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1 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre Emergências pediátricas Medicina – 8º semestre 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre OBJETIVOS PRINCIPAIS • Entender o conceito de coma e classificação dos estados de consciência. • Compreender a fisiopatologia do coma. • Identificar os tipos de coma com base na etiologia. • Compreender as escalas de avaliação e exame neurológico específico. • Como realizar a abordagem sistematizada e tratamento da criança em coma. CONCEITO • Coma é um estado de inconsciência no qual a pessoa não pode ser despertada. • Consciência → estado de alerta, com percepção do meio ambiente e de si mesmo. A pessoa em coma não tem a percepção do ambiente, não tem a percepção de si, e não está alerta e nem desperta. EPIDEMIOLOGIA • Emergência médica; • Intervalo entre diagnóstico e intervenção curto; tem que ser preciso e rápido. • Incidência de 30/100.000 crianças/ano para coma não traumático X 670/100.000 por trauma. • Uma das principais causas na infância é a causa infecciosa (meningoencefalite). FISIOPATOLOGIA SARA = sistema reticular ativador ascendente. Localizado nessa porção do mesencéfalo, ele começa nessa região que está marcada na imagem, se estende até a região da ponte e emite suas conexões para ambos os lados dos hemisférios cerebrais até chegar no córtex cerebral. Então é uma ampla conexão neuronal que vai desde o tronco encefálico até o córtex cerebral, emitindo assim as conexões para o córtex cerebral. No tronco está localizado o SARA que é responsável pelo estado de vigília e de consciência, de transição daquele estado de inconsciência para o despertar. ESTADOS DE CONSCIÊNCIA Esses estados de consciência podem ir mudando de acordo com o nível de gravidade. Sonolência ou letargia: é o início da alteração da consciência. O paciente consegue ser acordado com estímulos brandos, ou seja, a pessoa adormece, e ao ser chamado pelo nome, abre o olho e desperta; Estupor: estado de sonolência mais profunda em que o indivíduo precisa receber estímulos vigorosos (normalmente estímulos dolorosos) e repetidos para despertar; Delirium: desorientação, déficit de atenção, irritabilidade e alterações da percepção de estímulos sensoriais, como as alucinações visuais e auditivas. Acontece muito nos casos de intoxicação, nos estados de abstinência a drogas e álcool e nos casos que se tem condição metabólica de causar delirium, por exemplo, a encefalopatia hepática, encefalopatia metabólica de outras origens. Demência: é um quadro particular porque é a perda permanente e progressiva das funções cognitivas (vai estar relacionado com a função de memória, inteligência, funções superiores, percepção), sem alteração do estado de alerta ou nível de consciência. Pode ser de diversas causas, tem a demência senil, Alzheimer, doenças vasculares. Estado vegetativo: geralmente venceu o estado de coma e entrou em uma situação permanente em que consegue ter um padrão de sono-vigilia, muitas vezes tem a abertura ocular, e manutenção das funções vegetativas (controle da temperatura, respiração) mas com quase completa ausência de funções cognitivas e não tem interação com o meio. Então, a gente tem um tronco preservado, mas um córtex que tem as funções cognitivas prejudicadas. Coma 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre Morte encefálica: lesão encefálica irreversível, com repercussões sistêmicas sobre a homeostase de órgãos vitais, com danos permanentes estruturais focais ou difusos no encéfalo. Quando tem a morte de tronco, é só questão de tempo para esse paciente ter um quadro de parada cardiorrespiratória normalmente, mas temos algo que é irreversível porque atingiu esse centro que é responsável pela homeostase, tendo comprometimento cardiovascular, respiratório, disfunção de órgãos. A gente considera a morte do indivíduo que se apresenta com morte encefálica, tanto que o paciente com morte encefálica recebe o atestado de óbito no momento que fecha o protocolo e constata a morte encefálica, mesmo que venha desligar o respirador horas depois. ETIOLOGIA ALTERAÇÕES SIMÉTRICAS E NÃO ESTRUTURAIS Alterações simétricas e não estruturais que costumam ser de origem, principalmente, metabólica, infecciosa, intoxicações. São não estruturais, porque não tem lesão nem danos específicos dos hemisférios cerebrais com efeito de massa ou dano local nos hemisférios. • Intoxicações: chumbo, metanol, monóxido de carbono. • Drogas: álcool, sedativos, barbitúricos, anfetaminas. • Metabólicas: hipo e hipernatremia, hipo ou hipercalcemia, hipo ou hiperglicemia, hipóxia, hipercapnia, uremia, encefalopatia hepática, hipo ou hipertermia. Todos aqueles estados metabólicos que podem gerar uma depressão à nível da progressão do sistema reticular ascendente, da transmissão dessas captações neuronais. • Infecções: meningites e meningoencefalites. São as causas mais comuns nas crianças. • Quadros psiquiátricos: mais raro na criança. CAUSAS ACIDENTAIS E OUTRAS CAUSAS METABÓLICAS Causas acidentais: trauma encefálico, afogamento, aspiração corpo estranho, PCR. Outras causas metabólicas: causa importante na infância, principalmente naquelas crianças que são previamente hígidas, que nunca aconteceu nada e de repente começa a deprimir os níveis de consciência e entra em coma. Isso é típico dos erros inatos do metabolismo como, aminoacidemia, hiperamonemia, porfiria, crise addisoniana (crise da insuficiência adrenal), hipotireoidismo. ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS, SIMÉTRICAS E FOCAIS Alterações estruturais são aquelas que afetam a nível de anatomia do SN. As alterações estruturais podem ser simétricas e focais ou não simétricas. As alterações simétricas são divididas em supratentoriais bilaterais (oclusões carotídeas e cerebral anteriores, hemorragia subaracnóidea, hidrocefalia) e infratentoriais bilaterais (tumor de ponte, hemorragia pontina e oclusão de basilares). Obs: quando tem o comprometimento do 3º ventrículo para cima pode ter lesão supratentorial bilateral. Relembrando: o que faz a diferenciação do supratentorial e infratentorial é ser acima ou abaixo da região mesencefálica, do teto do cerebelo. Onde tem o corte azul é basicamente o teto do mesencéfalo. Acima disso é supratentorial e abaixo é infratentorial (cerebelo, tronco e a medula). 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre O mais comum sem ser a hemorragia subaracnóide são as lesões focais e assimétricas, mais do que as simétricas. ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS, ASSIMÉTRICAS E FOCAIS Supratentoriais: tumores hemisféricos, sangramento parenquimatoso ou então subdural. Infratentoriais: hemorragia em tronco e infarto de tronco que se pode ter só de um lado. É muito mais comum ter algo mais focal e assimétrico. AVALIAÇÃO Um dos pilares do tratamento do coma, além do suporte para o paciente é identificar logo a causa, porque é preciso tirá-lo do coma. Então independente da etiologia, tem que fazer: • Avaliação primária: ABCDE, monitor cardíaco, oximetria de pulso; • Avaliação secundária: histórico com anamnese detalhada, exame físico especifico; • Avaliação terciária: exames laboratoriais, exames de imagem. Coleta de exames laboratoriais e de imagem, muitas vezes, são essenciais na identificação da etiologia do coma, então a avaliação terciária tem o papel muito importante porque ela vai ser um dos pilares de apoio. D – DISFUNÇÃO A primeira coisa a ser feita é ver como está a disfunção neurológica desse paciente. • Avaliações convencionais: ❖ Escala de resposta pediátrica – AVDN – alerta, verbal, a dor ou não responde;❖ Escala de coma de Glasgow; ❖ Resposta das pupilas à luz. Lembrando que no lactente a resposta verbal é diferente porque o paciente não fala. Então, avalia-se o choro, se é um choro consolado ou não, contato ocular verbal com a gente. Quando o lactente não responde, não chora, significa que ele está com resposta ausente. NOVA CLASSIFICAÇÃO GLASGOW Ler a tabela! Nessa nova classificação tem também alteração da reativação pupilar. Unilateral → -1; inexistente → -2. Quanto a abertura ocular, a escala é a mesma. Uma observação quanto a resposta motora é que a resposta extensora é sempre pior porque o paciente terá uma descerebração. Enquanto que a nível de flexão só se tem comprometimento cortical, na extensão já tem comprometimento na região infratentorial, região mesocefálica. Glasgow 13-15 → leve, normalmente associado a trauma. 9-12 → moderado. 3-8 → grave. 