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Desafios contemporâneos- UNIDADE 3

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- -1
DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
EXISTE ÉTICA NO 
DESENVOLVIMENTO 
TECNOLÓGICO?
Autoria: Dr. Maicon Costa Borba Macedo - Revisão 
técnica: Dr. Marcelo Flório
- -2
Introdução
O desenvolvimento tecnológico é apontado por muitos pensadores contemporâneos como o motor do
progresso dos países. Afinal de contas, as nações com maiores índices de crescimento em ciência e tecnologia
também são as com melhores índices de emprego, educação, saúde, transporte. Além disso, graças aos
avanços tecnológicos dos últimos anos, mais pessoas têm acesso a produtos como , celulares, notebooks
, e fármacos para as mais diferentes doenças. E os prognósticos apontam que, no futuro,smartphones tablets
isso se intensificará ainda mais, abrangendo todos os aspectos da existência humana. Mas quais são,
verdadeiramente, as consequências desse intenso desenvolvimento tecnológico? Ele traz somente benefícios
às sociedades? E quais seus impactos no meio ambiente? É preciso se preocupar com questões éticas?
Neste capítulo, vamos abordar o impacto do desenvolvimento tecnológico no meio ambiente, sobretudo, sua
interface com o consumo e o consumismo. Também vamos estudar os principais marcos do desenvolvimento
tecnológico e sua influência na organização social, especialmente a partir da expansão da internet. Vamos ver
os avanços da ciência na área da saúde e as questões éticas que isso suscita. E, por fim, iremos refletir sobre a
influência das tecnologias no mundo do trabalho, identificando os desafios impostos aos trabalhadores.
Bons estudos!
: 52 minutos.Tempo estimado de leitura
3.1 Meio ambiente, consumo e ética
O consumo faz parte da história humana e está associado à sobrevivência dos grupos sociais, como bem
sugeriu o sociólogo Zygmunt Bauman (2012) em sua obra “Vida para consumo: a transformação das pessoas
em mercadoria.” Produzir, estocar e trocar produtos tem sido algumas das principais atividades humanas
desde a Pré-História. Durante muitos anos, o consumo visou suprir as necessidades humanas: compravam-se
ou trocavam-se produtos que eram necessários à sobrevivência ou à condução da vida social. Mas essa
maneira de consumir se modificou ao longo do tempo, principalmente após a Revolução Industrial, iniciada na
Inglaterra no século XVIII.
A partir da Revolução Industrial a oferta de produtos passou a ser mais abundante e barata. O consumo tornou-
se a base da movimentação da economia. E é com o aumento do consumo que as empresas passam a obter
lucros. O consumidor, então, torna-se central nesse processo, pois é preciso convencê-lo a comprar os novos
produtos disponíveis no mercado. Gradativamente, ao longo do século XX, temos a passagem do consumo
para o consumismo. Mas qual a diferença entre consumo e consumismo? Vamos para a resposta a seguir.
- -3
3.1.1 As diferenças entre consumo e consumismo
Seguindo as reflexões de Bauman (2012, p. 25), o “consumismo é um tipo de arranjo social” baseado nos
desejos e anseios das pessoas. Mas estes desejos não obedecem a uma reflexão autônoma dos indivíduos. Eles
são fruto de construções sociais, impostas pelas empresas, com a ajuda de campanhas de marketing, que têm o
objetivo de convencer as pessoas – agora transformadas em “consumidoras” – de que elas precisam de
determinados produtos. Temos, então, um tipo de organização social em que o consumo tornou-se tão
importante que passou a ser percebido como “o verdadeiro propósito da existência” (CAMPBELL, 2004, apud
BAUMAN, 2012, p. 24).
De acordo com Bauman (2012), se nas sociedades e períodos históricos marcados pela lógica do consumo, a
qualidade e a durabilidade dos produtos eram requisitos importantes, nas sociedades marcadas pelo
consumismo os valores que implicam no consumo são outros. A segurança de um bem durável é substituída
por uma quantidade cada vez maior de desejos imediatos, que são sempre renovados e ampliados, com a
substituição constante dos objetos de desejo. Um bom exemplo é a velocidade com que os produtos
tecnológicos, como celulares e computadores, tornam-se obsoletos. Como desfecho dessas constatações,
temos uma espécie de círculo vicioso em que novos desejos demandam novos produtos e novos produtos
demandam novos desejos.
Mas quais as consequências para o meio ambiente do consumo desenfreado? Os produtos que são vendidos
nas lojas e supermercados pressupõem a utilização de recursos naturais, sendo que muitos não são renováveis.
E se os produtos se tornam rapidamente obsoletos, isso significa que muitos vão parar na lata do lixo. Então,
quanto mais consumimos, mais produzimos lixo. Quais as consequências para a natureza de uma produção
descontrolada de lixo?
3.1.2 Produção de bens de consumo e o meio ambiente
Você quer ler?
O site , da designer brasileira Cristal Muniz, relata a experiência da Um Ano Sem Lixo
autora em tentar produzir o mínimo de lixo possível, evitando desperdícios e buscando 
alternativas viáveis para situações do dia a dia. O estilo de vida adotado pela blogueira 
prima por opções sustentáveis e que não agridam o meio ambiente (MUNIZ, 2018). 
Confira o site na íntegra clicando no botão abaixo!
