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O Papel da Contabilidade na Sociedade - Aspectos Históricos Núcleo de Educação a Distância www.unigranrio.com.br Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ Reitor Arody Cordeiro Herdy Pró-Reitoria de Programas de Pós-Graduação Nara Pires Pró-Reitoria de Programas de Graduação Lívia Maria Figueiredo Lacerda Produção: Gerência de Desenho Educacional - NEAD Desenvolvimento do material: Nathália Helena Fernandes Laffin 1ª Edição Copyright © 2020, Unigranrio Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio. Pró-Reitoria Administrativa e Comunitária Carlos de Oliveira Varella Núcleo de Educação a Distância (NEAD) Márcia Loch Sumário O Papel da Contabilidade na Sociedade - Aspectos Históricos Para Início de Conversa… ................................................................. 04 Objetivo .......................................................................................... 05 1. Escolas ou Doutrinas na História da Contabilidade: Aplicação na Prática Contábil ................................................................... 06 2. Evolução Histórica da Contabilidade: Aplicação na Prática Contábil ............................................................................. 12 3. Principais Aspectos das Pesquisas Normativa e Positiva em Contabilidade: Positivismo versus Normativismo – Aplicação na Prática Contábil ................................................................... 16 Referências ....................................................................................... 21 Para Início de Conversa… A história da Contabilidade faz parte do percurso do desenvolvimento do mundo. De certa maneira, a Contabilidade conta um pouco da história da sociedade a partir dos registros deixados, de diferentes formas, ao longo do tempo. Dessa forma, não é possível apurar, com precisão, quando começou a trajetória da Contabilidade. No entanto, há uma linha do tempo que apresenta uma composição da história da Contabilidade e o seu papel na sociedade. Vista como ciência, no entanto, a Contabilidade possui duas correntes principais do pensamento científico: a escola europeia, bem representada pelas correntes italianas, e a norte-americana. Dentre as principais escolas europeias, destacam-se o contismo, o personalismo, o controlismo e o patrimonialismo. Essa última ponderou o que conhecemos até hoje: o patrimônio como objeto de estudo da Contabilidade. No entanto, é a escola norte-americana que direciona majoritariamente os estudos e práticas contábeis atuais: a Ciência Contábil fornece subsídios para a tomada de decisão a partir das informações que gera. A Teoria da Contabilidade não é apenas um nome de disciplina, mas um conjunto de dados, conceitos e teorias que explica a realidade dos fenômenos contábeis a partir de concepções e teorizações. O dinamismo da sociedade não permite que se pondere apenas uma teoria e, portanto, é importante conhecer e compreender a teoria normativa, que se apoia no dedutivismo, e a teoria positivista, a qual descreve como a Contabilidade é a partir de observações e exatidões. A partir de agora, vamos compreender e discutir esses conceitos que se apresentam como base para o entendimento da Ciência e da Teoria Contábil. Vamos lá? 4 Teorias da Contabilidade Objetivo Compreender o papel da Contabilidade na sociedade e seus aspectos históricos 5Teorias da Contabilidade 1. Escolas ou Doutrinas na História da Contabilidade: Aplicação na Prática Contábil A história da Contabilidade perpassou diferentes períodos durante o decorrer da sociedade. O período científico compreende um dos diferentes períodos que serão estudados no tópico a seguir. Nele, foram discutidas e desenvolvidas as correntes do pensamento contábil. Para que se possa contextualizar essas escolas, vamos destacar, primeiramente, alguns filósofos e pensadores que foram responsáveis pelas discussões científicas que envolvem o campo da ciência contábil. Nos séculos XVIII e XIX, o filósofo Auguste Comte criava, na França, a Sociologia e o Positivismo. Essas criações foram relevantes para as discussões acerca do pensamento contábil. O positivismo busca explicar a realidade a partir da observação dos fenômenos e de sua comprovação científica. O período científico foi uma consequência das práticas contábeis e também das ideias discutidas nas aulas de comércio da corte, na Itália. Alguns nomes tiveram destaque, dentre os quais citamos: Luca Pacioli, Francesco Villa, Fábio Bésta e Vicenzo Mazi. Todo estudante de Ciências Contábeis já ouviu falar em Luca Pacioli. Ele foi um frei matemático italiano que viveu no século XV, pioneiro na publicação do método das partidas dobradas – que vigora na prática contábil até a atualidade. Você, estudante de Teoria da Contabilidade, já deve estar acostumado com esses conceitos, mas é bom relembrar: O método das partidas dobradas consiste no registro equilibrado de débitos e créditos sob o pressuposto de que para cada débito, há um crédito de igual valor. O matemático apontou duas terminologias, “per” e “a”. “Per” refere-se à pessoa devedora, enquanto “a” diz respeito ao credor. Luca Pacioli sugeriu, ainda, que o primeiro item a ser registrado seriam os débitos, seguidos, então, dos créditos. 6 Teorias da Contabilidade Nesse pensamento de partidas dobradas, destacam-se, também, as quatro formas de lançamentos contábeis: um débito para um crédito; um débito para dois ou mais créditos; dois ou mais débitos para um crédito; dois ou mais débitos para dois ou mais créditos. Figura 1: Luca Pacioli e as partidas dobradas. Fonte: Wikimedia. As partidas dobradas são um marco importante no cenário pré-científico. Por seu feito, Luca Pacioli é conhecido como o pai da Contabilidade. Destacamos que as partidas dobradas não foram criadas por Pacioli, mas ele foi o primeiro pensador a publicar esse conteúdo e, por isso, tal método é a ele atribuído (IUDÍCIBUS, 2015). Francesco Villa, contador italiano, publicou a obra La Contabilità Applicatta alle Administrazioni Private e Plubbliche, discorrendo sobre a Contabilidade aplicada às administrações privada e pública. Ele foi um dos responsáveis pela profissão contábil quando pontuou que, para ser um contador, era necessário conhecer os aspectos inerentes da Contabilidade: leis, detalhes, natureza do fenômeno. Isto é, era necessário compreender o patrimônio das entidades. A partir disso, nasceu o pensamento patrimonialista que marcou início do pensamento científico. 7Teorias da Contabilidade Fábio Bésta, por sua vez, compreendeu as contas como elementos fundamentais da Contabilidade, e Vicenzo Mazi, seu aluno, definiu, em 1923, o patrimônio como objeto de estudo da Contabilidade. A partir das ponderações de Luca Pacioli, a ciência contábil se desenvolveu. Sob a percepção das escolas contábeis, existem várias e diferentes correntes doutrinárias da Contabilidade. Diante das ideias gerais, resume-se o pensamento científico em duas análises principais: escola europeia e escola norte-americana. A partir de agora, vamos saber mais sobre cada uma delas, entendendo como essas duas vertentes se tornaram expoentes na cientificidade contábil. Escola Norte-Americana PENSAMENTO CIENT FICO CONTÁBIL Escola Europeia Figura 2: Escolas do pensamento científico. Fonte: Elaborado pela autora. A escola europeia reúne os pensadores europeus (em grande maioria italianos) que auxiliaram no desenvolvimento e avanços da Contabilidade como ciência. Dentre as correntes europeias, as que mais impactaram a evolução do pensamento contábil foram: ▪ Contismo. ▪ Personalismo. ▪ Controlismo. ▪ Patrimonialismo. 8 Teorias da Contabilidade Vamos saber mais sobre cada uma delas e ver como elas se ligam ao contexto histórico anteriormente apresentado.Contismo A escola contista marcou o século XV, destacando-se como a primeira escola do pensamento contábil. Surgiu em decorrência do desenvolvimento da sociedade e da necessidade de separação entre entidade e proprietário, sendo que, nessa escola, a Contabilidade era a ciência das contas e da escrituração. Dois nomes se destacam como maiores representantes: Jacques Savary e Edmundo Degranges, com maior destaque para o segundo. Degranges apresentou a Teoria das Cinco Contas: mercadoria, dinheiro, efeito a receber, efeito a pagar e lucros e perdas. Essas contas foram criadas para registrar uma dívida a receber ou uma dívida a pagar – coincidindo com as partidas dobradas e a ideia de débito e crédito. Personalismo O personalismo foi desenvolvido na mesma época do contismo para explicar as relações desenvolvidas entre a entidade e as pessoas com as quais ela estabelecia transações. Ela surgiu na Toscana e pressupôs o patrimônio como um conjunto de direitos e também de obrigações, dando personificação às contas. A partir dessa escola, são explicadas as relações de direitos e obrigações. Os pensadores responsáveis pelas discussões personalistas