Buscar

O pleno entendimento do papel do psicólogo no sistema jurídico é imprescindível para juízes e desembargadores

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O pleno entendimento do papel do psicólogo no sistema jurídico é imprescindível para juízes 
e desembargadores. O psicólogo, no sistema de justiça, elabora um laudo psicológico para 
cada caso em que trabalhe, o qual se tornará parte de um processo judicial visando a 
subsidiar e/ou orientar a decisão do juiz. O laudo com a avaliação psicológica pode ser 
utilizado tanto em primeiro quanto em segundo grau, quando houver recurso. É importante 
ressaltar que esse documento preparado pelo psicólogo é fundamentado em um saber 
específico da Psicologia, sendo um relatório técnico-científico de natureza oficial, com uma 
avaliação psicológica produzida por meio de métodos que envolvem entrevistas, testes, 
observações, dinâmicas de grupo, escuta e intervenções verbais para a coleta de dados, 
conforme a Resolução nº 7/2003 do Conselho Federal de Psicologia. 
Nos casos de abuso sexual na infância, por exemplo, a participação do psicólogo é 
necessária para a criança ter sua palavra acolhida de maneira adequada e compreensiva, 
e não somente como parte de uma inquisição judicial. O papel do laudo é apresentar o 
discurso da criança e revelar sua compreensão, percepção e vivência do abuso sexual 
sofrido. 
Apresentaremos a seguir um acórdão judicial em que um dos desembargadores não 
acompanhou o relator quanto à decisão de condenação do agressor. 
Padrão de resposta esperado 
A completa descrença do desembargador na atuação da psicóloga é visivelmente 
demonstrada porque esta não usou instrumentos de mensuração conforme sua 
expectativa. Para ele, a Psicologia é classificatória com base na materialidade dos fatos, 
conforme os paradigmas do Positivismo e da Psicologia Experimental do século XIX, em 
que o parecer deveria estar embasado apenas pelos instrumentos objetivos considerados 
científicos na época e característicos das primeiras relações estabelecidas entre a 
Psicologia e o Direito. 
O entendimento desse desembargador, de que o resultado apresentado no laudo são 
apenas conclusões pessoais, demonstra sua dificuldade em lidar com o tema “abuso 
sexual na infância”, que ainda é um tabu tanto na sociedade quanto no meio jurídico, 
estando ainda ligado a aspectos clínicos como sintomas físicos e psicológicos, danos 
corporais e violência. 
Os profissionais do Direito querem referências nas perícias médicas e nos laudos 
psicológicos de tais aspectos, o que nem sempre é possível, pois às vezes não há 
vestígios físicos nem sintomas psicológicos, apenas um relato da vítima sobre sua 
compreensão, percepção e vivência do abuso sexual sofrido. O juiz do primeiro grau e os 
outros dois desembargadores reconheceram o laudo como elemento de conhecimento 
específico e qualificado, capaz de subsidiar uma decisão.

Outros materiais