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1 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 11 OBJETIVOS PRINCIPAIS • Discutir os tipos de bradiarritmias na infância. • Como abordar as bradiarritmias sintomáticas da criança na emergência. • Reconhecer as drogas utilizadas nas bradiarritmias. Referência de estudo: PALS 2016 e as atualizações. SISTEMA DE CONDUÇÃO ELÉTRICA É importante relembrar o sistema de condução elétrica do coração. Todo o processo de condução elétrica do coração é iniciado no nó sinotrial (AS – número 1 da imagem), de lá são emitidos, dentro do próprio átrio direito, três feixes: 1. Trato anterior internodal: vai do nó SA ao nó atrioventricular (AV). 2. Trato medial internodal: é o do meio. 3. Trato posterior internodal. A partir desses três ramos o impulso elétrico é conduzido do átrio direito para os ventrículos, na intersecção dos átrios e ventrículos através do nó atrioventricular. Observem que saindo para o átrio esquerdo (AE) temos a emissão do feixe de Bachmann’s, que faz a condução para o AE. A partir do nó AV, tem-se o feixe de His, o qual emite sua porção para o lado esquerdo (VE) e direito (VD). Destes dois feixes temos as fibras de Purkinje que vão sair conduzindo os impulsos para dentro dos ventrículos, músculos papilares. Sabe-se que é a partir dessa condução elétrica que temos a representação eletrográfica com o QRS, onda p e onda T, representando todo esse processo de despolarização das câmaras cardíacas. DISRITMIAS Toda vez que se estiver diante de uma disritmia, 4 perguntas precisam ser feitas: • Tem pulso? A ausência de pulso configura uma parada cadiorrespiratória (PCR). Caso tenha pulso, e o paciente não esteja em PCR, é importante identificar se essa disritmia está causando repercussão ou não no paciente. • FC normal, baixa ou elevada pra idade? Lembrar que na criança a FC é baseada por faixa etária (quanto menor a idade, maior a frequência cardíaca). Um RN pode ter uma FC de até 160bpm, quando chora, quando agitado ou com dor, por exemplo. À medida que a criança vai crescendo, a FC vai diminuindo, não sendo normal um adolescente ter frequência de 160bpm. Existe um ponto de corte para facilitar, a partir do qual é avaliado se trata de uma disritmia ou não. • QRS largo ou estreito? Para análise de onde vem o ritmo. • Paciente está instável ou estável? Daí é preciso avaliar o eletrocardiograma, pois este é um exame fundamental quando se está diante de qualquer situação de disritmia ou quando se tem qualquer suspeita. Suporte Avançado de Vida em Pediatria 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 11 Onda p com intervalo PR (verificação importante - reflete as situações das bradiarritmias, sendo importante nas identificações dos bloqueios). Existe também o segmento PR, que vai do finalzinho da onda P até o início da onda Q. Temos o intervalo QRS, que abrange todo o complexo QRS até o final da onda S. o Segmento ST, muito importante diante dos quadros de isquemias miocárdicas. Onda T, que estará alterada em muitos processos de alteração da repolarização e em distúrbios de eletrólitos, ex. na hipercalemia a onda T fica apiculada, com alargamento do QRS. Pode ter aparecimento da onda U, que é patológica. NO ECG: Ao avaliar o ECG precisamos observar: • Checar se P precede QRS (principalmente nas derivações: D1, D2 e aVF, para dizer se é um ritmo sinusal). • Medir intervalo PR: ❖ 0,09 a 0,15 em lactentes; ❖ 0,09 a 0,17 em crianças; ❖ 0,12 a 0,20 em adolescentes. Observe que o intervalo PR varia um pouco, sendo mais curto nos pequenos, sendo que nos adolescentes já é quase igual ao adulto, 0,20 e acima disso já se considera PR aumentado. • Se QRS <0,09 = estreito. *O QRS deve ser <0,09! Maior que isso ele estará