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TEXTO DE APOIO DE ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE
1
A  ECONOMIA POLÍTICA DO COLONIALISMO
PORTUGUÊS EM MOÇAMBIQUE
(uma introdução ao estudo da Economia de Moçambique)
I  Parte
NOTAS INTRODUTÓRIAS À COLONIZAÇÃO DE MOÇAMBIQUE
1. CONFERÊNCIA DE BERLIM (1884)
As  fronteiras  Africanas  foram  definidas  numa  mesa  de  negociações  obedecendo  à
vontade  dos  diplomatas  intervenientes,  sem  um  conhecimento  real  do  terreno  em
discussão.
Em 1898, Alemanha e Grã- Bretanha assinam o Tratado de WESTMINSTER, o qual
previa a distribuição dos territórios (colónias) de Portugal caso este fosse obrigado a ficar
sem eles. Desse tratado, os Britânicos ficariam com o Sul de Moçambique e o Centro de
Angola, enquanto aos Alemães caberia o Norte de Moçambique, o Norte e Centro de
Angola.
Este tratado serviu para os apetites das grandes potências em termos de:
-
Actividades Comerciais;
-
Investimentos;
-
Actividades de Missionários.
Serviu  também  para  diminuir  tensão  sobre  os  Portugueses  em  relação  à  perda  das
colónias.
Em consequências disso, as fronteiras Moçambicanas foram mais tarde produto de uma
negociação entre a Grã- Bretanha e Portugal.
2
A ameaça do poder Britânico no Transvaal levou a Grã-Bretanha a assinar um acordo
secreto com os Portugueses – O Tratado de WINDSOR, o qual garantia a Portugal   a
segurança de posse de suas colónias.
Até 1890, o Norte de Moçambique era desconhecido pelos Portugueses. Por volta dos
anos 1900 largas áreas de Moçambique eram controladas por Companhias Estrangeiras.
Por volta de 1913, a Grã- Bretanha renovou o Tratado de WINDSOR, pois, já alcançara
em parte as suas pretensões.
2. COMPANHIAS EM MOÇAMBIQUE E DATAS DA SUA FORMAÇÃO
a)  Companhias Majestáticas:
A- COMPANHIA DE MOÇAMBIQUE, 1888, reestruturada em 1891 com poderes de:
-
fazer subconcessões;
-
cobrar impostos;
-
emitir selos;
-
cunhar moeda.
À Companhia de Moçambique, com uma concessão para 25 anos ( estendida em 1897 e
prevista para terminar em 1942), foi, pelo Governo Português, dada a missão de pacificar
o território sob o seu controlo ( do Rio Zambeze à Latitude 22º, à Sul do Rio Save).
B- COMPANHIA DO NIASSA, 1891, com poderes para:
-
cobrar impostos aos camponeses;
-
controlar o emprego;
-
cobrar direitos e emolumentos aduaneiros.
À Companhia do Niassa, cuja área de 100.000 Km2 se estendia ao Norte do Rio Lúrio,
tinha sido dada uma concessão de 35 anos, contados a partir de 1894.
3
b)  Companhias Concessionários e/ou Arrendatárias:
A – COMPANHIA DA ZAMBÉZIA, 1892, que resultou da fusão da Sociedade dos
Fundadores da Companhia Geral da Zambézia, criada em 1880, com Central África &
Zoutpamberg Exploration Company;
B- COMPANHIA DO BOROR, 1898
C- COMPANHIA DO MADAL, 1904
D- SOCIEDADE DO MADAL, 1904
E- EMPRESA AGRÍCOLA DE LUGELA, 1906
F- SENA SUGAR ESTATES, 1920
G- INCOMÁTI SUGAR ESTATES, 1914
III – MOÇAMBIQUE SOB O DOMÍNIO DA MONARQUIA E DA REPÚBLICA
PORTUGUESA:
A Monarquia Liberal do meio do século XIX aspirava à uma administração centralizada
para as Colónias.
No  entanto,  nos  últimos  anos  da  Monarquia,  as  oportunidades  de  organização  e
desenvolvimento político- administrativo de Portugal nas suas colónias e particularmente
em Moçambique foram muito limitadas pelas concessões e pelos prazos. As concessões
originais dos Prazos tinham sido por 15 anos mas muitas delas já haviam sido estendidas
para 25 anos.
Com a República, Portugal prometeu uma maior autonomia às Colónias no âmbito de
uma administração mais descentralizada.
Promulgação do Estatuto dos Indígenas e a respectiva Secretaria dos Negócios Indígenas
(1907).
Criação de hierarquias na Administração Civil: Divisão do País em Distritos e destes em
Circunscrições ( Zonas Rurais) e Concelhos ( Zonas Urbanas).
4
II Parte
O NACIONALISMO ECONÓMICO DE SALAZAR E OS
PLANOS  DE FOMENTO EM MOÇAMBIQUE
Com Salazar há uma definição de novas relações económicas entre Portugal e os seus
territórios ultramarinos. Segundo Salazar:
Os territórios ultramarinos eram “uma solução lógica para os problemas de sobre
população de Portugal, para instalar cidadãos portugueses nas colónias e para que
as  colónias  produzam  matérias-primas  para  vender  à  mãe  pátria  em  troca  de
produtos manufacturados”.
Em  consequência  desta  política  do  chamado  Estado  Novo,  e  no  caso  concreto  de
Moçambique, Portugal precisava de alterar, à seu favor, o domínio do capital estrangeiro.
Portugal precisava de desenvolver a sua indústria téxtil e, consequentemente, era preciso
garantir um crescente fornecimento de algodão barato a fim de se poder situar o país
numa posição competitiva no mercado mundial. Para a concretização das suas pretensões,
Portugal:
1-  Aboliu  os  poderes  político-administrativos  que  as  companhias  majestáticas,  que
operavam no centro e no norte de Moçambique, até aí detinham, fazendo com que estas
passassem apenas a contar com a sua base produtiva. Assim, houve modificações da
estrutura económica de Moçambique colonial, pois a actividade do capital estrangeiro
ficou restringida à economia de plantações.
2-  Assinou,  em  1928,  uma  nova  Convenção  com  África  do  Sul  que  prolongava  a
integração já estabelecida de Moçambique no subsistema de África Austral através do
elo-  trabalho  migratório-  serviços  de  transportes.  Esta  convenção  trazia  um  novo
elemento: a obrigatoriedade do pagamento diferido por parte da África do Sul e, desta
forma,   assegurar-se   a   entrada   em  Moçambique   de   divisas   estrangeiras  de  parte
significava da conta salarial dos mineiros.
5
3- Intensificou, alargou e institucionalizou a prática de trabalho forçado e do cultivo
forçado de culturas de rendimento. Economicamente, e em concorrência com formas de
capital mais poderosas e mais estabelecidas, a burguesia portuguesa, bem assim como a
burguesia  dos  colonos  só  poderiam  assegurar  a  sua  posição  através  da  expansão,
racionalização e institucionalização do sistema de trabalho forçado: quer através da renda
da força de trabalho, quer através do cultivo forçado de culturas de rendimento.
Estas medidas eram parte de uma estratégia de desenvolvimento da burguesia portuguesa
que  era  subdesenvolvida.  Assim,  os  interesses  da  burguesia  dos  colonos  e  pequena
burguesia local, tiveram de se subordinar às necessidades de acumulação da burguesia
portuguesa.
O  aparelho  repressivo  do  Estado  tornou-se  portanto  o  instrumento  para  instituir  um
sistema  de  acumulação  de  capital  assente  na  extracção  de  mais-  valia  absoluta:  quer
directamente, através da venda forçada da força de trabalho, quer indirectamente, através
do cultivo forçado de culturas de rendimento. Nesse contexto, é de destacar a circular de
1 de Maio de 1947 que obrigava todos os indígenas a trabalhar seis meses por ano para o
Governo, para uma companhia ou para um particular.
As importações e a indústria  transformadora
Por outro lado, Portugal continuou a ser a principal fonte de importações de Moçambique
até  princípios  dos  anos  “60”.  A  colónia  constituía  um  mercado  para  as  indústrias
transformadoras de Portugal - um mercado que ainda se expandiu mais sob o impulso de
uma comunidade colona que aumentou rapidamente.
Durante  o  período  1945-1960,  assistiu-se  a  uma  expansão  relativamente  rápida  de
determinadas indústrias viradas para o mercado local, e isto por duas razões:

A  comunidade  colono  em  expansão  não  podia  ser  totalmente  absorvida  pela
agricultura;

As  indústrias  viradas  para  o  mercado  interno  que  surgiram  nunca  foram
directamente competitivas com os principais ramos de exportação de Portugal.
6
Os colonos e o povoamento
A  sobrepopulação  em  Portugal  constituía
uma  questão  séria  para  as  autoridades
governamentais. Esta sobrepopulação resultava do facto do desenvolvimento da indústria
para as cidades que levou às altas taxas de emigração, condicionado pelas relações sociais
de produção prevalecentes em Portugal- domínio dos latifundiários.
Houve um empenho activo do regime para:
a)   evitar queo fluxo de emigração não fosse para as colónias, isto, com o propósito
de  manter  colonos  dentro  da  jurisdição  de  Portugal,  contribuindo  para  o
rendimento nacional e disponíveis para o serviço militar;
b)  fortalecer a base de apoio do regime transformando a força revolucionária em
potência,  campesinato  proletarizado,  numa  pequena  burguesia  colonial  e/ou
aristocracia operária;
c)   adoptar uma política de incorporação das colónias como províncias ultramarinas
de Portugal, negando assim, formalmente, à existência de uma questão colonial.
III  Parte
AS PRINCIPAIS FASES DA ACUMULAÇÃO DE CAPITAL NO
MOÇAMBIQUE COLONIAL, NO PERÍODO 1885-1973
1885-1926: A dominação do Capital Estrangeiro Não Português

Economia  de plantações (Centro e Norte do País)

Reserva de Mão- de- Obra para o capital mineiro Sul- Africano
1926- 1960: A Fase do Nacionalismo Económico de Salazar

Intensificação da integração de Moçambique no subsistema da África do Sul

Acumulação de capital na base de extracção de Mais Valia Absoluta através da
racionalização e institucionalização do sistema de trabalho forçado
7

1960 – (63/64) – 1973: Crise e Reestruturação do Capital

Abolição legal do sistema de trabalho forçado (1960- 63/64)

