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1 ATIVIDADE INDIVIDUAL Disciplina: Direito do Trabalho Tarefa: Demissão Discriminatória Matriz de resposta 2 PARECER Consulente: Daniel Assunto: Suspeita de demissão discriminatória e supressão de direitos trabalhistas Ementa Parecer contento relatório com a análise jurídica sobre possível demissão discriminatória, eventuais direitos trabalhistas (horas-extras, comissões, verbas rescisórias, entre outros) e conclusão. 3 Relatório Daniel era vendedor da Lojas Ratazana desde 2015, iniciando sua carreira como vendedor júnior, migrando para sênior em 2017, com comissão sempre paga “por fora”, ou seja, sem contabilizar em folha de pagamento, bem como horas extras diárias (2 adicionais) que não eram pagas, sob a alegação de que o cargo de vendedor não as tem direito. Em 2018, foi promovido a gerente, tornando-se detentor de cargo de confiança, sendo mantido fora do controle de jornada e, consequentemente, não recebimento de horas extras, situação que perdurou, já que, um ano depois, foi convidado a ocupar o cargo de diretor comercial e posteriormente, promovido a diretor estatutário (devidamente registrado no estatuto social) e passando a receber pró-labore, ocasião em que seu contrato de trabalho foi suspenso. Em 2020, ao descobrir ser portador do vírus HIV e querendo manter a informação em sigilo, acabou domunicando a doença para o diretor presidente, após passar mal e ter que ser socorrido, internado e afastado das atividades por 15 dias. Após após retornar às atividades, passou a ser trado de forma diferente pelo presidente e os diretores, pois evitavam o contato físico e transmitiam a expressão nitidamente discriminatória. Até que quatro meses depois, o Consulente foi destituído do cargo sob a alegação de corte na empresa, por conta da pandemia da Covid-19, onde mais 15 empregados foram demitidos na mesma data. Como verbas, o Consulente recebeu apenas 11 dias trabalhados a título de pró-labore, tendo sido informado pela responsável do RH que, dado a suspensão do seu contrato ao assumir o cargo de diretor estatutário, não teria direito às verbas trabalhistas de quando era vendedor. Foi-lhe dado como argumento a Súmula 269 do TST. 4 Assim, passo a tecer o meu entendimento. Fundamentação Dos Reflexos sobre a Comissão: A primeira abordagem recai sobre o pagamento das comissões pagas “por fora”, ou seja, sem constarem em folha de pagamento, que ocorria na época que o Consulente ocupava o cargo de vendedor externo – de 01 de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2017). Hoje temos inúmeros julgados onde, mediante a comprovação de pagamentos a título de comissão (que são verbas salariais) “por fora”, a empresa é condenada a arcar com todos os reflexos trabalhistas, tendo em vista o nítido caráter remuneratório (salarial) da verba. A título de exemplo o julgado a seguir: Ementa COMISSÃO PAGA "POR FORA". INTEGRAÇÃO E REFLEXOS. Verificado o expediente fraudulento e ilícito do empregador em efetuar pagamentos clandestinos a título de comissões, a verba, de nítido caráter retributivo, detém natureza salarial e, como tal, integra a remuneração para todos os efeitos legais. Acórdão Por tais fundamentos, ACORDAM os Julgadores da Primeira Turma do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da Décima Região, em sessão realizada na data e nos termos da respectiva certidão de julgamento, aprovar o relatório, conhecer do recurso e, no mérito, negar-lhe provimento, nos termos do voto do Juiz Relator. Ementa aprovada. Brasília/DF, 13 de abril de 2011 (data de julgamento). JOÃO LUÍS ROCHA SAMPAIO Juiz Convocado Relator. 