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MÓDULO SAÚDE MENTAL - TODOS OS RESUMOS

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Prévia do material em texto

Por: Maria Eduarda de Souza 
e Vitor Dantas
 
M E D I C I N A - F I P G U A N A M B I
RESUMOS
Saúde Mental
RESUMOS
Obs.: Os resumos foram desenvolvidos no primeiro semestre de 2021 durante o módulo tutorial
de Saúde Mental. Além disso, esses resumos tem a função exclusiva de ajudar os acadêmicos
das FIPGuanambi. Evite copiar!
Tutoria 01 - Semiologia
Psiquiátrica 
Tutoria 02 - Transtornos de
Ansiedade
Tutoria 06 - Transtornos de
Humor
Tutoria 03 - TOC
Tutoria 04 - Transtornos
Somatoformes
Tutoria 05 - Esquizofrenia
Tutoria 07 - Transtornos
Alimentares
Tutoria 08 - Transtorno por uso
de substâncias
Tutoria 09 - Transtornos de
Personalidade
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
PSICOPATOLOGIA 
A psicopatologia é uma disciplina científica que estuda a 
doença mental em seus vários aspectos: suas causas, as 
alterações estruturais e funcionais relacionadas, os métodos 
de investigação e suas formas de manifestação (sinais e 
sintomas). Comportamento, cognição e experiências 
subjetivas anormais constituem as formas de manifestação 
das doenças mentais. 
 
Pode ser definida também, como o conjunto de 
conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser 
humano. Desse modo, o campo da psicopatologia inclui um 
grande número de fenômenos humanos associados ao que 
se denominou, historicamente, doença mental. São 
vivências, estados mentais e padrões comportamentais 
descritos sob a forma de sintomas, didaticamente divididos 
entre as funções psíquicas. 
SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
Semiótica ou semiologia médica é o estudo dos sinais e 
sintomas das enfermidades, estudo este que inclui a 
identificação das alterações físicas e mentais, a ordenação 
dos fenômenos observados e a formulação de diagnósticos. 
Os sinais e sintomas representam os signos da 
psicopatologia e da medicina em geral. Os sintomas são 
subjetivos e aparecem nas queixas do paciente. Dor, o 
sentimento de tristeza e a escuta alucinatória, por exemplo, 
são sintomas. Já os sinais são objetivos, ou seja, são 
verificáveis pela observação direta. Eles podem ser 
detectados por outra pessoa, às vezes pelo próprio paciente. 
A flexibilidade cerácea (alteração da psicomotricidade), uma 
fácies de tristeza e o solilóquio (falar sozinho) são sinais. 
 
Uma experiência psíquica anormal possui tanto forma como 
conteúdo. A forma se refere à estrutura em termos 
fenomenológicos – por exemplo, delírio –, e o conteúdo, ao 
“colorido” ou “recheio” da experiência – por exemplo, estar 
sendo perseguido por marcianos. Desse modo, por 
semiotécnica entendemos os procedimentos específicos e 
sistematizados de observação e coleta dos sinais e sintomas, 
assim como a interpretação destes. 
ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA 
A entrevista psiquiátrica possui três objetivos básicos: a 
formulação de um diagnóstico, a formulação de um 
prognóstico e o planejamento terapêutico. É a partir da 
entrevista que se começa a estabelecer, ou não, uma aliança 
terapêutica entre o paciente e o médico. A entrevista pode 
se dar em situações muito diversas: na internação do 
paciente, que pode ser voluntária ou involuntária; numa 
consulta no ambulatório; quando o psiquiatra vai responder 
a um pedido de parecer em uma enfermaria de hospital 
geral; no domicílio do paciente; e, até mesmo, em via 
pública. 
Para a entrevista, deve-se preferir um ambiente fechado, 
isolado acusticamente e com uma temperatura agradável. 
Recomenda-se evitar o máximo possível que haja 
interrupções. No início é essencial que o médico se 
apresente, explique o objetivo da entrevista e, se possível, 
obtenha o consentimento do paciente. Se não há plena 
consciência de morbidade por parte do paciente, é 
fundamental que se entrevistem os familiares – ou outras 
pessoas que possam prestar informações –, de preferência 
com a concordância (e a presença) do paciente. 
 
A arte de entrevistar só pode ser adquirida mediante o 
treinamento com um supervisor e com a prática. Aulas e 
manuais, contudo, também trazem algum auxílio. Ensina-se 
ao aluno como trabalhar com as evidências apuradas, 
embora seja difícil mostrar como obtê-las. De qualquer 
modo, há algumas regras básicas que devem ser seguidas: 
▪ No começo, deve-se deixar o paciente falar livremente, 
e só depois perguntar de modo mais específico temas 
ou pontos duvidosos. 
▪ É preciso saber quando e como interromper o paciente: 
sem cortar o fluxo da comunicação, mas sem deixar que 
a minuciosidade ou a prolixidade (alterações da forma 
do pensamento) prejudiquem a obtenção da história 
clínica. Sempre controlar e dirigir a entrevista. 
▪ Não formular as perguntas de maneira monótona ou 
mecânica. O diálogo deve ser tão informal quanto 
possível. 
▪ Evitar perguntas muito sugestivas, fechadas, que podem 
ser respondidas com um simples sim ou não: é melhor 
perguntar “Como você está se sentindo?” do que “Você 
está ansioso?”. 
▪ Não aceitar jargões fornecidos pelos pacientes, como 
“nervoso”, “deprimido”, “tenho pânico”: pedir que ele 
explique o que quer dizer com essas palavras. 
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
▪ Certificar-se de que o paciente compreende as 
perguntas: utilizar linguagem acessível, sem termos 
médicos. 
ANAMNESE 
A anamnese psiquiátrica segue, em linhas gerais, o roteiro 
da anamnese em medicina. É preciso ter em mente um 
roteiro de anamnese, mas este não pode perturbar a 
espontaneidade da entrevista. A redação final de uma 
observação psiquiátrica precisa ser completa, sem ser 
sobrecarregada ou repetitiva, mas nunca será totalmente 
completa e precisa. Dois examinadores jamais farão a 
mesma anamnese do mesmo paciente. 
 
A anamnese é a entrevista que o médico faz com o paciente. 
É o momento no qual o médico escuta as queixas e 
demandas do cliente. É parte imprescindível da consulta 
médica e é neste período que se obtém as informações de 
saúde do paciente. Tem o objetivo de sistematizar as 
informações passadas pelo paciente de maneira que seja 
possível estabelecer hipóteses diagnósticas e orientar uma 
ação terapêutica. O paciente psiquiátrico é um paciente 
como outro qualquer e o psiquiatra é um médico. Então, o 
psiquiatra também faz uma anamnese durante sua consulta. 
Apesar de ter algumas diferenças, a anamnese em 
psiquiatria segue o mesmo raciocínio da anamnese geral. 
Observa-se, entre os diversos livros de psiquiatria, uma 
ausência de uniformidade quanto à estrutura da anamnese. 
Algumas informações podem se adequar a mais de um item 
da anamnese, cuja divisão é arbitrária, convencional. Os 
itens da anamnese psiquiátrica são: identificação, queixa 
principal, motivo do atendimento, história da doença atual, 
história patológica pregressa, história fisiológica, história 
pessoal, história social e história familiar. Além da 
anamnese, incluem-se na avaliação psiquiátrica: o exame 
psíquico, a súmula psicopatológica, o exame físico, os 
exames complementares, o diagnóstico (sindrômico e 
nosológico) e a conduta terapêutica. 
IDENTIFICAÇÃO 
A identificação é composta pelos seguintes itens: 
▪ Nome 
▪ Data de nascimento 
▪ Sexo 
▪ Estado civil 
▪ Naturalidade 
▪ Nível de instrução 
▪ Profissão 
▪ Etnia 
▪ Religião 
▪ Residência 
▪ Procedência 
▪ Filiação 
A identificação pode ser de grande auxílio para a formulação 
do diagnóstico. Por exemplo, o alcoolismo é mais comum em 
homens; esquizofrênicos em geral não são casados; 
pacientes com retardo mental costumam apresentar um 
baixo nível educacional etc. Na apresentação pública de 
casos – como em sessões clínicas –, o nome pode ser 
representado pelas iniciais, mas é preferível, para preservar 
o sigilo, usar um pseudônimo. 
QUEIXA PRINCIPAL 
A queixa principal (QP), que constitui o foco da história da 
doença atual, deve ser sucinta. Convém relacionar no 
máximo três queixas, de preferência apenas uma. Caso o 
paciente apresente vária queixas, pede-se para ele escolher 
a que mais o incomoda. A QP é redigida com as palavras do 
paciente (entre aspas, ou usando sic),devendo ser 
registrada mesmo que absurda. Caso o paciente não formule 
nenhuma queixa, isso também tem que ser apontado. 
▪ Motivo do atendimento: o item motivo do atendimento 
só é necessário quando não há consciência de 
morbidade por parte do paciente. O seu conteúdo é 
fornecido por outra pessoa: um familiar, vizinho, 
bombeiro, policial, outro profissional de saúde etc. São 
reproduzidas literalmente as palavras do informante. 
HISTÓRIA DA MOLÉSTIA ATUAL 
A história da doença atual (HDA) consta de um relato sobre 
a época e modo de início da doença, a presença de fatores 
desencadeantes, tratamentos efetuados e o modo de 
evolução, o impacto sobre a vida do paciente, 
intercorrência de outros sintomas e as queixas atuais. Ela é 
narrada pelo paciente, ou por informantes – no caso de 
pacientes psicóticos –, ou por ambos. Faz-se necessário 
identificar sempre, para cada informação, qual foi a fonte. 
Na redação da HDA, evitam-se termos técnicos: são 
utilizadas as palavras do paciente ou do informante. Os 
quadros clínicos são descritos, porém não nomeados. A 
redação deve seguir uma ordem cronológica, mesmo que a 
narrativa, por parte do paciente ou dos informantes, não 
tenha sido assim. 
São ainda incluídas na HDA informações (sobre alterações 
psíquicas e físicas) pesquisadas ativamente pelo 
entrevistador, mesmo que não tenham sido trazidas 
espontaneamente pelo paciente ou informante. Fazem 
parte também da HDA os negativos pertinentes, ou seja, 
certos sintomas cuja ausência pode ser significativa para a 
identificação da doença ou da fase evolutiva em que esta se 
encontra. Episódios psiquiátricos anteriores devem ser 
relatados também aqui, já que estes devem estar 
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
relacionados ao atual, visto que os transtornos mentais são, 
em geral, crônicos. 
Em casos de transtorno da personalidade ou de retardo 
mental, será impossível separar HDA e história pessoal, que 
podem ser fundidas. 
▪ Então, vem o Interrogatório Sistemático (IS), onde é 
possível notar problemas que o paciente não relatou ao 
perguntar ativamente sobre os outros sistemas não 
abordados na HMA. Dessa forma, não se negligência 
nenhum sintoma e é possível chegar a um diagnóstico 
com mais clareza. 
HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA 
A história patológica pregressa (HPP) refere-se a estados 
mórbidos passados, em geral não psiquiátricos, que não 
mostrem possuir relação direta ou indireta de causa e efeito 
com a moléstia atual. Se existir essa relação, eles são 
incluídos na HDA. 
São investigadas principalmente as seguintes ocorrências: 
enurese, sonilóquio, pesadelos frequentes, terror noturno, 
sonambulismo, asma, tartamudez, fobia escolar, na infância; 
convulsões ou desmaios; doenças venéreas; outras doenças 
infecciosas, tóxicas ou degenerativas; traumatismos 
cranianos; alergia; intervenções cirúrgicas; hábitos tóxicos 
(álcool, tabaco, drogas ilícitas); uso de medicamentos. 
Faz parte também da HPP a revisão de sistemas, isto é, o 
questionamento junto ao paciente relativo a cada aparelho 
de seu organismo (cardiovascular, respiratório etc.). Na 
redação da HPP incluem-se todas as doenças importantes 
relatadas. Não se devem listar doenças ausentes, já que é 
impossível citar todas as que existem, a não ser que tal 
ausência seja significativa para a formulação do diagnóstico. 
HISTÓRIA FAMILIAR 
A história familiar abrange dados relacionados a: doenças 
psiquiátricas e não psiquiátricas; ter sido a gravidez 
desejada ou não pelos pais do paciente, separação dos pais, 
quem criou o paciente; ordem de nascimento entre os 
irmãos, diferenças de idade; características de 
personalidade dos familiares, o relacionamento entre estes 
e destes com o paciente; atitude da família diante da doença 
do paciente; relacionamento com o cônjuge e filhos. 
▪ Perguntamos a idade dos pais, filhos e cônjuge, a 
situação de saúde deles. Nessa parte da anamnese 
avaliamos o risco do paciente desenvolver alguma 
doença conforme o padrão de adoecimento dos 
familiares. Por se tratar de uma anamnese psiquiátrica, 
buscamos por doenças mentais em parentes e, além 
disso, buscamos possíveis fatores de estresse com 
potencial adoecedor ao paciente. 
HISTÓRIA FISIOLÓGICA 
São investigados os seguintes elementos relativos à história 
fisiológica: gestação (da mãe), nascimento, aleitamento, 
desenvolvimento psicomotor (andar, falar, controle 
esfincteriano), menarca, catamênios, atividade sexual, 
gestações, partos, abortamentos, menopausa, padrões de 
sono e de alimentação. 
HISTÓRIA PESSOAL 
Pode-se optar por fundir a HPP, a história fisiológica, a 
história pessoal e a história social, sob a denominação de 
história pessoal. 
 
