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IMAGEM DPOC INTRODUÇÃO ➜ Generalidades A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma doença comum, evitável e tratável, caracterizada por sintomas respiratórios persistentes e limitação do fluxo de ar. Essa limitação é geralmente progressiva e está associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de partículas ou gases tóxicos, causada primariamente pelo tabagismo. Aproximadamente 15% dos fumantes desenvolvem DPOC. Estima-se que a DPOC afeta aproximadamente 6% a 15,8% da população com idade superior a 40 anos. A DPOC é a quinta maior causa de internação no sistema público de saúde do Brasil, de pessoas com idade superior a 40 anos, com cerca de 200 mil internações ao ano. O processo inflamatório crônico pode produzir alterações dos brônquios (bronquite crônica), bronquíolos (bronquiolite obstrutiva) e parênquima pulmonar (enfisema pulmonar). A predominância dessas alterações é variável em cada indivíduo, tendo relação com os sintomas apresentados. O enfisema é definido atualmente como: "aumento anormal e permanente dos espaços aéreos distais ao bronquíolo terminal acompanhado de destruição das paredes alveolares, sem fibrose óbvia". A bronquite crônica é um processo inflamatório crônico da via aérea caracterizada pela hipersecreção de muco inicialmente restrita às vias aéreas maiores. A caracterização de um paciente como bronquítico crônico fundamenta-se em critérios clínicos que compreendem episódios de tosse persistente e produtiva cujo tempo de duração perfaz três meses por ano, ao longo de dois anos consecutivos. ➜ Achados Clínicos e Laboratoriais A tosse é o sintoma mais encontrado e pode preceder a dispneia ou aparecer simultaneamente a ela. No fumante é tão frequente, que muitos pacientes não a percebem como sintoma de doença. A tosse produtiva está presente em aproximadamente 50% dos fumantes. A dispnéia é o principal sintoma associado a incapacidade, redução da qualidade de vida e pior prognóstico, tendendo a ser progressiva com a evolução da doença. Os pacientes com pequenos volumes de enfisema são geralmente assintomáticos, tornando o seu diagnóstico clínico difícil. O grau de comprometimento funcional está relacionado com a extensão do enfisema, mais do que com o tipo, com exceção do enfisema parasseptal. O enfisema disseminado, entretanto, provoca tosse não produtiva e dispneia progressiva aos esforços. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica As provas de função respiratória no diagnóstico do enfisema refletem três importantes alterações: I) obstrução de pequenas vias aéreas provocada pela perda de sustentação e alteração inflamatória de suas paredes; II) perda da elasticidade pulmonar; e III) perda de superfície alveolar. A obstrução de via aérea reduz o pico de fluxo e o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1). A perda da retração elástica pulmonar é compensada por maior expansibilidade da parede torácica, aumentando os vários volumes pulmonares estáticos (volume residual, capacidade residual funcional e capacidade pulmonar total). A espirometria permite a avaliação de uma multiplicidade de parâmetros, porém os mais importantes do ponto de vista de aplicação clínica são a capacidade vital forçada (CVF), o VEF1 e a relação VEF1/CVF. A existência de limitação do fluxo aéreo é definida pela presença da relação VEF1 / CVF abaixo de 0,7 após broncodilatador. Em portadores de DPOC, a espirometria antes e após broncodilatador é o teste diagnóstico e de estadiamento básico. A definição de DPOC não faz referência a esses dois termos, mas sim à presença de obstrução fixa do fluxo aéreo após o uso de broncodilatador, ou seja, é uma definição espirométria. Não são necessários os dados histológicos. Só precisa de paciente com exposição de partícula nociva, com sintomas, e com espirometria com relação VEF1 / CVF abaixo de 0,7 após broncodilatador. ➜ Achados Histológicos O enfisema é classificado de acordo com a região do ácino acometida: proximal (enfisema centroacinar ou centrolobular), distal (enfisema parasseptal), ou todo o ácino (enfisema panacinar ou panlobular). O tipo parasseptal só ocorre naqueles ácinos delimitados por tecido conjuntivo, sejam septos conjuntivos periféricos, pleuras e bainhas de tecido conjuntivo, peribrônquicas ou perivasculares. Apresenta uma tendência em se desenvolver onde as margens pulmonares são regulares. Os espaços aéreos no enfisema parasseptal frequentemente se tornam confluentes e se desenvolvem em bolhas, que podem ser grandes. Acredita-se que o enfisema parasseptal seja a lesão básica na doença pulmonar bolhosa. O enfisema do tipo panacinar (panlobular) acomete toda ou qualquer porção dos ácinos, com dilatação e destruição de seus alvéolos. Estão perdidas as características que usualmente diferenciam os alvéolos dos dutos alveolares, os poros de Kohn aumentam e desenvolvem-se fenestrações entre os alvéolos. Este processo tem sido comparado com uma simplificação difusa da arquitetura pulmonar. As alterações patológicas estão distribuídas difusamente, mas com frequência a distribuição predomina nos terços inferiores. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica O enfisema predominante que ocorre na deficiência de alfa-1-antitripsina, na síndrome de McLeod (Swyer-James) e em casos de enfisema familiar, é do tipo panacinar. Apesar de ser considerado o enfisema dos não fumantes, também ocorre induzido pelo tabagismo em associação a enfisema centrolobular. O tipo centroacinar (centrolobular) acomete a porção central do ácino, junto aos bronquíolos respiratórios. Há uma dilatação seletiva com confluência dos elementos centroacinares, principalmente os bronquíolos respiratórios e seus alvéolos. Os terços superiores dos pulmões tendem a ser mais acometidos. A bronquite crônica (BC) pode não ter nenhuma anormalidade histológica, embora a maior parte delas apresente grande a moderada quantidade de anormalidades. Em alguns casos, o processo inflamatório se estende a pequenos brônquios e bronquíolos com menos de 2 mm de diâmetro. As principais alterações patológicas são sempre relacionadas com os elementos mucossecretores: hiperplasia de células caliciformes e hipertrofia e hiperplasia das glândulas. ACHADOS DE IMAGEM ➜ Radiografia de Tórax A. Enfisema • Os achados de enfisema na radiografia incluem presença de bolhas, aumento da transparência pulmonar e hiperinflação. • A presença de bolhas é inferida pela identificação de área de maior radiotransparência, zonas avasculares, podendo ou não estar delimitada por fina linha branca (parede). Bolhas só estão presentes em cerca de um terço dos casos de enfisema e são o único achado específico de enfisema na radiografia. • O aumento de transparência resulta de um incremento do volume de ar em relação à quantidade de tecidos pulmonares e sangue que os feixes de raios X encontram em seu trajeto. Pode ser focal, no caso de bolhas, ou extensa, sendo geralmente bilateral e simétrica devido à atenuação ou ausência da vasculatura pulmonar nas regiões com enfisema confluente. Os critérios de hiperinflação pulmonar na radiografia convencional de tórax são diafragma rebaixado ou retificado, abaixo do sexto espaço intercostal, anterior, na inspiração máxima, e aumento do espaço claro (aéreo) retroesternal (maior que 3 cm) • Em pacientes com hiperinflação pulmonar o coração frequentemente fica alongado e verticalizado, com o diâmetro transverso, na sua maior extensão, inferior a 11,5 em, permanecendo afilado mesmo com aumento do ventrículo direito. • A radiografia tem baixas sensibilidade e especificidade no diagnóstico de DPOC e enfisema. O maior valor da radiografia é excluir outros diagnósticos como pneumonia, insuficiência cardíaca e pneumotórax. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica B. Bronquite Crônica • Os achados radiológicos da bronquite crônica são inespecíficos e incluem espessamentobrônquico e "pulmão sujo" (termo informal). • Radiografia de tórax normal em pacientes com bronquite crônica é bastante comum. • O espessamento da parede dos brônquios, na radiografia de tórax, identificados nas regiões peri-hilares é de valor limitado na distinção de pacientes com bronquite crônica e em controles normais. • O "pulmão sujo" se refere a opacidades heterogêneas bilaterais, devido à sobreposição de espessamento de paredes brônquicas. Esse achado é também encontrado em uma série de outras pneumopatias associadas ao tabaco. • Outras características radiográficas são a hiperinflação pulmonar, a oligoemia (normalmente relacionadas com enfisema adjacente) e traqueia em bainha de sabre (relacionadas com tosse crônica). ➜ Tomografia Computadorizada Em contraste com a radiografia convencional de tórax, a tomografia computadorizada (fC), particularmente a TC de alta resolução (fCAR), tem-se mostrado muito sensível e específica na avaliação do enfisema, sendo empregada para detectar, caracterizar e quantificar a doença. A TCAR é capaz de diferenciar entre os vários tipos de enfisema em pacientes com doença leve ou moderada, retratando com grande semelhança os achados da anatomia patológica acima descritos. A. Enfisema Centroacinar (Centrolobular) • É a forma mais comum de enfisema em fumantes de cigarro. • Áreas localizadas (centrolobulares) de diminuição da atenuação do parênquima pulmonar geralmente sem paredes visíveis decorrente da destruição dos alvéolos. • Predileção pelos terços superiores dos pulmões, podendo estar confinado a estas regiões. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica Na fase inicial muitas vezes identifica-se a artéria intralobular no centro ou na periferia da área de diminuição da atenuação. Com a progressão da doença, as lesões centrolobulares enfisematosas se tornam confluentes. • Pode resultar em formação de bolhas, ou seja, áreas focais hipodensas, geralmente com mais de 1 cm de diâmetro, que apresentam paredes bem definidas e lisas que não ultrapassam 1 mm de espessura. Bolhas associam-se a outros sinais de enfisema pulmonar e apresentam localização parasseptal, achados que auxiliam na diferenciação de cistos na TC. B. Enfisema Panacinar (Panlobular) • Ocorre tipicamente em pacientes com deficiência de alfa 1-antitripsina. • Diminuição generalizada da atenuação pulmonar, com rarefação vascular nas áreas acometidas com ou sem distorção dos mesmos. Geralmente predomina nos lobos inferiores. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica • No enfisema panacinar puro, não são encontradas pequenas áreas focais de baixa densidade, características do enfisema centrolobular. No entanto, frequentemente é acompanhado de enfisema centrolobular nos lobos superiores em fumantes. C. Enfisema Parasseptal (Acinar Distal) • Muitas vezes está associado também com o tabagismo, mas pode ocorrer isoladamente no adulto jovem e resultar em pneumotórax espontâneo. • Áreas de baixa atenuação bem delimitadas por paredes finas, com espessura semelhante a fios de cabelo representando septos interlobulares intactos, nas regiões subpleurais e peribroncovasculares. D. Aumento Irregular do Espaço Aéreo (Enfisema Paracicatricial) • Ocorre adjacente a áreas de redução de volume pulmonar, geralmente cicatriciais, tipicamente em áreas de fibrose e em pacientes com pneumoconioses e fibrose maciça progressiva. • É facilmente reconhecido na TCAR quando a fibrose associada é identificada. E. Enfisema Bolhoso • O enfisema bolhoso não representa uma entidade patológica específica, mas sim uma condição clinicorradiológica caracterizada pela presença de enfisema em associação a grandes bolhas. Geralmente, o enfisema centrolobular, mas principalmente o parasseptal, está presente. • O enfisema bolhoso é mais frequentemente encontrado em homens jovens e é caracterizado pela presença de grandes bolhas apicais assimétricas, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica progressivas, que ocupam significante volume do hemitórax. • Os achados tomográficos mais comuns são bolhas com diferentes dimensões, variando de 1 a 20 em, mas geralmente de 2 a 8 em de diâmetro, parenquimatosas o u subpleurais, havendo predomínio dessas últimas. F. Bronquite Crônica • A TC é superior à radiografia de tórax na demonstração de espessamento da parede brônquica, mas este achado não é específico, pois pode ser encontrado em fumantes (cerca de um terço) e não fumantes (18%). • Uma avaliação objetiva da espessura da parede brônquica é difícil de se obter. As medições das vias aéreas são influenciadas pelo ângulo entre o longo eixo brônquico e o plano da secção e variáveis, como volume pulmonar e janela. Há alguns programas de computador que podem fornecer medições mais objetivas das paredes brônquicas, mas eles não são amplamente disponíveis e ainda podem superestimar a espessura parietal, subestimando o diâmetro interno dos brônquios. ➜ Recomendações A radiografia de tórax ainda é utilizada na avaliação da DPOC, não para definição da doença, mas para afastar outras doenças pulmonares, principalmente a neoplasia pulmonar e doenças granulomatosas. A TC de tórax é o padrão-ouro na avaliação do enfisema, com o objetivo de diagnóstico e mensuração dos achados. Além das vantagens de diagnóstico e mensuração de enfisema, pode ainda avaliar e rastrear outras doenças comuns a pacientes enfisematosos, como câncer de pulmão e bronquiectasias. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL PRINCIPAL O diagnóstico diferencial do enfisema pulmonar na radiografia de tórax compreende as doenças que causam hiperinflação pulmonar. Na TC este diagnóstico é mais restrito, entrando no diagnóstico diferencial do enfisema algumas doenças císticas pulmonares. Os cistos apresentam paredes finas e bem definidas. O enfisema acinar distal (parasseptal) deve ser diferenciado do faveolamento pulmonar, no qual as imagens císticas apresentam paredes bem definidas e espessas, distribuição subpleural em múltiplas camadas, enquanto no enfisema acinar distral as lesões, embora subpleurais, apresentam distribuição em fileira (camada única) e paredes finas. O faveolamento pulmonar está associado a distorção da arquitetura do interstício pulmonar e geralmente a pneumonia intersticial, cursando com sinais de fibrose. A bronquite crônica tem um espectro muito maior de diagnósticos diferenciais, que compreendem entidades relacionadas com o tabaco, podendo, por vezes, coexistir. Existem autores que consideram a bronquiolite respiratória, a bronquiolite respiratória associada a doença pulmonar intersticial e a pneumonia descamativa como um espectro contínuo de apresentação de uma reação pulmonar ao tabaco. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
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