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1 Isadora Frota Hagge COVID-19 Ubyb L (Covid-19) Patologia *Vídeo -> COVID-19: achados pulmonares em autopsias completas no Amazonas. Dra. Monique Freire. Na aula de hj vamos revisar os principais achados da covid-19 no pulmão. E esses achados são traduzidos por aquilo que nós chamamos de -> dano alveolar difuso! Neste padrão de lesão há uma forma de lesão pulmonar aguda grave resultante de dano epitelial e dano endotelial alveolar. O dano alveolar difuso (DAD) é a manifestação patológica da síndrome do desconforto respiratório agudo (SARA). -> Trata-se de uma sd. clínico-patológica e essa sd. consiste em: hipoxemia grave de origem NÃO cardiogênica e refratária à oxigenoterapia. Desta forma, o DAD possui várias causas subjacentes (não apenas a covid-19, naturalmente) pulmonares e sistêmicas, dentre as quais podemos destacar: 1. Sepse 2. Choque 3. Hipóxia 4. Além de lesões causadas por agente químicos ou físicos inalados diretamente É classificada morfologicamente em 3 fases: 1. Exsudativa 2. Proliferativa 3. Fibrótica Sendo assim, nós conseguimos evidenciar aqui no lado esquerdo da imagem o pulmão/o alvéolo pulmonar normal! Esse alvéolo então é revestido pelo epitélio brônquico, pneumócitos do tipo 1, pneumócitos do tipo 2... (e essas céls. representam a chave p/ a parte do DAD que nós observamos na covid), além dos macrófagos alveolares. Então esse esquema mostra o alvéolo normal sendo comparado c/ o alvéolo lesado na fase inicial do DAD. Sendo assim, vcs podem observar que a liberação de citocinas pró-inflamatórias (como: interleucinas 8 e 1, fator de necrose tumoral)... esses fatores causam a aderência dos neutrófilos aos capilares pulmonares e o extravasamento p/ o espaço alveolar, onde há a ativação de céls. inflamatórias. Os neutrófilos ativados liberam uma série de fatores, como: leucotrienos oxidantes, proteases e fator ativador de plaquetas... que contribuem p/ a lesão local do tecido, acúmulo de líquido e de edema nos espaços aéreos e na ativação do surfactante pulmonar, além da formação de membrana hialina -> características dessa fase inicial! ------------------------------------------------------------------------ 2 Isadora Frota Hagge Desta forma, na fase exsudativa podemos observar caracteristicamente: 1. Presença de edema alveolar 2. Exsudatos fibrinosos que formam membranas hialinas e essas membranas hialinas revestem os espaços alveolares 3. Presença de necrose de pneumócitos tipo 2 4. Exsudatos inflamatórios intersticiais 5. Além da presença de microtrombos fibrinosos pulmonares ocasionais Aqui vcs podem observar as principais alterações macroscópicas causadas pela covid-19: Presença de edema, congestão e hemorragias difusas pelo parênquima pulmonar! Na microscopia nós começamos a observar como alterações + precoces: Presença de dilatação dos capilares alveolares Destacamento do epitélio alveolar Hiperplasia de pneumócitos tipo 2 reacionais Presença de extravasamento eritrocitário aqui nos alvéolos Além do acúmulo de edema intra-alveolar. 2 a 3 dias após a lesão esse exsudato que acumula nos espaços alveolares misturado c/ os danos celulares necróticos (após a necrose de pneumócitos tipo 2)... condensam-se p/ formar as membranas hialinas. Essas membranas são frequentemente consideradas, portanto, como aspecto histopatológico característico da fase exsudativa! Nessa outra imagem podemos observar a presença de edema nos espaços alveolares e a membrana hialina revestindo as paredes alveolares. Então em maior aumento: a presença desse material proteináceo bastante eosinofílico, que naturalmente ele limita consideravelmente as trocas gasosas. 3 Isadora Frota Hagge Então são imagens de microscopia dos nossos pcts que vc podem observar além da presença de edema, focos hemorrágicos... esses focos hemorrágicos podem se tornar cada vez + proeminentes e confluentes, abrangendo grandes áreas do parênquima pulmonar portanto, como vcs podem observar nessas imagens. ------------------------------------------------------------------------ E alguns dias depois da fase exsudativa, nós observamos a presença dos achados característicos da fase proliferativa. Esses achados então: 1. Iniciam-se em 3 a 7 dias após a lesão inicial 2. E são características as presenças de remanescentes das membranas hialinas 3. Marcadamente a hiperplasia de pneumócitos tipo 2 4. Microtrombos pulmonares ficam cada vez + frequentes 5. E inicia-se a organização de tampões fibroblásticos dentro dos espaços alveolares e do interstício, como uma tentativa inicial de reparo ao tecido pulmonar. 