Acesse
- -4
Para sustentar uma sociedade baseada no consumo, a produção de bens deve ser cada vez mais intensa. O
desenvolvimento tecnológico, sobretudo, nas últimas décadas, tem intensificado a produção desses bens. As
empresas mais sofisticadas utilizam máquinas, computadores, robôs, dentre outras tecnologias para aumentar a
sua produtividade. Com uma maior oferta e demanda de produtos, acompanhamos o aumento do uso dos
recursos naturais, o avanço da emissão de gases poluentes e uma acentuada produção de lixo (LEONARD,
2011).
O uso intensivo dos recursos naturais nem sempre é acompanhado dos cuidados que a atividade demanda. Um
exemplo que ilustra essa questão refere-se ao que ficou conhecido como o “Desastre de Mariana”, no estado
de Minas Gerais, em que o rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração, em 2015, causou uma
série de danos ambientais. A tragédia é fruto de uma exploração desenfreada dos recursos naturais, almejando
o lucro sem as devidas preocupações com o meio ambiente.
Figura 1 - O lixo é um grande desafio às cidades: apenas 3% de todo o lixo produzido no Brasil é reciclado Fonte: Strahil Dimitrov, 
Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos a fotografia de uma vala seca, com lixo. Há árvores secas ao redor e, ao fundo, 
alguns prédios.
Outro recurso natural bastante utilizado em nossa sociedade é o petróleo, que ainda é uma das bases que
possibilita o movimento da economia de diversos países, tanto como combustível para veículos automotores,
como em seus diversos usos na indústria de materiais plásticos. No entanto, a queima de combustíveis fósseis
é responsável pela emissão de grandes quantidades de CO2 (dióxido de carbono) no planeta, um dos principais
gases responsáveis pelo efeito estufa e, consequentemente, pelo aquecimento global (GIDDENS, 2012).
A produção de lixo é outra consequência do consumo desenfreado dos nossos tempos. Em todo o ciclo
de produção de bens, que começa com o processo de extração de matérias-primas da natureza, até sua
utilização e descarte, há a geração de lixo em estado gasoso, líquido e sólido. Além disso, um grande
desafio enfrentado pelas cidades é o que fazer com a quantidade de lixo produzido diariamente, uma
vez que seu descarte inadequado causa sérios danos ao meio ambiente.
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Um dos danos é a poluição dos mares e rios, que gera degradação da vida marinha e põe em risco o
abastecimento de água potável (PEREIRA, 2011). Além disso, há a emissão de gases produzidos pelos
lixões, que intensificam o aquecimento global e poluem os lençóis freáticos. Apesar disso, muitas
pessoas ainda não têm consciência dos riscos à vida do planeta que o descarte incorreto do lixo
representa, por isso sacolas plásticas e embalagens de todo o tipo são comumente encontrados jogados
pelas ruas.
Mas será que a produção de lixo e a poluição do planetaé um caminho sem volta? E o que nós podemos fazer
para amenizar ou até mesmo frear essa situação?
3.1.3 Possibilidades para reverter a degradação do meio ambiente
As soluções para os problemas apontados anteriormente não são simples e exigem a sensibilização do maior
número possível de pessoas e, também, dos nossos governantes. Como afirma Anthony Giddens (2012), é
preciso impor limites à destruição do planeta e para tanto o engajamento das nações é imprescindível. Mas em
escala individual, algumas atitudes, como as descritas a seguir, também podem ser adotadas para transformar
nossa sociedade e colaborar com o planeta.
Uma atitude passível de ser adotada é repensar nosso modelo de consumo. É necessário que cada vez mais
pessoas passem a praticar um consumo consciente, refletindo se os bens adquiridos são uma necessidade ou
apenas um impulso consumista. Junto disso, é possível contribuir com a preservação dos recursos naturais ao
buscar informações sobre a origem da matéria-prima dos bens que consumimos – se foram produzidos com
baixo impacto ambiental, por exemplo, e se são recicláveis.
Você sabia?
Anthony Giddens descreveu um cenário limítrofe que chamou de paradoxo de Giddens:
por mais que os prognósticos em relação ao futuro do planeta sejam desastrosos se não 
revertermos a destruição do meio ambiente, o conhecimento que temos acerca do 
fenômeno da mudança climática não é suficientemente forte para mudar os hábitos 
cotidianos que contribuem para este fenômeno. O paradoxo reside no fato de que, 
quando a mudança climática se fizer sentir ao ponto de modificar os hábitos da 
população, será demasiado tarde para freá-la (GIDDENS, 2012).
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Outra providência que tem sido empregada em cidades que buscam reduzir a emissão de gases poluentes é o
estímulo ao uso do transporte público.
Para além das ações individuais, também é preciso demandar ações voltadas para a preservação do meio
ambiente, tais como leis que coíbam o desmatamento e a poluição do solo e dos rios. Adotar uma postura ética
perante a natureza, tanto a nível individual quanto a nível institucional e governamental, é urgente para frear a
degradação ambiental. Além da questão ambiental, o desenvolvimento tecnológico também tem impacto nas
relações sociais, assunto de estudo do nosso próximo tópico. 