Caso se mantenha a história pessoal como um item mais 
restrito, pesquisam-se as seguintes informações: 
▪ Infância: personalidade, socialização, jogos e 
brincadeiras, aproveitamento escolar, ansiedade de 
separação. 
▪ Sintomas neuróticos da infância: medos, terror 
noturno, sonambulismo, sonilóquio (falar dormindo), 
tartamudez (gagueira), enurese noturna, condutas 
impulsivas (agressão ou fuga), chupar o dedo ou 
chupeta (até que idade), ser uma criança modelo, crises 
de nervosismo, tiques, roer unhas. 
▪ Adolescência: desempenho escolar, uso de álcool e 
drogas, delinquência, relacionamentos interpessoais. 
▪ Sexualidade: iniciação, preferência, orientação, número 
de parceiros, frequência. 
▪ Vida profissional: vocações; estabilidade nos empregos; 
relacionamento com chefes, subordinados e colegas; 
desempenho. 
▪ Lembrança significativa: perguntar ao paciente qual sua 
lembrança antiga mais significativa que consegue 
recordar. O objetivo é observar a capacidade de 
estabelecer vínculos, além do auxílio à compreensão da 
ligação passado-presente. 
▪ Personalidade pré-mórbida: relacionamentos sociais, 
interesses, hábitos de lazer e culturais, padrão de 
humor, agressividade, introversão/extroversão, 
egoísmo/altruísmo, independência/dependência, 
atividade/passividade, valores, adaptação ao ambiente. 
HISTÓRIA SOCIAL 
Fazem parte da história social informações relativas à 
moradia – condições sanitárias, pessoas com quem convive, 
número de cômodos, privacidade, características 
sociodemográficas da região –; situação socioeconômica; 
características socioculturais; atividade ocupacional atual; 
situação previdenciária; vínculo com o sistema de saúde; 
atividades religiosas e políticas; antecedentes criminais. 
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
▪ Buscamos por costumes do paciente que podem levar a 
patologias. Escrevemos sobre uso de drogas, hábitos 
alimentares e atividade física. Se liga! Alguns hábitos, 
como o uso de substâncias psicoativas, podem já 
constituir a doença psiquiátrica ou ajudar na 
exacerbação dela. 
▪ Abordamos toda a história de vida do paciente, 
perguntamos sobre sua infância, fatores de estresse, 
espiritualidade, projeto de vida, a constituição familiar, 
as relações interpessoais, grupos sociais que está 
inserido, atividades de lazer, atividade labora e como 
enxerga o processo de adoecimento. Essa é uma parte 
que precisa ser bem detalhada na anamnese 
psiquiátrica, pois é preciso saber situações que 
aconteceram que podem ser fatores de risco para 
doenças psiquiátricas. 
DIFERENÇAS DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA 
A maior diferença entre uma anamnese geral e a anamnese 
psiquiátrica é o exame físico. Enquanto na anamnese clínica 
é feito o exame físico completo no sentido crânio-caudal, na 
psiquiatria nós temos também o Exame do Estado Mental 
(EEM). O exame do estado mental é o método que o 
profissional de saúde usa para avaliar as funções mentais do 
paciente. 
Durante o exame do estado mental avalia-se o aspecto geral 
do paciente (aparência, higiene e atitude), o nível de 
consciência, a psicomotricidade, orientação, atenção, 
memória, sensopercepção, pensamento, humor, afeto, 
volição e autopatognose. 
Nas etapas anteriores da anamnese as informações eram 
obtidas atravésdo relato do paciente ou até mesmo de seu 
acompanhante. No EEM os dados são observados pelo 
avaliador no momento da consulta. 
 
Para fazer um bom exame do estado mental, é preciso que o 
médico esteja entenda a psicopatologia e conheça as 
funções mentais. 
EXAME PSIQUIÁTRICO 
O exame do estado mental é uma avaliação do 
funcionamento mental do paciente, no momento do exame, 
com base nas observações que foram feitas durante a 
entrevista. Assim, ele pode variar de um momento para 
outro, em função de mudanças na psicopatologia do 
paciente. Da mesma forma que o exame físico de um 
paciente com hipertensão arterial, pode mostrar uma 
pressão arterial normal, em razão do paciente estar 
medicado, o exame do estado mental de um esquizofrênico 
pode deixar de apresentar alucinações, pelo mesmo motivo. 
Com o objetivo de facilitar a descrição, o exame do estado 
mental é organizado por áreas (p.ex., pensamento, senso-
percepção, afeto, etc.), embora exista uma grande inter-
relação entre estas diferentes áreas. 
 
As partes que compõem o exame do estado mental e suas 
principais alterações, são descritas abaixo: 
APRESENTAÇÃO GERAL 
Trata-se de uma descrição da impressão geral advinda da 
aparência física, da atitude e conduta do paciente na 
interação com o entrevistador. 
▪ Aparência 
A descrição deve permitir formar uma imagem sobre o 
paciente, de forma a reconhecê-lo, englobando: 
a) aparência quanto à idade e à saúde; 
b) a presença de deformidades e peculiaridades físicas; 
c) o modo de vestir-se e os cuidados pessoais, incluindo 
ordem, asseio e excentricidades; 
d) a expressão facial, através da mímica e enquanto sinais 
sugestivos de doença orgânica, depressão, ansiedade, 
▪ Psicomotricidade 
a) o comportamento e atividade motora, envolvendo a 
velocidade e intensidade da mobilidade geral na marcha, 
quando sentado e na gesticulação; 
b) a atividade motora, incluindo a agitação (hiperatividade) 
ou retardo (hipoatividade), a presença de tremores, de 
acatisia, estereotipias, maneirismos (movimentos 
involuntários estereotipados), tiques (movimentos 
involuntários e espasmódicos); 
c) a presença de sinais característicos de catatonia 
(anomalias motoras em distúrbios não orgânicos), como 
flexibilidade cérea (manutenção de posturas impostas por 
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
outros), obediência automática, resistência passiva e ativa, 
negativismo (resistência imotivada), estupor (lentificação 
motora, imobilidade) e catalepsia (manutenção de uma 
posição imóvel). 
▪ Situação da entrevista/interação 
Deve-se descrever as condições em que a entrevista ocorreu 
abrangendo: 
a) o local; 
b) a presença de outros participantes 
c) intercorrências eventuais 
Obs.: Quanto à interação, deve-se descrever a disponibilidade e 
interesse frente à entrevista, destacando-se: cooperação, 
oposição, tendência a conduzir a entrevista, indiferença, 
negativismo frente ao exame 
LINGUAGEM E PENSAMENTO 
O examinador tem um acesso indireto ao pensamento do 
paciente, através do discurso do mesmo durante a 
entrevista. Assim, a linguagem e o pensamento são avaliadas 
conjuntamente, nesta parte do exame, segundo os seguintes 
aspectos: 
▪ Características da fala 
Deve ser anotado se a fala é espontânea, se ocorre apenas 
em resposta à estimulação ou não ocorre (mutismo). 
Descreve-se, também, o volume da fala e se ocorre algum 
defeito na verbalização, tais como: afasia (prejuízo na 
compreensão ou transmissão de idéias, através da 
linguagem, que é devido à lesões ou doenças nos centros 
cerebrais envolvidos com a linguagem8 ), disartria 
(incapacidade na articulação das palavras), gagueira, 
rouquidão, etc. 
 