foram Francesco Marchi e Giuseppe Cerboni. Embora Marchi tenha idealizado o pensamento, Cerboni foi quem desenvolveu a teoria. A partir da ideia de Cerboni, o personalismo imputa à Contabilidade uma ciência que estuda as variações de riqueza da azienda como uma administradora aziendal. Azienda deriva do italiano “empresa”. Uma azienda é toda e qualquer entidade organizada que possui patrimônio. Curiosidade 9Teorias da Contabilidade Os ganhos decorrentes dessa escola consistem na percepção da contabilidade como um instrumento de informação sobre as entidades, deixando de ser percebida apenas como uma técnica de registro das oscilações e alterações do patrimônio. Controlismo O controlismo, também conhecido como Escola de Veneza, foi idealizado por Fábio Bésta e seu complemento às ideias da escola personalista reside no fato de não observar apenas as obrigações e direitos, visto que o controlismo determina que o patrimônio representa a soma econômica dos valores positivos e negativos – hoje percebidos como ativo e passivo. Bésta conceituou a Contabilidade como ciência econômica que observa duas fases diferentes da administração: a fase de gestão econômica e a de direção e controle. Portanto, no controlismo, a Contabilidade buscava, a partir da escrituração, controlar economicamente as entidades. As relações de formação de custos traziam o controle e gestão. No controlismo, passou-se a utilizar o ano civil como o período dos registros, isto é, o ano civil passou a ser o exercício social das empresas. Além disso, outros ganhos dessa escola são aplicáveis e presentes até o momento. A Contabilidade científica é vista como Contabilidade geral ao se apresentar como uma ciência única com conceitos aplicáveis a diferentes segmentos; e Contabilidade aplicada, que é direcionada a diferentes atividades, como industrial, bancária, comercial etc. Patrimonialismo O patrimonialismo nasce da ideia de Vicenzo Mazi de perceber o patrimônio como objeto de estudo da Contabilidade. A partir da escola patrimonialista, a Contabilidade é a ciência que estuda o patrimônio das entidades. Essa é a mais poderosa das correntes de pensamento contábil, identificando a relação da Contabilidade com outras ciências (como a economia e a administração) e como ciência com objeto e finalidade próprios: um patrimônio a ser estudado e controlado. 10 Teorias da Contabilidade Os ganhos da escola patrimonialista consistem na concepção da Contabilidade como ciência que observa leis, postulados e princípios próprios, capaz de perceber, também, os fenômenos patrimoniais como fenômenos contábeis a serem registrados. As críticas às escolas europeias – italianas, principalmente – são baseadas no entendimento de que seu foco é demasiadamente teórico, com discussões idealistas: muita teoria, mas pouco aprofundamento na prática. Essas escolas viam o patrimônio como elemento básico e único para a Contabilidade e, por isso, caíram em desuso. Agora que você conheceu as escolas italianas de Contabilidade, vamos conhecer a escola americana (ou norte-americana)? A escola norte-americana é mais recente, nascendo no começo do século XX em decorrência do desenvolvimento das grandes corporações. Os principais pensadores dessa vertente foram Charles Sprague, Henry Hatfield, William Paton, Ananias Littleton, Maurice Moonitz, Kenneth Most e Kenneth Forsythe MacNeal. Sua contextualização, portanto, envolve um cenário de desenvolvimento de mercado de capitais e expansão do comércio e indústria. As figuras do acionista e do investidor forçaram e estimularam as discussões entre a bolsa de valores de Nova Iorque e o AICPA – American Institute of Certified Public Accountants, que é o Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados. A escola norte-americana é a mais predominante na atualidade. Apesar de a escola italiana ter tido grandes influências no Brasil durante o início do funcionamento das instituições superiores, atualmente a escola norte-americana representa a doutrina seguida por aqui. Vamos entender o porquê? Com as figuras dos acionistas e investidores, a escola norte-americana se baseia nos relatórios contábeis para estudar os registros e lançamentos contábeis. Assim, foram estabelecidos padrões nos procedimentos visando à confiabilidade apresentada pelas demonstrações contábeis. Na Escola Norte-americana, a Contabilidade é uma ciência que fornece informações de qualidade a seus usuários. 