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Por: Maria Eduarda de Souza e Vitor Dantas M E D I C I N A - F I P G U A N A M B I RESUMOS Saúde Mental RESUMOS Obs.: Os resumos foram desenvolvidos no primeiro semestre de 2021 durante o módulo tutorial de Saúde Mental. Além disso, esses resumos tem a função exclusiva de ajudar os acadêmicos das FIPGuanambi. Evite copiar! Tutoria 01 - Semiologia Psiquiátrica Tutoria 02 - Transtornos de Ansiedade Tutoria 06 - Transtornos de Humor Tutoria 03 - TOC Tutoria 04 - Transtornos Somatoformes Tutoria 05 - Esquizofrenia Tutoria 07 - Transtornos Alimentares Tutoria 08 - Transtorno por uso de substâncias Tutoria 09 - Transtornos de Personalidade Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL PSICOPATOLOGIA A psicopatologia é uma disciplina científica que estuda a doença mental em seus vários aspectos: suas causas, as alterações estruturais e funcionais relacionadas, os métodos de investigação e suas formas de manifestação (sinais e sintomas). Comportamento, cognição e experiências subjetivas anormais constituem as formas de manifestação das doenças mentais. Pode ser definida também, como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. Desse modo, o campo da psicopatologia inclui um grande número de fenômenos humanos associados ao que se denominou, historicamente, doença mental. São vivências, estados mentais e padrões comportamentais descritos sob a forma de sintomas, didaticamente divididos entre as funções psíquicas. SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA Semiótica ou semiologia médica é o estudo dos sinais e sintomas das enfermidades, estudo este que inclui a identificação das alterações físicas e mentais, a ordenação dos fenômenos observados e a formulação de diagnósticos. Os sinais e sintomas representam os signos da psicopatologia e da medicina em geral. Os sintomas são subjetivos e aparecem nas queixas do paciente. Dor, o sentimento de tristeza e a escuta alucinatória, por exemplo, são sintomas. Já os sinais são objetivos, ou seja, são verificáveis pela observação direta. Eles podem ser detectados por outra pessoa, às vezes pelo próprio paciente. A flexibilidade cerácea (alteração da psicomotricidade), uma fácies de tristeza e o solilóquio (falar sozinho) são sinais. Uma experiência psíquica anormal possui tanto forma como conteúdo. A forma se refere à estrutura em termos fenomenológicos – por exemplo, delírio –, e o conteúdo, ao “colorido” ou “recheio” da experiência – por exemplo, estar sendo perseguido por marcianos. Desse modo, por semiotécnica entendemos os procedimentos específicos e sistematizados de observação e coleta dos sinais e sintomas, assim como a interpretação destes. ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA A entrevista psiquiátrica possui três objetivos básicos: a formulação de um diagnóstico, a formulação de um prognóstico e o planejamento terapêutico. É a partir da entrevista que se começa a estabelecer, ou não, uma aliança terapêutica entre o paciente e o médico. A entrevista pode se dar em situações muito diversas: na internação do paciente, que pode ser voluntária ou involuntária; numa consulta no ambulatório; quando o psiquiatra vai responder a um pedido de parecer em uma enfermaria de hospital geral; no domicílio do paciente; e, até mesmo, em via pública. Para a entrevista, deve-se preferir um ambiente fechado, isolado acusticamente e com uma temperatura agradável. Recomenda-se evitar o máximo possível que haja interrupções. No início é essencial que o médico se apresente, explique o objetivo da entrevista e, se possível, obtenha o consentimento do paciente. Se não há plena consciência de morbidade por parte do paciente, é fundamental que se entrevistem os familiares – ou outras pessoas que possam prestar informações –, de preferência com a concordância (e a presença) do paciente. A arte de entrevistar só pode ser adquirida mediante o treinamento com um supervisor e com a prática. Aulas e manuais, contudo, também trazem algum auxílio. Ensina-se ao aluno como trabalhar com as evidências apuradas, embora seja difícil mostrar como obtê-las. De qualquer modo, há algumas regras básicas que devem ser seguidas: ▪ No começo, deve-se deixar o paciente falar livremente, e só depois perguntar de modo mais específico temas ou pontos duvidosos. ▪ É preciso saber quando e como interromper o paciente: sem cortar o fluxo da comunicação, mas sem deixar que a minuciosidade ou a prolixidade (alterações da forma do pensamento) prejudiquem a obtenção da história clínica. Sempre controlar e dirigir a entrevista. ▪ Não formular as perguntas de maneira monótona ou mecânica. O diálogo deve ser tão informal quanto possível. ▪ Evitar perguntas muito sugestivas, fechadas, que podem ser respondidas com um simples sim ou não: é melhor perguntar “Como você está se sentindo?” do que “Você está ansioso?”. ▪ Não aceitar jargões fornecidos pelos pacientes, como “nervoso”, “deprimido”, “tenho pânico”: pedir que ele explique o que quer dizer com essas palavras. Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL ▪ Certificar-se de que o paciente compreende as perguntas: utilizar linguagem acessível, sem termos médicos. ANAMNESE A anamnese psiquiátrica segue, em linhas gerais, o roteiro da anamnese em medicina. É preciso ter em mente um roteiro de anamnese, mas este não pode perturbar a espontaneidade da entrevista. A redação final de uma observação psiquiátrica precisa ser completa, sem ser sobrecarregada ou repetitiva, mas nunca será totalmente completa e precisa. Dois examinadores jamais farão a mesma anamnese do mesmo paciente. A anamnese é a entrevista que o médico faz com o paciente. É o momento no qual o médico escuta as queixas e demandas do cliente. É parte imprescindível da consulta médica e é neste período que se obtém as informações de saúde do paciente. Tem o objetivo de sistematizar as informações passadas pelo paciente de maneira que seja possível estabelecer hipóteses diagnósticas e orientar uma ação terapêutica. O paciente psiquiátrico é um paciente como outro qualquer e o psiquiatra é um médico. Então, o psiquiatra também faz uma anamnese durante sua consulta. Apesar de ter algumas diferenças, a anamnese em psiquiatria segue o mesmo raciocínio da anamnese geral. Observa-se, entre os diversos livros de psiquiatria, uma ausência de uniformidade quanto à estrutura da anamnese. Algumas informações podem se adequar a mais de um item da anamnese, cuja divisão é arbitrária, convencional. Os itens da anamnese psiquiátrica são: identificação, queixa principal, motivo do atendimento, história da doença atual, história patológica pregressa, história fisiológica, história pessoal, história social e história familiar. Além da anamnese, incluem-se na avaliação psiquiátrica: o exame psíquico, a súmula psicopatológica, o exame físico, os exames complementares, o diagnóstico (sindrômico e nosológico) e a conduta terapêutica. IDENTIFICAÇÃO A identificação é composta pelos seguintes itens: ▪ Nome ▪ Data de nascimento ▪ Sexo ▪ Estado civil ▪ Naturalidade ▪ Nível de instrução ▪ Profissão ▪ Etnia ▪ Religião ▪ Residência ▪ Procedência ▪ Filiação A identificação pode ser de grande auxílio para a formulação do diagnóstico. Por exemplo, o alcoolismo é mais comum em homens; esquizofrênicos em geral não são casados; pacientes com retardo mental costumam apresentar um baixo nível educacional etc. Na apresentação pública de casos – como em sessões clínicas –, o nome pode ser representado pelas iniciais, mas é preferível, para preservar o sigilo, usar um pseudônimo. QUEIXA PRINCIPAL A queixa principal (QP), que constitui o foco da história da doença atual, deve ser sucinta. Convém relacionar no máximo três queixas, de preferência apenas uma. Caso o paciente apresente vária queixas, pede-se para ele escolher a que mais o incomoda. A QP é redigida com as palavras do paciente (entre aspas, ou usando sic),devendo ser registrada mesmo que absurda. Caso o paciente não formule nenhuma queixa, isso também tem que ser apontado. ▪ Motivo do atendimento: o item motivo do atendimento só é necessário quando não há consciência de morbidade por parte do paciente. O seu conteúdo é fornecido por outra pessoa: um familiar, vizinho, bombeiro, policial, outro profissional de saúde etc. São reproduzidas literalmente as palavras do informante. HISTÓRIA DA MOLÉSTIA ATUAL A história da doença atual (HDA) consta de um relato sobre a época e modo de início da doença, a presença de fatores desencadeantes, tratamentos efetuados e o modo de evolução, o impacto sobre a vida do paciente, intercorrência de outros sintomas e as queixas atuais. Ela é narrada pelo paciente, ou por informantes – no caso de pacientes psicóticos –, ou por ambos. Faz-se necessário identificar sempre, para cada informação, qual foi a fonte. Na redação da HDA, evitam-se termos técnicos: são utilizadas as palavras do paciente ou do informante. Os quadros clínicos são descritos, porém não nomeados. A redação deve seguir uma ordem cronológica, mesmo que a narrativa, por parte do paciente ou dos informantes, não tenha sido assim. São ainda incluídas na HDA informações (sobre alterações psíquicas e físicas) pesquisadas ativamente pelo entrevistador, mesmo que não tenham sido trazidas espontaneamente pelo paciente ou informante. Fazem parte também da HDA os negativos pertinentes, ou seja, certos sintomas cuja ausência pode ser significativa para a identificação da doença ou da fase evolutiva em que esta se encontra. Episódios psiquiátricos anteriores devem ser relatados também aqui, já que estes devem estar Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL relacionados ao atual, visto que os transtornos mentais são, em geral, crônicos. Em casos de transtorno da personalidade ou de retardo mental, será impossível separar HDA e história