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre ESCALA DE COMA DE GLASGOW – EXTRA • A ECG é calculada subtraindo o Escore de reatividade da Pupila (PRS) da pontuação total da Escala de Coma de Glasgow. • Escala de Coma de Glasgow com avaliação pupilar é ECG – P = ECG – PRS. EXEMPLO: Indivíduo de 26 anos, sexo M, é admitido no pronto- socorro após acidente automobilístico (moto vs. caminhão). O mesmo era o condutor da motocicleta e foi socorrido pela equipe de atendimento pré- hospitalar móvel a serviço da concessionaria responsável pela rodovia estadual. O motociclista é admito realizando abertura ocular a comando de voz (O3) resposta verbal confusa (V4) e resposta motora caracterizando-se por localização de dor (M5). Descrevemos a pontuação da GCS deste paciente da seguinte maneira: O3V4M5. Logo, totalizamos um escore de 12 pontos. Ao associarmos a avaliação pupilar, o exame será realizado buscando encontrar alterações. No caso acima exposto, imagine que somente uma das pupilas reage ao teste fotossensível. Logo a pontuação para esse cliente será de 01 ponto. Seguindo o cálculo de GCS-p = Escala de Coma de Glasgow – Pontuação da avaliação pupilar temos: ECG 11. EXAME NEUROLÓGICO ESPECÍFICO Quando o paciente começa a denotar uma resposta de tronco comprometida e que se vai abrir, por exemplo, o protocolo de morte encefálica. Exemplo: o paciente está arresponsivo, ECG de 3, não tem resposta nenhuma, a pupila é midriática, médio- fixa, não reage a luz → começar a suspeitar que o paciente está evoluindo para morte cefálica e o médico abrirá o protocolo. Um dos testes utilizados é o teste de resposta oculocefálica e oculovestibular. Oculocefálico (primeira linha) - “olhos de boneca”: o que ocorre é que quando temos um reflexo oculocefálico normal, ao virar a cabeça pra um lado o paciente olha para o outro lado (caso da foto do meio), em que o paciente virou a cabeça para a direita e virou o olho para a esquerda. Quando se tem um reflexo oculocefálico comprometido perde- se isso e tem-se um tronco que não está mais responsivo (esses reflexos estão a nível de tronco). “Olhos de boneca” significa que o olho acompanha o movimento da cabeça do paciente. Prova calórica - reflexo oculovestibular: avaliar o ouvido, ver se não tem nenhuma rolha de cerúmen. Injeta um líquido, normalmente frio, e o paciente tende a mover a região do olho para o lado que se está injetando a temperatura. A resposta assimétrica é ruim porque pode identificar a compressão de algum lado, comprometendo o reflexo. Ausência de movimentação ocular para o lado do estímulo é ruim também porque indica que o reflexo está comprometido a nível de tronco. Reflexo córneo- palpebral: encostar algodão molhado ou gaze na margem da córnea. É outro reflexo de tronco. Ao realizar o estímulo, o paciente vai piscar. Esse reflexo, geralmente, é bilateral, se você fizer de um lado ele pisca dos dois lados. Também pode indicar o comprometimento de um dos nervos, o facial (no fechamento) e trigêmeo, assim como o reflexo consensual pupilar. Por isso é importante ser bilateral. 6 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre AVALIAÇÃO PUPILAR Outra avaliação importante nessa avaliação do coma, em relação ao exame neurológico especifico (lembrar que já foi feita a avaliação inicial e agora tem que aprofundar o diagnóstico e tentar identificar onde está essa lesão neurológica) é a avaliação pupilar. Isocóricas e fotorreagentes: pupilas normais. Pupilas mióticas: normalmente podem denotar lesão do SNC (principalmente a nível de ponte) ou uso abusivo de drogas (toxinas) – diazepínicos, opióides. Pupilas midriáticas: podem evidenciar uma anóxia, hipóxia severa, inconsciência, estado de choque, parada cardíaca, TCE. Então um paciente que evolui com morte pós parada ele vai ter uma pupila midriática que não responde e aí se ele evoluir para morte cefálica teremos o que chamamos de pupila médio-fixa (fica na posição dilatada e não responde a luz). Além disso, outras condições metabólicas podem ter pupila midriática, por exemplo, anticolinérgico e as situações, de modo geral, que levam a aumento do tônus adrenérgico (intoxicações por drogas adrenérgicas – cocaína, anfetaminas), anti-histamínico. Anisocoria: normalmente, vai refletir condições de risco de herniação e condições de lesão unilateral, então, por exemplo, um AVC, TCE, trauma com hemorragia, tumor, massa em expansão. Lembrar: no exame neurológico específico é importante fazer a avaliação motora: tônus (hipertônico ou hipotônico), postura (hiperflexia, adonia), ver os reflexos, fazer estimulação física da dor, ver força. Na criança, o mais utilizado é a pressão nas extremidades dos dedos, no leito ungueal. Não se usa muito a supraorbitária ou de trapézio. POSTURA DE DESCEREBRAÇÃO X DESCORTICAÇÃO Em relação a postura, quando se tem uma resposta motora em que se tenha uma resposta flexora (imagem da direita), representa descorticação; a lesão está localizada acima do núcleo rubro, a nível de mesencéfalo, entre córtex e núcleo rubro. É uma lesão ainda superior e que não gerou uma lesão a nível de ponte. Quando se tem uma lesão que lese o trato rubroespinal, aí se tem uma resposta extensora, pois vai predominar o trato vestíbuloespinal nessa situação. É uma lesão mais baixa a nível de ponte, sendo essa (descerebração) pior, pois se sabe que quanto mais baixo o ponto no tronco encefálico, mais grave é a lesão. Resposta flexora → descorticação. Resposta extensora → descerebração. SÍNDROMES NO COMA HERNIAÇÃO TRANSTENTORIAL • Lesão cerebral expansiva com aumento rápido da PIC; • Tríade de Cushing = Hipertensão, Bradicardia e Bradipneia; 7 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre • Postura decerebração ou descorticação; • Respiração periódica; • Anisocoria. Observando a imagem, tem a tenda do cerebelo, e percebe-se um efeito de massa que vai comprimir essa região, provocando uma herniação a nível de uncus, podendo ser unilateral. O paciente começa a ter aumento da pressão intracraniana, com aqueles sinais da Tríade de Cushing, pode ter postura de decerebração ou descorticação, depende de onde está comprimindo. A respiração de Cheyne-Stokes também pode estar presente, aquela que sobe e desce. A anisocoria pode estar presente porque vai ter comprometimento de um local a nível de reflexo oculomotor. A herniação uncal acontece quando ela pega a região lateral. Quando ela está no meio tem a herniação central; geralmente essa lesão central é pior porque ela pode comprometer até a ponte, dando aquela clínica de decerebração. Uma preocupação muito grande é a herniação a nível de forame magno (localizado na divisão entre o bulbo e a medula); se o tronco cerebral passar pelo forame magno, o paciente parade respirar e tem uma parada cardíaca. ENCEFALOPATIA METABÓLICA • Oscilação do nível de consciência (delirium); • Hipotonia; • Alteração dos reflexos, mioclonus. É muito comum o paciente ter hipotonia global. INTOXICAÇÕES • Apresentação clínica depende do tipo de intoxicação. Ler a tabela. RFM = reflexo fotomotor. Hiperatividade adrenérgica: ansiedade/sudorese/aumento da FC e PA; midríase/IAM, AVE, arritmias; Graves: hipertermia, rabdomiólise, convulsão. Ex: anfetaminas (comum em adultos), cocaína, ergot, levotiroxina. Midríase; Anticolinérgica: simula uma hiperatividade adrenérgica, a diferença é que tem algumas pistas, pois o paciente tem a pele quente e avermelhada, boca seca, bochechas rosadas, retenção urinária, pode ter parada dos movimentos peristálticos. Grave: convulsões. Midríase. Ex. anti-histamínicos, anti-parkinsonianos, antidepressivos tricíclicos. Hipoatividade: está muito relacionada ao abuso de álcool, benzodiazepínicos. É um paciente que fica totalmente largado, hipotônico, pode ter bradipneia, bradicardia, pode reter CO2 e fazer hipercapnia, pois se tem uma depressão do centro respiratório. A pupila muito miótica é sinal de intoxicação por opioides ou por benzodiazepínicos. Quando se vê um paciente miótico, muito hipotônico, largado, é preciso entrar com os antídotos. O Naloxone vai ser o antídoto do opioide e o Flumazenil vai ser o antídoto do benzodiazepínico. Colinérgico: bradicardia, miose, diarreia, vômitos, depressão de consciência e a nível cardiovascular e respiratório. O que chama atenção é a salivação, a broncorreia; é aí que entra o chumbinho. AVALIAÇÃO TERCIÁRIA • Exames Laboratoriais: gasometria arterial ou venosa, hemograma, glicemia, eletrólitos, função renal, função hepática, sumário de urina e culturas. • Exames de imagem: TC de crânio ou RNM de crânio. • Exames específicos: líquor após TC, toxicológico sérico e urina, dosagem de amônia. EEG (quadro convulsivo). É extremamente importante a avaliação terciária, principalmente quando não se consegue identificar um padrão logo de imediato pela história clínica. É importante nos exames laboratoriais ver a possibilidade de infecções se o paciente tiver febre, 8 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre podendo ser então um quadro de meningite, por exemplo. Antes de colher o líquor, é preciso realizar uma TC ou RNM (depende da disponibilidade e do quadro do paciente) porque pode ter algum edema cerebral, então é necessário exames de imagem antes. Na criança se faz muito a dosagem de amônia, justamente por conta do erro inato (ver o lactato sérico com pH também ajuda), porque os defeitos dos aminoácidos e metabólicos podem dar uma acidose, um aumento de amônia, sendo importante. PILARES DO TRATAMENTO • Avaliação e estabilização imediata. • Avaliar a profundidade do coma. • Identificar local da lesão e pistas da etiologia. • Tratamento com medidas gerais e específicas. *Em casos que a história clínica não oferece pistas da etiologia, faz-se a avaliação terciária. ALGORITMO DO TRATAMENTO Identificar nos primeiros 10s se o paciente está em parada. Se não tiver em parada, partir para o ABCDE. *Pode colocar a cânula de Guedel, já que o paciente está comatoso. Dependendo da oxigenação dele, faz- se oxigenação ou ventilação. Se for trauma, deve-se estabilizar a cervical. Se tiver sinais de choque começa expandir. Iniciar benzodiazepínico se convulsão. Se glicemia capilar <60 PUSH 2mlkg glicose 10% ou 25%. Avaliar o grau de profundidade do coma: se ECG menor ou igual a 8, ou seja, menor que 9, é preciso intubar o paciente, assim como se o paciente estiver em falência cardiorespiratória. EMPÍRICO O tratamento empírico já é feito pensando na etiologia. Se