11Teorias da Contabilidade Nessa percepção, a Ciência Contábil é vista como uma ciência que gera dados sobre o patrimônio. Mais do que isso, os ganhos residem nas ideias de informação contábil com qualidade, auxiliando na tomada de decisão. Você aprendeu, até agora, quais foram as escolas e doutrinas que contribuíram para o desenvolvimento da Contabilidade como ciência: a escola europeia, aqui representada pelo contismo, personalismo, controlismo e patrimonialismo; e a escola norte-americana, vertente utilizada e seguida nas estruturas conceituais e práticas da Contabilidade brasileira. A partir de agora, você vai estudar a evolução histórica da Contabilidade. 2. Evolução Histórica da Contabilidade: Aplicação na Prática Contábil A Contabilidade vai muito além do ato de lançar elementos ativos e passivos; é a língua das finanças, a tradução das complexidades financeiras em uma linguagem padronizada, acessível e de fácil interpretação para aqueles que a visualizam. Embora em essência o objeto de estudo e os métodos básicos mantenha certa similaridade ao longo de centenas de anos, a complexidade dos dados vem aumentando com o passar do tempo, o que implica em maiores padronizações e evolução da Ciência Contábil. O Início da Contabilidade Os primeiros registros de Contabilidade surgiram há milhares de anos, em diferentes partes do mundo, simultaneamente, de maneira que se misturam ao início da civilização. Alguns dos primeiros registros surgem da Mesopotâmia, onde eram catalogados os produtos comercializados, para controle dos bens comprados e vendidos. 12 Teorias da Contabilidade De fato, é creditado ao comércio a demanda por registros das transações e consequentemente, o surgimento da Contabilidade, muito embora não se restringissem a ele (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). Os egípcios e babilônios utilizavam a Contabilidade nos registros de animais e da agricultura. Era necessário, a partir do início da propriedade privada, em contraposição à coletividade, determinar as divisões e bens de cada agente econômico. Há registros, inclusive, da utilização de registros contábeis, ainda que rudimentares, pelos babilônios voltados à cobrança e ao controle de impostos. É natural imaginar que, à medida que a evolução civilizatória se acentuava, maior era a necessidade de controle das informações e, porconsequência, do próprio estudo da Contabilidade. Destacavam-se o comércio e as necessidades de registros das atividades; a agricultura superava a caça e, com isso, além de impulsionar o comércio, era necessário organizar os registros das sementes, da produção alcançada, do valor arrecadado e da divisão entre trabalhadores e proprietários. A produção formava pessoas ricas, com posses, que precisavam ser organizados, seja para controle próprio, seja para organizar quando da ausência (morte) do proprietário. A potencialização da agricultura e do comércio gerava uma necessidade de melhor organização das cidades, o que exigia uma complexa estrutura de arrecadação tributária e controle dos dispêndios feitos pelo administrador público. Lado a lado com o progresso humano, andavam novas formas de contabilidade mais precisas e padronizadas. Para você compreender a evolução histórica da Contabilidade, vamos dividir o tempo em quatro principais períodos: ▪ Início da civilização até o ano de 1202 – Contabilidade do Mundo Antigo. ▪ De 1202 até 1494 – Contabilidade do Mundo Medieval. ▪ De 1494 até 1840 – Contabilidade do Mundo Moderno. ▪ De 1840 até os dias de hoje – Contabilidade do Mundo Científico. 13Teorias da Contabilidade Contabilidade do Mundo Antigo: Início da Civilização até o Ano de 1202 No ano de 1202 foi publicado o livro de Leonardo Pisano, Líber Abaci. Até então, os registros eram feitos ainda de maneira muito rudimentar, servindo basicamente às necessidades pessoais de controle de animais, agricultura e comércio. Tal prática era utilizada com o uso de pedras para contagem, fichas de barro, e outros métodos que variavam de lugar para lugar. Existia a Contabilidade, mas de maneira muito arcaica e com pouca padronização. Contabilidade do Mundo Medieval: de 1202 até 1494 Conhecido como período Medieval, vai até o ano de 1494, com a publicação do método das partidas dobradas, do Frei Luca Pacioli. A obra inseriu de vez a Contabilidade entre os ramos de conhecimento humano, utilizando os conceitos de débito e crédito e respectivos números negativos e positivos. Como você já sabe, parte desses conceitos são utilizados