pessoal, que podem ser fundidas. ▪ Então, vem o Interrogatório Sistemático (IS), onde é possível notar problemas que o paciente não relatou ao perguntar ativamente sobre os outros sistemas não abordados na HMA. Dessa forma, não se negligência nenhum sintoma e é possível chegar a um diagnóstico com mais clareza. HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA A história patológica pregressa (HPP) refere-se a estados mórbidos passados, em geral não psiquiátricos, que não mostrem possuir relação direta ou indireta de causa e efeito com a moléstia atual. Se existir essa relação, eles são incluídos na HDA. São investigadas principalmente as seguintes ocorrências: enurese, sonilóquio, pesadelos frequentes, terror noturno, sonambulismo, asma, tartamudez, fobia escolar, na infância; convulsões ou desmaios; doenças venéreas; outras doenças infecciosas, tóxicas ou degenerativas; traumatismos cranianos; alergia; intervenções cirúrgicas; hábitos tóxicos (álcool, tabaco, drogas ilícitas); uso de medicamentos. Faz parte também da HPP a revisão de sistemas, isto é, o questionamento junto ao paciente relativo a cada aparelho de seu organismo (cardiovascular, respiratório etc.). Na redação da HPP incluem-se todas as doenças importantes relatadas. Não se devem listar doenças ausentes, já que é impossível citar todas as que existem, a não ser que tal ausência seja significativa para a formulação do diagnóstico. HISTÓRIA FAMILIAR A história familiar abrange dados relacionados a: doenças psiquiátricas e não psiquiátricas; ter sido a gravidez desejada ou não pelos pais do paciente, separação dos pais, quem criou o paciente; ordem de nascimento entre os irmãos, diferenças de idade; características de personalidade dos familiares, o relacionamento entre estes e destes com o paciente; atitude da família diante da doença do paciente; relacionamento com o cônjuge e filhos. ▪ Perguntamos a idade dos pais, filhos e cônjuge, a situação de saúde deles. Nessa parte da anamnese avaliamos o risco do paciente desenvolver alguma doença conforme o padrão de adoecimento dos familiares. Por se tratar de uma anamnese psiquiátrica, buscamos por doenças mentais em parentes e, além disso, buscamos possíveis fatores de estresse com potencial adoecedor ao paciente. HISTÓRIA FISIOLÓGICA São investigados os seguintes elementos relativos à história fisiológica: gestação (da mãe), nascimento, aleitamento, desenvolvimento psicomotor (andar, falar, controle esfincteriano), menarca, catamênios, atividade sexual, gestações, partos, abortamentos, menopausa, padrões de sono e de alimentação. HISTÓRIA PESSOAL Pode-se optar por fundir a HPP, a história fisiológica, a história pessoal e a história social, sob a denominação de história pessoal. Caso se mantenha a história pessoal como um item mais restrito, pesquisam-se as seguintes informações: ▪ Infância: personalidade, socialização, jogos e brincadeiras, aproveitamento escolar, ansiedade de separação. ▪ Sintomas neuróticos da infância: medos, terror noturno, sonambulismo, sonilóquio (falar dormindo), tartamudez (gagueira), enurese noturna, condutas impulsivas (agressão ou fuga), chupar o dedo ou chupeta (até que idade), ser uma criança modelo, crises de nervosismo, tiques, roer unhas. ▪ Adolescência: desempenho escolar, uso de álcool e drogas, delinquência, relacionamentos interpessoais. ▪ Sexualidade: iniciação, preferência, orientação, número de parceiros, frequência. ▪ Vida profissional: vocações; estabilidade nos empregos; relacionamento com chefes, subordinados e colegas; desempenho. ▪ Lembrança significativa: perguntar ao paciente qual sua lembrança antiga mais significativa que consegue recordar. O objetivo é observar a capacidade de estabelecer vínculos, além do auxílio à compreensão da ligação passado-presente. ▪ Personalidade pré-mórbida: relacionamentos sociais, interesses, hábitos de lazer e culturais, padrão de humor, agressividade, introversão/extroversão, egoísmo/altruísmo, independência/dependência, atividade/passividade, valores, adaptação ao ambiente. HISTÓRIA SOCIAL Fazem parte da história social informações relativas à moradia – condições sanitárias, pessoas com quem convive, número de cômodos, privacidade, características sociodemográficas da região –; situação socioeconômica; características socioculturais; atividade ocupacional atual; situação previdenciária; vínculo com o sistema de saúde; atividades religiosas e políticas; antecedentes criminais. Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL ▪ Buscamos por costumes do paciente que podem levar a patologias. Escrevemos sobre uso de drogas, hábitos alimentares e atividade física. Se liga! Alguns hábitos, como o uso de substâncias psicoativas, podem já constituir a doença psiquiátrica ou ajudar na exacerbação dela. ▪ Abordamos toda a história de vida do paciente, perguntamos sobre sua infância, fatores de estresse, espiritualidade, projeto de vida, a constituição familiar, as relações interpessoais, grupos sociais que está inserido, atividades de lazer, atividade labora e como enxerga o processo de adoecimento. Essa é uma parte que precisa ser bem detalhada na anamnese psiquiátrica, pois é preciso saber situações que aconteceram que podem ser fatores de risco para doenças psiquiátricas. DIFERENÇAS DA ANAMNESE PSIQUIÁTRICA A maior diferença entre uma anamnese geral e a anamnese psiquiátrica é o exame físico. Enquanto na anamnese clínica é feito o exame físico completo no sentido crânio-caudal, na psiquiatria nós temos também o Exame do Estado Mental (EEM). O exame do estado mental é o método que o profissional de saúde usa para avaliar as funções mentais do paciente. Durante o exame do estado mental avalia-se o aspecto geral do paciente (aparência, higiene e atitude), o nível de consciência, a psicomotricidade, orientação, atenção, memória, sensopercepção, pensamento, humor, afeto, volição e autopatognose. Nas etapas anteriores da anamnese as informações eram obtidas atravésdo relato do paciente ou até mesmo de seu acompanhante. No EEM os dados são observados pelo avaliador no momento da consulta. Para fazer um bom exame do estado mental, é preciso que o médico esteja entenda a psicopatologia e conheça as funções mentais. EXAME PSIQUIÁTRICO O exame do estado mental é uma avaliação do funcionamento mental do paciente, no momento do exame, com base nas observações que foram feitas durante a entrevista. Assim, ele pode variar de um momento para outro, em função de mudanças na psicopatologia do paciente. Da mesma forma que o exame físico de um paciente com hipertensão arterial, pode mostrar uma pressão arterial normal, em razão do paciente estar medicado, o exame do estado mental de um esquizofrênico pode deixar de apresentar alucinações, pelo mesmo motivo. Com o objetivo de facilitar a descrição, o exame do estado mental é organizado por áreas (p.ex., pensamento, senso- percepção, afeto, etc.), embora exista uma grande inter- relação entre estas diferentes áreas. As partes que compõem o exame do estado mental e suas principais alterações, são descritas abaixo: APRESENTAÇÃO GERAL Trata-se de uma descrição da impressão geral advinda da aparência física, da atitude e conduta do paciente na interação com o entrevistador. ▪ Aparência A descrição deve permitir formar uma imagem sobre o paciente, de forma a reconhecê-lo, englobando: a) aparência quanto à idade e à saúde; b) a presença de deformidades e peculiaridades físicas; c) o modo de vestir-se e os cuidados pessoais, incluindo ordem, asseio e excentricidades; d) a expressão facial, através da mímica e enquanto sinais sugestivos de doença orgânica, depressão, ansiedade, ▪ Psicomotricidade a) o comportamento e atividade motora, envolvendo a velocidade e intensidade da mobilidade geral na marcha, quando sentado e na gesticulação; b) a atividade motora, incluindo a agitação (hiperatividade) ou retardo (hipoatividade), a presença de tremores, de acatisia, estereotipias, maneirismos (movimentos involuntários estereotipados), tiques (movimentos involuntários e espasmódicos); c) a presença de sinais característicos de catatonia (anomalias motoras em distúrbios não orgânicos), como flexibilidade cérea (manutenção de posturas impostas por Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL outros), obediência automática, resistência passiva e ativa, negativismo (resistência imotivada), estupor (lentificação motora, imobilidade) e catalepsia (manutenção de uma posição imóvel). ▪ Situação da entrevista/interação Deve-se descrever as condições em que a entrevista ocorreu abrangendo: a) o local; b) a presença de outros participantes c) intercorrências eventuais Obs.: Quanto à interação, deve-se descrever a disponibilidade e interesse frente à entrevista, destacando-se: cooperação, oposição, tendência a conduzir a entrevista, indiferença, negativismo frente ao exame LINGUAGEM E PENSAMENTO O examinador tem um acesso indireto ao pensamento do paciente, através do discurso do mesmo durante a entrevista. Assim, a linguagem e o pensamento são avaliadas conjuntamente, nesta parte do exame, segundo os seguintes aspectos: ▪ Características da fala Deve ser anotado se a fala é espontânea, se ocorre apenas em resposta à estimulação ou não ocorre (mutismo). Descreve-se, também, o volume da fala e se ocorre algum defeito na verbalização, tais como: afasia (prejuízo na compreensão ou transmissão de idéias, através da linguagem, que é devido à lesões ou doenças nos centros cerebrais envolvidos com a linguagem8 ), disartria (incapacidade na articulação das palavras), gagueira, rouquidão, etc. ▪ Progressão da fala Deve ser observada a quantidade e a velocidade da verbalização do paciente, durante a entrevista. Algumas alterações possíveis são listadas abaixo: - Linguagem quantitativamente diminuída - o paciente restringe sua fala ao mínimo necessário, com