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ANÁLISE 
INSTITUCIONAL E 
SERVIÇO SOCIAL 
Daniella Tech Doreto
Os diferentes espaços 
socio-ocupacionais 
do assistente social e 
suas características I
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar os espaços socio-ocupacionais do Serviço Social.
  Relacionar a análise institucional e a inserção do Serviço Social nos 
espaços socio-ocupacionais.
  Listar os tipos de instituições em que o assistente social pode atuar.
Introdução
A atuação dos assistentes sociais têm relação direta com o contexto socioe-
conômico, político e social. Assim, considerar tal contexto é essencial ao se 
refletir sobre os espaços socio-ocupacionais do Serviço Social. Além disso, 
você deve ter em mente que, ao longo do tempo, a profissão contribuiu 
para a transformação desses espaços de trabalho, à medida que modificou 
a sua prática com base em preceitos legais e nos saberes que desenvolveu.
Neste capítulo, você vai conhecer o debate sobre as instituições e a 
inserção do Serviço Social dentro delas. Além disso, você vai conhecer 
o conceito atual de espaços socio-ocupacionais e verificar em quais 
instituições o assistente social pode atuar.
Os espaços socio-ocupacionais do Serviço Social
Para compreender os espaços socio-ocupacionais em que os assistentes sociais 
se inserem na atualidade, bem como o modo como tais espaços estão estru-
turados, você precisa conhecer o debate sobre as instituições. Além disso, 
deve verifi car como o Serviço Social, enquanto profi ssão, se posiciona nesse 
contexto. Como você sabe, os espaços socio-ocupacionais em que os assistentes 
sociais estão inseridos se situam em uma realidade complexa e abrangente. É 
necessário, portanto, considerar a totalidade histórica e o processo vivenciado 
pelo capitalismo ao longo dos anos, com suas transformações e crises. Atente 
ao seguinte:
[...] sob a hegemonia das finanças e na busca incessante da produção de 
superlucros, aquelas estratégias [capitalistas] vêm incidindo radicalmente 
no universo do trabalho e dos direitos. As medidas para superação da crise 
sustentam-se no aprofundamento da exploração e expropriação dos produtores 
diretos, com a ampliação da extração do trabalho excedente e a expansão 
do monopólio da propriedade territorial, comprometendo simultaneamente 
recursos naturais necessários à preservação da vida e os direitos sociais e 
humanos das maiorias (IAMAMOTO, 2009, p. 1).
Como destacado, o mundo do trabalho é diretamente afetado pela con-
juntura capitalista. Na visão de Netto (1996), o processo de acumulação 
capitalista e de produção e reprodução da sociedade envolve transformações 
em diversas áreas e segmentos, atingindo inclusive a divisão sociotécnica 
do trabalho nos seus vários níveis. Para o autor, tais transformações impac-
tam as profissões, o seu campo de trabalho e as suas áreas de intervenção. 
Assim, as mudanças ocorridas nos espaços de atuação do assistente social 
são historicamente constituídas e expressam a dinâmica de acumulação 
capitalista: o predomínio da renda, do capital e do poder político e a sua 
correlação de forças (IAMAMOTO, 2009).
Dessa forma, o desenvolvimento da profissão esbarra na vida social e 
nas relações tensas e conflitantes entre Estado e sociedade, o que impõe 
limites e possibilidades para o Serviço Social (RAICHELIS, 2009). Apesar 
disso, para Raichelis (2009, p. 4), o Estado se constitui enquanto principal 
impulsionador do trabalho do assistente social, “[...] sendo responsável pela 
ampliação e constituição de um mercado de trabalho nacional, cada vez mais 
amplo e diversificado, acompanhando a direção e os rumos do desenvolvimento 
capitalista na sociedade brasileira [...]”.
Além disso, o Serviço Social tem com principal característica o fato de 
intervir nos processos de enfrentamento da Questão Social. Esta, embora 
presente ao longo dos anos, tem se renovado frente às diferentes conjunturas 
políticas e sociais. As políticas sociais são a principal forma de enfrentamento 
da Questão Social, e a centralidade do Estado na condução dessas políticas 
em meio ao processo de desenvolvimento capitalista resulta no aumento da 
Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características I2
demanda por serviços e programas sociais, na ampliação da relação entre as 
políticas sociais e o Serviço Social, bem como na diversificação do mercado 
de trabalho do assistente social (RAICHELI, 2009).
Contudo, você deve considerar que falar sobre a centralidade do Estado 
na condução das políticas não implica reduzi-las ao campo de intervenção 
estatal. Afinal, “[...] para a sua realização participam organismos governa-
mentais e privados que estabelecem relações complementares e conflituosas, 
colocando em confronto e em disputa necessidades, interesses e formas de 
representação de classes e de seus segmentos sociais [...]” (RAICHELIS, 
2009, p. 4).
O assistente social é um profissional assalariado cuja prática de trabalho 
e cujo projeto profissional encontram-se enraizados em um processo histó-
rico. A constituição de seus espaços socio-ocupacionais é condicionada tanto 
pela luta pela hegemonia estabelecida entre as classes quanto pelas respostas 
teóricas e práticas dos profissionais, que são permeadas de conteúdo político 
(IAMAMOTO, 2009).
Netto (2007) destaca que o assistente social, enquanto trabalhador assalariado, não é 
o responsável por determinar o seu espaço socio-ocupacional. Esse espaço é que é 
determinado pelas requisições das relações estabelecidas dentro das próprias institui-
ções. Nesse sentido, o autor esclarece que “[...] não é o Serviço Social que se constitui 
para criar um dado espaço, um lugar na rede socio-ocupacional, mas é a existência 
deste espaço que leva à constituição profissional [...]” (NETTO, 2007, p. 73). Em outras 
palavras, não é o mercado de trabalho que se estrutura para o profissional, mas a partir 
dele que emerge a profissão.
Desde o surgimento do Serviço Social, quando o desenvolvimento da 
profissão ainda estava atrelado à Igreja Católica, o contexto social, político 
e econômico já impulsionava a configuração de campos de atuação para o 
assistente social. Nesse período, o acelerado processo de industrialização e 
migração das pessoas do campo para as cidades, associado ao crescimento 
da classe urbana e trabalhadora, se refletiu na presença “[...] de um cres-
cente conjunto de instituições sociais, que cria o espaço ocupacional para 
o Serviço Social emergir como profissão, no contexto em que a Questão 
3Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características I
Social se põe como alvo da intervenção do Estado, por meio das políticas 
sociais públicas [...]” (RAICHELIS, 2009, p. 2).
Raichelis (2009) aponta ainda que as condições atuais do capitalismo mundial, 
a financeirização da economia e o desenvolvimento tecnológico e informacional 
geraram mudanças nas relações de trabalho, ocasionando precarização, terceiri-
zação, subcontratações, trabalho temporário e outras condições problemáticas. 
Esse cenário exigiu do profissional de Serviço Social uma atuação com vistas 
a atender às necessidades emergentes. Registrou-se também o enxugamento da 
participação do Estado no atendimento às necessidades da população. Nesse 
contexto, emergiu a atuação profissional em instituições ligadas ao terceiro setor.
Outro importante marco para a profissão e para a reorganização dos seus 
espaços socio-ocupacionais é a Constituição Federal de 1988, que introduziu a 
noção de direitos que devem ser garantidos a todos os cidadãos brasileiros. Tais 
direitos devem ser assegurados especialmente por meio de políticas públicas. 
A partir daí, a profissão ampliou o seu mercado de trabalho em virtude da 
expansão da rede socioassistencial. O mesmo aconteceu com a aprovação da 
Política Nacional de Assistência Social (PNAS), em 2004, e com a efetivação 
do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) (BRASIL, 2005).O campo 
de atuação do assistente social se expandiu inclusive em áreas relacionadas 
à implementação e à orientação em conselhos de direitos e à mobilização 
popular. Além disso, destacam-se: “[...] elaboração de planos de assistência 
social, acompanhamento e avaliação de programas e projetos, ampliação e 
interiorização dos cursos de Serviço Social; além de assessoria e consultoria 
e requisições no campo da pesquisa [...]” (DELGADO, 2013, p. 139).
Os espaços socio-ocupacionais também sofreram alterações a fim de 
acompanhar as mudanças vivenciadas no interior da profissão. Obviamente, 
o Serviço Social também sofre os impactos das transformações societárias 
e do mundo capitalista. Portanto, da mesma forma que a conjuntura social, 
econômica e política impulsiona o desenvolvimento da profissão, as mudanças 
endógenas interferem diretamente nela. O movimento de reconceituação 
é um importante exemplo de mudança de paradigmas no Serviço Social. 
Ele se refletiu nos espaços socio-ocupacionais em que estavam inseridos os 
profissionais. Veja o que afirma Delgado (2013, p. 133):
Nas três últimas décadas, a profissão passou por um processo de redimensio-
namento e renovação no âmbito de sua interpretação teórico-metodológica e 
ético-política, e melhor, qualificou-se, principalmente através da consolidação 
da pós-graduação stricto sensu e da produção científica acumulada a partir da 
década de 1980, adequando-se às exigências da contemporaneidade.
Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características I4
O Serviço Social existe no Brasil há cerca de 80 anos. Nesse tempo, foi ampliando o 
seu espaço socio-ocupacional a fim de abranger todos os lugares em que a Questão 
Social se manifesta. Assim, teve repercussões nas áreas dos direitos, da família, do 
trabalho e da falta dele, da educação e de segmentos como crianças, adolescentes e 
idosos. Além disso, conectou-se a grupos que enfrentam situações de preconceito, 
expropriação de terras, discriminação de gênero, raça, etnia e tantas outras formas de 
violação de direitos (CFESS, 2010).
O Serviço Social foi se estruturando em espaços socio-ocupacionais mar-
cados pela contradição existente no sistema estatal, nas relações de classe e 
na Questão Social como foco da intervenção do Estado (RAICHELIS, 2009). 
Considere o seguinte:
Para os assistentes sociais será reservada, prioritariamente, a relação com os 
segmentos sociais mais vulnerabilizados pelas sequelas da questão social e 
que buscam, nas políticas públicas, especialmente nas políticas sociais, em 
seus programas e serviços, respostas às suas necessidades mais imediatas e 
prementes (RAICHELIS, 2009, p. 3).
Como você viu, diversos espaços socio-ocupacionais, diferentes em seu 
conteúdo e em seu significado, têm sido incorporados ao Serviço Social, o 
que indica a diversidade de instituições em que o assistente social pode atuar. 
Tais espaços sofreram os impactos das transformações societárias, em especial 
das mudanças no modo de produção capitalista. Além disso, participaram das 
mudanças que foram ocorrendo na própria profissão.
A análise institucional e a inserção do Serviço 
Social nos espaços socio-ocupacionais
Refl etir sobre a relação entre a análise institucional e a inserção do Ser-
viço Social nos diferentes espaços socio-ocupacionais é importante para 
a compreensão adequada da profi ssão e das instituições em que ela se in-
sere. É evidente que o trabalho do assistente social sofreu o impacto das 
transformações ocorridas na sociedade brasileira ao longo dos anos, o que 
se refl ete na organização e no desenvolvimento dos diversos espaços socio-
5Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características I
-ocupacionais. Assim, “[...] o espaço profi ssional, como produto histórico, 
é condicionado por luta e disputa pela hegemonia e por alianças travadas 
pelas classes fundamentais, assim como pela densidade política das respostas 
de caráter teórico-prático, providenciadas pela profi ssão [...]” (SAMPAIO; 
OLIVEIRA, 2014, p. 123).
As mudanças ocorridas no interior da profissão se refletiram tanto no 
amadurecimento profissional quanto na percepção do assistente social enquanto 
agente institucional (SAMPAIO; OLIVEIRA, 2014). Tais mudanças implicam 
a instituição e os diversos aspectos a ela relacionados, como objetivos insti-
tucionais, funções, rotinas, hierarquias (SAMPAIO; OLIVEIRA, 2014). Por 
meio do “[...] reconhecimento da condição de agente institucional, inclusive, 
viabiliza-se a distinção entre o objetivo institucional requisitado e o que 
concerne, especificamente, ao fazer profissional do agente, preservando seus 
objetivos sem mimetismo com os da instituição empregadora [...]” (SAMPAIO; 
OLIVEIRA, 2014, p. 121). Ao se reconhecer como agente institucional, o 
assistente social reflete sobre a própria instituição e a sua concretude. No 
entanto, não se trata de pensar a análise institucional como algo teórico a ser 
desvelado, e sim de compreendê-la como uma técnica para o trabalho.
Iamamoto (2009) destaca a importância de o assistente social atentar às 
demandas emergentes e de apreender criticamente a sua situação ocupacional. 
Ao mesmo tempo em que os espaços socio-ocupacionais apresentam elemen-
tos que regulam e superam a ordem, eles muitas vezes se ligam a segmentos 
específicos da sociedade civil ou do Estado. Iamamoto (2009, p. 370) aponta 
que “[...] a dimensão social desse trabalho realiza-se por mediações distintas 
em função da forma assumida pelo valor-capital e pelos rendimentos. Estas 
formas condicionam, sob a óptica do valor, a contribuição desse trabalhador 
ao processo de produção e reprodução das relações sociais [...]”.
O conhecimento e o domínio da análise institucional como técnica deve-
riam ser encarados como um meio que proporciona ao exercício profissional 
a consecução de estratégias de ação e de mobilização política (SAMPAIO; 
OLIVEIRA, 2014). Especificamente sobre a condição das instituições, con-
sidere o seguinte:
As instituições requerem a reflexão em torno de sua existência por serem 
um fenômeno não natural, mas produto histórico das revoluções, lutas e dos 
enfrentamentos na sociedade capitalista e da forma mesma como estes se 
reproduzem. No limite, a instituição que requisita o profissional de Serviço 
Social é resultado, também, das relações de classe e dos embates delas de-
correntes. Se a utopia de toda instituição é distinguir-se como um elemento 
natural, indispensável e insuperável, isso acontece porque ela anseia ser au-
Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características I6
toexplicativa, desenraizada de qualquer princípio que a reconheça enquanto 
fenômeno reificado das atividades humano-genéricas. Incorre-se nisso quando 
não se observa que a análise macrossocietária é um componente da análise 
institucional (SAMPAIO; OLIVEIRA, 2014, p. 131).
Ao refletir sobre a relação entre a análise institucional e o Serviço Social, 
é importante você pensar na população usuária que demanda os serviços de 
determinada instituição. Afinal, essa população possui problemas a serem 
solucionados institucionalmente, e o profissional deve mediar essas necessi-
dades com os limites impostos pela instituição.
Entre os profissionais, costuma-se adotar uma variedade de terminologias para fazer 
referência às instituições, como “organizações”, “espaços socio-ocupacionais”, “núcleo”, 
“setor”, entre outras. No entanto, é necessário atentar a possíveis diferenciações entre 
os termos (SAMPAIO; OLIVEIRA, 2014).
Algumas situações concretas do exercício profissional não raras vezes 
colidem com a burocracia, as rotinas e as relações interpessoais existentes nas 
instituições, esbarrando nos chamados “limites institucionais”. Nesses casos, 
compete aos agentes institucionais viabilizar as mudanças necessárias a fim de 
assegurar as finalidades da profissão junto aos usuários. Sampaio e Oliveira 
(2014) enfatizam a importância de o profissionalestabelecer estratégias como 
forma de fornecer as respostas demandadas nos vários espaços de atuação.
Como você viu, a relação existente entre a profissão e as instituições em 
que os assistentes sociais atuam merece ser alvo de discussões teóricas e 
práticas. Tais discussões precisam estar presentes não apenas na academia, 
mas também no cotidiano dos profissionais inseridos nas várias instituições. 
É importante realizar a análise global dos espaços de atuação profissional e 
também a análise da prática propriamente dita.
Espaços de atuação do assistente social
Os espaços de atuação do assistente social foram se transformando ao longo dos 
anos. Isso é consequência das mudanças ocorridas na sociedade e na própria 
7Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características I
profi ssão. Assim, na atualidade, existem “[...] novos espaços ocupacionais e 
competências profi ssionais que convivem com os tradicionais, revelando sig-
nifi cativas alterações no mercado de trabalho, nas demandas e nos conteúdos 
das ações dos assistentes sociais [...]” (MOTA, 2014, p. 695).
O Serviço Social é uma profissão eminentemente interventiva que atua nas 
manifestações da Questão Social, buscando respostas para as necessidades 
apresentadas como demandas no cotidiano profissional. Dessa forma, na área 
pública, o assistente social é requisitado a atuar nas políticas sociais atendendo 
às prerrogativas do Estado no que se refere ao planejamento, à execução e ao 
monitoramento de ações nas referidas políticas (TORRES, 2015).
Independentemente da área à qual o profissional se vincula, ele tem como premissa 
reconhecer as expressões da Questão Social, analisar a realidade e identificar demandas 
de atendimento. Para isso, deve considerar as contradições próprias da sociedade 
capitalista, respondendo aos interesses do empregador, às demandas dos usuários 
e à sua condição de trabalhador assalariado (TORRES, 2015). Além disso, o trabalho 
profissional deve ser orientado e norteado pelos princípios contidos no Código de Ética 
e na lei de regulamentação da profissão, que precisam ser seguidos pelos profissionais 
e pelas instituições às quais eles estão vinculados.