3.2 O impacto da tecnologia nas relações sociais
As tecnologias são inerentes à vida do homem em sociedade. Embora o termo seja costumeiramente
empregado para designar produtos modernos e sofisticados do tempo presente, tecnologia remete às técnicas,
métodos, instrumentos, utensílios empregados na realização das atividades humanas. Se pensarmos nas
ferramentas construídas com pedras lascadas, no período que remonta à Pré-História, as ferramentas com
pedras polidas representam uma tecnologia melhorada e as com metais, uma verdadeira transformação
tecnológica. Comparando com as máquinas e os instrumentos do nosso tempo, as ferramentas do período
histórico denominado Idade dos Metais parecem obsoletas.
Mas será que o domínio tecnológico do presente não seria consequência de cumulativas invenções e
descobertas realizadas ao longo do tempo? E, por outro lado, existiriam peculiaridades no desenvolvimento
Estudo de Caso
A cidade de Paris, na França, tem por prática dar gratuidade no transporte público em 
dias que a poluição na cidade alcança picos muito elevados, o que faz com que menos 
carros circulem, diminuindo a emissão de gases poluentes. No Brasil, há cidades em que 
a poluição alcança níveis até duas vezes superiores aos estabelecidos pela Organização 
Mundial da Saúde, como é o caso de São Paulo. Apesar disso, não são tomadas medidas 
como a adotada por Paris. Quais interesses estão em jogo quando medidas 
comprovadamente eficazes para o combate à poluição não são observadas no Brasil? É 
comum em nosso país que decisões importantes a respeito do meio ambiente sejam 
tomadas levando em consideração, primeiramente, interesses econômicos – como é o 
caso dos das empresas de transporte público – em detrimento de interesses de ordem 
social e ambiental. Nesse sentido, é necessário um amplo debate na sociedade civil e 
uma maior pressão sobre o poder público para que interesses econômicos não se 
sobreponham ao da maioria da população.
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tecnológico contemporâneo? Na verdade, o homem sempre desenvolveu tecnologia, a novidade é a dinâmica
que elas assumiram nas sociedades capitalistas atuais.
3.2.1 Os grandes marcos tecnológicos das sociedades humanas
A história das tecnologias é marcada por eventos importantes, que determinaram a sobrevivência da espécie
humana no planeta e a forma de organização social. Na Pré-História, por exemplo, a descoberta do fogo foi
fundamental para a sobrevivência do homem. Além de proteger do frio, possibilitou o cozimento dos
alimentos e, posteriormente, trabalhar com os metais. Já a agricultura aumentou significativamente a oferta de
alimentos e possibilitou fixar o homem em um território, que até então era nômade, colaborando para o
surgimento dos primeiros povoados e cidades (CARVALHO, 2014). Com a fixação do homem e o
desenvolvimento da agricultura, o tempo que antes era gasto na caça e na coleta passou a ser empregado em
outras atividades, resultando em novas invenções.
Figura 2 - Imagens de arte rupestre nos mostram que há muito tempo o homem já domina ferramentas e domestica animais Fonte: 
Jannarong, Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos a fotografia de um pintura em parede. Trata-se de uma cena de caça, em que há 
três homens à direita. Há outro à esquerda, segurando um arco e flecha. Também há a pintura de um animal e 
outras pessoas sentadas. A pintura é vermelha.
Ao longo do tempo, a invenção de objetos, a maneira de produzir os bens e a forma de organização social
foram se transformando. É a Revolução Industrial o principal acontecimento que marca o início da sociedade
capitalista moderna. Esse evento desencadeou profundas transformações na forma de produzir manufaturados,
com a intensificação do uso de maquinas a vapor, novas formas de organizar a produção nas fábricas e dando
início a produção de massa. Temos, então, um progresso acelerado da indústria, com destaque para a têxtil e a
dos transportes, com o desenvolvimento das ferrovias (CASTELLS, 1999).
A Revolução Industrial também colaborou para o surgimento do capitalismo e para a destruição dos modos de
produção artesanais. Os países que, na esteira da Inglaterra, se industrializaram, logo experimentaram um
crescimento econômico sem precedentes. Não obstante, os trabalhadores perderam o controle sobre o processo
de trabalho. Se antes o trabalhador era o responsável pela concepção e construção dos produtos, agora ele não
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é proprietário dos meios de produção, não cabe a ele sua concepção e irá executar apenas uma parte do
trabalho, alienando-se do processo e do produto final. Além disso, as primeiras fábricas desse período
proporcionaram lucros extraordinários para seus proprietários, mas péssimos salários e condições de trabalho
aos trabalhadores (HOBSBAWM, 1977).
A chamada Segunda Revolução Industrial, no século XIX, é um desdobramento da primeira, porém com a
participação proeminente dos Estados Unidos. Neste período, temos a intensificação de inovações
importantes, que se mantêm até os dias atuais, tais como o emprego da energia elétrica, a utilização do
petróleo nos motores a combustão, as novas ligas metálicas mais resistentes e maleáveis. É nesse contexto que
surgem os primeiros protótipos e os primeiros automóveis são comercializados. Novos métodos gerenciais
também remontam a este período, buscando organizar as empresas para aumentar a sua produtividade. O norte-
americano Frederick Taylor é uma das personalidades mais marcantes, ele elaborou uma obra chamada
“Princípios da administração científica”, publicada em 1911, considerada um marco na história da
administração. Nela, Taylor detalha como deve ser uma administraçãocientífica, buscando a eficiência da
empresa. Até mesmo os mínimos gestos dos trabalhadores são estudados por Taylor, buscando fazer com que
se produza mais em menos tempo (BRAGA, 1995).