▪ Progressão da fala 
Deve ser observada a quantidade e a velocidade da 
verbalização do paciente, durante a entrevista. Algumas 
alterações possíveis são listadas abaixo: 
- Linguagem quantitativamente diminuída - o paciente 
restringe sua fala ao mínimo necessário, com respostas 
monossilábicas ou muito sucintas, sem sentenças ou 
comentários adicionais. 
- Fluxo lento - são notadas longas pausas entre as palavras 
e/ou latência para iniciar uma resposta. 
- Prolixidade - o paciente fala muito, discorrendo 
longamente sobre todos os tópicos, porém ainda dentro dos 
limites de uma conversação normal. 
- Fluxo acelerado - o paciente fala, continuamente, e com 
velocidade aumentada. O examinador, geralmente, 
encontra dificuldade ou não consegue interromper o 
discurso do paciente. 
▪ Forma do pensamento 
Neste item, deve ser examinada a organização formal do 
pensamento, sua continuidade e eficácia em atingir um 
determinado objetivo. Alguns distúrbios observados neste 
item são: 
- Circunstancialidade - o objetivo final de uma determinada 
fala é longamente adiado, pela incorporação de detalhes 
irrelevantes e tediosos. 
- Tangencialidade - o objetivo da fala não chega a ser 
atingido ou não é claramente definido. O paciente afasta-se 
do tema que está sendo discutido, introduzindo 
pensamentos aparentemente não relacionados, dificultando 
uma conclusão. O paciente fala de forma tão vaga, que 
apesar da fala estar quantitativamente adequada, pouca 
informação é transmitida (pobreza do conteúdo do 
pensamento). 
- Perseveração - o paciente repete a mesma resposta à uma 
variedade de questões, mostrando uma incapacidade de 
mudar sua resposta a uma mudança de tópico. 
- Fuga de idéias - ocorre sempre na presença de um 
pensamento acelerado e caracteriza-se pelas associações 
inapropriadas entre os pensamentos, que passam a serem 
feitas pelo som ou pelo ritmo das palavras (associações 
ressonantes). 
- Pensamento incoerente - ocorre uma perda na associação 
lógica entre partes de uma sentença ou entre sentenças 
(afrouxamento de associações). Numa forma extrema de 
incoerência, observa-se uma seqüência incompreensível de 
frases ou palavras (salada de palavras). 
- Bloqueio de pensamento - ocorre uma interrupção súbita 
da fala, no meio de uma sentença. Quando o paciente 
consegue retomar o discurso, o faz com outro assunto, sem 
conexão com a ideação anterior. 
- Neologismos - o paciente cria uma palavra nova e 
ininteligível para outras pessoas, geralmente uma 
condensação de palavras existentes. 
 - Ecolalia - repetição de palavras ou frases ditas pelo 
interlocutor, às vezes com a mesma entonação e inflexão de 
voz. 
▪ Conteúdo do pensamento 
Neste item, investigam-se os conceitos emitidos pelo 
paciente durante a entrevista e sua relação com a realidade. 
Deve-se assinalar: 
Tema predominante e/ou com características peculiares, 
tais como:- 
- Ansiosos - preocupações exageradas consigo mesmo, com 
os outros ou com o futuro. 
- Depressivos - desamparo, desesperança, ideação suicida, 
etc. 
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
- Fóbico - medo exagerado ou patológico diante de algum 
tipo de estímulo ou situação. 
- Obsessivos - pensamentos recorrentes, invasivos e sem 
sentido, que a pessoa reconhece como produtos de sua 
própria mente e tenta afastá-los da consciência. Podem ser 
acompanhados de comportamentos repetitivos, 
reconhecidos como irracionais, que visam neutralizar algum 
desconforto ou situação temida (Compulsões) 
▪ Logicidade do pensamento 
Logicidade do pensamento, ou o quanto o pensamento pode 
ser sustentado por dados da realidade do paciente. Alguns 
tipos de pensamento ilógico são descritos abaixo: 
 
- Ideias supervalorizadas - o conteúdo do pensamento 
centraliza-se em torno de uma ideia particular, que assume 
uma tonalidade afetiva acentuada, é irracional, porém 
sustentada com menos intensidade que uma ideia delirante. 
- Delírios - crenças que refletem uma avaliação falsa da 
realidade, não são compartilhadas por outros membros do 
grupo sócio-cultural do paciente e das quais não pode ser 
dissuadido, através de argumentação contrária, lógica e 
irrefutável. Os delírios podem ser primários, quando não 
estão associados a outros processos psicológicos, p.ex.,inserção de pensamento (crê que pensamentos são 
colocados em sua cabeça), irradiação de pensamento 
(acredita que os próprios pensamentos são audíveis ou 
captados pelos outros) e secundários, quando vinculados a 
outros processos psicológicos( derivados de uma alucinação, 
associados à depressão ou mania) . Os delírios podem ser 
descritos em função de seu grau de organização, em: 
sistematizados (relacionados a um único tema, mantendo 
uma lógica interna, ainda que baseada em premissas falsas, 
o que pode conferir maior credibilidade) e não 
sistematizados (quando envolvem vários temas, são mais 
desorganizados e pouco convincentes). Os delírios podem 
ser descritos, também, pelo seu tema predominante, p. ex., 
como delírio de referência (atribuição de um significado 
pessoal a observações ou comentários neutros), 
persecutório (idéia de que está sendo atacado, incomodado, 
prejudicado, perseguido ou sendo objeto de conspiração), 
de grandiosidade (o conteúdo envolve poder, conhecimento 
ou importância exagerados), somáticos (o conteúdo envolve 
uma mudança ou distúrbio no funcionamento corporal), de 
culpa (acredita ter cometido uma falta ou pecado 
imperdoável), de ciúmes (acredita na infidelidade do 
parceiro), de controle (acredita que seus pensamentos, 
sentimentos e ações são controlados por alguma força 
externa). 
▪ Capacidade de abstração 
Reflete a capacidade de formular conceitos e generalizações. 
A incapacidade de abstração é referida como pensamento 
concreto. Este item pode ser avaliado, através da observação 
de algumas manifestações espontâneas, durante a 
entrevista (p.ex., diante da pergunta “como vai” o paciente 
responde “vou de ônibus”), ou através da solicitação para 
que o paciente interprete provérbios habituais para sua 
cultura. 
SENSO – PERCEPÇÃO 
O examinador deverá avaliar se as sensações e percepções 
do paciente resultam da estimulação esperada dos 
correspondentes órgãos do sentido. Para isso, pode valer-se 
de relatos espontâneos de percepções alteradas; da 
observação de comportamentos sugestivos de percepções, 
na ausência de estímulos externos (conversar consigo 
mesmo, rir sem motivo, olhar repentinamente em 
determinada direção, na ausência de estímulo aparente); ou, 
ainda, pode formular perguntas diretas sobre tais alterações 
(p.ex., “Você já teve experiências estranhas, que a maioria 
das pessoas não costumam ter?” “Você já ouviu barulhos ou 
vozes, que outras pessoas, estando próximas, não 
conseguiram ouvir?”). As principais alterações da senso-
percepção são comentadas abaixo: 
- Despersonalização: refere-se à sensação de estranheza, 
como se seu corpo, ou partes dele não lhe pertencessem, ou 
fossem irreais. 
- Desrealização: o ambiente ao redor parece estranho e 
irreal, como se “as pessoas ao seu redor estivessem 
desempenhando papéis”. 
- Ilusão: interpretação perceptual alterada, resultante de um 
estímulo externo real. 
- Alucinações: percepção sensorial na ausência de 
estimulação externa do órgão sensorial envolvido. As 
alucinações podem ser: auditivas (sons ou vozes; as vozes 
podem dirigir-se ao paciente ou discutirem entre si sobre 
ele), visuais (luzes ou vultos até cenas em movimento, 
nítidas e complexas), táteis (toque, calor, vibração, dor, etc.), 
olfatórias e gustativas. As alucinações que ocorrem no 
estado de sonolência, que precede o sono (hipnagógicas) e 
no estado semiconsciente, que precede o despertar 
(hipnopômpicas) são associadas ao sono normal e não são, 
necessariamente, patológicas. 
 
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
AFETIVIDADE E HUMOR 
A avaliação do afeto inclui a expressividade, o controle e a 
adequação das manifestações de sentimentos, envolvendo a 
intensidade, a duração, as flutuações do humor e seus 
componentes somáticos. Considera-se humor a tonalidade 
de sentimento mantido pelo paciente durante a avaliação. 
Para a avaliação desta função considera-se: 
a) o conteúdo verbalizado; 
b) o que se observa ou se deduz do tom de voz, da expressão 
facial, da postura corporal; 
c) a maneira como o paciente relata experimentar os 
próprios sentimentos, o que pode requerer um 
questionamento específico sobre “como os sentimentos são 
experimentados” 
d) o relato de oscilações e variações de humor no curso do 
dia. 
 