Não apenas na política de assistência social, mas em qualquer área em que 
o assistente social esteja inserido, a sua intervenção “[...] não pode ter como 
horizonte somente a execução das atividades arroladas nos documentos ins-
titucionais, sob o risco de limitar suas atividades à ‘gestão da pobreza’ sob a 
óptica da individualização das situações sociais e de abordar a Questão Social 
a partir de um viés moralizante [...]” (CFESS, 2011, p. 7). Outro importante 
desafio vivenciado pelo Serviço Social e relacionado à sua inserção nas polí-
ticas públicas é a interação em equipes interdisciplinares e o reconhecimento 
de atribuições dentro delas. Cada vez mais assistentes sociais têm integrado 
equipes e contribuído com seu saber profissional para a efetivação de direitos 
dos usuários.
Iamamoto (2009) aponta que o Estado tem sido o principal empregador de 
assistentes sociais, conferindo a eles o status de servidores públicos. No entanto, 
essa condição também se encontra relacionada a uma característica bastante 
peculiar das instituições públicas, que é a burocracia, na qual o trabalho do 
Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características I8
assistente social esbarra frequentemente. Mioto e Nogueira (2013) destacam 
que a condição de trabalhador assalariado também se reflete na autonomia do 
profissional, o que muitas vezes impõe limites à sua prática. Nesse sentido, os 
assistentes sociais “[...] se deparam com duas questões cruciais: a autonomia e 
a especificidade profissional. Em tese, significa enfrentar os dilemas que ainda 
persistem no debate sobre a prática profissional no Serviço Social e que no novo 
cenário brasileiro se reatualizam [...]” (MIOTO; NOGUEIRA, 2013, p. 65).
O setor público, portanto, tem sido um importante empregador de assisten-
tes sociais, que são contratados para lidar diretamente com as mais variadas 
manifestações da Questão Social. As situações vivenciadas muitas vezes 
exigem uma abordagem que ultrapasse o limite de uma política específica, 
requisitando uma ação integrada a outras políticas setoriais como forma de 
assegurar os direitos dos usuários. O comprometimento do profissional com 
seus princípios e com uma atuação crítica é o elemento impulsionador para 
favorecer o enfrentamento dos limites institucionais na luta pela garantia 
do acesso.
Assim, o Serviço Social insere-se em diversas políticas sociais, sejam 
elas ligadas à seguridade social (saúde, assistência e previdência social) ou à 
educação, à habitação e outras áreas. A inserção dos assistentes sociais nas 
políticas vem demandando profissionais cada vez mais comprometidos com 
a consolidação do Estado Democrático de Direito, com a universalização da 
seguridade social e das políticas públicas e com o fortalecimento dos espaços 
de controle social democrático. Isso requer o fortalecimento de uma interven-
ção profissional crítica, autônoma, ética e politicamente comprometida com 
a classe trabalhadora e com as organizações populares de defesa de direitos 
(CFESS, 2011).
Além de atuar na esfera pública, o assistente social insere-se em outros es-
paços socio-ocupacionais. Isso ocorre pois, devido à reconfiguração do Estado 
frente às exigências do neoliberalismo, houve alterações na disponibilidade 
de recursos e investimentos na área social, gerando uma transferência de res-
ponsabilidades para a sociedade civil. Veja o que afirma Alencar (2009, p. 7):
[...] [n]este cenário de redefinição do papel do Estado, observa-se a transfe-
rência de uma considerável parcela de serviços sociais para a sociedade civil. 
Na verdade, está-se diante da desresponsabilização do Estado e do capital 
com as respostas da “questão social”. Este deslocamento engendra o retorno 
de práticas tradicionais no que se refere ao trato das contradições sociais no 
verdadeiro processo de refilantropização da questão social, sob os pressupostos 
da ajuda moral próprios das práticas voluntaristas, sem contar a tendência de 
fragmentação dos direitos sociais.
9Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características I
Registra-se, assim, o crescimento do terceiro setor, considerado o es-
paço localizado ao lado do Estado e do mercado. Nele, incluem-se entidades 
de naturezas distintas, como ONGs, fundações empresariais e instituições 
filantrópicas. Segundo Alencar (2009), o terceiro setor pode ser entendido 
como um setor não governamental, sem fins lucrativos, sendo composto por 
organizações da sociedade civil com interesse público.
O assistente social também pode desenvolver seu trabalho em organi-
zações privadas. Segundo Abreu, Costa e Ferreira (2016), o processo de 
reestruturação produtiva e a crise capitalista geraram demandas por formas 
alternativas de atuar junto à classe trabalhadora (os detentores da força de 
trabalho). Em empresas privadas, o trabalho do assistente social não perde 
suas especificidades, mas adquire características particulares conforme a área 
de atuação. Assim, o assistente social pode se inserir em grandes empresas, 
como usinas de cana-de-açúcar, escolas e hospitais particulares, entre outras.
A seguir, veja uma síntese dos principais espaços socio-ocupacionais do 
assistente social e alguns exemplos.
  Políticas sociais: Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), 
Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS); 
unidades básicas de saúde, hospitais de nível secundário, hospitais especia-
lizados, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), centros de atendimento 
a grupos específicos (como idosos), unidades de pronto-atendimento; 
escolas municipais e estaduais, universidades públicas, creches; Poder 
Judiciário, Tribunais de Justiça, Defensorias Públicas, sistema prisional, 
corporações militares, Polícia Militar,Exército, Aeronáutica, Marinha.
  Iniciativa privada: empresas nacionais e multinacionais, áreas de 
recursos humanos e coordenação de projetos; usinas de cana-de-açucar; 
cooperativas médicas; empresas de mútuo funerário; escolas particulares 
de ensino infantil.
  Terceiro setor: organizações não governamentais, como entidades que 
atuam na defesa de crianças e adolescentes.
  Movimentos sociais: diversos segmentos, categorias de representação 
profissional, grupos minoritários (mulheres, LGBT+, entre outros).
Como você viu, é amplo o rol de espaços para a atuação do assistente 
social em instituições, sejam elas públicas, privadas ou do terceiro setor. O 
profissional de Serviço Social também pode atuar em organismos ligados 
à prevenção de violência, entidades não governamentais vinculadas à área 
pública e instituições privadas.
Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características I10
ABREU, S. L. L. R. G.; COSTA, D. V. F.; FERREIRA, V. C. P. Como tem se dado a atuação do 
assistente social nas empresas privadas? Revista de Carreiras e Pessoas, São Paulo, v. 6, 
n.1, p. 100–116, 2016.
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Brasília: CFESS, 2009.
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Disponível em: http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/
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Brasília: CFESS, 2011. (Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Públicas 
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2010. (Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Públicas Sociais).
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Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS, 2009.
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social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS, 2009.
SAMPAIO, S. S.; OLIVEIRA, R. Análise institucional ontem e hoje: indicações pertinentes 
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Leitura recomendada
CFESS. Subsídios para atuação de assistentes sociais na política de educação. Brasília: CFESS, 
2013. (Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais).
11Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características I
ANÁLISE 
INSTITUCIONAL E 
SERVIÇO SOCIAL
Daniella Tech Doreto
Os diferentes espaços 
socio-ocupacionais do 
assistente social e suas 
características II
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer a prática profissional do assistente social nas instituições 
públicas.
  Descrever a prática profissional do assistente social nas instituições privadas.
  Explicar a prática profissional do assistente social nos movimentos 
sociais e no terceiro setor.
Introdução
O assistente social pode atuar em diferentes espaços socio-ocupacionais. 
Na atualidade, o setor público é a principal área em que se desenvolve 
a intervenção profissional para a materialização das políticas públicas e 
suas interfaces. No entanto, em um contexto de capitalismo avançado 
e de enxugamento dos gastos públicos, o Estado tem tentado repas-
sar à sociedade civil parte das suas responsabilidades. Nesse cenário, 
desenvolve-se o terceiro setor, outra área de atuação do assistente social. 
Além disso, os movimentos sociais e as instituições privadas contam 
com o assistente social em seu quadro de profissionais. Em todos esses 
contextos, ao assistente social compete atuar com base nos princípios 
estabelecidos nas legislações que embasam o Serviço Social, com vistas 
a assegurar os preceitos do seu projeto ético-político profissional.
Neste capítulo, você vai estudar os diferentes espaços socio-ocupa-
cionais em que se inserem os assistentes sociais. O foco é tanto a prática 
profissional desenvolvida nas instituições públicas e privadas quanto 
aquela desenvolvida nos movimentos sociais e no terceiro setor.
A prática do assistente social 
nas instituições públicas
O setor público é um dos espaços socio-ocupacionais que mais absorvem 
assistentes sociais no Brasil. Inserido nas diversas políticas públicas — em 
especial nas de saúde, assistência social, previdência, educação e habitação 
—, o profi ssional de Serviço Social busca atender às demandas resultantes 
das expressões da Questão Social. Para isso, considera a multiplicidade de 
fatores envolvidos nessas expressões e a sua relação com as políticas existentes.
É consenso que o Serviço Social é uma profissão eminentemente interven-
tiva e que atua nas manifestações da Questão Social, buscando respostas para 
as necessidades sociais apresentadas como demandas no cotidiano profissional. 
Os espaços para a atuação do assistente social foram se transformando ao 
longo dos anos como consequência das mudanças ocorridas na sociedade e 
na própria profissão.
