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ACUMULAÇÃO PRIMITIVA DO CAPITAL
(Marx)
1. O que é acumulação primitiva?
- Acumulação que não é o resultado, mas o ponto de partida do sistema capitalista
- Instrumento de acumulação para um novo grupo: empobrecimento dos senhores feudais + expropriação dos trabalhadores
- Dinheiro e mercadoria tem de se transformar em capital
- Criação de um novo tipo de trabalhador, mais apropriado à forma de produção
Acumulação primitiva = surgimento do capital = separação entre burguesia e proletariado
2. Quando e onde aconteceu a acumulação primitiva? Inglaterra, nos séculos XVI e XVII
Crise da nobreza
Cercamentos: empobrecimento, centralização
	Reforma anglicana: cercamentos, arrendamento, venda de terras
		Revolução Gloriosa: cercamentos parlamentares
3. Cercamentos:
- Os servos não conseguem sustentar sua pequena propriedade, e a terra acaba passando para as mãos do senhor feudal. Criam-se assim a propriedade privada e a concentração de terras
- A produção nas terras do senhor será de caráter capitalista, em geral através do arrendamento
Séculos XVI-XVII: processo inflacionário →distribuição de renda em favor do arrendatário → o senhor feudal se endivida e hipoteca/vende as terras
- Esforço do Estado para transformar os camponeses expropriados em assalariados, através das leis de vagabundagem e da regulação do salário
- Criação de mercado interno, pois a subsistência dos trabalhadores tem agora de ser comprada
4. Sentido da acumulação primitiva: acumular capital (através de relações extra econômicas – políticas/especulativa) e concentrar o capital em uma nova classe
5. Caminhos para a acumulação primitiva:
Expropriação da terra e dos meios de produção do trabalhador
Ascensão da burguesia: aquisição de terras, estado, políticas mercantilistas
Moderna colonização: extração do excedente da periferia
Dívida pública: multiplica o dinheiro improdutivo
Sistema tributário: complemento do sistema de empréstimos
Protecionismo: encurta a transição fabricando fabricantes
6. Resultado da acumulação primitiva:
Formação do trabalho assalariado
Fortalecimento da propriedade privada
Desenvolvimento das forças produtivas
 7. Acumulação primitiva como pecado original: uma vez iniciado o processo de formação do capitalismo, ele não pode ser parado, pois quem não aderir ao novo modo de produção não sobrevive
8. Tendência histórica da acumulação capitalista: concorrência → monopólio → aumento da exploração → entrave ao desenvolvimento do capitalismo → revolução
O CONCEITO DE REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
(Paul Mantoux)
O que é revolução? Transformação política: mudança qualitativa, ruptura
Revolução industrial:
- Emergência de um novo modo de produção que transforma profundamente a sociedade
- Indústria = grande indústria: não se trata de tamanho, mas do caráter da produção (são produzidas mercadorias, valor de troca, tendo a venda como objetivo final) e de uma organização de trabalho peculiar
 Regime de produção típico do capitalismo
 Busca de aumentos no rendimento → introdução de tecnologia: substituição da força humana por força motriz inanimada, mas precisa, aumentando a capacidade de produção
	 Divisão social do trabalho (fábrica) e divisão da sociedade em duas classes
 Acumulação de capital é o objetivo final
	 Os efeitos da grande indústria se estendem por toda a ordem econômica e social
Produção de mercadorias:
Realização no mercado			 Elemento contraditório do processo:
Ampliação da produção				 aumenta o consumo
Redução dos custos				 MAS
Ampliação do consumo	há um conflito entre burguesia e proletariado
CONCORRÊNCIA	 (pois o trabalho é degradante)
 Disputa internacional por mercados
França e Inglaterra no século XVIII:
França: indústria artificial, estado protecionista, fabricação de produtos de luxo para um mercado específico
Inglaterra: empresas capitalistas (grande indústria)
Da manufatura à grande indústria:
- Máquinas: ampliam a cooperação (levam a divisão social do trabalho, presente na manufatura, ao extremo → ordem, continuidade)
Transformação qualitativa	- Fábricas: ampliação separação entre capital e trabalho → amplia a produtividade (capital fixo, máquinas, acumulação)
- Acumulação pelo modo de produção, não pelo comércio
- Grande indústria → capitalismo
SUBORDINAÇÃO DO TRABALHO AO CAPITAL: transforma completamente a organização e o sentido da produção
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL EM DEBATE
	(Ashton)
Gênese da Revolução Industrial
Leitura depois de Marx: ênfase econômica (organização da produção, trabalhador)
Mantoux: subordinação do trabalho ao capital → mudança qualitativa
Nef/Ashton: há um processo mais longo e lento de alteração que acaba por permitir que haja mudança (aspectos culturais, sociais, intelectuais) → mudança quantitativa
Nef (alicerces culturais da civilização industrial)
- Industrialismo: renascimento