existe um quadro com febre, vômito e possivelmente um quadro infeccioso, trata como uma meningoencefalite. Além do ceftriaxone, como tem um quadro de coma, uma das causas muito importantes é a herpes, precisa entrar com aciclovir associado ao ceftriaxone pela suspeita de meningoencefalite herpética, que é uma causa de coma importante na criança. Se tem uma suspeita de coma, agudo, sem etiologia, a criança foi encontrada desacordada, será que pode ser intoxicação? É importante conversar com a família, procurar saber se a família identificou alguma medicação ou não, podendo ter os antídotos: naloxone e flumazenil; pode-se usar os dois e ver se o paciente responde (lembrar de colher o perfil toxicológico). Se o paciente tem um quadro de trauma, está anisocórico, é uma suspeita de herniação. Paciente está bradicardizando, hipertenso, tem sinal de hipertensão intracraniana: realiza manitol ou solução salina hipertônica. Os corticoides podem ajudar nos casos de edema cerebral e tumor, podendo diminuir a resposta inflamatória desse edema, principalmente a nível de tumores e infecções como abscessos. *O problema da herpes na criança é a meningoencefalite. Tanto o vírus da varicela-zóster como o vírus da herpes, são vírus que tem trofismo pelo SNC. Herpes labial não é visto muito em crianças. Na meningoencefalite uma das condições 9 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre vista com bastante frequência é a convulsão a nível de região temporal. Então, se tem uma suspeita de meningoencefalite herpética, sempre é solicitado um eletro; se faz a RNM, colhe líquor, faz sorologia no líquor para herpes e um EEG. O que vai fechar mesmo o diagnóstico é a sorologia. CASOS CLÍNICOS CASO CLÍNICO 1 Paciente de 4 anos, 25kg, há 2dias com febre alta, evoluiu com cefaleia, vômitos e sonolência. Deu entrada na emergência com rebaixamento do sensório, no colo do pai. Ao exame: Regular estado geral, sem abertura ocular, sem resposta verbal, apresentando retirada em flexão a dor localizada. • FC 180bpm FR 45ipm, temperatura 40ºC, SAtO2 94% PA 85x50mmHg. HGT 90. • AR: MV+ bilateral sem RA. • ACV: BRNF 2T sem sopros. • SN: Pupilas isofotorreagentes, rigidez de nuca. • Ext: Pés frios, TEC 5 seg, Pulsos periféricos fliformes. Questão 1: Qual o diagnóstico do paciente? a) Estupor. b) Delirium. c) Coma. d) Estado vegetativo. e) Suspeita de morte encefálica. Questão 2: Qual a sua conduta inicial? a) Abrir via aérea, oxigenioterapia, ventilação manual com BVM, hidratação venosa. b) Abrir via aérea, oxigenioterapia, hidratação venosa, antibioticoterapia. c) Abrir via aérea, intubação, antibioticoterapia. d) Abrir via aérea, oxigenioterapia, ventilação manual com BVM, intubação, hidratação venosa e antibioticoterapia. Questão 3: Qual a sua suspeita clínica e avaliação terciária? a) Meningite Viral: hemograma, PCR, HMC, Líquor. b) Meningite Bacteriana: hemograma, PCR, HMC, TC de crânio, Líquor. c) Intoxicação Exógena: exame toxicológico. d) Mal convulsivo: EEG, TC de crânio. e) Sepse grave secundária a Meningite Bacteriana: Gasometria, hemograma, PCR, HMC, TC de crânio, Líquor. CASO CLÍNICO 2 Paciente de 2 anos, sexo feminino, com história de ter sido encontrada pelos pais há alguns minutos desmaiada, pálida e sudoréica, sendo chamado o SAMU. Vocês são a equipe de plantão e ao chegar na residência vão avaliar a paciente: Questão 1: Quais os primeiros passos na ordem cronológica do atendimento ao chegar na residência? a) Avaliar o cenário, testar responsividade, checar respiração, cor e pulso. b) Coletar a história (avaliação secundária), testar responsividade, checar respiração, cor e pulso. c) Testar responsividade, checar respiração, cor, pulso e avaliar o cenário. d) Avaliar o cenário, instalar o DEA, testar responsividade, checar respiração, cor e pulso. Ao exame: Regular estado geral, sem abertura ocular, sem resposta verbal, localiza o estímulo doloroso, pulsoscentrais presentes. FC 67bpm FR 20ipm SAtO2 88% PA 70x50mmHg HGT 75. • AR: MV+ bilateral sem RA, ritmo irregular da respiração. • ACV: BRNF 2T sem sopros. • SN: Pupilas mióticas, RFM +, ausência de rigidez de nuca. • Ext: Pés frios, TEC 5 seg, Pulsos periféricos fliformes. Questão 2: Qual o diagnóstico do paciente? a) Estupor. b) Coma. c) Delirium. d) Síncope. e) Choque neurogênico. Questão 3: Qual a provável etiologia? a) Meningoencefalite. b) Mal convulsivo. c) Bradiarritmia. 10 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre d) Hipoglicemia. e) Intoxicação exógena. 4. Além das medidas iniciais do ABCDE, qual o tratamento específico pro caso? a) Antibiótico e aciclovir EV. b) Diazepam ou Midazolam. c) Atropina e posterior marcapasso. d) Bolus de glicose 25%. e) Naloxona. 11 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre OBJETIVOS PRINCIPAIS • Entender o conceito de mal convulsivo. • Compreender os mecanismos fisiopatológicos. • Identificar os principais fatores etiológicos. • Compreender como realiza a investigação diagnóstica. • Como realizar a abordagem sistematizada e tratamento da criança em mal convulsivo. CONCEITO • Crise epiléptica contínua com duração superior a 30 minutos ou 2 ou mais crises sequenciais sem recuperação da consciência entre elas. Esse conceito caiu por terra com as últimas recomendações do ILAE (Instituto Latino-americano de Epilepsia), pois ele define que paciente com quadro convulsivo já acima de 5 minutos, ele precisa ser considerado como um mal epiléptico, para nível de intervenção e tratamento. • Para efeito de intervenção e tratamento → 5 a 10 minutos. *Obs.: menores de 5 anos, considerar 10 minutos e acima de 5 anos = 5 minutos. Quando se tem menores de 5 anos, ainda existe na literatura considerar até 10 minutos, mas no geral se faz a intervenção como estado de mal epiléptico acima de 5 minutos. É importante entender os tempos. O tempo 1 (T1) é quando o paciente entra em convulsão, sendo que os mecanismos deflagradores (hiperexcitatórios e inibitórios) precisam atuar. Quando ele ultrapassa esse tempo 1, os mecanismos já vão sendo extinguidos e o paciente já entra nesse estágio de mal epiléptico. O tempo 2 (T2) é quando se tem a chance de se ter um comprometimento grave e refratário a nível encefálico. No estado generalizado, esse T1 é com 5 minutos; crises focais T1 com 10 minutos; ausência T1 com 10 a 15 minutos. Logicamente que com 5 minutos até esse tempo T2 já se pode ter neurônios que estão queimando, por isso que é importante intervir o quanto antes, pois vai se estar salvando tecido cerebral. • Crises subclínicas → crises reconhecidas apenas pelo EEG. Acontece muito em pacientes com doenças prévias, que sofreram uma história pregressa de anóxia, que tem encefalopatia anóxica. • Muito comum nas encefalopatias hipóxico- isquêmicas; • EME refratário → duração superior a 2 horas. Atualmente o que se tem discutido é que naquele tempo T2 já se começa a entrar naquele estágio de refratariedade. Considera-se que em 30 minutos provavelmente o paciente já vai ter refratariedade. O EME super-refratário é aquele cuja crise epiléptica tem duração superior a 24 horas após o início dos fármacos anestésicos, incluindo os casos em que há recorrência do EME durante a retirada ou suspensão da anestesia. • EME febril é o mais frequente e as encefalites virais a forma sintomática mais comum. A febril tem uma faixa etária específica de 6 meses a 6 anos. As encefalites virais são as que são chamadas de sintomáticas, ou seja, existe uma causa base estrutural causando aquele dano no cérebro. PS. Nas crianças com epilepsia previamente diagnosticadas, malformações cerebrais representam a etiologia remota mais comum no EME. EPIDEMIOLOGIA • Emergência neurológica mais comum na infância, ocorrendo em 40% dos casos nos primeiros dois anos de vida. • Em 12% dos casos, o EME é a primeira manifestação da epilepsia na infância. Estado de mal epiléptico em crianças 12 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre • Requer pronto e imediato reconhecimento e intervenção; • Incidência 10 a 58/100.000 crianças/ano entre 1 e 19 anos; • 40% em menores de 2 anos. Causas criptogênicas = maiores. Pode acontecer em menores de 2 anos, abrindo um quadro de epilepsia com mal epiléptico. • Pacientes com epilepsia → 9 a 27%. Apresentação da epilepsia em 12% dos casos. Mortalidade 3 a 9%. • Nas causas criptogênicas (sem causa definida), nesses pequenos, quando ela acontece com mal epiléptico, pode a epilepsia abrir como caso de mau epiléptico. FATORES DE RISCO Fatores de risco para o paciente evoluir com o mal epiléptico: • Epilepsia (10-20% desenvolvem): tem uma hereditariedade, ou seja, história de epilepsia na família, convulsão na família. • Anormalidades focais no EEG. • Crise focal com generalização secundária: paciente começa com crise focal e vai generalizar. • Ocorrência de mal epiléptico como primeira apresentação da patologia: se já teve uma vez, pode acabar repetindo. • Alterações generalizadas na neuroimagem: ex: paciente com encefalopatia e tem uma hidrocefalia, lesão anóxica, por exemplo. • Níveis baixos de AC contribuem em 1/3 dos pacientes: má adesão - questão socioeconômica ou cultural-, vômitos ou má absorção, uso de outras drogas. FISIOPATOLOGIA Falha nos mecanismos de controle da reincidência ou generalização das crises: excitabilidade neuronal aumentada e inibição neuronal reduzida. Os neurotransmissores excitatórios são responsáveis pela excitação (glutamato – principal neurotransmissor excitatório de aminoácidos no