alongado. • Intervalo QT >0,46 = prolongado. • Na criança avaliamos também o intervalo QT, a criança que nasce com a alteração congênita, com síndrome do QT longo, ela tem risco de fazer quadros de arritmias e mortes súbitas. • Checar ritmo regular (visto através do RR, essa distância entre os R deve ser igual). É importante observar essa regularidade sobretudo diante de uma bradiarritmia, pois isso possibilita identificar bloqueios atrioventricular total, quando o RR passa a ser irregular. É preciso saber as alterações básicas no ECG e, principalmente, identificar as arritmias e as situações de risco, sabendo como tratar essas alterações iniciais. Claro que mais pra frente você vai poder recorrer a um especialista, ao cardioped ou arritmologista, sobretudo quando quadros graves ou persistentes, quando necessita implantar marca- passo, se uma TV sustentada ou uma Taquisupra grave, por exemplo. É preciso dar a condução inicial. BRADICARDIAS As bradicardias são alguns tipos de disritmias que são encontradas nas crianças. São frequentes. PRIMÁRIA • Doença estrutural. • BAV parcial ou total. Geralmente é secundária a uma doença estrutural do coração, é uma criança com cardiopatia congênita, com alteração do intervalo QT (síndrome do QT longo), paciente com bloqueio AV parcial ou total congênito. Assim, os bloqueios podem ser tanto secundários a uma manipulação, a uma alteração estrutural, como também ser uma bradiarritmia congênita. Logo, nesses casos de bradicardias primárias tem-se uma doença estrutural cardíaca que precisa ser investigada e diagnosticada. SECUNDÁRIA – MAIS COMUNS • Causas não cardíacas. • Hipóxia, reflexo vagal, hipotermia, acidose, HIC, hipercalemia, bloqueador dos canais de Ca e betabloqueador, digoxina, clonidina e opioide. 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 11 São o tipo mais comum na infância, pois normalmente ocorre por causas não cardíacas e é o que mais vemos no dia a dia. Por exemplo, pode se ter uma criança que apresenta quadro de hipóxia, sendo hipóxia ou choque uma das principais causas de PCR, devido a falência respiratória, que a criança irá desenvolver uma bradicardia e depois isso evolui para uma assistolia ou AESP. Logo, temos que as bradicardias por hipóxia são muito comuns, sendo necessário intervir logo, para não deixar a criança parar, pois se ela para o prognóstico é muito pior. Reflexo vagal é uma outra situação que acontece muito nos bebezinhos. Por exemplo se for pegar um lactente nos primeiros meses de vida e for intubar, só em manusear, passar o laringoscópio, principalmente nos <1ano, ele pode fazer uma manobra vagal, pois pode-se ter ali um processo de estimulação do parassimpático (nervo vago) e ele fazer bradicardia. Diante disso, é muito comum se utilizar atropina nesses pacientes <1 ano, até na indução de IOT de sequência rápida, por conta dessa bradicardia associada a IOT por reflexo vagal. A hipotermia é outra causa bem importante. Ao chegar uma UTI pediátrica, ao ver um bebê bradicardisando, com uma FC de 70-75, pode medir a temperatura, pois essa é uma das principais causas. Aí ao medir está lá o bebê geladinho, 35ºC, aí você aquece e a frequência cardíaca sobe. Acidose também pode acontecer e leva a parada, bradicardia e assistolia. Hipertensão intracraniana, tríade de Cushing: hipertensão, bradicardia e bradipneia. A bradicardia é uma das manifestações da HIC, mas vai chamar atenção o fato de ser uma criança bradicárdica mas hipertensa. Hipercalemia com o tempo pode fazer bradicardia e até evoluir com PCR. Ela começa primeiro com alteração da repolarização, alterando a onda p, depois alargando o QRS e vai reduzindo a FC até parar, quando não é uma dose muito alta, pois quando em dose elevada o