ou hipersonia 5- Agitação ou ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 retardo psicomotor 6- Fadiga ou perda de energia 7- Sentimento de inutilidade ou culpa 8- Diminuição da concentração 9- Pensamentos de morte OBS: Depressões típicas – redução do apetite e de peso; Depressões atípicas – aumento de apetite e de peso (mais ansiosa); Ansiedade – Insônia inicial, dificuldade para começar a dormir, ou quando dorme fica acordando; Depressão – Insônia terminal, acordar mais cedo do que o esperado e normalmente não consegue voltar a dormir – mais comum nas depressões típicas; A pessoa se sente pesada. B – Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional; C – Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma condição médica geral; Excluir causa clínica. D – O episódio não é mais bem explicado por transtorno psicótico; E – Nunca houve um episódio de mania ou hipomania. OBS: Depressão bipolar – O indivíduo tem depressão e já teve um episódio de mania. Nesse caso, deve-se evitar um antidepressivo – Usa estabilizador de humor. ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 TRATAMENTO O tratamento da depressão geralmente inclui medicamentos(antidepressivos), psicoterapia ou uma combinação dos dois,dependendo da gravidade do quadro apresentado. Nos episódios leves a moderados, a psicoterapia por si só se mostra suficiente, mas nos quadros mais graves a medicação é indispensável.A adequada intervenção farmacológica dobra as chances do paciente se recuperar e a escolha dos antidepressivos é direcionada pelo perfil e necessidade do paciente,considerando seus aspectos físicos, psicológicos e sociais. Depressão leve: Medidas não farmacológicas (psicoterapia e mudanças no estilo de vida). Depressão moderada: Terapia ou medicação, se não responder: terapia + medicação. Depressão grave: começa com medicação de primeira linha + terapia. Medidas não farmacológicas: Exercício físico, melhorar o sono, diminuir o estresse, melhorar a alimentação, melhorar as relações sociais, meditação e mudanças no estilo de vida, práticas integrativas e alternativas: acupuntura. A psicoterapia é uma oportunidade de expressar e discutir sentimentos com um terapeuta, de maneira individual ou em grupo. O objetivo é trabalhar a resolução de questões de vida que possam estar relacionadas com a gênese da depressão, promovendo o desenvolvimento de atitudes mais positivas e formas de lidar com as situações. Dependendo do indivíduo, a psicoterapia pode ser útil por si só; em outros casos, a combinação com medicamentos aumenta as taxas de resposta. Objetivos da psicoterapia: depende de cada pessoa. - Resolver questões internas, - Traumas passados - Trabalhar resiliência e resistência - Entender cognições e comportamentos errados, entre outros. - Medicamentoso: Melhora inicial nas primeiras semanas: Deve-se reduzir 25% dos sintomas. Resposta parcial: 25 a 50% de melhora. Resposta: 50% de diminuição dos sintomas. REMISSÃO: recuperação funcional. Deve-se pensar mais na remissão do que na resposta. Porque sintomas residuais aumentam o risco de cronificação, recaídas, perdas funcionais e não recuperação total. Fases do tratamento: 1) Fase aguda: 3 a 4 meses para tirar o paciente da crise. 2) Fase de continuação ou prevenção de recaída: 6 a 9 meses. ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 3) Fase de manutenção ou prevenção de recorrência: 9 a 12 meses em diante. Diretrizes gerais: - Iniciar tratamento medicamentoso com as medicações de primeira escolha. - Iniciar com a dose mínima ou até a subdose para melhorar a tolerância e fazer aumentos graduais. - Todos possuem período de latência para iniciar a sua ação, mas alguma resposta em 15 dias é esperada, isso é preditor de melhor resposta. - Esperar de 2 a 4 semanas em cada dose para avaliar a resposta. - Aumentar, sempre que tiver resposta parcial, até a dose suficiente: dose máxima ou dose tolerada. Tempo suficiente seria: 8 a 12 semanas ou 4 a 8 semanas após atingir a dose máxima. Medicamentos de primeira linha: ISRS, IRSN, ADT, Outros ou atípicos: mirtazapina, bupropiona, agomelatina, trazodona, maprotilina, reboxetina. GUIDELINE DEPRESSÃO: Iniciar com um ISRS. Resposta parcial após 4 semanas → ajustar a