Na primeira metade do século XX, ocorre a consolidação e expansão do uso das tecnologias desenvolvidas ao
longo do século anterior. Os países mais industrializados dominam a utilização do petróleo, da energia elétrica
e possuem indústrias altamente mecanizadas. Já na segunda metade do século XX, a grande novidade advém
das chamadas tecnologias de informação e comunicação (TIC). Também chamada de Terceira Revolução
Industrial, Revolução Informacional, Era Digital, Era da Informação, dentre outras denominações, o que
caracteriza este momento histórico é o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação,
personificadas na figura dos computadores. A rede mundial de computadores, a internet, permitiu conectar o
mundo com qualidade e instantaneidade. Rapidamente os computadores foram adotados pelas empresas, pelos
governos e pelas pessoas. A capacidade que os computadores possuem de processar uma grande quantidade de
dados é sem precedentes, além de permitir inúmeras outras atividades, pois se trata de uma tecnologia em
constante aprimoramento (CASTELLS, 1999). 
Você quer ver?
O filme (CHAPLIN, 1936) mostra o impacto da Revolução Industrial Tempos Modernos
do final do século XIX sobre o trabalho e a vida dos operários das fábricas. Com a 
implementação do modelo de produção taylorista-fordista, o tempo de trabalho, os 
corpos e os gestos dos trabalhadores passam a ser controlados e cronometrados de forma 
a minimizar o tempo utilizado na produção.
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Figura 3 - A rede mundial de computadores conectou pessoas em todo o mundo, com velocidade e qualidade Fonte: nmedia, 
Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos uma fotografia editada digitalmente. Há um celular à esquerda com um globo 
projetado na tela. Dele, surgem linhas que sugerem conexões. Estas ultrapassam a tela do aparelho e vão até o 
lado direito.
As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) vêm tendo, a partir de então, uma influência crescente
em nossa sociedade: nas empresas, nos governos, nas universidades, na ciência e na vida pessoal de cada um.
Mas para além dos produtos tecnológicos entregues pela Era da Informação, existiriam singularidades na
forma de organização da nossa sociedade causadas pelas tecnologias informacionais? E quais seriam as
características principais desta nova Era? Precisamos refletir sobre isso, afinal de contas, estamos vivendo sob
seus efeitos.
3.2.2 A singularidade da Era da Informação
As transformações trazidas pela Era da Informação estão sendo impactantes, em graus diferentes, para todos
os países. As novidades e possibilidades ensejadas pelos computadores e pela internet afetaram a organização
das empresas, a forma de produzir e de trabalhar. Pela primeira vez na história, temos o conhecimento como a
matéria-prima principal, como fonte da produtividade.
O sociólogo Manuel Castells (1999), um dos principais teóricos da Era da Informação, apresenta as principais
características deste período histórico, fornecendo pistas para entender as mudanças que ainda estão em curso.
Segundo o autor, a penetrabilidade das novas tecnologias seria um dos fatores principais de sua abrangência.
Dessa forma, todos os processos da vida, tanto individual quanto coletiva, seriam atingidos pelas novas
tecnologias. Outro ponto importante seria o que o autor chamou de lógica das redes. Isso significa que as
tecnologias permitem um estreitamento das relações, tanto dos sistemas produtivos quanto das relações sociais.
Conectado à lógica das redes, Castells (1999) destaca outra característica de nossa época, trazida pelas TIC,
que é a flexibilidade. A flexibilidade das redes faz com que os processos, as organizações ou instituições
possam ser alterados a qualquer momento, pelo rearranjo de seus componentes. A flexibilidade é também
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responsável pelas rápidas mudanças que ocorrem nos padrões produtivos a nível mundial. Por fim, o autor
aponta outro aspecto emblemático da Era da Informação, a intensa convergência de tecnologias em um
sistema cada vez mais integrado. Ou seja, as novas tecnologias de comunicação e de informação estão
integradas com todo o sistema produtivo, com as engenharias, com a química e com as demais ciências,
influenciando-se mutuamente, estando em constante evolução.
Afora essas características apresentadas, temos ainda outros desdobramentos oriundos do desenvolvimento das
TIC. A internet, por exemplo, além de conectar as pessoas que se encontram em diferentes locais no globo,
deu um novo impulso à acumulação capitalista, com o protagonismo do mercado financeiro que, a partir de
então, controla o movimento da economia em tempo real e transfere seu capital de um país a outro em um
clique. Temos aqui o que foi denominado de globalização, marcada por intensas trocas comerciais e culturais
entre os países.
Outro aspecto marcante é a automação de muitas atividades que antes eram realizadas pelo ser humano. Há
uma crescente substituição da mão de obra humana por máquinas, computadores e robôs. Nesse ponto, a
interpretações sobre as novas tecnologias é bastante polarizada: há quem argumente que as máquinas estão
destruindo o emprego das pessoas; e há quem pense que, se empregos estão sendo destruídos, também novos
empregos estão sendo criados.
Em que pesem as especulações, ainda não se tem com exatidão a resposta para a questão se a balança entre
extinção e criação de empregos se equilibrará. O certo é que as indústrias e empresas que mais se
desenvolvem na atualidade são aquelas que se utilizam das novas tecnologias. O mercado de trabalho cresce
em áreas que produzem computadores e seus componentes, como , circuitos eletrônicos e serviçossoftwares
voltados à informática e a tendência é que isso se intensifique, abrangendo todos os setores da economia de
forma cada vez mais intensa.