6. Inicia-se ainda a presença de metaplasia escamosa focal, como tbm parte desse processo inicial de reparo. Nesta imagem de microscopia eletrônica nós conseguimos observar a presença de um capilar dilatado c/ degeneração das céls. endoteliais, exposição da membrana basal, c/ adesão plaquetária e adesão de fibrina. Nós tbm conseguimos observar naturalmente esses trombos à microscopia ótica, então c/ presença de material fibrinoso aderido a parede de vasos de médio calibre do alvéolo pulmonar. 4 Isadora Frota Hagge À macroscopia nós conseguimos observar então a presença de verdadeiros infartos pulmonares conforme esses trombos vão se tornando cada vez + frequentes, portanto -> aqui c/ lesões bem delimitadas, na face anterior do pulmão esquerdo. Então essas lesões do tipo infarto pulmonar são lesões bem marcadas, onde eu tenho a presença de extensas áreas comprometidas pelo infarto... acúmulo de material proteináceo, característico de edema. Outro achado frequente em nossos pcts foi a presença de broncopneumonia associada! -> Vcs conseguem observar, portanto na face posterior do pulmão direito a presença dessas micronodulações amareladas. E a microscopia eram representadas, portanto por alvéolos pulmonares preenchidos por exsudato fibrino- purulento. Outro achado em nossos pcts é a presença de um infiltrado inflamatório peri-vascular, constituído por linfócitos, estiócitos e alguns plasmócitos. Mas o achado + marcante/contundente/característico da fase proliferativa do DAD é a presença de hiperplasia de pneumócitos tipo 2! Esses pneumócitos tornam-se c/ citoplasma bem eosinofílico, c/ uma cariomegalia acentuada, nucléolos evidentes formando verdadeiros sincícios celulares que obliteram os espaços alveolares e naturalmente impedem a oxigenação adequada! *Cariomegalia = crescimento do núcleo acima do usual. Então é um achado bastante proeminente desta fase! 5 Isadora Frota Hagge Aqui novamente mostrando a dilatação dos capilares pulmonares. E a hiperplasia de pneumócitos tipo 2... alguns ainda formando céls. multinucleadas. Outro achado frequente em nossos pcts é a presença de megacariócitos no leito capilar pulmonar, caracterizando a hematopoese extramedular. Nesses pctsainda aqui visto em imagens de microscopia ótica e 1 imagem em microscopia eletrônica (imagem preta e branca), aonde eu tenho um megacariócito dentro de um capilar, aqui então uma cél. endotelial à microscopia eletrônica. Aqui vcs podem observar um pneumócito tipo 2 binucleado e sua cariomegalia acentuada, c/ nucléolo evidente, citoplasma bastante volumoso... a presença de microvilos característicos dessa cél. à microscopia eletrônica. Novamente são imagens de microscopia eletrônica mostrando binucleação, cariomegalia acentuada... E a presença de partículas virais no parênquima pulmonar dos nossos pcts, c/ “spikes” característicos dos coronavírus! ------------------------------------------------------------------------ A próxima fase é a fase fibrótica. Esta fase, que começa após 7 dias do dano inicial, caracteriza-se: 6 Isadora Frota Hagge 1. Pela presença de fibrose intersticial densa indistinguível de outros padrões de fibrose intersticial avançada (portanto não há como fazer distinção morfológica, nesta fase, de diferentes fatores etiológicos!) Nesta fase é marcada a presença de áreas brancacentas, rígidas... à macroscopia no parênquima pulmonar. E à microscopia essas áreas são marcadas então por proliferação de feixes de músculo liso, depósitos de fibras colágenas, céls. mononucleares, depósitos novamente de fibras colágenas... Presença de áreas de metaplasia escamosa do epitélio brônquico, aqui evidenciadas pela positividade p/ a citoceratina, à imunohistoquímica. E a imagem de microscopia eletrônica, portanto vemos fibroblastos c/ depósitos de fibras colágenas. ------------------------------------------------------------------------ Desta forma, c/ base nos achados morfológicos aqui expostos propomos que o mecanismo fisiopatológico do dano pulmonar pela covid-19 seja em decorrência de um efeito citopático viral, lesando primeiramente os pneumócitos do tipo 1 -> levando a um desnudamento do epitélio alveolar. Além de uma concomitante lesão endotelial que leva ao -> aumento da permeabilidade capilar e trombose nos capilares alveolares. Caracterizando, portanto, o DAD em sua fase exsudativa através dos marcos histopatológicos: 1. Edema 2. Membrana hialina 3. Hemorragia Evidenciados nas imagens aqui demostradas. 