dose. Caso o paciente não obtenha resposta ou resposta parcial após “Tempo suficiente em dose suficiente”. →Trocar por outro ISRS → Trocar por outra categoria (Quando o paciente não tem resposta) → Potencialização (Lítio, T3 ou APA) → Associação de outros antidepressivos (Quando o paciente possui resposta parcial) Outras terapêuticas: - Estimulação do Nervo Vago (ENV): Implantação de dispositivo semelhante a marca passo cardíaco, promove a estimulação do nervo vago, o qual estimula o sistema entérico a liberar peptídeos que agem como neurotransmissores. - Estimulação Magnética Transcraniana (EMT): estimulação de neurônios e a consequente liberação de neurotransmissores. Fototerapia: Indicada para transtorno afetivo sazonal. ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 PROBLEMA 2 - TOC E TEA 1. Conhecer o TOC ● OBSESSÃO: pensamento, sentimento, ideia ou sensação recorrentes ou intrusivos. É um evento mental. A pessoa tenta evitar. ● COMPULSÃO: comportamento consciente, padronizado e recorrente ● Representado por um grupo diverso de sintomas que incluem pensamentos intrusivos, rituais, preocupações e compulsões. As obsessões e compulsões consomem tempo e causam prejuízo funcional. Podem ter uma obsessão, uma compulsão ou ambos. Obsessão é um pensamento, sentimento, ideia, trata-se de um evento mental, já a compulsão é um comportamento consciente, padronizado e recorrente. Percebe a irracionalidade da obsessão e sente que tanto ela quanto a compulsão são egodistônicas (indesejadas). Apesar de realizado em uma tentativa de reduzir a ansiedade associada com a obsessão, o ato compulsivo nem sempre têm sucesso nisso e pode até aumentar sua intensidade. EPIDEMIOLOGIA ● Prevalência vitalícia estimada em 2 a 3%. ● Em até 10% dos pacientes ambulatoriais de clínicas psiquiátricas. ● Quarto diagnóstico psiquiátrico mais comum depois da fobia, de transtornos relacionados a substâncias e do transtorno depressivo maior. ● Entre adultos, H:M, mas, entre adolescentes, os H>M. ● Idade média de início: 20 anos, homens apresentam uma idade menor (19 anos) do que as mulheres (22 anos ). ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 ● 2/ 3 dos afetados têm início antes dos 25 anos, e os sintomas de menos de 15% têm início após os 35 anos. ● Mais em solteiros e brancos. COMORBIDADES ● Pessoas com TOC são comumente afetadas por outros transtornos clínicos. A prevalência de transtorno depressivo maior é de cerca de 67%, e, de fobia social, de 25%. Outros diagnósticos incluem transtornos por uso de álcool, transtorno de ansiedade generalizada, fobia específica, transtorno de pânico, transtornos alimentares e da personalidade. Transtorno de Tourette é de 5 a 7%, e de 20 a 30% dos pacientes com TOC têm história de tiques. ETIOLOGIA ● Neurotransmissores: → SE: ainda não está claro se a serotonina está envolvida no TOC. Em um estudo focado no sistema serotonérgico, a concentração de 5-HIAA no LCS diminuiu após tratamento com clomipramina. → NE: menos evidências para a disfunção do sistema noradrenérgico no TOC. Relatos informais demonstram melhoras em sintomas de TOC com o uso de clonidina oral (Catapres), um fármaco que reduz a quantidade de norepinefrina liberada dos terminais nervosos pré-sinápticos. ● Neuroimunologia: Infecção estreptocócica de grupo Aβ-hemolítico pode causar febre reumática, e aproximadamente 10 a 30% dos pacientes desenvolvem coreia de Sydenham e exibem sintomas obsessivo-compulsivos. ● Estudos de tomografia cerebral: funções alteradas no circuito neural entre o córtex orbitofrontal, o caudado e o tálamo. Atividade aumentada (p. ex., metabolismo e fluxo sanguíneo) nos lobos frontais, nos gânglios da base (especialmente o caudado) e no cíngulo de pacientes com TOC. Estudosmostram caudados bilateralmente menores e aumento no tempo de relaxamento de T1 no córtex frontal. ● Genética: componente genético significativo. Familiares têm uma probabilidade 3 a 5 vezes maior. Em gêmeos a concordância é bem mais alta para os monozigóticos. Também há índices aumentados para diversas condições entre familiares, entre os quais transtorno de ansiedade generalizada, transtornos de tique, transtorno dismórfico corporal, hipocondríase, transtornos alimentares