Mudanças na técnica e no pensamento
Século XVI: origem do mundo moderno
Grandes navegações → aumento do comércio → aumento da produção
Itália: 
Início da
transformação- Desenvolvimento da arte, da arquitetura e da ciência
- Novas formas de consumo
- Desenvolvimento da agricultura e da metalurgia
- Aumento populacional + urbanização
Não é uma revolução: não há consumo em massa, o processo é lento
- Segundo momento: reforma protestante
Inglaterra: transformação da noção de propriedade privada
Possibilita transformaçõesexpropriação da Igreja
novo sentido à terra
novas técnicas agrícolas
- Economia quantitativa (séculos XVI-XVII)
Expansão na produçãoqueda nos preços
disseminação do consumo
Novas técnicas para atender o consumo crescente: ferro fundido + carvão vegetal
unidades produtivas maiores
Inglaterra: desenvolvimento da ciência
Século XVII: tecnologias modernas → resolução de problemas cotidianos
Espírito inventivo, expansão do empreendedorismo individual
Pensamento científico + liberdade individual
Ashton
- Inglaterra: crescimento da população → queda na mortalidade (1740-1820)
melhora na alimentação
aumento da qualidade de vida
- Aumento conjunto da população, do capital e da superfície cultivada
- Indústria e população: desenvolvimento social integrado
- Por que a Inglaterra? História → cultura + elementos sociais → avanço mais acelerado
- A revolução industrial também foi uma revolução nas ideias
- As invenções foram possibilitadas pelo razoável nível de educação, e incentivadas pela possibilidade de mobilidade social
- A palavras “revolução” implica uma rapidez na mudança que não é características dos processos econômicos: o capitalismo teve sua origem muito antes de 1760 e atingiu seu pleno desenvolvimento muito depois de 1830
- Elementos para a expansão industrial:
Inglaterra, século XVIII: surgimento dos banqueiros → aumento da poupança
1750: queda dos juros + leis de patentes + política liberal
Busca de novas formas de investimento → inovações
Transformação nas ideias + nova organização social ↔ novo tipo de sociedade
A REVOLUÇÃO AGRÍCOLA NA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
(Nick Crafts)
1. Essa “revolução industrial” não é observável: não há um salto de produtividade, há um processo lento e contínuo de crescimento
2. Existe nesse período uma revolução agrícola, não industrial. É na agricultura que se encontra a grande mudança.
3. Problemática: caráter da revolução industrial
- Rostow (1950): 
para que os países subdesenvolvidos se desenvolvam, basta que eles se industrializem 
a Revolução Industrial inglesa (ferro e algodão, 1780-1820) é um protótipo a ser seguido por outros países, pois marca o início do crescimento sustentável
- Crafts: 
Apenas algumas indústrias (têxtil, por exemplo) têm grandes aumentos na produtividade, mas elas não empregas uma parcela muito significativa da população. De maneira geral, a indústria é predominantemente tradicional
O período é marcado por um crescimento contínuo, sendo grande parte dele devido ao uso extensivo de mão-de-obra e capital
O crescimento da produtividade foi maior na agricultura, transferindo mão-de-obra
Os aumentos de produtividade na agricultura vieram das rotações de cultura envolvendo legumes,de aumentos no tamanho das fazendas e de investimentos em tecnologia
As exportações inglesas eram dominadas por têxteis
O aumento da produtividade não foi tão alto na economia como um todo, nem baseado em P&D ou educação
Os lucros dos investimentos no exterior impediram investimentos domésticos, o que explica o fato de que a Inglaterra logo foi ultrapassada por outras potências
A ORIGEM DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
(Hobsbawn)
1. Revolução industrial:
- Aceleração do crescimento em virtude da transformação econômica e social
- Crescimento autossustentado através da revolução tecnológica e social perpétua
- Revolução Industrial inglesa:
Precedida por 200 anos de desenvolvimento contínuo, que lançou seus alicerces
Europa dividida em unidades político-econômicas independentes e concorrentes
Por que a Grã-Bretanha? As principais pré-condições para a industrialização já estavam presentes na Grã-Bretanha setecentista ou podiam ser criados com facilidade:
Fim agricultura de subsistência, poucos camponeses eram donos da terra
Acumulação de capital
Mercado nacional unificado
Setores manufatureiro e comercial desenvolvidos
Transportes e comunicação baratos
Os primeiros investimentos necessários não eram grandes, as fábricas podiam se expandir por adições sucessivas, através do reinvestimento de lucros
A industrialização permite à produção expandir/criar seus próprios mercados, ultrapassando os limites das classes altas
2. Fatores determinantes:
1. Mercado interno:
Aumento da população, substituição de rendas não-monetárias por rendas monetárias, um aumento da renda per capita, advento de bens industrializados. 