respostas monossilábicas ou muito sucintas, sem sentenças ou comentários adicionais. - Fluxo lento - são notadas longas pausas entre as palavras e/ou latência para iniciar uma resposta. - Prolixidade - o paciente fala muito, discorrendo longamente sobre todos os tópicos, porém ainda dentro dos limites de uma conversação normal. - Fluxo acelerado - o paciente fala, continuamente, e com velocidade aumentada. O examinador, geralmente, encontra dificuldade ou não consegue interromper o discurso do paciente. ▪ Forma do pensamento Neste item, deve ser examinada a organização formal do pensamento, sua continuidade e eficácia em atingir um determinado objetivo. Alguns distúrbios observados neste item são: - Circunstancialidade - o objetivo final de uma determinada fala é longamente adiado, pela incorporação de detalhes irrelevantes e tediosos. - Tangencialidade - o objetivo da fala não chega a ser atingido ou não é claramente definido. O paciente afasta-se do tema que está sendo discutido, introduzindo pensamentos aparentemente não relacionados, dificultando uma conclusão. O paciente fala de forma tão vaga, que apesar da fala estar quantitativamente adequada, pouca informação é transmitida (pobreza do conteúdo do pensamento). - Perseveração - o paciente repete a mesma resposta à uma variedade de questões, mostrando uma incapacidade de mudar sua resposta a uma mudança de tópico. - Fuga de idéias - ocorre sempre na presença de um pensamento acelerado e caracteriza-se pelas associações inapropriadas entre os pensamentos, que passam a serem feitas pelo som ou pelo ritmo das palavras (associações ressonantes). - Pensamento incoerente - ocorre uma perda na associação lógica entre partes de uma sentença ou entre sentenças (afrouxamento de associações). Numa forma extrema de incoerência, observa-se uma seqüência incompreensível de frases ou palavras (salada de palavras). - Bloqueio de pensamento - ocorre uma interrupção súbita da fala, no meio de uma sentença. Quando o paciente consegue retomar o discurso, o faz com outro assunto, sem conexão com a ideação anterior. - Neologismos - o paciente cria uma palavra nova e ininteligível para outras pessoas, geralmente uma condensação de palavras existentes. - Ecolalia - repetição de palavras ou frases ditas pelo interlocutor, às vezes com a mesma entonação e inflexão de voz. ▪ Conteúdo do pensamento Neste item, investigam-se os conceitos emitidos pelo paciente durante a entrevista e sua relação com a realidade. Deve-se assinalar: Tema predominante e/ou com características peculiares, tais como:- - Ansiosos - preocupações exageradas consigo mesmo, com os outros ou com o futuro. - Depressivos - desamparo, desesperança, ideação suicida, etc. Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL - Fóbico - medo exagerado ou patológico diante de algum tipo de estímulo ou situação. - Obsessivos - pensamentos recorrentes, invasivos e sem sentido, que a pessoa reconhece como produtos de sua própria mente e tenta afastá-los da consciência. Podem ser acompanhados de comportamentos repetitivos, reconhecidos como irracionais, que visam neutralizar algum desconforto ou situação temida (Compulsões) ▪ Logicidade do pensamento Logicidade do pensamento, ou o quanto o pensamento pode ser sustentado por dados da realidade do paciente. Alguns tipos de pensamento ilógico são descritos abaixo: - Ideias supervalorizadas - o conteúdo do pensamento centraliza-se em torno de uma ideia particular, que assume uma tonalidade afetiva acentuada, é irracional, porém sustentada com menos intensidade que uma ideia delirante. - Delírios - crenças que refletem uma avaliação falsa da realidade, não são compartilhadas por outros membros do grupo sócio-cultural do paciente e das quais não pode ser dissuadido, através de argumentação contrária, lógica e irrefutável. Os delírios podem ser primários, quando não estão associados a outros processos psicológicos, p.ex.,inserção de pensamento (crê que pensamentos são colocados em sua cabeça), irradiação de pensamento (acredita que os próprios pensamentos são audíveis ou captados pelos outros) e secundários, quando vinculados a outros processos psicológicos( derivados de uma alucinação, associados à depressão ou mania) . Os delírios podem ser descritos em função de seu grau de organização, em: sistematizados (relacionados a um único tema, mantendo uma lógica interna, ainda que baseada em premissas falsas, o que pode conferir maior credibilidade) e não sistematizados (quando envolvem vários temas, são mais desorganizados e pouco convincentes). Os delírios podem ser descritos, também, pelo seu tema predominante, p. ex., como delírio de referência (atribuição de um significado pessoal a observações ou comentários neutros), persecutório (idéia de que está sendo atacado, incomodado, prejudicado, perseguido ou sendo objeto de conspiração), de grandiosidade (o conteúdo envolve poder, conhecimento ou importância exagerados), somáticos (o conteúdo envolve uma mudança ou distúrbio no funcionamento corporal), de culpa (acredita ter cometido uma falta ou pecado imperdoável), de ciúmes (acredita na infidelidade do parceiro), de controle (acredita que seus pensamentos, sentimentos e ações são controlados por alguma força externa). ▪ Capacidade de abstração Reflete a capacidade de formular conceitos e generalizações. A incapacidade de abstração é referida como pensamento concreto. Este item pode ser avaliado, através da observação de algumas manifestações espontâneas, durante a entrevista (p.ex., diante da pergunta “como vai” o paciente responde “vou de ônibus”), ou através da solicitação para que o paciente interprete provérbios habituais para sua cultura. SENSO – PERCEPÇÃO O examinador deverá avaliar se as sensações e percepções do paciente resultam da estimulação esperada dos correspondentes órgãos do sentido. Para isso, pode valer-se de relatos espontâneos de percepções alteradas; da observação de comportamentos sugestivos de percepções, na ausência de estímulos externos (conversar consigo mesmo, rir sem motivo, olhar repentinamente em determinada direção, na ausência de estímulo aparente); ou, ainda, pode formular perguntas diretas sobre tais alterações (p.ex., “Você já teve experiências estranhas, que a maioria das pessoas não costumam ter?” “Você já ouviu barulhos ou vozes, que outras pessoas, estando próximas, não conseguiram ouvir?”). As principais alterações da senso- percepção são comentadas abaixo: - Despersonalização: refere-se à sensação de estranheza, como se seu corpo, ou partes dele não lhe pertencessem, ou fossem irreais. - Desrealização: o ambiente ao redor parece estranho e irreal, como se “as pessoas ao seu redor estivessem desempenhando papéis”. - Ilusão: interpretação perceptual alterada, resultante de um estímulo externo real. - Alucinações: percepção sensorial na ausência de estimulação externa do órgão sensorial envolvido. As alucinações podem ser: auditivas (sons ou vozes; as vozes podem dirigir-se ao paciente ou discutirem entre si sobre ele), visuais (luzes ou vultos até cenas em movimento, nítidas e complexas), táteis (toque, calor, vibração, dor, etc.), olfatórias e gustativas. As alucinações que ocorrem no estado de sonolência, que precede o sono (hipnagógicas) e no estado semiconsciente, que precede o despertar (hipnopômpicas) são associadas ao sono normal e não são, necessariamente, patológicas. Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL AFETIVIDADE E HUMOR A avaliação do afeto inclui a expressividade, o controle e a adequação das manifestações de sentimentos, envolvendo a intensidade, a duração, as flutuações do humor e seus componentes somáticos. Considera-se humor a tonalidade de sentimento mantido pelo paciente durante a avaliação. Para a avaliação desta função considera-se: a) o conteúdo verbalizado; b) o que se observa ou se deduz do tom de voz, da expressão facial, da postura corporal; c) a maneira como o paciente relata experimentar os próprios sentimentos, o que pode requerer um questionamento específico sobre “como os sentimentos são experimentados” d) o relato de oscilações e variações de humor no curso do dia. - Tonalidade emocional: avalia-se a tonalidade emocional predominante durante a entrevista, observando-se a presença e a intensidade de manifestações de: ansiedade, pânico, tristeza, depressão, apatia, hostilidade, raiva, euforia, elação, exaltação, desconfiança, ambivalência, perplexidade, indiferença, embotamento afetivo (virtualmente, sem expressão afetiva, p. ex. voz monótona, face imóvel). - Modulação: Refere-se ao controle sobre os afetos, deve-se observar a presença de hipomodulação, associada à rigidez afetiva, caracterizada pela manutenção de uma certa fixidez no afeto externalizado, e de hipermodulação, associada à labilidade afetiva, caracterizada por marcadas oscilações no humor manifesto. - Associação pensamento/afeto: A avaliação da relação do conteúdo do pensamento ao afeto manifesto constitui-se em ponto importante, devendo-se considerar: o nível de associação / dissociação e a adequação / inadequação das manifestações, para tal deve-se levar em conta a temática e o contexto na qual ela está inserida. - Equivalentes orgânicos: Os equivalentes ou concomitantes orgânicos do afeto devem ser avaliados com base nas alterações do apetite, peso, sono e libido. É importante observar na avaliação desta a função, a presença de manifestações ou risco de auto e heteroagressividade, tais como idéias ou planos de suicídio, ou ainda idéias ou projetos de homicídio ou agressão voltada para o meio. Deve-se considerar, ainda, na avaliação desta função as manifestações relativas a auto-estima, e a volição, enquanto a energia que a pessoa está investindo e a disposição com a qual está se envolvendo na realização de seus projetos pessoais. Obs.: Os sentimentos despertados no avaliador durante a entrevista, podem também ser um recurso útil na avaliação do afeto, para tal é necessário que o entrevistador seja mais experiente e capaz de perceber os elementos transferenciais. ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO Na avaliação é considerada a capacidade de focalizar e manter a atenção em uma atividade, envolvendo a atenção/distração, frente aos estímulos externos ou internos. Esta função quando prejudicada interfere, diretamente, no curso da entrevista, requerendo que o entrevistador repita as perguntas feitas. A avaliação pode envolver, além da observação da própria situação de entrevista, a proposição de tarefas/ testes simples como: a) dizer os dias da semana e os meses do ano em uma dada ordem proposta pelo entrevistador, e b) realizar cálculos simples. A complexidade das tarefas deve levar em conta o nível sócio-cultural do paciente avaliado. É importante observar o quanto a dificuldade está associada à atenção ou relacionada a um distúrbio de ansiedade, do humor ou da consciência - Manutençãoo prejudicada: dificuldade de manter a atenção focalizada sobre os estímulos mais relevantes do meio, desviando a atenção para os estímulos irrelevantes e exigindo intervenções do entrevistador para manter a atenção focalizada nos estímulos principais. - Focalização prejudicada: dificuldade de focalizar a atenção sobre os estímulos mais relevantes do meio, não atendendo às intervenções do entrevistador. - Desatençãoo Seletiva: desatenção frente a temas que geram ansiedade. MEMÓRIA A memória começa ser avaliada durante a obtenção da história clínica do paciente, com a verificação de como ele se recorda de situações da vida pregressa, tais como, onde estudou, seu primeiro emprego, perguntas sobre pessoas significativas de sua vida passada, tratamentos anteriores, etc. A memória pode ser avaliada, também, através de testes específicos, alguns deles bastante simples, e que podem ser introduzidos numa entrevistapsiquiátrica habitual. A investigação da memória é, particularmente, importante quando se suspeita de quadros de etiologia orgânica. Habitualmente, divide-se a avaliação da memória em três tipos: - Memória Remota: avalia a capacidade de recordar-se de eventos do passado, podendo ser avaliada durante o relato feito pelo paciente, de sua própria história. - Memória Recente: avalia a capacidade de recordar-se de eventos que ocorreram nos últimos dias, que precederam a avaliação. Para esta avaliação o examinador pode perguntar Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL sobre eventos verificáveis dos últimos dias, tais como: o que o paciente comeu numa das refeições anteriores, o que viu na TV na noite anterior, etc. - Memória Imediata: avalia a capacidade de recordar-se do que ocorreu nos minutos precedentes. Pode ser testada, pedindo-se ao paciente que memorize os nomes de três objetos não relacionados e depois de 5 minutos, durante os quais se retomou a entrevista normal, solicitando-se que o paciente repita esses três nomes Obs.: Ao observar-se uma deficiência de memória é importante, para alguns diagnósticos diferenciais, verificar-se como o paciente lida com ela, ou seja: tem uma reação catastrófica, diante da deficiência; nega ou tenta não valorizar o déficit de memória; preenche lacunas de memória com recordações falsas (confabulação). ORIENTAÇÃO A avaliação envolve aspectos auto e alopsíquicos. - Autopsíquica: Os aspectos autopsíquicos se caracterizam pelo reconhecimento de si envolvendo: a) saber o próprio nome; b) reconhecer as pessoas do seu meio imediato, através de seu nome ou de seu papel social c) saber quem é o entrevistador. - Alopsíquica: Com relação aos aspectos alopsiquícos são avaliados: a) a orientação no tempo, englobando saber informar - o ano, o mês, o dia da semana, o período do dia, ou ainda a estação do ano, ou marcos temporais como Natal/ Carnaval/ Páscoa; b) a orientação no espaço envolve saber informar onde se encontra no momento, nomeando o lugar, a cidade e o estado CONSCIÊNCIA Neste item, deve ser registrado o nível de consciência do paciente, dentro do contínuo que vai desde o estado de consciência plena (percebe o que ocorre a sua volta e responde à essa percepção) até o coma (não responde à estimulação em diferentes graus). Esta avaliação decorre do contacto com o paciente durante a entrevista. Algumas alterações de consciência são descritas abaixo: - Sonolência: lentificação geral dos processos ideacionais, com predisposição para dormir, na ausência de estimulação. - Obnubilação da consciência: diminuição do nível de vigília, acompanhado de dificuldade em focalizar a atenção e manter um pensamento ou comportamento objetivo. - Estupor: permanece em mutismo e sem movimentos, com preservação relativa da consciência. - Delirium: quadro agudo caracterizado por diminuição do nível de vigília, acompanhado de alterações cognitivas (desorientação, déficits de memória) ou perceptuais (ilusões e alucinações). - Estado crepuscular: estreitamento da consciência, podendo manter comportamentos motores relativamente organizados, na ausência de um estado de consciência plena. Ocorre, predominantemente, em estados epilépticos. CAPACIDADE INTELECTUAL A avaliação desta função, de forma empírica na situação de entrevista, envolve uma estimativa do nível de desempenho intelectual esperado, em função da escolaridade e do nível sócio-cultural, enquanto capacidade de compreensão e integração de experiências. Trata-se de uma função complexa, pois seu comprometimento pode refletir o prejuízo de outras funções como pensamento, atenção - concentração, ou ainda a não aquisição de habilidades, em função de baixa escolaridade ou de experiência em um meio sócio-cultural pobre. Na situação de entrevista deve ser observado: o vocabulário, sua propriedade e nível de complexidade, e a capacidade de articular conceitos, de abstrair e generalizar. - Prejuízo intelectual: Para a avaliação deste item, a observação da situação de entrevista, pode ser complementada com a proposição de atividades como: a) perguntas que avaliam as informações sobre assuntos ou temas gerais (por exemplo, quem é o Presidente da República); b) a resolução de problemas aritméticos (por exemplo, quanto receber de troco em uma situação de compra e venda); c) a leitura de textos escritos comentando a compreensão dos mesmos. É importante observar o nível sócio-cultural do paciente na seleção das atividades e na complexidade das mesmas. Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL - Deterioração: Deve-se estar atento à presença de uma deterioração global, com prejuízo no funcionamento intelectual, sem obnubilação da consciência no caso de demência (disfunção cerebral orgânica) ou pseudodemência (depressão). A avaliação psicodiagnóstica, através dos testes específicos de inteligência, deve ser solicitada quando foi observado na entrevista a presença de déficits específicos. JUÍZO CRÍTICO DA REALIDADE Esta avaliação deve ser feita durante a obtenção da história do paciente, sendo os testes formais de pouca utilidade. Objetiva verificar se as ações do paciente são determinadas por uma avaliação coerente da realidade, do ponto de vista do funcionamento mental e da capacidade adaptativa, incluindo o nível realista dos projetos e da avaliação das próprias realizações. Considera-se que o juízo crítico da realidade está alterado, por exemplo, quando as decisões do paciente são determinadas por delírios ou alucinações. EXAME FÍSICO GERAL Existe uma falsa crença de que o doente mental sofre menos frequentemente de doenças físicas, que são por isso subdiagnosticadas. Muitos transtornos mentais possuem etiologia orgânica como a depressão no hipotireoidismo, ou levam a complicações físicas – por exemplo, um quadro de desnutrição em função de perda do apetite na depressão. No exame físico deve ser dada ênfase ao exame neurológico e ao do sistema endócrino. A inclusão e a extensão do exame físico dependerão da natureza e do local da entrevista psiquiátrica. Com pacientes ambulatoriais, pouco ou nenhum exame físico pode ser realizado rotineiramente, enquanto no pronto-socorro ou em pacientes hospitalizados, um exame físico mais completo é justificado. ▪ Sinais vitais, peso, circunferência da cintura, índice de massa corporal e altura podem ser medidas importantes a acompanhar, em particular devido aos efeitos potenciais dos medicamentos psiquiátricos ou de doenças sobre esses parâmetros. ▪ A Escala de Movimentos Involuntários Anormais (Abnormal Involuntary Movement Scale; AIMS) é um teste de triagem importante a ser seguido quando se utiliza medicamento antipsicótico para monitorar efeitos colaterais potenciais, como discinesia tardia. Uma avaliação neurológica focalizada é uma parte importante da avaliação psiquiátrica. ▪ Naqueles casos em que um exame físico não é realizado, o psiquiatra deve perguntar ao paciente quando o último foi feito e por quem. Como parte da comunicação com aquele médico, o psiquiatra deve indagar sobre quaisquer achados anormais. ANAMNESE – AVALIAÇÃO E PLANO Agora que você já entende os conceitos da psicopatologia, já está capaz de realizar o exame do estado mental de um paciente. Depois de descrito o exame do estado mental, temos na anamnese os itens: ▪ Suspeitas diagnósticas e conduta. Nas suspeitas diagnósticas escrevemos os possíveis diagnósticos que pensamos para o paciente de acordo com suas queixas e com o exame e, na conduta, todas as atitudes que tomamos para tratar o paciente, desde a prescrição de medicamentos, até encaminhamentos para outros especialistas. A finalidade da obtenção de dados da entrevista psiquiátrica é o desenvolvimento de uma formulação e um diagnóstico (diagnósticos), bem como recomendações e o planejamento do tratamento. Nessa parte do processo de avaliação,a obtenção de dados é