Crise da base económica do Salazarismo

Políticas de “portas-abertas”.
IV  Parte
OS PLANOS DE FOMENTO EM MOÇAMBIQUE
Os objectivos gerais dos Planos de Fomento
Após a segunda guerra mundial, os Estados Unidos da América adoptaram o “Plano
Marshall”, um programa de ajuda à reconstrução da Europa capitalista.
Portugal,  tendo  beneficiado  pouco  dessa  ajuda,  optou  por  copiar  o  “modelo”  de
reconstrução   da   Europa,   em   que   o   Estado   concentrava   os   seus   esforços   no
desenvolvimento   de   infra-estruturas   económicas   criando,   assim,   a   base   para   a
industrialização capitalista do sector privado. É nesse contexto que, a partir do início da
década “50”, surgiram os Planos de Fomento em Portugal. Assim, o primeiro plano que
abrangia  o  período  de  1953  à  1958,  concentrava-se  na  construção  de  infra-estruturas
económicas;  o  segundo,  que  englobava  o  período  de  1959  à  1964,  dava  ênfase  à
industrialização;  o  plano  de  fomento  intercalar,  de  1965
à  1967,  visava  dar  apoio
especial  aos  sectores  de  exportação,  o  terceiro  plano  de  fomento,  de  novo,  focava  o
desenvolvimento industrial e compreendia o período 1968 à 1973. Por último, o quarto
plano, de 1974 à 1979, também contemplava o processo de industrialização.
No cômputo geral, os planos de Fomento tinham como objectivos:

Elevar o nível de vida dos portugueses;

Assegurar aos portugueses novas e melhores oportunidades de emprego;
8

Modernizar a técnica e o equipamento na agricultura e nas indústrias daquele tempo,
com a absorção de braços em condições suficientemente remuneradoras através da
colonização interna, da colonização ultramarina e da instalação de novas indústrias.
Os Planos de Fomento das colónias sempre foram concebidos dentro de uma perspectiva
de subordinar os interesses das colónias aos da metrópole.
A colónia era vista como fonte de acumulação para o processo de industrialização em
Portugal, e no caso concreto de Moçambique como colónia, tinha de assumir o papel de:

Produzir  matérias-primas  baratas  para  a  indústria  portuguesa  (exemplo:  algodão,
açúcar, etc.);

Ganhar divisas para a metrópole, através da exportação de mão- de obra, dos saldos
dos serviços de transportes de mercadorias em trânsito, venda de matérias-primas no
mercado mundial- caju, etc.;

Fornecer um mercado seguro para os produtos industriais de Portugal, e permitir ao
mesmo tempo a migração de portugueses para as colónias.
9
Em resumo, eram os seguintes os objectivos dos Planos de Fomento:
Nestas condições não é difícil compreender que, uma grande parte dos planos de fomento
nas colónias visava criar as infra-estruturas económicas para exploração colonial, e em
particular apoiando o desenvolvimento da economia capitalista dos colonatos.
Os  Planos  de  Fomento  eram  também  caracterizados  por  ser  parciais  e  restritos  aos
grandes investimentos a efectuar pelo Estado na agricultura, nas vias de comunicação e
nos  meios  de  transportes,  e  aos  investimentos  a  fazer  pelos  particulares  com auxílio
directo e indirecto do Estado não só na agricultura e nos meios de transportes, como
também na instalação de novas indústrias e no desenvolvimento das existentes.
10
Os  Planos  de  Fomento  tinham  um  duplo  carácter:  imperativos,  em  relação  aos
investimentos exclusivamente públicos; indicativos, no que respeitava aos investimentos
de natureza privada.
Bibliografia utilizada e recomendada para aprofundamento dos assuntos em análise:
Direcção dos Serviços de Planeamento e Integração Económica – Os Planos de Fomento;
Hedges,  D.  &  Rochas,  A.  (...).  Moçambique  Face  à  Crise  Económica  Mundial  e  o
Reforço do Colonialismo Português, 1930 – 1937, in Cadernos de História, nº 3;
Lobato, A. & Costa , P. (1973), Moçambique na Actualidade, Lourenço Marques;
Newitt, M. (1995), A HISTORY OF MOZAMBIQUE, London, Hurst & Company;
Rodrigues, R.C (1972), As Assimetrias Espaciais do Desenvolvimento Sócio– Económico
em Moçambique, Universidade de Lourenço Marques;
Wuyts, M.E. (1978), Camponeses e Economia Rural em Moçambique, UEM, CEA;
ELEMENTOS PRINCIPAIS DA ESTRUTURA ECONÓMICA
FORMADA PELO CAPITALISMO COLONIAL EM MOÇAMBIQUE
1. Introdução
À  altura  da  independência  nacional  (1975),  a  estrutura  económica  de  Moçambique
apresentava  características  gerais  muito  semelhantes  a  de  qualquer  país  colonizado,
nomeadamente:
1.
AGRICULTURA – fonte de rendimento para a maioria da população.
2.
INDÚSTRIA – pouco desenvolvida.
3.
COMÉRCIO - mercado nacional limitado e subdesenvolvido.
11
-   dependência  do  exterior:  importação  de  bens,  equipamentos  e
matérias-primas à indústria,
- exportação de produtos agrícolas.
4.
TRANSPORTE – sistema orientado para o mercado internacional
5.
CLASSE OPERÁRIA – pequena (incipiente) e desorganizada.
6.
PRODUTIVIDADE  –  baixa  e  baixo  nível  de  desenvolvimento  das  forças
produtivas.
2. Agricultura
Ocupando  cerca  de  75%  da  mão-de-obra  activa,  a  produtividade  na  agricultura  era
baixíssima  devido  à  utilização  de  tecnologias  e  técnicas  agrícolas  rudimentares.  A
mecanização era quase inexistente e a utilização de agro-químicos e de outros factores
modernos muito reduzida.
O sector da agricultura caracterizava- se pela existência de um dualismo de estruturas que
compreendia:

Um sector com 4700 propriedades agrícolas, nas quais centenas de milhares de
moçambicanos  trabalhavam  para  os  colonos,  cuja  produção  se  destinava  ao
mercado ( ex: açúcar, sisal e chá). Esta era a mão- de- obra assalariada  usando
técnicas relativamente avançadas de cultivo e dedicando-se à produção mercantil.