paciente pode ter uma parada súbita. Algumas drogas podem causar bradicardia como efeito colateral, são elas: bloqueador do canal de Ca, betabloqueador, digoxina, clonidina, opióide (principalmentenas intoxicações) e benzodiazepínicos. BRADICARDIA SINTOMÁTICA • Redução do débito urinário, choque, falência cardiorrespiratória. • Sonolência, tontura, fadiga, hipotensão, síncope. No algoritmo do PALS se pergunta se é uma bradicardia sintomática ou não. Então, para ser bradicardia sintomática o paciente tem que ter alteração do nível de consciência (caracterizada por sonolência, tontura, fadiga, síncope), ou alteração da pressão arterial (hipotensão) ou quando o paciente se apresenta com falência cardiorrespiratória (padrão respiratório de bradipneia, paciente com respiração tipo gasping, livedo, palidez, pele fria, sudereica, em choque). O paciente que tem uma bradicardia não sintomática, ele não tem repercussão cardiovascular nem respiratória. Ele vai estar bradicardisando, mas o pulso está presente, ele não tem estado de choque, não tem padrão respiratório irregular, não está hipotenso, não tem alteração do nível de consciência. Ou seja, ele precisa estar em homeostase para ser considerado uma bradicardia não sintomática. Se o paciente tiver qualquer uma dessas alterações, considera-se bradicardia sintomática. É sim ou não!!! TIPOS ESPECÍFICOS DE BRADICARDIA BRADICARDIA SINUSAL É a bradicardia mais comum. As bradicardias secundárias normalmente se apresentam como bradicardia sinusal. As suas manifestações são: • Onda P sempre precede QRS, positiva em DII. • Intervalo PR e complexo QRS duração normais. • RR regular (<0,20 e nos pequenos podem ser um pouco menor ou curtinho, entre 0,15 – 0,17). • QRS curto (<0,09). 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 11 PRINCIPAIS CAUSAS DA BRADICARDIA SINUSAL • Adolescentes e atletas: Acontece muito neles, sendo não sintomáticas. Sendo uma bradicardia fisiológica, do próprio processo metabólico, de hipertrofia ventricular que ocorre no atleta e nos adultos (costuma-se ver já a partir de crianças maiores/adolescentes). • Durante sono: Durante o sono pode ocorrer bradicardia sinusal, sem repercussão clínica, as vezes até associadas a própria respiração, pode ter uma pausa ou extra-sístoles durante o sono e é normal. Mas as bradicardias também podem ocorrer por situações que podem vir a se tornar bradicardia séria e patológicas, a exemplo: • Hipotermia, hipóxia, reflexo vagal. • Distúrbios hidroeletrolíticos. • HIC. • Medicações. E essas causas patológicas precisam ser identificadas e cuidadas, pois podemos ter um comprometimento cardiovascular caso ela não seja identificada e assistida. Logo, a bradicardia sinusal pode ser de origem fisiológica ou patológica, e cabe ao médico afastar as causas patológicas, sendo preciso avaliar clinicamente, triar com ECO, ECG, RAIO-X. Mas não deixe a bradicardia evoluir, senão chegará à parada e a situação ficará pior, bem como o prognóstico. TRATAMENTO • Boa oxigenação e ventilação: lembrar que a hipóxia é uma causa importante, e ao reverter a hipóxia, muitas vezes reverte a bradicardia. • Tratar a causa de base: distúrbio hidroeletrolítico → corrigir; hipotermia → aquecer; droga → retirar e avaliar resposta; No geral, é possível resolver sem necessariamente evoluir para o uso de drogas. Se o paciente tem uma bradicardia sintomática, tem que olhar o algoritmo do tratamento das bradicardias, sendo necessário o uso de drogas (adrenalina, atropina – principais drogas utilizadas para reverter) em determinadas situações. BAV DE PRIMEIRO GRAU • Todos os impulsos do nó atrioventricular (NA) são conduzidos. • Lentificação no processo de condução - NAV >> PR aumentado. A principal manifestação de um