suplantada pelo processamento de dados no qual os vários temas contribuem para um entendimento biopsicossocial da doença do paciente. Embora seja colocada próximo do fim da avaliação relatada ou escrita, a formulação, na verdade, se desenvolve como parte de um processo dinâmico ao longo de toda a entrevista à medida que novas hipóteses são criadas e testadas por novos dados obtidos. A formulação deve incluir um breve resumo da história, da apresentação e do estado atual do paciente. A avaliação e a formulação aparecerão nas anotações por escrito correlacionadas à entrevista psiquiátrica, porém a discussão com o paciente pode ser apenas um resumo dessa avaliação de acordo com sua capacidade de entender e interpretar as informações. O planejamento e as recomendações de tratamento, em contrapartida, são partes integrantes da entrevista psiquiátrica e devem ser discutidos de forma explícita e detalhada com o paciente. Se um relacionamento de tratamento está sendo iniciado, então a estrutura desse tratamento deve ser discutida. O foco principal será o manejo da medicação, a psicoterapia, ou ambos? Qual será a frequência das visitas? Como o médico será pago pelo serviço e quais são as expectativas para o paciente ser considerado envolvido no tratamento? As recomendações de medicação devem incluir uma discussão de possíveis medicamentos, os riscos e benefícios de tratamento sem medicamento e outras opções de tratamento alternativo. EXAMES COMPLEMENTARES Duas questões recentes levaram a avaliação clínica e os exames laboratoriais em pacientes psiquiátricos para o centro das atenções da maioria dos médicos: o amplo reconhecimento do problema generalizado da síndrome metabólica na psiquiatria clínica e a expectativa de vida mais curta de pacientes psiquiátricos comparada com a da Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL população em geral. Os fatores que podem contribuir para a comorbidade clínica incluem abuso de tabaco, álcool e drogas, hábitos dietéticos ruins e obesidade. Além disso, muitos medicamentos psicotrópicos estão associados com riscos à saúde que incluem obesidade, síndrome metabólica e hiperprolactinemia. Consequentemente, a monitoração da saúde física de pacientes psiquiátricos tem-se tornado uma questão mais proeminente. Uma abordagem lógica e sistemática ao uso da avaliação clínica e de exames laboratoriais pelo psiquiatra é vital para alcançar os objetivos de chegar a diagnósticos corretos, identificar comorbidades clínicas, implementar tratamento adequado e fornecer tratamento custo-efetivo. Com respeito ao diagnóstico ou tratamento de doença clínica, a consulta com colegas de outras especialidades é importante. Os bons médicos reconhecem os limites de sua expertise e a necessidade de consultar seus colegas não psiquiatras. MONITORAÇÃO DA SAÚDE FÍSICA A monitoração da saúde física de pacientes psiquiátricos tem dois objetivos: fornecer tratamento adequado para doenças existentes e proteger a saúde atual do paciente de possíveis prejuízos futuros. A prevenção de doenças deve começar com um conceito claro da condição a ser evitada. De maneira ideal, em psiquiatria isso seria um foco em condições comumente encontradas que poderiam ser uma fonte significativa de morbidade ou mortalidade. É claro que, em psiquiatria, um pequeno número de problemas clínicos está na base de um número significativo de prejuízos e mortes prematuras. EXAMES DE IMAGEM Os exames por imagens do sistema nervoso central (SNC) podem ser divididos amplamente em dois domínios: estrutural e funcional. As imagens estruturais fornecem uma visualização detalhada, não invasiva, da morfologia do cérebro, enquanto as funcionais fornecem uma visualização da distribuição espacial de processos bioquímicos específicos. As imagens estruturais incluem a TC de raios X e a imagem por ressonância magnética (IRM). As imagens funcionais incluem a tomografia por emissão de pósitrons (PET), a tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT), a IRM funcional (IRMf) e a espectroscopia por ressonância magnética (ERM). Com a limitada exceção do escaneamento por PET, as técnicas de imagens funcionais são consideradas instrumentos de pesquisa que ainda não estão prontos para uso clínico de rotina. IMAGEM POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA Os escaneamentos por IRM são usados para distinguir anormalidades cerebrais estruturais que podem estar associadas com as alterações comportamentais de um paciente. Esses exames fornecem ao médico imagens de estruturas anatômicas vistas de perspectivas transversais, coronais ou oblíquas. A IRM pode detectar uma grande variedade de anormalidades estruturais. Ela é particularmente útil para examinar os lobos temporais, o cerebelo e as estruturas subcorticais profundas e é única em sua capacidade de identificar hiperintensidades da substância branca periventricular. Os escaneamentos por IRM são úteis para examinar doenças específicas, como neoplasias não meníngeas, malformações vasculares, focos convulsivos, transtornos desmielinizantes, transtornos neurodegenerativos e infartos. As vantagens da IRM incluem a ausência de radiação ionizante e de agentes de contraste à base de iodo. Ela é contraindicada quando o paciente tem marca-passo, clipes de aneurisma ou corpos estranhos ferromagnéticos. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA Os escaneamentos por TC são usados para identificar anormalidades cerebrais estruturais que podem contribuir para as anormalidades comportamentais de um paciente. Esses exames fornecem ao médico imagens de raio X transversais do cérebro. A TC pode detectar uma grande variedade de anormalidades estruturais nas regiões corticais e subcorticais do cérebro. Ela é útil quando um médico está buscando evidências de um AVC, hematoma subdural, tumor ou abscesso. Esses estudos também permitem a visualização de fraturas de crânio. Os escaneamentos por TC são a modalidade preferida quando existe suspeita de um tumor meníngeo, lesões calcificadas, hemorragia subaracnoide ou parenquimal aguda ou infarto parenquimal agudo. Esses escaneamentos podem ser realizados com ou sem contraste. O propósito do contraste é aumentar a visualização de doenças que alteram a barreira hematencefálica, tais como tumores, AVCs, abscessos e outras infecções. Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL TOMOGRAFIA POR EMISSÃO DE PÓSITRONS Os escaneamentos por PET são realizados predominantemente em centros médicos universitários. Eles requerem um tomógrafo de emissão de pósitron (o escâner) e um cíclotron para criar os isótopos relevantes. Esse tipo de escaneamento envolve a detecção e a medição da radiação de pósitron emitida após a injeção de um composto que foi marcado com um isótopo emissor de pósitron. Em geral, os escaneamentos por PET utilizam fluorodesoxiglicose (FDG) para medir o metabolismo de glicose cerebral regional. A glicose é a principal fonte de energia para o cérebro. Esses escaneamentos fornecem informações sobre a ativação relativa de regiões do cérebro, visto que o metabolismo de glicose regional é diretamente proporcional à atividade neuronal. Os escaneamentos cerebrais com FDG são úteis no diagnóstico diferencial de doença demencial. O achado mais consistente na literatura sobre a PET é o padrão de hipometabolismo de glicose temporal-parietal em pacientes com demência do tipo Alzheimer. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA POR EMISSÃO DE FÓTON ÚNICO A SPECT está disponível na maioria dos hospitais, mas raramente é usada para estudar o cérebro. Ela costuma ser utilizada para estudar outros órgãos, como o coração, o fígado e o baço. Alguns estudos recentes, entretanto, tentam correlacionar as imagens cerebrais por SPECT com transtornos mentais. IMAGEM POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA FUNCIONAL A IRMf é um escaneamento usado na pesquisa para medir o fluxo sanguíneo cerebral regional. Com frequência, os dadosda IRMf são sobrepostos a imagens de IRM convencionais, resultando em mapas detalhados da estrutura e da função do cérebro. A medição do fluxo sanguíneo envolve o uso da molécula heme como agente de contraste endógeno. A taxa de fluxo de moléculas heme pode ser medida, resultando em uma avaliação do metabolismo cerebral regional. ESPECTROSCOPIA POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA A ERM é outro método de pesquisa para medir o metabolismo cerebral regional. Os escaneamentos por ERM são realizados em dispositivos de IRM convencionais que passaram por atualizações específicas de hardware e software. As atualizações permitem que o sinal dos prótons seja suprimido e outros compostos sejam medidos. (As imagens por IRM convencional são, na realidade, um mapa da distribuição espacial de prótons encontrados na água e na gordura.) ANGIOGRAFIA POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA A angiografia por ressonância magnética (ARM) é um método para criar mapas tridimensionais do fluxo sanguíneo cerebral. Os neurologistas e os neurocirurgiões são os que mais utilizam esse teste. Ele raramente é usado por psiquiatras. ESTUDOS DE TOXICOLOGIA Os exames urinários para drogas de abuso são imunoensaios que detectam barbitúricos, benzodiazepínicos, metabólitos de cocaína, opiáceos, fenciclidina, tetra-hidrocanabinol e antidepressivos tricíclicos. Esses testes rápidos fornecem resultados em uma hora. Entretanto, são testes de triagem; uma testagem adicional é necessária para confirmar os resultados. ▪ Concentração de medicamentos A testagem para determinar as concentrações sanguíneas de certos medicamentos psicotrópicos permite ao médico determinar se os níveis sanguíneos dos medicamentos estão em níveis terapêuticos, subterapêuticos ou tóxicos. Sintomas psiquiátricos não são raros quando medicamentos prescritos estão em níveis tóxicos. Em