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Sérgio Weber GESTÃO FINANCEIRA Contabilidade e Sérgio Albino VitóriA Weber CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA 2ª edição Julho | 2019 Universidade La Salle Canoas | Av. Victor Barreto, 2288 | Canoas - RS CEP: 92010-000 | 0800 541 8500 | ead@unilasalle.edu.br W376c Weber, Sérgio Albino Vitória. Contabilidade e gestão financeira / Sérgio Weber. – Canoas, RS : Universidade La Salle EAD, 2019 150 p. : il. ; 30 cm. – (Gestão e negócios) Bibliografia. 1. Contabilidade. 2. Contabilidade financeira. 3. Gestão financeira. I. Título. II. Série. CDU: 657.41/.45 Bibliotecário Samarone Guedes Silveira - CRB 10/1418 Gestão Universidade Gestão EaD Reitor Vice-Reitor, Pró-Reitor de Pós-grad., Pesq. e Extensão e Pró-Reitor de Graduação Pró-Reitor de Administração Diretora de Graduação Diretor de Extensão e Pós-Graduação Lato Sensu Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu Diretor Administrativo Diretor de Marketing e Relacionamento Procuradora Jurídica Assessor de Assuntos Interinstitucionais e Internacionais Assessor de Inovação e Empreendedorismo Chefe de Gabinete Prof. Dr. Paulo Fossatti - Fsc Prof. Dr. Cledes Casagrande - Fsc Vitor Benites Profª. Dr.ª Cristiele Magalhães Ribeiro Prof. Me. Márcio Leandro Michel Profª. Dr.ª Patricia Kayser Vargas Mangan Patrick Ilan Schenkel Cantanhede Cleiton Bierhals Decker Michele Wesp Cardoso Prof. Dr. José Alberto Miranda Prof. Dr. Jefferson Marlon Monticelli Prof. Dr. Renaldo Vieira de Souza Coordenadora Pedagógica Coordenador de Produção Profa. Me. Michele de Matos Kreme Prof. Dr. Jonas Rodrigues Saraiva Equipe de Produção EaD Anderson Cordova Nunes Arthur Menezes de Jesus Bruno Giordani Faccio Daniele Balbinot Érika Konrath Toldo Fabio Adriano Teixeira dos Santos Gabriel Esteves de Castro Gabriel da Silva Sobrosa Guilherme P. Rovadoschi Ingrid Rais da Silva João Henrique Mattos dos Santos Jorge Fabiano Mendez Nathália N. dos Santos Patrícia Menna Barreto Tiago Konrath Araujo Prezado estudante, A equipe de gestão da EaD LaSalle sente-se honrada em entregar a você este material didático. Ele foi produzido com muito cuidado para que cada unidade de estudos possa contribuir com seu aprendizado da maneira mais adequada possível à modalidade que você escolheu para estudar: a modalidade a distância. Temos certeza de que o conteúdo apresentado será uma excelente base para o seu conhecimento e para sua formação. Por isso, indicamos que, conforme as orientações de seus professores e tutores, você reserve tempo semanalmente para realizar a leitura detalhada dos textos deste livro, buscando sempre realizar as atividades com esmero a fim de alcançar o melhor resultado possível em seus estudos. Destacamos também a importância de questionar, de participar de todas as atividades propostas no ambiente virtual e de buscar, para além de todo o conteúdo aqui disponibilizado, o conhecimento relacionado a esta disciplina que está disponível por meio de outras bibliografias e por meio da navegação online. Desejamos a você um excelente módulo e um produtivo ano letivo. Bons estudos! Gestão de EaD LaSalle APRESENTAÇÃO Sérgio Weber Técnico contábil pelo Centro Universitário La Salle, Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade Canoense, Pós-Graduado (Especialização) em Planejamento Tributário e Contabilidade pela Unifin e Mestre em Economia com ênfase em Controladoria pela UFRGS. Contabilidade e Gestão Financeira APRESENTANDO O AUTOR Prezado estudante, A disciplina de Contabilidade e Gestão Financeira irá apresentar conceitos e exemplos práticos para todos os profissionais que precisam ter uma visão estratégica da gestão econômica da empresa, além de uma concepção patrimonial e financeira dessa entidade. Nesse sentido, nosso objetivo será o estudo do patrimônio das empresas, sem esquecer os conceitos das principais taxas de juros, valor presente, valor futuro e os fundamentos de risco e retorno necessários na aplicação da política de gestão financeira a ser utilizada por essas entidades na realização de operações com resultados positivos. Ao final, você terá a compreensão de que a contabilidade deve ter plena distinção e separação entre a pessoa física e a pessoa jurídica. Ou seja: o patrimônio da empresa jamais se confunde com o dos seus sócios. Devido a esse princípio, algumas reflexões a respeito da importância do estudo da contabilidade são importantes, sabendo que é fundamental para qualquer organização ter o controle sobre seu patrimônio, e, consequentemente, ter o controle de suas atividades e seus resultados. Sendo assim, vamos apresentar nesta disciplina os seguintes assuntos: histórico da contabilidade, patrimônio das entidades, variações patrimoniais e princípios contábeis, escrituração contábil, custo contábil, balanço patrimonial e demonstrativo do resultado do exercício, taxas de juros nominais efetivas e equivalentes, valor do dinheiro no tempo, conceitos de valor presente e de valor futuro de quantias únicas, anuidades e séries mistas e fundamentos de risco e retorno. APRESENTANDO A DISCIPLINA Sumário UNIDADE 1 Conceitos Fundamentais ...................................................................................................................... 9 Objetivo Geral ...................................................................................................................................... 9 Objetivos Específicos .......................................................................................................................... 9 Questões Contextuais ........................................................................................................................... 9 1.1 Introdução .......................................................................................................................................10 1.2 Histórico da Contabilidade .................................................................................................................10 1.2.1 Escola Contista ................................................................................................................................ 11 1.2.2 Escola do Personalismo ................................................................................................................... 11 1.2.3 Escola do Controlismo ..................................................................................................................... 12 1.2.4 Escola do Neocontismo ................................................................................................................... 13 1.2.5 Escola Aziendalista .......................................................................................................................... 15 1.2.6 Escola Patrimonialista ..................................................................................................................... 15 1.3 Evolução e Conceitos ......................................................................................................................18 1.4 Patrimônio das Entidades ...............................................................................................................21 1.4.1 Bens ............................................................................................................................................... 21 1.4.2 Direitos ........................................................................................................................................... 22 1.4.3 Obrigações ...................................................................................................................................... 22 1.5 Variações Patrimoniais ...................................................................................................................23 1.6 Princípios Contábeis .......................................................................................................................261.6.1 Princípio da Entidade ....................................................................................................................... 28 1.6.2 Princípio da Continuidade ................................................................................................................ 29 1.6.3 Princípio da Oportunidade ............................................................................................................... 30 1.6.4 Princípio do Registro pelo Valor Original ........................................................................................... 30 1.6.5 Princípio da Atualização Monetária .................................................................................................. 34 1.6.6 Princípio da Competência ................................................................................................................ 34 1.6.7 Princípio da Prudência ..................................................................................................................... 36 Síntese da Unidade ............................................................................................................................. 37 Referências ......................................................................................................................................... 38 UNIDADE 2 Escrituração Contábil e Balanço Patrimonial .................................................................................... 39 Objetivo Geral .................................................................................................................................... 39 Objetivos Específicos ........................................................................................................................ 39 Questões Contextuais ......................................................................................................................... 