- Tonalidade emocional: avalia-se a tonalidade emocional 
predominante durante a entrevista, observando-se a 
presença e a intensidade de manifestações de: ansiedade, 
pânico, tristeza, depressão, apatia, hostilidade, raiva, 
euforia, elação, exaltação, desconfiança, ambivalência, 
perplexidade, indiferença, embotamento afetivo 
(virtualmente, sem expressão afetiva, p. ex. voz monótona, 
face imóvel). 
- Modulação: Refere-se ao controle sobre os afetos, deve-se 
observar a presença de hipomodulação, associada à rigidez 
afetiva, caracterizada pela manutenção de uma certa fixidez 
no afeto externalizado, e de hipermodulação, associada à 
labilidade afetiva, caracterizada por marcadas oscilações no 
humor manifesto. 
- Associação pensamento/afeto: A avaliação da relação do 
conteúdo do pensamento ao afeto manifesto constitui-se 
em ponto importante, devendo-se considerar: o nível de 
associação / dissociação e a adequação / inadequação das 
manifestações, para tal deve-se levar em conta a temática e 
o contexto na qual ela está inserida. 
- Equivalentes orgânicos: Os equivalentes ou concomitantes 
orgânicos do afeto devem ser avaliados com base nas 
alterações do apetite, peso, sono e libido. 
É importante observar na avaliação desta a função, a 
presença de manifestações ou risco de auto e 
heteroagressividade, tais como idéias ou planos de suicídio, 
ou ainda idéias ou projetos de homicídio ou agressão voltada 
para o meio. 
Deve-se considerar, ainda, na avaliação desta função as 
manifestações relativas a auto-estima, e a volição, enquanto 
a energia que a pessoa está investindo e a disposição com a 
qual está se envolvendo na realização de seus projetos 
pessoais. 
Obs.: Os sentimentos despertados no avaliador durante a 
entrevista, podem também ser um recurso útil na avaliação do 
afeto, para tal é necessário que o entrevistador seja mais 
experiente e capaz de perceber os elementos transferenciais. 
ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO 
Na avaliação é considerada a capacidade de focalizar e 
manter a atenção em uma atividade, envolvendo a 
atenção/distração, frente aos estímulos externos ou 
internos. Esta função quando prejudicada interfere, 
diretamente, no curso da entrevista, requerendo que o 
entrevistador repita as perguntas feitas. A avaliação pode 
envolver, além da observação da própria situação de 
entrevista, a proposição de tarefas/ testes simples como: 
a) dizer os dias da semana e os meses do ano em uma dada 
ordem proposta pelo entrevistador, e 
b) realizar cálculos simples. A complexidade das tarefas deve 
levar em conta o nível sócio-cultural do paciente avaliado. É 
importante observar o quanto a dificuldade está associada à 
atenção ou relacionada a um distúrbio de ansiedade, do 
humor ou da consciência 
- Manutençãoo prejudicada: dificuldade de manter a 
atenção focalizada sobre os estímulos mais relevantes do 
meio, desviando a atenção para os estímulos irrelevantes e 
exigindo intervenções do entrevistador para manter a 
atenção focalizada nos estímulos principais. 
- Focalização prejudicada: dificuldade de focalizar a atenção 
sobre os estímulos mais relevantes do meio, não atendendo 
às intervenções do entrevistador. 
- Desatençãoo Seletiva: desatenção frente a temas que 
geram ansiedade. 
MEMÓRIA 
A memória começa ser avaliada durante a obtenção da 
história clínica do paciente, com a verificação de como ele se 
recorda de situações da vida pregressa, tais como, onde 
estudou, seu primeiro emprego, perguntas sobre pessoas 
significativas de sua vida passada, tratamentos anteriores, 
etc. A memória pode ser avaliada, também, através de testes 
específicos, alguns deles bastante simples, e que podem ser 
introduzidos numa entrevistapsiquiátrica habitual. A 
investigação da memória é, particularmente, importante 
quando se suspeita de quadros de etiologia orgânica. 
Habitualmente, divide-se a avaliação da memória em três 
tipos: 
- Memória Remota: avalia a capacidade de recordar-se de 
eventos do passado, podendo ser avaliada durante o relato 
feito pelo paciente, de sua própria história. 
- Memória Recente: avalia a capacidade de recordar-se de 
eventos que ocorreram nos últimos dias, que precederam a 
avaliação. Para esta avaliação o examinador pode perguntar 
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
sobre eventos verificáveis dos últimos dias, tais como: o que 
o paciente comeu numa das refeições anteriores, o que viu 
na TV na noite anterior, etc. 
 
- Memória Imediata: avalia a capacidade de recordar-se do 
que ocorreu nos minutos precedentes. Pode ser testada, 
pedindo-se ao paciente que memorize os nomes de três 
objetos não relacionados e depois de 5 minutos, durante os 
quais se retomou a entrevista normal, solicitando-se que o 
paciente repita esses três nomes 
Obs.: Ao observar-se uma deficiência de memória é importante, 
para alguns diagnósticos diferenciais, verificar-se como o paciente 
lida com ela, ou seja: tem uma reação catastrófica, diante da 
deficiência; nega ou tenta não valorizar o déficit de memória; 
preenche lacunas de memória com recordações falsas 
(confabulação). 
ORIENTAÇÃO 
A avaliação envolve aspectos auto e alopsíquicos. 
- Autopsíquica: Os aspectos autopsíquicos se caracterizam 
pelo reconhecimento de si envolvendo: 
a) saber o próprio nome; 
b) reconhecer as pessoas do seu meio imediato, através de 
seu nome ou de seu papel social 
c) saber quem é o entrevistador. 
- Alopsíquica: Com relação aos aspectos alopsiquícos são 
avaliados: 
a) a orientação no tempo, englobando saber informar - o 
ano, o mês, o dia da semana, o período do dia, ou ainda a 
estação do ano, ou marcos temporais como Natal/ Carnaval/ 
Páscoa; 
b) a orientação no espaço envolve saber informar onde se 
encontra no momento, nomeando o lugar, a cidade e o 
estado 
CONSCIÊNCIA 
Neste item, deve ser registrado o nível de consciência do 
paciente, dentro do contínuo que vai desde o estado de 
consciência plena (percebe o que ocorre a sua volta e 
responde à essa percepção) até o coma (não responde à 
estimulação em diferentes graus). Esta avaliação decorre do 
contacto com o paciente durante a entrevista. Algumas 
alterações de consciência são descritas abaixo: 
- Sonolência: lentificação geral dos processos ideacionais, 
com predisposição para dormir, na ausência de estimulação. 
- Obnubilação da consciência: diminuição do nível de vigília, 
acompanhado de dificuldade em focalizar a atenção e 
manter um pensamento ou comportamento objetivo. - 
Estupor: permanece em mutismo e sem movimentos, com 
preservação relativa da consciência. 
- Delirium: quadro agudo caracterizado por diminuição do 
nível de vigília, acompanhado de alterações cognitivas 
(desorientação, déficits de memória) ou perceptuais (ilusões 
e alucinações). 
- Estado crepuscular: estreitamento da consciência, 
podendo manter comportamentos motores relativamente 
organizados, na ausência de um estado de consciência plena. 
Ocorre, predominantemente, em estados epilépticos. 
CAPACIDADE INTELECTUAL 
A avaliação desta função, de forma empírica na situação de 
entrevista, envolve uma estimativa do nível de desempenho 
intelectual esperado, em função da escolaridade e do nível 
sócio-cultural, enquanto capacidade de compreensão e 
integração de experiências. 
 
Trata-se de uma função complexa, pois seu 
comprometimento pode refletir o prejuízo de outras funções 
como pensamento, atenção - concentração, ou ainda a não 
aquisição de habilidades, em função de baixa escolaridade 
ou de experiência em um meio sócio-cultural pobre. 
Na situação de entrevista deve ser observado: o vocabulário, 
sua propriedade e nível de complexidade, e a capacidade de 
articular conceitos, de abstrair e generalizar. 
- Prejuízo intelectual: Para a avaliação deste item, a 
observação da situação de entrevista, pode ser 
complementada com a proposição de atividades como: 
a) perguntas que avaliam as informações sobre assuntos ou 
temas gerais (por exemplo, quem é o Presidente da 
República); 
b) a resolução de problemas aritméticos (por exemplo, 
quanto receber de troco em uma situação de compra e 
venda); 
c) a leitura de textos escritos comentando a compreensão 
dos mesmos. É importante observar o nível sócio-cultural do 
paciente na seleção das atividades e na complexidade das 
mesmas. 
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
- Deterioração: Deve-se estar atento à presença de uma 
deterioração global, com prejuízo no funcionamento 
intelectual, sem obnubilação da consciência no caso de 
demência (disfunção cerebral orgânica) ou pseudodemência 
(depressão). 
A avaliação psicodiagnóstica, através dos testes específicos 
de inteligência, deve ser solicitada quando foi observado na 
entrevista a presença de déficits específicos. 
JUÍZO CRÍTICO DA REALIDADE 
Esta avaliação deve ser feita durante a obtenção da história 
do paciente, sendo os testes formais de pouca utilidade. 
Objetiva verificar se as ações do paciente são determinadas 
por uma avaliação coerente da realidade, do ponto de vista 
do funcionamento mental e da capacidade adaptativa, 
incluindo o nível realista dos projetos e da avaliação das 
próprias realizações. Considera-se que o juízo crítico da 
realidade está alterado, por exemplo, quando as decisões do 
paciente são determinadas por delírios ou alucinações. 
EXAME FÍSICO GERAL 
Existe uma falsa crença de que o doente mental sofre menos 
frequentemente de doenças físicas, que são por isso 
subdiagnosticadas. Muitos transtornos mentais possuem 
etiologia orgânica como a depressão no hipotireoidismo, ou 
levam a complicações físicas – por exemplo, um quadro de 
desnutrição em função de perda do apetite na depressão. 
 