pacientes debilitados e nos idosos, sintomas patológicos podem ocorrer em concentrações terapêuticas. Os valores de referência normais variam entre os laboratórios. É importante verificar com o laboratório que realiza o exame para obter sua variação de referência normal. ▪ Concentração de drogas A testagem para drogas de abuso geralmente é realizada em amostras de urina. Também pode ser feita em amostras de sangue, hálito (álcool), cabelo, saliva e suor. Os exames de urina fornecem informações sobre uso recente de drogas de abuso frequente, como álcool, anfetaminas, cocaína, maconha, opioides e fenciclidina junto com 3,4- metilenedioximetanfetamina (MDMA) (ecstasy). Muitas substâncias podem produzir falso-positivos em exames de urina para drogas. Quando há suspeita de um falso-positivo, um teste confirmatório pode ser solicitado. Um exame toxicológico qualitativo abrangente em geral é realizado por cromatografia líquida e gasosa. Sua realização pode exigir muitas horas, e ele raramente é feito em situações clínicas de rotina. Ele costuma ser realizado em pacientes com toxicidade inexplicável e um quadro clínico atípico. Obs.: As avaliações toxicológicas qualitativas podem ser úteis para tratar pacientes que tiveram superdosagem, quando combinadas com avaliação clínica e conhecimento de quando a ingestão ocorreu. AVALIAÇÕES ENDÓCRINAS As doenças endócrinas são de grande relevância na psiquiatria. O tratamento de doenças psiquiátricas é complicado por doenças endócrinas comórbidas. Essas Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL doenças, muitas vezes, têm manifestações psiquiátricas. Por essas razões, a avaliação para doença endócrina costuma ser de relevância para o psiquiatra. DOENÇA SUPRARRENAL A doença suprarrenal pode ter manifestações psiquiátricas, incluindo depressão, ansiedade, mania, demência, psicose e delirium. Todavia, pacientes com essa doença raramente recebem atenção de psiquiatras. A avaliação e o tratamento desses pacientes são realizados em conjunto com especialistas. Níveis plasmáticos de cortisol baixos são encontrados na doença de Addison. Esses pacientes podem ter sintomas que também são comuns em condições psiquiátricas, incluindo fadiga, anorexia, perda de peso e indisposição. Os pacientes também podem ter comprometimento da memória, confusão ou delirium. É possível ocorrer depressão ou psicose com alucinações e delírios. Níveis elevados de cortisol são observados na síndrome de Cushing. Cerca de metade de todos os pacientes com essa síndrome desenvolve sintomas psiquiátricos, entre os quais labilidade, irritabilidade, ansiedade, ataques de pânico, humor deprimido, euforia, mania ou paranoia. As disfunções cognitivas podem incluir lentidão cognitiva e memória de curto prazo deficiente. Os sintomas geralmente melhoram quando o cortisol se normaliza. Se não, ou se os tomas forem graves, o tratamento psiquiátrico pode ser necessário. Obs.: Foi verificado que os níveis de cortisol são úteis na avaliação ou no tratamento de doenças psiquiátricas primárias. Em particular, o teste de supressão com dexametasona (TSD) continua sendo um instrumento de pesquisa na psiquiatria que não é usado no tratamento clínico de rotina. USO DE ESTEROIDES ANABOLIZANTES O uso dessas substâncias tem sido associado com irritabilidade, agressividade, depressão e psicose. Atletas e fisiculturistas são abusadores comuns de esteroides anabolizantes. Amostras de urina podem ser usadas para a triagem desses agentes. Visto que tantos compostos foram sintetizados, uma variedade de testes pode ser necessária para confirmar o diagnóstico, dependendo do composto que tem sido utilizado. A consulta com um especialista é aconselhada. Geralmente, os andrógenos além da testosterona podem ser detectados por cromatografia gasosa e espectroscopia de massa. HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO A arginina vasopressina (AVP), também chamada de hormônio antidiurético (ADH), está diminuída no diabetes insípido (DI) central. O DI pode ser central (devido à hipófise ou ao hipotálamo) ou nefrogênico. O DI nefrogênico pode ser adquirido ou causado por uma condição hereditária ligada ao X. O DI induzido por lítio é um exemplo de uma forma dessa doença adquirida. Foi demonstrado que o lítio diminui a sensibilidade dos túbulos renais a AVP. Pacientes com DI central respondem à administração de vasopressina com uma diminuição na produção de urina. O DI central secundário pode se desenvolver em resposta a traumatismo craniano que produza dano à hipófise ou ao hipotálamo. GONADOTROFINA CORIÔNICA HUMANA A gonadotrofina coriônica humana (hCG) pode ser avaliada na urina e no sangue. O exame de urina para hCG é a base para o teste de gravidez mais comumente utilizado. Esse teste imunométrico é capaz de detectar gravidez cerca de duas semanas após um período menstrual esperado ter passado. Os exames de rotina são mais precisos quando realizados 1 a 2 semanas após a ausência de um período menstrual, e não há uma precisão confiável até o período de duas semanas ter passado. Entretanto, existem exames de hCG urinários ultrassensíveis que podem detectar gravidez precisamente sete dias após a fertilização. Os testes de gravidez muitas vezes são obtidos antes do início do tratamento com certos medicamentos psicotrópicos, como lítio, carbamazepina e valproato, que estão associados com anomalias congênitas. PARATORMÔNIO O paratormônio (hormônio paratireoidiano) modula as concentrações séricas de cálcio e fósforo. A desregulação nesse hormônio e a resultante produção de anormalidades no cálcio e no fósforo podem produzir depressão ou delirium. PROLACTINA Os níveis de prolactina podem se tornar elevados em resposta à administração de agentes antipsicóticos. Elevações na prolactina sérica resultam do bloqueio de receptores de dopamina na hipófise. Esse bloqueio produz aumento na síntese e na liberação de prolactina. Obs.: Os níveis de prolactina podem se elevar um pouco após uma convulsão. Por essa razão, sua medição imediata após uma possível atividade convulsiva pode ajudar a diferenciaruma convulsão de uma pseudoconvulsão. Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL HORMÔNIO TIREOIDIANO As doenças da tireoide estão associadas com muitas manifestações psiquiátricas e são mais comumente relacionadas com depressão e ansiedade, mas também podem dar origem a sintomas de pânico, demência e psicose. As doenças tireoidianas podem imitar a depressão. É difícil alcançar a eutimia se um paciente não estiver eutireóideo. LES O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é um transtorno autoimune. Os testes para LES são embasados na detecção de anticorpos formados como parte da doença. Anticorpos antinucleares são encontrados em praticamente todos os pacientes com LES. Os níveis de anticorpo também são usados para monitorar a gravidade da doença. Um teste fluorescente é utilizado para detectar os anticorpos antinucleares. Esse teste pode ser positivo em uma variedade de doenças reumáticas. Por essa razão, um resultado positivo em geral é seguido por teste adicionais, incluindo um teste para detectar anticorpos antiácido desoxirribonucleico (DNA). Os anticorpos anti-DNA, quando associados com anticorpos antinucleares, são fortemente sugestivos de um diagnóstico de lúpus. Os anticorpos anti- DNA são acompanhados para monitorar a resposta ao tratamento. FUNÇÃO PANCREÁTICA A medição da amilase sérica é usada para monitorar a função pancreática. Elevações nos níveis de amilase podem ocorrer em indivíduos abusadores de álcool que desenvolvem pancreatite. Os níveis séricos de amilase também podem ser fracionados em componentes salivares e pancreáticos. BIOQUÍMICA ▪ Eletrólitos séricos Os níveis de eletrólitos séricos podem ser úteis na avaliação inicial de um paciente psiquiátrico. Esses níveis, muitas vezes, são anormais em indivíduos com delirium. Anormalidades também podem ocorrer em resposta à administração de medicamentos psicotrópicos. Níveis séricos de cloreto baixos podem ser encontrados em pacientes com transtornos alimentares que induzem o vômito. Os níveis séricos de bicarbonato podem ser elevados em pacientes que purgam ou que abusam de laxantes e costumam ser baixos naqueles que hiperventilam em resposta a ansiedade. Potássio Hipocalemia pode estar presente em pacientes com transtornos alimentares que purgam ou abusam de laxantes e no vômito psicogênico. O abuso de diuréticos por esses pacientes também pode produzir hipocalemia. Níveis baixos de potássio estão associados com fraqueza e fadiga. Alterações no ECG características ocorrem com hipocalemia e consistem em arritmias cardíacas, ondas U, ondas T achatadas e depressão do segmento ST. Fósforo Pacientes com transtornos alimentares com anorexia nervosa ou bulimia nervosa em geral recebem um razoável conjunto de exames laboratoriais-padrão, incluindo eletrólitos séricos (em particular potássio e fósforo), glicose sanguínea, teste de função tireoidiana, enzimas hepáticas, proteína total, albumina sérica, ureia, creatinina, hemograma completo e ECG. A amilase sérica é frequentemente avaliada em pacientes bulímicos. Obs.: Níveis séricos de fósforo baixos podem estar presentes em pacientes com transtornos alimentares com comportamento purgativo; também podem estar baixos em pacientes com ansiedade que hiperventilam. Hiperparatireoidismo pode produzir níveis séricos de fósforo baixos. Níveis elevados são observados no hipoparatireoidismo. Magnésio Os níveis de magnésio podem estar baixos em indivíduos que abusam de álcool. Níveis de magnésio baixos estão associados com agitação, confusão e delirium. Se não tratados, é possível a ocorrência de convulsões e coma Hiponatremia Hiponatremia é verificada na polidipsia psicogênica e na SIADH e em resposta a certos medicamentos, como carbamazepina. Níveis de sódio