Assim, na atualidade, existem “[...] novos espaços ocupacionais e competên-
cias profissionais que convivem com os tradicionais, revelando significativas 
alterações no mercado de trabalho, nas demandas e nos conteúdos das ações 
dos assistentes sociais [...]” (MOTA, 2014, p. 695). Isso se deve principalmente 
à promulgação da Constituição Federal de 1988, que introduziu a noção de 
direitos, modificando substancialmente a visão sobre o assistencialismo. A 
Constituição também estabelece que a seguridade social é integrada pelas 
políticas de saúde, assistência e previdência social, o que contribui para ampliar 
os espaços de trabalho do assistente social.
Na área da assistência social, algumas legislações aprovadas nas últimas 
décadas redefiniram a atuação profissional. A Lei Orgânica da Assistência 
Social (LOAS) estabelece a assistência social como política não contributiva 
da seguridade social, que deve ser prestada a quem dela necessitar, além de 
estabelecer o comando único em cada esfera de governo por meio da descen-
tralização político-administrativa (BRASIL, 1993). Com a implementação 
da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e a criação do Sistema 
Único de Assistência Social (SUAS), ampliou-se o espaço de atuação dos 
assistentes sociais.
A partir desses instrumentos legais, a proposta é que a assistência busque 
assegurar proteção social básica e especial a todos aqueles que necessitem. 
A proteção social básica deve ser ofertada nos Centros de Referência da 
Assistência Social (CRAS), enquanto a proteção social especial deve ser 
oferecida nos Centros de Referência Especializados de Assistência Social 
(CREAS), que englobam a oferta de serviços de média e alta complexidade. 
Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características II2
Além dos serviços mencionados, a área de assistência social concentra 
ações articuladas com outras políticas públicas,como emprego, habitação, 
educação, saúde, previdência, etc. A seguir, conheça melhor os CRAS e 
os CREAS.
  CRAS: são unidades públicas estatais de base territorial, localizadas 
em áreas de vulnerabilidade social, que atendem um total de até mil 
famílias/ano. Executam serviços de proteção social básica, organizam 
e coordenam a rede de serviços socioassistenciais locais da política de 
assistência social. São responsáveis pela oferta do Programa de Aten-
ção Integral à Família (PAIF). Os CRAS devem prestar informação 
e orientação para a população de sua área de abrangência, bem como 
se articular com a rede de proteção social local no que se refere aos 
direitos de cidadania, mantendo ativo um serviço de vigilância da 
exclusão social. A ideia é atuar na produção, na sistematização e na 
divulgação de indicadores da área de abrangência, em conexão com 
outros territórios (BRASIL, 2005).
  CREAS: são destinados, por exemplo, às crianças, aos adolescentes, 
aos jovens, aos idosos, às pessoas com deficiência e às pessoas em 
situação de rua que tiverem seus direitos violados e/ou ameaçados e cuja 
convivência com a família de origem seja considerada prejudicial à sua 
proteção e ao seu desenvolvimento. Oferecem proteção social especial 
de média complexidade e proteção social especial de alta complexidade. 
Os serviços de proteção especial têm estreita interface com o sistema de 
garantia de direitos, exigindo, muitas vezes, uma gestão mais complexa 
e compartilhada com o Poder Judiciário, o Ministério Público e outros 
órgãos e ações do Executivo (BRASIL, 2005).
No que se refere à saúde, a Constituição Federal de 1988 a define, no 
art. 196, como “[...] direito de todos e dever do Estado, garantido mediante 
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de 
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua 
promoção, proteção e recuperação [...]” (BRASIL, 1988, documento on-line). 
A Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, enfatiza tais aspectos e considera 
a saúde em sua totalidade, bem como as manifestações da Questão Social 
e os seus condicionantes — “[...] a alimentação, a moradia, o saneamento 
básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer 
e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população 
expressam a organização social e econômica do País [...]” (BRASIL, 1990, 
3Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características II
documento on-line). A partir de tais considerações, evidencia-se a importân-
cia do contexto social e das condições de vida, que se refletem na saúde da 
população (CFESS, 2010).
Em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde 
(SUS), o assistente social está inserido em todos os níveis de atenção:
  nível primário, que envolve prevenção, proteção e promoção da saúde, 
concentrando atendimentos em unidades básicas de saúde e estratégias 
de saúde da família;
  nível secundário, composto por hospitais e ambulatórios especializados 
que oferecem acesso a algumas especialidades médicas;
  nível terciário, que envolve unidades de saúde como grandes clínicas 
e hospitais de alta complexidade.
Além disso, o profissional de Serviço Social ainda está inserido em uni-
dade específicas, como as relacionadas às áreas de saúde do trabalhador, 
saúde mental, cuidados paliativos, unidades de transplante renal, entre outras 
que, resguardados os níveis de atenção, acompanham as especificidades da 
área médica. Na saúde, os profissionais atuam em “[...] quatro grandes eixos: 
atendimento direto aos usuários; mobilização, participação e controle social; 
investigação, planejamento e gestão; assessoria, qualificação e formação 
profissional [...]” (CFESS, 2010, p. 41).
Embora esteja presente em unidades de saúde e hospitais particulares, o assistente 
social atua mais no setor público. A saúde pública é uma das áreas que mais concentra 
profissionais de Serviço Social. Isso se deve especialmente ao conceito de saúde, que 
extrapola a questão da doença e engloba aspectos relacionados ao bem-estar físico, 
social e mental. Assim, o assistente social atua diretamente nas questões sociais que 
interferem na saúde e nos aspectos relacionados a ela.
A política de educação também é uma importante área para a atu-
ação do assistente social. Nesse campo, há muita luta e muitos esforços 
para se assegurar a inserção desses profissionais. As discussões para 
Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características II4
a inclusão do Serviço Social nessa política não são algo novo e datam 
dos primórdios da profissão. Naquela época, a intenção era assegurar a 
formação técnica, intelectual e moral da classe trabalhadora para garantir 
a reprodução do capital, demanda trazida principalmente pela classe 
dominante (CFESS, 2013).
Com o passar do tempo, as demandas apresentadas aos profissionais 
de Serviço Social da área da educação deixaram de se limitar à inserção 
de crianças e adolescentes ao sistema de ensino, “[...] sendo acionadas 
também a partir das instituições do Poder Judiciário, das empresas, das 
instituições de qualificação da força de trabalho juvenil e adulta, pelos 
movimentos sociais, entre outras, envolvendo tanto o campo da educação 
formal como as práticas no campo da educação popular [...]” (CFESS, 
2013, p. 16). Na educação pública, os profissionais estão inseridos em 
escolas de ensino infantil, médio e fundamental, creches, pré-escolas e 
universidades públicas.
A previdência social também possui profissionais de Serviço Social em 
seu quadro de técnicos. Cabe destacar que houve uma renovação nos últimos 
anos, associada às problemáticas e competências estipuladas. Estas derivam 
das relações de trabalho nas áreas urbanas e rurais, como a existência de 
testes de meios para benefícios e aposentadorias rurais e o surgimento dos 
novos contribuintes da previdência, num leque de situações que vai dos tra-
balhadores por conta própria, microempresários e contribuintes individuais 
voluntários até a cobertura e a contribuição das donas de casa, inscritas no 
Cadastro Social Único (CadÚnico). A esses aspectos se juntam questões 
relacionadas à precarização e ao adoecimento no trabalho, aos acidentes de 
trabalho, à informalidade, às doenças profissionais e à requalificação, por 
exemplo (MOTA, 2014).
Como você pode observar, é amplo o rol de políticas públicas em que se insere o 
assistente social. O exercício profissional tem como premissa a garantia dos direitos 
dos usuários por meio de uma atuação nas variadas manifestações da Questão Social. 
Os espaços socio-ocupacionais públicos se constituem, portanto, em importantes 
âmbitos para a concretização dos objetivos profissionais.
5Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características II
A prática do assistente social 
nas instituições privadas
O Serviço Social é uma profi ssão inserida na divisão sociotécnica do trabalho. 
Ele se constitui em uma especialização do trabalho coletivo e se insere no 
contexto de desenvolvimento das relações sociais capitalistas (IAMAMOTO, 
2009). Portanto, além de se inserir em organizações públicas e de terceiro 
setor, o assistente social também é requisitado a atuar em instituições privadas.
A atuação do assistente social nas empresas privadas remonta a meados dos 
anos 1940, proveniente da luta dos operários por melhores condições de tra-
balho, visto que passaram a se reconhecer enquanto classe trabalhadora com 
necessidades em comum. O trabalho do assistente social nas empresas privadas 
desde aquela época tem como intuito minimizar a contradição entre empresa e 
trabalhador (capital x trabalho) (ABREU; COSTA; FERREIRA, 2016, p. 101).
Em meados do século XX, a atuação profissional tinha como finalidade 
responder às necessidades da reprodução material da força de trabalho (ABREU; 
COSTA; FERREIRA, 2016). É somente a partir dos anos 1990que as instituições 
privadas não lucrativas se afirmam como locais de atuação profissional para o 
assistente social, passando a se constituir como mais um espaço socio-ocupacional. 
