Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FELIPE SOARES COSTA BIOSSÍNTESE E OXIDAÇÃO DE AMINOÁCIDOS GOIÂNIA 2019 1.INTRODUÇÃO Os aminoácidos são as unidades básicas das proteínas, as quais estão envolvidas em reações bioquímicas essenciais ao organismo humano. Eles se ligam através de ligações peptídicas, isto é, cadeias de aminoácidos interligadas para constituírem os péptidos e as proteínas, mas enquanto subunidade monomérica simples fornecem a chave da estrutura de milhares de proteínas diferentes ,pois os 20 aminoácidos existentes se combinam de múltiplas formas, dando origem a inúmeras proteínas com funções diversas no organismo que podem gerar produtos como enzimas, hormônios, anticorpos e transportadores, além de serem as constituições básicas usadas nas vias de informação, responsáveis por fazer nossos genes e cromossomos. A biossíntese dessas moléculas depende diretamente da dieta devido os animais não serem capazes de fixar nitrogênio presente nos agrupamentos amino dos aminoácidos, fazendo com que estes mesmos devam ser adquiridos na dieta e por conta dessa limitação, o organismo animal necessita de um número prévio de aminoácidos igual ao que deseja produzir, daí a importância destas biomoléculas na dieta. Sendo assim, os aminoácidos catabolizados provêm de duas diferentes fontes: as proteínas da dieta e as provenientes do turnover protéico que pode ser compreendido como o fenômeno no qual a síntese e a degradação de qualquer proteína ocorreriam ao mesmo tempo (Gonzales & Sartori, 2002) ou em outras palavras é a degradação das proteínas em seus constituintes aminoácidos que podem ser oxidados para produção de energia ou reciclados. Com base nisso os aminoácidos são classificados em essenciais e não essenciais em que os essenciais são aqueles cuja via biossintética o animal não dispõe, dependendo unicamente da dieta e os não essenciais cuja via sintética o animal dispõe, pois o organismo animal tem capacidade para produzi-los, bastando apenas ter disponibilidade de qualquer outro de onde possa retirar o grupamento amino. Partindo desse pressuposto, este trabalho irá destacar como se dão os processos de obtenção de aminoácidos a partir da retirada de grupos amino e uso de esqueletos carbônicos advindos de precursores intermediários de vias metabólicas , assim como também é de interesse deste trabalho discorrer acerca da regulação de tais moléculas nos organismos destacando o seu vasto uso em atividades celulares , tal como na sua oxidação para obtenção de energia e liberação de produtos até a regressão total ao se tornar novamente o precursor da via. 2.DESENVOLVIMENTO Antes que se possa entender a biossíntese de aminoácidos específicos a partir de suas respectivas vias de obtenção é necessário compreender o processo de oxidação de proteínas que são absorvidas na dieta. Essa oxidação se inicia no estômago em que a presença de HCl desnatura as proteínas favorecendo a hidrólise. A pepsina, uma protease que age preferencialmente sobre ligações peptídicas formadas pelo aminogrupo de aminoácidos aromáticos (Phe, Tyr), é gerada a partir do zimogênio pepsinogênio e os produtos da ação da pepsina são peptídeos grandes e um pouco de aminoácidos. As presenças destes produtos estimulam a liberação de colecistocinina no duodeno, colecistocinina que por sua vez se soma a secretina estimulando a secreção do suco pancreático, rico em peptidases na forma de zimogênios. Os polipeptídeos que chegam ao duodeno são degradados por essas enzimas (tripsina, quimiotripsina, carboxipeptidades A e B, elastase), que são ativas em pH neutro e por isso dependem de NaHCO3, também presente no suco pancreático. Os produtos finais da digestão, na superfície celular, são aminoácidos livres, di- e tri-peptídeos, que são absorvidos por sistemas específicos de transporte até o fígado via sangue portal. Dado o ganho dessas moléculas pela ingestão de proteínas o organismo precisará direcioná-las a fins diversos como para a síntese de nucleotídeos, síntese de novos aminoácidos, obtenção de energia, estocagem de glicose e gordura via gliconeogênese e biossíntese de lipídeos respectivamente, ou em último caso a degradação prossegue apenas para eliminar os aminoácidos em excesso através da urina, uma vez que os animais são incapazes de armazenar estes compostos devido sua posterior toxicidade, diferente das plantas cuja germinação de sementes as armazenam. Dessa forma, como um possível acúmulo de proteínas pode desencadear em maior atividade dos rins ocasionando problemas a este a uma série de outras funções corporais, a homeostase atua na regulação em vários níveis, pois na síntese de aminoácidos, há muitas reações