cérebro, acetilcolina, aspartato). Os neurotransmissores inibitórios são gaba – principal neurotransmissor inibitório no cerébro e NMDA. CLASSIFICAÇÃO • Tipo de crise: focal ou generalizada. • Perda de consciência: simples ou complexa. • Etiologia: sintomática – possui uma causa específica (aguda, remota ou progressiva). Idiopática ou criptogênica – quando não há causa. O ILAE tem trazido a crise simples ou complexa como com perda da consciência ou sem perda da consciência. Na complexa, o paciente não tem consciência (durante a crise, apenas) do que está acontecendo e normalmente a crise focal pode vir a se tornar uma crise generalizada e sem consciência. ETIOLOGIA As crises febris (não é crise sintomática, porque o paciente não tem lesão, não tem doença, não tem nada no SNC, tem apenas uma predisposição a convulsionar na vigência de febre, normalmente na faixa de 6 meses a 6 anos. Tem história na família. Teve associação com o pico de febre) ocorrem em 30% dos casos, é a causa mais comum na infância. Nos outros 1/3 estão as crises sintomáticas dos quais as infecções são causas comuns (meningoencefalites), hipóxia, quadros metabólicos como distúrbios da glicose ou outros, trauma, vasculares, tumor, ou seja, há um motivo para o paciente apresentar esse mal epiléptico. As sintomáticas remotas aconteceram no passado e o paciente ficou com sequelas, paciente prematuro, que nasceu anoxiado e ficou com sequela, é um paciente com paralisia cerebral, com malformação, ou seja, das sintomáticas, 1/3 são causadas pelas causas remotas (isquemia perinatal, malformações ...). Pode ter lesão do SNC que seja progressiva, uma 13 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre doença desmielinizante, uma doença degenerativa, são as causas sintomáticas progressivas (o paciente piora progressivamente). Criptogênicas (15%). Os pacientes das crisesfebris nem ficarão internados. Se for no primeiro episódio ele ficará internado por conta da febre apenas. Obs. As principais causas de EME na infância são os quadros febris, suspensão abrupta de fármacos antiepilépticos, falta de adesão ao tratamento e baixos níveis séricos em pacientes previamente diagnosticados. No EME febril as crises raramente remitem espontaneamente, sendo indicada uma abordagem medicamentosa com FAE precoce. Focal sem perda de consciência: Simples e focal: está mexendo o braço, por exemplo, mas tem consciência. Focal com perda de consciência: Complexa e focal. Mal epiléptico não convulsivo. O paciente está inconsciente e mexendo o braço ou o olho, por exemplo. Generalizada tônico clônica: sempre associada a perda de consciência. Crise de ausência: generalizada, alteração no despertar. Perda de consciência, não tem convulsão, não tem tônus, clônus. O mesmo paciente pode apresentar diferentes crises, depende muito do que ele tem por trás. Por exemplo, um paciente com doença sintomática remota com sequela do SNC, normalmente eles apresentam vários padrões de crise, mas em geral apresenta uma crise predominante. Um paciente muito agudo, com uma meningoencefalite, por exemplo, possui um padrão, que normalmente é a tônico-clônico generalizada. Os quadros focais normalmente estão relacionados a essas sequelas. LEMBRETE: • ¨Convulsiva¨: manifestações motoras evidentes e exuberantes. • ¨Não convulsiva¨: ausência de manifestações motoras ou manifestações motoras discretas. COMPLICAÇÕES • Acidemia: vai ter uma hipóxia, vai estar aumentando o metabolismo. • Alteração no mecanismo da glicose: pode ter hipoglicemia como consequência, pode ter rabdomiólise. • Distúrbios pressóricos. • Aumento da PIC: aumenta o fluxo cerebral. Quanto maior o tempo que o paciente fica convulsionando, maior é a chance de complicações. PILARES DO TRATAMENTO • Determinação clínica da etiologia da crise. • Exames primários de investigação (terciária). • Medidas gerais de tratamento. • Medidas farmacológicas. Tudo caminha lado a lado, enquanto tratamos o paciente com as medidas gerais, de suporte e farmacológicas, investiga-se a causa e tenta entender qual o motivo da convulsão. DETERMINAÇÃO DA ETIOLOGIA • Exame neurológico sucinto: ❖ Escala AVDN. ❖ Avaliação das pupilas. ❖ Déficits focais e sinais meníngeos. Quando o paciente estabilizar o quadro convulsivo fazemos a avaliação de sinal focal ou de sinal meníngeo. Às vezes, num quadro convulsivo não é possível reconhecer naquele momento da convulsão. • Coleta de informações: ❖ História prévia de epilepsia, interrupção ou uso irregular de AE, histórico de TCE, suspeita de distúrbio metabólico, infecção ou intoxicação. 14 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre AVALIAÇÃO TERCIÁRIA • Exames laboratoriais: Hemograma, glicemia, eletrólitos, função renal, função hepática, culturas. • Exames de imagem: TC de crânio ou RNM de crânio. • Exames específicos: Líquor após estabilização, toxicológico sérico e urina, nível sérico anticonvulsivante (toma a medicação, mas o nível sérico pode não estar adequado). EEG. É importante ver áreas com efeito de massa, tumores. Fazer RNM para avaliar doenças desmielinizantes que aparecem como lesões focais, ou desmielinizantes a nível de substância branca. Avaliar hidrocefalia, edema cerebral, quase não são vistas as circunvoluções nesse caso. As imagens são muito importantes tanto no coma como no estado de mal epiléptico, para avaliar não apenas a complicação de um edema cerebral, de uma hipertensão intracraniana, mas também para avaliar etiologia. ALGORITMO DO TRATAMENTO O tratamento de suporte é o ABCDE, acesso, hidratação, oxigenioterapia, e a primeira linha de tratamento é o benzodiazepínico, é o que fará diferença de imediato no paciente após reconhecer a convulsão. Lembrar da glicemia capilar sempre. MEDIDAS GERAIS • Leito: Leito ou maca com proteção lateral. • Proteção de via aérea: Cânula orofaríngea. • Monitorizar sinais vitais: FC, FR, PA, temperatura. Esse paciente precisa ser protegido, uma vez que, ele pode cair, pode se machucar. Coloca a máscara de O2 depois da guedel se percebemos que esse paciente está com queda de saturação ou hipóxia, palidez. TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS • Utilizar sempre leito ou maca com proteção lateral a fim de evitar quedas e acidentes. • Se necessário, introduzir cânula orofaríngea entre os dentes para prevenir laceração da língua e aspirar a boca frequentemente para reduzir o risco de pneumonia aspirativa. • Monitorização frequente dos principais sinais vitais: frequência cardíaca, frequência respiratória, pressão arterial e temperatura. • Manter vias aéreas desobstruídas e, se necessário, administrar oxigênio sob máscara com fluxo de 2 a 3 litros/ minuto. • Obter acesso venoso, evitando acesso central caso as manifestações motoras do EME sejam exacerbadas, devido ao risco elevado de pneumotórax iatrogênico. FARMACOLÓGICO 1º LINHA: O tratamento pode ser venoso, quando já se tem o acesso (Diazepam ou midazolam). Caso não se 15 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre consiga o acesso venoso, na criança utilizamos bastante o Diazepam retal (dose um pouco maior), midazolam nasal, IM também. Só não pode fazer Diazepam IM, porque ele possui absorção errática a nível de músculo, porque ele é lipofílico, logo, só deve ser ou venoso ou retal. • Sem acesso venoso: Diazepam retal; midazolam oral; midazolam nasal; midazolam intramuscular. Dose adicional pode ser administrada após 5 minutos. • Com acesso venoso: Diazepam; midazolam. Dose adicional pode ser administrada após 5 minutos. Pode repetir o midazolam por mais duas vezes. Quem segura a crise é o anticonvulsivante (fenitoína ou fenobarbital ou valproato), todos eles não correm em bolus, apenas o Diazepam. Tanto a fenitoína quanto o fenobarbital são utilizados lento, em 20min, correndo a nível de bureta ou BIC. SEGUNDA LINHA: • Fenitoína; fenobarbital; valproato de sódio. Então, fez o Diazepam, faz a 2º linha (pode dar as duas medicações, inclusive, fenitoína e fenobarbital caso não responda a uma delas, pode acrescentar a outra). Se o paciente está refratário a tudo isso, normalmente, já está entrando num estado de mal epiléptico refratário, partimos para 3ª linha de tratamento. Quanto a escolha, usa-se normalmente a fenitoína, a não ser que seja RN, neles, utilizamos o fenobarbital como escolha. O valproato venoso não tem no Brasil. TERCEIRA LINHA: • A partir deste momento o atendimento deve ser realizado preferencialmente em unidades de terapia intensiva e sob monitorização eletrográfica contínua. • Midazolam, tiopental, pentobarbital, propofol, quetamina, lidocaína, Essas são as drogas venosas contínuas (é uma forma de anestesiar o paciente, então, intuba o paciente, seda continuamente e anestesia). Vejam que o algoritmo não é diferente do adulto, é mais ou menos o mesmo padrão, mudando um pouco a dose. A resposta a droga é a melhora clínica, então o paciente recebeu diazepam, passou um tempo, voltou a convulsionar ou não melhorou a crise, repete o benzodiazepínico, não melhorou, parte para fenitoína, não melhorou, associou o fenobarbital, não melhorou, terceira linha Logo, passa para próxima etapa com a não resposta ao tratamento. Espera 3-5min para repetir a segunda dose do benzo caso não haja melhora com uma única dose, caso não melhore, passa para segunda linha, ou o paciente melhora a crise e não recupera a consciência ou ele pode continuar com a mesma convulsão, as duas formas são indícios da não melhora. Às vezes, chamamos de crises reentrantes, o paciente