Um outro sector de economia com cerca de 1.700.000 pequenas explorações do
tipo familiar e de subsistência cuja produção, pela sua natureza e dimensão, se
destinava em cerca de 80% para o auto-consumo. Os excedentes de produção
deste  sector  eram  adquiridos  pelos  colonos  à  preços  extremamente  baixos  e
destinavam- se ao mercado externo e à indústria nacional (ex: algodão, cajú e
sementes oleaginosas).
Esta  era  a  mão- de- obra familiar  usando  técnicas  de  cultivo  atrasadas  e
produzindo para o auto- consumo.
12
Estes factores mantiveram a estrutura económica subdesenvolvida pois a grande
maioria da população manteve-se no campo produzindo apenas com a enxada.
O  isolamento  entre  camponeses  e  trabalhadores  assalariados  não  tornou  possível  o
surgimento  de  operários  agrícolas.  O  desigual  e  baixo  nível  de  desenvolvimento  das
forças produtivas, aliado às técnicas extraordinariamente atrasadas de cultivo e sacha, não
podia  permitir  que  a  independência  nacional,  de  per  si,  transformasse  a  estrutura
económica rumo ao desenvolvimento da economia nacional. Subsistiam no paísvestígios
de modo de produção pré-capitalistas e de relações de classe com base na ligação da
acumulação capitalista ao atraso da agricultura familiar. A dependência para acumulação
capitalista de exploração do campesinato era através de:
-
cultivo forçado de cultura de rendimento;
-
trabalho sazonal e assalariado nas machambas e plantações dos colonos;
-
fornecimento (venda) de produtos agrícolas pelos camponeses à preços baixos
para a indústria nacional;
-
fonte de recrutamento de trabalho migratório assalariado.
Estas formas de exploração capitalista destruíram a economia de subsistência, pois a
produção camponesa foi organizada de forma a constantemente a produzir para a
subsistência  e  ainda  um  excedente  que  contribuía  para  aumentar  o  capital  em
Moçambique, Portugal e África do Sul. O baixo custo da força de trabalho colonial-
que  constituiu  a  própria  base  de  acumulação  de  capital  colonial-  dependia  da
capacidade da família camponesa de se auto- alimentar e ainda produzir excedentes.
Assim, o rendimento proveniente do trabalho assalariado e da produção forçada de
culturas  de  rendimento  tornou-  se  um  elemento  necessário  para  a  reprodução  da
agricultura familiar – para a compra de “ inputs”, animais e instrumentos de tracção,
bem como de bens de consumo.
Daí  que  se  pode  considerar  a  estrutura  económica  de  desequilibrada  porque  a
13
produção  foi  organizada  para  servir  o  desenvolvimento  e  interesses  de  outras
economias.
3. Indústria
Base industrial muito fraca. A indústria em Moçambique não surgiu em consequência
da  evolução  da  estrutura  económica  global  do  país,  mas  como  uma  actividade
subsidiária da exportação, isto é, imposta pela necessidade de transformar produtos
primários até à fase exportável.
Tendo em conta a aptidão ecológica  do país para as culturas de cana-de-açúcar, do
sisal, do coqueiro, do algodoeiro, do chá, entre outros, são as indústrias do início do
ciclo  de  transformações  industriais  destes  produtos  que  primeiro  apareceram  em
Moçambique. Os complexos agro- industrias do açúcar e do sisal são anteriores à
grande guerra de 1914. São também antigas e correspondem igualmente à objectivos
de  exportação  as  indústrias  de  extracção  de  óleos  vegetais,  do  descaroçamento  e
prensagem de algodão, da preparação do chá e da serração de madeira.
Nos finais da década de “40”, embora lentamente, assistiu-se à expansão do mercado
interno (25.000 europeus) que tornou viáveis algumas indústrias que respondiam à
sua procura. Assim surgiram as indústrias do sabão e do tabaco; depois, as da cerveja,
do cimento e do vestuário; mais tarde já na década de “50”, a moagem de trigo e a
fiação e tecelagem de algodão e juta; e, por fim, já nos anos “60”, a refinação de
petróleos,  a  laminagem  de  ferro  e  aço,  a  construção  e  montagem  de  material  de
caminho de ferro, e o descasque da castanha de caju.
O  sector  da  indústria  pesada  para  produção  de  máquinas  para  outros  sectores  da
economia era muito incipiente, com um peso de apenas 11.7% no valor bruto da
produção em 1973. A indústria existente, basicamente de transformação primária de
produtos agrícolas estava equipada com maquinaria importada, frequentemente em
segunda   mão   ou   mesmo   obsoleta.   Sendo   assim,   só   era   capaz   de   efectuar
transformações finais, de acabamento ou de embalagem de produtos importados.
14
Por  outro  lado,  assistia-se  à  localização  desigual  das  indústrias,  estando  mais  de
metade localizadas na cidade capital de Lourenço Marques.
Sendo assim, este tipo de indústria só garantia a reprodução da dependência pois, o
desenvolvimento  industrial  em  Moçambique  estava  bastante  condicionado  pelo
proteccionismo às indústrias da metrópole colonial.
4. Comércio
Toda a rede comercial na cidade e no campo pertencia e era gerida por estrangeiros
(desde a venda por grosso até à venda à retalho). Daí que, neste sector, era visível a
discriminação racial.
Era  vedada  aos  moçambicanos  negros  qualquer  actividade  comercial  de  conta
própria, cabendo a estes assegurar a troca desigual de produtos das suas machambas
com os produtos industriais.
5. Serviços
Este sector dominava a economia (os serviços contribuíam com 85% no PIB em
1973)  e  foi  responsável  pela  grande  maioria  de  investimento  em  infra-estruturas
durante o período colonial, tendo atingido expressão económica muito significativa.
Os portos e caminhos de ferro foram orientados quase exclusivamente para os países
do  “hinterland”  (África  do  Sul,  Zimbabwe,  Malawi,  Zâmbia),  como  reflexo  da
política colonial de subordinação aos interesses dos países vizinhos, sem ter em conta
as necessidades do comércio e desenvolvimento dentro de Moçambique.
Contudo, o desenvolvimento do sector terciário criou uma desintegração espacial da
economia por carências da rede de transportes (quer rodoviários, quer ferroviários) e
ausência de centros polarizantes em vastas regiões do território. As linhas férreas
foram construídas na direcção Este-Oeste e não na direcção Norte- Sul. Nem as linhas
férreas, nem estradas, ligam as diversas zonas do país.
15
6. Conclusão
Em suma, os elementos principais da estrutura económica formada pelo colonialismo
que mais dificultaram e continuam a dificultar o desenvolvimento da economia de
Moçambique são:
a)   A integração de Moçambique na divisão internacional do trabalho como:
- fornecedor de mão-de-obra barata;
- receptor do capital estrangeiro;
- produtor de matérias-primas e fornecedor de serviços para servir o
desenvolvimento   de   outras   economias:   África   do   Sul   e   Portugal,
sobretudo.
b)  A   forte   dependência   do   exterior,   traduzida   pela   necessidade   de   importar
praticamente todos os bens de equipamentos e uma parte muito considerável dos
bens de consumo destinados à satisfação das necessidades primárias.
c)   A forte dependência do exterior, traduzida pela necessidade de exportar produtos
primários ou com pequeno grau de transformação industrial, cujas cotações eram
e   continuam   a   ser   fortemente   dominadas   pelos   interesses   do   comprador,
apresentando o comércio externo saldos fortemente negativos. Estes saldos eram
compensados  por  invisíveis  provenientes  de  serviços  prestados  aos  países
vizinhos,  de  tudo  resultando  uma  Balança  de  Pagamentos  sistematicamente
positiva com o estrangeiro e sistematicamente negativa com a metrópole, em que,
ao contrário do que sucede com o estrangeiro, o desequilíbrio é fundamentalmente
resultante do movimento de invisíveis.
d)  Estrutura económica subdesenvolvida e desequilibrada, com uma grande maioria
da população vivendo nas zonas rurais (sem condições mínimas) e produzindo
apenas com a enxada.
e)   Agricultura
atrasada,
indústria
rudimentar
e
estruturas
ferro-portuárias
deterioradas.
16
f)   O carácter totalmente discriminatório do ensino colonial conduziu, naturalmente,
à marginalização dos Moçambicanos no acesso ao ensino.
g)  A  cobertura  sanitária  era  muito  pobre,  essencialmente  reduzida  aos  grandes
centros urbanos.
h)  Na  produção  e  na  gestão  das  unidades  económicas  e  sociais,  as  ocupações  e
categorias profissionais, incluindo funções técnicas ou de chefia eram preenchidas
e ocupadas por estrangeiros.
i)   Desintegração  espacial  da  economia  por  carência  da  rede  de  transportes  e
ausência de centros polarizantes em vastas regiões do território.
Estes factos merecem realce porque são os que hoje têm mais peso negativo na
luta  empreendida  por  Moçambique  independente  contra  o  atraso  económico  e
social.
Bibliografia utilizada e recomendada para o aprofundamento dos assuntos em análise:
Hedges, D. &   Rocha, A. (…), Moçambique Face à Crise Económica Mundial e o
Reforço do Colonialismo Português, 1930-1937, In Cadernos de História, nº. 3;
Lobato, A. & Costa, P. (1973), Moçambique na Actualidade, Lourenço Marques;
Newit, M. (1995), A HISTORY OF MOZAMBIQUE, London, Hurst & Company;
Wuyts,M.E. (1978), Camponeses e Economia Rural em Moçambique, UEM, CEA;
17
A AGRICULTURA MOÇAMBICANA:
Caracterização, estrutura, políticas agrárias e outros aspectos relevantes
(Princípios fundamentais)
“1. A organização económica e social da República de Moçambique visa a satisfação das
necessidades essenciais da população e a promoção do bem estar social e assenta nos
seguintes princípios fundamentais:
a)   na valorização do trabalho;
b)  nas forças do mercado;
c)   na iniciativa dos agentes económicos;
d)  na coexistência do sector público, do sector privado, e do sector cooperativo e
social;
e)   na protecção do sector cooperativo e social;
f)   na   acção   do   Estado   como
regulador   e   promotor   do   crescimento   e
desenvolvimento económico e social”. – Artigo 97 da CRM
(Agricultura)
“1. Na República de Moçambique a agricultura é a base do desenvolvimento nacional.
2.  O  Estado  garante  e  promove  o  desenvolvimento  rural  para  satisfação  crescente  e
multiforme das necessidades do povo e o progresso   económico e social do país”. –
Artigo 103 da CRM
(Sector familiar)
“1. Na satisfação das necessidades básicas da população, ao sector familiar cabe um
papel fundamental.
18
2. O Estado incentiva e apoia a produção do sector familiar e encoraja os camponeses,
bem como os trabalhadores individuais, a organizarem-se em formas mais avançadas de
produção”. – Artigo 105 da CRM
(Produção de pequena escala)
“O Estado reconhece a contribuição da produção de pequena escala para a economia
nacional  e  apoia  o  seu  desenvolvimento  como  forma  de  valorizar  as  capacidades  e
criatividade do povo”. – Artigo 106
(Empresariado nacional)
“1.O Estado promove e apoia a participação activa do empresariado nacional no quadro
do desenvolvimento e da consolidação da economia do país.
2. O Estado cria os incentivos destinados a proporcionar o crescimento do empresariado
nacional em todo o país, em especial nas zonas rurais”. – Artigo 107
1.   O PERÍODO COLONIAL
A agricultura no período colonial manteve-se subdesenvolvida pois, a grande maioria
manteve-se
no
campo
produzindo
apenas
com
a
enxada.
No
entanto,
o
subdesenvolvimento   da   agricultura   fora   planificado   para   servir   os   interesses   da
acumulação  primitiva  de  capital  através  da  extracção  do  excedente  económico  do
camponês, sob forma de força de trabalho para a produção de mais-valia, ou sob a forma
de produtos dos camponeses comprados a preços baixos.
Desprovido de capital financeiro, a burguesia portuguesa no poder não fez mais do que
arrendar  vastas  parcelas  de  território  de  Moçambique  a  capitais  estrangeiros  (não
portugueses) como forma de manter a sua hegemonia e domínio colonial sobre o país.
Assim, o Centro e o Norte de Moçambique foram arrendados a companhias estrangeiras
com poderes e funções não só económicas, mas também políticos e administrativos. O
Sul de Moçambique transformou-se numa reserva de mão-de-obra para o capital mineiro
na África do Sul.
19
Durante  a  1ª.  Fase  da  colonização  também  se  assistiu  à  uma  imigração  de  colonos
portugueses para Moçambique, o que nas áreas rurais contribui para a formação dos
Latifúndios que muito beneficiaram  da política colonial de apropriação das terras férteis
dos camponeses e da instituição do trabalho forçado (o Chibalo). Recorde-se da Circular
de 1 de Maio de 1947 que obrigava todos os indígenas a trabalhar seis meses por ano para
o governo, para uma companhia ou para um particular.
1.1  Caracterização e Estrutura da Agricultura na economia colonial
Ocupando  cerca  de  75%  da  mão-de-obra  activa,  a  produtividade  na  agricultura  era
baixíssima  devido  à  utilização  de  tecnologias  e  técnicas  agrícolas  rudimentares.  A
mecanização era quase inexistente e a utilização de agro-químicos e de outros factores
modernos muito reduzida.
O sector da agricultura caracterizava-se pela existência de um dualismo de estruturas que
compreendia:

Um sector com 4700 propriedades agrícolas, nas quais centenas de milhares de
moçambicanos  trabalhavam  para  os  colonos,  cuja  produção  se  destinava  ao
mercado  (ex:  açucar,  sisal  e  chá).  Esta  era  a  mão-de-obra assalariada  usando
técnicas   relactivamente   avançadas   de   cultivo   e   dedicando-se   à   produção
mercantil.