O aumento na demanda por alimentos e combustíveis estimulou as melhorias no transporte, diminuindo o custo proibitivo do transporte terrestre. 
Mercado grande e estável, favorecendo o crescimento econômico e protegendo as atividades de exportação contra colapso súbito e proporcionando amplos fundamentos para uma economia industrial generalizada. 
2. Mercado externo: 
Expansão mais rápida x flutuações: centelha que iniciou a RI. 
Não dependiam do crescimento “natural”: meios políticos da guerra e da colonização. 
A economia industrial se desenvolveu a partir do comércio com o mundo subdesenvolvido.
3. Governo: 
Disposto a subordinar a política externa a objetivos econômicos
Os interesses manufatureiros tinham peso
Política de agressividade sistemática
A guerra contribuía para a industrialização, incentivando a adoção de métodos revolucionários para responder em tempo às encomendas.
INDUSTRIALIZAÇÃO: 1ª FASE (1780-1840 – Inglaterra líder da indústria têxtil)
(Hobsbawn)
 Aumento do comércio internacional → manufatura do algodão → aumento do mercado → transforma as relações sociais, a cidade e a produção (fábrica)
1. 1700: proibição das manufaturas na Índia → substituição da lã pelo algodão → manufaturas inglesas: desequilíbrio entre fiação e tecelagem (tear mais produtivo do que a roca)
 invenções: spinning jenny (vários fios), water frame (tear hidráulico) e mula (os dois juntos)
 produção fabril: criação de uma hierarquia → mudança social
2. Revolução: nova relação econômica, nova sociedade
- Divisão entre capitalistas e trabalhadores
- Produção na fábrica
-Dominação da economia pela acumulação de lucro
3. Principais produtos:
- Supremacia inglesa no comércio internacional do algodão devida ao monopólio
- Algodão estimulou a química e a mecânica, mas não tinha a capacidade direta de estimular atividades pesadas de bens de capital como carvão, ferro e aço
- A ferrovia foi o grande estímulo ao ferro e ao carvão 
- Inovações no ferro: fundição do ferro com coque, pudlagem, laminação, hot blast
4. Crise:
- Dependência do algodão: instabilidade → revoltas (ludismo, cartismo)
- Ênfase na acumulação de capital pela burguesia → maximização das transferências de renda dos trabalhadores → miséria
- Industrialização → aumento da produção → queda nos preços → pressão sobre os lucros (principalmente no algodão) → crise da 1ª fase 
INDUSTRIALIZAÇÃO: 2ª FASE (1840-1860 – indústrias de base)
(Hobsbawn)
1. Causas da alteração do caráter da industrialização:
i. Novo cenário internacional, em que a Inglaterra vislumbra a possibilidade de suprir a demanda por bens de capital dos outros países adiantados [expansão das ferrovias e do navio a vapor: síntese dessa fase, indicando o domínio das novas forças motrizes e do aço]
ii. Acumulação de capital na Inglaterra decorrente da 1ª fase da industrialização → excesso de capital é investido nas ferrovias
Crise de acumulação (1840): o capitalista não visualiza novos investimentos possíveis para o lucro auferido
Demanda por bens de capital: industrialização por “substituição de importações”
Se o problema fosse unicamente o dos transportes, faria mais sentido investir no transporte hidroviário, mais barato. Além disso, surgem ferrovias “irracionais”