No exame físico deve ser dada ênfase ao exame neurológico 
e ao do sistema endócrino. 
A inclusão e a extensão do exame físico dependerão da 
natureza e do local da entrevista psiquiátrica. Com pacientes 
ambulatoriais, pouco ou nenhum exame físico pode ser 
realizado rotineiramente, enquanto no pronto-socorro ou 
em pacientes hospitalizados, um exame físico mais 
completo é justificado. 
▪ Sinais vitais, peso, circunferência da cintura, índice de 
massa corporal e altura podem ser medidas importantes 
a acompanhar, em particular devido aos efeitos 
potenciais dos medicamentos psiquiátricos ou de 
doenças sobre esses parâmetros. 
▪ A Escala de Movimentos Involuntários Anormais 
(Abnormal Involuntary Movement Scale; AIMS) é um 
teste de triagem importante a ser seguido quando se 
utiliza medicamento antipsicótico para monitorar 
efeitos colaterais potenciais, como discinesia tardia. 
Uma avaliação neurológica focalizada é uma parte 
importante da avaliação psiquiátrica. 
▪ Naqueles casos em que um exame físico não é realizado, 
o psiquiatra deve perguntar ao paciente quando o 
último foi feito e por quem. Como parte da comunicação 
com aquele médico, o psiquiatra deve indagar sobre 
quaisquer achados anormais. 
ANAMNESE – AVALIAÇÃO E PLANO 
Agora que você já entende os conceitos da psicopatologia, já 
está capaz de realizar o exame do estado mental de um 
paciente. Depois de descrito o exame do estado mental, 
temos na anamnese os itens: 
▪ Suspeitas diagnósticas e conduta. Nas suspeitas 
diagnósticas escrevemos os possíveis diagnósticos que 
pensamos para o paciente de acordo com suas queixas 
e com o exame e, na conduta, todas as atitudes que 
tomamos para tratar o paciente, desde a prescrição de 
medicamentos, até encaminhamentos para outros 
especialistas. 
A finalidade da obtenção de dados da entrevista psiquiátrica 
é o desenvolvimento de uma formulação e um diagnóstico 
(diagnósticos), bem como recomendações e o planejamento 
do tratamento. Nessa parte do processo de avaliação,a 
obtenção de dados é suplantada pelo processamento de 
dados no qual os vários temas contribuem para um 
entendimento biopsicossocial da doença do paciente. 
Embora seja colocada próximo do fim da avaliação relatada 
ou escrita, a formulação, na verdade, se desenvolve como 
parte de um processo dinâmico ao longo de toda a entrevista 
à medida que novas hipóteses são criadas e testadas por 
novos dados obtidos. A formulação deve incluir um breve 
resumo da história, da apresentação e do estado atual do 
paciente. 
A avaliação e a formulação aparecerão nas anotações por 
escrito correlacionadas à entrevista psiquiátrica, porém a 
discussão com o paciente pode ser apenas um resumo dessa 
avaliação de acordo com sua capacidade de entender e 
interpretar as informações. O planejamento e as 
recomendações de tratamento, em contrapartida, são 
partes integrantes da entrevista psiquiátrica e devem ser 
discutidos de forma explícita e detalhada com o paciente. 
Se um relacionamento de tratamento está sendo iniciado, 
então a estrutura desse tratamento deve ser discutida. O 
foco principal será o manejo da medicação, a psicoterapia, 
ou ambos? Qual será a frequência das visitas? Como o 
médico será pago pelo serviço e quais são as expectativas 
para o paciente ser considerado envolvido no tratamento? 
As recomendações de medicação devem incluir uma 
discussão de possíveis medicamentos, os riscos e benefícios 
de tratamento sem medicamento e outras opções de 
tratamento alternativo. 
EXAMES COMPLEMENTARES 
Duas questões recentes levaram a avaliação clínica e os 
exames laboratoriais em pacientes psiquiátricos para o 
centro das atenções da maioria dos médicos: o amplo 
reconhecimento do problema generalizado da síndrome 
metabólica na psiquiatria clínica e a expectativa de vida mais 
curta de pacientes psiquiátricos comparada com a da 
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
população em geral. Os fatores que podem contribuir para a 
comorbidade clínica incluem abuso de tabaco, álcool e 
drogas, hábitos dietéticos ruins e obesidade. Além disso, 
muitos medicamentos psicotrópicos estão associados com 
riscos à saúde que incluem obesidade, síndrome metabólica 
e hiperprolactinemia. Consequentemente, a monitoração da 
saúde física de pacientes psiquiátricos tem-se tornado uma 
questão mais proeminente. 
 
Uma abordagem lógica e sistemática ao uso da avaliação 
clínica e de exames laboratoriais pelo psiquiatra é vital para 
alcançar os objetivos de chegar a diagnósticos corretos, 
identificar comorbidades clínicas, implementar tratamento 
adequado e fornecer tratamento custo-efetivo. Com 
respeito ao diagnóstico ou tratamento de doença clínica, a 
consulta com colegas de outras especialidades é importante. 
Os bons médicos reconhecem os limites de sua expertise e a 
necessidade de consultar seus colegas não psiquiatras. 
MONITORAÇÃO DA SAÚDE FÍSICA 
A monitoração da saúde física de pacientes psiquiátricos tem 
dois objetivos: fornecer tratamento adequado para doenças 
existentes e proteger a saúde atual do paciente de possíveis 
prejuízos futuros. A prevenção de doenças deve começar 
com um conceito claro da condição a ser evitada. De maneira 
ideal, em psiquiatria isso seria um foco em condições 
comumente encontradas que poderiam ser uma fonte 
significativa de morbidade ou mortalidade. É claro que, em 
psiquiatria, um pequeno número de problemas clínicos está 
na base de um número significativo de prejuízos e mortes 
prematuras. 
EXAMES DE IMAGEM 
Os exames por imagens do sistema nervoso central (SNC) 
podem ser divididos amplamente em dois domínios: 
estrutural e funcional. As imagens estruturais fornecem uma 
visualização detalhada, não invasiva, da morfologia do 
cérebro, enquanto as funcionais fornecem uma visualização 
da distribuição espacial de processos bioquímicos 
específicos. As imagens estruturais incluem a TC de raios X e 
a imagem por ressonância magnética (IRM). As imagens 
funcionais incluem a tomografia por emissão de pósitrons 
(PET), a tomografia computadorizada por emissão de fóton 
único (SPECT), a IRM funcional (IRMf) e a espectroscopia por 
ressonância magnética (ERM). Com a limitada exceção do 
escaneamento por PET, as técnicas de imagens funcionais 
são consideradas instrumentos de pesquisa que ainda não 
estão prontos para uso clínico de rotina. 
IMAGEM POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA 
Os escaneamentos por IRM são usados para distinguir 
anormalidades cerebrais estruturais que podem estar 
associadas com as alterações comportamentais de um 
paciente. Esses exames fornecem ao médico imagens de 
estruturas anatômicas vistas de perspectivas transversais, 
coronais ou oblíquas. A IRM pode detectar uma grande 
variedade de anormalidades estruturais. Ela é 
particularmente útil para examinar os lobos temporais, o 
cerebelo e as estruturas subcorticais profundas e é única em 
sua capacidade de identificar hiperintensidades da 
substância branca periventricular. Os escaneamentos por 
IRM são úteis para examinar doenças específicas, como 
neoplasias não meníngeas, malformações vasculares, focos 
convulsivos, transtornos desmielinizantes, transtornos 
neurodegenerativos e infartos. As vantagens da IRM incluem 
a ausência de radiação ionizante e de agentes de contraste à 
base de iodo. Ela é contraindicada quando o paciente tem 
marca-passo, clipes de aneurisma ou corpos estranhos 
ferromagnéticos. 
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA 
Os escaneamentos por TC são usados para identificar 
anormalidades cerebrais estruturais que podem contribuir 
para as anormalidades comportamentais de um paciente. 
Esses exames fornecem ao médico imagens de raio X 
transversais do cérebro. A TC pode detectar uma grande 
variedade de anormalidades estruturais nas regiões corticais 
e subcorticais do cérebro. Ela é útil quando um médico está 
buscando evidências de um AVC, hematoma subdural, 
tumor ou abscesso. Esses estudos também permitem a 
visualização de fraturas de crânio. Os escaneamentos por TC 
são a modalidade preferida quando existe suspeita de um 
tumor meníngeo, lesões calcificadas, hemorragia 
subaracnoide ou parenquimal aguda ou infarto parenquimal 
agudo. 
 
Esses escaneamentos podem ser realizados com ou sem 
contraste. O propósito do contraste é aumentar a 
visualização de doenças que alteram a barreira 
hematencefálica, tais como tumores, AVCs, abscessos e 
outras infecções. 
 
 
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TOMOGRAFIA POR EMISSÃO DE PÓSITRONS 
Os escaneamentos por PET são realizados 
predominantemente em centros médicos universitários. 
Eles requerem um tomógrafo de emissão de pósitron (o 
escâner) e um cíclotron para criar os isótopos relevantes. 
Esse tipo de escaneamento envolve a detecção e a medição 
da radiação de pósitron emitida após a injeção de um 
composto que foi marcado com um isótopo emissor de 
pósitron. Em geral, os escaneamentos por PET utilizam 
fluorodesoxiglicose (FDG) para medir o metabolismo de 
glicose cerebral regional. A glicose é a principal fonte de 
energia para o cérebro. Esses escaneamentos fornecem 
informações sobre a ativação relativa de regiões do cérebro, 
visto que o metabolismo de glicose regional é diretamente 
proporcional à atividade neuronal. Os escaneamentos 
cerebrais com FDG são úteis no diagnóstico diferencial de 
doença demencial. O achado mais consistente na literatura 
sobre a PET é o padrão de hipometabolismo de glicose 
temporal-parietal em pacientes com demência do tipo 
Alzheimer. 
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA POR EMISSÃO DE 
FÓTON ÚNICO 
A SPECT está disponível na maioria dos hospitais, mas 
raramente é usada para estudar o cérebro. Ela costuma ser 
utilizada para estudar outros órgãos, como o coração, o 
fígado e o baço. Alguns estudos recentes, entretanto, 
tentam correlacionar as imagens cerebrais por SPECT com 
transtornos mentais. 
IMAGEM POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA FUNCIONAL 
A IRMf é um escaneamento usado na pesquisa para medir o 
fluxo sanguíneo cerebral regional. Com frequência, os dadosda IRMf são sobrepostos a imagens de IRM convencionais, 
resultando em mapas detalhados da estrutura e da função 
do cérebro. A medição do fluxo sanguíneo envolve o uso da 
molécula heme como agente de contraste endógeno. A taxa 
de fluxo de moléculas heme pode ser medida, resultando em 
uma avaliação do metabolismo cerebral regional. 
ESPECTROSCOPIA POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA 
A ERM é outro método de pesquisa para medir o 
metabolismo cerebral regional. Os escaneamentos por ERM 
são realizados em dispositivos de IRM convencionais que 
passaram por atualizações específicas de hardware e 
software. As atualizações permitem que o sinal dos prótons 
seja suprimido e outros compostos sejam medidos. (As 
imagens por IRM convencional são, na realidade, um mapa 
da distribuição espacial de prótons encontrados na água e na 
gordura.) 
ANGIOGRAFIA POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA 
A angiografia por ressonância magnética (ARM) é um 
método para criar mapas tridimensionais do fluxo sanguíneo 
cerebral. Os neurologistas e os neurocirurgiões são os que 
mais utilizam esse teste. Ele raramente é usado por 
psiquiatras. 
ESTUDOS DE TOXICOLOGIA 
Os exames urinários para drogas de abuso são imunoensaios 
que detectam barbitúricos, benzodiazepínicos, metabólitos 
de cocaína, opiáceos, fenciclidina, tetra-hidrocanabinol e 
antidepressivos tricíclicos. Esses testes rápidos fornecem 
resultados em uma hora. Entretanto, são testes de triagem; 
uma testagem adicional é necessária para confirmar os 
resultados. 
▪ Concentração de medicamentos 
A testagem para determinar as concentrações sanguíneas de 
certos medicamentos psicotrópicos permite ao médico 
determinar se os níveis sanguíneos dos medicamentos estão 
em níveis terapêuticos, subterapêuticos ou tóxicos. 
Sintomas psiquiátricos não são raros quando medicamentos 
prescritos estão em níveis tóxicos. Em pacientes debilitados 
e nos idosos, sintomas patológicos podem ocorrer em 
concentrações terapêuticas. Os valores de referência 
normais variam entre os laboratórios. É importante verificar 
com o laboratório que realiza o exame para obter sua 
variação de referência normal. 
 