convulsiona ou direto ounem recobre o nível de consciência, entra numa crise, melhora um pouco, entra em outra. Então, um intervalo de 3- 5min entre uma crise e outra, repete a droga. A fenitoína não é repetida em 5min porque ela corre em 20min, então, espera-se 20min. Imagine que se fez Diazepam, depois de 3-5min repete, só aí temos um tempo de 5min, usamos a fenitoína por 20min, nessa soma, já está dando 25min, depois dá outra droga, que é o fenobarbital, aí já passou de 30min, já está realmente na refratariedade, entrando então, na terceira linha. Observação: os pacientes com crises não convulsivas normalmente piscam um olho, mexe um pouco o dedo, perde consciência, é algo bem discreto. Às vezes só o EEG para poder ajudar ou ele pode ter também manifestações cardiovasculares (taquicardia, cai saturação, pupila midriática, sonolência). Não tem crise tônico-clônica clara. Os benzodiazepínicos agem a nível de receptor gabaérgico, ele inibe no local da seta, se liga ao receptor gaba, favorecendo o processo inibitório, a entrada de cloro a nível celular, para fazer a ação 16 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre de bloquear a ação excitatória dos receptores excitatórios (glutamato, entre outros). • Estágio 1 (estado de mal epiléptico precoce): benzodiazepínicos. • Estágio 2 (estado de mal epiléptico estabelecido): se a crise permanente mesmo após a utilização dos benzodiazepínicos: FAE específicos, incluindo fenitoína, fenobarbital e valproato de sódio. • Estágio 3 (estado de mal epiléptico refratário): se as crises persistem ao uso destes medicamentos por mais de 2 horas. As sequelas neurológicas da SE incluem déficits motores focais, retardo mental, distúrbios comportamentais e epilepsia crônica. CONCLUSÕES • Para o cérebro cada minuto vale ouro (quanto mais tempo demora, mais tem lesão). • Medidas rápidas e assertivas. • Causas e consequências. O EME corresponde a uma das principais e mais frequentes emergências no pronto-atendimento pediátrico. Deste modo, protocolos clínicos devem ser utilizados de forma rotineira nestes setores com o intuito de padronizar o atendimento e reduzir a morbidade neurológica e mortalidade. CASOS CLÍNICOS CASO CLÍNICO 1 Paciente de 7 meses deu entrada na emergência com história de febre alta há 48h evoluindo com vômitos, recusa alimentar e hipoatividade nas últimas 24h. Nascido de parto termo, normal sem intercorrências Nega patologias prévias Ao recepcionar o paciente o mesmo encontra-se regular estado geral, hipoativo, sonolento, com abertura ocular apenas ao ser chamado. FC 160 bpm, FR 40 ipm, Temp 38,5ºC, SAtO2 96%, PA 90X60mmHg. HGT 65 • AR: MV+ bilateral sem RA • ACV: BRNF 2T sem sopros • SN: Pupilas isofotorreagentes, fontanela anterior levemente abaulada • Ext: Pés frios, TEC 5seg, Pulsos periféricos fliformes. Recusa alimentar e hipoatividade são sinas de alarme! Fontanela anterior abaulada indica má perfusão. Diagnóstico sindrômico: desidratação, choque (hipovolêmico, séptico), infecção do SNC. Questão 1: Quais os primeiros passos a serem realizados? a) Abrir via aérea, oxigenioterapia, acesso venoso, expansão volêmica com 20ml/kg de cristaloide. b) Abrir via aérea, oxigenioterapia, punção liquórica e antibioticoterapia. c) Abrir via aérea, ventilação com ambu, acesso venoso e expansão volêmica com 20ml/kg de cristaloide. d) Abrir via aérea, oxigenioterapia, ventilação manual com BVM e encaminhar pra TC de crânio. Questão 2: Após as medidas iniciais feitas, paciente começou a cursar com crise epiléptica tônico clônica generalizada, com desvio do olhar. Qual sua conduta nesse momento: a) Realizar diazepam retal. b) Midazolam venoso. c) Fenobarbital venoso. d) Lateralizar cabeça, diazepam venoso. e) Fenitoína ataque EV. Questão 3: Qual a provável causa da convulsão do paciente? a) Hipoglicemia. b) Desidratação. c) Convulsão febril. d) Meningoencefalite. e) Sepse grave. Questão 4: Qual avaliação terciária será importante no caso? a) Hemograma, PCR, HMC, Líquor. b) Hemograma, PCR, HMC, TC de crânio, Líquor. c) Hemograma, PCR, HMC, RNM de crânio, Líquor. d) Nenhuma por tratar-se de convulsão febril. e) Gasometria, hemograma, PCR, HMC, TC de crânio, Líquor. 17 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre Questão 5: Paciente permanece convulsionando mesmo após duas doses de anticonvulsivantes, tempo 5 min, qual próximo passo? a) Intubação e sedação contínua. b) Repetir diazepam com dobro da dose. c) Fenitoína ataque e manutenção. d) Fenobarbital dose de manutenção sem ataque pra não deprimir SNC. e) Propofol. CASO CLÍNICO 2 Paciente de 5 anos, portador de epilepsia de difícil controle, devido hipóxia perinatal, já faz uso regular de Fenobarbital, Carbamazepina, ácido Valproico e Canabinoides. Há 2 dias com hipoatividade, redução da diurese e vômitos. Hoje foi levado à emergência, pois apresenta diversos escapes convulsivos, sem retorno da consciência entre as crises. Questão 1: Quais são suas hipóteses para o caso? a) Interrupção ou uso irregular de anticonvulsivantes. b) Suspeita de distúrbio metabólico. c) Infecção que descompensou a epilepsia. d) Intoxicação pelos anticonvulsivantes que já faz uso. Paciente em Regular estado geral, hipoativo, sonolento, com abertura ocular apenas ao ser chamado, movimenta os quatro membros sem assimetria. FC 150 bpm FR 28 ipm Tem 37,9C SAtO2 94%.PA 95X65mmHg. HGT 70. • AR: MV+ bilateral sem RA. • ACV: BRNF 2T sem sopros. • SN: Pupilas isofotorreagentes, hipertonia de membros inferiores. • Ext: Aquecidas, TEC 2seg, Pulsos periféricos medianos. Questão 2: Foram iniciadas as medidas iniciais (abrir via aérea, oxigenioterapia), porém paciente começou a cursar com crise epiléptica tônico clônica generalizada. Qual sua conduta nesse momento: a) Fazer as medicações que o paciente já usa (carbamazepina, ácido valproico). b) Dose extra do fenobarbital oral. c) Diazepam venoso. d) Fenitoína ataque EV. e) Fenobarbital venoso. Questão 3: Paciente permanece convulsionando mesmo após duas doses de anticonvulsivantes, tempo 5 min, qual a próxima medicação? a) Repetir diazepam com dobro da dose. b) Fenitoína ataque e manutenção. c) Fenobarbital dose de ataque e manutenção. d) Propofol. e) Midazolam em infusão contínua. Questão 4: Mesmo após a medicação correta, o paciente permanece convulsionando após 30min, qual a sua próxima conduta? a) Repetir diazepam com triplo da dose. b) Midazolam contínuo e aumentar a oferta de oxigênio para máscara não reinalante. c) Ventilação com BVM, Intubação orotraqueal e iniciar Midazolam contínuo. d) Midazolam contínuo, Propofol e Tiopental, sem necessidade de IOT. 18 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre OBJETIVOS PRINCIPAIS • Como organizar o time de ressuscitação. • Como reconhecer os sinais de falência cardiorrespiratória na criança. • Compreender as regras do BLS. • Identificar PCR e seus ritmos. • Como abordar uma criança em PCR. • Compreender o algoritmo da PCR na criança. EPIDEMIOLOGIA • Causas de PCR na criança: importante lembrar que as crianças normalmente param em ritmos não chocáveis, devido a disfunções respiratórias e cardiovasculares. ❖ Hipoxemia. ❖ Choque. ❖ Colapso súbito (arritmias – FV – fibrilação ventricular/TV – taquicardia ventricular sem pulso) – 5-15%. São ritmos chocáveis e são bem raros. Normalmente ocorrem devido à quadros agudos por causas externas – choque elétrico, trauma, intoxicação, cardiopatia prévia, alguma injúria cardíaca anterior. • Sobrevida pós-PCR após alta hospitalar: a sobrevida pós parada é menor do que a do adulto. É importante evitar que chegue ao pontode parada, porque reverter é difícil. ❖ Ambiente extra-hospitalar: <10% das crianças. ❖ Ambiente intra-hospitalar: 33%-43% das crianças. A maioria das paradas cardíacas pediátricas fora do hospital e intra-hospitalares são causadas por eventos asfixiais ou isquêmicos, em vez de disritmias cardíacas súbitas. PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA (PCR) Ausência de batimentos cardíacos e movimentos respiratórios. • Ausência de pulso. • Inconsciência. • Apneia ou gasping. O paciente pode apresentar uma parada respiratória sem parada cardíaca, mas o contrário nunca. Na PCR deve haver ausência de pulso, inconsciência e apneia ou gasping. Deve-se reconhecer em até 10 segundos. ELO DA CADEIA DE RESSUSCITAÇÃO PALS - Foco na prevenção. O elo na cadeia de ressuscitação da criança: elo intra-hospitalar e elo extra-hospitalar. No intra-hospitalar: Como evitar a PCR? • Reconhecer e prevenir precocemente a insuficiência cardiocirculatória. • Reconhecer hipoxemia, o choque e intervir, chamando o time de parada. • RCP de alta qualidade. • Ressuscitação avançada – começar com o suporte básico, chamar o avançado que irá trazer o desfibrilador – identifica se o ritmo chocável e intervém, e todas as outras coisas como: drogas, acesso. • Cuidados pós PCR. • Recuperação. A prevenção para o meio extra-hospitalar (normalmente acontece por eventos súbitos) será voltada para os eventos agudos – traumas, altura, choque, envenenamento, intoxicações acidentais. MECANISMOS DE PARADA • Insuficiência respiratória e choque → falência cardiopulmonar → PCR por hipóxia. • Arritmia ventricular → PCR súbita (avalia-se se são chocáveis). SAVP – Suporte Avançado de Vida em Pediatria 19 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre TIME DE REANIMAÇÃO LÍDER • Organiza o grupo. • Observa a performance. • Direciona os membros do time. • Apto pra realizar todos os procedimentos. • Concede