2. Por que ferrovias?
- A indústria têxtil já não rendia tanto (saturação de mercados/competição externa)
- O investimento agrícola também não é rentável (fim do protecionismo)
- O investimento no exterior apresenta alto risco
- A dívida pública rende muito pouco
 .: Aposta na construção de ferrovias → “manias” de 1835-37 e 1945-47
3. Resultados: boa parte do dinheiro investido não rendeu lucros, porém esses investimentos garantiram (1) aumento do emprego, (2) crescimento do sistema de transporte, (3) a vanguarda da tecnologia à Inglaterra, e (4) expansão da indústria de base (ferro, carvão e mais tarde o aço)
4. Pós-1850:
- Esgotamento do mercado inglês
- Indústria inglesa se volta para os países que começam a se industrializar (Alemanha, França, Estados Unidos)
 Expansão ferroviária com apoio inglês (técnicos, financiamento)
 Consumo de máquinas e equipamentos
5. Consequências para a Inglaterra:
- Revolução Industrial “pesada”: aumento do emprego nas minas, ferrovias e metalúrgicas e criação do método revolucionário do aço
- Industrialização plena, não dependendo de apenas um setor
- Expansão das exportações de capital inglês
- 1870: nova expansão dos investimentos ingleses na América Latina
- Surgimento de um grupo de potências competidoras, que ganham força após a Grande Depressão
A INDUSTRIALIZAÇÃO NO MERCADO MUNDIAL
(Jobson)
Grande Revolução Inglesa (1640-1780): Revolução Industrial + Revolução Burguesa
1. Revolução inglesa
Século XVII: emergência de grupos capitalistas ao poder → a aristocracia (gentry) decai e uma nova gentry e a yeomanry (pequenos proprietários) ascendem [+ Londres: grandes comerciantes]
1646: fim do estado feudal
Ampliação do mercado interno
Parlamento: cercamentos
Estado: conquista do mercado mundial
- 1651: atos de navegação
- 1689: exportação de tecidos livre de tarifas
- 1700: proibição da produção de tecidos na Índia 
- estímulo à construção naval (Royal navy)
2. Relação entre industrialização e mercado mundial (relação centro-periferia na RI inglesa)
- Marx: acumulação primitiva do capital
Dobb: cercamentos + especulação (elementos internos à Inglaterra)
Novais: relação desigual no comércio internacional sob o pacto colonial
- Wallestein: sistema-mundo
A Europa acumula capitais vindos de outras nações
Expansão do comércio → lucros extraordinários
- Hobsbawn: mercado externo como consumidor dos produtos industrializados
- Crítica à ideia de que a industrialização precisa do mercado externo: Patrick O’Brien
Mecanismos econômicos ingleses criam a indústria no país (instituições + política + economia)
O comércio externo da Inglaterra é limitado e de alto risco → taxa de retorno baixa!
3. Jobson: retomada do argumento de Hobsbawn do mercado externo (periférico) como consumidor através de uma política de Estado
Necessidade de um mercado interno que socorra as exportações
Desenvolvimento da indústria de exportação cria uma dinâmica interna, porém seu motor é externo
Fornecimento de matérias-primas
Comércio externo fornece capital para que os outros países importem
Cria demanda por produtos industrializados, superando o obstáculo do baixo poder aquisitivo do mercado internoPossibilidades de acumulação de capital
Fonte de renda para o estado investir em infraestrutura
Algodão: mercado externo
A GRÃ-BRETANHA NO MERCADO MUNDIAL
(Hobsbawm)
Grã-Bretanha:
- Até 1840: grande líder da economia mundial x 1880: declínio relativo era visível
- Dependência do comércio internacional para obter matérias-primas, alimentos e mercados
- Modelo de comércio vulnerável: no início de sua industrialização, países como a Alemanha e os Estados Unidos dependiam de financiamento e tecnologia ingleses; porém, com seu desenvolvimento, eles procurariam proteger seus mercados da concorrência inglesa. 
- Entre 1846 e 1873, os países que não buscavam espontaneamente criar laços comerciais com a Inglaterra o faziam pela força
- Depois da Grande Depressão, os países industrializados tornaram-se rivais, e apenas a Grã-Bretanha tinha interesse no livre-comércio
- A um período em que os termos de comércio desfavoreciam a Inglaterra, seguiu-se, após 1860, um em que ela foi favorecida (bens de capital), reduzindo a demanda por exportações, a não ser quando o capital inglês revertia essa tendência. Isso aumentou o estímulo à procura de mercado interno. Mas se o déficit comercial aumentou, as rendas invisíveis compensaram-no
 - O mercado externo da Inglaterra era, então, principalmente o de suas colônias
- Ganhou importância o fluxo de capital para o mundo subdesenvolvido, cujos mercados cresciam
 Com as disputas por esses mercados, vieram o imperialismo e a Primeira Guerra. A economia britânica entrou em colapso e sua indústria se revelou obsoleta e ineficiente. Suas finanças, no entanto, mostraram-se pujantes. Isso também mudou com a Primeira Guerra, e a Grã-Bretanha perdeu sua posição de maior credora do mundo, transformando-se em grande devedora dos Estados Unidos.
PADRÃO DE VIDA, 1850-1914
- A Grã-Bretanha era um país de trabalhadores cujos salários dependiam das condições de seus contratos e que não dispunham de nenhum tipo de rede de seguridade social
- Controle de natalidade como meio de melhorar a condição social
- Apenas depois da Grande Depressão a taxa de mortalidade começou a cair, assim como a de natalidade
- Cerca de 40% da população viva em condições de pobreza
- Com a Grande Depressão, a qualidade de vida melhorou, especialmente a alimentação, e a indústria passou a produzir bens de consumo duráveis. Foi nesse período que surgiu o estilo de vida da classe trabalhadora britânica considerado “tradicional”. 