39 2.1 Introdução .......................................................................................................................................40 2.2 Informações Geradas pela Contabilidade ......................................................................................41 2.3 Usuários e Finalidade das Informações Produzidas pela Contabilidade ......................................42 2.4 Escrituração Contábil ......................................................................................................................43 2.4.1 Escrituração não Centralizada ......................................................................................................... 44 2.4.2 Processamento Eletrônico de Dados ................................................................................................ 44 2.4.3 Livros Comerciais ............................................................................................................................ 45 2.4.4 Livro Diário ...................................................................................................................................... 45 2.4.5 Obrigatoriedade da Declaração de Habilitação Profissional .............................................................. 46 2.4.6 Livro Razão .................................................................................................................................... 46 2.4.7 Livros Fiscais .................................................................................................................................. 46 2.4.8 Conservação de Livros e Comprovantes .......................................................................................... 47 2.4.9 Documentos Gerados pelo Sistema de Processamento de Dados .................................................... 47 2.4.10 Escrituração Contábil Digital - ECD ................................................................................................ 47 2.5 Plano de Contas ...............................................................................................................................48 2.6 Contas Patrimoniais ........................................................................................................................54 2.7 Contas de Resultado .......................................................................................................................55 2.8 Demonstração do Resultado do Exercício - DRE ...........................................................................63 Síntese da Unidade ............................................................................................................................. 75 Referências ......................................................................................................................................... 76 UNIDADE 3 Taxas de Juros Nominais, Taxas de Juros Efetivas, Taxas de Juros Equivalentes e Valor do Dinheiro no Tempo ............................................................................................................................................. 77 Objetivo Geral .................................................................................................................................... 77 Objetivos Específicos ........................................................................................................................ 77 Questões Contextuais ......................................................................................................................... 77 3.1 Introdução .......................................................................................................................................78 3.2 Gestão Financeira ............................................................................................................................78 3.3 Matemática Financeira ...................................................................................................................79 3.4 Simbologia Adotada na HP-12C e na Planilha Eletrônica Excel ....................................................79 3.5 Fluxo de Caixa .................................................................................................................................81 3.6 Juros Simples ..................................................................................................................................85 3.7 Juros Compostos .............................................................................................................................88 3.8 Taxa Nominal ...................................................................................................................................94 3.9 Taxa Efetiva......................................................................................................................................97 3.10 Taxa de Juros Equivalentes ........................................................................................................104 3.11 Valor do Dinheiro no Tempo .......................................................................................................108 Síntese da Unidade ........................................................................................................................... 109 Referências ....................................................................................................................................... 110 UNIDADE 4 Valor Presente, Valor Futuro de Quantias Únicas, Anuidades, Séries Mistas, Fundamentos de Risco e Retorno .......................................................................................................................................... 111 Objetivo Geral .................................................................................................................................. 111 Objetivos Específicos ...................................................................................................................... 111 Questões Contextuais .......................................................................................................................111 4.1 Introdução .....................................................................................................................................112 4.2 Valor Presente e Taxa de Desconto ..............................................................................................114 4.3 Valor Presente Líquido e Taxa Interna de Retorno .......................................................................125 4.4 Valor Futuro de Quantias Únicas ..................................................................................................128 4.5 Anuidades e Séries Mistas ............................................................................................................132 4.5.1 Anuidades e Séries Mistas - Postecipada ....................................................................................... 132 4.5.2 Anuidades e Séries Mistas - Postecipadas Antecipadas ................................................................. 134 4.5.3 Anuidades e Séries Mistas - Diferidas ............................................................................................ 136 4.6 Fundamentos de Risco e Retorno .................................................................................................141 4.6.1 Definição de Risco ......................................................................................................................... 141 4.6.2 Definição de Retorno ..................................................................................................................... 142 Síntese da Unidade ........................................................................................................................... 143 Referências ....................................................................................................................................... 145 Conceitos Fundamentais Prezado estudante, Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina. OBJETIVO GERAL Identificar os conceitos fundamentais da contabilidade. OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Apresentar o histórico da contabilidade; • Conceituar o patrimônio das entidades; • Verificar as variações patrimoniais; • Analisar os princípios contábeis. QUESTÕES CONTEXTUAIS 1. Você sabe o que é contabilidade? 2. Qual é a importância da contabilidade no seu dia a dia? 3. Você conhece todos os tipos de informações que a contabilidade pode fornecer para seus individuos? unidade 1 CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 10 1.1 Introdução A contabilidade é uma ciência que nasceu há mais de quinhentos anos e a sua evolução está dividida em diversas escolas de pensamentos que estudam o patrimônio e a gestão de risco das empresas. As mais usuais compreensões sobre a contabilidade contemplam os seus objetivos principais, sobretudo por ser caracterizada como uma ciência social. Um dos principais objetivos da contabilidade é a geração de informações úteis à tomada de decisão, de forma que os gestores possam deliberar ações de seus negócios de maneira eficaz. 