até hoje na Contabilidade. Contabilidade do Mundo Moderno: de 1494 até 1840 Entre 1494 e 1840 houve um período de grandes transformações na civilização com as grandes navegações, descobrimento da América e intensificação das rotas comerciais longas. Nesse contexto de grandes movimentações de pessoas e de recursos, a Contabilidade se intensificou. Aqui, destaca-se, novamente, a importância de Frei Luca Pacioli, Fábio Bésta e de outros pensadores da escola europeia de Contabilidade. Contabilidade do Mundo Científico: de 1840 até os dias de hoje A Contabilidade do Mundo Científico é caracterizada pela intensificação das discussões científicas sobre a Ciência Contábil, com diversas escolas e vertentes contribuindo, individualmente, com sua visão para essa área. 14 Teorias da Contabilidade As escolas europeias e norte-americanas marcaram esse período. Até os dias de hoje, busca-se, cada vez mais, desenvolver e aprimorar a Contabilidade como uma ciência capaz de fornecer informações úteis a seus diferentes usuários, em diversos lugares do mundo. Além da informação de qualidade, com o desenvolvimento das tecnologias a Contabilidade tem se desenvolvido de forma a comportar e atender às demandas informacionais de maneira rápida e tempestiva. A Evolução da Contabilidade no Brasil A Contabilidade no Brasil se inicia de maneira bastante rudimentar ainda com os povos indígenas a partir do registro dos recursos oriundos da caça, pesca, coleta, entre outras atividades. Entretanto, as coisas se intensificam com a chegada dos portugueses ao Brasil ao estabelecerem, de maneira ainda arcaica, os controles de terras, saídas de recursos da colônia para Portugal e registros comerciais mais simples. Somente no século XVIII foi criada a regulamentação profissional do contador – “guarda-livros” à época. A regulamentação veio de Portugal, do rei Dom José, que exigia, obrigatoriamente, o registro daqueles profissionais da área. Com a vinda da família real para o Brasil, em 1808, aumenta-se o aparato administrativo da colônia com o incremento dos gastos públicos, a criação do Tesouro Nacional e do Banco do Brasil. Todas as Tesourarias de Fazenda das províncias eram compostas por um contador. Já em 1809, surgem as primeiras escolas de Contabilidade no país. Em 1870, a primeira legislação, feita dentro do território nacional por meio de um decreto imperial, caracteriza o profissional de Contabilidade, ainda guarda-livros, como a primeira profissão liberal regulamentada no Brasil. No contexto das universidades, a Escola de Comércio Álvares Penteado (hoje Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP) foi a primeira escola de Contabilidade no Brasil, inaugurada no ano de 1902. Atualmente, em nosso país, de acordo com o Ranking Universitário da Folha (2018), existem quase 1.000 instituições (públicas e privadas) de ensino superior com o curso de Ciências Contábeis. 15Teorias da Contabilidade Hoje, a profissão de contador no Brasil não se restringe ao âmbito fiscal, inserido em um mercado de economia complexa, na qual é vital o acesso às informações públicas e privadas. A profissão de contador abrange diferentes áreas, como Auditoria, Controladoria e Atuarial. Com o passar dos anos, a Contabilidade brasileira vem se adaptando à realidade externa, em um ambiente cada vez mais globalizado, integrado e com métodos contábeis padronizados. Até aqui, você estudou as doutrinas e teorias que embasaram a Ciência Contábil, percebendo como elas observaram o desenvolvimento da sociedade para evoluir o pensamento contábil. Assim, pudemos perceber, a partir da cronologia da história da Contabilidade, que essa ciência evoluiu simultaneamente à evolução da sociedade. A partir de agora, vamos estudar os principais aspectos das pesquisas na área da Contabilidade, conhecendo o que são as pesquisas normativas e as pesquisas positivas, compreendendo sua relação com a disciplina Teoria da Contabilidade. 3. Principais Aspectos das Pesquisas Normativa e Positiva em Contabilidade: Positivismo versus Normativismo – Aplicação na Prática Contábil Para compreender o que são pesquisas normativas e positivas e quais são os principais aspectos dessas pesquisas em Contabilidade, vamos contextualizar o cenário de pesquisas contábeis. Primeiramente, é importante pontuar que o Brasil foi inicialmente influenciado significativamente pela escola italiana, ainda que atualmente a escola norte-americana delimite grande parte das diretrizes mundiais – e brasileiras. No Brasil, esse processo se deu, principalmente, pelas firmas de auditoria com origem anglo-americana. Elas exerceram forte influência sobre as escolas de Contabilidade no Brasil. 