e hábitos como roer unhas. ● Outros dados biológicos: anormalidades semelhantes às dos transtornos depressivos, tais como latência reduzida do movimento rápido dos olhos. Não supressão no teste de supressão de dexametasona em cerca de um terço dos pacientes e secreção reduzida do hormônio do crescimento com infusões de clonidina. Ligação de casos de TOC e certos tipos de síndromes de tique motor (i.e., transtorno de Tourette e tiques motores crônicos). ● Fatores comportamentais: de acordo com teóricos da aprendizagem, as obsessões são estímulos condicionados . Um estímulo relativamente neutro se torna associado com medo ou ansiedade por meio de um processo de condicionamento replicante ao ser associado com eventos que sejam nocivos ou que produzam ansiedade. Quando descobre que determinada ação reduz a ansiedade associada a um pensamento obsessivo, uma pessoa desenvolve estratégias ativas de evitação, na forma de compulsões ou comportamentos ritualísticos, para controlar a ansiedade. ● Fatores de personalidade: O TOC difere do transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva. A maioria das pessoas com TOC não tem sintomas compulsivos ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 pré-mórbidos, e tais traços de personalidade não são nem necessários, nem suficientes para o desenvolvimento de TOC. ● Fatores psicodinâmicos: Muitos pacientes com TOC podem se recusar a cooperar com tratamentos efetivos, como inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) e terapia comportamental. PADRÕES DE COMPORTAMENTO ● CONTAMINAÇÃO Padrão mais comum. Segue-se a lavagem ou evitação compulsiva. Sente ansiedade, vergonha, nojo. Geralmente está relacionada a fezes, urina, pó ou germes ● DÚVIDA Obsessão de dúvida seguida da compulsão de verificação. ● PENSAMENTOS INTRUSIVOS Pensamentos obsessivos sem uma compulsão. Geralmente é um pensamento agressivo ou sexual. ● SIMETRIA Seguida de compulsão de lentificação. ● OUTROS Obsessões religiosas, acúmulo compulsivo, masturbação, puxar o cabelo e roer as unhas compulsivamente. QUADRO CLÍNICO ● As obsessões são pensamentos repetitivos e persistentes, imagens o u impulsos, que não são agradáveis e são involuntários. Esses pensamentos são invasivos, indesejados e causam acentuado sofrimento (egodistônico) ou ansiedade na maioria dos indivíduos. ● O indivíduo tenta ignorá-las ou suprimi-las (p. ex., evitando o s desencadeantes ou usando a supressão do pensamento) ou neutralizá-las com outro pensamento ou ação (p. ex., executando uma compulsão) ● As compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais que o indivíduo se sente motivado a executar tais ações e estão tipicamente relacionados tematicamente a uma obsessão. Diferentemente da obsessão, o ato gerado pela compulsão é voluntário. ● As compulsões são geralmente executadas em resposta a uma obsessão (p. ex., pensamento s de contaminação levando a rituais de lavagem ou pensamentos de que alguma coisa está incorreta levando à repetição de rituais até parecer “direita” [just right)]. DIAGNÓSTICO ● Critérios diagnósticos A.Presença de obsessões, compulsões ou ambas: Obsessões são definidas por (1) e (2): ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 1.Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e indesejados e que, na maioria dos indivíduos, causam acentuada ansiedade ou sofrimento. 2.O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação. As compulsões são definidas por (1) e (2): 1.Comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (p. ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas. 2.Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos. Nota: Crianças pequenas podem não ser capazes de enunciar os objetivos desses comportamentos ou atos mentais. B.As obsessões ou compulsões tomam tempo (p. ex., tomam mais de uma hora por dia) ou causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C.Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica. D.A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental (p. ex., preocupações excessivas, como no transtorno de ansiedade generalizada; preocupação com a aparência, como no transtorno dismórfico corporal; dificuldade de descartar ou se desfazer de pertences, como no transtorno de acumulação; arrancar os cabelos, como na tricotilomania [transtorno de arrancar o cabelo]; beliscar a pele, como no transtorno de escoriação [skin-picking]; estereotipias, como no transtorno de movimento estereotipado; comportamento alimentar ritualizado, como nos transtornos alimentares; preocupação com substâncias ou jogo, como nos transtornos relacionados a substâncias e transtornos aditivos; preocupação com ter uma doença, como no transtorno de ansiedade de doença; impulsos ou fantasias sexuais, como nos transtornos parafílicos; impulsos, como nos ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta; ruminações de culpa, como no transtorno depressivo maior; inserção de pensamento ou preocupações delirantes, como nos transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos; ou padrões repetitivos de comportamento, como no transtorno do espectro autista). Especificar se: → Com insight bom ou razoável: O indivíduo reconhece que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são definitiva ou provavelmente não verdadeiras ou que podem ou não ser verdadeiras. → Com insight pobre: O indivíduo acredita que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são provavelmente verdadeiras. → Com insight ausente/crenças delirantes: O indivíduo está completamente convencido de que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são verdadeiras. Especificar se: Relacionado a tique: O indivíduo tem história atual ou passada de um transtorno de tique. TRATAMENTO ● TCC + ISRS PROGNÓSTICO ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 2. Entender o TEA ● É um transtorno do desenvolvimento neurológico, caracterizado por dificuldades de comunicação e interação social e pela presença de comportamentos e/ou interesses repetitivos e/ou restritos. ● Não há cura, ainda que a intervenção precoce possa alterar o prognóstico e suavizar os sintomas. ● Tem origem nos primeiros anos de vida, mas sua trajetória inicial não é uniforme. Em algumas crianças, os sintomas são aparentes logo após o nascimento. Na maioria dos casos, no entanto, os sintomas do TEA só são consistentemente identificados entre os 12 e 24 meses de idade. ● O diagnóstico do TEA ocorre, em média, aos 4 ou 5 anos de idade → lamentável, pois, alguns estudiosos tem até mesmo sugerido que a intervenção precoce e intensiva tem o potencial de impedir a manifestação completa do TEA, por coincidir com um período do desenvolvimento em que o cérebro é altamente plástico e maleável. ● Sinais sugestivos no 1º ano de vida : ✓ Perder habilidades já adquiridas,como balbucio ou gesto dêitico de alcançar, contato ocular ou sorriso social; ✓ Não se voltar para sons, ruídos e vozes no ambiente; ✓ Não apresentar sorriso social; ✓ Baixo contato ocular e deficiência no olhar sustentado;✓ Baixa atenção à face humana (preferência por objetos); ✓ Demonstrar maior interesse por objetos do que por pessoas; ✓ Não seguir objetos e pessoas próximos em movimento; ✓ Apresentar pouca ou nenhuma vocalização; ✓ Não aceitar o toque;✓ Não responder ao nome; ✓ Imitação pobre;✓ Baixa frequência de sorriso e reciprocidade social, bem como restrito engajamento social (pouca iniciativa e baixa disponibilidade de resposta); ✓ Interesses não usuais, como fixação em estímulos sensório-viso-motores; ✓ Incômodo incomum com sons altos; ✓ Distúrbio de sono moderado ou grave; ✓ Irritabilidade no colo e pouca responsividade no momento da amamentação. PREVALÊNCIA ● EUA: 1 para cada 150 crianças de 8 anos em 2000 e 2002, a prevalência do TEA aumentou para 1 para cada 68 crianças em 2010 e 2012, chegando à prevalência de 1 para cada 58 em 2014, mais que duplicando o número de casos durante esse período. ● Sua prevalência é maior em meninos do que em meninas, na proporção de cerca de 4:1. ● Em torno de 30% dos casos apresentam deficiência intelectual. ● É frequentemente associado a outros transtornos psiquiátricos e a outras condições médicas . Obs.: Quando é detectado qualquer atraso, a estimulação precoce é a regra! ETIOLOGIA ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 ● É causado por uma combinação de fatores genéticos (grande relevância ) e ambientais (idade avançada dos pais no momento da concepção, a negligência extrema dos cuidados da criança, a exposição a certas medicações durante o período pré-natal, o nascimento prematuro e baixo peso ao nascer). SINAIS DE ALERTA ● Os pacientes com Síndrome de Asperger (termo antigo para autismo leve) apresentam diagnóstico mais tardio, pois geralmente não há atraso de linguagem verbal e a cognição é preservada. ● Criança com atraso do DNPM ou MCHAT- R alterado: Orientar os pais quanto à estimulação adequada – interação com os pais, harmonia no lar, brincadeiras, contato afetivo, tempo de tela, qualidade de tela, tempo de sono, alimentação, brincadeiras ao ar livre.