feedback ao grupo após RCP. MEMBRO • Entende seu papel. • Encontra-se disposto, apto e habilitado para atuar. • Domina a sequência do PALS. • Comprometido com o sucesso do time. É importante que cada um tenha seu espaço e direcionar cada um para uma função. Exemplo: 1 na via aérea, 2 pessoas intercalando na RCP e 1 ou 2 pessoas no preparo e administração das drogas/tempo/anotações. BLS – BASIC LIFE SUPPORT BLS é pedra fundamental para o PALS. A principal mudança no lactente é a respiração. O lactente e a criança maior respiram mais rápido: 1 respiração a cada 2-3 segundos, o que dá 20 incursões por minuto. Cuidado para não hiperventilar. Na criança menor que o 1 ano (que o PALS considera lactente), o pulso palpado é o braquial. Usa dois dedos para massagem (dois polegares). Uma grande diferença é que na criança e lactente, quando há 1 socorrista, faz 30:2. E sendo 2 socorristas, faz 15:2. Enquanto, no adulto, sempre é 30:2. LACTENTES (<1 ANO) Na foto a seguir, vemos a palpação do pulso braquial, e o uso de dois dedos para massagem em lactentes, sendo com uma ou duas mãos. RCP DE QUALIDADE • 100 a 120 compressões por minuto. • Comprimir 1/3 do diâmetro do tórax. • Permitir tórax retornar à posição normal. • Minimizar interrupções (10 segundos). • Não hiperventilar (1 ventilação a cada 2 a 3 segundos = 20 a 30 por minuto). • Rodiziar compressões a cada 2 minutos: antes disso, deve-se minimizar a interrupção da massagem cardíaca. Criança não responsiva, sem respiração afetiva → ativar serviço de emergência DEA/desfibrilador. Em 10 segundos, verificado que a criança não tem pulso, vai iniciar a RCP, até que chegue o desfibrilador. Se a criança tem o pulso, mas não respira bem ou está inconsciente, vai ser feito uma 20 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre respiração de resgaste, pois tem parada respiratória, mas não tem parada cardíaca. E pode começar compressão cardíaca, se a criança começar a bradicardizar, pois FC<60 com falência cardiopulmonar na criança é igual a ritmo de parada, devendo fazer a RCP. Lembrar de, a cada 2 minutos, verificar se o pulso voltou e como está o ritmo. Quando chega o DEA, deve ser instalado sem parar a massagem. O DEA vai avaliar o ritmo e mandar afastar do paciente quando ele for chocar. Se for ritmo chocável, vai fazer o choque e deve-se iniciar RCP novamente de imediato. E se for não chocável, deve voltar para RCP e, a cada 2 minutos, vai rever ritmo e pulso até que o suporte avançado chegue. Qualquer pessoa leiga, treinada em BLS, pode fazer isso! Pode fazer massagem, ventilação (se tiver uma máscara), colocar um DEA. Só vai iniciar suporte avançado, quando chegar VA avançada, acesso venoso, droga. Isso que vai diferenciar o suporte básico do avançado. Isso vai requerer uma equipe treinada para ressuscitação. Então, no suporte avançado, o passo a passo inicial é o mesmo. Avalia 10 segundos para saber se a criança está responsiva. Se tem resposta, vamos diagnosticar e tratar, partindo para o ABCDE. Se não tem resposta, ou seja, está parado, vai verificar se tem pulso. Não tem pulso, parte para RCP. Se a criança sem respiração efetiva, mas com pulso, parte para ventilação de resgaste, sendo uma parada respiratória, mas não cardíaca. Vai pegar acesso, iniciar drogas, vai ter monitor disponível. IMPRESSÃO INICIAL Esquema 1: é para quando a criança não está parada. Faz ABCDE, avaliação completa, avaliação secundária e terciária. Esquema 2: Sempre avaliar terreno, identificar e intervir. Continuar sempre o ciclo. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA • A → abertura de vias aéreas. • B → respiração. • C → Circulação. • D → disfunção. • E → exposição. FALÊNCIA CARDIORRESPIRATÓRIA Lembrar sempre dos sinais de gravidade na exposição, pois a criança pode evoluir para um choque. Sempre intervir para que a criança não pare. Reconhecer a Falência Cardiopulmonar A – Via aérea Pode ou não estar patente B - Respiração Bradipneia/respiração inefetiva C - circulação Bradicardia e hipotensão TEC lento Pulsos centrais fracos Pulsos periféricos ausentes Pele cianótica ou mosqueada D - neurológico Redução do nível de consciência E - exposição Sangramento? Hipotermia? Lesões? Traumas? 21 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre HIPOTENSÃO Idade PAS (mmHg) Recém-nascidos a termo (0-28 dias) <60 Lactentes (1-12 meses) <70 Criança 1-10 anos <70 + (2 X idade em anos) >10 anos <90 As imagens mostram sinais de gravidade (livedo, cianose, desconforto respiratório, hipoatividade). CAUSAS REVERSÍVEIS DE PCR – 6HS E 6TS 6 HS É sempre importante perguntar poque o paciente parou, pois, se não for revertida a causa da parada, pode ser que o paciente não volte mais. Os Hs estão muito relacionados a causas metabólicas/respiratórias. • Hipovolemia. • Hipóxia. • H+ (acidose). • Hipo ou hipercalemia. • Hipoglicemia. • Hipotermia. 6 TS Os Ts estão mais relacionados com tensão e intoxicações (toxinas). Podem chegar a ter até ritmos chocáveis, como no tamponamento, que pode ter um choque obstrutivo e gerar uma fibrilação, assim como no pneumotórax. • Pneumotórax hipertensivo. • Tamponamento. • Toxinas. • Trombose (coronária). • TEP. • Trauma (não reconhecido). OBS: o algoritmo não fala expressamente de trauma, mas é uma causa que sempre tem que se ficar atento. RECONHECER OS RITMOS DE PCR • Assistolia e bradicardia <60 bpm com repercussão. • Atividade elétrica sem pulso. • Fibrilação e/ou taquicardia ventricular sem pulso. É necessário reconhecer os ritmos de parada, que são iguais ao do adulto. Ficar atento apenas para particularidade da criança que é a presença de bradicardia (<60bpm). Então, frequênciacardíaca menor do que 60 na criança com repercussão, é considerada como um ritmo de parada, tendo que massagear da mesma forma que faria em assistolia, porque é como se essa bradicardia fosse evoluir para uma assistolia. Se a criança entra em assistolia e para, fica cada vez mais complicado dela retornar, o prognóstico é pior. A assistolia, bradicardia (<60 bpm) e a AESP são ritmos não chocáveis. FV e TV sem pulso são ritmos chocáveis. Nos ECGs acima, temos, de cima para baixo, uma assistolia, onde observa-se um traçado isoelétrico; uma TV monomórfica, ou seja, tem o mesmo padrão, com QRS largo (um dos diferenciais da TV); uma FV, que é um ritmo anárquico, não é possível identificar onda P, onda QRS, não tem um padrão. ALGORITMO PCR NA CRIANÇA O serviço de emergência chega com o suporte avançado, a primeira coisa a ser feita é identificar, em 10 segundos, a parada na criança e iniciar a RCP. Iniciar a ressuscitação/RCP com CAB (C – Compressão; A – Via aérea; B – Respiração), ou seja, inicia a RCP fazendo as compressões no 22 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre paciente, no caso de crianças, 15:2 (quinze compressões para duas ventilações). A primeira coisa a ser feita ao identificar uma parada é iniciar as compressões. Em seguida, outra pessoa da equipe pega o ambu e conecta à fonte de oxigênio e monitoriza o paciente para avaliação de ritmo. Ao identificar o ritmo, analisar se é ou não um ritmo chocável. Após a análise de ritmo, este ritmo não sendo chocável (assistolia, bradicardia ou AESP), voltar para a massagem cardíaca/CAB e providenciar acesso venoso intraósseo. Assim que o acesso estiver estabelecido, administrar adrenalina. Além disso, deve-se preparar o material para realizar a IOT no paciente. A AHA, em 2020, trouxe a importância do uso da epinefrina de forma precoce, portanto, assim que estiver estabelecido um acesso venoso, administre epinefrina (adrenalina), independente de ser ou não um ritmo chocável. Após a análise de ritmo, sendo um ritmo chocável, proceder com o choque, que deve ser de 2 Joules por quilo para o primeiro choque, e administrar adrenalina assim que tiver acesso. Se já tiver um acesso disponível, já faz a adrenalina, senão, providenciar o acesso para que seja feita a administração. Administrado o choque, retomar RCP e reavaliar após 2 minutos. Se não chocar, prosseguir com RCP e administrar droga (adrenalina). Se precisar chocar, dá o choque, administra droga assim que tiver um acesso venoso disponível e retoma RCP. Se o ritmo continua chocável, repetir o choque após 2 minutos de compressão/ventilação, mas já utilizando um choque de 4 Joules por quilo, ou seja, dobra a voltagem no segundo choque. Do segundo choque em diante, pode seguir com a voltagem de 4 J/Kg ou, sendo uma criança muito grande/adolescente, podemos utilizar até 10 J/Kg, similar à carga no adulto. Ainda se tratando dos ritmos chocáveis, a adrenalina é feita intercalada com amiodarona/lidocaína, ou seja, foi administrada adrenalina neste ciclo, se no próximo ciclo o paciente se mantém com ritmo chocável, administrar amiodarona ou lidocaína (como antiarrítmicos). Independente de ser ou não um ritmo chocável, enquanto está sendo feita a RCP no paciente, deve- se tratar causas reversíveis de parada (6Hs e 6Ts). Não se pode esquecer de, enquanto se faz o algoritmo, pensar no que está acontecendo com o paciente, o que está causando aquela parada. Cuidados pós-PCR – Se o paciente volta a circulação, fornecer os cuidados pós-circulação. Então, garantir uma temperatura adequada sem deixar o paciente hipertérmico, tendendo até a fazer uma hipotermia permissiva leve, ressuscitação com volume e droga contínua (normalmente é utilizada a adrenalina contínua no pós-parada), estabilização metabólica (garantir glicemia, colher uma gasometria, solicitar eletrólitos), solicitar Rx de tórax. RCP COM QUALIDADE • 100 a 120 compressões por minuto. • Comprimir 1/3 do diâmetro do tórax. • Minimizar interrupções (10 segundos). • Não hiperventilar (1 ventilação a cada 2 a 3 segundos). • Rodiziar compressões a cada 2 minutos. • Sem IOT → manter 15:2 (2 socorristas). 