- -11
Figura 4 - A tecnologia abrange, hoje, todas as esferas da sociedade e das relações humanas trazendo impactos positivos e negativos 
Fonte: Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos uma fotografia editada digitalmente. Trata-se de uma pessoa apertando uma 
tecla. Por cima, há a ilustração de números e conexões. Ao fundo, pode-se observar o Planeta Terra à esquerda 
e um céu com nuvens à direita.
É importante destacar que as novas tecnologias de informação e comunicação transformaram,
significativamente, o sistema produtivo mundial. Mas também é importante compreender que estas mudanças
atingiram a forma de organização da sociedade, que passou a estar conectada com o mundo por meio da
internet (CASTELLS, 1999). É a natureza das relações humanas que está se transformando. A proximidade
virtual entre as pessoas, a velocidade dos acontecimentos e a penetrabilidade das tecnologias transforma a
maneira como nos relacionamos uns com os outros e com a sociedade. Realmente, vivemos em um mundo
surpreendente e a questão do desenvolvimento tecnológico também requer uma abordagem do ponto de vista
ético, como vamos acompanhar no próximo tópico. 
3.3 Ciência, tecnologia e ética
Você acredita que sempre se fez ciência da mesma forma, ao longo da história da humanidade? Ao contrário
do que se possa imaginar - de que a ciência é uma atividade sempre cumulativa e que progride linearmente ao
longo do tempo - ela possui rupturas e reorientações, que a conduziram até seu estado atual (KUHN, 1997).
Os primeiros passos da ciência, tal como a conhecemos hoje, foram dados a partir do século XV, com a
Revolução Científica.
Se até o final da Idade Média a forma como a humanidade conhecia o mundo estava vinculada a concepções
teológicas e filosóficas, a partir do século XV e, especialmente, com os estudos de Galileu Galilei, a produção
de conhecimento científico tomou um rumo mais prático. O empirismo e o método indutivo, que define a
produçãode conhecimento científico através da observação e a da experiência, firmaram-se como paradigmas
metodológicos da nova forma de fazer ciência.
Você o conhece?
Considerado o pai da ciência moderna, Galileu Galilei foi um cientista italiano que viveu 
entre os séculos XVI e XVII. Por defender a teoria heliocentrista de Nicolau Copérnico 
(1473-1543), de que a Terra girava em torno do Sol, e não o contrário, entrou em 
conflito com a Igreja, instituição que definia então o que era a “verdade”, segundo a 
interpretação das Sagradas Escrituras Foi condenado pelo Tribunal do Santo Ofício e .
obrigado a desmentir suas teses para escapar da morte.
- -12
Observamos uma maior profissionalização e institucionalização da prática científica durante o século XIX.
Descobertas, invenções e novas tecnologias se conjugaram e se retroalimentaram para promover grandes
saltos de conhecimento que transformaram o modo como nos relacionamos com a natureza e com o mundo.
Quais seriam os principais avanços trazidos pela ciência? 
3.3.1 Passos cada vez mais largos e mais rápidos: os avanços da ciência
Ao longo do século XX, o desenvolvimento tecnológico e a expansão econômica e industrial causaram
impactos profundos na vida social e cultural, na organização das cidades, nas formas de comunicação e
transporte, bem como na relação entre homem e natureza. Se no início do século XX a ideia de que algum dia
o homem pudesse “voar como um pássaro” parecia algo fantasioso e altamente improvável, na segunda
metade o homem já dava seus primeiros passos na lua. Esse exemplo ilustra a rapidez crescente com que as
transformações, inovações, tecnologias e descobertas científicas se descortinam diante dos olhos das
sociedades nos séculos XX e XXI (HOBSBAWM, 1977).
Figura 5 - A tecnologia nuclear pode ser usada para gerar energia limpa, mas também para construir armas de destruição em massa 
Fonte: Sergey Nivens, Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos a fotografia de uma explosão. Esta forma uma grande nuvem avermelhada. À 
frente, encontramos um mar refletindo a explosão.
A primeira metade do século XX foi profundamente marcada pela eclosão de duas Grandes Guerras de
implicação mundial, e os desafios impostos por este contexto acelerou o desenvolvimento de tecnologias e
inovações, dentre elas a que marcou o século XX: a energia atômica, cuja aplicação trágica pôs fim à Segunda
Guerra Mundial, mas sob pena de devastar duas cidades japonesas – Hiroshima e Nagasaki, a fim de mostrar a
- -13
força bélica dos Aliados. Foi a primeira vez na História que uma criação humana mostrou força com potencial
de colocar em suspenso a garantia da própria sobrevivência da espécie humana no planeta, e os aspectos éticos
que decorrem daí se tornaram incontornáveis.
A medicina científica foi uma das áreas que mais cresceu no último século. Em 1920, Alexander Fleming
descobriu, por acaso, o mais poderoso antibiótico utilizado na medicina: a penicilina. Junto com os
antibióticos, as vacinas, cirurgias assépticas, anestesia, transplantes de órgãos, cirurgias menos invasivas,
dentre outros, fizeram saltar a expectativa de vida dos seres humanos no período (UJVARI; ADONI, 2014).