em comum para as vias de diferentes aminoácidos. Sendo assim, a regulação deve ser bastante delicada: em caso de excesso de um aminoácido, por exemplo, as reações que lhe são singulares, podem até ser interrompidas, mas as reações comuns a outros aminoácidos devem continuar acontecendo, porém em taxa menor (para que a produção de certos intermediários não ultrapasse a capacidade de aproveitamento na síntese destes outros aminoácidos. Outra possível forma de regulação se dá pela síntese de nucleotídeos e em contraste a esta, a degradação tecidual, mas o importante a ser observado é que o fluxo metabólico pela maioria dessas vias é muito menor que fluxo biossintético de carboidratos e gorduras nos tecidos animais, pois os aminoácidos e nucleotídeos são moléculas carregadas e seus níveis devem ser regulados para manter um equilíbrio eletroquímico na célula. Para que isto seja possível as enzimas destas reações comuns estão presentes em várias isoformas, cada uma sendo regulada alostericamente por um dos aminoácidos que a compartilham. Assim, se apenas um deles estiver em excesso, apenas a isoforma correspondente estará inibida. Isto permite a regulação "por partes", com quantidades ativas da enzima sempre proporcionais à necessidade. No caso da síntese de aminoácidos, a regulação ocorre em parte por meio de inibição por retroalimentação da primeira reação, pelo produto final da via. Portanto, seja para a biossíntese ou oxidação de aminoácidos, os processos conhecidos como transaminação e desaminação se fazem necessários para a regulação dessas moléculas nos organismos. Por exemplo, a transaminação é o processo em que se retira um agrupamento amino de um aminoácido qualquer, o incorporando a um esqueleto carbônico e o glutamato é a fonte de grupos amino para a maior parte dos aminoácidos, já que a partir dele ocorrem reações de transaminação. Ele é obtido por esse mesmo tipo de reação a partir do alfa- cetoglutarato com a ação da enzima glutarato-desidrogenase e assim o glutamato poderá escolher entre um dos dois processos já mencionados em que caso escolha a transaminação, outros aminoácidos poderão ser formados e caso escolha a desaminação, os grupos aminos serão encaminhados via circulação para o fígado para serem excretados. O glutamato é assim necessário, pois, uma vez que a amônia não pode participar do ciclo da uréia diretamente a partir de qualquer aminoácido, ela pode ser doada pelo glutamato. Na transaminação as reações são catalisadas por enzimas genericamente denominadas aminotransferases que necessitam de piridoxal fosfato (vitamina B1) como grupo prostético. Essas enzimas transferem o grupo amino para esqueletos carbônicos que são provenientes de intermediários da glicólise, ciclo de Krebs e via das pentoses-p, este último, sendo precursor apenas de aminoácidos que não podemos sintetizar. Em vista disso dependendo dos precursores dos aminoácidos, eles podem ser classificados como glicogênicos (quando participam da gliconeogênese), cetogênicos (quando geram corpos cetônicos) e glico-cetogênicos (quando a rota metabólica levaà formação de glicose e de corpos cetônico), embora em todos os casos a transaminação se inicie pela tranferência de N pelo glutamato a seus respectivos precursores. A biossíntese utilizando o a-cetoglutarato pode resultar não apenas no glutamato como também na glutamina, aminoácido que por sua vez é resultado da ação realizada pela glutamina-sintetase, que catalisa a formação de glutamina a partir do glutamato ao adicionar em sua estrutura mais um grupo amina, fazendo com que a glutamina seja mais eficiente no transporte de amônia. Outros aminoácidos formados a partir do a-cetoglutarato são a arginina, via ornitina usando reações do ciclo da uréia e a prolina que reage se oxidando e formando ciclização em sua estrutura. Já outras fontes de derivação incluem moléculas como o piruvato que é a base para a alanina, leucina, valina e isoleucina, o oxaloacetato que fornece aspartato, liberando a-cetoglutarato como cetoácido, além de fornecer mais compostos ,sendo eles, a lisina, treonina, metionina e asparagina fruto de amidação do aspartato. Por fim, o fosfoenolpiruvato e 3-fosfoglicerato em conjunto com a eritrose-4-fosfato fornecem triptofano, felinalalanina, tirosina e serina, glicina e cisteína respectivamente, sendo a glicina resultada de uma remoção do grupamento hidroximetil da serina e a cisteína resultado de sulfatação a partir da serina. A fração de energia metabólica obtida a partir de aminoácidos, sejam eles provenientes de proteínas da dieta ou de proteínas teciduais, varia muito de acordo com o tipo de organismo e com as condições metabólicas. Carnívoros