baixos estão associados com delirium. Outras alterações Anormalidades do cálcio sérico estão relacionadas com uma variedade de alterações do comportamento. Níveis séricos de cálcio baixos estão associados com depressão, delirium e irritabilidade; níveis elevados, com depressão, psicose e fraqueza. O abuso de laxantes, comum em pacientes com transtornos alimentares, pode estar associado com hipocalcemia. Hipocalcemia secundária a hipoparatireoidismo pode ocorrer em pacientes que sofreram cirurgia por doença tireoidiana. Os níveis séricos de cobre estão baixos na doença de Wilson, uma anormalidade rara no metabolismo de cobre. Esse elemento é depositado no cérebro e no fígado, resultando em funcionamento intelectual diminuído, alterações de personalidade, psicose e um transtorno dos movimentos. Os sintomas geralmente estão presentes na segunda e terceira décadas de vida. A avaliação laboratorial para doença de Wilson inclui a medição de ceruloplasmina sérica, a proteína de transporte para o cobre, que é baixa, e do cobre urinário, medido em uma amostra de 24 horas, que é elevado Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL OUTROS EXAMES ▪ Função renal Os testes de função renal incluem ureia e a creatinina. Outros exames laboratoriais relevantes envolvem a análise urinária de rotina e a depuração de creatinina. A ureia elevada frequentemente resulta em letargia ou delirium. A ureia costuma estar elevada com a desidratação. As elevações de ureia muitas vezes estão associadas com depuração de lítio prejudicada. Um índice de função renal menos sensível é a creatinina. Elevações da creatinina podem indicar comprometimento renal extensivo. Níveis elevados ocorrem quando cerca de 50% dos néfrons estão comprometidos. ▪ Função hepática Os testes da função hepática (TFHs) costumam incluir os níveis séricos de aminotransferases, fosfatase alcalina, γ- glutamil transpeptidase e testes de função sintética, em geral as concentrações séricas de albumina e o tempo de protrombina, e a bilirrubina sérica, que reflete a capacidade de transporte hepático. ▪ Vitaminas Folato e B12. Deficiências de folato e B12 são comuns em pacientes que abusam de álcool e estão associadas com demência; delirium; psicose, incluindo paranoia; fadiga; e alteração da personalidade. Folato e B12 podem ser medidos diretamente. Baixos níveis de folato podem ser encontrados em pacientes que usam pílulas anticoncepcionais ou outras formas de estrogênio, que bebem álcool ou que tomam fenitoína. ▪ DSTs A testagem para doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) se tornou comum, dada a frequência atual dessas doenças. Algumas doenças psiquiátricas, como mania e abuso de substância, estão relacionadas com um risco mais alto de contrair DSTs. Essas doenças incluem herpes simples tipos 1 e 2, clamídia, vírus da hepatite, gonorreia, sífilis e vírus de imunodeficiência humana (HIV). Os fatores de risco para uma DST incluem contato com profissionais do sexo, abuso de drogas, história anterior de DSTs, encontrar parceiros na internet, múltiplos parceiros sexuais, um parceiro sexual novo e ser jovem e solteiro. Outra doença a se pensar é causada pelo vírus Epstein-Barr. ▪ Eletrencefalograma O EEG avalia a atividade elétrica cortical cerebral regional. A neurociência clínica tem uma longa história de uso do EEG. Ele pode ser usado de diferentes maneiras para estudar estados ou atividades cerebrais específicos por meio de modificações da técnica de coleta de dados ou dos próprios dados. Os dados do EEG podem ser exibidos em traçados sobre papel na maneira dos registros convencionais. De forma alternativa, podem ser digitalizados, e estes transformados, com frequência usando uma transformação Fourier, para produzir mapas cerebrais topográficos de atividade regional codificados por cores. Os períodos de coleta podem ser prolongados, e os dados podem ser exibidos eletronicamente junto com a monitoração do paciente por vídeo para fornecer avaliações telemétricas de portadores de epilepsia. As avaliações telemétricas são, em geral, realizadas na tentativa de correlacionar anormalidades comportamentaiscom atividade elétrica cerebral como parte do exame de transtornos convulsivos. Períodos prolongados de registro de EEG durante o sono, quando associados com o registro de um ECG de derivações e atividade muscular facial limitadas, resultam no EEG do sono ou polissonografia. Muitos médicos também utilizam o EEG para monitorar a administração de ECT. ▪ ECG O ECG é uma representação gráfica da atividade elétrica do coração. As anormalidades nessa atividade estão correlacionadas com patologia cardíaca. O ECG é usado mais comumente na psiquiatria para avaliar os efeitos colaterais de medicamentos psicotrópicos. FONTES Compêndio de Psiquiatria: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica – Kaplan e Sadock Introdução à Psiquiatria - Andreasen Semiologia Médica – Porto Artigo: Semiologia psiquiátrica - Docentes do Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo https://www.amazon.com.br/Comp%C3%AAndio-Psiquiatria-Ci%C3%AAncia-Comportamento-Cl%C3%ADnica/dp/8582713789/ref=sr_1_1?adgrpid=80710606505&dchild=1&gclid=Cj0KCQjwytOEBhD5ARIsANnRjVitNP5aI-Al1SPwZP5FtkNWhAJeZP8ll0D3Nmf3qDLBK5TQLiOn6k8aAiUYEALw_wcB&hvadid=426016287764&hvdev=c&hvlocphy=1001522&hvnetw=g&hvqmt=e&hvrand=17704228431298352880&hvtargid=kwd-319601880923&hydadcr=5655_11235215&keywords=comp%C3%AAndio+de+psiquiatria&qid=1620396309&sr=8-1 https://www.amazon.com.br/Comp%C3%AAndio-Psiquiatria-Ci%C3%AAncia-Comportamento-Cl%C3%ADnica/dp/8582713789/ref=sr_1_1?adgrpid=80710606505&dchild=1&gclid=Cj0KCQjwytOEBhD5ARIsANnRjVitNP5aI-Al1SPwZP5FtkNWhAJeZP8ll0D3Nmf3qDLBK5TQLiOn6k8aAiUYEALw_wcB&hvadid=426016287764&hvdev=c&hvlocphy=1001522&hvnetw=g&hvqmt=e&hvrand=17704228431298352880&hvtargid=kwd-319601880923&hydadcr=5655_11235215&keywords=comp%C3%AAndio+de+psiquiatria&qid=1620396309&sr=8-1 Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL TRANSTORNOS DE ANSIEDADE A ansiedade representa um fenômeno fundamental em torno do qual diversas teorias psiquiátricas foram organizadas. Portanto, o termo “ansiedade” tem desempenhado um papel central na teoria psicodinâmica, bem como na pesquisa focada na neurociência e em várias escolas de pensamento fortemente influenciadas pelos princípios cognitivo-comportamentais. Os transtornos de ansiedade estão associados com morbidade significativa e com frequência são crônicos e resistentes a tratamento. Os transtornos da ansiedade se subdividem em várias classes especificando seu diagnóstico em: transtorno de ansiedade de separação, mutismo seletivo, fobias específicas, transtorno de ansiedade social (fobia social), síndrome do pânico, ataque de pânico, agorafobia, Transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtorno de ansiedade induzido por medicação ou substância, transtorno de ansiedade secundário a outra condição médica, transtorno de ansiedade com outra especificação e transtorno de ansiedade inespecífico. Um aspecto fascinante dos transtornos de ansiedade é a extraordinária interação entre fatores genéticos e experiência. Existe pouca dúvida de que genes anormais predispõem a estados de ansiedade patológica; entretanto, as evidências indicam com clareza que acontecimentos de vida traumáticos e estresse também são etiologicamente importantes. Assim, o estudo desses transtornos apresenta uma oportunidade única de entender a relação entre natureza e criação na etiologia dos transtornos mentais. ANSIEDADE NÃO PATOLÓGICA Todo mundo experimenta ansiedade. Ela é caracterizada mais comumente como uma sensação difusa, desagradável e vaga de apreensão, muitas vezes acompanhada por sintomas autonômicos como cefaleia, perspiração, palpitações, aperto no peito, leve desconforto estomacal e inquietação, indicada por uma incapacidade de ficar sentado ou em pé por muito tempo. A gama de sintomas presentes durante a ansiedade tende a variar entre as pessoas. Manifestações periféricas de ansiedade: Diarreia; Vertigem; Hiperidrose; Reflexos aumentados; Palpitações; Dilatação da pupila; Inquietação (p. ex., marchar); Síncope; Taquicardia; Formigamento das extremidades; Tremores; Perturbação estomacal (“borboletas”); Frequência, hesitação, urgência urinária. MEDO X ANSIEDADE A ansiedade é um sinal de alerta; indica um perigo iminente e capacita a pessoa a tomar medidas para lidar com a ameaça. O medo é um sinal de alerta semelhante, mas deve ser diferenciado da ansiedade. Ele é uma resposta a uma ameaça conhecida, externa, definida ou não conflituosa; a ansiedade é uma resposta a uma ameaça desconhecida, interna, vaga ou conflituosa. Essa distinção entre medo e ansiedade surgiu de forma acidental. Quando o primeiro tradutor de Freud traduziu mal angst, a palavra alemã para “medo”, como ansiedade, o próprio Freud ignorou a distinção que associa a ansiedade com um objeto reprimido, inconsciente, e o medo com um objeto externo, conhecido. ANSIEDADE E ADAPTAÇÃO Ansiedade e medo são ambos sinais de alerta e atuam como uma advertência de uma ameaça externa ou interna. A ansiedade pode ser conceituada como uma resposta normal e adaptativa que tem qualidades salva-vidas e adverte sobre ameaças de dano corporal, dor, impotência, possível punição ou frustração de necessidades sociais ou corporais; separação de entes queridos; ameaça ao sucesso ou à posição individual; e, por fim, sobre ameaças à unidade ou integridade. Ela impele o indivíduo a tomar as medidas necessárias para evitar a ameaça ou reduzir suas consequências. Essa preparação é acompanhada por aumento da atividade somática e autonômica controlada pela interação dos sistemas nervosos simpático e parassimpático. Exemplos de uma pessoa que evita as ameaças da vida diária incluem aplicar-se na preparação de um exame, agarrar uma bola atirada contra a cabeça, entrar