16 Teorias da Contabilidade No que diz respeito ao desenvolvimento da ciência, em 1946 a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) teve o primeiro núcleo de pesquisa no Brasil com base nos moldes norte-americanos. Ainda no âmbito brasileiro, a legislação societária e a legislação fiscal são elementos que fazem parte das discussões contábeis. É notório que existe uma confusão entre critérios técnicos contábeis e fiscais. Nesse sentido, a Contabilidade é vista como um meio para suprir às demandas fiscais e legais quando, na verdade, ela oferece boas técnicas fundamentais para a continuidade das entidades. Para Iudícibus (2015), essa situação advém da falta de discussão sobre os princípios contábeis e das boas técnicas de contabilidade. Se a ideia é produzir e avançar na Ciência Contábil, é necessário pesquisar. A partir da pesquisa, o conhecimento é produzido, fundamentado, discutido e disseminado, pois torna-se possível criar e testar hipóteses, ter ideias e argumentá-las. Desse modo, são criadas as teorias. Esse conhecimento criado pela pesquisaauxilia e/ou interfere nas práticas sociais da vida em sociedade. Na Contabilidade, as discussões teóricas são embasadas em postulados, princípios e normas. Os postulados constituem-se como os pilares da Ciência Contábil e se baseiam na Entidade e na Continuidade. A entidade prevê que o patrimônio dos sócios não será misturado ou confundido com o patrimônio da empresa. A Continuidade, por sua vez, determina que as operações da empresa e seus registros serão realizados sob o pressuposto de que a entidade continuará suas operações no futuro. Os princípios, por sua vez, constituem-se como elementos básicos que devem ser observados nas práticas contábeis. Antigamente, havia uma Resolução do Conselho Federal de Contabilidade (a Resolução nº. 750/1993) que apresentava os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Essa resolução não está mais em vigor, mas os princípios continuam intrínsecos nas diferentes normas e pronunciamentos contábeis. Os princípios contábeis que estão alinhados às normas internacionais e normas brasileiras de contabilidade são: Entidade, Continuidade, Competência, Registro pelo Valor Original e Oportunidade. 17Teorias da Contabilidade Veja, na Figura 3, as características de cada um desses princípios. Não se misturam os bens da empresa com os bens dos sócios. Os registros e demonstrações da empresa são elaborados a partir do pressuposto de que a empresa continuará operando no futuro. Os elementos patrimoniais e de resultado serão registrados por seu valor original. As informações serão produzidas de forma tempestiva. Os fatos devem ser registrados quando ocorrem, independentemente de seu recebimento ou pagamento. Entidade Competência Registro pelo valor original Continuidade Oportunidade Figura 3: Princípios contábeis. Fonte: Elaborado pela autora. Por fim, as normas representam as diretrizes que devem ser observadas por todos. Elas validam e qualificam os princípios e os postulados. Esses três itens (postulados, princípios e normas) precisam conversar entre si de forma científica, a fim de explicar as relações de causa e efeito desses fenômenos (IUDÍCIBUS, 2015). A partir dessa ideia, tem-se a concepção de que a Teoria Contábil é a interpretação que reflete a realidade natural dos fenômenos contábeis de forma racional por meio da pesquisa, utilizando, para isso, instrumentos metodológicos. Nesse sentido, ela oferece uma compreensão melhor para os contadores, administradores, investidores e estudantes das práticas que existem. Oferece, também, um referencial conceitual para a avaliação de práticas contábeis existentes, o que possibilita e orienta o desenvolvimento de novas práticas e procedimentos. 