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1 Raissa Novelli – LAB.HAB. – PAULO ROBERTO. Ventilação Mecânica na Emergência Aula 02 TIPOS DE VM VNI e VMI: A principal diferença entre eles é a interface utilizada para ofertar a ventilação. VNI é definida pela utilização de uma via aérea artificial acoplada de maneira externa ao paciente. VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA Deve ser considerada naquele paciente que não apresentou melhora com oferta de O2 suple- mentar com outros métodos, como a máscara de alto fluxo. O paciente deve ter: drive respiratório e estar consciente, ECG 15, colaborativo, porque a máquina vai oferecer uma ajuda, mas quem dispa- ra o aparelho e quem ventila é o próprio paciente. Modos: CPAP: • Consiste no uso de pressão expi- ratória final continua (PEEP); • Oferta pressão constante ao longo de todo ciclo respiratório (insp e exp); • Utilizado, a princípio, para correção de hipoxemia. BiPAP: • Consiste no uso de dois níveis de pressão por meio de uma interface não invasiva; • É uma combinação de pressão de suporte e pressão positiva continua nas vias aéreas; • As pressões inspiratórias (IPAP) e expiratórias (EPAP) são devidamente ajustadas no aparelho; • Adequado para oferecer suporte inspiratório e manter a pressão positiva nas vias aéreas. Contraindicações a VNI: • Indicação de IOT ou VMI; • PCR; • Impossibilidade de proteção das vias aéreas; • Secreção abundante com risco de aspiração; • Agitação importante ou recusa do paciente; • Rebaixamento do nível de consciência (exceto em paciente com DPOC e hipercapnia); • Falência orgânica não respiratória (encefalopatias, arritmias malignas, HDA ou instabilidade hemo- dinâmica); • Trauma ou deformidade facial; • Distensão abdominal; • Obstrução de via aérea; • Vômitos incoercíveis. Monitorização com frequência: • SatO2 (alvo entre 88-92%), PaCO2 e pH arterial. Uso clínico na emergência: • DPOC exacerbada: sempre BiPAP (VNI é primeira linha) → pode ser utilizada em pacientes com rebaixamento do nível de cons-ciência associado a hipercapnia; • EAP cardio-gênico: CPAP ou BiPAP → diminui pré-carga do VD e melhora contrati- lidade do VE; • Asma: poucas evidencias, e o uso da VNI não deve impossibilitar a terapia inalatório; • Doenças neuromusculares crônicas: paciente pode apresentar quadros bulbares, com perda da capacidade de proteção das vias aéreas e risco de aspiração; • Síndrome de hipoventilação por obesidade: poucas evidencias, mas amplamente utilizada na prática. Provável benefício pela relação com IResp; • Pós-extu-bação; • IResp hipoxêmica em imunossuprimidos: VNI está relacionada a piores desfechos. VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA Não há critérios que impõem a necessidade de IOT e instituição da VMI. Essa decisão envolve um conjunto de variáveis que são interpretadas em conjunto: • Julgamento clínico; • Incapacidade de manutenção adequada da oxigenação a despeito de O2 suplementar; • Ventilação espontânea ina- dequada e/ou intenso trabalho respiratório, a despeito de suporte ventilatório não invasivo; • Incapacidade de proteção de via aérea associada ao rebaixamento do nível de consciência (ECG ≤ 8). 2 Raissa Novelli – LAB.HAB. – PAULO ROBERTO. CICLO RESPIRATÓRIO ❶ Fase inspiratória: o ventilador realiza a insu- flação pulmonar. ❷ Ciclagem: termina a inspi- ração, por meio de um volume ajustado admi- nistrado na ventilação com volume controlado (VCV), uma pressão administrada durante um pe- ríodo ajustado na ventilação com pressão con- trolada (PCV) ou pelo término do esforço inspi- ratório do paciente na ventilação com pressão de suporte (PSV). ❸ Fase expiratória: após fecha- mento da válvula inspiratória e abertura da válvula expiratória, permitindo que a pressão do sistema respiratório equilibre-se com a PEEP determinada no ventilador. ❹ Disparo: termina a expiração e ocorre a abertura da válvula inspiratória (disparo) do ventilador, iniciando nova inspiração. *Momento em que já houve a exalação completa e ainda não se iniciou nova inspiração; é a denominada “pausa exalatória”, fase muito importante para se ter a certeza de que já houve exalação completa, sem risco de formação de auto-PEEP no decorrer do tempo. MODOS VENTILATÓRIOS BÁSICOS Assistida: • Iniciado, controlado e finalizado pelo paciente; • Pressão de suporte (PSV): o paciente precisa de drive respiratório. Controlado: • Iniciado, controlado e finalizado pelo ventilador; • O paciente está sedado + analgesia. Assisto- controlado (A/C): • Iniciado pelo paciente, controlado e finalizado pelo ventilador. Ventilação de Respaldo: deixar programado na ventilação assistida, se o paciente entra em apneia, após 10 seg passa para modo controlado. Ventilação