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DISTÚRBIOS DO SÓDIO Quadro clínico, diagnóstico e manejo dos distúrbios do sódio. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O INTRODUÇÃO CONCEITOS BÁSICOS • Valores normais: 135-145 mEq/L. • Localização: Extracelular! • Função: Determinar a osmolaridade plasmática. • Célula-alvo: Neurônio! Quando falamos de sódio, estamos falando em alteração neurológica. DISTÚRBIO DO SÓDIO É DISTÚRBIO DA ÁGUA! É a osmolaridade que data, o sódio age como um marcador desse distúrbio. CONTROLE DA OSMOLARIDADE: ADH E SEDE! ADH • Se liga ao receptor V2 no túbulo coletor medular • Leva à formação de aquaporinas: Que vão aumentar a reabsorção de água no túbulo. • A absorção de água dilui o sódio e diminui a osmolaridade: O ADH concecntra a urina! • Inibição do ADH: Em situações de hiposmolaridade o ADH é inibido, a urina é diluida. CENTROS DE SEDE • Na hiperosmolaridade, os centros de sede são estimulados: O que estimula o indivíduo a beber água, “diluindo” o excesso de sódio. • Na hiposmolaridade, os centros de sede são inibidos: O paciente não bebe água, concentra a urina. HIPONATREMIA (Na < 135 mEq/L) • 15-30% dos pacientes em enfermaria • Maior mortalidade • Atenção prejudicada, raciocínio lentificado • Maior risco de: Osteoporose, queda, instabilidade de marcha e fraturas. DIVIDIDA EM DOIS GRANDES CENÁRIOS: • Hiponatremia aguda: Instalada em até 48h. • Hiponatremia crônica: Após 48h. HIPONATREMIA AGUDA 2 CAUSAS PRINCIPAIS • Hiponatremia do exercício: Do maratonista, o doente faz um exercício extenuante, que estimula a produção de ADH, além de beber água durante a maratona, o que agrava a hiponatremia. • Usuários de Ecstasy: O ecstasy estimula a liberação do ADH, mesmo se o paciente estiver hidratado, o que puxa muita água, aumenta a volemia e dilui o sódio, causando hiponatremia. TRATAMENTO • Corrigir o sódio: 1-2 mEq/L/h por 2-3 horas. Cerca de 100mL de NaCl 3% (salina hipertônica) em bolus, já vai melhorar o quadro. HIPONATREMIA CRÔNICA DIAGNÓSTICO 1. Medir a osmolaridade sérica: Classificamos as hiponatremias em 3 tipos, pela osmolaridade. a. Hiponatremia Hipertônica: Grupo de exceção, é quando eu tenho uma glicose muito alta (lembrar da fórmula da osmol). b. Hiponatremia Isotônica: Pseudo- hiponatremia! c. Hiponatremia Hipotônica: É a grande causa! Nesses casos, ainda dividimos em euvolêmica, hipovolêmica e hipervolêmica 2. Medir a osmolaridade e concentração de Na+ urinária: Importante na hiponatremia hipotônica. a. OsmolaridadeUR baixa (<100 mOsm): Alcoolismo (só bebe e não come), polidip- sia psicogênica, desnutrição, reposição de solução hipotônica e cirurgias prostáticas. b. OsmolaridadeUR elevada (> 100 mOsm): Aqui nós vamos precisar do status volêmico do paciente! 3. Definir o status volêmico: Hipo/Normo/Hipervolê. a. Hipotônica Hipovolêmica: É quando o paciente perde água, mas perde mais sódio. Pode ser renal ou extrarrenal. CLASSIFICAÇÃO DA HIPONATREMIA HIPONATREMIA HIPERTÔNICA (TRANSICIONAL) • Hiperglicemia: A glicemia aumenta a osmolaridade e a água sai, diluindo o sódio. • Manitol: Mesmo mecanismo, o manitol aumenta a osmolaridade, diluindo o sódio. HIPONATREMIA ISOTÔNICA • Pseudo-hiponatremia: O paciente não tem hiponatremia, é um problema na dosagem do só- dio, ocorre em pacientes com hiperproteinemia, hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O HIPONATREMIA HIPOTÔNICA • Hipotônica Hipovolêmica: Renal ou extrarrenal. o Extrarrenal (NaUR < 20): Diarreia