Um outro sector de economia com cerca de 1.700.000 pequenas explorações de
tipo familiar e de subsistência cuja produção, pela sua natureza e dimensão, se
destinava em cerca de 80% para o auto-consumo. Os excedentes de produção
deste  sector  eram  adquiridos  pelos  colonos  à  preços  extremamente  baixos  e
destinavam-se  ao  mercado  externo  e  à  indústria nacional (ex:  algodão,  cajú  e
sementes oleaginosas). Esta era a mão-de-obra familiar usando técnicas de cultivo
atrasadas e produzindo para o auto-consumo.
O  isolamento  entre  camponeses  e  trabalhadores  assalariados  não  tornou  possível  o
surgimento  de  operários  agrícolas.  O  desigual  e  baixo  nível  de  desenvolvimento  das
forças produtivas, aliado às técnicas extraordinariamente atrasadas de cultivo e sacha, não
podia  permitir  que  a  independência  nacional,  de  per  si,  transformasse  a  estrutura
20
económica rumo ao desenvolvimento da economia nacional. Subsistiam na país vestígios
de modos de produção pré-capitalistas e de relações de classe com base na ligação da
acumulação  capitalista  ao  atraso  da  agricultura
familiar.  A  dependência  para  a
acumulação capitalista de exploração do campesinato era através de:
Cultivo forçado de culturas de rendimento;
Fornecimento (venda) de produtos agrícolas pelos camponeses a preços
baixos para a indústria colonial,
Fonte de recrutamento de trabalho migratório assalariado.
Estas formas de exploração capitalista colonial distruiram a economia de subsistência,
pois a produção camponesa foi organizada de forma a constantemente produzir para a
subsistência   e   ainda   um   excedente   que   contribuia   para   aumentar   o   capital   em
Moçambique, Portugal e África do Sul. O baixo custo da força de trabalho colonial – que
constituiu a própria base de acumulação do capital colonial – dependia da capacidade da
família   camponesa   de   se   auto-alimentar   e   ainda   produzir   excedentes.   Assim,   o
rendimento proveniente do trabalho assalariado e da produção forçada de culturas de
rendimentos tornou-se um elemento necessário para a reprodução da agricultura familiar
para a compra de “inputs”, animais e instrumentos de tracção, bem como de bens de
consumo.
Analisando a estrutura social da produção agrícola na colónia de Moçambique podemos
verificar cinco elementos principais:
1.  As  plantações  –  grandes  empresas  de  monocultura,  concentradas  no  Vale  do
Zambeze, extraindo o seu trabalho do campesinato, numa base regular ou sasonal.
Estas  plantações  eram  controladas  pelo  capital  estrangeiro  (não  potuguês),  e
especializadas na produção de culturas de rendimento para a exportação – açucar,
chá, copra, sisal, entre outras;
2.   Os Latifúndios – grandes propriedades de colonos normalmente com ocupação
de parte da sua terra pelos camponeses produzindo muitas vezes em sistema de
21
chibalo ou sendo obrigados a entregar parte de sua produção (sistema de extração
da renda em espécie) para os colonos;
3.
Médias  e  pequenas  machambas  dos  colonos  –  machambas  dos  colonos
dependendo de uma maneira significativa do trabalho familiar do colono assim
como  do  chibalo  e  trabalho  assalariado  do  campesinato.  Eram  geralmente
unidades de produção mais eficientes caracterizadas por possuirem sistemas de
irrigação,  mecanização,  etc.  São  exemplos  da  localização  destas  unidades  de
produção: o Vale do Limpopo, em Gaza; o Vale do Incomáti em Umbelúzi, em
Maputo.  Na  sua  maioria,  a  produção  deste  grupo  destinava-se  a  satisfazer  a
comunidade de colonos nos centros urbanos.
4.   A   burguesia   e   pequena   burguesia   comercial   no   campo   –  fornecia  as
infraestruturas  necessárias  em  termos  de  lojas,armazéns  e  facilidades  de
transportes em termos de compra e posterior venda dos produtos dos camponeses.
As cantinas rurais constituiam, juntamente com os armazenistas, a principal forma
de controlo e apropriação de excedentes do compesinato.
5.   O   campesinato   –  para  além  de  produzir  para  as  suas  necessidades  em
alimentação,  foi  compulsivamente  integrado  na  economia  de  mercado  como
fornecedor da força de trabalho para as plantações, latifúndios e colonos, e/ou
como pequenos produtores de mercadorias para vender ao colono.
Em termos de produção, estes diferentes sectores contribuiam do seguinte modo:
Quadro I: Estrutura Global da produção Agrícola
Produção agrícola total
Da qual:
- Produção de subsistência
- Produção comercializada
100%
55%
45%
22
Da qual:
- Produção camponesa comercializada
- Produção de plantações
- Produção das machambas dos colonos/latifúndios
15%
15%
15%
Fonte: Marc Wuyts (1987), Camponeses e Economia Rural em Moçambique
1.2 As Funções Económicas do Campesinato Moçambicano
A Circular de 1 de Maio de 1947 foi uma oficialização da prática de trabalho forçado
(chibalo) que propiciou a acumulação primitiva do capital à burguesia colonial. Para além
de   produzir   para   a   sua   subsistência,   o   campesinato   moçambicano   contribuiu
significativamente para a produção mercantil do País. Cerca de um terço da produção
total mercantil tinha como origem os ‘excedentes’ dos camponeses, nomeadamente os
seguintes produtos:
Quadro II: Importância relativa da produção dos camponeses
23
Fonte: Adaptado de Marc Wuyts (1987)
A produção dos camponeses teve um papel significativo na agricultura moçambicana,
uma vez que era responsável por cerca de 70% da produção total, sendo 55% para a
subsistência  e  os  restantes  15%  comercializados  como  excedente.  Em  média,  os
camponeses comercializavam 20% da sua produção e as suas principais produção para o
mercado contribuiam em cerca de 44% nas receitas de exportação do país.
Quadro III: Alguns principais produtos de exportação,1973
Fonte: Adaptado de Marc Wuyts (1987)
Quanto às funções económicas do campesinato pode-se assinalar que em Moçambique, o
sistema   actuou   nas   zonas   rurais   basicamente   com   dois   padrões:   por   um   lado,
24
institucionalizou um sistema de trabalho migratório interno (Centro e Norte do País) e
externo (no Sul do País), por outro lado, implantou um processo de campesinatização que
exigiu a transformação dos camponeses moçambicanos em produtores de mercadorias.
Deste modo, os camponeses moçambicanos muito contribuiram para as seguintes funções
económicas na economia colonial:

Produção de matérias-primas baratas, especialmente para a exportação (cajú,
algodão, copra, chá e tabaco), mas também para fornecer a indústria alimentar
virada essencialmente para o mercado interno de colonos (cereais e oleaginosas);

Produção de alimentos baratos, para o abastecimento dos próprios trabalhadores
e dos colonos;

Fornecimento da força de trabalho, para as empresas capitalistas, a baixo custo
para o capital. A rendibilidade de trabalho nas plantações, nas médias e pequenas
empresas agrárias, nas minas, nos portos e caminhos de ferro, dependia muito do
recrutamento  da  força  de  trabalho  sazonal  pelas  autoridades  administrativas
coloniais.  Este  recrutamento  representava  sempre  uma  mais  valia  para  as
autoridades   administrativas,   pois   os   salários   eram   baixos   mas,   por   cada
trabalhador  recrutado  o  beneficiário  pagava  uma  importância  às  autoridades
administrativas da circunscrição do recrutado;