no dormitório de forma sorrateira após a hora estabelecida para evitar punição, correr para pegar o último trem. Dessa forma, a ansiedade previne prejuízo ao alertar o indivíduo a realizar certos atos que evitam o perigo. ESTRESSE E ANSIEDADE Se um acontecimento é percebido ou não como estressante depende da natureza do acontecimento e dos recursos, das defesas psicológicas e dos mecanismos de enfrentamento da pessoa. Todas essas referências envolvem o ego, uma abstração coletiva para o processo pelo qual o indivíduo percebe, pensa e atua sobre os acontecimentos externos ou os impulsos internos. Uma pessoa cujo ego esteja funcionando de maneira apropriada está em equilíbrio adaptativo tanto com o mundo externo como com o interno; se o ego não estiver funcionando adequadamente e o desequilíbrio resultante continuar por tempo suficiente, o indivíduo experimentará ansiedade crônica. Se o desequilíbrio for externo, entre as pressões do mundo e o ego do indivíduo, ou interno, entre os impulsos (p. ex., agressivos, sexuais ou dependentes) e a consciência, ocorrerá um conflito. Os conflitos de causas externas costumam ser interpessoais, enquanto os de causas internas são intrapsíquicos ou intrapessoais. É possível uma combinação dos dois, como no caso de empregados cujo patrão excessivamente exigente e crítico provoca impulsos Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL que precisam ser controlados pelo medo de perder o emprego. Os conflitos interpessoais e intrapsíquicos tendem a ser mesclados. Pelo fato de os seres humanos serem sociais, seus principais conflitos são, em geral, com outras pessoas. CONCEITO DOS TRANTORNOS DE ANSIEDADE Os transtornos psiquiátricos se tornaram extremamente comuns no sociedade contemporânea e causam profundo impacto na qualidade de vida e bem-estar dos indivíduos afetados. Os transtornos psiquiátricos são definidos como as condições que interferem nos pensamentos, sentimentos e/ou comportamentos, efeitos que costumam causar sensação de angústia ou deficiência nas suas funções normais, como nas atividades diárias e relações interpessoais.Essas condições são fortemente associadas a alterações neurológicas, doenças sistêmicas ou drogas que interferem no funcionamento do cérebro. Vale ressaltar que os transtornos psiquiátricos são diferentes das condições de demência e delírio, que na verdade são transtornos neurocognitivos, caracterizados pelo prejuízo na atenção, memória, linguagem e outras funções do cérebro. A patogênese dos transtornos psiquiátricos ainda não é completamente esclarecida, e com isso a classificação dos diferentes transtornos é baseada nas manifestações clínicas, que podem apresentar variações relacionadas com o perfil genético do indivíduo. Com isso, alguns transtornos são descritos, como os transtornos de ansiedade, depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, entre outros. Os transtornos de ansiedade são definidos como um grupo de condições caracterizadas pela ansiedade idiopática, acompanhada de sintomas psicológicos, como alterações de pensamento, e somáticos, que envolvem sudorese, taquicardia, entre outros. Além disso, no aspecto neurobiológico, três neurotransmissores parecem estar fortemente associados com a ansiedade: norepinefrina, serotonina e GABA. Alguns pacientes também parecem apresentar alterações no sistema nervoso autônomo, com aumento do tônus simpático. Componentes genéticos parecem contribuir para o desenvolvimento de transtornos ansiosos. Estudos de neuroimagem em pacientes com distúrbios de ansiedade revelam alterações em lobo temporal direito, núcleo caudado e giro para-hipocampal. A partir destes estudos, tem-se postulado que o sistema límbico e o córtex cerebral estejam particularmente implicados na neuroanatomia destes transtornos. A superposição dos transtornos ansiosos a outras condições clínicas é muito frequente. Os sintomas podem incluir ataques de pânico, ansiedade generalizada e sintomas obsessivo-compulsivos. Desse modo, o principal diagnóstico diferencial a ser feito inclui condições orgânicas ou psiquiátricas nas quais a ansiedade possa estar associada de forma primária ou secundária: ▪ Doenças neurológicas: tumores cerebrais, epilepsia, enxaqueca, doença cerebrovascular, síndrome pós- concussiva, esclerose múltipla, encefalite. ▪ Doenças endócrinas: disfunção tireoidiana, síndrome carcinoide, feocromocitoma, doença de Addison, síndrome de Cushing. ▪ Doenças pulmonares: asma, hiperventilação, embolia pulmonar, hipóxia, DPOC. ▪ Doenças cardiovasculares: angina, HAS, ICC, arritmias, IAM. ▪ Doenças inflamatórias: LES, artrite reumatoide, PAN, arterite temporal. ▪ Intoxicação por substâncias: cocaína, alucinógenos, cafeína, nicotina, anfetaminas, anticolinérgicos, corticosteroides. ▪ Abstinência a drogas: álcool, anti-hipertensivos, opioides, benzodiazepínicos. ▪ Outras condições: intoxicações por metais pesados, infecções sistêmicas, uremia, distúrbios hidroeletrolíticos, hipoglicemia, anemia. O tratamento destas condições envolve a retirada da causa primária – o tratamento da doença de base ou a retirada da substância – associada, caso necessário, ao uso de benzodiazepínicos, antidepressivos e psicoterapia. ETIOLOGIA GERAL As causas dos transtornos de ansiedade não são completamente conhecidas, mas tanto fatores psiquiátricos como médicos gerais estão envolvidos. Muitas pessoas desenvolvem transtornos de ansiedade sem qualquer antecedente desencadeante identificável. A ansiedade pode ser uma resposta a estressores ambientais, tais como o término de um relacionamento importante ou a exposição a um desastre que ameace a vida. Alguns transtornos médicos gerais podem produzir ansiedade diretamente; eles incluem: Hipertireoidismo, feocromocitoma, insuficiência cardíaca, arritmias, asma, DPOC. Vários fármacos podem causar ansiedade. Corticoides, cocaína, anfetaminas e cafeína podem causar diretamente ansiedade, enquanto a síndrome de abstinência de álcool, de sedativos e de algumas drogas ilícitas também pode causar ansiedade. PATOGÊNESE O estado de ansiedade corresponde ao acionamento inadequado do sistema de resposta ao estresse (luta ou fuga) associado com uma variedade de respostas dos sistemas cognitivo, motor, neuroendócrino e autonômico, envolvendo assim não apenas o sistema simpático. Com https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-da-tireoide/hipertireoidismo https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-adrenais/feocromocitoma https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca-ic https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/arritmias-e-doen%C3%A7as-de-condu%C3%A7%C3%A3o/vis%C3%A3o-geral-das-arritmias https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/asma-e-doen%C3%A7as-relacionadas/asma https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/doen%C3%A7a-pulmonar-obstrutiva-cr%C3%B4nica-e-doen%C3%A7as-relacionadas/doen%C3%A7a-pulmonar-obstrutiva-cr%C3%B4nica-dpoc Maria Eduarda de Souza – SAÚDE MENTAL isso, a ansiedade é caracterizada por emoções negativas, reflexos autônomos, comportamentos defensivos, vigilância e secreção de mineralocorticoides sem que haja estímulo externo. Em outras palavras, o indivíduo que sofre com os transtornos de ansiedade se sente como um indivíduo normal (não ansioso) se sente em situações de risco, a diferença é que o indivíduo com ansiedade em crise não está em situação de risco. Obs.: Acredita-se que o núcleo central da amigdala seja o principal componente na coordenação da resposta da ansiedade. A amigdala recebe a entrada glutamatérgica excitatória de várias áreas corticais e do tálamo, permitindo que sejam montadas respostas a vários estímulos, inclusive informações sensoriais do meio externo assim como estressores que são processados e reconhecidos por áreas de associação corticais. Sabe-se que o hipotálamo possui um papel central em orquestrar uma resposta humoral, visceromotora e somático-motora apropriada. Esta resposta é regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA). Já o hormônio cortisol, é liberado pela glândula adrenal em resposta a um aumento nos níveis sanguíneos do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), liberado pela hipófise anterior devido ao estímulo do hormônio liberador de corticotrofina (CRH) do hipotálamo. Os neurônios hipotalâmicos que secretam CRH são regulados pela amígdala e pelo hipocampo. Quando o núcleo central da amígdala é ativado, interfere no eixo HPA e a resposta ao estresse é emitida, sendo que a ativação inapropriada tem sido relacionada com os transtornos de ansiedade. O hipocampo contém receptores para glicocorticoides que são ativados pelo cortisol, e com altos níveis de cortisol circulante, participa da regulação por retroalimentação do eixo HPA, inibindo a liberação de CRH e consequentemente de ACTH e cortisol. A exposição contínua ao cortisol, em períodos de estresse crônico, pode levar à disfunção e à morte dos neurônios hipocampais. Assim, o hipocampo começará a apresentar falhas em sua capacidade de controlar a liberação dos hormônios do estresse e de realizar suas funções de rotina. O estresse também influencia a aptidão de induzir a potenciação de longo prazo no hipocampo, o que provavelmente explica o porquê da falha de memória. A atividade elevada do córtex pré-frontal também tem sido relatada nos transtornos de ansiedade. Em resumo, a amígdala e o hipocampo regulam o sistema HPA e a resposta ao estresse de uma maneira coordenada, tanto com a hiperatividade da amígdala, relacionada a memórias inconscientes estabelecidas por mecanismos de condicionamento pelo medo quanto com a diminuição de atividade do hipocampo, o qual participa no armazenamento de memórias conscientes durante uma situação de aprendizado traumático.
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