18 Teorias da Contabilidade Portanto, a concepção prática demanda um referencial conceitual que, por si só, apresenta uma relação entre teoria e prática. A partir disso, percebe-se o dinamismo da sociedade e a importância das teorias. Com base nisso, a Teoria da Contabilidade se baseia em duas perspectivas: ▪ Teoria Normativa. ▪ Teoria Positiva. Teoria Normativa A Teoria Normativa busca prescrever algo. Assim, ela faz uso do dedutivismo para demonstrar como a Contabilidade deveria ser a partir de seus objetivos e postulados. Um exemplo de elemento que observa a Teoria Normativa na Contabilidade é o Pronunciamento Técnico 00 – Estrutura Conceitual da Contabilidade, emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis. É um documento que estabelece a estrutura que compreende o modo como a Contabilidade deve ser aplicada no cenário brasileiro. Como esse tipo de teoria se apoia na dedução, um de seus aspectos negativos é a necessidade de um longo período de tempo e experimentação para confirmar se aquilo que foi prescrito deu ou não certo nas práticas contábeis, isto é, se a teoria desenvolvida é aplicável nas rotinas das empresas. Teoria Positiva A Teoria Positiva, por sua vez, procura descrever como a Contabilidade é, entendendo por qual razão ela se constitui como tal e prevendo comportamentos. Desse modo, essa perspectiva se preocupa em explicar a utilização dos elementos e de escolhas contábeis a partir das informações apresentadas nas demonstrações contábeis. Nesse tipo de teoria, não é a dedução que gera o conhecimento, mas sim a hipótese de pesquisa, que é testada de forma científica. Como exemplo pode-se considerar uma pesquisa que busque verificar o comportamento de algum agente econômico (por exemplo, o fisco) diante das informações 19Teorias da Contabilidade contábeis publicadas por empresas do ramo de energia elétrica. Deve-se estabelecer uma ou mais hipóteses, que serão testadas e verificadas a fim de responder a um questionamento. Na área contábil, grande parte das pesquisas são positivistas. No entanto, diante de uma gama extensa de pesquisas, acaba-se encontrando, também, dificuldades em estabelecer um elo entre as várias pesquisas e testes de hipóteses, no sentido de evoluir a ciência contábil. Destaca-se, contudo, que é uma dificuldade, não uma impossibilidade. Esse capítulo se dedicou à apresentação dos conceitos básicos para a compreensão da Contabilidade como uma ciência que decorre de Teorias, a qual gera, também, teorias que observam e acompanham as mudanças da sociedade. Por isso, é possível dizer que a Ciência Contábil é uma ciência dinâmica. No entanto, é uma ciência que possui uma história, como você pôde estudar. É difícil delimitar, com fidedignidade, o momento em que a Contabilidade surgiu, mas houve um período no qual ela começou a ser percebida na sociedade. A Ciência Contábil acompanhou esse desenvolvimento e, a partir de diferentes escolas e doutrinas (e pesquisas normativas e positivas), estabeleceu-se como o conceito que obtemos hoje: a Contabilidade é uma ciência social que possui o patrimônio como seu objeto de estudo, de forma que seu objetivo consiste em fornecer informações úteis a seus usuários. Essa definição revela as influências de toda a história contábil naquilo que compreendemos como Contabilidade na atualidade. O conceito decorrente da teoria patrimonialista, o método das partidas dobradas, divulgado por Luca Pacioli, e a qualidade da informação trazida pela escola norte- americana são exemplos disso. Esperamos que você tenha aproveitado. Até a próxima! 20 Teorias da Contabilidade Referências CPC. Pronunciamento técnico 00 - estrutura conceitual da contabilidade. Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/ Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=80. Acesso em: 21 nov. 2019. HENDRIKSEN, E.S.; BREDA, M.F. V. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999. IUDÍCIBUS, S. Teoria da contabilidade. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2015. PORTAL DA CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 750 de 29 de dezembro de 1993. Disponível em: http://www.portaldecontabilidade.com. br/nbc/res750.htm. Acesso em: 21 nov. 2019. 21Teorias da Contabilidade http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=80 http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=80 http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/res750.htm http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/res750.htm Título da Unidade Objetivos Introdução O Papel da Contabilidade na Sociedade - Aspectos Históricos Para Início de Conversa… Objetivo 1. Escolas ou Doutrinas na História da Contabilidade: Aplicação na Prática Contábil 2. Evolução Histórica da Contabilidade: Aplicação na Prática Contábil 3. Principais Aspectos das Pesquisas Normativa e Positiva em Contabilidade: Positivismo versus Normativismo – Aplicação na Prática Contábil Referências
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