5 Assim sendo, o Consulente tem direito ao recebimento de todos os reflexos trabalhistas (tais como, FGTS e INSS) que deveriam ter recaido sobre a comissão que não foi lançada na folha de pagamento. Das Horas Extras. Cargo de Vendedor Externo: No que diz respeito às horas extras, muito embora desempenhasse a função de vendedor externo - do período de 01 de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2017, o empregador exigia o seu comparecimento no escritório todos os dias no início e fim de expediente, configurando, assim, a possibilidade de controlar a jornada do Consulente. Este foi o entendimento do TRT 20ª região, no processo 0000672- 23.2017.5.20.0004, vejamos: Ementa VENDEDOR EXTERNO - CONTROLE DE JORNADA - HORAS EXTRAS DEVIDAS. Restando provada a possibilidade do controle da jornada de trabalho do empregado, mesmo vendedor externo, em decorrência da obrigatoriedade de comparecimento à empresa no início e no final de cada dia de serviço, é de se manter a condenação em horas extras. Diante da possibilidade do controle de jornada, não se aplicaria o disposto no artigo 62 da CLT em relação às Horas Extras: Art. 62 - Não são abrangidos pelo regime previsto neste capítulo: I - os empregados que exercem atividade externa incompatível com a fixação de horário de trabalho, devendo tal condição ser anotada na Carteira de Trabalho e Previdência Social e no registro de empregados; II - os gerentes, assim considerados os exercentes de cargos de gestão, aos quais se equiparam, para efeito do disposto neste artigo, os diretores e chefes de departamento ou filial. 6 Dessa forma, se conclui que o comparecimento obrigatório na empresa no início e no final de cada dia de serviço, configura controle de jornada, sendo, portanto, cabível o pagamento de horas extras conforme prevê o artigo 59, § 3º da CLT: Art. 59. A duração diária do trabalho poderá ser acrescida de horas extras, em número não excedente de duas, por acordo individual, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho. (…) § 3º Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho sem que tenha havido a compensação integral da jornada extraordinária, na forma dos §§ 2o e 5o deste artigo, o trabalhador terá direito ao pagamento das horas extras não compensadas, calculadas sobre o valor da remuneração na data da rescisão. Contudo, há de ser feita ressalva quanto ao prazo prescricional para pleitear as verbas trabalhistas, já que, de acordo com o artigo 11 da CLT, “a pretensão quanto a créditos resultantes das relações de trabalho prescreve em cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho”. Assim, considerando o início do trabalho em 01/01/2015 e o encerramento em 11/05/2020, poderá requerer o seu direito a horas extras e demais reflexos a partir de 11/05/2015, perdendo o direito de pleitear aproximadamente 5 meses, período que poderá aumentar a cada mês que protelar o ajuizamento da ação. Por outro lado, o Consulente não tem direito de considerar eventuais horas extras trabalhadas durante o período que passou a ocupar a função de gerente comercial (01/01/2018 a 31/12/2018), uma vez que passou a ocupar cargo de confiança nos termos do já citado art. 62, inciso II da CLT. 7 Também não há que se falar em horas extras em relação à época que ocupava o cargo de Diretor Estatutário, isto porque o contrato de trabalho estava suspenso durante tal período, nos termos da Súmula nº 269 do TST: Súmula nº 269 do TST DIRETOR ELEITO. CÔMPUTO DO PERÍODO COMO TEMPO DE SERVIÇO (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 O empregado eleito para ocupar cargo de diretor tem o respectivo contrato de trabalho suspenso, não se computando o tempo de serviço desse período, salvo se permanecer a subordinação jurídica inerente à relação de emprego. De pronto, já se verifica que o contrato fica suspenso para o período em que esteve no cargo de diretor, sendo devidoe de direito as verbas trabalhistas anteriores a assumir esta posição, ou seja, a suspensão do contrato passa a valer a partir de sua nomeação ao cargo de diretor estatutário, logo, o período anterior, em caso de desligamento, é devido para os fins de verbas