hipona- trêmica, queimaduras, vômitos. o Renais (NaUR > 20): Diuréticos tiazídicos, hipoaldosteronismo e síndrome cerebral perdedora de sal. • Hipotônica Hipervolêmica: Por má perfusão, estimula o SRAA e aumenta o volume. São 3 causas principais: o ICC: Má perfusão periférica porque o coração não bombeia sangue direito. o Cirrose: Má perfusão pela carência de albumina. o Síndrome Nefrótica: Má perfusão por carência de albumina. • Hipotônica Normovolêmica: 3 doenças também! o SIADH: Principal causa! ADH produzido em grande quantidade, puxa muita água e dilui o sódio. Além disso, há aumento na produção de ANP, que estimula a diurese de sódio (FENa > 40 mEq/L). o Hipotireoidismo: Geralmente com TSH > 50, há uma diminuição do débito cardíaco, que leva à má perfusão e estímulo do SRAA e ADH. o Insuficiência Adrenal: O paciente não consegue reabsorver sódio adequadamen- te (hipoaldo e hipocortisolismo). QUADRO CLÍNICO • Alterações neurológicas: Lembrar que a célula alvo do sódio é o neurônio. O quadro é inespecífico, mas o tempo de instalação é crucial! • Cefaleia, náuseas, vômitos • Rebaixamento do nível de consciência e coma SIADH (SECREÇÃO INAP. DE ADH) ETIOLOGIA • S: SNC! (Meningite, AVE, TCE). • Ia: Iatrogênica (uso de psicofármacos). • Doença pulmonar: Legionella, Oat cell. • HIV: AIDS também causa SIADH. FISIOPATOLOGIA 1. Reabsorção de H2O no túbulo coletor: Pela secreção inapropriada do ADH. 2. Hiponatremia: O excesso de água dilui o sódio 3. Hipervolemia transitória: Porque eu aumentei a reabsorção de volume no túbulo coletor. 4. Liberação de peptídeo natriurético atrial (ANP): Pela distensão das câmaras atriais, que vai estimular a natriurese! 5. Natriurese: Na+ urinário > 40, o que aumenta a osmolaridade urinária e também a uricosúria. 6. Normovolemia: A balança tava hipervolêmica, mas por conta do ANP igualou! DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL → SÍNDROME CEREBRAL PERDEDORA DE SAL! SÍNDROME CEREBRAL PERDEDORA DE SAL 1. Lesão cerebral: Por um trauma, pós-operatório de neurocirurgia (AVCh principalmente). 2. Liberação de peptídeo natriurético cerebral (BNP): O que vai estimular a natriurese e conse- quentemente a perda de água. 3. Estímulo APROPRIADO ao ADH: Vai aumentar a reabsorção de H2O no coletor. 4. Hiponatremia com hipovolemia: A quantidade de volume que o ADH consegue puxar não é suficiente para restaurar a volemia do paciente. MECANISMOS DE ADAPTAÇÃO NEURONAL • Quando temos hiponatremia, a osmolaridade do LEC é maior: Em consequência disso, a água vai para dentro dos neurônios. • A célula neuronal vai ficar inchada, túrgida: Por conta da entrada de água no LIC. • Os neurônios tentam reverter isso: Começam a expulsar osmóis (solutos) do intracelular. • A água sai da água para o LEC: Esse mecanismo de adaptação dura cerca de 48h. COMPLICAÇÃO DO TRATAMENTO INADEQUADO: MIELINÓLISE OSMÓTICA/PONTINA: Se dou muito sódio (solução hipertônica) pra um paciente com hiponatremia aguda (neurônio já adaptado) a osmolaridade do plasma aumenta demais, o que faz V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O com que os neurônios murchem e a bainha de mielina se rompa. • Quadro clínico: Comprometimento da memó- ria, paraparesia, tetraparesia, disartria, disfa- gia, ataxia, anorm. oculomotoras e coma! • Diagnóstico: Exame de imagem! RM de crânio. TRATAMENTO DA HIPONATREMIA TRATAMENTO → HIPONATREMIA ASSINTOMÁTICA HIPONATREMIA HIPOVOLÊMICA • Hidratar → SF 0,9%: Essa hidratação corrige a hiponatremia por reduzir