▪ Concentração de drogas 
A testagem para drogas de abuso geralmente é realizada em 
amostras de urina. Também pode ser feita em amostras de 
sangue, hálito (álcool), cabelo, saliva e suor. Os exames de 
urina fornecem informações sobre uso recente de drogas de 
abuso frequente, como álcool, anfetaminas, cocaína, 
maconha, opioides e fenciclidina junto com 3,4-
metilenedioximetanfetamina (MDMA) (ecstasy). Muitas 
substâncias podem produzir falso-positivos em exames de 
urina para drogas. Quando há suspeita de um falso-positivo, 
um teste confirmatório pode ser solicitado. Um exame 
toxicológico qualitativo abrangente em geral é realizado por 
cromatografia líquida e gasosa. Sua realização pode exigir 
muitas horas, e ele raramente é feito em situações clínicas 
de rotina. Ele costuma ser realizado em pacientes com 
toxicidade inexplicável e um quadro clínico atípico. 
Obs.: As avaliações toxicológicas qualitativas podem ser úteis 
para tratar pacientes que tiveram superdosagem, quando 
combinadas com avaliação clínica e conhecimento de quando a 
ingestão ocorreu. 
AVALIAÇÕES ENDÓCRINAS 
As doenças endócrinas são de grande relevância na 
psiquiatria. O tratamento de doenças psiquiátricas é 
complicado por doenças endócrinas comórbidas. Essas 
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
doenças, muitas vezes, têm manifestações psiquiátricas. Por 
essas razões, a avaliação para doença endócrina costuma ser 
de relevância para o psiquiatra. 
 
DOENÇA SUPRARRENAL 
A doença suprarrenal pode ter manifestações psiquiátricas, 
incluindo depressão, ansiedade, mania, demência, psicose e 
delirium. Todavia, pacientes com essa doença raramente 
recebem atenção de psiquiatras. A avaliação e o tratamento 
desses pacientes são realizados em conjunto com 
especialistas. Níveis plasmáticos de cortisol baixos são 
encontrados na doença de Addison. Esses pacientes podem 
ter sintomas que também são comuns em condições 
psiquiátricas, incluindo fadiga, anorexia, perda de peso e 
indisposição. Os pacientes também podem ter 
comprometimento da memória, confusão ou delirium. É 
possível ocorrer depressão ou psicose com alucinações e 
delírios. Níveis elevados de cortisol são observados na 
síndrome de Cushing. Cerca de metade de todos os 
pacientes com essa síndrome desenvolve sintomas 
psiquiátricos, entre os quais labilidade, irritabilidade, 
ansiedade, ataques de pânico, humor deprimido, euforia, 
mania ou paranoia. As disfunções cognitivas podem incluir 
lentidão cognitiva e memória de curto prazo deficiente. Os 
sintomas geralmente melhoram quando o cortisol se 
normaliza. Se não, ou se os tomas forem graves, o 
tratamento psiquiátrico pode ser necessário. 
Obs.: Foi verificado que os níveis de cortisol são úteis na avaliação 
ou no tratamento de doenças psiquiátricas primárias. Em 
particular, o teste de supressão com dexametasona (TSD) 
continua sendo um instrumento de pesquisa na psiquiatria que 
não é usado no tratamento clínico de rotina. 
USO DE ESTEROIDES ANABOLIZANTES 
O uso dessas substâncias tem sido associado com 
irritabilidade, agressividade, depressão e psicose. Atletas e 
fisiculturistas são abusadores comuns de esteroides 
anabolizantes. Amostras de urina podem ser usadas para a 
triagem desses agentes. Visto que tantos compostos foram 
sintetizados, uma variedade de testes pode ser necessária 
para confirmar o diagnóstico, dependendo do composto que 
tem sido utilizado. A consulta com um especialista é 
aconselhada. Geralmente, os andrógenos além da 
testosterona podem ser detectados por cromatografia 
gasosa e espectroscopia de massa. 
HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO 
A arginina vasopressina (AVP), também chamada de 
hormônio antidiurético (ADH), está diminuída no diabetes 
insípido (DI) central. O DI pode ser central (devido à hipófise 
ou ao hipotálamo) ou nefrogênico. O DI nefrogênico pode 
ser adquirido ou causado por uma condição hereditária 
ligada ao X. O DI induzido por lítio é um exemplo de uma 
forma dessa doença adquirida. Foi demonstrado que o lítio 
diminui a sensibilidade dos túbulos renais a AVP. Pacientes 
com DI central respondem à administração de vasopressina 
com uma diminuição na produção de urina. O DI central 
secundário pode se desenvolver em resposta a traumatismo 
craniano que produza dano à hipófise ou ao hipotálamo. 
GONADOTROFINA CORIÔNICA HUMANA 
A gonadotrofina coriônica humana (hCG) pode ser avaliada 
na urina e no sangue. O exame de urina para hCG é a base 
para o teste de gravidez mais comumente utilizado. Esse 
teste imunométrico é capaz de detectar gravidez cerca de 
duas semanas após um período menstrual esperado ter 
passado. Os exames de rotina são mais precisos quando 
realizados 1 a 2 semanas após a ausência de um período 
menstrual, e não há uma precisão confiável até o período de 
duas semanas ter passado. Entretanto, existem exames de 
hCG urinários ultrassensíveis que podem detectar gravidez 
precisamente sete dias após a fertilização. Os testes de 
gravidez muitas vezes são obtidos antes do início do 
tratamento com certos medicamentos psicotrópicos, como 
lítio, carbamazepina e valproato, que estão associados com 
anomalias congênitas. 
PARATORMÔNIO 
O paratormônio (hormônio paratireoidiano) modula as 
concentrações séricas de cálcio e fósforo. A desregulação 
nesse hormônio e a resultante produção de anormalidades 
no cálcio e no fósforo podem produzir depressão ou 
delirium. 
 
PROLACTINA 
Os níveis de prolactina podem se tornar elevados em 
resposta à administração de agentes antipsicóticos. 
Elevações na prolactina sérica resultam do bloqueio de 
receptores de dopamina na hipófise. Esse bloqueio produz 
aumento na síntese e na liberação de prolactina. 
Obs.: Os níveis de prolactina podem se elevar um pouco após uma 
convulsão. Por essa razão, sua medição imediata após uma 
possível atividade convulsiva pode ajudar a diferenciaruma 
convulsão de uma pseudoconvulsão. 
 
 
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
HORMÔNIO TIREOIDIANO 
As doenças da tireoide estão associadas com muitas 
manifestações psiquiátricas e são mais comumente 
relacionadas com depressão e ansiedade, mas também 
podem dar origem a sintomas de pânico, demência e 
psicose. As doenças tireoidianas podem imitar a depressão. 
É difícil alcançar a eutimia se um paciente não estiver 
eutireóideo. 
LES 
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é um transtorno 
autoimune. Os testes para LES são embasados na detecção 
de anticorpos formados como parte da doença. Anticorpos 
antinucleares são encontrados em praticamente todos os 
pacientes com LES. Os níveis de anticorpo também são 
usados para monitorar a gravidade da doença. Um teste 
fluorescente é utilizado para detectar os anticorpos 
antinucleares. Esse teste pode ser positivo em uma 
variedade de doenças reumáticas. Por essa razão, um 
resultado positivo em geral é seguido por teste adicionais, 
incluindo um teste para detectar anticorpos antiácido 
desoxirribonucleico (DNA). Os anticorpos anti-DNA, quando 
associados com anticorpos antinucleares, são fortemente 
sugestivos de um diagnóstico de lúpus. Os anticorpos anti-
DNA são acompanhados para monitorar a resposta ao 
tratamento. 
FUNÇÃO PANCREÁTICA 
A medição da amilase sérica é usada para monitorar a função 
pancreática. Elevações nos níveis de amilase podem ocorrer 
em indivíduos abusadores de álcool que desenvolvem 
pancreatite. Os níveis séricos de amilase também podem ser 
fracionados em componentes salivares e pancreáticos. 
BIOQUÍMICA 
▪ Eletrólitos séricos 
Os níveis de eletrólitos séricos podem ser úteis na avaliação 
inicial de um paciente psiquiátrico. Esses níveis, muitas 
vezes, são anormais em indivíduos com delirium. 
Anormalidades também podem ocorrer em resposta à 
administração de medicamentos psicotrópicos. Níveis 
séricos de cloreto baixos podem ser encontrados em 
pacientes com transtornos alimentares que induzem o 
vômito. Os níveis séricos de bicarbonato podem ser elevados 
em pacientes que purgam ou que abusam de laxantes e 
costumam ser baixos naqueles que hiperventilam em 
resposta a ansiedade. 
 
 Potássio 
Hipocalemia pode estar presente em pacientes com 
transtornos alimentares que purgam ou abusam de laxantes 
e no vômito psicogênico. O abuso de diuréticos por esses 
pacientes também pode produzir hipocalemia. Níveis baixos 
de potássio estão associados com fraqueza e fadiga. 
Alterações no ECG características ocorrem com hipocalemia 
e consistem em arritmias cardíacas, ondas U, ondas T 
achatadas e depressão do segmento ST. 
 Fósforo 
Pacientes com transtornos alimentares com anorexia 
nervosa ou bulimia nervosa em geral recebem um razoável 
conjunto de exames laboratoriais-padrão, incluindo 
eletrólitos séricos (em particular potássio e fósforo), glicose 
sanguínea, teste de função tireoidiana, enzimas hepáticas, 
proteína total, albumina sérica, ureia, creatinina, 
hemograma completo e ECG. A amilase sérica é 
frequentemente avaliada em pacientes bulímicos. 
Obs.: Níveis séricos de fósforo baixos podem estar presentes em 
pacientes com transtornos alimentares com comportamento 
purgativo; também podem estar baixos em pacientes com 
ansiedade que hiperventilam. Hiperparatireoidismo pode 
produzir níveis séricos de fósforo baixos. Níveis elevados são 
observados no hipoparatireoidismo. 
 Magnésio 
Os níveis de magnésio podem estar baixos em indivíduos que 
abusam de álcool. Níveis de magnésio baixos estão 
associados com agitação, confusão e delirium. Se não 
tratados, é possível a ocorrência de convulsões e coma 
 Hiponatremia 
Hiponatremia é verificada na polidipsia psicogênica e na 
SIADH e em resposta a certos medicamentos, como 
carbamazepina. Níveis de sódio baixos estão associados com 
delirium. 
 Outras alterações 
Anormalidades do cálcio sérico estão relacionadas com uma 
variedade de alterações do comportamento. Níveis séricos 
de cálcio baixos estão associados com depressão, delirium e 
irritabilidade; níveis elevados, com depressão, psicose e 
fraqueza. O abuso de laxantes, comum em pacientes com 
transtornos alimentares, pode estar associado com 
hipocalcemia. Hipocalcemia secundária a 
hipoparatireoidismo pode ocorrer em pacientes que 
sofreram cirurgia por doença tireoidiana. Os níveis séricos de 
cobre estão baixos na doença de Wilson, uma anormalidade 
rara no metabolismo de cobre. Esse elemento é depositado 
no cérebro e no fígado, resultando em funcionamento 
intelectual diminuído, alterações de personalidade, psicose 
e um transtorno dos movimentos. Os sintomas geralmente 
estão presentes na segunda e terceira décadas de vida. A 
avaliação laboratorial para doença de Wilson inclui a 
medição de ceruloplasmina sérica, a proteína de transporte 
para o cobre, que é baixa, e do cobre urinário, medido em 
uma amostra de 24 horas, que é elevado 
 