1.2 Histórico da Contabilidade Este capítulo dá início ao estudo do histórico da contabilidade. Nele, vamos identificar os principais pensamentos de diversas escolas na área do aprimoramento no mecanismo das contas, da necessidade de controle econômico das entidades, da melhoria das informações geradas para a tomada de decisões dos seus gestores e da utilidade de analisar os riscos gerados pelos atos praticados pela entidade ou empresa. Os registros que versam sobre a história da contabilidade mencionam que essa é uma história tão antiga quanto a própria trajetória da civilização. O nascimento da contabilidade está ligado à necessidade humana de controle e entendimento dos fatos que alteram o seu patrimônio. Essa história foi marcada por eventos que levaram a ciência contábil a se perpetuar ao longo do tempo e, dessa forma, ela foi se desenvolvendo. No ano de 1494, por exemplo, o Frei Luca Paciolo criou o sistema das partidas dobradas na contabilidade, entendendo que as variações patrimoniais poderiam ser expressas em números positivos e negativos. Paciolo defendia a ideia de que para cada movimento patrimonial positivo (um número ou um fato que se soma ao patrimônio, ou seja, que aumente o patrimônio), haverá uma consequência também patrimonial negativa (um valor que diminui o patrimônio, em forma de uma dívida ou saída de dinheiro). A teoria trazida por Paciolo persiste até hoje na contabilidade, o que podemos identificar claramente através das mutações patrimoniais. Com base na obra de Buesa (2010), surgiram várias escolas de pensamento contábil. Vamos ver quais são. Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 11 1.2.1 Escola Contista Os estudiosos dessa escola têm na contabilidade um mecanismo de contas, em que a preocupação central é o funcionamento desse mecanismo em contrapartida ao registro das operações. Assim, a conta não é entendida apenas como um mecanismo de registro das operações. A escola contista foi vista como a escola das contas, sendo que o objetivo das contas deve ser sempre o de registrar uma variação patrimonial a pagar ou a receber, combinando com a origem ou as aplicações de recursos nas relações comerciais. O entendimento dessa escola foi abalado com a evolução dos regimes econômicos devido à intensificação das operações de produção e das transações operacionais. No final do século XVIII, surgiu um modelo baseado em dois livros principais e em dois livros auxiliares, sendo que os livros principais eram chamados de livro diário e livro razão e os livros auxiliares eram chamados de livro caixa e livro armazém. Esses livros tinham a finalidade de organizar as contas e, por consequência, dar origem à necessidade de sistematização dos registros das operações. 1.2.2 Escola do Personalismo Com a necessidade de aprimorar os registros contábeis das contas, surgiu a Escola do Personalismo durante a segunda metade do século XIX, mais precisamente em 1867, dando personalidade às contas. Nesse momento, teve início a ideia das relações entre direitos e obrigações, que posteriormente formariam o conjunto de ativos e passivos. O principal foco dos estudiosos dessa escola era explicar as relações entre os direitos e as obrigações. Francesco Marchi (1822-1871) defendia a ideia de que se deveria explicar de forma aberta essa relação, abrindo as contas por operação, fato que posteriormente daria origem ao chamado plano de contas. E assim, com as contas abertas por operação, Giuseppe Cerboni (1827-1917) idealizou a teoria personalista, justificando a personificação das contas, como é conhecida nos dias atuais. Nesse sentido, entende-se que qualquer transação comercial da entidade é relevante em virtude de sua relação causa/efeito (entre os direitos e as obrigações), ou seja, em razão de um aumento patrimonial em troca de uma saída de recursos ou contratação de uma dívida. E assim, a ciência contábil começou a ser considerada a ciência que estuda a riqueza gerada pelas entidades, naquela época chamadas de aziendas, através das informações contidas nas contas. CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 12 Aziendas, segundo Ludicibus (2003), tem o mesmo significado de entidades ou empresa. GLOSSÁRIO 1.2.3 Escola do Controlismo Com a evolução do pensamento contábil através da Escola Personalista, e com a evidente necessidade do controle econômico das entidades, fruto do aumento das relações econômicas, iniciaram-se as teorias contábeis da Escola Controlista. Seus registros iniciaram no final do século XIX, data em que a contabilidade passou a ser considerada uma ciência de controle econômico. Devido à necessidadede intensificar os métodos de controle, a metodologia utilizada foi a separação do controle em duas partes: a primeira, responsável pelo registro contábil dos fatos econômicos, sendo estes representados pelas transações de comércio, e a outra, responsável pela informação que surgia dos registros realizados pela primeira, sendo que estes deveriam estar em conexão com os mecanismos de administração da época. Dessa forma, nasceu a informação contábil para tomada de decisão. Figura 1.1 – Informações contábeis. Fonte: https://goo.gl/Hsnj2H Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 13 Na visão apresentada pelos controlistas a respeito da contabilidade como mecanismo de controle, as informações contábeis deveriam ser visualizadas como uma forma de controle da riqueza gerada pelas entidades, e esse controle deveria atender aos seguintes pré-requisitos: • Estabelecer um ponto de partida. Como o objetivo é o controle, é necessário definir o período que se quer controlar, e dessa forma, tornar possível a análise dos resultados de um período de gestão; • Acompanhar e avaliar a gestão conforme o período estabelecido para o controle. Para isso, deve-se evidenciar os fatos ocorridos e avaliar os métodos de gestão. O principal foco dessa avaliação seria a relação de eficácia dos resultados de comércio; • Demonstrar os resultados da gestão em avaliação e expressá-los em aumento ou diminuição do patrimônio, preconizando que as relações de comércio deveriam refletir no aumento do patrimônio, enfatizando, dessa forma, os conceitos de resultado econômico. 1.2.4 Escola do Neocontismo Com os avanços da Escola Controlista, em que os atos de comércio passaram a fazer parte das rotinas contábeis, e os principais objetivos eram os resultados positivos das operações, isto é, os lucros, foi necessário estipular o foco dos estudos da ciência contábil. No início do século XX, surge a Escola Neocontista, com o objetivo de enfatizar a riqueza patrimonial como o objeto da ciência e, consequentemente, o estudo das mutações que representavam alterações naquela riqueza. Isso deu origem ao objeto da contabilidade, que foi preconizado como o estudo do patrimônio, através do registro dos valores dos fatos econômicos. Para os pensadores dessa escola, as contas contábeis deveriam representar mais do que um simples conjunto de direitos e obrigações, ou seja, as contas deveriam representar o valor líquido dos componentes do patrimônio e, da mesma forma, as suas modificações. Esse pensamento culminou na possibilidade de avaliar- se a situação líquida do conjunto de Bens, Direitos e Obrigações. Isso fez com que as contas de Bens e Direitos tivessem um caráter positivo, e que as de Obrigações refletissem um caráter negativo. Diante desse pensamento, foi possível expressar a primeira regra fundamental da ciência contábil, o que conhecemos hoje como equação fundamental da contabilidade: a situação líquida do patrimônio é dada pela soma dos ativos, subtraídos os passivos. CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 14 Figura 1.2 – Situação líquida das contas. Fonte: Elaborado pelo autor (2017). Com base nessa lógica, surgiu a disposição das contas na equação chamada de Balanço Patrimonial. Nela, as contas do ativo devem ser organizadas conforme seu grau de disponibilidade, e as do passivo devem ser disponibilizadas a partir do seu grau de exigência. As contas com maior disponibilidade, que é o caso do ativo, e as com maior velocidade de exigibilidade, caso do passivo, conforme os neocontistas, estarão na parte superior da demonstração. Assim, em um período de apuração qualquer, a soma das importâncias dos ativos deve ser igual à soma das obrigações do passivo, provendo a igualdade dos valores nessas duas operações. Isso posteriormente deu origem ao que chamamos, hoje, de método das partidas dobradas. Segundo esse método, as contas do ativo teriam saldo devedor (débito), e as do passivo, saldo credor (crédito), o que equivaleria a dizer que, para cada débito registrado, deveria haver um registro a crédito equivalente. Podemos dizer também que para um débito existe sempre um crédito de igual valor. Veja a figura a seguir: Figura 1.3 – Esquema Escola Neocontista. Fonte: Elaborado pelo autor (2017). DÉBITO SALDO (+) CRÉDITO SALDO (-) (+) (-) (+) (-) CONTAS PATRIMONIAIS Ativo Saldo (+) Entradas Entradas EntradasSaídas Saídas Saídas Bens e Direitos (+) (+) (+)(-) (-) (-) Passivo Saldo (-) Patr.Líquido Saldo (-) Obrigações Capital Próprio ATIVO PASSIVO Maior Velocidade Ex.: Fornecedor Patrimônio Líquido Total do Passivo Maior Disponibilidade Ex.: Dinheiro em caixa Menor Disponibilidade Ex.: Bens Total do Ativo Ordem Decrescente de Liquidez Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 15 1.2.5 Escola Aziendalista Após os pensadores neocontistas, os estudos e pensamentos sobre a contabilidade como ciência estavam avançados, e conceitos importantes como o método das partidas dobradas e a ordem decrescente de liquidez para os ativos e passivos já estavam estabelecidos. Essa temática deu origem a novas necessidades, não bastando somente organizar a temática dos registros contábeis. Com isso, ficou claro que os registros efetuados eram provenientes de fatos econômicos e financeiros gerados através da gestão dos negócios das empresas. Isso significa que foram acrescentados às organizações aspectos de administração de empresas, como as regras de organização e controle. A doutrina Aziendalista concede à contabilidade uma função de apoio à gestão, com a atribuição de apurar os resultados e controlar o patrimônio. Isso define as demonstrações apresentadas pela contabilidade como informações necessárias à tomada de decisão e apoio à gestão. A integridade do registro dos fatos e a importância das informações trazidas pela contabilidade fez com que a análise dos resultados econômicos e financeiros fosse melhor compreendida pelos gestores das empresas. Já a finalidade das demonstrações contábeis, que até então era apenas de registro e organização dos fatos econômicos em contas contábeis, mudou, e de modo que as informações se tornaram apoio à gestão. Com isso, o resultado de um período em análise foi definido como acréscimo (lucro) ou decréscimo (prejuízo) ao patrimônio. 