7 Isadora Frota Hagge O infiltrado inflamatório mostra positividade p/ as céls. T. Temos ainda a participação de macrófagos evidenciados à imunohistoquímica. Então um infiltrado rico em céls. T, pobre em céls. B. Aqui a positividade p/ a presença de fibrina intra- alveolar. Uma vez que o estímulo da lesão pela covid-19 persiste e há persistência da lesão ao pneumócito do tipo 1... eu tenho então a passagem p/ a fase proliferativa c/: 1. Hiperplasia de pneumócitos tipo 2 2. Formação de sincícios celulares 3. Neoformação capilar Desta forma, presença de exsudato, debris celulares, hemácias e edema leva a obstrução dos espaços alveolares, diminuindo a capacidade de oxigenação desse pct. Além disso, a lesão endotelial leva a ruptura da parede alveolar, diminuição dos capilares alveolares e por conseguinte neoformação capilar, evidenciados portanto a imunohistoquímica. Marcando o CD34 e demonstrando, portanto, essa neoformação capilar! Caracterizando o DAD em sua fase proliferativa, portanto, nós vimos bem documentada a presença de hiperplasia de pneumócitos do tipo 2! Outros achados como já exposto... a presença de broncopneumonia c/ exsudato fibrino-purulento preenchendo os espaços alveolares. 2 dos nossos casos necropsiados apresentaram infecção por Aspergillus (fungo), evidenciadas pela presença de hifas fúngicas. Podemos observar aqui pela positividade da hibridização in situ p/ o RNA do sars-cov2, aqui evidenciados por essas estruturas avermelhadas. E a hibridização in situ por fluorescência, então mostrando as partículas virais em verde. 8 Isadora Frota Hagge *A hibridização in situ é um método que permite identificar o locus cromossómico onde se localiza uma determinada sequência de DNA previamente clonada. Este método tem como princípio a complementaridade das bases que reage a organização de DNA. *A hibridização in situ é útil na detecção de genoma viral nos tecidos, na separação dos subtipos virais e na avaliação se a infecção é latente ou produtiva. ------------------------------------------------------------------------ Portanto, a partir desses achados concluímos que: 1. A covid-19 segue os padrões histopatológicos já descritos p/ as lesões no DAD em suas 3 fases. 2. As quais podem coexistir no msm lobo pulmonar, uma vez que esses pct seguem um contínuo de alterações histopatológicas. 3. A fase exsudativa, segundo os nossos achados, é + frequente em lobo superior e a pneumonia bacteriana associada em lobo inferior. 4. Os fenômenos trombóticos aqui demonstrados são frequentes envolvendo trombos capilares, em artérias de pequeno, médio e grande calibre. 5. Além disso, em alguns casos a hemorragia pulmonar difusa pode ser o principal achado histológico pulmonar! 6. A metaplasia escamosa, como vcs viram, é frequente no epitélio bronquiolar nas fases proliferativa e de organização, especialmente nessa última. 7. O infarto pulmonar pode ser encontrado em 3% dos casos das necropsias necropsiadas pela nossa equipe. 8. O infiltrado inflamatório é constituído predominantemente por linfócitos TCD3, CD4, CD8 além de macrófagos CD68 positivos. 9. Frequentes megacariócitos forma encontrados em capilares, c/ hiperplasia megacariocítica na medula óssea e baço desses pcts. 10. Há raros achados de vasculites nos pcts autopsiados. 11. E a presença de apoptose, necrose e degeneração de pneumócitos tipo 2 e céls. endoteliais são os principais achados do efeito citopático viral!!! 12. O tempo de evolução da fase exsudativa p/ a fase de organização é variável, entre 2 a 3 semanas em nossos pcts, levando a obstrução completa dos espaços alveolares por fibrose e espessamento septal.
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