bloqueio de primeiro grau é o PR aumentado. A marcação mostra um aumento do intervalo acima de 0,20. Sempre tem um QRS sucedendo, mas o intervalo PR sempre vai estar aumentado. É importante identificar e tratar as causas porque ele pode evoluir para um bloqueio atrioventricular total. CAUSAS • Doença estrutural: cardiopatias congênitas. • Trauma: exemplo – contusão cardíaca. • Aumento do tônus vagal: pacientes com intoxicação, aumento do tônus parassimpático, • Hipotireoidismo: causa importante, principalmente nas situações de hipotireoidismo grave. Causa de bradicardia tanto sinusal quanto BAV de 1º grau. • Miocardiopatia: congênita ou adquirida. Às vezes o paciente faz uma miocardiopatia após um processo de arritmia e fica com miocardiopatia dilatada. Após quadros virais. • Medicações. • Infecções: pericardites e miocardites. BAV DE SEGUNDO GRAU • Alguns impulsos não são conduzidos para o ventrículo (manifestação com ausência de QRS em determinado ponto do traçado eletrocardiográfico; é o que diferencia do 1º grau). • Divididos em: ❖ Wenckebach ou Mobitz 1. ❖ Grau 2 ou Mobitz 2. 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 11 WENCKEBACH OU MOBITZ TIPO I • Ondas P em intervalos regulares, com intervalo PR progressivamente mais longo, até não haver condução. Então o PR muitas vezes pode se normal no primeiro QRS, depois aumenta, até que vai ter uma onda P não sucedida por QRS. Após isso, volta a estaca inicial. A seta vermelha marca uma onda P que não teve um QRS depois. CAUSAS DE BAV DE 2º GRAU TIPO I • Cardiomiopatias: 1º lugar. • Miocardites. • Infarto. • Doença estrutural: cardiopatias congênitas. • Digitálicos: uso de digoxina. • Pós operatório de cirurgia cardíaca. MOBITZ TIPO II • É mais raro do que o tipo I. • P em intervalos regulares (não há alargamento), intervalo PR constante, porém algumas ondas P não conduzem QRS (pode ser 2:1; 3:1). • O que diferencia o BAV do tipo II do bloqueio atrioventricular total é que no BAV do tipo II o intervalo RR é sempre regular, enquanto que no atrioventricular total não se tem regularidade. CAUSAS • Incomum em criança. • Acontece muito em 2 situações: doença inflamatória (miocardites agudas) ou trauma no nó atrioventricular. O problema principal não é pela lentificação do nó sinoatrial para o nó atrioventricular. É um problema estabelecido no próprio nó atrioventricular. Condução normal do nó sinoatrial para o ventrículo, que em algum momento não passa o estímulo, estando o problema do nó atrioventricular em diante. Resumo: é muito mais comum ter alterações levando a bloqueios do primeiro grau ou do tipo I porque estão ali acontecendo pelo processo de condução do nó sinoatrial para o atrioventricular. BAV DE TERCEIRO GRAU • Não é tão incomum. Visto até com certa frequência, principalmente em situações de pós operatórios, cardiopatias congênitas com alterações estruturais do nó atrioventricular (CIV, defeito do septo, manipulação do nó AV). • Onda P dissociada do QRS. • Estímulo NA acontece, mas não é conduzido pelo NAV que assume seu ritmo próprio. Onda P sem QRS, onda P misturada com T, QRS sem P ... é um bagunça (dissociação) total. Os intervalos RR não são regulares. As causas são as mesmas: cardiopatias congênitas, metabólicas, inflamatórias ... ALGORTIMO DO TRATAMENTO A primeira coisa a ser avaliada nos 10 segundos é a presença ou ausência de pulso. O paciente que não tem pulso entra no algoritmo de parada cardiorrespiratória (ressuscitação 15:2, adrenalina ...). O paciente que tem pulso entra na avaliação do ABCDE, e é nessa avaliação que se vai definir se é uma bradicardia sintomática ou não. Abrir via aérea, ver 6 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 11 como está a saturação, FR, PA, pulso, sinais