1.2.6 Escola Patrimonialista A Escola Patrimonialista teve seus estudos iniciados em meados da década de 1930, e se baseou, já naquela época, em técnicas de registro e organização das contas em ordem decrescente de liquidez, tanto para ativos quanto para passivos. Para os estudiosos dessa escola, o Patrimônio, objeto da contabilidade, demonstra uma grandeza de valor que sofre mutações, dadas as atividades econômicas realizadas pela entidade. Dessa forma, deveria-se analisar adequadamente as mutações que levam ao aumento ou à diminuição do patrimônio. Assim, surgiram os fundamentos da doutrina patrimonialista, que são: • O objeto da contabilidade é o patrimônio das entidades, que é composto por Bens, Direitos e Obrigações, que são alterados em função do resultado de um determinado período de análise. CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 16 • As alterações do patrimônio ocorrem em função dos fenômenos contábeis, e esses fenômenos são conhecidos por terem valor econômico e alterarem o patrimônio das empresas. Essas alterações podem ocorrer de forma permutativa, quando existe a simples troca de um Ativo por um Passivo (ou vice-versa), ou de forma modificativa, quando existe a troca de um item patrimonial de Ativo ou Passivo por um item de resultado (receitas ou gastos). • A contabilidade é uma ciência social porque os fatos contábeis e a equação fundamental da contabilidade, embora tenham valor, são motivados por ações sociais provenientes da relação da entidade com meios internos e externos. Dessa forma, compreende-se que a contabilidade é dividida em três ramos na sua parte teórica: Quadro 1.1 – Ramos teóricos da Contabilidade. Estática patrimonialDinâmica patrimonial Revelação patrimonial Está relacionada ao registro dos fatos e à geração de uma informação em determinado período, assim como ao equilíbrio entre os fatos permutativos e modificativos. Está relacionada à condição que as entidades têm de obtenção e geração de recursos, entendendo essa movimentação de recursos como capitais em movimento, principalmente pela geração de novos recursos. Está relacionada a um conjunto de princípios e de normas que regem a individualização dos itens que compõem o patrimônio das entidades. Isso traz um aspecto qualitativo às informações contábeis, da mesma forma que aqueles princípios e normas estão relacionados aos aspectos monetários dos itens patrimoniais, trazendo questões quantitativas às informações contábeis. Fonte: Elaborado pelo autor (2017). A partir dos estudos e definições da escola patrimonialista, a contabilidade foi reconhecida como ciência, baseada em princípios e normas próprias, que têm como finalidade o estudo e a interpretação do patrimônio das entidades. E assim, por meio das escolas do pensamento contábil, com o aprimoramento da organização econômica mundial, a ciência contábil também se refinou. A intensificação do seu estudo como ciência teve origem com o conjunto dos atos de comércio, devido à necessidade de organização social, a partir das com atividades de troca de bens e serviços. Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 17 Figura 1.4 – Linha do tempo escolas contábeis. Fonte: Elaborado pelo autor (2017). Ao apontar as escolas do pensamento contábil ao longo do tempo, podemos perceber que elas estão intimamente ligadas ao aprimoramento da contabilidade como ciência. Algumas dessas escolas trabalhavam com foco na essência patrimonial, outras com foco exatamente na contabilidade como ciência. Existem muitas expectativas sobre esse ramo do conhecimento, que se encontra em constante evolução devido aos avanços econômicos e sociais que se fazem necessários com o passar dos anos. Escola do Personalismo Escola do Controlismo Escola do Neocontismo Escola Aziendalista Escola Patrimonialista Aprimoramento na realização dos registros Necessidade do controle econômico das entidades Foco nas informações geradas pela contabilidade Introdução de aspectos de administração de empresas, como as regras de organização e controle Análise adequada das mutações patrimoniais Metade do Sec. XIX Sec. XVIII Sec. XIX Final Sec. XIX e Sec. XX Sec. XX CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 18 1.3 Evolução e Conceitos Depois de vermos o histórico da contabilidade, é importante refletir sobre a evolução da contabilidade ao longo do tempo, entendendo como os momentos históricos ajudaram a área da contabilidade a evoluir. Sabendo que a contabilidade é a ciência que estuda e controla o patrimônio em seus aspectos qualitativos e quantitativos, podemos verificar a evolução da contabilidade por meio de suas escolas, que proporcionaram importantes mudanças ou aprimoramento à ciência contábil. A contabilidade, que era um simples mecanismo de controle patrimonial, tornou-se ciência em virtude do crescimento econômico propriamente dito. Com o passar do tempo, surgem as escolas de pensamento contábil que tiveram, naquela época, e ainda têm, em pleno século XXI, a função de formular, discutir e aprimorar as práticas e teorias que envolvem a ciência contábil. Essas escolas também foram, e ainda são, responsáveis pelo aprimoramento da profissão contábil, a cada época histórica. Essas escolas são formas de interpretação do momento histórico e, dessa maneira, alguns marcos da evolução contábil devem ser destacados. Vamos tomar como exemplo a revolução industrial ocorrida no século XIX, que trocou totalmente os meios de produção. Essa revolução mudou o foco da produção manufaturada, altamente dependente da mão de obra, introduzindo métodos de produção em série. Essa modificação fez com que a contabilidade se aprimorasse, passando a controlar um item importantíssimo do conjunto patrimonial: o estoque de mercadorias. Após esse fato, outros elementos do patrimônio passaram a ser mais estudados. Podemos citar como exemplo o aumento dos volumes de estoques, que deveriam ser suficientes para aguentar a velocidade produtiva. Com esse aumento, os custos de produção foram elevados automaticamente, sendo necessário um aprimoramento da contabilidade para controlar de outro item do patrimônio: o custo das mercadorias. No Brasil, a evolução da contabilidade tem seus primeiros registros no início do século XIX, data em que foi determinada a utilização de métodos e formas de realização dos registros contábeis, modificando o patrimônio em estudo, conhecido como método das partidas dobradas. Esse procedimento altera o patrimônio das entidades e é utilizado mundialmente, sendo conhecido como o método fundamental da contabilidade. Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 19 Esse método foi consagrado com a oficialização do código comercial brasileiro, sacramentado em 1976, com a criação da chamada Lei das Sociedades por Ações, publicada no Diário Oficial da União em 17 de dezembro de 1976. A obrigatoriedade, no primeiro momento, seria apenas para as entidades de capital aberto na aplicação dessa norma positivada, sendo posteriormente estendida a todas as entidades. Por fim, essa evolução teve seu ápice na década de 1990, com o início do movimento de globalização das economias. Isso ocorre, em larga escala, quando a necessidade de informação sobre as entidades se aprofundou. Em 1993, surgiram os princípios fundamentais de contabilidade aplicados no Brasil, com papel fundamental no desenvolvimento da profissão nesse país. Esses princípios têm a função de nortear o profissional da área de contabilidade no seu papel principal, registrar os fatos que alteram o patrimônio das entidades e gerar informações sobre a tomada de decisão. Esse processo intensificou-se com a abertura dos mercados globais. A necessidade de integração da economia fez com que o processo evolutivo da ciência contábil fosse def lagrado no século XX, sendo chamado de convergência mundial das normas de contabilidade. Posteriormente, esse termo foi rebatizado de normas internacionais de contabilidade, adotadas pelo Brasil no ano de 2007. Diante do conceito de contabilidade acima, podemos dizer que a contabilidade realiza o estudo do patrimônio apresentando diversas formas de controlar esse patrimônio. Uma das principais formas de controle é o registro dos fatos econômicos que afetam, de forma direta ou indireta, o patrimônio estudado. Isso se aplica a partir de duas concepções principais sobre a contabilidade. Vejamos o quadro a seguir: Conforme Coutinho (2015), a contabilidade é a ciência que estuda e controla o patrimônio das entidades. DESTAQUE CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 20 Quadro 1.2 – Aspectos qualitativos e quantitativos da contabilidade. QU AL IT AT IV A Conjunto de leis, princípios e métodos. Geralmente se utiliza do conjunto de mecanismos, leis, princípios e métodos que envolvem a economia em que o patrimônio a ser estudado está inserido. O objetivo é traduzir esses aspectos em um conjunto de conhecimentos capazes de gerar informações úteis aos gestores na tomada de decisão. QU AN TI TA TI VA Sistema de informações que observa o valor da composição patrimonial. Geralmente é baseado em um sistema de informações destinado a prover os usuários das informações contábeis de informações úteis e tempestivas sobre as movimentações econômicas e financeiras que envolvem o patrimônio em estudo. Fonte: Elaborado pelo autor (2017). Isso significa que, sob o aspecto olhar, as informações prestadas pela contabilidade têm aspecto formal. Dessa forma, a empresa pode ter uma noção aumentada e formalizada sobre o seu patrimônio. De outro lado, o aspecto quantitativotem a função de valorizar esse conjunto patrimonial da seguinte forma: Quadro 1.3 – Esquema Qualitativo e Quantitativo. Fonte: Elaborado pelo autor (2017). PATRIMÔNIO Qualitativo Carros Dinheiro Estoques Prédios Dívidas Quantitativo R$ 500,00 R$ 1.000,00 R$ 2.000,00 R$ 100.000,00 R$ 15.000,00 Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 21 1.4 Patrimônio das Entidades Como ciência que estuda o patrimônio das entidades, a contabilidade tem o próprio patrimônio como objeto de estudo. Para que possamos compreender melhor, vamos definir patrimônio como um conjunto de bens, direitos e obrigações pertencentes a uma determinada entidade. Esse conjunto pode ser avaliado em moeda corrente nacional ou convertido em moeda estrangeira, sendo estudado e interpretado no seu conjunto. Quadro 1.4 – Esquema Bens, Direitos e Obrigações. Ativo Passivo Bens e Direitos Parte Positiva Obrigações Parte Negativa Fonte: Elaborado pelo autor (2017). 