obtêm (imediatamente após uma refeição) até 90% de suas necessidades energéticas já as plantas quase nunca oxidam aminoácidos. Nos animais, os aminoácidos sofrem degradação oxidativa em três circunstâncias metabólicas diferentes, sendo a primeira durante a síntese e a degradação de proteínas celulares em que alguns aminoácidos liberados pela hidrólise de proteínas não são necessários para a biossíntese de novas proteínas, sofrendo degradação oxidativa. A segunda circunstância é explicada por uma dieta rica em proteínas, já que os aminoácidos ingeridos excedem as necessidades do organismo para a síntese proteica, sendo o excesso catabolizado. Por fim, a última ocorre durante o jejum ou no diabetes melito não controlado, quando os carboidratos estão indisponíveis ou são utilizados de modo inadequado, as proteínas celulares são utilizadas como combustível. Em todas essas condições metabólicas, os aminoácidos perdem seu grupo amino para formar a-cetoácidos. Sendo assim desse ponto, os esqueletos de carbono tomam vias distintas sendo direcionados para a gliconeogênese ou para a cetogênese, ou oxidados complemente a CO2 e água. Os aminoácidos que podem ser convertidos em piruvato, alfa-cetoglutarato, succinil-CoA, fumarato e oxaloacetato podem ser utilizados na síntese de glicose, e são ditos glicogênicos, já aqueles metabolizados a acetoacetato e acetato são considerados cetogênicos e os não são excludentes entre si; glicocetogênicos. O que esses grupos têm em comum é que em alguns casos, as reações das vias de degradação dos aminoácidos representam etapas paralelas ao catabolismo dos ácidos graxos. Além disso, eles são desaminados e o seu grupo amino e seus esqueletos carbônicos tomam vias separadas, porém interconectadas com o ciclo da uréia reduzindo o custo energético da excreção. Os processos de oxidação envolvem as transaminases que catalisam reações reversíveis, podendo retornar a forma de um cetoácido. Mas, outro tipo comum de reação que ocorre no catabolismo dos aminoácidos são as transferências de grupos de um carbono, as quais, em geral, envolvem um de três possíveis cofatores: a biotina, o tetra--hidrofolato ou a S-adenosilmetionina. Esses cofatores transferem grupos de um carbono em diferentes estados de oxidação, fazendo com que ocorram alterações moleculares que favoreçam a oxidação. A biotina transfere grupos de um carbono em seu estado mais oxidado o CO2; o tetra-hidrofolato transfere grupos de um carbono em estados intermediários de oxidação e, algumas vezes, como grupos metila; e a S-adenosilmetionina transfere grupos metila, o estado mais reduzido do carbono. As formas de tetra-hidrofolato são, em sua maioria, interconversíveis, funcionando como doadores de unidades de um carbono em uma grande variedade de reações metabólicas. A fonte principal de unidades de um carbono para o tetra-hidrofolato é o carbono removido da serina, em sua conversão em glicina. A S-adenosilmetionina é o cofator preferido para transferências biológicas do grupo metila. Esse cofator é sintetizado a partir do ATP e da metionina na reação catalisada pela metionina-adenosil-transferase. Outro cofator utilizado no catabolismo dos aminoácidos, é A tetra-hidrobiopterina, semelhante à porção pterinado tetra-hidrofolato, mas não está envolvida em reações de transferência de grupos de um carbono e, sim, em reações de oxidação.fenilalanina. 3.CONCLUSÃO Pode assim ser concluído que os grupos amino são cuidadosamente gerenciados nos sistemas biológicos, uma vez que a síntese do nitrogênio é restrita às bactérias em um engenhoso ciclo biogeoquímico. Em vista disso, as vias aqui mencionadas são bem menos ativas que a glicólise e a oxidação dos ácidos graxos, mas ainda sim necessárias e interconectadas a essas respectivas vias podendo servir corpos cetônicos para suprir o cérebro de um organismo desabilitado. A oxidação de aminoácidos também permite a atividade muscular intensa, pois recolhe o tecido desgastado e o transporta para o fígado pela via da glicose-alanina, uma via que está interconectada a gliconeogênese. Portanto, seja pela oxidação ou síntese de aminoácidos é visto que sua regulação atua diretamente no metabolismo de outros compostos e seus produtos permitem renovação através de novas proteínas e excreção através da uréia. REFERÊNCIAS: GONZALES, E.; SARTORI, J.R. Crescimento e metabolismo muscular. In: MACARI, M.; FURLAN, R. L; GONZALES, E.(Eds.). Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte.Jaboticabal: FUNEP/UNESP, 2002.p.267-278. Nelson, David L.; Cox, Michael M. Princípios de Bioquímica de Lehninger - 6ª Ed. 2014. Donald; VOET, Judith G. Bioquímica. 4. ed. Porto Alegre, Artmed, 2013.
Compartilhar