No Brasil, por exemplo, em 1910, a esperança de vida ao nascer era de 34,6 anos. Em 2010, de 72,6 anos, ou
seja, aumentou 38 anos no período (IBGE, 2018). Já o desenvolvimento da engenharia genética, a partir da
década de 1950, viria revolucionar o entendimento e as possibilidades das terapias médicas.
Por outro lado, a história da tecnologia e da ciência médica é também um terreno tortuoso no qual se
conjugam avanços significativos com debates e entraves éticos ferozes. Muitos dos tratamentos terapêuticos
disponíveis atualmente são resultados de testes, experiências e estudos questionáveis do ponto de vista ético.
3.3.2 Os avanços da ciência médica e a ética científica
Os campos de batalha das duas grandes Guerras Mundiais tornaram-se verdadeiros laboratórios a céu aberto
para a atuação médica. Com pouco tempo para agir, poucos recursos e a alta probabilidade de que soldados
feridos nestas condições viessem a óbito, era justificável que tratamentos mais arriscados e inovadores fossem
utilizados, de modo que a medicina pôde testar métodos, refutar alguns e validar outros, bem como descobrir
tratamentos inteiramente novos. Foi nesse contexto que surgiram novas técnicas cirúrgicas, anestesia, o
tratamento com soro fisiológico, transfusão de sangue, dentre outras (UJVARI; ADONI, 2014). Mas no que
diz respeito à Segunda Guerra Mundial, não apenas o campo de batalha foi utilizado como laboratório médico.
Os experimentos médicos levados a cabo pelo regime nazista junto aos prisioneiros dos campos de
concentração chocam pela crueldade: as cobaias humanas eram coagidas a participar e as experiências
resultavam, em grande parte das vezes, em morte, incapacidade permanente, mutilação ou desfiguração.
Você quer ver?
O premiado documentário (MASAGÃO, Nós que aqui Estamos por Vós Esperamos
1999) retrata em forma de imagens e sons do século XX, em suas características flashes, 
históricas, econômicas, culturais e científicas. Os contrastes do período são enfatizados 
no documentário: se por um lado, temos desenvolvimento tecnológico e esperança no 
avanço da ciência, por outro temos a banalização da violência, dois grandes conflitos 
internacionais e as brutais consequências sobre a vida das pessoas.
- -14
É impossível negar que a ciência médica tenha evoluído graças a episódios tão grotescos e chocantes, e hoje
parte dos conhecimentos médicos de que dispomos são resultados de tais experiências. Existe, inclusive, o
debate sobre se os dados produzidos em situações tão desumanas poderiam ser utilizados pela medicina atual.
Os avanços da ciência médica nas últimas décadas têm suscitado debates éticos de outra ordem.
Quando os norte-americanos Watson e Crick desvendaram a estrutura molecular do DNA em 1953,
abriram-se as portas para que se começasse a adentrar um dos maiores mistérios da humanidade: como
a vida funciona. Cerca de 50 anos mais tarde, a descoberta da estrutura da dupla hélice levou ao
sequenciamento do genoma humano, uma verdadeira revolução na medicina.
Considerando que a genética é responsável, pelo menos em parte, por todas as doenças que acometem
os humanos, o seu sequenciamento torna viável a chamada “medicina individual”. Ou seja, já é
possível conhecer as características genéticas individuais de uma pessoa de modo a garantir
tratamentos mais eficazes e personalizados, ou mesmo prevenir doenças com base em suas
predisposições genéticas (UJVARI; ADONI, 2014).
O cenário, nesse sentido, é de grande otimismo. Doenças que hoje afetam grande parte da população e se
constituem em fonte de preocupação, como é o caso do câncer em suas diversas manifestações, poderão ser
tratadas mais eficazmente, e até mesmo prevenidas antes de se manifestar. Mas o debate ético sobre o uso e a
aplicação deste poderoso conhecimento tem se acirrado cada vez mais. Imagine se uma empresa, antes de
contratar seus funcionários, pedir exames de sequenciamento genético. Ao identificar riscos de doenças
futuras, se eliminaria o candidato da disputa pela vaga? Pesquisadores já têm alertado para o fato de que cada
vez mais o conhecimento sobre o genoma pode se transformar num elemento de poder das instituições sobre
os indivíduos. 
Dominar o conhecimento sobre o sequenciamento genético significa também conhecer as bases da
manipulação genética. Poderíamos fazer a analogia com o poder dos cientistas em “brincar de Deus”. O ser
Você quer ler?
O livro de ficção (HUXLEY, 1932) desenha um cenário em que Admirável Mundo Novo
o conhecimento tecnológico é utilizado para condicionar e pré-programar pessoas de 
modo a se comportarem de acordo com as regras impostas pela sociedade. Na distopia 
de Huxley, a ciência e a tecnologia são as bases de uma sociedade que aboliu a 
possibilidade de livre-arbítrio, mostrando quea ciência não é neutra e que é preciso ter 
cuidado com seus usos.
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humano hoje é capaz de interferir na natureza de outro ser humano – escolher sexo, cor dos olhos, cor da pele,
e outras características. Os passos dados em direção ao maior domínio genético do ser humano são também os
passos que nos aproximam de uma manipulação e interferência cada vez maior. Assim como os usos negativos
de tecnologias, como a energia atômica, corremos os riscos de utilizar indevidamente a engenharia genética.
Quais medidas devemos tomar para conseguir aproveitar os benefícios desses avanços e evitar as tragédias que
podem decorrer?