Redução  dos  custos  de  produção  da  força  de  trabalho,  por  intermédio  da
produção familiar destinada ao auto-consumo e da produção de alimentos baratos.
1.3. Padrões Regionais na Estrutura de produção Agrícola
Como referido na introdução, a debilidade política e financeira de Portugal ao lado de
outras potências internacionais levou à regionalização e especialização do País. Assim, ao
Sul  de  Moçambique  coube  funcionar  como  reserva  de  mão-de-obra  para  a  indústria
mineira sul-africana; ao Centro e Norte do País coube a especialização na economia de
plantações e transformação do camponês em produto de mercadorias.
25
Em consequência desta especialização regional, a relação entre o produto agrícola total e
comercializado, e entre as diferentes formas sociais de produção variou de região para
região.
Quadro IV: Padrões Regionais da Produção Agrícola em %
Fonte: Adaptado de Marc Wuyts (1987), quadro IV, V, VII e VIII
2. TRANSIÇÃO E CRISE NO PERÍODO PÓS-INDEPENDÊNCIA
O Acordo de Lusaka entre as autoridades coloniais portuguesas e a FRELIMO no dia 7
de  Setembro  de  1974  abriu  caminho  para  o  fim  da  colonização  e  proclamação  da
independência   de   Moçambique.   O   período   de   transição   para   a   independência
testemunhou uma desintegração rápida da burguesia e pequena burguesia colonial através
do abandono massivo dos portugueses (para Portugal e África do Sul) combinado com a
fuga de capitais, sabotagem, contrabando e destruição de equipamento.
26
Nas zonas rurais, o processo de desintegração da base económica da burguesia colonial
foi caracterizado pelo abandono das propriedades pelos colonos, para além da destruição
de equipamentos e abate de gado, ou o seu contrabando através das fronteiras da África
do Sul e Rodésia. Até a rede de comercialização não escapou, pois esta era quase que
exclusivamente   controlada   pela   burguesia   e   pequena   burguesia   colonial.   Como
consequência, assistiu-se a uma dramática baixa na produção e colheita de produtos agro-
pecuários, o que aliado com a baixa de produção dos camponeses provocou uma quebra
acentuada da comercialização de excedentes mercantis, afectando o mercado interno e as
exportações.
Quadro V: Crise da Produção Agrícola no período pós-Independência (1974/75)
Fonte: Marc Wuyts (1987), Camponeses e Economia Rural em Moçambique, Quadro IX, pág. 48
Estudiosos divergem na análise das causas da crise de 1974-77 e dos indicadores para uma
política agrária no período pós-independência.
Os dualistas argumentam que a crise 1974/77 reflectiu o carácter dualista, ou bimodal, da
economia agrária de então, em Moçambique. Os colonos abandonaram o país e houve
desinvestimento nas plantações e como consequência o sector capitalista desmoronou-se e
27
isso afectou negativamente o mercado interno e as exportações. Por outro lado, com a
liberdade o campesinato pôde retirar-se da produção agrícola comercializada e da venda da
sua força de trabalho. Por isso, a crise da produção agrícola comercializada explica-se pelo
facto de o campesinato ter regressado ao modo de produção pré-capitalista (a chamada
economia natural ou tradicional), e o facto do sector capitalista ter perdido investimento e
força de trabalho.
Para os não-dualistas, a crise de 1974/77 foi provocada pelo desmoronamento do sistema e
do Estado coloniais, facto que era inevitável. Por um lado, o sector empresarial entrou em
crise   parcialmente   porque   os   colonos   abandonaram   o   país   e   porque   se   registou
desinvestimento  nas  plantações.  A  quebra  da  produção  agrícola  comercializada  do
campesinato  deveu-se,  sobretudo,  à  ruptura  dos  circuitos  de  comercialização  e  dos
abastecimentos do campo com bens de consumo e factores de produção, ao desincentivo de
preço, à fraqueza do sistema de extensão rural e à deterioração da base de acumulação do
campesinato, que se reflectiu num certo desinvestimento na agricultura familiar.
Os não-dualistas olham também para o efeito global da crise. Enquanto por um lado, ela
pôs em causa a viabilidade do sector empresarial e de todo o sistema de produção agrária
coloniais na medida em que este não conseguiu superar a sua dependência em relação ao
trabalho  sazonal,  por  outro  lado,  a  crise  reflectiu-se  com  particular  severidade  na
deterioração acelerada  da  base  produtiva do  campesinato.  Este  ficou sem acesso  a  um
salário estável e privou-sedas mais importantes fontes de rendimento. (veja tabela 4, pág.
52-53, Castelo-Branco, 1994).
2.1 As Directivas Económicas do III Congresso da FRELIMO
A  estratégia  de  desenvolvimento  económico  e  social  de  Moçambique  independente  foi
explicada durante o III Congresso da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO),
em Fevereiro de 1977. A FRELIMO transformou-se em partido marxista-leninista, adoptou
um sistema económico de planificação centralizada no contexto da orientação política-
ideológica  socialista.  Esta  estratégia  foi  mais  tarde  concretizada  no  Plano  Prospectivo
Indicativo (PPI), cujo objectivo era acabar com o subdesenvolvimento em 10 anos (1980-
1990).
28
Para o sector agrário, a Colectivização ou Socialização do Campo constituia a espinha
dorsal do desenvolvimento do país.
A  socialização  do  campo  permitiria  a  criação  de  um  forte  sector  estatal  agrário  e  a
transformação da agricultura familiar através de um dinâmico movimento cooperativo, com
o enquadramento de milhões de camponeses em cooperativa agrícolas e a emergência de
um operário agrícola. Por outro lado, a socialização do campo criaria condições para o
aumento da produtividade no campo.
Sendo o sector estatal o dominante, os objectivos do seu desenvolvimento e fortalecimento
era contribuir para o cumprimento das metas dos Planos anuais através da dinamização e
desenvolvimento das forças produtivas no campo. Para a efectivação deste objectivo, até
1984,  mais  de  90%  dos  investimentos  e  dos  técnicos  disponíveis  foram  afectos  na
agricultura  e  à  componente  construção  de  infraestruturas  para  apoiar  a  agricultura,
nomeadamente as obras de irrigação.
Entre 1977-81, foram importados mais de três mil tractores e cerca de meio milhar de auto-
combinados,  entre  outros  equipamentos  e  maquinaria  agrícola.  Insumos  agrícolas  de
melhor qualidade foram importados e usados massivamente na agricultura, sendo exemplo
os fertilizantes e pesticidas.
Em 1978, as empresas estatais agrárias ocupavam 100 mil hectares de terra cultivável,
tendo esta área expandido para 140 mil hectares em 1982.
A mecanização acelerada destinava-se a modernizar e a aumentar rapidamente a produção
do  sector  estatal.  No  entanto,  o  tipo  e  a  intensidade  da  mecanização  introduzidos
levantaram problemas sérios tendo em conta a estrutura económica existente:
a) Reduziram as oportunidades de emprego dado o aumento da produtividade do factor
trabalho pela mecanização. Esta situação contribuiu para o aumento da instabilidade do
emprego;
b) Aumentaram as necessidades pelo trabalho sazonal, especialmente nos períodos de pico
da colheita, pois a mecanização não contemplou todas as fases do processo de produção (da
lavoura à colheita);
29
c) O fluxo de serviços que concorreria para optimizar o aproveitamento da mecanização
nem  sempre  estava  disponível.  São  os  casos  de  assistência  técnica,  fornecimento  de
combustíveis e lubrificantes, peças sobressalentes, manutenção corrente e pessoal técnico à
altura;
d) Faltaram, com muita frequência, os insumos que pudessem garantir a estabilidade da
produção em quantidade e qualidade, o que diminuiu a rendibilidade e a qualidade das
culturas, aumentou os custos unitários e quase que eliminou a viabilidade económica do
investimento realizado;
No  entanto,  a  economia,  no  seu  global,  estava  longe  de  ser  planificada  dadas  as
dificuldades de se planificar a produção do sector familiar, as calamidades naturais cheias
de 1977-78 e secas de 1981-83), os choques externos do mercado internacional (aumento
do  preço  do  petróleo  e  deterioração  dos  termos  de  troca  do  comércio  internacional),
deslocamento das populações das zonas de residência e de produção, como consequência
da sabotagem e insegurança provocadas pelas acções armadas de desestabilização.
Apesar desta conjuntura nacional e internacional, a partir de 1977, os níveis gerais da
produção  apresentam  tendências  para  aumentar,  mas  o  ponto  de  partida  era,  contudo,
demasiado baixo, devido à quebra havida nos dois últimos anos do colonialismo.
O crescimento da produção bruta agrária de 1977 a 1981 foi de cerca de 9% no período, e a
contribuição do sector agrário para o Produto Social Global foi, em média, de 40% ao ano,
no período em referência.
O  subsequente  aumento  da  contribuição  da  agricultura  para  a  produção  bruta  agrária,
resultou principalmente do crescimento da comercializção particularmente nos seguintes
produtos.
Quadro VI: Produção Bruta Agrária Comercializada
30
Algodão caroço
Chá folha verde
Citrinos
,,
,,
,,
52.0
79.0
25.0
73.6
99.2
36.7
Fonte: CNP: Informaçào Económica, 1984
O  sector  familiar  contribuiu  com  cerca  de  36%  da  produção  agrária  comercializada,
sendo a sua participação considerável em culturas como o algodão, o cajú, oleaginosas, o
milho e outros cereais. As inundações de 1977-1978, em conjugação com as secas de
1981 a 1983, devastaram enormes áreas na região sul do país, onde se produzia cerca de
80% do arroz e 20% do acuçar, onde se encontrava 70% dos efectivos bovinos do país.
As principais exportações continuaram a ser origem agrícola.
Quadro VII: Evolução das Exportações de Produtos Agrícolas (Mil contos de MT)
Fonte: CNP, 1982
31
Por  isso,  a  contribuição  do  sector  agrícola  foi  bastante  condicionada  pela  enorme
flutuação dos preços dos produtos agrícolas no mercado internacional, para além dos
factores  internos  já  referidos  anteriormente,  as  inundações  e  secas,  a  diminuição  do
aprovisionamento por importação e as acções de desestabilização. O crescimento do valor
das  exportações  até  resultou  da  melhor  organização  do  processo  de  exportação  e  da
retirada de Moçambique da zona do escudo.
É  digno  mencionar  que  as  estratégias  de  desenvolvimento  agrário  desenhada  no  III
Congresso  não  foi  integralmente  implementada.  No  entanto,  foram  significativos  os
resultados do desempenho do sector agrícola até 1983:
Quadro VIII: Produção Agrária de principais Produtos, em Mil Toneladas
Fonte: Elaborado a partir de Informações Estatísticas da CNP, DNE
À   excepção   do   arroz,   todos   os   produtos   apresentam,   em   1981,   os   melhores
índices em termos de resultados, como consequência dos esforços de investimentos
alocados prioritariamente no sector estatal agrícola. No entanto, a política para as zonas
rurais tinha se baseado num número de pressupostos que não estavam em concordância
com as condições materiais do abastecimento de bens alimentares na zona rural, nem
com os padrões vigentes. O apoio ao sector familiar foi negligenciado, o que contribuiu
para a redução da produção nacional agrícola comercializada.
32
Quadro IX: Produção Pecuária
Fonte: Elaborado apartir de informações estatísticas da CNP, DNE
Em consequência de todos os factores que influiam na economia moçambicana, depois
de 20 anos consecutivos de guerra (1964-1983), agressões, destruições, saques, sem
reservas económicas e com a economia estruturalmente dependente e subdesenvolvida,
o sonho da reconstrução e desenvolvimento do sector agrário não foi tarefa fácil. A
estratégia para modernização para o desenvolvimento rural, que Moçambique escolheu
em 1977, não obteve os resultados previstos. Contribuiram para tal dentre outros os
seguintes factores:

Crise e queda do colonialismo, agravada pelo desenvolvimento de uma profunda
crise   económica   internacional   (a   elevação   da   taxa   de   juros   no   mercado
internacional, a contracção geral na concessão de créditos novos pelos bancos
internacionais, a determinação dos termos de troca no comércio internacional) e
pela subida vertiginosa dos preços do petróleo a partir de 1974;

Calamidade naturais, os actos de agressão e de destruição e as acções sistemática
de desestabilização económica e social;

Reduzido número de técnicos moçambicanos, erros e insuficiências próprias de
quadros que adquirem experiências de direcção e gestão política económica no
próprioprocesso de transformação da vida económica e social;
33

A não confirmação de Moçambique como membro do pleno direito da Comissão
de Ajuda Mútua Económica (CAME);

A aplicação integral de sanções ao regime rebelde de Ian Smith, em cumprimento
da Resolução 253 (1968) aprovada em 29 de Maio de 1968 pelo Conselho de
Segurança das Nações Unidas;

Agindo contra a independência de Moçambique e em reacção contra a aplicação
de sansões à colónia rebelde da Rodésia do sul, o regime sul africano planeou e
desencadeou uma guerra não declarada contra Moçambique;