- O movimento sindical ganhou força no fim da década de 80, e a classe trabalhadora conquistou o direito ao voto, de forma que as políticas sociais ganharam importância – até então os pobres pagavam mais impostos do que recebiam serviços. Ao mesmo tempo, a ostentação crescia nas classes abastadas
A ECONOMIA DE MERCADO DO SÉCULO XIX
(Polanyi)
1. Economia e sociedade do século XIX
- Economia do mercado: para criar a economia liberal, leva-se ao limite a ideia de mercado 
- Equilíbrio de poder
- Padrão-ouro
- Estado liberal/não-intencionado
.: Equilíbrio econômico não é resultado da mão invisível, mas de um pacto político internacional (Santa Aliança em 1815 e Haute Finance em 1870)
2. Antropologia econômica
- Até a RI, o sistema econômico estava imerso no sistema social, e o mercado não apresentava tendência à expansão.
- Expansão do mercado + discurso da economia de mercado
 Invenção da RI (as máquinas se tornaram um investimento de longo prazo)
 Transforma tudo em mercadoria
 Mercadorias fictícias (terra, trabalho e capital): não são produzidas como as demais, não foram constituídos como mercadorias (para a troca), transformaram-se em mercadorias
3. Economia de mercado: sistema econômico controlado, regulado e dirigido pelos preços do mercado autorregulado
- Economia de mercado ↔ agentes maximizadores + equilíbrio entre oferta e demanda + presença de dinheiro + produção e distribuição controladas pelos preços
- Autorregulação do mercado ↔ toda a produção à venda no mercado + mercado para todas os elementos da indústria + nada inibe a formação de mercados ou interfere na formação de preços
- Economia de mercado ↔ sociedade de mercado
 4. Inglaterra, 1780/1840: Antes disso, terra e trabalho estão ligados a relações de costume (extra-econômicas). Trabalho, capital e terra têm de se tornar livres para que o capital industrial possa se apropriar deles, o que gera implicações sociais.
Problema: liberalismo → realização do capital x intervenção →defesa do trabalhador
5. Transformações das mercadorias fictícias
- A transição para a economia de mercado representou uma transformação completa na estrutura da sociedade, que passou a ser dividida entre as esferas econômica e política.
- O conceito de mercadoria traz trabalho (atividade humana), terra (natureza) e dinheiro (poder de compra) para o mercado
- A transformação desses elementos em mercadoria é uma ameaça à sociedade e à natureza
- Quando, a produção continuada se tornou necessária para superar os riscos
Trabalho: reformas das leis dos pobres (1834)
Terra: cercamentos + revogação da lei dos cereais (1846) → P →W
Capital: bank act (1844) estabelece o padrão-ouro
	1840: discurso liberal hegemônico (com a contraposição do movimento operário (1840/1850) + mercado como consequência de uma intervenção consciente
O LIBERALISMO DO SÉCULO XIX
(Chang)
1. Divisão internacional do trabalho
 Construção do discurso liberal x tradição protecionista inglesa (mercantilismo)
					 Século XVIII: favorece a indústria
2. 1820: condição da hegemonia industrial inglesa 
- Colônias: proibição ao desenvolvimento de manufaturas e à exportação de produtos que concorressem com os da metrópole, incentivo à produção primária → tratados desiguais, imposição de tetos tarifários
- Nações competidoras: impedir a difusão de tecnologia → restrição à imigração e à exportação de bens de capital, leis de patente
- O Reino Unido e os Estados Unidos são os países que mais agressivamente recorreram à proteção tarifária
- Mesmo a política britânica de livre-comércio foi parcialmente motivada pelo desejo de promover as indústrias 
1663/1689: Corn Laws
1795: crise agrícola/grande fome → fim das Corn Laws
1815: concorrência americana → crise agrícola → Corn Laws → aumentam a produção e os preços internos
1838: forma-se a liga contra os cereais, liderada do Richard Cobden, alegando que o alto preço dos cereais prejudica a indústria e que a concorrência externa diminuiria os custos ao diminuir os salários
1845: fome na Irlanda leva à revogação definitiva das Corn Laws (1846)
1849: revogação dos atos de navegação
3. List (1789-1846): argumento da indústria nascente, aplicado nos EUA 
4. Protecionismo inglês
- 1719-1825: saída de operários e máquinas é proibida
- Leis de patentes: impedem que os países competidores se apossem da tecnologia
3. Expansão do livre-comércio (a partir de 1850)
- 1842-45: Inglaterra reduz tarifas alfandegárias
- Tratado de Cobden-Chevalier (1860)
	Chutar a escada para que os outros não possam subir: quando estavam catching-up, os países desenvolvidos adotavam uma política ativa de incentivo à industrialização. Quando se desenvolveram, eles passaram a defender o livre-comércio e a propriedade intelectual
INDUSTRIALIZAÇÃO FRANCESA: UM PARADOXO?