É na redefinição do papel do Estado e de suas relações com a sociedade que o 
mercado de trabalho foi se estruturando. Assim, foram se delineando novos 
requisitos, habilidades, atribuições e funções do profissional (ALENCAR, 2009).
Nos anos 1990, diante do aprimoramento tecnológico e do desenvolvimento 
de novas tecnologias, houve mudanças no ambiente de trabalho (ABREU; 
COSTA; FERREIRA, 2016). A partir de então, as empresas passam a de-
senvolver projetos direcionados aos seus trabalhadores, e o Serviço Social 
passa a ser solicitado a lidar com problemas “[...] relativos à produtividade, 
prestação de serviços sociais, assessoramento às chefias, assim como trabalhos 
de cunho assistencial e educativo para com os trabalhadores e seus familiares 
[...]” (ABREU; COSTA; FERREIRA, 2016, p. 104).
Na atualidade, as demandas têm sido redefinidas, acompanhando as trans-
formações sociais. Nesse sentido, destaca-se a visão de Alencar (2009, p. 13) 
sobre as atribuições dos assistentes sociais:
No que se refere às atribuições profissionais, os assistentes sociais estão sendo 
demandados nestes novos espaços profissionais para atuar na gestão de pro-
gramas sociais, o que implica o desenvolvimento de competências no campo 
do planejamento, formulação e avaliação de políticas sociais. Sendo assim, 
há uma grande tendência de crescimento das funções socioinstitucionais do 
Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características II6
Serviço Social para o plano da gerência de programas sociais, o que requer 
do profissional o domínio de conhecimentos e saberes, tais como de: legisla-
ções sociais correntes, numa atualização permanente; análises das relações 
de poder e da conjuntura; pesquisa, diagnóstico social e indicadores sociais, 
com o devido tratamento técnico dos dados e das informações obtidas, no 
sentido de estabelecer as demandas e definir as prioridades de ação; leitura 
dos orçamentos públicos e domínio de captação de recursos; domínio dos 
processos de planejamento; e competência no gerenciamento e avaliação de 
programas e projetos sociais.
No setor privado, os assistentes sociais inserem-se comumente em programas de 
transferência e desenvolvimento, bem como em programas de qualidade total, de qua-
lidade de vida e de clima ou ambiência organizacional. Nesse ambiente, os assistentes 
sociais podem ser solicitados a atuar na gestão de recursos humanos, em programas 
participativos, no desenvolvimento de equipes, em programas de responsabilidade 
social, entre outros. No atendimento individual, o assistente social atua em demandas 
trazidas pelos colaboradores e que podem afetar a sua produtividade, como questões 
relacionadas à saúde e outras que, embora não se relacionem diretamente com o 
processo de trabalho, podem afetá-lo (ABREU; COSTA; FERREIRA, 2016).
Nas últimas décadas, muitas mudanças ocorreram no mercado de trabalho. 
Apesar disso, Amaral e Cesar (2009) destacam que, em muitos setores par-
ticulares, o Serviço Social mantém um trabalho relacionado com demandas 
antigas. Nesse trabalho, permanece
[...] o seu caráter “educativo”, voltado para mudanças de hábitos, atitudes 
e comportamentos do trabalhador, objetivando sua adequação ao processo 
de produção. Desse modo, o profissional continua sendo requisitado para 
responder às questões que interferem na produtividade — absenteísmo, in-
subordinação, acidentes, alcoolismo etc. —, a intervir sobre os aspectos 
da vida privada do trabalhador, que afetam seu desempenho — conflitos 
familiares, dificuldades financeiras, doenças etc. — e a executar serviços 
sociais asseguradores da manutenção da força de trabalho (MOTA, 1985 
apud AMARAL; CESAR, 2009, p. 10).
Ainda segundo os autores citados, o assistente social é um profissional 
que, “ao mesmo tempo em que interfere na reprodução da força de trabalho, 
por meio da administração de benefícios sociais ou dos ‘salários indiretos’, 
7Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características II
exerce o papel de mediador nas relações empregado-empresa, implementando 
programas integrativos” que abrangem a família-comunidade.
De forma geral, o assistente social tem sido requisitado a atuar em dife-
rentes instituições privadas, como planos de saúde, escolas particulares, etc. 
Tal demanda se relaciona às habilidades e competências que o assistente so-
cial possui e que podem contribuir para que o ambiente de trabalho no setor 
privado se torne mais confiável, favorecendo o crescimento e a satisfação dos 
colaboradores. Para Abreu, Costa e Ferreira (2016, p. 105), nessa área, o assis-
tente social é requisitado para “[...] dar respostas às necessidades humanas dos 
trabalhadores, contribuindo com a formação de um comportamento produtivo 
de acordo com as exigências da organização, sendo um fomentador da adesão 
do trabalho às novas formas de produção [...]”.
Assim, entre os diferentes espaços socio-ocupacionais em que os assistentes 
sociais se inserem atualmente, as instituições privadas constituem um setor 
importante. Ressalvadas as especificidades dessa área e os seus objetivos, 
o assistente social deve contribuir com as metas da instituição e de seus 
colaboradores sem perder o foco de sua atuação, que é a garantia de direitos, 
favorecendo a qualidade de vida e o trabalho digno.
A prática do assistente social nos movimentos 
sociais e no terceiro setor
As refl exões sobre a profi ssão, os seus espaços socio-ocupacionais e a sua relação 
com o contexto capitalista e neoliberal também envolvem discussões sobre os 
movimentos sociais e o terceiro setor. O terceiro setor emergiu no Brasil em 
um contexto de desmonte e desregulamentação de direitos, com a justifi cativa 
de constituir uma resposta alternativa para as expressões da Questão Social 
(IPEA, 2011). Na realidade, ele é fruto do pensamento neoliberal e põe em 
cena um discurso de “solidariedade social” (IPEA, 2011). Considere o seguinte:
Perpassado por interesses classistas, o aumento de instituições que inte-
gram o rol desta suposta esfera [terceiro setor] oscila entre o interesse de 
grandes capitalistas, que buscam através do desenvolvimento da filantropia 
empresarial, entre outras coisas, difundir uma boa imagem, na socieda-
de, de suas instituições, passando pelas ONGs que surgem atreladas aos 
movimentos sociais os quais possuem, por assim dizer, um espírito mais 
revolucionário [...] Essa primeira ideia do que engloba o terceiro setor na 
sociedade mostra-nos uma complexidade no que se “esconde” por trás 
deste suposto “setor” (IPEA, 2011, documento on-line).
Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características II8
Yazbek (2002) assinala que, nesse contexto, as responsabilidades públicas 
são reduzidas, e seus mecanismos de atenção, desqualificados. Nos últimos 
anos, as intervenções do Estado têm encontrado dificuldades em cumprir a 
sua função de amenizar as desigualdades sociais e a condição de pobreza no 
País, consistindo em ações tímidas e incapazes de interferir efetivamente no 
cenário. A autora afirma ainda que “[...] o enfrentamento da desigualdade passa 
a ser tarefa da sociedade ou de uma ação estatal errática e pálida, caracterizada 
pela defesa de alternativas privatistas, que envolvem a família, as organizações 
sociais e a comunidade em geral [...]” (YAZBEK, 2002, documento on-line). 
Nesse sentido, retomam-se no cenário nacional práticas filantrópicas e de 
benemerência como “[...] expressão da transferência à sociedade de respostas 
às sequelas da Questão Social [...]” (YAZBEK, 2002, documento on-line).
As Santas Casas de Misericórdia, presentes ainda hoje em muitos municípios, surgiram 
ligadas à filantropia e ao trabalho voluntário. Embora oficialmente no Brasil o terceiro 
setor tenha sido implementado na décadade 1980, a primeira Santa Casa de Misericórdia 
foi criada em Santos (SP) em 1543, dando início à presença do setor privado em ações 
de interesse público (YAZBEK, 2002).
O terceiro setor é
composto por organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela 
ênfase na participação voluntária, num âmbito não governamental, dando 
continuidade às práticas tradicionais da caridade, da filantropia e do me-
cenato e expandindo seu sentido para outros domínios, graças, sobretudo, 
à incorporação do conceito de cidadania e de suas múltiplas manifestações 
na sociedade civil (FERNANDES, 1997, p. 27 apud YAZBEK, 2002, 
documento on-line).