rescisórias. Portanto, o Consulente faz jus ao recebimento das horas extras, bem como seus reflexos, referente ao período de 11/05/2015 a 31/12/2017, ocasião que ocupava o cargo de vendedor externo com controle de jornada. Da demissão distriminatória: O Cosulente alega que passou a ser tratado com distriminação pelo presidente e diretores da empresa, após saberem que estava com HIV. Tanto é que, apenas 4 meses depois de divulgar a doença ao presidente (o que era direito seu não relatar, cabendo também punição criminal e multa, conforme lei 12.984/14 e incisos), foi destituído do cargo de diretor estatutário. A demissão discriminatória, embora necessite ser provada, pode ser combatida com base na Súmula 443 do TST, onde “Presume-se discriminatória a despedida de 8 empregado portador do vírus HIV ou de outra doença grave que suscite estigma ou preconceito. Inválido o ato, o empregado tem direito à reintegração no emprego”. Desta feita, a discriminação no ambiente de trabalho tornasse incompatível com nossa Constituição, que prima pela Dignidade da Pessoa Humana e os Valores Sociais do Trabalho. No mais, cabe ainda danos morais, de acordo com a lei 9.029/95. Vejamos: Art. 4o O rompimento da relação de trabalho por ato discriminatório, nos moldes desta Lei, além do direito à reparação pelo dano moral, faculta ao empregado optar entre: I - a reintegração com ressarcimento integral de todo o período de afastamento, mediante pagamento das remunerações devidas, corrigidas monetariamente e acrescidas de juros legais; II - a percepção, em dobro, da remuneração do período de afastamento, corrigida monetariamente e acrescida dos juros legais. Considerações finais Por fim, diante do caso em tela, o Sr. Daniel poderá ajuizar ação trabalhista pleiteando reintegração no emprego, bem como pagamento das horas extras e seus reflexos compreendidas no período de 11/05/2015 até 31/012/2017, bem como os reflexos sobre as comissões pagas por fora, além de danos morais pela discriminação sofrida, tudo devidamente amparado por provas documentais e testemunhais. Outrossim, poderá optar pela percepção, em dobro, da remuneração do período de afastamento, corrigida monetariamente e acrescida dos juros legais. 9 Bibliografia http://www.tst.jus.br/cargo-de- confianca#:~:text=O%20cargo%20de%20confian%C3%A7a%20exercido,horas%20sem%20receber %20horas%20extras%20 https://calvo.pro.br/e-melhor-tornar-novo-diretor-socio-ou-mante-lo-como-funcionario/ https://www.conjur.com.br/2018-jan-12/vendedor-recebera-diferencas-comissao-paga-fora https://www.conjur.com.br/2018-mai-28/dispensa-pessoa-hiv-exige-prova-nao-discriminatoria https://www.conjur.com.br/2012-set-21/tst-decide-empresa-pagar-horas-extras-vendedor-externo https://www.migalhas.com.br/depeso/202386/o-crime-de-discriminacao-aos-portadores-de-hiv-e- doentes-de-aids-e-a-lei-12-984-14 http://www.tst.jus.br/cargo-de-confianca#:~:text=O%20cargo%20de%20confian%C3%A7a%20exercido,horas%20sem%20receber%20horas%20extras%20 http://www.tst.jus.br/cargo-de-confianca#:~:text=O%20cargo%20de%20confian%C3%A7a%20exercido,horas%20sem%20receber%20horas%20extras%20 http://www.tst.jus.br/cargo-de-confianca#:~:text=O%20cargo%20de%20confian%C3%A7a%20exercido,horas%20sem%20receber%20horas%20extras%20 https://calvo.pro.br/e-melhor-tornar-novo-diretor-socio-ou-mante-lo-como-funcionario/ https://www.conjur.com.br/2018-jan-12/vendedor-recebera-diferencas-comissao-paga-fora https://www.conjur.com.br/2018-mai-28/dispensa-pessoa-hiv-exige-prova-nao-discriminatoria https://www.conjur.com.br/2012-set-21/tst-decide-empresa-pagar-horas-extras-vendedor-externo https://www.migalhas.com.br/depeso/202386/o-crime-de-discriminacao-aos-portadores-de-hiv-e-doentes-de-aids-e-a-lei-12-984-14 https://www.migalhas.com.br/depeso/202386/o-crime-de-discriminacao-aos-portadores-de-hiv-e-doentes-de-aids-e-a-lei-12-984-14
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