1.4.1 Bens Os bens são todos os elementos que têm valor econômico ou que podem ser convertidos em dinheiro, capazes de gerar recursos às entidades. Os bens são classificados em: Bens Móveis, Bens Imóveis, Bens Tangíveis e Bens Intangíveis. 1.4.1.1 Bens Móveis São bens com capacidade de serem removidos ou realocados, sem alteração na sua substância ou em sua destinação fim, econômica ou social (Art. 79, 80 e 81 do Código Civil Brasileiro). Classificamos os bens móveis por sua natureza, principalmente aqueles bens suscetíveis ao movimento, desde que por força do trabalho alheio. Exemplos: dinheiro, veículos, móveis e utensílios, máquinas, etc. Podemos ainda classificar os bens móveis semoventes, que são aqueles bens que têm a capacidade de se mover por força do próprio trabalho. Exemplos: cavalos, bois, etc. 1.4.1.2 Bens Imóveis São bens que não têm a capacidade de serem removidos sem danos, isto é, não podem ser retirados de seu lugar natural. Exemplos: edifícios, terrenos, construções, etc. CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 22 1.4.1.3 Bens Tangíveis Os bens tangíveis, também chamados de bens corpóreos e bens materiais, são bens palpáveis, que têm corpo e forma física definida. Exemplos: veículos, terrenos, dinheiro, estoques, etc. 1.4.1.4 Bens Intangíveis Os bens intangíveis, também chamados de bens incorpóreos e bens imateriais, são bens não palpáveis, que não têm corpo nem forma física definida. Exemplos: a marca de uma empresa, patente de invenção, domínio de internet, etc. 1.4.2 Direitos São recursos que a empresa tem a receber e que vão gerar entrada de benefícios presentes ou futuros. Exemplo: uma venda realizada a prazo vai gerar uma entrada no caixa da empresa no presente ou no futuro pelo pagamento realizado pelo cliente (duplicata a receber). 1.4.3 Obrigações Obrigações são dívidas contraídas pela entidade ou empresa. Exemplo: ao realizar a compra de mercadoria para revenda, a empresa contrai a dívida a pagar que será realizada no ato ou no futuro (fornecedores). Quadro 1.5 – Esquema Bens, Direitos e Obrigações. Ativo Passivo Bens e Direitos Obrigações Fonte: Elaborado pelo autor (2017). Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 23 1.5 Variações Patrimoniais Além do estudo e do controle patrimonial, entendido como conjunto de bens, direitos e obrigações, a contabilidade tem como objetivo estudar as mutações patrimoniais. Isso faz com que possamos entender os reflexos da atuação do meio, das economias e da gestão das entidades no próprio patrimônio. Figura 1.5 – A função do contador. Fonte: https://goo.gl/rNDqC3. Com isso, cabe enfatizar que não seria prudente definir apenas um ou outro objetivo para a contabilidade, mas sim apontar que existe um conjunto de objetivos. Podemos entender, então, que a Contabilidade se concentra na correta apresentação do patrimônio e na compreensão e verificação das suas mutações. Dessa maneira, a Resolução nº 774 do Conselho Federal de Contabilidade (CFC, 2000, p. 33) destaca que “a existência de objetivos específicos não é essencial à caracterização de uma ciência, pois, caso o fosse, inexistiria a ciência “pura”, aquela que se concentra tão somente no seu objeto.” Podemos entender a contabilidade como um sistema de informações que, com base no estudo das mutações patrimoniais, deverá fornecer informações fidedignas e tempestivas sobre o patrimônio e sobre o resultado da entidade estudada, sempre sob o aspecto necessário à tomada de decisão. Assim, é possível verificar que a contabilidade organiza os componentes patrimoniais, bens, direitos e obrigações partindo do seu objeto de estudo, que é o patrimônio das entidades. CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 24 Portanto, a contabilidade tem a finalidade de controlar o patrimônio mediante o registro dos fatos econômicos que afetam de forma direta ou indireta o patrimônio estudado, gerando informações úteis aos seus usuários. O resultado dessa organização é o controle do patrimônio em sua forma líquida, dando origem à seguinte equação fundamental: Quadro 1.6 – Equação do Patrimônio Líquido. Patrimônio Líquido = Bens + Direitos - Obrigações Fonte: Elaborado pelo autor (2017). Com essa equação, o conceito de conjunto de bens, direitos e obrigações dá lugar ao conceito de equação patrimonial, ou seja, o conjunto de bens e direitos, menos o conjunto de obrigações, se transforma em patrimônio líquido das entidades. Podemos apresentar a posição patrimonial de uma empresa de diversas maneiras: a. ATIVO = PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO Nessa equação, a empresa é superavitária, tendo o seu conjunto de bens e direitos maior do que as suas obrigações (passivo). Portanto, o patrimônio líquido é positivo. b. ATIVO = PATRIMÔNIO LÍQUIDO Nessa equação, o passivo é zero, portanto não existem obrigações com terceiros. Como regra, essa situação ocorre no momento da abertura da empresa. c. ATIVO = PASSIVO Nessa equação, o patrimônio líquido (capital próprio) é zero. Isso significa que o ativo da empresa foi totalmente financiado pelo capital de terceiros (passivo). A empresa deve fazer uma análise criteriosa dessa situação, pois os indícios são de dificuldades financeiras. d. ATIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO = PASSIVO Aqui, podemos dizer que a empresa está com sérios problemas financeiros. Em outras palavras, encontra-se em estado de insolvência. Lembramos que quando ocorre a situação de insolvência, a empresa não tem condições de pagar toda a sua dívida. Somente poderá saldá-la por meio do aumento de capital social de seus sócios. Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 25 Quadro 1.7 – Esquema Bens, Direitos e Obrigações. PATRIMÔNIO Ativo Passivo Bens e Direitos Obrigações Patrimônio Líquido Fonte: Elaborado pelo autor (2017). CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 26 1.6 Princípios Contábeis Conforme vimos anteriormente, o patrimônio das entidades divide-se em bens, direitos e obrigações. A contabilidade tem como objetivo estudar as mutações patrimoniais, fazendo com que todos entendam os reflexos da atuação do meio, das economias e da gestão das entidades no próprio patrimônio. Então, você sabia que, embora a contabilidade seja uma ciência social, ela é baseada em diversos princípios? E que esses princípios devem ser conhecidos por todos os profissionais de Contabilidade? Ou que a contabilidade é baseada em um método de partidas dobradas, conhecido no mundo todo? Pois bem, apresentaremos neste tópico a necessidade que se tem na contabilidade de aplicar os princípios contábeis de maneira que se tenha os registros das transações comerciais corretos. No Brasil, existem diversas entidades e leis que visam à regulação da prática contábil, dada a importância da correta verificação dos registros pertinentes. A Lei nº 6.404/1976, conhecida como a Lei das Sociedades Anônimas, incluiu na legislação societária a matéria contábil, definindo principalmente a forma de registro dos fatos econômicos. Com o passar dos anos, a legislaçãofoi aprimorada por meio de novas leis ou resoluções. Em 1981, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), órgão responsável pela regulação da profissão, lançou a primeira versão dos princípios fundamentais de contabilidade. Esses princípios versam sobre as formas de conduta da profissão e do registro em situações concretas. Desde então, resolveu entidades reguladoras reconheceram esses princípios como meios de regulação para o acompanhamento da profissão. Portanto, veremos os princípios básicos (fundamentais) de contabilidade como representantes da essência das doutrinas e teorias relativas à ciência de contabilidade no Brasil. O Conselho Federal de Contabilidade(CFC), entidade que regula a profissão contábil no Brasil e que responde pelas normas profissionais e de conduta, resolveu uma versão inicial dos princípios fundamentais de contabilidade no ano de 1981. Conforme o texto da Resolução CFC n.º 530, a contabilidade pretendia: Dar tratamento uniforme dos atos e fatos administrativos e das demonstrações deles decorrentes, sendo que, havendo mudanças de tratamento, o efeito deve ser informado. Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 27 Essa definição foi seguida pelos agentes contábeis, porém, como já observamos, a contabilidade é a uma ciência que vem se aperfeiçoando com o passar do tempo. Como exemplo disso, no ano de 1993, com a Resolução do CFC nº 750, o Conselho Federal de Contabilidade lançou a versão atualizada para os princípios da área, que foram definidos como o conjunto de regras da profissão. Revestidos de universalidade e generalidade, eles transcrevem elementos que caracterizam o conhecimento científico, justamente com a certeza, o método e a busca das causas primeiras (CFC, 1993). O art. 3º da Resolução nº 750 de 1993 do CFC define os Princípios Fundamentais de Contabilidade, que são: • I. o da Entidade; • II. o da Continuidade; • III. o da Oportunidade; • IV. o do Registro pelo Valor Original; • V. o da Atualização Monetária; (Revogado pela Resolução do Conselho Federal de Contabilidade - CFC nº 1.282 de 28.05.2010). • VI. o da Competência; e • VII. o da Prudência. Não podemos esquecer que, na condução dos trabalhos contábeis, além de observar os princípios básicos da ciência, são ainda aplicadas técnicas de registro. Com isso, esses fundamentos representam o entendimento fortalecido no campo científico e profissional da contabilidade no Brasil. Observem que esses princípios são de entendimento necessário por parte dos profissionais da área contábil e procuram guiar os trabalhos profissionais em situações corriqueiras, como no registro dos fatos contábeis, conforme disposto na Seção VII, art. 11º da Resolução CFC nº 750/93, que está transcrito abaixo: A inobservância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade constitui infração nas alíneas “c”, “d” e “e” do art. 27 do Decreto-Lei nº 9.295, de 27 de maio de 1946 e, quando aplicável, ao Código de Ética Profissional do Contabilista. CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 28 1.6.1 Princípio da Entidade O art. 4º da Seção I da Resolução nº 750/1993 do CFC define o Princípio da Entidade: Art. 4º O Princípio da ENTIDADE reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, a neces- sidade da diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por consequência, nesta acepção, o Patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição. Parágrafo único – O PATRIMÔNIO pertence à ENTIDADE, mas a recíproca não é verdadeira. A soma ou agregação contábil de pa- trimônios autônomos não resulta em nova ENTIDADE, mas numa unidade de natureza econômico-contábil. O Princípio da Entidade tem o objetivo de reconhecer o patrimônio como foco da ciência contábil, enfatizando que deve existir uma diferenciação, no caso de empresas, entre o patrimônio dos sócios e o patrimônio da própria empresa. Explicando melhor, o patrimônio da empresa pertence à empresa, independentemente da instituição pertencer a uma pessoa ou a um grupo de pessoas. Dessa forma, podemos verificar que o objeto da contabilidade se delimita ao patrimônio das empresas. Vamos exemplificar melhor através do caso a seguir: Pedro é o único sócio da Contábil Sul S/A, localizada em um prédio térreo de propriedade da empresa. No andar de cima, fica a residência do Pedro. A despesa de energia elétrica é estimada por um único medidor de energia, e o valor é pago pela empresa Contábil Sul S/A. Diante desse fato, podemos imaginar que está correto a empresa do Pedro pagar por toda a despesa de energia elétrica, porque ele é o único sócio da empresa. Entretanto, conforme o princípio da entidade, os bens da empresa, no caso o prédio, não se confundem com o patrimônio dos sócios. Mesmo a empresa sendo de Pedro, a instituição deve fazer um contrato de aluguel com ele, pessoa física, e colocar um medidor de energia exclusivo para a residência. Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 29 1.6.2 Princípio da Continuidade O art. 5º da Seção II da Resolução nº 750/1993 do CFC define o Princípio da Continuidade: Art. 5º O Princípio da Continuidade pressupõe que a Entidade continuará em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta esta circunstância. Esse princípio trata do fundamento de que as empresas devem ser criadas com prazo indeterminado de existência. Assim, a contabilidade considera as instituições como mecanismos vivos da sociedade, que têm entre as suas funções a geração de trabalho constante. Entende-se, portanto, que a continuidade permanente ou não da empresa, bem como sua vida útil de produção, devem ser levadas em conta na classificação dos itens patrimoniais. Portanto, esse princípio trata da continuidade das operações realizadas pela empresa. Ou seja: não existe prazo ou indícios de descontinuidade da atividade da empresa. O Princípio da Continuidade também está destacado no item 4.1 da Resolução do CFC nº 1.374/2011, que reestruturou a NBC TG ESTRUTURA CONCEITUAL – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil- Financeiro, conforme segue (CFC, 2011): As demonstrações contábeis normalmente são elaboradas tendo como premissa que a entidade está em atividade (going concern assumption) e irá manter-se em operação por um futuro previsível. Desse modo, parte-se do pressuposto de que a entidade não tem a intenção, nem tampouco a necessidade, de entrar em processo de liquidação ou de reduzir materialmente a escala de suas operações. Por outro lado, se essa intenção ou necessidade existir, as demons- trações contábeis podem ter que ser elaboradas em bases diferentes e, nesse caso, a base de elaboração utilizada deve ser divulgada. CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 30 1.6.3 Princípio da Oportunidade O art. 6º da Seção III da Resolução nº 750/1993 do CFC define o Princípio da Oportunidade: Art. 6º O Princípio da Oportunidade refere-se ao processo de men- suração e apresentação dos componentes patrimoniais para produ- zir informações íntegras e tempestivas. Parágrafo único. A falta de integridade e tempestividade na produ- ção e na divulgação da informação contábil pode ocasionar a perda de sua relevância, por isso é necessário ponderar a relação entre a oportunidade e a confiabilidade da informação. O Princípio da Oportunidade na literatura contábil é chamado de Princípio da Universalidade. Embora esse nome não seja reconhecido na legislação sobre o tema, é preciso considerar que o Princípio da Oportunidade trata o registro contábil sob dois pontos de vista, que se complementam: a integridade e a tempestividade. Esses dois pontos mostram que os registros devem ser feitos na datade sua ocorrência. Assim, teremos o registro de forma completa, fidedigna e tempestiva. 1.6.4 Princípio do Registro pelo Valor Original O art. 7º da Seção IV da Resolução nº 750/1993 do CFC define o Princípio do Registro pelo Valor Original: Art. 7º O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os com- ponentes do patrimônio devem ser inicialmente registrados pelos valores originais das transações, expressos em moeda nacional. § 1º As seguintes bases de mensuração devem ser utilizadas em graus dis- tintos e combinadas, ao longo do tempo, de diferentes formas: I – Custo histórico. Os ativos são registrados pelos valores pagos ou a se- rem pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor justo dos recur- sos que são entregues para adquiri-los na data da aquisição. Os passivos são registrados pelos valores dos recursos que foram recebidos em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias, pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais serão necessários para liquidar o passivo no curso normal das operações; e II – Variação do custo histórico. Uma vez integrado ao patrimônio, os componentes patrimoniais, ativos e passivos, podem sofrer va- riações decorrentes dos seguintes fatores: Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 31 a) Custo corrente. Os ativos são reconhecidos pelos valores em cai- xa ou equivalentes de caixa, os quais teriam de ser pagos se esses ativos ou ativos equivalentes fossem adquiridos na data ou no pe- ríodo das demonstrações contábeis. Os passivos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que seriam necessários para liquidar a obrigação na data ou no pe- ríodo das demonstrações contábeis; b) Valor realizável. Os ativos são mantidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais poderiam ser obtidos pela venda em uma forma ordenada. Os passivos são mantidos pelos valores em caixa e equivalentes de caixa, não descontados, que se espera seriam pagos para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das operações da Entidade; c) Valor presente. Os ativos são mantidos pelo valor presente, des- contado do fluxo futuro de entrada líquida de caixa que se espera seja gerado pelo item no curso normal das operações da Entidade. Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro de saída líquida de caixa que se espera seja necessário para liquidar o passivo no curso normal das operações da Entidade; d) Valor justo. É o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo liquidado, entre partes conhecedoras, dispostas a isso, em uma transação sem favorecimentos; e e) Atualização monetária. Os efeitos da alteração do poder aquisi- tivo da moeda nacional devem ser reconhecidos nos registros con- tábeis mediante o ajustamento da expressão formal dos valores dos componentes patrimoniais. § 2º São resultantes da adoção da atualização monetária: I – a moeda, embora aceita universalmente como medida de valor, não representa unidade constante em termos do poder aquisitivo; II – para que a avaliação do patrimônio possa manter os valores das transações originais, é necessário atualizar sua expressão formal em moeda nacional, a fim de que permaneçam substantivamente corretos os valores dos componentes patrimoniais e, por conse- quência, o do Patrimônio Líquido; e III – a atualização monetária não representa nova avaliação, mas tão somente o ajustamento dos valores originais para determinada data, mediante a aplicação de indexadores ou outros elementos ap- tos a traduzir a variação do poder aquisitivo da moeda nacional em um dado período. CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 32 Sobre a avaliação dos componentes patrimoniais, que deve ser feita com base nos valores de entrada, devemos destacar que existe uma diferenciação, dependendo do item de entrada, bem ou direito. Para o registro dos direitos, os itens são provenientes, na maioria das vezes, de vendas