Silva (2008) lembra que o Serviço Social, desde o início de sua história, 
trabalhou com entidades sociais. Logo, a presença da filantropia é uma 
constante, principalmente na área da assistência social. Hoje, na sua relação 
com o terceiro setor, o assistente social deve considerar as mudanças que 
ocorreram no mundo e identificar:
9Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características II
[...] o significado social dessas transformações, analisando as implicações 
para o exercício da profissão e, somente com uma postura crítica, poderá dar 
respostas inovadoras aos dilemas impostos pelo sistema capitalista e pelas 
novas consequências causadas por esse sistema para tanto, é necessário pen-
sar o Serviço Social como profissão inserida nas transformações históricas, 
que sofre com a falta de recursos, com os baixos salários, desemprego, com 
as exigências feitas pelo mercado de trabalho, já que somos trabalhadores 
assalariados. Porém, não se pode esquecer do projeto ético e político dessa 
profissão direcionado a colaborar para uma transformação social, fortalecen-
do o verdadeiro sentido de democracia entre a classe trabalhadora (SILVA, 
2008, p. 84-85).
Quanto ao trabalho desenvolvido pelo assistente social, Silva (2008) pontua 
que ele é dinâmico e envolve a maior parte das áreas das entidades do terceiro 
setor, passando pela inscrição, pela avaliação socioeconômica e pela inserção 
de integrantes. Além disso, envolve a mobilização da rede de apoio e inclusão 
em políticas públicas, bem como a elaboração e o gerenciamento de programas 
e projetos para captação de recursos. O trabalho com famílias também pode 
ser desenvolvido nessas entidades, dependendo do seu foco de atuação. Costa 
(2005) lista as atribuições do assistente social no terceiro setor:
  implantar, no âmbito institucional, a PNAS, conforme as diretrizes 
da LOAS e do SUAS, de acordo com a área e o segmento em questão;
  subsidiar e auxiliar a administração na elaboração, na execução e na 
avaliação do plano gestor institucional, tendo como referência o plane-
jamento estratégico para organizações do terceiro setor;
  desenvolver pesquisas junto aos usuários da instituição, definindo o 
perfil social dessa população e obtendo dados para a implantação de 
projetos sociais interdisciplinares;
  identificar necessidades individuais e coletivas apresentadas pelos 
segmentos que integram a instituição, na perspectiva do atendimento 
social e da garantia de seus direitos, implantando e administrando 
benefícios sociais;
  realizar seleção socioeconômica, quando for o caso, de usuários para as 
vagas disponíveis (a partir de critérios preestabelecidos e sem perder de 
vista o atendimento integral e de qualidade social e o direito de acesso 
universal ao atendimento);
  estender o atendimento social às famílias dos usuários da institui-
ção, com projetos específicos e formulados a partir de diagnósticos 
preliminares;
Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características II10
  intensificar a relação da instituição com as famílias, objetivando uma 
ação integrada de parceria na busca de soluções de problemas;
  fornecer orientação social e encaminhar a população usuária aos 
recursos da comunidade, integrando e utilizando a rede de serviços 
socioassistenciais;
  participar, coordenar e assessorar com a equipe técnica estudos e dis-
cussões de casos relacionados à política de atendimento institucional 
e à política de assistência social;
  realizar perícia, laudos e pareceres técnicos relacionados à matéria espe-
cífica da assistência social no âmbito da instituição, quando solicitado.
Além de se inserir em organizações ligadas ao terceiro setor, o assis-
tente social também tem um histórico de lutas pela efetivação de direitos. 
Isso acontece especialmente por meio dos movimentos sociais, um tipo 
de organização cuja ação coletiva organizada busca a defesa, a promoção 
ou até mesmo algum tipo de transformação, especialmente na área dos 
direitos. O Serviço Social insere-se em vários espaços socio-ocupacionais 
voltados para a luta e a defesa de direitos. A profissão tem contribuído em 
espaços como associações de moradores, cooperativas, sindicatos, grupos 
organizados de mulheres, idosos, população LGBT+ e outros grupos con-
siderados minoritários. As próprias legislações do Serviço Social, como 
a lei de regulamentação da profissão, o Código de Ética Profissional e as 
diretrizes curriculares da Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social 
(ABEPSS), destacam o compromisso da categoria com a defesa dos direitos 
e interesses da classe trabalhadora e, consequentemente, com suas formas 
de organização, incluindo os movimentos sociais.
Moro e Marques (2011) apontam que o primeiro contato do Serviço Social 
com os movimentos sociais ocorreu pela articulação político-organizativa de 
entidades representativas da categoria, o que teve sua origem em 1983, com a 
criação da Associação Nacional dos Assistentes Sociais (ANAS). Segundo os 
autores, a ANAS foi responsável por fortalecer “[...] os vínculos da profissão 
com as lutas gerais da classe trabalhadora, além de garantir o encaminhamento 
das demandas específicas da categoria, tais como o plano de cargos e carreiras 
dos servidores públicos federais (PCC) e as condições de trabalho, salário e 
carga horária dos assistentes sociais [...]” (MORO; MARQUES, 2011, p. 26).
Os autores destacam ainda que muitas vezes o trabalho do assistente social 
junto aos movimentos sociais consiste no fortalecimento da participação 
institucional, favorecendo a atuação da sociedade no setor público. Esse forta-
lecimento manifesta-se de diversas formas; entre elas, por meio da capacitação 
11Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características II
do maior número possível de sujeitos para participar dos conselhos de direitos, 
priorizando a formulação e a execução de políticas públicas.
Como você viu, as instituições ligadas ao terceiro setor e aos movimentos 
sociais são mais um espaço de atuação para o Serviço Social. Independente-
mente da área em que atua, o assistente social deve considerar os princípios 
estabelecidos em seu Código de Ética, na lei de regulamentação da profissão e 
nas legislações sociais existentes no País, trabalhando sempre em consonância 
com os princípios estabelecidos no Projeto Ético-Político do Serviço Social. 
A ideia é assegurar a efetivação de direitos e a emancipação dos sujeitos 
sociais, lutando pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
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ufma.br/index.php/rppublica/article/view/3718/1749. Acesso em: 23 out. 2019.
13Os diferentes espaços socio-ocupacionais do assistente social e suas características II
ESTRATÉGIAS E 
TÉCNICAS EM 
SERVIÇO SOCIAL I
Mariana Oliveira 
Decarli
O conhecimento e a 
atuação do Serviço 
Social no cotidiano
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer as intervenções do profissional de Serviço Social e a 
apropriação de diferentes saberes.
  Analisar a categoria cotidiano e os seus significados para o Serviço 
Social.
  Identificar os principais teóricos da categoria cotidiano e suas teorias.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar a esfera do cotidiano de uma perspec-
tiva crítica. A ideia é que os tópicos deste capítulo auxiliem você em 
sua atuação como assistente social. Afinal, em seu fazer profissional, 
você vai intervir na esfera do cotidiano. Como você vai ver, esse tema foi 
amplamente explorado por diversos autores de distintas linhas teóricas.
Ao longo do texto, você vai verificar que a esfera do cotidiano pode 
ser considerada alienante, pois representa o espaço de reprodução de 
toda a sociedade. Por isso, é fundamental que os assistentes sociais sejam 
capazes de intervir no cotidiano de forma crítica. A ideia é que busquem 
a essência dos fenômenos e que o seu fazer esteja baseado nos princípios 
do Código de Ética e na lei de regulamentação da profissão.
O trabalho cotidiano do assistente social
É no cotidiano profi ssional que se expressa todo o arcabouço teórico-meto-
dológico, ético-político e técnico-operativo do assistente social. Por meio 
da sua atuação cotidiana, esse profi ssional materializa o seu conhecimento, 
a sua cultura e a sua sociabilidade. É também no cotidiano — na realidade 
objetiva e nas respostas que suas ações imprimem nessa realidade — que os 
profi ssionais enfrentam desafi os e contradições. Você deve refl etir sobre isso 
de maneira crítica, vinculando a sua refl exão a uma atividade criadora ao 
longo de todo o seu percurso.
Não há apenas uma forma de se apropriar dos saberes relacionados ao 
Serviço Social, assim como não há um padrão predeterminado de formação. 
Contudo, existem as diretrizes da Associação Brasileira de Pesquisa e Ensino 
do Serviço Social (ABEPSS). Tais diretrizes pretendem tornar mais homo-
gêneos a formação e os processos de apropriação dos conceitos de Serviço 
Social por parte dos estudantes. Essa tarefa, entretanto, encontra resistências 
em diversos sentidos.
A primeira dessas resistências envolve a seguinte situação: embora exista 
um processo hegemônico crítico no interior da profissão, há também um 
processo conservador e neoconservador no Serviço Social, nas escolas e nas 
faculdades dedicadas a essa área. Assim, não existe apenas uma visão acerca do 
Serviço Social. Embora a compreensão crítica seja hegemônica, a perspectiva 
conservadora vem ganhando cada vez mais espaço. A segunda resistência é 
que há uma diversidade própria do ser humano que insere subjetividade nas 
formas do fazer cotidiano. Por isso, é necessária uma unidade, um código de 
ética que unifique de maneira universal as singularidades.