o estímulo à secreção hipotalâmica de ADH, além do SF conter uma alta concentração de sódio (154 mEq/L). • SCPS: Podemos tentar aumentar o aporte de sal na dieta ou até empregar um análogo da aldosterona (fludrocortisona). HIPONATREMIA HIPERVOLÊMICA • Tratar a patologia de base: ICC, Cirrose, síndrome nefrótica. • Restrição hídrica: Água, soro glicosado. • Diurético de alça → Furosemida: Aumenta a diurese e “concentra” o sangue. • Vaptanos → Antagonistasdo receptor V2: Conevaptan (EV) e Tolvaptan (VO), são drogas caras e pouco acessíveis na prática, são indicadas em refratariedade à furosemida. HIPONATREMIA EUVOLÊMICA • Restrição hídrica e Furosemida • NaCl 3%: 6-8 mEq/L em 24h, se sintomático! Pela fórmula de Adrogué! (Veremos abaixo) • Vaptanos → Antagonistas do receptor V2: Conevaptan (EV) e Tolvaptan (VO), são drogas caras e pouco acessíveis na prática, são indicadas em refratariedade à furosemida. • Demeclocilina: 600-1200 mg/dia, dessensibiliza o túbulo coletor ao ADH. • Carbonato de lítio: 900-2400 mg/dia, também indicada na refratariedade, reduz a responsividade ao ADH, só que possui uma série de colaterais (nefrite intersticial, perda da função renal). TRATAMENTO → HIPONATREMIA SINTOMÁTICA AGUDA SINTOMÁTICA (Ecstasy, maratona) • Corrigir o sódio: 1-2 mEq/L/h por 2-3 horas. Cerca de 100mL de NaCl 3% (salina hipertônica) em bolus, já vai melhorar o quadro. CRÔNICA SINTOMÁTICA → ADROGUÉ! • Furosemida 20 mg venoso: Trazer a osmolaridade urinária para 300 mOsm/L. • Fórmula de Adrogué: Me diz quanto de sódio eu vou variar com 1L de reposição volêmica. *Água corporal total é 60% do peso do paciente! • Calcular a reposição de sódio! Elevar Natremia em até 6-8 mEq nas primeiras 24h: Fazemos isso através da fórmula de adrogué. Cuidado ao elevar o sódio rápido demais pelo risco de Mielinólise! HIPERNATREMIA (Na > 145 mEq/L) *TODA HIPERNATREMIA É HIPEROSMOLAR/TÔNICA! ETIOLOGIA • Incapacidade de concentrar urina: Diabetes insipidus (nefrogênico ou central), poliúria. • Ausência de sede: Hipodipsia, não sente sede! • Falta de acesso à ingestão hídrica: Idosos, RN, coma ou incapacidade locomotora. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • Infusão de solução salina: Iatrogênico, quando você faz um excesso de solução salina. CLASSIFICAÇÃO • Hipovolêmica: Causas renais (furosemida e diurese osmótica) e extrarrenais (diarreia, queimadura e sudorese). • Hipervolêmica: Síndrome de Cushing, hiperaldos- teronismo e uso de salina hipertônica. • Euvolêmica: Diabetes Insipidus (central ou nefro), as principais causas de diabetes insipidus adquirida são a hipocalemia, hipercalcemia crônica, lítio e demeclociclina. QUADRO CLÍNICO: Igual à hiponatremia! Cefaleia, coma. Um diferencial é a tendência à hemorragia. • Complicação: Edema cerebral! Eu dou água e essa água vai entrar no neurônio, causando edema. TRATAMENTO • Hipovolêmica: Reposição volêmica com SF 0,9%. • Hipervolêmica: Solução hipotônica (NaCl 0,45%) + diurético de alça. • Euvolêmica → Diabetes Insipidus: o Desmopressina (DI Central): ADH sintético é a melhor abordagem para esse paciente. o Dieta hipossódica o Diurético tiazídico o Clorpropamida, Clofibrato e Carbamaze- pina: Drogas que aumentam a sensibilida- de ao ADH no túbulo coletor. *COMO CALCULAR O DÉFICIT DE ÁGUA LIVRE? Pela fórmula de Adrogué! EXEMPLO 1 • Lembrar que a solução glicosada tem 0 mEq! • 1L de SG = 0 – 168/27 + 1 • 1 L de SG = reduz 6 mEq. EXEMPLO 2
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