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
OUTROS EXAMES 
▪ Função renal 
Os testes de função renal incluem ureia e a creatinina. 
Outros exames laboratoriais relevantes envolvem a análise 
urinária de rotina e a depuração de creatinina. A ureia 
elevada frequentemente resulta em letargia ou delirium. A 
ureia costuma estar elevada com a desidratação. As 
elevações de ureia muitas vezes estão associadas com 
depuração de lítio prejudicada. Um índice de função renal 
menos sensível é a creatinina. Elevações da creatinina 
podem indicar comprometimento renal extensivo. Níveis 
elevados ocorrem quando cerca de 50% dos néfrons estão 
comprometidos. 
 
▪ Função hepática 
Os testes da função hepática (TFHs) costumam incluir os 
níveis séricos de aminotransferases, fosfatase alcalina, γ-
glutamil transpeptidase e testes de função sintética, em 
geral as concentrações séricas de albumina e o tempo de 
protrombina, e a bilirrubina sérica, que reflete a capacidade 
de transporte hepático. 
▪ Vitaminas 
Folato e B12. Deficiências de folato e B12 são comuns em 
pacientes que abusam de álcool e estão associadas com 
demência; delirium; psicose, incluindo paranoia; fadiga; e 
alteração da personalidade. Folato e B12 podem ser 
medidos diretamente. Baixos níveis de folato podem ser 
encontrados em pacientes que usam pílulas 
anticoncepcionais ou outras formas de estrogênio, que 
bebem álcool ou que tomam fenitoína. 
▪ DSTs 
A testagem para doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) 
se tornou comum, dada a frequência atual dessas doenças. 
Algumas doenças psiquiátricas, como mania e abuso de 
substância, estão relacionadas com um risco mais alto de 
contrair DSTs. Essas doenças incluem herpes simples tipos 1 
e 2, clamídia, vírus da hepatite, gonorreia, sífilis e vírus de 
imunodeficiência humana (HIV). Os fatores de risco para 
uma DST incluem contato com profissionais do sexo, abuso 
de drogas, história anterior de DSTs, encontrar parceiros na 
internet, múltiplos parceiros sexuais, um parceiro sexual 
novo e ser jovem e solteiro. Outra doença a se pensar é 
causada pelo vírus Epstein-Barr. 
▪ Eletrencefalograma 
O EEG avalia a atividade elétrica cortical cerebral regional. A 
neurociência clínica tem uma longa história de uso do EEG. 
Ele pode ser usado de diferentes maneiras para estudar 
estados ou atividades cerebrais específicos por meio de 
modificações da técnica de coleta de dados ou dos próprios 
dados. Os dados do EEG podem ser exibidos em traçados 
sobre papel na maneira dos registros convencionais. 
De forma alternativa, podem ser digitalizados, e estes 
transformados, com frequência usando uma transformação 
Fourier, para produzir mapas cerebrais topográficos de 
atividade regional codificados por cores. Os períodos de 
coleta podem ser prolongados, e os dados podem ser 
exibidos eletronicamente junto com a monitoração do 
paciente por vídeo para fornecer avaliações telemétricas de 
portadores de epilepsia. As avaliações telemétricas são, em 
geral, realizadas na tentativa de correlacionar 
anormalidades comportamentaiscom atividade elétrica 
cerebral como parte do exame de transtornos convulsivos. 
Períodos prolongados de registro de EEG durante o sono, 
quando associados com o registro de um ECG de derivações 
e atividade muscular facial limitadas, resultam no EEG do 
sono ou polissonografia. Muitos médicos também utilizam o 
EEG para monitorar a administração de ECT. 
▪ ECG 
O ECG é uma representação gráfica da atividade elétrica do 
coração. As anormalidades nessa atividade estão 
correlacionadas com patologia cardíaca. O ECG é usado mais 
comumente na psiquiatria para avaliar os efeitos colaterais 
de medicamentos psicotrópicos. 
 
FONTES 
 Compêndio de Psiquiatria: Ciência do Comportamento e 
Psiquiatria Clínica – Kaplan e Sadock 
 Introdução à Psiquiatria - Andreasen 
 Semiologia Médica – Porto 
 Artigo: Semiologia psiquiátrica - Docentes do 
Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia 
Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da 
Universidade de São Paulo 
 
 
 
 
https://www.amazon.com.br/Comp%C3%AAndio-Psiquiatria-Ci%C3%AAncia-Comportamento-Cl%C3%ADnica/dp/8582713789/ref=sr_1_1?adgrpid=80710606505&dchild=1&gclid=Cj0KCQjwytOEBhD5ARIsANnRjVitNP5aI-Al1SPwZP5FtkNWhAJeZP8ll0D3Nmf3qDLBK5TQLiOn6k8aAiUYEALw_wcB&hvadid=426016287764&hvdev=c&hvlocphy=1001522&hvnetw=g&hvqmt=e&hvrand=17704228431298352880&hvtargid=kwd-319601880923&hydadcr=5655_11235215&keywords=comp%C3%AAndio+de+psiquiatria&qid=1620396309&sr=8-1
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 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE 
A ansiedade representa um fenômeno fundamental em 
torno do qual diversas teorias psiquiátricas foram 
organizadas. Portanto, o termo “ansiedade” tem 
desempenhado um papel central na teoria psicodinâmica, 
bem como na pesquisa focada na neurociência e em várias 
escolas de pensamento fortemente influenciadas pelos 
princípios cognitivo-comportamentais. Os transtornos de 
ansiedade estão associados com morbidade significativa e 
com frequência são crônicos e resistentes a tratamento. Os 
transtornos da ansiedade se subdividem em várias classes 
especificando seu diagnóstico em: transtorno de ansiedade 
de separação, mutismo seletivo, fobias específicas, 
transtorno de ansiedade social (fobia social), síndrome do 
pânico, ataque de pânico, agorafobia, Transtorno de 
ansiedade generalizada (TAG), transtorno de ansiedade 
induzido por medicação ou substância, transtorno de 
ansiedade secundário a outra condição médica, transtorno 
de ansiedade com outra especificação e transtorno de 
ansiedade inespecífico. 
 