a prazo ou de empréstimos concedidos. Sendo assim, o valor original de entrada no ativo é o próprio valor do direito a receber. Vamos imaginar que determinada empresa realize uma venda a prazo pelo valor de R$ 10.000,00. Portanto, o valor a ser registrado no ativo na conta “contas a receber” será o valor de R$ 10.000,00. Já para o registro dos bens, devemos observar o que está disposto no art. 289 do Decreto-Lei nº 1.598/1977: Art. 289. O custo das mercadorias revendidas e das matérias-primas utilizadas será determinado com base em regis- tro permanente de estoques ou no valor dos estoques existentes, de acordo com o Livro de Inventário, no fim do período de apuração (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 14). § 1º O custo de aquisição de mercadorias destinadas à revenda compreenderá os de transporte e seguro até o estabelecimento do contribuinte e os tributos devidos na aquisição ou importação (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 13). § 2º Os gastos com desembaraço aduaneiro integram o custo de aquisição. § 3º Não se incluem no custo os impostos recuperáveis através de créditos na escrita fiscal. É importante considerar a metodologia do registro pelo custo de aquisição para a compra de bens do ativo. Ou seja: o valor original de registro de bens do ativo será dado pela metodologia do custo de aquisição. Essa metodologia consta no CPC 27 (Comitê de Pronunciamentos Contábeis nº 27), que aponta que um item do ativo imobilizado deve ser reconhecido pelo custo apenas se: a. for provável que futuros benefícios econômicos associados ao item fluirão para a entidade; e b. o custo do item puder ser mensurado confiavelmente. O CPC nº 27 ainda acrescenta que sobressalentes, peças de reposição, ferramentas e equipamentos de uso interno são classificados como ativo imobilizado quando a entidade espera usá-los por mais de um período. Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 33 Ainda, o CPC nº 27 determina que o custo de um item do ativo imobilizado compreende: a. seu preço de aquisição, acrescido de impostos de importação e impostos não recuperáveis sobre a compra, depois de deduzidos os descontos comerciais e abatimentos; b. quaisquer custos diretamente atribuíveis para colocar o ativo no local e condições necessárias para o funcionamento na forma pretendida pela administração; c. a estimativa inicial dos custos de desmontagem, remoção do item e de restauração do local (sítio) no qual este está localizado. Esses custos representam a obrigação em que a entidade incorre quando o item é adquirido ou como consequência de usá-lo durante determinado período para finalidades diferentes da produção de estoque. Para tanto, é admitido que o valor do custo de determinado bem a ser incluído no ativo deve incorporar todos os gastos necessários para a sua aquisição, deduzidos os tributos aos quais a empresa tem o direito de compensar-se conforme o princípio do regime não cumulativo. Por exemplo: se o bem for para a produção, a empresa deve excluir o valor do ICMS, PIS e COFINS . Para compreendermos melhor, vamos dar um exemplo em que uma indústria adquiriu uma máquina industrial para produção de seus produtos, conforme dados do quadro a seguir: Quadro 1.8 – Custo Aquisição Máquina Industrial. Dados Valores Observação Valor da Máquina 1.000.000,00 Frete da Máquina 30.000,00 Seguro sobre o Frete 8.000,00 IPI sobre a Máquina 100.000,00 Não tem direito de compensação ICMS sobre a Máquina 120.000,00 Tem direito de compensação Pis sobre a Máquina 16.500,00 Tem direito de compensação Cofins sobre a Máquina 76.000,00 Tem direito de compensação Mão de Obra na Instalação 5.000,00 Custo de Aquisição 1.143.000,00 Fonte: Elaborado pelo autor (2017). CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 34 Conforme o quadro 8, o custo da máquina será o somatório de R$ 1.000.000,00 + 30.000,00 + 8.000,00 + R$ 100.000,00 + R$ 5.000,00, totalizando o valor de R$ 1.143.000,00. Já o valor de R$ 120.000,00 de ICMS, acrescido do valor de R$16.500,00 de PIS e do valor de R$ 76.000,00 da COFINS não é caracterizado como custo, devido ao fato de estes serem tributos com o direito de compensação, conforme o Princípio da não cumulatividade. 1.6.5 Princípio da Atualização Monetária O art. 8º da Seção IV da Resolução nº 750/1993 do CFC definia o Princípio da Atualização Monetária, que foi revogado pela Resolução do Conselho Federal de Contabilidade - CFC - nº 1.282/2010. Embora revogado por conta do fim da desvalorização monetária enfrentada pelo Brasil em virtude da inflação, é importante destacar que esse princípio determinava que as alterações de poder aquisitivo da moeda nacional deveriam ser reconhecidas nos registros contábeis. Isso ocorria através do ajustamento da expressão formal dos valores dos componentes patrimoniais. 1.6.6 Princípio da Competência O art. 9º da Seção VI da Resolução nº 750/1993 do CFC define o Princípio da Competência: Art. 9º O Princípio da Competência determina que os efeitos das tran- sações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se refe- rem, independentemente do recebimento ou pagamento. Parágrafo único: O Princípio da Competência pressupõe a simultanei- dade da confrontação de receitas e de despesas correlatas. Segundo o item 27 do CPC nº 26, “a entidade deve elaborar as suas demonstrações contábeis, exceto para a demonstração dos fluxos de caixa, utilizando-se do regime de competência” (CFC, 1993). Dessa forma, o Princípio da Competência é o princípio fundamental mais utilizado na prática. Ele estabelece que os fatos contábeis devem ser registrados no resultado do período em que ocorrerem. Ou seja: a competência de um fato contábil está ligada ao seu acontecimento e não ao seu recebimento ou pagamento. Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 35 Entendemos, assim, que as receitas, as despesas e os custos devem ser registrados, independentemente de pagamentos e recebimentos, sempre no período em que ocorrerem. Isso faz com que seja possível a apuração do resultado de um período, sempre pelo fato gerador da receita, custo ou despesa. Para entender melhor, vamos dar um exemplo em que uma indústria realiza uma operação de venda a prazo, em janeiro, com vencimento em 60 dias. Portanto, essa venda feita terá o seu recebimento somente no mês de março. Assim, a indústria deve fazer o registro dessa venda no mês de janeiro e reconhecer o custo dessa venda também no mês de janeiro. Sendo assim, constatamos que uma receita, o seu custo ou a despesa são considerados efetivados no momento da entrega da mercadoria, independentemente do recebimento financeiro. Vamos para mais um exemplo prático? A empresa Camisas Céu Sol Ltda., de São Paulo, vendeu uma quantidade específica de mercadoria no dia 30/03/2017, através da nota fiscal de nº 123.760, para a empresa Comércio de Camisas do Sul Ltda. do Rio Grande do Sul. Essa mercadoria chegou no estabelecimento da empresa compradora no dia 02/04/2017. Como fica o registro nas duas empresas através do regime de competência? Você sabe? REFLETINDO Primeiramente, o fato gerador da venda é a saída da mercadoria da empresa vendedora, a Camisas Céu Sol Ltda., de São Paulo. Com isso, o registro do reconhecimento da receita através da venda deve ser feito no dia 30/03/2017, assim como todas as despesas e custos vinculados a essa venda. Já para a empresa Comércio de Camisas do Sul Ltda do Rio Grande do Sul, o fato gerador é a entrada da mercadoria no seu estoque. Portanto, o registro deve ser feito no dia 02/04/2017. CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 36 1.6.7 Princípio da Prudência O art. 10º da Seção VII da Resolução nº 750/1993 do CFC define o Princípio da Prudência: Art. 10. O Princípio da PRUDÊNCIA determina a adoção do me- nor valor para os componentes do ATIVO e do maior para os do PASSIVO, sempre que se apresentem alternativas igualmente váli- das para a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido. Parágrafo único: O Princípio da Prudência pressupõe o em- prego de certo grau de precaução no exercício dos julgamen- tos necessários às estimativas em certas condições de incerteza, no sentido de que ativos e receitas não sejam superestimados e que passivos e despesas não sejam subestimados, atribuindo maior con- fiabilidade ao processo de mensuração e apresentação dos compo- nentes patrimoniais. Esse princípio está relacionado ao caráter de informação. Isso determina que, em iguais situações com possibilidades de valorização diferentes, deverá predominar o menor valor para os valores a serem registrados no ativo, e o maior valor para os valores a serem registrados no passivo. Dessa forma, consideramos que, nas mesmas situações de valorização, a contabilidade deve demonstrar a pior situação possível. Podemos citar, como exemplo, os casos em que existem expectativas de ganhos futuros por aplicação. Nessa situação, configura-se uma dúvida sobre um valor a receber. Ou seja: sendo a expectativa entre um valor qualquer e zero, deve-se optar pelo não registro ou valor zero. Para aprender ainda mais sobre o regime de competência e o regime de caixa, assista ao vídeo apresentado no do link abaixo: https://goo.gl/zCZg93. VIDEO Conceitos Fundamentais | UNIDADE 1 37 SÍNTESE DA UNIDADE Nesta unidade de aprendizagem, apresentamos o histórico da contabilidade através dos pensamentos de suas escolas, a sua evolução e os conceitos fundamentais da ciência contábil, e também desenvolvemos os primeiros conhecimentos a respeito do tema. Entendemos que uma entidade também pode ser chamada de empresa, de modo que esses termos são sinônimos. As palavras são diferentes, mas têm o mesmo significado. Aprendemos que o patrimônio das entidades se divide em bens, direitos e obrigações, e que bens móveis são diferentes de bens imóveis, assim como bens tangíveis são diferentes de bens intangíveis. Além disso, entendemos o que são variações patrimoniais através das mutações dos bens, direitos e obrigações das entidades. Vimos todos os princípios contábeis necessários para a correta escrituração na contabilidade e entendemos que essa contabilidade destina-se a estudar o conjunto patrimonial das entidades. Ainda, entendemos que o patrimônio dos sócios não se mistura com o patrimônio da empresa, e que os registros contábeis devem ser reconhecidos através da sua competência. Esses assuntos abrangeram o histórico da contabilidade, os conceitos fundamentais de contabilidade, a formação do patrimônio das entidades, as variações patrimoniais e os princípios contábeis. CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 38 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações. Disponível em:https://goo.gl/BPhtpH. Acesso em: 17 out. 2016. BUENO, S. Minidicionário da Língua Portuguesa. 