(Laurent)
Modelo de industrialização próprio: processo lento e regular de desenvolvimento industrial (1815-1915) + processo comandado pelo Estado + menos crises sociais
1. França, século XVIII
- Absolutismo clássico, marcado por relações feudais
- Segunda maior população do mundo (rural e dispersa) → há um mercado potencial 
- Artesanato relativamente avançado: localizado e pouco significativo no comércio
- Indústria sustentada artificialmente → experiência industrial limitada (fim ± 1750)
1815: atraso industrial com relação à Inglaterra (maquinaria, vapor, produtividade) 
 Grande massa de camponeses + tendência de perpetuação do servo no campo + renda apropriada por poucos
.: Camponês miserável, mas com posse da terra + campo improdutivo + mercado limitado
2. RevoluçãoFrancesa: gera efeitos contraditórios
- Estabelecimento de relações capitalistas: liberdade dos camponeses com o fim das obrigações servis (bases legais para o capitalismo) → fim do sistema de exploração extra econômica
- Propriedade perde seu caráter feudal e passa ser propriedade privada
- Abolição das corporações de ofício
- Limite ao avanço das relações capitalistas: leis agrárias (1793) → partilha dos bens comunais (fim do coletivismo)
3. Discurso de Robespierre: prevalência do direito à existência 
4. Evolução das leis agrárias
- 1775: a política liberal levou à especulação em torno dos preços, gerando motins
- 1790 (girondinos): cercamentos de inspiração inglesa → revoltas camponesas (jacqueries)
- 1793 (sans-cullotes): divisão plena da propriedade, fim definitivo dos direito senhorais, liberade de cultura, igualdade entre herdeiros →democratização do acesso à terra (fortalecimento da pequena propriedade camponesa
.: Transformações no campo perpetuam estruturas rurais “feudais”: não há êxodo rural (sem mercado de trabalho), nem monetarização das relações sociais (sem mercado consumidor)
5. Revolução Industrial na França
- Avanço limitado (1806 e 1815): bloqueio continental → sem fornecimento de algodão
- 1815: novo cenário para a indústria
	 Concorrência com a Inglaterra
	 Adoção de políticas protecionistas 
- 1830/40: ruptura + novo modelo 
 Financiamento bancário → aceleração do crescimento
	 Ferrovias e canais (garantia de juros)→ integração do mercado interno
- 1850/70 (Napoleão III): decolagem do crescimento industrial francês com estímulo estatal
			 Criação de instituições financeiras para o desenvolvimento industrial
- 1870: guerras → industrialização ganha importância para defesa
- 1875: avanço no investimento na indústria pesada
ESTADO E REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: O CASO ALEMÃO
(Kemp)
1. Revolução pelo alto (via prussiana) → Gramsci
- Preserva os grupos tradicionais, que se mantém no poder apesar das transformações 
- Transformação completa em uma geração (industrialização)
- Combinação entre o moderno e o arcaico
2. Alemanha: século XVIII
- Dispersão dos Estados
- Cidades comerciais (portos)
- Avanços culturais (música, literatura, filosofia)
- Relações servis → reduzem o mercado e a capacidade empreendedora individual
3. Frederico, o Grande (1740-1786)
- Estado absolutista (Prússia)
- Início de unificação
- Burocracia, controle sobre a atividade econômica
- Pagamentos em dinheiro, mas o excedente ainda era extraído extra economicamente
4. Período napoleônico
- Fortalecimento da Prússia como estado líder
- Bloqueio continental (ofensiva napoleônica → avanço da ideologia liberal)
Conflito com a servidão alemã
Pressão para mudança na lei de propriedade
Contrarrevolução: permanência da estrutura
5. 1807: Steh-Handenberg
- Abolição da servidão
- Leis agrárias (1811-1821)
 Camponês: acesso à terra →metade da propriedade vai para o senhor
 Concentração de terras
 Propriedade privada → aumento da produção
6. Tratado de Versailles
- Criação de poder militar, especialmente na fronteira com a França
- Problema: descentralização econômica
1834: Zollverein → unificação dos impostos comerciais
1840: ferrovias + substituição de importações (bens de capital) + expansão das atividades do vale do Ruhr
1848: revoluções sociais → classe média + aristocracia → militares
 Constituição liberal, que limitasse o poder da aristocracia rural
 Ascensão de uma ideologia dirigista e nacionalista
1870: vitória contra a França (Bismarck)
1880: discurso antiliberal, protecionismo (medo da concorrência)
7. Indústria
- Investimento em educação técnica