A reflexão sobre as diferentes formas de atuar no cotidiano é central. Por 
meio da materialização do fazer, se constitui uma perspectiva conservadora 
ou uma perspectiva emancipatória a respeito dos usuários e daqueles aos quais 
o Serviço Social dedica o seu trabalho. As contradições da sociedade ganham 
as suas próprias determinações no Serviço Social. A contradição central do 
trabalho do assistente social vinculado ao Estado, generalizada a partir do 
marco do capitalismo monopolista, é a seguinte: o assistente social tem o papel 
de, por um lado, garantir a exploração da força de trabalho, sua manutenção 
na produção e na reprodução cotidiana; por outro lado, esse profissional deve 
consolidar uma perspectiva emancipatória, de transformação social.
Outro ponto fundamental é a diversidade de campos de atuação. O assistente 
social pode trabalhar nas áreas que envolvem as políticas de seguridade social — 
saúde e previdência social, por exemplo —, bem como nas áreas da educação, do 
judiciário, entre outras. Essa diversidade faz com que a formação dos profissionais 
seja generalista. Dessa forma, ao longo da graduação, a base curricular costuma 
ser homogênea e atentar para todas as áreas de atuação possíveis.
O conhecimento e a atuação do Serviço Social no cotidiano2
Ao mesmo tempo, você deve ter em mente que a atuação profissional não 
se dá de forma descolada ou deslocada da realidade. Ela, na verdade, ocorre 
em interação, o que cria diversos desafios. Segundo Faleiros (2014, p. 708), 
na perspectiva marxista,
[...] a atuação profissional está condicionada profundamente pelas determina-
ções econômicas, articuladas às determinações políticas, sociais e culturais, 
tanto do ponto de vista da demanda como do ponto de vista da provisão dos 
serviços sociais. Não se trata, pois, de uma evolução de formas de bem-estar, 
nem de melhoria do modo de viver pela ação das classes dominantes.
Amplamente empregado pelo Estado, o profissional de Serviço Social e 
o seu trabalho sofrem as inflexões que atingem a formulaçãoe a promoção 
das políticas sociais junto aos trabalhadores e que impactam diretamente a 
consolidação dos seus direitos. Além disso, contratados pelas instituições 
privadas ou do terceiro setor, os assistentes sociais estão sujeitos ao mesmo 
tratamento de inflexão de orçamento que ocorre no âmbito público, sendo 
afetados também pelas relações de trabalho. Faleiros (2014, p. 709) também 
afirma que: 
A prestação de serviços sociais está, assim, condicionada pela legislação, pelo 
orçamento e pela gestão dos serviços num processo de trabalho dependente 
de uma subordinação gerencial, e por relações trabalhistas de um contrato 
salarial, seja em termos de CLT ou de serviço público.
A profissão do assistente social e os saberes com os quais ele embasa a sua ação em 
mediação com o cotidiano estão inscritos em um momento histórico. Portanto, se 
relacionam a determinado momento do desenvolvimento das forças produtivas e a 
certo processo ideológico e cultural. Hoje, a atuação desse profissional está inscrita 
na realidade social do capitalismo em sua fase imperialista. Isso significa dizer que 
é sempre fundamental relacionar o cotidiano profissional com o todo no qual está 
inserido. Sempre de maneira dialética, crítica e criadora.
3O conhecimento e a atuação do Serviço Social no cotidiano
O cotidiano e a sua relação com o Serviço Social
A categoria cotidiano não é absoluta e não se sustenta somente em uma 
perspectiva. Aqui, você vai ver a perspectiva crítica, histórica e materia-
lista do cotidiano, desenvolvida por Lukács e Heller. Essa perspectiva 
busca compreender o cotidiano desde o complexo do ser social, da sua 
constituição.
Segundo Heller (1972), o espaço do cotidiano é aquele no qual as pessoas 
devem responder de maneira imediata e contínua a diversas questões que 
circunscrevem a sua existência. É nesse espaço que se materializa a existência 
singular. Assim, a esfera da vida cotidiana tende a exigir determinada rotina. 
Além disso, envolve o cumprimento de tarefas e diversos processos de vivência 
muito dinamizados pelo imediatismo. Por isso, a autora caracteriza a esfera 
do cotidiano como uma esfera de alienação, de ações que tendem a buscar o 
senso comum, a superficialidade.
Mas o cotidiano não é somente o lugar da alienação ou o lugar onde a 
alienação apresenta-se de forma sistemática. Nele também há a possibilidade 
de se construírem posicionamentos éticos. Ou seja: nesse espaço, os seres 
singulares são colocados em contradição com a realidade cotidiana, podendo 
refletir acerca de suas ações e tomadas de decisão. Para refletir, os seres 
singulares em constante interação necessitam tomar decisões políticas — 
relacionadas a processos sociais e morais e tomadas de posição. Assim, é na 
esfera do cotidiano que os próprios seres singulares se veem em contradição. 
Abre-se então uma possibilidade de reflexão que se vincula às necessidades 
mais coletivas. É dessa forma que os sujeitos podem se conectar ao humano 
universal (BARROCO, 2010).
Até aqui, você viu que o cotidiano é o lugar comum em que o assis-
tente social materializa a sua prática. Mas você sabe como ocorre essa 
prática? Afinal, as ações do profissional, como você viu, estão restritas 
a um cotidiano tomado como espaço alienante. Segundo Netto (2007, p. 
107), citado por Lacerda (2014, p. 23), considere:
A superficialidade e heterogeneidade do cotidiano é solo fértil ao sincretismo 
envolvido na prática do assistente social, “reiterando procedimentos formali-
zados abstratamente e revelando sua in-diferenciação operatória. Combinando 
senso comum, bom-senso e conhecimentos extraídos de contextos teóricos [...]”. 
O conhecimento e a atuação do Serviço Social no cotidiano4
Lacerda (2014, p. 25) ainda aponta o seguinte:
Para Barroco (2003), a sociedade é uma totalidade organizada por várias 
totalidades cuja reprodução pressupõe uma totalidade maior que se efetua 
de formas peculiares, com regularidades próprias. Na análise do cotidiano 
do exercício profissional do assistente social estamos considerando que essa 
é uma totalidade subsumida a outros complexos causais maiores: políticas 
sociais, Estado, crise estrutural do capital, etc. Conforme a sociedade se 
complexifica, essas esferas podem ganhar certa autonomia, o que gera a falsa 
impressão de que elas são independentes; porém isso é apenas a aparência 
que estamos buscando transpor.
É nesse processo contraditório — e precisamente no cotidiano de uma 
sociedade cindida pela luta de classes — que o assistente social deve se inserir. 
É por meio da esfera cotidiana que ele dinamiza o seu trabalho. Um profissional 
da área de saúde, por exemplo, tem de se vincular à esfera do cotidiano para 
atender aos usuários na instituição na qual trabalha. Além disso, há também 
a divisão de local de trabalho. É preciso considerar que o profissional que 
trabalha em uma unidade básica de saúde e o que trabalha em um hospital 
enfrentam desafios diferentes, assim como realidades distintas e cotidianos 
de trabalho díspares.
O assistente social possui autonomia relativa no que diz respeito às suas 
ações profissionais. Ele é resguardado por seu projeto ético-político, pelo 
Código de Ética e pela lei de regulamentação da profissão. Por meio desses 
documentos, o profissional adquire autonomia no que diz respeito às suas 
ações. Além disso, tais documentos garantem uma série de direitos que devem 
ser assegurados, além, é claro, de deveres. Mas todas essas condições que 
resguardam o assistente social, tanto no sentido prático como no político, 
possuem elas mesmas as limitações próprias a uma profissão que contém 
uma contradição fundante.
O Serviço Social, enquanto especialização sociotécnica do trabalho, 
foi criado a partir das necessidades e novas demandas do capital, da so-
ciedade capitalista, em determinado momento de seu desenvolvimento. O 
processo de reconceituação pelo qual a categoria profissional passou nos 
anos 1960 consolidou uma perspectiva de defesa das classes trabalhadoras 
e do povo, o que se coloca em contradição com as razões da criação da 
própria profissão. Isso significa dizer que, no interior do Serviço Social, 
5O conhecimento e a atuação do Serviço Social no cotidiano
há, constantemente, as demandas apresentadas pelo capital. Nesse sentido, 
o profissional deve saber ler, compreender, formar juízo crítico e intervir 
a favor do trabalhador. Além disso, existem as demandas da classe tra-
balhadora, da qual o profissional é parte e pela qual busca desenvolver o 
seu trabalho cotidiano.
As limitações que se apresentam ao profissional em seu fazer cotidiano 
não são de menor importância. Ao contrário: elas compõem a realidade 
cotidiana do fazer profissional. Todos os dias, o assistente social se coloca 
em processos de contradição, deve assumir posicionamentos políticos e 
tomar decisões. Além disso, os assistentes sociais são confrontados pelas 
limitações impostas pelas instituições nas quais atuam, sejam elas de nível 
federal, estadual ou municipal, de âmbito privado ou sem fins lucrativos.