Um aspecto fascinante dos transtornos de ansiedade é a 
extraordinária interação entre fatores genéticos e 
experiência. Existe pouca dúvida de que genes anormais 
predispõem a estados de ansiedade patológica; entretanto, 
as evidências indicam com clareza que acontecimentos de 
vida traumáticos e estresse também são etiologicamente 
importantes. Assim, o estudo desses transtornos apresenta 
uma oportunidade única de entender a relação entre 
natureza e criação na etiologia dos transtornos mentais. 
ANSIEDADE NÃO PATOLÓGICA 
Todo mundo experimenta ansiedade. Ela é caracterizada 
mais comumente como uma sensação difusa, desagradável 
e vaga de apreensão, muitas vezes acompanhada por 
sintomas autonômicos como cefaleia, perspiração, 
palpitações, aperto no peito, leve desconforto estomacal e 
inquietação, indicada por uma incapacidade de ficar sentado 
ou em pé por muito tempo. A gama de sintomas presentes 
durante a ansiedade tende a variar entre as pessoas. 
Manifestações periféricas de ansiedade: Diarreia; Vertigem; 
Hiperidrose; Reflexos aumentados; Palpitações; Dilatação da 
pupila; Inquietação (p. ex., marchar); Síncope; Taquicardia; 
Formigamento das extremidades; Tremores; Perturbação 
estomacal (“borboletas”); Frequência, hesitação, urgência 
urinária. 
MEDO X ANSIEDADE 
A ansiedade é um sinal de alerta; indica um perigo iminente 
e capacita a pessoa a tomar medidas para lidar com a 
ameaça. O medo é um sinal de alerta semelhante, mas deve 
ser diferenciado da ansiedade. Ele é uma resposta a uma 
ameaça conhecida, externa, definida ou não conflituosa; a 
ansiedade é uma resposta a uma ameaça desconhecida, 
interna, vaga ou conflituosa. Essa distinção entre medo e 
ansiedade surgiu de forma acidental. Quando o primeiro 
tradutor de Freud traduziu mal angst, a palavra alemã para 
“medo”, como ansiedade, o próprio Freud ignorou a 
distinção que associa a ansiedade com um objeto reprimido, 
inconsciente, e o medo com um objeto externo, conhecido. 
ANSIEDADE E ADAPTAÇÃO 
Ansiedade e medo são ambos sinais de alerta e atuam como 
uma advertência de uma ameaça externa ou interna. A 
ansiedade pode ser conceituada como uma resposta normal 
e adaptativa que tem qualidades salva-vidas e adverte sobre 
ameaças de dano corporal, dor, impotência, possível 
punição ou frustração de necessidades sociais ou corporais; 
separação de entes queridos; ameaça ao sucesso ou à 
posição individual; e, por fim, sobre ameaças à unidade ou 
integridade. Ela impele o indivíduo a tomar as medidas 
necessárias para evitar a ameaça ou reduzir suas 
consequências. Essa preparação é acompanhada por 
aumento da atividade somática e autonômica controlada 
pela interação dos sistemas nervosos simpático e 
parassimpático. Exemplos de uma pessoa que evita as 
ameaças da vida diária incluem aplicar-se na preparação de 
um exame, agarrar uma bola atirada contra a cabeça, entrar 
no dormitório de forma sorrateira após a hora estabelecida 
para evitar punição, correr para pegar o último trem. Dessa 
forma, a ansiedade previne prejuízo ao alertar o indivíduo a 
realizar certos atos que evitam o perigo. 
ESTRESSE E ANSIEDADE 
Se um acontecimento é percebido ou não como estressante 
depende da natureza do acontecimento e dos recursos, das 
defesas psicológicas e dos mecanismos de enfrentamento da 
pessoa. Todas essas referências envolvem o ego, uma 
abstração coletiva para o processo pelo qual o indivíduo 
percebe, pensa e atua sobre os acontecimentos externos ou 
os impulsos internos. Uma pessoa cujo ego esteja 
funcionando de maneira apropriada está em equilíbrio 
adaptativo tanto com o mundo externo como com o interno; 
se o ego não estiver funcionando adequadamente e o 
desequilíbrio resultante continuar por tempo suficiente, o 
indivíduo experimentará ansiedade crônica. 
Se o desequilíbrio for externo, entre as pressões do mundo 
e o ego do indivíduo, ou interno, entre os impulsos (p. ex., 
agressivos, sexuais ou dependentes) e a consciência, 
ocorrerá um conflito. Os conflitos de causas externas 
costumam ser interpessoais, enquanto os de causas internas 
são intrapsíquicos ou intrapessoais. É possível uma 
combinação dos dois, como no caso de empregados cujo 
patrão excessivamente exigente e crítico provoca impulsos 
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
que precisam ser controlados pelo medo de perder o 
emprego. Os conflitos interpessoais e intrapsíquicos tendem 
a ser mesclados. Pelo fato de os seres humanos serem 
sociais, seus principais conflitos são, em geral, com outras 
pessoas. 
CONCEITO DOS TRANTORNOS DE ANSIEDADE 
Os transtornos psiquiátricos se tornaram extremamente 
comuns no sociedade contemporânea e causam profundo 
impacto na qualidade de vida e bem-estar dos indivíduos 
afetados. Os transtornos psiquiátricos são definidos como as 
condições que interferem nos pensamentos, sentimentos 
e/ou comportamentos, efeitos que costumam causar 
sensação de angústia ou deficiência nas suas funções 
normais, como nas atividades diárias e relações 
interpessoais.Essas condições são fortemente associadas a 
alterações neurológicas, doenças sistêmicas ou drogas que 
interferem no funcionamento do cérebro. Vale ressaltar que 
os transtornos psiquiátricos são diferentes das condições de 
demência e delírio, que na verdade são transtornos 
neurocognitivos, caracterizados pelo prejuízo na atenção, 
memória, linguagem e outras funções do cérebro. 
A patogênese dos transtornos psiquiátricos ainda não é 
completamente esclarecida, e com isso a classificação dos 
diferentes transtornos é baseada nas manifestações 
clínicas, que podem apresentar variações relacionadas com 
o perfil genético do indivíduo. Com isso, alguns transtornos 
são descritos, como os transtornos de ansiedade, depressão, 
transtorno bipolar, esquizofrenia, entre outros. Os 
transtornos de ansiedade são definidos como um grupo de 
condições caracterizadas pela ansiedade idiopática, 
acompanhada de sintomas psicológicos, como alterações de 
pensamento, e somáticos, que envolvem sudorese, 
taquicardia, entre outros. 
 
Além disso, no aspecto neurobiológico, três 
neurotransmissores parecem estar fortemente associados 
com a ansiedade: norepinefrina, serotonina e GABA. Alguns 
pacientes também parecem apresentar alterações no 
sistema nervoso autônomo, com aumento do tônus 
simpático. Componentes genéticos parecem contribuir para 
o desenvolvimento de transtornos ansiosos. Estudos de 
neuroimagem em pacientes com distúrbios de ansiedade 
revelam alterações em lobo temporal direito, núcleo 
caudado e giro para-hipocampal. A partir destes estudos, 
tem-se postulado que o sistema límbico e o córtex cerebral 
estejam particularmente implicados na neuroanatomia 
destes transtornos. 
A superposição dos transtornos ansiosos a outras condições 
clínicas é muito frequente. Os sintomas podem incluir 
ataques de pânico, ansiedade generalizada e sintomas 
obsessivo-compulsivos. Desse modo, o principal diagnóstico 
diferencial a ser feito inclui condições orgânicas ou 
psiquiátricas nas quais a ansiedade possa estar associada de 
forma primária ou secundária: 
▪ Doenças neurológicas: tumores cerebrais, epilepsia, 
enxaqueca, doença cerebrovascular, síndrome pós-
concussiva, esclerose múltipla, encefalite. 
▪ Doenças endócrinas: disfunção tireoidiana, síndrome 
carcinoide, feocromocitoma, doença de Addison, 
síndrome de Cushing. 
▪ Doenças pulmonares: asma, hiperventilação, embolia 
pulmonar, hipóxia, DPOC. 
▪ Doenças cardiovasculares: angina, HAS, ICC, arritmias, 
IAM. 
▪ Doenças inflamatórias: LES, artrite reumatoide, PAN, 
arterite temporal. 
▪ Intoxicação por substâncias: cocaína, alucinógenos, 
cafeína, nicotina, anfetaminas, anticolinérgicos, 
corticosteroides. 
▪ Abstinência a drogas: álcool, anti-hipertensivos, 
opioides, benzodiazepínicos. 
▪ Outras condições: intoxicações por metais pesados, 
infecções sistêmicas, uremia, distúrbios 
hidroeletrolíticos, hipoglicemia, anemia. 
O tratamento destas condições envolve a retirada da causa 
primária – o tratamento da doença de base ou a retirada da 
substância – associada, caso necessário, ao uso de 
benzodiazepínicos, antidepressivos e psicoterapia. 
ETIOLOGIA GERAL 
As causas dos transtornos de ansiedade não são 
completamente conhecidas, mas tanto fatores psiquiátricos 
como médicos gerais estão envolvidos. Muitas pessoas 
desenvolvem transtornos de ansiedade sem qualquer 
antecedente desencadeante identificável. A ansiedade pode 
ser uma resposta a estressores ambientais, tais como o 
término de um relacionamento importante ou a exposição a 
um desastre que ameace a vida. 
Alguns transtornos médicos gerais podem produzir 
ansiedade diretamente; eles incluem: Hipertireoidismo, 
feocromocitoma, insuficiência cardíaca, arritmias, asma, 
DPOC. 
Vários fármacos podem causar ansiedade. Corticoides, 
cocaína, anfetaminas e cafeína podem causar diretamente 
ansiedade, enquanto a síndrome de abstinência de álcool, de 
sedativos e de algumas drogas ilícitas também pode causar 
ansiedade. 
PATOGÊNESE 
O estado de ansiedade corresponde ao acionamento 
inadequado do sistema de resposta ao estresse (luta ou 
fuga) associado com uma variedade de respostas dos 
sistemas cognitivo, motor, neuroendócrino e autonômico, 
envolvendo assim não apenas o sistema simpático. Com 
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-da-tireoide/hipertireoidismo
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-adrenais/feocromocitoma
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca-ic
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/arritmias-e-doen%C3%A7as-de-condu%C3%A7%C3%A3o/vis%C3%A3o-geral-das-arritmias
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/asma-e-doen%C3%A7as-relacionadas/asma
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/doen%C3%A7a-pulmonar-obstrutiva-cr%C3%B4nica-e-doen%C3%A7as-relacionadas/doen%C3%A7a-pulmonar-obstrutiva-cr%C3%B4nica-dpoc
 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL 
 
isso, a ansiedade é caracterizada por emoções negativas, 
reflexos autônomos, comportamentos defensivos, 
vigilância e secreção de mineralocorticoides sem que haja 
estímulo externo. Em outras palavras, o indivíduo que sofre 
com os transtornos de ansiedade se sente como um 
indivíduo normal (não ansioso) se sente em situações de 
risco, a diferença é que o indivíduo com ansiedade em crise 
não está em situação de risco. 
Obs.: Acredita-se que o núcleo central da amigdala seja o principal 
componente na coordenação da resposta da ansiedade. A 
amigdala recebe a entrada glutamatérgica excitatória de várias 
áreas corticais e do tálamo, permitindo que sejam montadas 
respostas a vários estímulos, inclusive informações sensoriais do 
meio externo assim como estressores que são processados e 
reconhecidos por áreas de associação corticais. 
Sabe-se que o hipotálamo possui um papel central em 
orquestrar uma resposta humoral, visceromotora e 
somático-motora apropriada. Esta resposta é regulada pelo 
eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA). Já o hormônio 
cortisol, é liberado pela glândula adrenal em resposta a um 
aumento nos níveis sanguíneos do hormônio 
adrenocorticotrófico (ACTH), liberado pela hipófise anterior 
devido ao estímulo do hormônio liberador de corticotrofina 
(CRH) do hipotálamo. 
 
Os neurônios hipotalâmicos que secretam CRH são 
regulados pela amígdala e pelo hipocampo. Quando o 
núcleo central da amígdala é ativado, interfere no eixo HPA 
e a resposta ao estresse é emitida, sendo que a ativação 
inapropriada tem sido relacionada com os transtornos de 
ansiedade. O hipocampo contém receptores para 
glicocorticoides que são ativados pelo cortisol, e com altos 
níveis de cortisol circulante, participa da regulação por 
retroalimentação do eixo HPA, inibindo a liberação de CRH e 
consequentemente de ACTH e cortisol. 
A exposição contínua ao cortisol, em períodos de estresse 
crônico, pode levar à disfunção e à morte dos neurônios 
hipocampais. Assim, o hipocampo começará a apresentar 
falhas em sua capacidade de controlar a liberação dos 
hormônios do estresse e de realizar suas funções de rotina. 
O estresse também influencia a aptidão de induzir a 
potenciação de longo prazo no hipocampo, o que 
provavelmente explica o porquê da falha de memória. 
A atividade elevada do córtex pré-frontal também tem sido 
relatada nos transtornos de ansiedade. Em resumo, a 
amígdala e o hipocampo regulam o sistema HPA e a resposta 
ao estresse de uma maneira coordenada, tanto com a 
hiperatividade da amígdala, relacionada a memórias 
inconscientes estabelecidas por mecanismos de 
condicionamento pelo medo quanto com a diminuição de 
atividade do hipocampo, o qual participa no 
armazenamento de memórias conscientes durante uma 
situação de aprendizado traumático.

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