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1- A questão relacionada à proposta do documentário “A Escola Proibida” diz 
respeito diretamente à ideia de inovação da educação apresentada no 
mesmo, segundo Braghini (2018). Enquanto a primeira baseia-se em uma 
ideia utópica de escola-modelo não desejada pelos alunos-atores da 
escola fictícia apresentada no documentário, a segunda diz respeito à 
modificação total dos elementos componentes do que se convenciona 
chamar “educação tradicional”. Dizendo de outra forma, é substituir a 
escola atual (chamada de tradicional) pela escola holística. Nesta os 
elementos componentes são ressignificados e reposicionados. Nas 
palavras da autora da resenha: “todos aprendem tudo [...], não apenas as 
cognitivas, intelectuais, mas também os aspectos emocionais, éticos, a 
consciência corporal, a saúde. A escola seria um banco de 
experimentações” (BRAGHINI, 2018, 316). Essa é, no documentário, a 
educação de qualidade do século XXI. 
 
2- Pelo que se infere na resenha proposta, há um desencontro fortemente 
marcado entre o que se compreende como “boa educação” e “prática 
tradicional”. Reforçando o dito na questão anterior, o documentário 
apresenta uma problemática da escola engessada, pouco atrativa, 
baseada na ideia de meritocracia, mas vestida com a bandeira da ética, 
interdisciplinaridade e compartilhamento de conhecimentos. Essa forma 
antagônica leva à reflexão de que esse modelo tradicional deve ser 
substituído por uma educação que seja boa; o que essa seria? A autora 
responde da seguinte forma: “a nova ‘escola projetada’ só é possível com a 
modificação de tempos e espaços escolares”; significando que, 
primeiramente, a sala de aula passa a ser o mundo, abole-se o “lá fora” 
com relação ao ambiente escolar e a ideia de protagonismo acadêmico por 
parte do aluno é o foco da escola. O desencontro dá-se uma vez que esse 
modelo desconsidera a história secular da educação atribuindo a si a 
característica de “inovador”. 
 
3- Para iniciar essa questão há que se perguntar: como funcionaria um 
modelo escolar onde o aluno, sob seu suposto protagonismo, ditasse cada 
passo pedagógico sem uma supervisão com poder de veto? A ideia de que 
o aluno pode e deve escolher o que quer ou não estudar tem ressonância 
prática e viável? Óbvio que essas questões não se encerram e a lista é 
gigantesca. O que é necessário notar nesse aspecto da educação é a 
preocupação de que essa ideia de protagonismo possa propiciar o 
afastamento de políticas e estratégias estruturantes que transformaram os 
centros pedagógicos ao longo dos anos. 
 
4- A educação está sob ombros de gigantes teóricos como Skinner e Piaget 
que, cada um a seu turno, mostram a forma com a qual o ser humano se 
relaciona consigo, com o outro e, por extensão temática, com a educação. 
Enquanto seres sociais e objeto de estudo dos referidos autores, o ser 
humano apresenta níveis de desenvolvimento próprios da condição de ser 
humano, isto é, a forma como se manifesta no mundo é baseada em 
etapas internas e intrínsecas ao seu ser. Isso significa que a socialização 
precisa de ferramentas capazes de tornar eficaz a convivência e 
permanência em sociedade dos seres humanos. Uma dessas ferramentas, 
seja enquanto ferramenta comportamental (behaviorismo – Skinner), seja 
de desenvolvimento proximal (cognitivismo – Piaget), é a educação. Na 
sociedade criada pelo ser humano, esta ferramenta tornou-se 
indispensável e elemento primário na ideia de humanização (ser em 
sociedade) do indivíduo. 
 
5- Aqui há, além das ideias já discutidas anteriormente, um ponto de reflexão. 
Os advogados apresentados no filme estão dentro de um paradoxo 
conceitual que se estabelece como ponto argumentativo forte para a 
derrocada das afirmações feitas: baseiam suas ideias em teóricos do 
século XIX. Esse aspecto por si só já estabelece a noção de educação 
inovadora apresentada é equivocada ou axiologicamente incompleta. No 
entanto, pensemos da seguinte forma: dando-se um desconto ao fato de 
que os autores usados para sustentar a “educação renovada” são os 
mesmos que estabeleceram a escola agora criticada – sob argumento de 
que esta é “opressora e homogeneizante” surgida na Prúcia e espalhada 
pelo mundo -, uma vez que tais autores estivessem, na nossa hipótese, à 
frente de seus tempos, ainda assim há um grande vazio a ser preenchido 
nesse quebra-cabeça. As mesmas pedagogias criticadas são as que ao 
longo de 200 anos (modificando-se, ajustando-se, fazendo-se modificar, 
etc.) estabeleceram uma era de profundas transformações sociais que 
surpreenderam e revolucionaram o mundo. Com isso, não estamos 
dizendo que a educação é perfeita, mas o “comece tudo de novo” mostrado 
no documentário não se mostra promissor, do contrário, apresenta uma 
ingratidão à história da evolução dos modelos educacionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências: 
A EDUCAÇÃO PROIBIDA. Direção de German Doin e Verônica Guzzo. 
Asociación Civil Redes de Pares/Reevo, 2012. (146 min). 
BRAGHINI, Katya Zuquim. A Educação proibida: A narrativa que destrói o 
passado da escola para construir um “paradigma educacional inovador”. In: 
Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual. Ano 7. Vol. 1. São 
Paulo: Rebeca, 2018, p. 314-318. Disponível em: < 
https://rebeca.socine.org.br/1/article/view/385/311>. Acesso em: 18 de Novembro 
de 2021. 
HARARI, Yuval Noah. Sapiens: Uma breve história da humanidade. Tradução de 
Janaína Marcoantonio. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2015. 
MARANHÃO. Cadernos formativos – Modelo Pedagógico: Princípios 
Educativos. São Luís: Secretaria de Educação, 2017. 
https://rebeca.socine.org.br/1/article/view/385/311

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