✓ Reavaliar em 1 mês: -Se alcançou os marcos: manter acompanhamento e estimulação; - Se não alcançou os marcos: encaminhar para serviço de estimulação interdisciplinar especializado e avaliação com médico especializado em TEA; manter consultas próximas com a criança e os pais para apoio e acompanhamento do tratamento de reabilitação. TRIAGEM – RECOMENDAÇÃO DE SCREENING DURANTE PUERICULTURA ● Diagnóstico tardio: baixa renda familiar, etnia, pouco estímulo, pouca observação sobre o desenvolvimento das crianças por parte dos pais, profissionais da saúde, educadores e cuidadores e formas clínicas menos graves de apresentação dos sintomas. ● O ditado popular de “vamos aguardar o tempo d a criança” deve respeitar os limites pré-definidos da idade máxima de aquisição de cada marco, de acordo com as escalas validadas para o acompanhamento do DNPM. ● É importante na puericultura questionar, investigar e valorizar queixas como dificuldade de aquisição do sorriso social, desinteresse ou pouco interesse na face dos pais ou cuidadores, irritabilidade no colo da mãe , olhar não sustentado o u até mesmo ausente, mesmo durante as mamadas, preferência por dormir sozinho, quieto demais ou muito irritadiço, sem causa aparente e indiferença com a ausência dos pais ou cuidadores e ausência da ansiedade de separação a partir dos 9 meses. ● Toda criança deve ser triada entre 18 e 24 meses de idade para o TEA, mesmo que não tenha sinais clínicos claros e evidentes deste diagnóstico ou de outros atrasos do desenvolvimento. ● A recomendação da SBP é o Questionário Modificado para Triagem do autismo em crianças entre 16 e 30 meses, Revisado, com Entrevista de Seguimento (M-CHAT-R/F). ✓ O questionário é online, autoexplicativo e fácil de ser usado durante uma consulta clínica. ✓ Trata-se de 20 questões claras, com resposta sim e não para o M-CHAT-R, ao final do questionário o pediatra terá um resultado indicando baixo risco, risco moderado ou alto risco. ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 - Baixo risco: pontuação total é de 0-2; se a criança for menor que 24 meses, repetir o M -CHAT-R em 24 meses ; não é necessária qualquer outra medida, a não ser que a vigilância indique risco de TEA. - Risco moderado: pontuação total é de 3 -7; administrar a Entrevista de Seguimento (segunda etapa d o M-CHAT-R/F) para obter informação adicional sobre as respostas de risco; se a pontuação continuar igual ou superior a 2, a criança pontua positivo para T EA na triagem, se for pontuação 0 -1 pontua como negativo; não é necessária qualquer outra medida, a não ser que a vigilância indique risco de TEA, a criança deverá fazer triagem novamente em futuras consultas de rotina. - Alto risco: pontuação total é de 8-20; pode-se prescindir da necessidade da entrevista de seguimento e deve-se encaminhar a criança para avaliação diagnóstica e também para avaliação de necessidade de intervenção. EXAMES DURANTE INVESTIGAÇÃO ● Diagnóstico de TEA é clínico. ● Anamnese: ✓ 1º passo para o diagnóstico diferencial → colher informações dos pais ou cuidadores, sobre a gestação (se houve exposição à agente tóxicos) e condições de parto dest as crianças. - Agentes tóxicos: ácido valproico, o DDT e s eus subprodutos (altas concentrações), os bifenilospoliclorados (PCBs) em menor concentração e também alguns metais pesados como chumbo e mercúrio inorgânico. ✓ Identificar possíveis fatores de risco para TEA: idade dos pais (filhos de pais mais idosos apresentam risco maior para o desenvolvimento do autismo), gravidez espontânea ou induzida, uso de medicamentos, consumo de drogas ilícitas, álcool e tabagismo durante a gestação. ✓ História familiar: investigar a presença de transtornos de desenvolvimento em familiares ou grupos populacionais circunscritos, a presença de síndromes genéticas (suspeita da hereditariedade do autismo – mutações no DNA mitocondrial alteram o fornecimento de energia ao cérebro, que determinam o desenvolvimento de problemas neuropsiquiátricos e do próprio autismo) ✓ Dados do RN no momento do nascimento: prematuridade, hipoxemia e isquemia (podem causar alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, no aspecto cognitivo e comportamental). ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 ✓ Questionar a época em que pais ou cuidadores notaram perda de habilidades já adquiridas ou alterações no comportamento da criança. COMORBIDADES ● Manifestações clínicas mais frequentes associadas ao TEA: ✓ Transtornos de ansiedade, incluindo as generalizadas e as fobias, transtornos de separação, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), tiques motores (de difícil diferenciação com estereotipias), episódios depressivos e comportamentos autolesivos, em torno de 84% dos casos; ✓ Transtornos de déficit de atenção e hiperatividade em cerca de 74%; ✓ Deficiência intelectual (DI); ✓ Déficit de linguagem; ✓ Alterações sensoriais; ✓ Doenças genéticas, como Síndrome do X Frágil, Esclerose Tuberosa, Síndrome de Williams; ✓ Transtornos gastrointestinais e alterações alimentares; ✓ Distúrbios neurológicos como Epilepsia e distúrbios do sono; ✓ Comprometimento motor como Dispraxia, alterações de marcha ou alterações motoras finas. EXAME FÍSICO ● Devem ser checados todos os sistemas além da investigação minuciosa da presença de dismorfias que remetam o pediatra à suspeita de síndromes genéticas associadas. ● Controle de peso, estatura, medida do perímetro cefálico e testes padronizados de avaliação formal do DNPM são itens obrigatórios ● Inspeção da pele para detecção de lesões hiper ou hipopigmentadas podem sugerir Síndromes Neurocutâneas. ● Alterações neurológicas, como hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais do ambiente, alterações nas provas de coordenação motora, dos pares cranianos,do tônus e reflexos superficiais, profundos e primitivos devem ser correlacionados com cada doença específica. ● É importante checar se a criança reage positivamente quando chamada pelo seu nome, voltando o olhar para quem a chama. ● Observar a expressão facial , se imita gestos e palavras, se participa de brincadeiras de forma funcional, se possui preferência a objetos em relação ao olhar ou face humana, se olha nos olhos de forma sustentada, s e apresenta rigidez comportamental, se faz o uso dos pais como objeto para pegar o que deseja, se apresenta irritabilidade desproporcional à situação de frustração e estereotipias motoras, verbais ou rituais. ● Avaliação audiológica deve diferenciar os déficits auditivos, e o acompanhamento com uma fonoaudióloga pode contribuir para um diagnóstico precoce e mais preciso. QUESTÕES DE COGNIÇÃO, COMPORTAMENTO, SOCIALIZAÇÃO E ROTINAS ● Rotina diária da criança: adequação nutricional; horário de início do sono, duração e qualidade; tempo e conteúdo de telas em relação ao que é recomendado para cada idade; atividades ao ar livre; modalidade de brincadeiras; horário e adequação escolar; agenda de atividades extracurriculares e terapias complementares; ● Família: investigar tempo qualitativo dos pais e familiares destinados ao paciente; qualidade das relações envolvendo parentalidade e conjugalidade; presença de fatores de risco para estresse tóxico; presença de doenças nos cuidadores (de pressão, transtornos psiquiátricos, traços autísticos e outros problemas ); quantidade, idade, estado de saúde e emocional de irmãos. ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 ● Escola: adequações escolares em relação ao conteúdo e planejamento pedagógico, inclusão escolar com possibilidade de monitor individual a fim de potencializar a aprendizagem e socialização com seus pares segundo legislação vigente. QUESTÕES DE COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM ● As quatro principais alternativas, relacionadas à comunicação e linguagem, que demandam consideração cuidadosa são: surdez (ou deficiências auditivas graves), distúrbios específicos de linguagem (DEL), apraxia de fala da infância (AFI ) e distúrbios de comunicação social . ● Em geral, quando há concorrência de autismo e surdez, um dos dois transtornos é diagnosticado mais tardiamente. QUESTÕES SENSORIAIS ● Crianças com TEA respondem a experiências sensoriais de forma diferente de seus pares sem deficiência e essas respostas são muito heterogêneas. ● Principais comportamentos observados: 1. Baixa energia/fraqueza: parece ter músculos fracos, não consegue carregar objetos pesados, tem preensão fraca, etc. 2. Sensibilidade tátil/ao movimento: reage agressivamente ao toque; evita andar descalço, especialmente na grama ou areia; fica ansioso ou estressado quando os pés não tocam o chão; tem medo de altura ou movimento. 3. Sensibilidade gustativa/olfativa: come apenas alguns sabores; escolhe alimentos pela textura; evita alguns sabores e cheiros tipicamente comuns na alimentação de crianças. 4. Sensibilidade auditiva/visual : não consegue trabalhar com barulho ao fundo; tem dificuldades em terminar tarefas se o rádio/TV estão ligados; tampa os ouvidos com as mãos; fica incomodado com luzes brilhantes; cobre os olhos para protegê-los da luz. 5. Procura sensorial/distraibilidade: fica muito excitado durante atividades com movimento; pula de uma atividade para outra de maneira que interfere no brincar; tem dificuldade em prestar atenção; toca pessoas ou objetos; produz barulhos estranhos. 6. Hiporresponsividade: parece não notar quando o rosto e mãos estão sujos; não responde quando o nome é chamado, apesar da audição estar boa; parece não ouvir o que lhe é dito; deixa a roupa embolada no corpo. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS A.Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado por tudo o que segue, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto): 1.Déficits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais. 2.Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal. 3.Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares. ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 Especificar a gravidade atual: A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões de comportamento restritos e repetitivos B.Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto): 1.Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas). 2.Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente). 3.Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (p. ex., forte apego a ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos). 4.Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (p. ex., indiferença aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento). Especificar a gravidade atual: A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões restritos ou repetitivos de comportamento. C.Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento (mas podem não se tornar plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida). D.Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo no presente. E. Essas perturbações não são mais bem explicadas por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por atraso global do desenvolvimento. Deficiência intelectual ou transtorno do espectro autista costumam ser comórbidos; para fazer o diagnóstico da comorbidade de transtorno do espectro autista e deficiência intelectual, a comunicação social deve estar abaixo do esperado para o nível geral do desenvolvimento. Nota: Indivíduos com um diagnóstico do DSM-IV bem estabelecido de transtorno autista, transtorno de Asperger ou transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação devem receber o diagnóstico de transtorno do espectro autista. Indivíduos com déficits acentuados na comunicação social, cujos sintomas, porém, não atendam, de outra forma, critérios de transtorno do espectro autista, devem ser avaliados em relação a transtorno da comunicação social (pragmática). ANA RITA CABRAL- FITS P6 - 2022 Especificar se: Com ou sem comprometimento intelectual concomitante Com ou sem comprometimento da linguagem concomitante Associado a alguma condição médica ou genética conhecida
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