Destruição de 400 estabelecimentos comerciais nas zonas rurais em 1982 e de
cerca  de  500  outros  em  1983,  com  efeitos  multiplicadores  negativos  para  a
economia camponesa.
2.2. As Directivas Económicas do IV Congresso e o Desenvolvimento da Agricultura
Aquando da realização do IV Congresso do Partido Frelimo, em Abril de 1983, a crise
económica e os seus efeitos demolidores da guerra de agressão e da desestabilização
contra Moçambique já eram uma realidade.
A reflexão sobre o estágio da estrutura e desenvolvimento da economia moçambicana
levou o IV Congresso da Frelimo a formular Directivas Económicas e Sociais profundas
que estabeleciam o quadro global de desenvolvimento para 5 anos.
As directivas difiniam uma metodologia de utilização máxima e integral dos recursos
disponíveis localmente e o máximo aproveitamento das capacidades produtivas com vista
a minimizar as importações e aumentar progressivamente as exportações.
Contrariamente às Directivas do III Congresso, o IV Congresso recomendava uma forte
combinação dos pequenos e grandes para o combate à fome e o aumento de receitas em
divisas para o país.
A estratégia definida pelo IV Congresso da Frelimo para o sector agrário reafirmava que
a vitória sobre o desenvolvimento assentava no apoio concentrado e integrado do sector
de produção familiar, em especial na actividade agro-pecuária, assegurando os recursos
34
necessários em instrumentos de trabalho, meio de produção e bens essenciais para a troca
no campo. O objectivo era aumentar a produtividade do sector familiar e estimular a
produção mercantil que garantisse excedentes para o aprovisionamento interno e para o
aumento  das  exportações.  O  esforço  principal  incidiria  na  produção  de  cereais,  na
plantação e repovoamento de cajueiros, no incentivo à apanha de castanha de cajú, na
produção de algodão, mandioca, oleaginosas, feijão, na pecuária e produção de carne, e
na pesca.
As conversações à nível governamental entre Moçambique e a África do Sul com vista ao
estabelecimento de um clima de boa vizinhança, assente  reconhecimento e na prática de
princípios universalmente aceites da coexistência pacífica e do respeito pela soberania e
integridade  territorial,  da  não  ingerência  nos  assuntos  internos  de  cada  Estado,  e  a
perspectiva   de   relacionamento   económico   comercial   com   base   na   igualdade   e
reciprocidade de benefícios, permitiam encarar o futuro da economia do país com muito
optimismo e confiança.
Em cumprimento do Programa de Acção Económica (PAE) aprovado no IV Congresso
da Frelimo, iniciou-se um processo de liberalização de preços que pouco a pouco ia
marcando   os   primeiros   momentos   da   introdução   da   economia   de   mercado   em
Moçambique.
A visita do Presidente Samora Machel aos Estados Unidos, em 1983, a assinatura do
Acordo de Nkomati entre Moçambique e a África do Sul, em 1984, e a aceitação de
Moçambique como membro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial
(BM), permitiram que o país começasse a receber uma significativa assistência bilateral
das instituições internacionais de ajuda ao desenvolvimento.
A adesão às instituições de Bretton Woods proporcionaram ao país beneficiar de um
programa de recuperação e transformação económica. Em Janeiro de 1987 iniciava em
Moçambique a implantação do Programa de Realibitação Económica (PRE) que em 1989
integrou também a componente social (PRES). Os objectivos do PRE que eram inspirado
e condicionado pelas políticas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional,
tinha como objectivos principais:

Reverter a queda da produção nacional;
35

Assegurar à população das zonas rurais, receitas mínimas e um nível de consumo
mínimo;

Reinstalar   o   balanço   macro-económico   através   da   diminuição   do   déficit
orçamental;   Reforçar   a   balança   de   transações   correntes   e   a   balança   de
pagamentos.
O PRE tinha por objectivo liberalizar a economia e sucessivamente deixá-la orientar-se
para o mercado.
Para que isso acontecesse era imprescindível que medidas políticas à nível financeiro,
monetário e comercial fossem tomadas. As empresas estatais deviam ser reestruturadas e,
tanto  quanto  possível,  privatizadas.  Deviam  ser  introduzidos  critérios  rígidos  de
rentabilidade  em toda  a  gestão  económica. Deviam ser  depositados  mais  esforços  na
agricultura privada, de pequena escala e familiar, através de melhores termos de troca e
de um aumento de ofertas de bens. O comércio devia ser liberalizado e o sistema de
preços fixos abolido.
Uma  análise  à  implementação  do  PRE  permite  constatar  que,  a  descida  brusca  da
produção,  que  caracterizou  o  período  compreendido  entre  1983-86,  conseguiu  ser
abrandado nos primeiros anos do programa de reabilitação, 1987-89. Um crescimento
negativo foi substituido por um crescimento anual de 5%.
Quadro X: Produção Agrária de Principais Produtos (Mil Toneladas)
36
5.
Cast. Cajú
6.
Copra
40.1
28.6
37.5
25.5
45.0
24.7
50.2
10.5
22.5
31.2
31.1
24.8
Fonte: Elaborado apartir de informações Estatísticas da CNP,DNE
3. O ACORDO GERAL DE PAZ, A RECONCILIAÇÃO E A RECONSTRUÇÃO
DO PAÍS
Em Novembro de 1990 entrou em vigor uma nova Constituição onde o sistema político
multipartidário e a economia de mercado são a nota dominante.
Em 4 de Outubro de 1992 foi assinado o Acordo Geral de Paz em Roma, Itália, entre o
governo e a RENAMO, pondo fim a cerca de 16 anos de guerra civil em Moçambique, e
abrindo uma nova página para o povo moçambicano. Em consequência do acordo e da
introdução   do   pluralismo   político,   foram   relizadas   as   primeiras   Eleições   Gerais
Multipartidárias em Moçambique, em Outubro de 1994, as segundas Eleições Gerais em
1999, e as Terceiras Eleições Gerais em 2004.
Como consequência da reconciliação e do clima de paz que prevalece em todo o país,
anos após ano, têm se registado um crescente desempenho no sector agrário da economia,
em particular a participação do sector familiar. É esse engajamento das populações que
tem contribuido para minorar os efeitos das secas e cheias e garantir uma segurança
alimentar.
4.   NOVA POLÍTICA DE TERRAS E O DESENVOLVIMENTO
“Salvaguardar os direitos dos moçambicanos sobre a terra e outros recursos naturais,
enquanto promovendo o investimento e o uso sustentável e equilibrado dos recursos”.
As prioridades da política nacional de terras são:

Aumentar a produção de comida;

Criar condições para o desenvolvimento e crescimento da agricultura familiar;

Promover um investimento privado sustentável;
37

Conservar as áreas de interesse ecológico;

Introduzir um sistema de taxas baseada na ocupação e uso do solo.
(Conselho de Ministros, Setembro de 1995)
Os princípios fundamentais da nova Política de Terras são:

Manter a terra como propriedade do Estado;

Garantir que tanto a população assim como investidores tenham acesso à terra;

Garantir que a mulher tenha acesso à terra;

Promover  o  investimento  nacional  e  estrangeiro  sem  prejudicar  a  população
residente;

Participação activa dos nacionais como parceiros em pequenas empresas privadas
de capital estrangeiro e/ou misto;

Definir  os  princípios  básicos  para  a  transformação  de  direitos  de  uso  e
aproveitamento da terra;

Usar os recursos naturais de uma maneira sustentável de modo a garantir uma
qualidade de vida às populações.
5.   A NOVA LEI DE TERRAS E SEU REGULAMENTO
A nova lei de terras, Lei nº19/97, de 1 de Outubro, reitera o princípio geral consagrado
na Constituição da República de que ”A terra é propriedade do Estado e que não pode ser
vendida ou, por qualquer outra forma, alienada, hipotecada ou penhorada” (Artigo 3).
Esta lei cria o Fundo Estatal de Terras e considera as Zonas de Protecção Total e Parcial
como do domínio público. Define-se um prazo máximo de 50 anos, renovável por igual
período, ao direito de uso e aproveitamento da terra para fins de actividades económicas.
No entanto, não está sujeito a nenhum prazo o direito de uso e aproveitamento da terra:
38

Adquirido por ocupação pelas comunidades;

Destinado à habitação própria;

Destinado à exploração familiar exercida por pessoas singulares nacionais.
O regulamento da nova lei de terra foi   aprovado através do decreto nº 66/98, de 8 de
Dezembro, do Conselho de Ministros.
O artigo 13 do Regulamento da Lei de terras define os Direitos dos Títulares do direito de
uso e aproveitamento da terra, seja adquirido por ocupação, seja por autorização de um
pedido, nomeadamente:

Defender-se contra qualquer intrusão de uma segunda parte, nos termos da lei;

Ter  acesso  à  sua  parcela  e  aos  recursos  hídricos  de  uso  público  através  das
parcelas vizinhas, constituindo para o efeito as necessárias servidões.
6. POLÍTICA AGRÁRIA
“Desenvolver  a  actividade  com  vista  a  alcançar  a  segurança  alimentar  através  da
produção diversificada de produtos para o consumo, fornecimento à indústria nacional e
para a exportação, tendo como base a utilização sustentável de recursos naturais e a
garantia da equidade social”.
A segurança alimentar pressupõe:

A disponibilidade (oferta) de produtos;

O acesso (procura) aos produtos;

A estabilidade permanente da população; alimentos em qualidade e quantidade;

Saúde e robustez física.
Os  objectivos  de  desenvolvimento  económico  do  país  dão  ênfase  à  necessidade  da
segurança alimentar que conduz à:
39

Desenvolvimento económico sustentável,

Redução de taxas de desemprego;

Redução dos níveis de pobreza absoluta.
7.   LINHAS   GERAIS   DO   PROGRAMA   QUINQUENAL   DO   GOVERNO
PARA 1995-1999
7.1 Os Objectivos e prioridades do Governo de Moçambique durante o
quinquénio 1995-99 foram definidos como sendo:
Garantia da paz, estabilidade e unidade nacional, pois elas são as condições básicas para a
realização da actividade económica e social;
Redução dos níveis da pobreza absoluta através do crescimento da produção interna, do
desenvolvimento económico e humano sustentável;
Melhoria da vida do povo, com incidência na educação, saúde, desenvolvimento rural e
emprego.
7.2 Para  a  concretização  destes  objectivos,  o  Governo  assentou  a  sua
estratégia de desenvolvimento em quatro áreas fundamentais:

Desenvolver o capital humano, através da melhoria da quantidade e qualidade dos
serviços públicos básicos;

Reabilitar infraestruturas que promovem o crescimento económico;

Apoiar o sector familiar agrícola, força produtiva maioritária do país;

Criar um clima favorável ao investimento privado, através da implementação de
medidas de política económica que visem a redução da inflação e o equilíbrio da
balança de pagamentos à médio prazo.
O objectivo central do desenvolvimento económico do país no período 1995-1999 era a
erradicação da pobreza.
40
Tomando em consideração que a maioria da população vive no campo, e que a população
deslocada e regressada seria reassentada nas zonas rurais, e que a actividade agrícola
constitui a principal fonte de riqueza do país, o desenvolvimento rural foi definido como
constituindo uma prioridade importante da acção governativa.
Previa-se que, a curto e médio prazos, a prioridade fosse assegurar, progressivamente, a
auto-suficiência alimentar em produtos básicos (milho, arroz, mapira, mexoeira, feijão,
amendoim,  mandioca),  o  fornecimento  de  matérias-primas  à  indústria  nacional  e
contribuir para a melhoria da balança de pagamentos no país, através da produção de
produtos de exportação (algodão, chá, copra, açucar, castanha de caju e outros) e da
redução  de  importação  de  produtos  agrícolas.  Deste  modo,  o  objectivo  principal  do
governo seria:

A recuperação da produção agrícola;

O  reforço  de  mecanismo  que  assegurem  o  acesso  à  terra  e  ao  seu  uso  e
aproveitamento;