de choque, nível de consciência. Em todos os casos é preciso rodar um eletro com 12 derivações de imediato, fazer a glicemia capilar (causa importante de instabilidade metabólica, parada, convulsão; glicemia <60 → tratar), coletar história. POSSÍVEIS CAUSAS REVERSÍVEIS DE DISRTMIAS CARDÍACAS Causasreversíveis Intervenção Hipóxia Administrar oxigênio, suporte oxigenação e ventilação. Hipovolemia Reposição de volume. Acidose Correção da acidose. Exemplo: PH<7,1; bic<10 Hipoglicemia Administrar dextrose, se indicado. <60 → intervir. Hipocalemia/ hipercalemia Corrigir distúrbios eletrolíticos. Hipotermia Medidas de reaquecimento Toxinas/venenos /drogas Antídoto/terapia específica. Trauma Suporte de oxigenação e ventilação Tamponamento Cardíaco Pericardiocentese Tensão – Pneumotórax Descompressão por agulha, inserção de dreno torácico Trombos (coronária, pulmonar) Anticoagulação, cirurgia. Quando se pensa em coração, em distúrbios do ritmo, existem 3 eletrólitos principais: potássio, cálcio e magnésio (participam da condução elétrica cardíaca). A principal repercussão do sódio é a nível de sistema nervoso central (convulsão, alteração do nível de consciência, coma). Nos pós-operatórios de cirurgias cardíacas, é muito comum o paciente com hipomagnesemia fazer disritmia (ás vezes é preciso fazer push em dose alta de magnésio pra corrigir aquele ritmo). Em relação a intoxicação lembrar dos opioides e benzodiazepínicos. O paciente com tamponamento tem algumas manifestações principais, são elas: bradicardia, hipofonese de bulhas e hipotensão. Pode apresentar também turgência de jugular. A criança pra ter infarto, normalmente ou já tem uma doença de base ou tem uma doença congênita (anomalia de artéria coronária), que leva a manifestações precoces (até no 1º ano de vida). 1. Identificar e tratar as causas: • Fazer ABCDE (abrir a via aérea do paciente, ventilação e oxigenação assistida, se necessário; se o paciente respirar bem → máscara não reinalante; dificuldade respiratória → ambur). Às vezes, só de intervir na via aérea e tratar a hipóxia, o paciente já melhora da bradicardia. • Monitorização. • Solicitação do eletro: não pode atrapalhar a intervenção/terapêutica. Concomitante. • Acesso venoso ou intraósseo. 2. O paciente tem comprometimento cardiopulmonar causado por hipotensão, alteração aguda do estado mental ou sinais de choque? 3. Se sim e FC<60 → Inicia RCP (massagem e ventilação até a FC>60). 4. Se a FC persiste <60, é necessário entrar com droga (seguir o algoritmo de parada). 7 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 11 5. A primeira droga sempre é adrenalina (epinefrina), que pode ser repetida a cada 3-5 minutos. Se o paciente fez um bloqueio por qualquer que seja a causa, como por exemplo, um paciente que estava intubando, bradicardizou, fez síncope, ou seja, se tem a suspeita de reflexo vagal, pode usar atropina. O PALS recomenda que a atropina seja usada em reflexo vagal exacerbado ou bloqueio atrioventricular primário (causa estrutural). Muito provavelmente, um paciente bloqueado, se não reverter com adrenalina e atropina, é necessário fazer o marcapasso (pode começar com o transcutâneo – disponível na sala de emergência - até conseguir passar o transvenoso). Se o paciente não tem comprometimento cardiopulmonar vai manter o suporte ABC, dar oxigênio, observar e considerar uma consulta com arritmologista. *Observação: lembrar de sempre estabelecer o tipo de bradicardia e buscar uma causa. CASOS CLÍNICOS CASO CLÍNICO 1 Menina de 12 anos, sem patologias prévias, há alguns meses cursa com hipoatividade, queda de cabelo, ganho de peso. Genitora preocupada leva à emergência após paciente apresentar constipação (5 dias sem dejeções). Ao exame: REG, descorada, hipoativa, afebril, acianótica, bradicárdica - FC 62bpm, presença de pulso carotídeo. • ACV: BRNF 2T sem sopros. • AR: MV + ahtx sem RA. • Abd: Semi-globoso, distendido, sem VMG. • Ext: Aquecidas, bem perfundidas, TEC 2seg. Observações sobre o caso: do ponto de vista geral, essa criança é sintomática, caracterizada por hipoatividade (alteração do nível de consciência). A palidez cutânea pode dar palidez, mas ela também pode estar descorada por hipoperfusão e até anemia, Questão 1: Quais exames você solicitaria para melhor investigação diagnóstica na emergência? a) ECG, RX tórax, eletrólitos. b) ECG, função tireoidiana, Rx de tórax, eletrólitos. c) ECG e Ecocardiograma. d) ECG, Hemograma, PCR, eletrólitos. e) Apenas ECG. A resposta melhor, mais adequada e mais completa é a letra B. O eletrocardiograma tem que ser pedido. Raio X de tórax é um exame importante quando se quer avaliar os aparelhos cardiovascular e respiratório. Os eletrólitos são fundamentais não só para o tratamento como para avaliação de causas. A função tireoidiana tem que ser pedida porque a principal suspeita diagnóstica é o hipotireoidismo (história de ganho de peso, queda de cabelo, constipação). O hemograma poderia ser pedido para afastar anemia. Questão 2: O ECG demonstrou um BAV de primeiro grau. De acordo com o quadro clínico apresentado, qual a sua principal suspeita diagnóstica? a) Infecção. b) Cardiopatia Congênita. c) Distúrbio Hidroeletrolítico. d) Hipotireoidismo. e) Medicamentoso. Não dá pra pensar em cardiopatia congênita, pois a paciente nunca tinha apresentado nada. Não se pensa em distúrbio hidroeletrolítico, pois não tem história de vômito nem nada. Questão 3: Qual a característica do BAV de primeiro grau? a) Aumento do intervalo PR. b) Alongamento progressivo do intervalo PR até que haja uma ¨onda P¨ não conduzida. c) Dissociação atrioventricular. d) Interrupção súbita e isolada da condução AV, sem alongamento prévio de PR. A letra B corresponde ao BAV de 2º grau Mobitz 1, a letra C é o BAV total, e a letra D é o Mobitz 2. CASO CLÍNICO 2 Paciente do sexo feminino, 5 anos, deu entrada na emergência com história de desmaio há 5 minutos. Genitora refere que paciente caiu e ficou desacordada sendo colocada pela família no carro e trazida ao pronto socorro. 8 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 11 Deu entrada na emergência torporosa, taquidispnéica, hipotensa e bradicárdica FC 66 bpm, pulso carotídeo presente. Monitor cardíaco evidenciou: Questão 1: Qual o diagnóstico dessa paciente? a) Bradicardia sinusal. b) BAV de primeiro grau. c) BAV de segundo grau Mobitz 1. d) BAV de segundo grau Mobitz 2. e) BAV total. Intervalos RR bem diferentes uns dos outros. Representa uma dissociação atrioventricular (onda P de um lado e QRS de outro). Questão 2: Qual a conduta terapêutica a ser instituída pra o paciente? a) Posição de conforto, abrir via aérea e tratar causa de base. b) Abertura de via aérea, ventilação por bolsa valva máscara e intubação. c) Abertura de via aérea e iniciar manobras de reanimação. d) Posição de conforto, abertura de via aérea, O2 suplementar, adrenalina e instalar marcapasso cardíaco. O paciente precisa de tratamento definitivo de imediato. Dificilmente é possível manter um BAVT sem marcapasso. A paciente não está em parada, pois tem uma FC>60bpm. A primeira coisa a ser feita no ABCDE é posição de conforto. Depois disso, se faz oxigenação, instalação de acesso, adrenalina e marcapasso. É importante avaliar os sistemas respiratório e neurológico para possível necessidade de intubação. Glasgow <=8 → IOT. No caso, sem a administração de adrenalina e instalação de marcapasso, a paciente pode vir a piorar.
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