2.ed. São Paulo: FTD, 2007. BUESA, N. Y. A Evolução Histórica da Contabilidade como Ramo do Conhecimento. Revista Gestão e Negócios: revista eletrônica da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque,v. 1, n. 1, 2010. Disponível em: https://goo.gl/nzqu57. Acesso em: 31 out. 2016. COUTINHO, A. S. et al. Contabilidade financeira. Rio de Janeiro: FGV, 2015. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC).Pronunciamento conceitual Básico (R1): Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Correlação às Normas Internacionais de Contabilidade “The Conceptual Framework for Financial Reporting” (IASB – BV 2011 Blue Book). Disponível em:https://goo.gl/nW7L7B. Acesso em: 17 out. 2016. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resoluções e ementas do CFC: NBCT.3 - Conc, cont., estrut. e nomenclatura demonst. contab. Disponível em: https://goo.gl/Rjqr3T. Acesso em: 17 out. 2016. IUDICIBUS, S. Dicionário de Termos de Contabilidade. 2.ed.Atlas, 2003. Escrituração Contábil e Balanço Patrimonial Prezado estudante, Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos quea compõem foram organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina. OBJETIVO GERAL Aplicação dos registros contábeis para obtenção do balanço patrimonial. OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Aplicar a escrituração contábil; • Entender a utilidade do plano de contas; • Aplicar as regras contábeis para formação do balanço patrimonial; • Elaborar um balanço patrimonial com o demonstrativo de resultado do exercício. QUESTÕES CONTEXTUAIS 1. Você sabe o que é um plano de contas? 2. Você sabe o que é um DRE (Demonstrativo de Resultado do Exercício)? 3. Você sabe a importância de fazer corretamente um lançamento contábil através do princípio da competência? 4. Você tem conhecimento da importância das informações gerenciais geradas pela contabilidade para tomada de decisão? unidade 2 CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 40 2.1 Introdução Na unidade anterior, aprendemos que a contabilidade estuda o patrimônio das entidades, e que esse patrimônio é o conjuntos de bens, direitos e obrigações em virtude as operações exercidas pela entidade, variações patrimoniais que repercutiram no resultado da entidade. Você sabia que o regime de competência é o mais adequado para os registros contábeis? E que o Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE) serve para análise do resultado das empresas? E, além disso, que o lucro ou o prejuízo apurado no Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE) vai para a conta de “Reserva de Lucros” ou para a conta de “Prejuízos Acumulados” no grupo do patrimônio líquido? Na Unidade 2, vamos estudar a escrituração contábil aplicando os princípios contábeis que resultaram nas variações patrimoniais. Assim, essas variações vão nos levar à elaboração do balanço patrimonial que irá apresentar saldo nas contas em determinado período. Vale lembrar que, em conjunto com o balanço patrimonial, será necessário elaborar a demonstração do resultado do exercício. Será com a elaboração do balanço patrimonial que o profissional de Contabilidade irá gerar informações para os gestores tomarem decisões quanto ao aspecto econômico e financeiro da entidade. Não podemos pensar que somente o balanço patrimonial irá gerar informações. É lógico que, devido à necessidade de informações de cada entidade no seu segmento econômico de atuação, a contabilidade poderá gerar outras informações através de um relatório específico para que se faça a análise. Não esqueça: o que vale é a qualidade da informação e não a quantidade. Escrituração Contábil e Balanço Patrimonial | UNIDADE 2 41 2.2 Informações Geradas pela Contabilidade O objeto da contabilidade é controlar o patrimônio das entidades. A grande finalidade da contabilidade é transformar o estudo do patrimônio e das suas mutações em informações úteis à tomada de decisão para os gestores da entidade. Portanto, as informações geradas pela contabilidade compõem as demonstrações contábeis tanto nos aspectos econômico, financeiro e físico, conforme veremos a seguir: • Informação de natureza econômica: faz referência à economia gerada pela entidade em estudo. Ou seja: parte do pressuposto de que todas as entidades são organizações independentes que têm por finalidade a geração de lucro, sendo que a contabilidade tem a função de mostrar este lucro. • Informação de natureza financeira: faz referência à geração de caixa produzido pela entidade em estudo. Isto é, a contabilidade entende que cada entidade, além de ser lucrativa, deve gerar recursos em caixa ou equivalentes, de forma que o lucro se transforme em dinheiro. • Informação de natureza física: tem a função de complementar as informações econômicas e financeiras. Ou seja: os recursos gerados nas entidades provêm de suas atividades físicas, e assim se torna possível mapear essa atividade. Desse modo, a geração das informações de natureza econômica, financeira e física para a tomada de decisão é a principal finalidade da contabilidade e pode ser considerada o núcleo da contabilidade como ciência. CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA | Sérgio Weber 42 2.3 Usuários e Finalidade das Informações Produzidas pela Contabilidade Como já foi observado, são diversas as formas da Contabilidade e as informações prestadas pela própria contabilidade. Sendo assim, também são diversos os usuários interessados nessas informações. Cabe lembrar que, em função dos vários tipos de informações, não é possível determinar, com precisão, os usuários. Apenas podemos apontar que para cada tipo de usuário existe um tipo de informação importante prestada pela Contabilidade. O CPC 00 (R1) define os usuários que terão acesso às informações das demonstrações contábeis, o que podemos ler agora: As demonstrações contábeis são elaboradas e apresentadas para usuários externos em geral, tendo em vista suas finalidades distintas e necessidades diversas. Governos, órgãos reguladores ou autoridades tributárias, por exemplo, podem determinar especificamente exigências para atender a seus próprios interesses. Essas exigências, no entanto, não devem afetar as demonstrações contábeis elaboradas segundo esta Estrutura Conceitual. (CPC 00 (R1), 2011). Assim, para cada tipo de informação contábil, podemos citar exemplos de usuários dessas informações, conforme segue: • Informações para tomada de decisão: têm por finalidade basear a gestão, servindo como material de apoio aos gestores. Usuários: administradores, diretores e executivos. • Informações para acompanhamento de resultados: servem como base de apoio sobre decisões de rentabilidade e lucratividade sobre o capital investido. Usuários: sócios e acionistas. • Informações sobre a composição financeira do patrimônio das entidades: têm a finalidade de avaliar a sua capacidade financeira. Usuários: bancos e fornecedores. • Informações sobre a geração de impostos e encargos sociais, com vista a regular a relação governo x empresa.: usuários: Poder Público em geral, nas esferas, Federal, Estadual e Municipal. Porém, conforme o Comitê de Pronunciamentos Contábeis, CPC nº 00(R1), as demonstrações contábeis objetivam fornecer informações que sejam úteis nas tomadas de decisão econômicas e avaliações por parte dos usuários em geral, não tendo o propósito de atender a finalidade ou necessidade específica de determinados grupos de usuários. Escrituração Contábil e Balanço Patrimonial | UNIDADE 2 43 2.4 Escrituração Contábil A escrituração contábil é conhecida também por outros nomes, como veremos a seguir. Muitas pessoas que não atuam na área ficam com dúvidas se existe outra contabilidade, por exemplo, quando se deparam com a expressão escrituração fiscal. Então, vamos definitivamente suprir essa dúvida. Não existe escrituração contábil, escrituração mercantil, escrituração comercial, escrituração tributária ou escrituração fiscal. Acredite: todas essas expressões querem dizer a mesma coisa. Ou seja: são escriturações contábeis. O que diferencia a expressão, nesse caso, é a legislação pertinente a essas áreas como legislação societária, legislação fiscal ou legislação tributária. A Resolução do CFC 1.330/2011 que aprova a ITG 2000 estabelece critérios e procedimentos a serem adotados pela entidade para a escrituração contábil de seus fatos patrimoniais, por meio de qualquer processo, bem como para guardar e manter documentação e arquivos contábeis. Além disso, estabelecerá responsabilidade do profissional da contabilidade. O registro da escrituração contábil deve ser em ordem cronológica e específico para cada operação da entidade. A legislação tributária permite, para determinadas empresas, a faculdade de ter escrituração simplificada como, por exemplo, as empresas enquadradas no Simples Nacional. Quando são adotadas as medidas de escrituração
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