Controlada a Pressão (PCV) • O ventilador aplica uma pressão predeter- minada nas vias aéreas e o volume corrente, bem como o fluxo inspiratório resultantes, depende da impedância do sistema respiratório e do esforço do paciente; • Na ventilação a pressão, a variável de controle e o limite são dados pela pressão e a ciclagem pelo tempo inspiratório. melhor controle das pressões de pico e de platô; • Desvantagem: incapacidade de controlar o volume corrente → risco de volutrauma. Ventilação Controlada a Volume (VCV) • Cada respiração gerada pelo aparelho segue um padrão de curva fluxo/tempo predeterminado; • O volume corrente (VC) é definido matemati- camente pela área da relação fluxo/tempo, o VC resultante é fixo e não sofre influência do esforço do paciente; • Na ventilação a volume, a variável de controle é o VC, o limite é o fluxo e a ciclagem ocorre a volume; • As pressões são consequência da mecânica ventilatória e do VC; • Desvantagem: ausência de controle da pressão de pico das vias aéreas e pressão de platô → risco de barotrauma. AJUSTE INICIAL DO VENTILADOR VCV: FiO2: • Inicia a 100%; • Alvo de SatO2 92-96% (normoxia); • Evitar hiperoxia (SatO2 97-100% - des- truição alveolar), aumenta mortalidade. Tempo ins- piratório (TI): • 1 segundo (fisiológico). Relação I:E (ins/exp): • nesse modo é consequência da FR e TI, não tem como alterar. FR: • 12-18irpm. VC: • 5- 8mL/kg calculado pelo peso ideal (♂: altura – 100; ♀: altura – 110), começar com 5mL/kg; • Se o VC está menor do que o determinado pensar em: escape, manômetro inadequado, cuff rompido, obstrução no tubo (secreção), vazamento nos conectores, paciente acordando (compete com a ventilação) → Se ainda está baixo, considera aumentar PEEP ou mudar para o modo PCV + medidas clínicas de acordo com a condição de base. Sensibilidade: • 2-3. PEEP (mantém os alvéolos distendidos): • 3-5 cmH2O (fisiológico), começar com 5cmH2O; • Pode aumentar de acordo com necessidade, mas quanto maior, maior a chance 3 Raissa Novelli – LAB.HAB. – PAULO ROBERTO. de repercussão hemodinâmica. PCV: FiO2: •100%. TI: • 1 segundo. Relação I:E: • pode ser ajustada ou depender da FR e TI; • Importante avaliar causa: Na asma, uma relação I:E maior (1:3) pode ser benéfica (para eliminar o CO2), enquanto na SARA uma relação menor (1:1,5) é favorável para o paciente (otimiza o TI, para melhorar a função do O2). ↑ FR ~ ↓ I:E – ↓ I:E ~ ↑ TI FR: • 12-18irpm. Sensibilidade: • 2-3. PEEP: • 5cmH2O (até 20/25); • Paciente com congestão importante ou atelectasia pode ser necessário elevar PEEP. PCV: • 10 (inicial), máximo: 30; • PCV 10 e VC baixo → otimiza PCV → se não melhorou aumenta PEEP (objetivo atingir o VC ideal -fórmula-). Obs.: Se SatO2 baixa aumentar PEEP ou aumentar FiO2 (melhora a troca gasosa). Parâmetros VCV PCV FiO2 100% 100% TI 1seg 1seg Relação I:E - 1:2 FRm 12-18 12-18 VC 5mL/kg peso ideal X ↑ PEEP 5-20 5-20 PCV X 10-30 ↑ Sensibilidade 2-3 2-3 Obs.: Se paciente em modo A/C com FRmandatória de 16 e a FRtotal está de 30, o paciente está fazendo 14irpm a mais do que as mandatórias. Nessecaso aumentar a sedação e passar para modo controlado. COMPLICAÇÕES ASSINCRONIAS São associadas ao aumento do trabalho respiratório e prolongamento da VM. AJUSTES ESPECÍFICOS NA VMI Insuficiência respiratória hipercápnica (DPOC, Asma): • Prolongamento do tempo expiratório (I:E > 1:3) e baixa FR (10-15), para minimizar a hiper- insuflação; • Hipercapnia permissiva (pH 7,2 – 7,35) para evitar elevadas pressões; • Alvo de SatO2 entre 88-92%. Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA): • Critérios de Berlim: a classificação se dá pela relação PaO2/FiO2 com PEEP ≥ 5cmH2O ◦ Leve: 200-300; ◦ Moderada: 100-200; ◦ Grave: ≤ 100. • Limitar o volume corrente (4-6ml/kg de peso corporal predito) e Pplatô <30; • Evitar o uso de ventilação oscilatória de alta frequência em pa- ciente com SDRA moderada ou grave; • Utilizar posição prona por > 12 horas em SDRA grave; • Considerar manobras de recrutamento pulmonar. FONTE BIBLIOGRÁFICA Medicina de emergência: abordagem prática/ editores Irineu Tadeu Velasco ... [et al.]. - 14. ed., rev., atual. e ampl. - Barueri [SP]: Manole, 2020. Manual de Walls para o manejo da via aérea na emergência [recurso eletrônico] / Organizadores, Calvin A. Brown III, John C. Sakles, Nathan W. Mick; tradução: André Garcia Islabão ; revisão técnica: Denis Colares Siqueira de Oliveira, Hélio Penna Guimarães. – 5. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2019. Medicina intensiva : abordagem prática / editores Luciano César Pontes de Azevedo, Leandro Utino Taniguchi, José Paulo Ladeira, Bruno Adler Maccagnan Pinheiro Besen. -- 4. ed. rev. e atual. -- Barueri, SP : Manole, 2020.