23 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre • Se IOT → (1 ventilação a cada 3 segundos) = 10ipm por minuto sem interromper a massagem. CHOQUE • Primeiro choque: 2J/Kg. • Segundo choque: 4J/Kg. • Choques subsequentes: >4 J/Kg. • Máximo: 10J/Kg ou dose de adulto. A primeira imagem mostra o desfibrilador que vamos ver na prática dentro do hospital. Ele tem um espacinho para colocar a carga, então é a pessoa que seleciona a carga, se é para sincronizar ou não. Ele pode ser marcapasso também, então pode fazer um cabo de eletro, ele pode ser só eletro. É muito mais completo que o DEA, pois o DEA só vai dizer se chocou ou não, liga e desliga a carga, ele mesmo escolhe a carga. No desfibrilador não, aqui coloca a pá no paciente (imagem abaixo), normalmente essa pá está acoplada dentro de um desfibrilador maior de adulto. Faz o choque na posição infraclavicular direita e no ictus, com distância de pelo menos 3 dedos entre uma pá e outra. Quando não consegue fazer a distância adequada das pás, coloca na posterior e anterior. RETORNO À CIRCULAÇÃO • Retorno de pulso ou pressão arterial: se o paciente está monitorizado, tem pressão invasiva e monitor, então consegue ver o retorno da circulação com a onda de pulso. No eletro também vai aparecer o ritmo. Pode aparecer respiração e EPCO2. • Curva de pressão no monitor de pressão arterial invasiva. VIA AÉREA A imagem abaixo, mostra um Capnógrafo, que conecta quando o paciente está intubado. A curva do capnógrafo serve para detectar se o paciente está intubado ou não, junto com a respiração e com a ausculta, ver a saturação, expansividade. Pode ser utilizado como coadjuvante nessa avaliação. Quando o paciente retorna à circulação, vai voltar a curva no capnógrafo. • Intubação endotraqueal/IOT com cuff: só não intuba com cuff em recém-nascidos. • Capnografia com curva para detectar IOT. • Quando IOT → 9 a 10 incursões por minuto. • Ventilação independente da massagem cardíaca. DROGAS DE REANIMAÇÃO EPINEFRINA (ADRENALINA) IV/IO Pode ser intravenosa ou intraóssea. • Dose: 0.01 mg/kg ou 0,1 ml/kg da solução 1:10. Exemplo: paciente de 10kg, pega 1 ampola de adrenalina e dilui para 9 de soro, e faz 1 ml dessa solução, que é 01 ml/kg. • Repetir a cada 3 a 5 minutos: normalmente é ciclo sim e ciclo não. Se é um ritmo chocável, vai intercalar com amiodarona. Se for ritmo não chocável, 1 ciclo usa adrenalina e outro não usa, • Se ausência de acesso pode ser feito endotraqueal – dose 0,1 mg/kg – sem diluir: nas vias IV e IO é diluída (1 ampola de adrenalina para 9 de soro – solução 1:10). • Iniciar nos primeiros 5 minutos de PCR, assim que acesso venoso disponível: muda prognóstico. AMIODARONA • IV/IO. • Dose: 5mg/Kg bolus durante a PCR (pode repetir por 2 vezes na FV/TV refratária). 24 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre • Pode ficar uma manutenção, só que é por dia e não por minuto. Uso de 10 a 20mg/kg/dia de manutenção. • Na criança faz sempre a mesma dose. O adulto faz muita depressão miocárdica com amiodarona, por isso reduzem a dose. A amiodarona é cardiodepressor, então tem que ter cuidado (não usar mais do que 3X). Quando se vai fazer a manutenção, usa em infusão contínua (dose de 10-20 mg/kg/dia). Exemplo: se o paciente não estiver muito hipotenso ou se ainda estiver no estado pós-arritmia. Paciente parou em FV/TV e precisou de 2 doses de amiodarona para voltar para o sinusal (fez 5mg/kg e depois mais 5mg/kg). Depois disso, vai colocar a amiodarona em infusãocontínua. A dose de manutenção é de 10 a 20mg/kg/dia, podendo começar com 10 e aumentar até 20, se precisar. Pode abaixar para 5, quando vai desmamar para tirar (depois de 24h suspende). Normalmente, sempre que faz o antiarrítmico em bolus, se deixa a manutenção porque ele tem chance de reincidir. LIDOCAÍNA • IV/IO. • Dose: 1mg/Kg bolus. • Repetir bolus após 15 minutos. • Manutenção: 20-50 mcg/Kg por minuto infusão. Obs: Dê sulfato de magnésio se o ritmo for torsades de pointes. CASOS CLÍNICOS CASO CLÍNICO Paciente de 2anos, 12kg, chega ao pronto socorro com queixa de desconforto respiratório e febre há 24horas, precedidos por sinais gripais há cinco dias. Radiografa de tórax revela grande consolidação lobar esquerda e broncograma aéreo. Sem antecedentes patológicos. Ao exame: Regular estado geral, torporoso, cianose SatO2 78%. FC 130 bpm, FR 50 ipm, Temp 40C, PA 60X30mmHg HGT 65. • AR: MV reduzido em base esquerda, tiragem global, esforço intenso. • ACV: BRNF 2T sem sopros. • SN: Pupilas isofotorreagentes, pouco reativo • Ext: Pés frios, TEC 5seg, Pulsos periféricos fliformes. Discussão sobre o caso: Qual diagnóstico? Finalzinho de lactente para pré-escolar→ PNEUMONIA! E como se apresenta essa pneumonia em termos de gravidade? Criança com tiragem global, sonolento, torporoso, com uma saturação de 78% com cianose → falência respiratória que já deve estar entrando em uma falência cardio também. Se a gente não intervir imediatamente nessa criança ele vai parar. Então é uma falência respiratória mesmo, mais do que uma insuficiência respiratória Questão 1: Quais os primeiros passos a serem realizados? a) Abrir via aérea, oxigenioterapia sob cateter nasal, acesso venoso, expansão volêmica com 20ml/kg de cristaloide. b) Abrir via aérea, oxigenioterapia sob máscara não reinalante, expansão volêmica com 20ml/kg de cristaloide c) Abrir via aérea, ventilação com ambu, acesso venoso, expansão volêmica com 20ml/kg de cristaloide e preparar intubação. d) Abrir via aérea, oxigenioterapia e antibioticoterapia. ABCDE!!! O paciente não ventila com efetividade, mesmo com todo esforço ele já está cianótico, não adianta colocar uma máscara não reinalante, (máximo 85%), ele não tem mais músculo para garantir ali um drive respiratório adequado. Então é ventilar para intubar, é um paciente em falência respiratória. Questão 2: Após as medidas iniciais, não foi possível obter acesso periférico e não foi realizada intubação. Qual sua conduta nesse momento: a) Chamar o cirurgião para Acesso Central. b) Acesso Intraósseo. c) Manter sem acesso até estabilizar o quadro. d) Fazer medicações por outras vias (nasal, intramuscular, retal). Não adianta chamar cirurgião para acesso central porque não é via de acesso de urgência. Via nasal, 25 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre intramuscular ou retal não é possível fazer volume, adrenalina… Questão 3: Obtido acesso intraósseo, porém o paciente evoluiu com piora clínica e PCR. Qual o provável ritmo de parada? a) TV sem pulso. b) FV. c) Assistolia. d) Torsades de Points. Como o paciente evoluiu de uma falência cardiorrespiratória para uma parada é muito mais provável que esse paciente pare em ritmos não chocáveis. Então o provável ritmo de parada é a assistolia. TV sem pulso, FV e Torsades são todos ritmos chocáveis. Questão 4: Qual sua conduta na PCR (com dois socorristas)? a) Iniciar ventilação com ambu e depois compressões cardíacas. b) Iniciar compressões cardíacas, ventilação com ambu 30:2. c) Iniciar compressões cardíacas, ventilação com ambu 15:2, adrenalina intraóssea 0,1ml/kg (solução 1:10). d) Iniciar compressões cardíacas, ventilação com ambu 15:2, amiodarona IO. e) Iniciar compressões cardíacas, ventilação com ambu 15:2, Choque 2J/kg. Sempre começar pelo C, sempre comprimir primeiro, depois ventilar (com 2 socorristas é 15:2) e adrenalina intraóssea (porque tivemos disponível no momento foi o intra ósseo), Então é CAB. Questão 5: Paciente permanece em PCR, após 10minutos, nesse momento já foi realizada intubação e o acesso intraósseo está “perdido”. Qual a sua conduta? a) Parar a RCP e atestar o óbito. b) Manter RCP com compressões cardíacas e ventilação 15:2. c) Manter RCP com compressões cardíacas e ventilação, 10 ipm por min sem interromper massagem. d) Manter RCP com compressões cardíacas e ventilação sem interrupção e fazer adrenalina intra-traqueal. Se o paciente não tem mais acesso intraósseo, eu posso manter as compressões e ventilações sem interrupção e fazer adrenalina intratraqueal como opção até pegar outro acesso (periférico ou um novo intraósseo). Lembrar: acesso periférico → acesso intraósseo → acesso central. CASO CLÍNICO 2 Vocês estão de plantão no serviço pré hospitalar SAMU. Recebem um chamado para atender uma criança de 10 anos vítima de atropelamento, sem outras vítimas no local. A unidade avançada é encaminhada Questão 1: Ao chegar no local paciente não responsivo, chamando atenção cianose labial e sem pulso. Qual a conduta inicial a ser realizada? a) Iniciar ventilação com ambu e depois compressões cardíacas. b) Iniciar compressões cardíacas, ventilação com ambu 30:2. c) Iniciar compressões cardíacas, ventilação com ambu 15:2, puncionar AVP ou IO, adrenalina 0,1ml/kg (solução 1:10). d) Iniciar compressões cardíacas, ventilação com ambu 15:2, instalar DEA. e) Iniciar compressões cardíacas, ventilação com ambu 15:2, puncionar AVP ou IO e instalar DEA. CAB: compressão, ventila 15:2 e instala e DEA. A prioridade depois de massagem e ventilação é ver o ritmo. Até mesmo antes de fazer qualquer intervenção. Questão 2: Paciente apresentou ritmo chocável, sendo aplicado 2 J/kg e reiniciado RCP. Após segundo ciclo paciente