Figura 6 - Da descoberta da estrutura do DNA a clonagem de animais, os avanços da ciência na área da genética causaram uma 
verdadeira revolução na medicina Fonte: emin kuliyev, Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos a fotografia de uma mulher mexendo em um tubo de análise. Ela veste óculos 
e máscara de proteção, luvas brancas e jaleco. Segura uma pinça para puxar o tubo de análise de um recipiente 
com outros itens do mesmo tipo.
Outros exemplos podem ser citados para debater a questão da ética da ciência médica e do fazer científico em
geral: já somos capazes de clonar animais – o caso da Ovelha Dolly foi um marco na história da ciência.
Quanto falta para clonarmos seres humanos? A tecnologia permite realizar modificações genéticas para
aumentar a produtividade de inúmeras culturas que servem de base para a alimentação humana. A indústria
aplica esse conhecimento em larga escala e hoje boa parte do que consumimos provêm de organismos
geneticamente modificados. Mas temos a garantia de que esses alimentos são realmente seguros,
especialmente em médio e longo prazo? 
Você sabia?
Há uma grande polêmica envolvendo a pesquisa de células-tronco embrionárias para o 
avanço da ciência médica. Células-tronco têm a capacidade de se recompor em qualquer 
tecido do corpo humano e, teoricamente, seu uso poderia tratar um infindável número de 
doenças, inclusive alguns tipos de câncer. Cientistas alegam que seriam usados embriões 
descartados em clínicas de fertilização, mas setores religiosos e grupos antiaborto, que 
consideram que a vida começa no momento da concepção, travam o avanço da pesquisa 
neste setor da ciência (TAKEUCHI; TANNURI, 2006).
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Os debates mencionados acima são questões para as quais não temos respostas exatas. O que precisamos
manter presente é a necessidade de estar atentos ao desenvolvimento de novas tecnologias e descobertas,
pesando as consequências de seus usos e aplicações sob a égide da ética científica e do respeito à dignidade
humana. Inovações tecnológicas e científicas não são boas ou más em si mesmas, mas dependem dos usos que
a sociedade faz delas. E estes usos, muitas vezes, são pautados por interesses econômicos, especialmente, de
grandes corporações. Como consequência desses interesses, temos o impacto do desenvolvimento tecnológico
também no mundo do trabalho, nosso assunto de estudo a seguir. 
3.4 Trabalho e desenvolvimento tecnológico
O atual desenvolvimento tecnológico ensejou importantes transformações e desafios ao mundo do trabalho.
Sua natureza e sua centralidade são objeto de indagações, tanto por parte dos especialistas, quanto por parte
dos empresários e trabalhadores. Muitas coisas mudaram ou estão mudando na realidade do trabalho, tais
como qualificações necessárias para desempenhar determinadas tarefas, o local em que o trabalho é realizado,
o tempo dedicado ao trabalho e a flexibilidade do trabalho e da legislação. Tudo isso só é possível graças ao
desenvolvimento acelerado e abrangente das tecnologias de informação e comunicação, que possibilitaram a
reestruturação produtiva dos últimos anos.
Mas afinal, o que mudou no mundo do trabalho? Quais os requisitos que são demandados aos trabalhadores na
atualidade? E como o desenvolvimento tecnológico se encaixa nesta complexa engrenagem que é o mundo do
trabalho?
3.4.1 A reorganização do mundo do trabalho e os impactos sobre os 
trabalhadores
A reestruturação produtiva que as empresas realizaram após a chamada crise do petróleo, nos anos 70, teve
forte impacto no mundo do trabalho e sérias consequências para os trabalhadores. Neste período se dá a
substituição paulatina do paradigma fordista de produção pelo modelo denominado Toyotismo. O novo
modelo caracteriza-se pela produção enxuta, também denominada acumulação flexível (HARVEY, 1992). A
produção passou as ser , ou seja, o tempo entre comprar insumos, produzir os produtos e vendê-losJust-in-time
no mercado foi reduzido a fim de evitar desperdícios e melhorar a eficiência dos negócios. Temos aqui a
chamada produção por demanda, em que o produto é vendido primeiro e fabricado depois.
A grande maioria destas transformações no modo de produção só foi possível de se concretizar devido ao
desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação e das inovações delas decorridas. O
controle exigido durante todo o processo somente é realizado de forma virtuosa com a ajuda de máquinas e
computadores. Além disso, as máquinas são responsáveis por desempenhar, com maior perfeição e
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velocidade, as atividades que antes eram realizadas por vários trabalhadores. Como consequência, e devido à
crescente automatização, temos uma redução do número de trabalhadores no chão de fábrica e uma
modificação no tipo de trabalho demandado (ANTUNES, 2003).
As mudanças no padrão produtivo, para além das tecnológicas e gerenciais, também estão acompanhadas de
mudanças políticas e econômicas. Observou-se nas últimas décadas, juntamente com a reestruturação
produtiva, a flexibilização do trabalho e das leis trabalhistas, tendo como consequência a perda de direitos por
parte dos trabalhadores (HARVEY, 1992; ANTUNES, 2003).