Principais teóricos do cotidiano
Agora, você vai conhecer alguns teóricos que escreveram sobre o cotidiano. É o 
caso de Faleiros (2014), Lacerda (2014) e Mendes e Hallack (2013). Como você 
viu, a perspectiva crítica é amplamente utilizada neste capítulo. Isso acontece 
porque é fundamental que você, enquanto estudante e futuro profi ssional, 
compreenda esse viés. Só assim a sua atuação no cotidiano pode se afastar 
do determinismo e se construir sobre uma base de práxis.
Lacerda (2014) baseia-se na compreensão de Heller (2008) sobre o co-
tidiano. Esta autora destaca a contradição central da sociedade capitalista 
e preocupa-se em mostrar como o espaço do cotidiano articula-se para 
valorizar a aparência no lugar da essência. Além disso, Lacerda (2014) se 
mune da compreensão de Netto (2007). Este autor demonstra que o cotidiano 
é solo fértil para se desenvolverem a perspectiva e a prática do sincretismo 
profissional. Sincretismosignifica a junção de ideias difusas e diversas 
acerca de uma totalidade complexa. Netto (2011) defende que o sincretismo 
é o fio condutor do desenvolvimento do Serviço Social brasileiro e que se 
sustenta até os dias de hoje.
O conhecimento e a atuação do Serviço Social no cotidiano6
No link a seguir, você pode aprender mais sobre o sincretismo no Serviço Social.
https://goo.gl/t1E2Vg
Os posicionamentos de Mendes e Hallack (2013, p. 1) baseiam-se em 
diferentes autores da teoria social crítica. Eles afirmam o seguinte:
Não por outro motivo, o cotidiano foi abordado em ensaios publicados por 
Maria do Carmo Brant Carvalho e José Paulo Netto, em 1987, sob o título 
“Cotidiano: conhecimento e crítica”. Neles, os autores, ambos assistentes 
sociais, identificam os estudos de Henri Lefebvre, Agnes Heller e Karel Kosik 
como os mais representativos da tradição marxista, nas últimas décadas, aptos 
“a configurar [...] os componentes essenciais de uma teoria da vida cotidiana” 
(CARVALHO; NETTO, 2007, p. 65). Kosik (1976) trata da vida cotidiana em 
sua obra “Dialética do concreto”. Heller (2002 e 2008), por sua vez, escreve 
sobre o cotidiano em “O cotidiano e a história” e em “Sociología de la vida 
cotidiana”, desenvolvendo elementos formulados originalmente por Lukács. 
Lefebvre destina quatro títulos ao tema e se ocupa dele durante, no mínimo, 
trinta e cinco anos de sua vida intelectual.
Embora haja especificidades no pensamento de cada autor, há também 
pontos de convergência. Todos os autores entendem que o cotidiano é o espaço 
de reprodução da vida social, de valores, tradições e ideologias. Como você 
viu, o cotidiano está permeado pela produção e pela reprodução de relações 
alienadas e alienantes, posto que as relações de produção são elas mesmas 
relações sociais de produção. Isso significa que a relação alienante estabelecida 
no cotidiano da produção se reproduz também no cotidiano da vida social.
Faleiros (2014) também apresenta uma visão crítica acerca do cotidiano e 
busca estabelecer nexos com autores como Gramsci e Mészáros. Tais autores 
detalham como se dá o processo de alienação do cotidiano e o seu papel na 
manutenção da ordem estabelecida. Ou seja, eles mostram que o próprio ca-
pitalismo utiliza a alienação do cotidiano. Nesse sentido, a forma superficial 
com que o cotidiano se apresenta aos sujeitos dificulta a compreensão da 
essência dos fenômenos que ocorrem no espaço social.
7O conhecimento e a atuação do Serviço Social no cotidiano
O espaço do cotidiano interfere de diversas formas no trabalho do assistente social. 
Os exemplos tornam-se mais claros quando se busca a essência dos acontecimentos 
do cotidiano em contraposição à sua aparência. Exemplo importante é a Cracolândia, 
espaço no Centro de São Paulo onde ocorre consumo de substâncias ilícitas, violência 
e violação de direitos humanos. Esse espaço abriga uma população em situação de 
rua e diversas outras expressões da Questão Social.
No cotidiano, esse local se mostra na sua aparência. Ou seja, ele pode ser tomado 
como um lugar violento, sujo, onde vivem pessoas que não estão buscando melhores 
alternativas para a sua vida. No entanto, um olhar aprofundado, que se preocupa com 
a essência e foge da armadilha da alienação imposta pelo cotidiano, demonstra que 
as pessoas que vivem e convivem nesse espaço muitas vezes percorreram um longo 
percurso de exclusão social, perda de direitos básicos e violações por parte do Estado, 
que deveria garantir-lhes condições humanas de existência.
BARROCO, S. L. Maria ética e Serviço Social: fundamentos ontológicos. São Paulo: Cortez, 
2010. 
FALEIROS, V. O Serviço Social no cotidiano: fios e desafios. Serviço Social & Sociedade, 
n. 120, out./dez. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n120/07.pdf>. 
Acesso em: 25 set. 2018.
HELLER, A. O cotidiano e a história. São Paulo: Paz e Terra, 1972.
LACERDA, L. E. P. Exercício profissional do assistente social: da imediaticidade às possi-
bilidades históricas. Serviço Social & Sociedade, n. 117, p. 22-44, jan./mar. 2014. Disponível 
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-66282014000100003&script=sci_
abstract&tlng=pt>. Acesso em: 25 set. 2018.
MENDES, C.; HALLACK, M. Cotidiano: produção social da existência humana. Revista 
Conexão Geraes, n. 3, 2013. Disponível em: <http://cress-mg.org.br/publicacoes/Home/
PDF/50>. Acesso em: 25 set. 2018.
NETTO, P. J. Capitalismo monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2011.
Leitura recomendada
PEREZ, D. Davi Machado Perez: sincretismo profissional, ecletismo e pluralismo. You-
Tube, maio, 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3QIBwqD2byI>. 
Acesso em: 25 set. 2018.
O conhecimento e a atuação do Serviço Social no cotidiano8
Conteúdo:
ESTRATÉGIAS E 
TÉCNICAS DE 
SERVIÇO SOCIAL I
Camila Muniz 
Assumpção
Relação profissional com 
usuários do Serviço Social
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar no código de ética profissional e na lei de regulamenta-
ção da profissão a relação estabelecida entre o assistente social e os 
usuários do Serviço Social.
  Descrever o processo de construção da relação entre assistente social 
e usuário no desenvolvimento da profissão no Brasil.
  Analisar os avanços e os entraves na garantia de direitos dos usuários 
dos serviços sociais pelos profissionais.
Introdução
Neste capítulo, você vai entender a relação profissional com usuários 
do Serviço Social, definida pela lei que regulamenta a profissão e pelo 
código de ética que define os parâmetros do seu exercício. No decorrer 
do texto, você também vai verificar pontos importantes da história do 
Serviço Social, bem como os avanços e os entraves a que estão sujeitos 
os profissionais para garantir os direitos dos usuários dos serviços sociais.
A relação entre o assistente social e os usuários 
do serviço
O Serviço Social surgiu no Brasil na década de 1930. Nesse período, ocorreram 
mudanças signifi cativas no processo de industrialização e urbanização, e, nesse 
contexto, fi caram claras as contradições e os diferentes interesses das classes 
sociais do país. A questão social e suas múltiplas expressões interferiram na 
sociedade como um todo. Entende-se por questão social, conforme apontam 
Iamamoto e Carvalho (1983, p. 77), “[...] o conjunto das expressões do processo 
de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário 
político da sociedade”.
Nesse período, o Estado buscava medidas sociais que pudessem conter 
os exageros do capitalismo, com o apoio do projeto conservador da Igreja 
Católica. O Serviço Social era uma aliança entre Estado e Igreja que tinha 
como objetivo amenizar as contradições da relação entre capital e trabalho. A 
formação profissional era de responsabilidade da Igreja. O projeto profissional 
compreendia a questão social como uma desordem social, que deveria ser 
enfrentada a partir de uma educação moral, por meio de forças coercitivas, 
conforme leciona Araldi (2007). Prevaleciam, assim, os valores cristãos.
Dessa maneira, os primeiros Códigos de Ética, em especial os de 1947, 
1965 e 1975, expressavam o primeiro momento de defesa do projeto socie-
tário, conservador e tradicional. Eles visualizavam a relação dos problemas 
sociais com a decadência moral dos indivíduos e tinham uma perspectiva de 
neutralidade em relação ao Estado e às autoridades.
Na década de 1960, a América Latina vivenciou uma tomada de consciência 
crítica e política dos assistentes sociais, que questionavam o seu papel na 
sociedade. No caso do Brasil, isso ocorreu em meio à Ditadura Militar, que 
se instalou em 1964. Na transição da década de 1980 para a década de 1990, 
pode-se destacar mudanças significativas nas esferas políticas, sociais e eco-
nômicas no Brasil, com a conquista da democracia e a organização política 
dos trabalhadores. Isso influenciou diretamente a profissão, dando origem ao 
Código de Ética de 1986,

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