mantém ritmo chocável. Qual a conduta? a) Novo choque com 2J/Kg + adrenalina IO/IV. b) Novo choque com 4J/Kg + adrenalina IO/IV. c) Novo choque com 2J/Kg + realizar IO e adrenalina IT. d) Novo choque com 4J/kg+ realizar IOT, e) RCP e após 2 min novo choque com 4J/kg. Não vou fazer 2J porque no segundo choque tenho que dobrar. E não vou parar o processo de 26 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre ressuscitação para intubar o paciente. A prioridade é chocar, RCP e droga. Questão 3: Após 4 ciclo de RCP paciente mantendo ritmo chocável sendo notado abaulamento em HTD com hipertimpanismo. Qual a provável causa da PCR e arritmia? a) Hemotórax. b) Tamponamento cardíaco. c) Pneumotórax hipertensivo. d) Choque hemorrágico. A pista principal é o HTD com hipertimpanismo. É bem característico de pneumotórax, porque é ar. No trauma, primeira estrutura que a costela encontra quando quebra é o pulmão, podemos ter hemotórax pegando veias mais profundas. Tamponamento cardíaco também, mas aí é outro quadro, pois iremos ter um choque obstrutivo, não veremos tanto abaulamento, e sim turgência de jugular. Então, quando abaula o hemitórax, faz enfisema, e vemos crepitação quando palpa: é pneumotórax → punção com agulha para tirar o ar. 27 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre OBJETIVOS PRINCIPAIS • Discutir os tipos de bradiarritmias na infância. • Como abordar as bradiarritmias sintomáticas da criança na emergência. • Reconhecer as drogas utilizadas nas bradiarritmias. Referência de estudo: PALS 2016 e as atualizações. SISTEMA DE CONDUÇÃO ELÉTRICA É importante relembrar o sistema de condução elétrica do coração. Todo o processo de condução elétrica do coração é iniciado no nó sinotrial (AS – número 1 da imagem), de lá são emitidos, dentrodo próprio átrio direito, três feixes: 1. Trato anterior internodal: vai do nó SA ao nó atrioventricular (AV). 2. Trato medial internodal: é o do meio. 3. Trato posterior internodal. A partir desses três ramos o impulso elétrico é conduzido do átrio direito para os ventrículos, na intersecção dos átrios e ventrículos através do nó atrioventricular. Observem que saindo para o átrio esquerdo (AE) temos a emissão do feixe de Bachmann’s, que faz a condução para o AE. A partir do nó AV, tem-se o feixe de His, o qual emite sua porção para o lado esquerdo (VE) e direito (VD). Destes dois feixes temos as fibras de Purkinje que vão sair conduzindo os impulsos para dentro dos ventrículos, músculos papilares. Sabe-se que é a partir dessa condução elétrica que temos a representação eletrocardiográfica com o QRS, onda p e onda T, representando todo esse processo de despolarização das câmaras cardíacas. DISRITMIAS Toda vez que se estiver diante de uma disritmia, 4 perguntas precisam ser feitas: • Tem pulso? A ausência de pulso configura uma parada cadiorrespiratória (PCR). Caso tenha pulso, e o paciente não esteja em PCR, é importante identificar se essa disritmia está causando repercussão ou não no paciente. • FC normal, baixa ou elevada pra idade? Lembrar que na criança a FC é baseada por faixa etária (quanto menor a idade, maior a frequência cardíaca). Um RN pode ter uma FC de até 160bpm, quando chora, quando agitado ou com dor, por exemplo. À medida que a criança vai crescendo, a FC vai diminuindo, não sendo normal um adolescente ter frequência de 160bpm. Existe um ponto de corte para facilitar, a partir do qual é avaliado se trata de uma disritmia ou não. • QRS largo ou estreito? Para análise de onde vem o ritmo. • Paciente está instável ou estável? Daí é preciso avaliar o eletrocardiograma, pois este é um exame fundamental quando se está diante de qualquer situação de disritmia ou quando se tem qualquer suspeita. Bradiarritmias 28 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre Onda p com intervalo PR (verificação importante - reflete as situações das bradiarritmias, sendo importante nas identificações dos bloqueios). Existe também o segmento PR, que vai do finalzinho da onda P até o início da onda Q. Temos o intervalo QRS, que abrange todo o complexo QRS até o final da onda S. o Segmento ST, muito importante diante dos quadros de isquemias miocárdicas. Onda T, que estará alterada em muitos processos de alteração da repolarização e em distúrbios de eletrólitos, ex. na hipercalemia a onda T fica apiculada, com alargamento do QRS. Pode ter aparecimento da onda U, que é patológica. NO ECG: Ao avaliar o ECG precisamos observar: • Checar se P precede QRS (principalmente nas derivações: D1, D2 e aVF, para dizer se é um ritmo sinusal). • Medir intervalo PR: ❖ 0,09 a 0,15 em lactentes; ❖ 0,09 a 0,17 em crianças; ❖ 0,12 a 0,20 em adolescentes. Observe que o intervalo PR varia um pouco, sendo mais curto nos pequenos, sendo que nos adolescentes já é quase igual ao adulto, 0,20 e acima disso já se considera PR aumentado. • Se QRS <0,09 = estreito (presume-se que seja de origem supraventricular). *O QRS deve ser <0,09! Maior que isso ele estará alargado (>0,09 → largo - presume-se que seja de origem ventricular até que se prove o contrário). • Intervalo QT >0,46 = prolongado. • Na criança avaliamos também o intervalo QT, a criança que nasce com a alteração congênita, com síndrome do QT longo, ela tem risco de fazer quadros de arritmias e mortes súbitas. • Checar ritmo regular (visto através do RR, essa distância entre os R deve ser igual). É importante observar essa regularidade sobretudo diante de uma bradiarritmia, pois isso possibilita identificar bloqueio atrioventricular total, quando o RR passa a ser irregular (?). É preciso saber as alterações básicas no ECG e, principalmente, identificar as arritmias e as situações de risco, sabendo como tratar essas alterações iniciais. Claro que mais pra frente você vai poder recorrer a um especialista, ao cardioped ou arritmologista, sobretudo quando quadros graves ou persistentes, quando necessita implantar marca- passo, se uma TV sustentada ou uma Taquisupra grave, por exemplo. É preciso dar a condução inicial. BRADICARDIAS As bradicardias são alguns tipos de disritmias que são encontradas nas crianças. São frequentes. Obs: A hipóxia é a causa mais comum de bradicardia em crianças. PRIMÁRIA • Doença estrutural: refere-se aos defeitos cardíacos congênitos ou doenças cardíacas adquiridas devido ao envelhecimento, lesão ou infecção. • BAV parcial ou total. Geralmente é secundária a uma doença estrutural do coração, é uma criança com cardiopatia congênita, com alteração do intervalo QT (síndrome do QT longo), paciente com bloqueio AV parcial ou total congênito. Assim, os bloqueios podem ser tanto secundários a uma manipulação, a uma alteração estrutural, como também ser uma bradiarritmia congênita. Logo, nesses casos de bradicardias primárias tem-se uma doença estrutural cardíaca que precisa ser investigada e diagnosticada. 29 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – 8º semestre SECUNDÁRIA – MAIS COMUNS • Causas não cardíacas. • Hipóxia, reflexo vagal, hipotermia, acidose, HIC, hipercalemia, bloqueador dos canais de Ca e betabloqueador, digoxina, clonidina e opioide. São o tipo mais comum na infância, pois normalmente ocorre por causas não cardíacas e é o que mais vemos no dia a dia. Por exemplo, pode se ter uma criança que apresenta quadro de hipóxia, sendo hipóxia ou choque uma das principais causas de PCR, devido a falência respiratória, que a criança irá desenvolver uma bradicardia e depois isso evolui para uma assistolia ou AESP. Logo, temos que as bradicardias por hipóxia são muito comuns, sendo necessário intervir logo, para não deixar a criança parar, pois se ela para, o prognóstico é muito pior. Reflexo vagal é uma outra situação que acontece muito nos bebezinhos. Por exemplo se for pegar um lactente nos primeiros meses de vida e for intubar, só em manusear, passar o laringoscópio, principalmente nos <1ano, ele pode fazer uma manobra vagal, pois pode-se ter ali um processo de estimulação do parassimpático (nervo vago) e ele fazer bradicardia. Diante disso, é muito comum se utilizar atropina nesses pacientes <1 ano, até na indução de IOT de sequência rápida, por conta dessa bradicardia associada a IOT por reflexo vagal. A hipotermia é outra causa bem importante. Ao chegar uma UTI pediátrica, ao ver um bebê bradicardisando, com uma FC de 70-75, pode medir a temperatura, pois essa é uma das principais causas. Aí ao medir está lá o bebê geladinho, 35ºC, aí você aquece e a frequência cardíaca sobe. Acidose também pode acontecer e leva a parada, bradicardia e assistolia. Hipertensão intracraniana, tríade de Cushing: hipertensão, bradicardia e bradipneia. A bradicardia é uma das manifestações da HIC, mas vai chamar atenção o fato de ser uma criança bradicárdica mas hipertensa. Hipercalemia com o tempo pode fazer bradicardia e até evoluir com PCR. Ela começa primeiro com alteração da repolarização, alterando a onda p, depois alargando o QRS e vai reduzindo a FC até parar, quando não é uma dose muito alta, pois quando em dose elevada o paciente pode ter uma parada súbita. Algumas drogas podem causar bradicardia como efeito colateral, são elas: bloqueador do canal de Ca, betabloqueador, digoxina, clonidina, opióide (principalmente nas intoxicações) e benzodiazepínicos. BRADICARDIA SINTOMÁTICA O termo bradicardia sintomática é usado quando a experiência de um paciente enfrenta sinais e sintomas de comprometimento cardiovascular que estão relacionados
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