Todas estas mudanças relatadas até aqui chegaram ao Brasil no final dos anos 1980 e se intensificaram nos
anos 1990, com o processo de liberalização da economia brasileira. Em que pese a reestruturação produtiva ter
eliminado empregos que pertenciam ao modelo Fordista e Taylorista de organização, bem como ter imposto
uma nova forma de inserção profissional tendo como suporte as novas tecnologias, estas mesmas tecnologias
podem representar uma janela de oportunidades para os países se desenvolverem. É por isso que o Brasil vem
realizando esforços para se integrar aos mercados mundiais de forma diferenciada. Mas para que o país
aproveite as oportunidades que as TIC abriram às economias emergentes, é preciso elevar os investimentos em
ciência e tecnologia e também em educação e superar, assim, os efeitos negativos do novo paradigma
produtivo. E, afinal, quais as características do trabalho na Era da Informação? O que se espera dos
trabalhados inseridos nesse contexto?
3.4.2 As singularidades do trabalho na Era da Informação
As mudanças no mercado de trabalho desenharam também um novo perfil de trabalhador desejável. Em
períodos anteriores, as empresas demandavam em grande escala trabalhadores pouco qualificados, que
desempenhavam tarefas repetitivas ao longo da linha de montagem, produzindo bens de forma massiva e
padronizada. Com os rearranjos proporcionados pela Era da Informação, hoje o trabalhador que quiser se
manter empregável precisa ser qualificado, pois o tipo de atividade que ele deve desempenhar é cada vez mais
complexo. Além disso, o perfil ideal é de quem sabe trabalhar em equipe, pois a estrutura rígida e
hierarquizada da fábrica Fordista dá lugar a ilhas de produção em que a cooperação e a criatividade são
indispensáveis. 
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Figura 7 - Saber trabalhar em equipe é hoje uma exigência do mercado de trabalho configurado em um ambiente marcado pelas TIC 
Fonte: kurhan, Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos a fotografia de um grupo de pessoas, uma do lado da outra. Elas estão com as 
mãos estendidas para a frente, juntando-se. Todas estão olhando para a câmera e sorrindo.
Além disso, observa-se queas trajetórias profissionais se multiplicaram. Se no passado o trabalhador
aposentava-se na mesma empresa em que começou a trabalhar, ou no máximo trocava de empresa, mas seguia
na mesma profissão, no presente as trajetórias são múltiplas. O tempo de permanência do trabalhador em uma
mesma corporação diminuiu significativamente e a mobilidade entre empresas é uma constante.
A estabilidade do trabalho pode não vir do fato do indivíduo permanecer no mesmo emprego durante muito
tempo, mas por ele se manter empregável. O fato é frequentemente verificado no mercado de tecnologia da
informação, sobretudo, no setor de software, em que os trabalhadores atuam em equipes e por projetos. Assim
que os projetos acabam, a equipe é desfeita e o trabalhador fica sem trabalho até que um novo projeto inicie. O
intervalo entre um e outro não se configura em desemprego, uma vez que faz parte deste mercado de trabalho
em específico, embora, devido à demanda da área, o intervalo muitas vezes seja inexistente.
Por outro lado, se há um novo perfil de empresas com demandas específicas aos trabalhadores, há também,
como demonstra Mocelin (2009), uma nova geração de trabalhadores que aspiram empregos com este perfil
que surgiu na Era da Informação. São pessoas dinâmicas, bem escolarizadas, que preferem um trabalho
Você sabia?
A crescente informatização das relações de trabalho tem feito despontar novas relações e 
formas de trabalho. Uma dessas novas formas é o ou seja, o trabalho em home office,
espaço alternativo ao escritório, ou trabalho remoto. Estudos apontam que tal 
modalidade pode aumentar a satisfação pessoal do trabalhador com sua atividade, ao 
mesmo tempo em que diminui o impacto ambiental, uma vez que haveria menos 
deslocamentos nas cidades. Segundo dados do IBGE, em 2010 23% dos brasileiros 
trabalhavam em durante parte da semana (FEIJÓ, 2017).home office 
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desafiador, mesmo com risco de cair no desemprego, a um trabalho com estabilidade, mas monótono.
Preferem também a liberdade de escolher o tempo e o local de trabalho. Enfim, os computadores e a internet
mudaram o mundo do trabalho, e as sociedades devem compreender estas mudanças para melhor reagir a elas.
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Conclusão
Chegamos ao final deste capítulo que nos proporcionou uma reflexão sobre o impacto do desenvolvimento
tecnológico na sociedade e sua influência em aspectos como o meio ambiente, as relações sociais, a produção
científica e o mundo do trabalho. Vimos que a tecnologia contribui para suprir as necessidades humanas, mas,
em decorrência do desenvolvimento tecnológico, a oferta de bens tornou-se barata e abundante, colaborando
para o surgimento de uma mentalidade consumista na sociedade. Essa pressão gera impacto ao ambiente e é
responsabilidade da sociedade como um todo adotar medidas, como as práticas de consumo responsável, para
buscar o equilíbrio ambiental. Isso nos permite repensar como a tecnologia deve ser utilizada para trabalhar
em favor da humanidade, não para degradá-la. 
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• entender a relação da tecnologia com a sociedade e suas consequências;
• refletir sobre os impactos do desenvolvimento tecnológico e industrial no meio ambiente, e a 
responsabilidade humana diante disso;
• compreender que o desenvolvimento científico pode melhorar nossa qualidade de vida, mas que 
também comporta questões éticas que devem ser observadas;
• aprender que o trabalho e a forma de trabalhar foram completamente modificadas pelo uso dos 
computadores e da internet, bem como pelas inovações decorrentes destas tecnologias.
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Referências
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