A promoção do repovoamento das principais espécies pecuárias, dando particular
importância ao gado bovino;

A promoção da utilização racional e sustentável das florestas e fauna bravia, de
modo a servir a economia do país, em geral, e os interesses das comunidades nela
inseridas, em particular;

Apoio  à  comercialização  agrária,  através  da  realização  e  expansão  da  rede
comercial rural, liberalização dos preços dos produtos agrícolas e estabelecimento
dos preços mínimos de compra ao produtor, desenvolvimento de acções visando a
conservação de produtos agrícolas e a redução de perdas pós-colheita;

A  adopção  de  uma  política  de  crédito  que  apoie  as  iniciativas  empresariais,
sobretudo dos pequenos produtores;

Promover a maximização da utilização dos sistemas de regadio existentes;

Promoção da investigação e extensão agrária.
41
8
LINHAS   GERAIS   DO   PROGRAMA   QUINQUENAL   DO   GOVERNO
PARA 2000-2005
Agricultura e Desenvolvimento Rural.
O Governo definiu a agricultura como base do desenvolvimento económico e social do
país.  Por  outro  lado,  desenvolveu  medidas  de  política  visando  aumentar  a  produção
agrícola, em particular, dos cereais para a auto-suficiência alimentar.
O  governo  continuou  a  accionar  medidas  com  vista  a  alcançar  um  desenvolvimento
agrário sustentável, que pudesse permitir o alcance dos seguintes objectivos:

A redução do nível de pobreza;

A auto-suficiência e segurança alimentar em produtos básicos;

O fornecimento de matérias primas à indústria nacional;

O  desenvolvimento  do  sector  familiar,  cooperativo  e  privado,  e  criação  de
emprego;

Melhoria da balança de pagamentos.
Para  garantir  os  objectivos  acima  definidos,  o  governo  propunha-se  desenvolver  as
seguintes estratégias multi-sectoriais:

Promover um ambiente favorável para o desenvolvimento agrário baseado nas
regras do mercado, providenciando incentivos para o investimento e crescimento
produtivo;

Melhorar a rede de estradas, infra-estruturas de comunicação, desenvolvimento
dos mercados e comercialização;

Melhorar  o  desempenho  dos  serviços  públicos  de  suporte  ao  sector  familiar,
principalmente na investigação, extensão, apoio à produção agrícola, pecuária e
informação sobre mercados;
42

Garantir o uso sustentável dos recursos naturais, através do envolvimento das
comunidades na gestão e utilização da terra, recursos hídricos, florestas e fauna
bravia, em seu próprio benefício;

Desenvolver  acções  aos  níveis  micro  que  permitam  aumentar  o  ritmo  de
crescimento económico das zonas rurais, com impacto na melhoria da vida da
população rural.
9
CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DA AGRICULTURA
O país tem aproximadamente uma áres de 80 milhões de hectares dos quais:

36 milhões de hectares de terra arável sendo:
i.
26 milhões de hectares agricultáveis e apenas 5 milhões cultivados;
ii.
3   milhões   de   hectares   irrigáveis,   dos   quaias   125.000   hectares
infraestruturados e 50.000 actualmente irrigados;

44 milhões de hectares de formações florestais com mais de 22 milhões de m3 de
madeira.
O  país  tem  mais  de  3  milhões  de  exploração  agrícolas  correspondentes  a  3.866.806
hectares cultivados, ou seja, 6.923.646 parcelas.
A agricultura no país tem as seguintes características específicas:
1.   Factores biológicos;
2.   Factores climáticos que às vezes podem ser adversos;
3.   Condições fisiológicas (topográfia e solo);
4.   Terra e outros recursos naturais (solo e subsolo);
5.   Dispersão;
6.   Subsistência versus integração na economia monetária;
43
7.   Aspectos sócio-económicos (tamanho e composição das famílias, valores
culturais atitudes, crenças, tradições,género, etc);
8.   Actividade de risco ;
9.   IMPORTÂNCIA DO SECTOR AGRÁRIO

A agricultura é tomada como a base do desenvolvimento nacional (Artigo 39 da
Constituição da República);

80% da população moçambicana tem ocupação nas zonas rurais;

40% do produto Interno Bruto (PIB) provém da agricultura;

60% das receitas de exportação são gerados pelo sector agrário;

Sector complementado pelas Florestas e Fauna Bravia, Pecuária, Pesca e outras
riquezas minerais.
Nota   Importante:   Recomenda-se   o   estudo   da   Legislação   sobre   a   terra   em
Moçambique, nomeadamente, a lei nº 19/97, de 1 de Outubro , e o seu respectivo
Regulamento, Decreto nº 66/98, de 8 de Dezembro.
Bibliografia:
Abrahamsson, H. E Nilsson, A (1994), Moçambique em Transição: um estudo da história
de desenvolvimento durante o período 1974-1992, CEEI-ISRI, Maputo;
Castelo-Branco, C.N. (1994), Moçambique: Perspectivas Económicas, UEM, Maputo;
GoM-Governo  de  Moçambique  (2000),  Constituição  da  República  de  Moçambique,
Maputo;
Machel, S.M. (1983), A Luta Contra o Subdesenvolvimento, Partido Frelimo, Maputo;
GoM-Governo de Moçambique (2004), Legislação de terras, MozLegal, Maputo;
Wuyts,  M.  (1978),  Camponeses  e  Economia  Rural  em  Moçambique,  CEA,  UEM,
Maputo.
44
AGRICULTURA:   A   POSSE   E   DESENVOLVIMENTO   DA   TERRA   EM
MOÇAMBIQUE
1.   ÁFRICA PRÉ-COLONIAL
- Existência de sistemas indígenas de posse de terra com base em: linhagens, tribos,
comunidades,  etc.  Estes sistemas  regulavam os  direitos  e  obrigações  das  pessoas  em
relação às outras, com referências à terra.
-  Existência  de  DISPUTAS,  REGRAS  DE  SUCESSÃO,  integradas  no  chamado
DIREITO COSTUMEIRO ou CONSUETUDINÁRIO.
2.   ÁFRICA COLONIAL
- Institucionalização da propriedade privada da terra;
- Discriminação e segregação com base nos direitos sobre a terra;
- “Abolição” do Direito Costumeiro da terra.
3.   ÁFRICA INDEPENDENTE
-  Institucionalização  da propriedade  estatal  da terra,  que  trouxe  a  inalienabilidade  da
terra;
- Existência da propriedade privada da terra, com um Mercado (às vezes especulativo) de
terras;
- Falta de clareza e segurança no sistema de posse de terra, caracterizados pela ausência
de mecanismos transparentes de acesso à terra;
- Nacionalização da terra e inexistência do valor comercial da terra.
4.   MOÇAMBIQUE INDEPENDENTE
Nacionalização da terra no dia 24 de Julho de 1975, cerca de um mês após a declaração
da independência nacional de Moçambique.
45
A consagração na Lei Fundamental (Constituição da República) de aspectos ligados à
terra, quer na primeira Constituição, aprovada em 1975; quer na segunda Constituição,
aprovada em 1990, quer na actual constituição aprovada a 16 de Novembro de 2004:
ARTIGO 109
1.  A terra é propriedade do estado;
2.  A  terra  não  pode  ser  vendida,  ou  por  qualquer  outra  forma  alienada,  nem
hipotecada ou penhorada.
3.  Como  meio  universal  de  criação  da  riqueza  e  do  bem-estar  social,  o  uso  e
aproveitamento da terra é direito de todo o povo moçambicano.
ARTIGO 110
1.   O estado determina as condições do uso e aproveitamento da terra.
2.   .....................
ARTIGO 111
1.   Na titularização do direito de uso e aproveitamento da terra o Estado reconhece e
protege os direitos adquiridos por herança ou ocupação, salvo havendo reserva
legal ou se a terra tiver sido legalmente atribuida a outra pessoa ou entidade.
Quatro anos após a independência nacional foi aprovada a Lei de Terras, que viria apenas
a ser regulamentada oito anos depois.
(Lei de Terras – Lei 6/79 e Lei 1/86), Regulamento de lei de Terra – Decreto 16/87)
A lei 6/79, definia no seu artigo 11 que a terra para fins agrícolas tinha os seguintes tipos
de utilização: Agrícola, Pecuário e Silvícola. Por outro lado, o artigo 19 explicitava que
os objectivos do uso e aproveitamento da terra para fins não agrícolas eram os seguintes:
Habitação, Indústria, Comércio, Mercados, feiras, parques e jardins, e instalações para
fins culturais, desportivos e outras actividades sociais.
Desenvolvimento Agrário Rural e Conflitos
46
As inconsistências tanto do sistema formal assim como os sistemas consuetudinários de
posse de terra originaram conflitos e disputas de terra. Os conflitos tomaram e tomam
diversas configurações mas que podem ser resumidos no seguinte:
I.   Conflitos entre o Estado e os pequenos proprietários (e, nalguns casos, interesses
comerciais de maior invergadura), devido à expropriação de terras por parte do
estado;
II.   Conflitos entre o estado e pequenos proprietários sobre terras das explorações
agrícolas estatais que pequenos proprietários ocuparam ilegalmente (como zonas
residenciais também), ou ocuparam como trabalhadores antigos ou como antigos
donos;
III.   Conflitos  entre  o  Estado  e  produtores  comerciais  sobre  terras  alienadas  pelo
estado mais de uma vez, por exemplo:
a)   Por diferentes ministérios;
b)  Pelos governos provinciais e centrais;
c)   Pelo mesmo ministério ou província a mais do que uma pessoa;
IV.   Conflitos  entre  o  estado  e  produtores  comerciais,  por  causa  de  terras  de
explorações agrícolas estatais;
V.   Conflitos entre produtores comerciais privados;
VI.   Conflitos entre o estado e produtores comerciais, por causa de arrendamentos à
curto prazo;
VII.   Conflitos entre novos produtores comerciais e interesses portugueses regressados,
ou entre novos interesses comerciais (tanto estrangeiros como nacionais), e antigo
capital moçambicano do período colonial;
VIII.   Conflitos  entre  empresas  mistas  e  interesses  comerciais  privados,  e  entre
empresas mistas e pequenos proprietários;
47
IX.   Conflitos entre interesses comerciais e pequenos proprietários;
X.   Conflitos
entre
pequenos
proprietários,
especialmente
entre
populações
deslocadas ou em reintegração e populações locais (indígenas);
XI.   Conflitos entre o Governo e a Renamo, por causa da distribuição de concessões de
terras fora do âmbito da lei nas suas respectivas zonas de influência.
Tal como no resto de África, Moçambique tem numerosos regimes consuetudinários de
posse de terra, os quais no seu conjunto formam o sector consuetudinário da posse da
terra. Estes regimes diferem notavelmente de localidade para localidade conforme uma
variedade  de  factores,  incluindo  a  densidade  populacional,  a  organização  do  grau  de
parentesco, os padrões de herança (matrilinear ou patrilinear), a qualidade da terra, os
mercados e experiência histórica. Em Moçambique os regimes de posse consuetudináriua
diferente  grandemente  como  resultado  de  muitos  factores,  incluindo  a  sua  interacção
específica e peculiar com as autoridades coloniais e com a economia colonial, antes da
independência,  a  guerra  civil  depois  da  independência  (acompanhada  de  migração
forçada de mais de 6 mil pessoas), as cheias e as secas, a política governamental e as
recentes mudanças económicas.
5.   NOVA POLÍTICA DE TERRAS E O DESENVOLVIMENTO
“Salvaguardar os direitos dos moçambicanos sobre a terra e outros recursos naturais,
enquanto promovendo o investimento e o uso sustentável e equilibrado dos recursos”
As prioridades da política nacional de terras são:

Aumentar a produção de comida;

Criar condições para o desenvolvimento e crescimento da agricultura familiar;

Promover um investimento privado sustentável;

Conservar as àreas de interesse ecológico;

Introduzir um sistema de taxas baseado na ocupação e uso do solo.
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(Conselho de Ministros, Setembro de 1995)
Os princípios fundamentais da nova Política de Terras são:

Manter a terra como propriedade do Estado;

Garantir que tanto a população assim como investidores tenham acesso à terra;

Garantir que a mulher tenha acesso à terra;

Promover  o  investimento  nacional  e  estrangeiro  sem  prejudicar  a  população
residente;

Participação activa dos nacionais como parceiros em pequenas empresas privadas
de capital estrangeiro e/ou misto;

Definir  os  princípios  básicos  para  a  transferência  dos  direitos  de  usos  e
aproveitamentoda terra;

Usar os recursos naturais de uma maneira sustentável de modo a garantir uma
qualidade de vida às populações.
6.   A NOVA LEI DE TERRAS E SEU REGULAMENTO
A nova lei de terras, Lei nº 19/97, de 1 de Outubro, reitera o princípio geral consagrado
na Constituição da República de que ”A terra é propriedade do estado e que não pode ser
vendida ou, por qualquer outra forma, alienada, hipotecada ou penhorada” (Artigo 3).
Esta lei cria o Fundo Estatal de Terras e considera as Zonas de Protecção Total e Parcial
como do domínio público. Define-se um prazo máximo de 50 anos, renovável por igual
período, ao direito de uso e aproveitamento da terra para fins de actividades económicas.
No entanto, não está sujeito a nenhum prazo o direito de uso e aproveitamento da terra:

Adquirido por ocupação pelas comunidades;

Destinado a habitação própria;
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
Destinado à exploração familiar exercida por pessoas singulares nacionais.
O regulamento da nova lei de terra foi   aprovado através do decreto nº 66/98, de 8 de
Dezembro, do Conselho de Ministros.
O artigo 13 do Regulamento da Lei de terras define os Direitos dos Títulares do direito de
uso e aproveitamento da terra, seja adquirido por ocupação, seja por autorização de um
pedido, nomeadamente:

Defender-se contra qualquer intrusão de uma segunda parte, nos termos da lei;

Ter  acesso  à  sua  parcela  e  aos  recursos  hídricos  de  uso  público  através  das
parcelas vizinhas, constituindo para o efeito as necessárias servidões.
7.   POLÍTICA AGRÁRIA
“Desenvolver  a  actividade  com  vista  a  alcançar  a  segurança  alimentar  através  da
produção diversificada de produtos para o consumo, fornecimento à indústria nacional e
para a exportação, tendo como base a utilização sustentável de recursos naturais e a
garantia da equidade social”.
A segurança alimentar pressupõe:

A disponibilidade (oferta) de produtos;

O acesso (procura) aos produtos;

A estabilidade permanente da população;

alimentos em qualidade e quantidade;

Saúde e robustez física.
Os  objectivos  de  desenvolvimento  económico  do  país  dão  ênfase  à  necessidade  da
segurança alimentar que conduz à:

Desenvolvimento económico sustentável,
50

Redução da taxa de desemprego;

Redução dos níveis de pobreza absoluta.
8. CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DA AGRICULTURA
O país tem aproximadamente uma áres de 80 milhões de hectares dos quais:

36 milhões de hectares de terra arável sendo:
i.
20 milhões de hectares agricultáveis e apenas 5 milhões cultivados;
ii.
3   milhões   de   hectares   irrigáveis,   dos   quaias   125.000   hectares
infraestruturados e 50.000 actualmente irrigados;

44 milhões de hectares de formações florestais com mais de 22 milhões de m3 de
madeira.
O  país  tem  mais  de  3  milhões  de  exploração  agrícolas  correspondentes  a  3.866.806
hectares cultivados, ou seja, 6.923.646 parcelas.
A agricultura no país tem as seguintes características específicas:
1. Factores biológicos;
2. Factores climáticos que às vezes podem ser adversos;
3. Condições fisiográficas (topografia e solos);
4. Terra e outros recursos naturais (solo e subsolo);
5. Dispersão;
6. Subsistência versus integração na economia monetária;
7. Aspectos sócio-económicos (tamanho e composição das famílias, valores
culturais, atitudes, crenças, tradições, género, etc);
8. Actividade de risco.
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9. IMPORTÂNCIA DO SECTOR AGRÁRIO
-  A  agricultura  é  tomada  como  a  base  do  desenvolvimento  nacional  (Artigo  39  da
Constituição da República);
-  80% da população moçambicana tem ocupação nas zonas rurais;
-  40% do Produto Interno Bruto (PIB) provém da agricultura;
-  60% das receitas de exportação são gerados pelo sector agrário;
- Sector complementado pelas Florestas e Fauna Bravia, Pecuária, Pesca e outras riquezas
minerais.
Nota   Importante:   Recomenda-se   o   estudo   da   Legislação   sobre   a   terra   em
Moçambique, nomeadamente, a lei nº 19/97, de 1 de Outubro , e o seu respectivo
Regulamento, Decreto nº 66/98, de 8 de Dezembro.
A INDÚSTRIA MOÇAMBICANA:
Caracterização, estrutura, políticas industriais e outros aspectos relevantes
“Na  República  de  Moçambique  a  indústria  é  o  factor  impulsionador  da  economia
nacional” – Artigo 104 da Constituição da República de 2005.
1.   O PERÍODO COLONIAL
A  indústria  existente  em  Moçambique  não  surgiu  em  consequência  da  evolução  da
estrutura económica global do país, mas como uma actividade subsidiária da exportação,
isto é, imposta pela necessidade de transformar produtos primários até à fase exportável.
Tendo em conta a aptidão ecológica do país para as culturas de cana-de-açúcar, do sisal,
do coqueiro, do algodoeiro, do chá, entre outros, são as industrias destes produtos que
primeiro apareceram em Moçambique. Os complexos agro-industriais do açúcar e do
sisal são anteriores à guerra de 1914. São também antigas e correspondem igualmente à
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objectivos de exportação as indústrias de extracção de óleos vegetais, do descaroçamento
e prensagem de algodão, da preparação do chá e da serração de madeira.
Nos finais da década de “40’, embora lentamente, assistiu-se à expansão do mercado
interno (25.000 europeus) que tornou viáveis algumas industrias que respondiam à sua
procura. Assim surgiram as indústrias do sabão e do tabaco; depois, as da cerveja, do
cimento e do vestuário; mais tarde e já na década de “50”, a moagem de trigo e a fiação e
tecelagem de algodão e juta; e por fim, já nos anos “60”, a refinação de petróleos, a
laminagem de ferro e aço, a construção e montagem de material de caminho de ferro, e o
descasque da castanha de caju.
O  sector  da  indústria  pesada  para  a  produção  de  máquinas  para  outros  sectores  da
economia  era  muito  incipiente,  com  um  peso  de  apenas  11,7%  no  valor  bruto  da
produção  de  1973.  A  indústria  existente,  basicamente  de  transformação  primária  de
produtos  agrícolas  estava  equipada  com  maquinaria  importada,  frequentemente  em
segunda  mão  ou  mesmo  obsoleta.  Sendo  assim,  só  era  capaz  de  efectuar  pequenas
transformações finais, de acabamento ou de embalagem de produtos importados.
Por outro lado, assistia-se à localização desigual das indústrias, estando mais de metade
localizadas na cidade capital de Lourenço Marques.
1.1.
Objectivos da Indústria Transformadora
A industrialização no período colonial obedeceu à objectivos específicos, nomeadamente:
1.   A   oferta   de   matérias–primas   semi-processadas   para   exportação   e/ou   para
aprovisionamento da indústria portuguesa. Ex.; descasque da castanha de cajú;
descaroçamento do algodão; sisal; copra; açúcar; etc.
2.   Satisfazer a crescente procura (formada por cerca de 250.000 colonos em 1974)
de bens terminais de consumo.
3.   Criar  oportunidades  de  investimento  para  o  pequeno  empresário  português
residente.
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4.   Oferecer   um   mercado   para   recolocação   dos   equipamentos   e   máquinas
tecnologicamente   ultrapassados   e   fisicamente   depreciados   que   a   indústria
portuguesa teria de substituir no processo da sua modernização; diminuir o custo
de oportunidade tecnológico para a indústria de Portugal.
5.   Tentar melhorar a face do regime colonial de modo a aliviar a crescente pressão
política doméstica e internacional, intensificada com a luta armada de libertação
nacional.
1.2 Estrutura da Indústria
A  estrutura  da  indústria  transformadora  moçambicana  herdada  do  colonialismo  era
subdesenvolvida e desequilibrada, débil e dependente, vulnerável e ineficiente (Veja os
mapas e gráficos, em anexo).
A indústria transformadora tinha muito pouco impacto na economia, contribuindo com
apenas 17% no PIB, em 1973. Havia uma fraqueza das ligações inter e intra-industriais e
em consequência, 67% da produção industrial provinha de apenas três ramos da indústria:
alimentos, bebidas e tabacos. Os téxteis, vestuário e couro ocupavam 7%, enquanto a
madeira e o mobiliário, 6%.
A dependência da indústria era e continua atípica. A produção do ramo de téxteis e
vestuário era

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