- Associação entre bancos e indústria → formação de oligopólios
- Vanguarda na 2ª Revolução Industrial: indústrias química, elétrica e siderúrgica
MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA: A EXPERIÊNCIA JAPONESA
(Moore)
1. Modelo japonês
- Especificidades: caso mais bem sucedido de industrialização da Ásia + influências diretas do estrangeiro
- Modernização conservadora (semelhante à prussiana): coexistência de estruturas arcaicas e industrialização moderna + estado como personagem central
2. Século XVI-XVII
- Imperador não rege o país 
- O shogunato (família Tokagawa) exerce o poder político → descentralização, mas com obrigações junto aos superiores [feudalismo + absolutismo]
- Camponeses sujeitos a obrigações (pagas principalmente em arroz)
- Samurais: poder militar, também recebiam tributos
3. Séculos XVIII-XIX
- Ascensão do comércio
- Em 1850, Yedo tinha uma população de 500 mil, criando um mercado interno fornecido pelas manufaturas de Kupto
- O shogunato controla o comércio internacional (comércio fechado)
4. Fissuras na sociedade japonesa
- O clã Tokagawa é questionado por outros senhores (daimus)
- Senhores x samurais (quando os conflitos se reduzem com a centralização)
- Plano externo: pressão para abertura do mercado → ameaça à soberania japonesa
 Queda do clã Tokagawa: senhores + samurais → restauração do imperador
1868: Revolução Meiji → incorporação dos métodos militares e industriais Ocidentais
1869: abolição da servidão → conflito com os senhores, que recebem títulos públicos
1871: reformas liberais → fim das guildas + propriedade privada + libertação dos camponeses + ocidentalização + abertura das importações
1878: reforma tributária → tributos monetários → monetarização da economia + estímulo à produtividade + concentração de terras + tributo direcionado para a industrialização
5. Transformações
- Campo: aumento da produtividade (irrigação, fertilização)
- Ocidentalização: técnicos e professores ocidentais + educação (básica, técnica e superior)
- Indústria: substituição de importações (incorporação de maquinarias) + indústria têxtil (seda → aumento da exportação)
- 1868-1880: empresas comandadas pelo estado
- Reformas de 1880:
i. sistema monetário → criação de um banco central e de bancos de investimento + adesão ao padrão-ouro em 1897
ii. expansão da marinha mercante e das ferrovias
iii. Estado como fonte de estímulos, não de intervenção
 Venda das empresas constituídas para grandes grupos familiares (Zaibatsus)
 Indústrias oligopolistas →aproximação da 2ª Revolução Industrial
	 século XX: potência industrial e militar (militarismo + expansionismo)
INDUSTRIALIZAÇÃO NOS EUA
(Cury)
1. Contexto histórico: 1830-40 → limites da 1 ª RI
2. Particularismo dos EUA na pré-industrialização:
- Não-feudal: transformação agrária mais direta
- Desenvolvimento interno ligado à demanda externa inglesa: necessidade de independência
- Sul (plantation) x Norte (pequenas propriedades, servidão temporária, diversificação produtiva embrionária)
- Gargalos: população, falta de integração interna, altos custos de produção e comercialização
3. Duas fases da RI americana
1ª: gestação e superação de barreiras
- Estado industrialista: têxteis, fechamento dos portos
- Transportes e comunicação: integração e redução dos custos
- Disponibilidade de matérias-primas + avanços técnicas (imigrantes)
2ª: consolidação e mercado de massas
- Big business: capitalismo oligopolista
Firma como núcleo decisivo das mudanças
Concentração em grandes empreendimentos centralizados e verticalmente integrados
Substituição da firma tradicional por empresas multidivisionais hierarquizadas
Economias de escala na internalização de atividades
Carreiras técnicas e profissionais
Separação entre propriedade e controle
Foco no crescimento e na estabilidade de longo prazo
Ferrovia: 
muito capital → sociedades anônimas com administradores profissionais
custos fixos elevados, sem espaço para muitas empresas → cartel
lei antitruste → fusão
Integração dos métodos de produção e distribuição em massa no interior de uma mesma firma de negócios, com atividades supervisionadas
Verticalização: controle das matérias-primas e da distribuição, consumidor
Progresso tecnológico → consumo em massa → crescimento e diversificação da estrutura industrial
Produto homogêneo →concorrência depreços → integração horizontal
Comunicação e transportes: exploração do mercado doméstico
4. Ingredientes da industrialização americana:
- Ferrovias
- Formação do mercado interno: competição e concentração (EUA moldando o capitalismo futuro)
 INDUSTRIALIZAÇÃO ATRASADA: construção de um mercado interno
P
ropriedade privada- Independência: autonomia na política comercial	
- Fim da servidão
- Política estatal (financiamento/protecionismo)
O PADRÃO-OURO
(Eichengreen)
1. Sistema monetário internacional: tem como função garantir a relação econômica entre países
- Lastro: metalismo → compensação internacional por bases metálica
- Até a Revolução Industrial, a prata foi a moeda predominante internamente, e o ouro em transações com o exterior: bimetalismo
- Problemas com o bimetalismo: para manter a circulação simultânea do ouro e da prata, é preciso que a proporção oficial entre eles seja próxima à do mercado
- Atração do bimetalismo: cunhagem do ouro, fatores políticos, externalidades em rede
- Século XIX: Inglaterra: ouro; Alemanha, Áustria, Rússia: prata; França: bimetalismo
2. Inglaterra e o padrão-ouro
- Século XVIII: bimetalismo
- 1717: Isaac Newton cria a casa da moeda e fixa a paridade entre ouro e prata, criando uma prata valorizada frente ao ouro
- Entrada maciça de ouro vindo do Brasil acentua a valorização da prata
- Lei de Gresham: o dinheiro ruim (que tem menor valor) expulsa o dinheiro bom do mercado
- 1774: Inglaterra adota o padrão-ouro
3. Bimetalismo europeu
- Meados do século XIX: ruptura [descoberta de ouro (1848/51) e de prata (1859) nos EUA]
- Vulnerabilidade das flutuações da paridade entre as moedas na França e na Itália
- 1860: (i) expansão das atividades comerciais (ii) 1862: itália reduz a pureza da prata
- 1865: união monetária latina → padronização da cunhagem
- O marco entra para o padrão-ouro, obtendo acesso ao capital inglês
4. Estabelecimento do padrão-ouro:
- Externalidade em rede: potências industriais aderem ao padrão-ouro para ter mais acesso a bens de capital, capital e mercado consumidor da Inglaterra
- Diferentes operacionalizações do padrão-ouro: sistemas fiduciários, sistemas proporcionais
- 1870-1913: reservas em ouro
- Periferia: reservas em moeda conversível
- Fim do padrão-ouro: redução nas descobertas de ouro causou deflação, pressão social com a democratização, aumento da competição internacional
5. Funcionamento do padrão-ouro
- Teórico: David Hume – ajuste automático no balanço de pagamentos
- Realidade: diferença entre as economias
- Condições necessárias: estabilidade da moeda e da taxa de câmbio como prioridade dos governos + solidariedade e coordenação internacional → proteção política contra pressões sociais, mercados abertos e flexíveis
 Padrão-ouro como resultado das decisões autônomas dos governos nacionais (seguindo a Inglaterra)
DA GRANDE DEPRESSÃO AO IMPERIALISMO
Capitalismo → desenvolvimento mundial → expansão permanente → fim do capitalismo (Rosa)
1. Vários autores identificam uma particularidade no capitalismo do fim do século XIX
Fase monopolista
Capitalismo financeiro
Imperialismo
Acumulação de capital → expansão (do território de influência e dos mercados consumidores)
2. Movimento de capital diferenciado: livre concorrência → monopólio
Reprodução financeira do capital
Formação de uma oligarquia financeira
Integração econômica crescente: novos mercados, novos consumidores
 “partilha do mundo” → esgotamento da expansão → excedente de capital → guerra
3. Duas fases: Grande Depressão (1873-1896) e Belle Époque (1896-1913)
4. Grande Depressão: redução do nível do crescimento
 Manifestação: queda dos preços
 Queda dos lucros Queda dos juros
- Explicações possíveis:
Crise financeira (NY, Viena) → Moratória (Espanha, Egito, Grécia, Turquia, Am. Latina)
 Fenômeno pontual
Padrão-ouro: deflação em decorrência da expansão do sistema monetário internacional
 Não são todos os países que usam só ouro e a taxa de juros em queda indica que não é escassez de moeda
Inovação e aumento da produtividade
- queda dos preços [matérias-primas e industrializados]
- redução dos custos de transporte
- elevação dos salários (movimento operário) → limite para a acumulação de capital
- Consequências:
Retomada do protecionismo
2ª Revolução Industrial (Alemanha e Estados Unidos): aumento do capital fixo para reduzir os custos e monopólios para reduzir a concorrência e elevar os lucros
Imperialismo
- Rosa: crise de subconsumo (falta de mercado)
- Lênin: busca de maior rentabilidade para o capital

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