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TEXTO DE APOIO DE ECONOMIA DE MOÇAMBIQUE 1 A ECONOMIA POLÍTICA DO COLONIALISMO PORTUGUÊS EM MOÇAMBIQUE (uma introdução ao estudo da Economia de Moçambique) I Parte NOTAS INTRODUTÓRIAS À COLONIZAÇÃO DE MOÇAMBIQUE 1. CONFERÊNCIA DE BERLIM (1884) As fronteiras Africanas foram definidas numa mesa de negociações obedecendo à vontade dos diplomatas intervenientes, sem um conhecimento real do terreno em discussão. Em 1898, Alemanha e Grã- Bretanha assinam o Tratado de WESTMINSTER, o qual previa a distribuição dos territórios (colónias) de Portugal caso este fosse obrigado a ficar sem eles. Desse tratado, os Britânicos ficariam com o Sul de Moçambique e o Centro de Angola, enquanto aos Alemães caberia o Norte de Moçambique, o Norte e Centro de Angola. Este tratado serviu para os apetites das grandes potências em termos de: - Actividades Comerciais; - Investimentos; - Actividades de Missionários. Serviu também para diminuir tensão sobre os Portugueses em relação à perda das colónias. Em consequências disso, as fronteiras Moçambicanas foram mais tarde produto de uma negociação entre a Grã- Bretanha e Portugal. 2 A ameaça do poder Britânico no Transvaal levou a Grã-Bretanha a assinar um acordo secreto com os Portugueses – O Tratado de WINDSOR, o qual garantia a Portugal a segurança de posse de suas colónias. Até 1890, o Norte de Moçambique era desconhecido pelos Portugueses. Por volta dos anos 1900 largas áreas de Moçambique eram controladas por Companhias Estrangeiras. Por volta de 1913, a Grã- Bretanha renovou o Tratado de WINDSOR, pois, já alcançara em parte as suas pretensões. 2. COMPANHIAS EM MOÇAMBIQUE E DATAS DA SUA FORMAÇÃO a) Companhias Majestáticas: A- COMPANHIA DE MOÇAMBIQUE, 1888, reestruturada em 1891 com poderes de: - fazer subconcessões; - cobrar impostos; - emitir selos; - cunhar moeda. À Companhia de Moçambique, com uma concessão para 25 anos ( estendida em 1897 e prevista para terminar em 1942), foi, pelo Governo Português, dada a missão de pacificar o território sob o seu controlo ( do Rio Zambeze à Latitude 22º, à Sul do Rio Save). B- COMPANHIA DO NIASSA, 1891, com poderes para: - cobrar impostos aos camponeses; - controlar o emprego; - cobrar direitos e emolumentos aduaneiros. À Companhia do Niassa, cuja área de 100.000 Km2 se estendia ao Norte do Rio Lúrio, tinha sido dada uma concessão de 35 anos, contados a partir de 1894. 3 b) Companhias Concessionários e/ou Arrendatárias: A – COMPANHIA DA ZAMBÉZIA, 1892, que resultou da fusão da Sociedade dos Fundadores da Companhia Geral da Zambézia, criada em 1880, com Central África & Zoutpamberg Exploration Company; B- COMPANHIA DO BOROR, 1898 C- COMPANHIA DO MADAL, 1904 D- SOCIEDADE DO MADAL, 1904 E- EMPRESA AGRÍCOLA DE LUGELA, 1906 F- SENA SUGAR ESTATES, 1920 G- INCOMÁTI SUGAR ESTATES, 1914 III – MOÇAMBIQUE SOB O DOMÍNIO DA MONARQUIA E DA REPÚBLICA PORTUGUESA: A Monarquia Liberal do meio do século XIX aspirava à uma administração centralizada para as Colónias. No entanto, nos últimos anos da Monarquia, as oportunidades de organização e desenvolvimento político- administrativo de Portugal nas suas colónias e particularmente em Moçambique foram muito limitadas pelas concessões e pelos prazos. As concessões originais dos Prazos tinham sido por 15 anos mas muitas delas já haviam sido estendidas para 25 anos. Com a República, Portugal prometeu uma maior autonomia às Colónias no âmbito de uma administração mais descentralizada. Promulgação do Estatuto dos Indígenas e a respectiva Secretaria dos Negócios Indígenas (1907). Criação de hierarquias na Administração Civil: Divisão do País em Distritos e destes em Circunscrições ( Zonas Rurais) e Concelhos ( Zonas Urbanas). 4 II Parte O NACIONALISMO ECONÓMICO DE SALAZAR E OS PLANOS DE FOMENTO EM MOÇAMBIQUE Com Salazar há uma definição de novas relações económicas entre Portugal e os seus territórios ultramarinos. Segundo Salazar: Os territórios ultramarinos eram “uma solução lógica para os problemas de sobre população de Portugal, para instalar cidadãos portugueses nas colónias e para que as colónias produzam matérias-primas para vender à mãe pátria em troca de produtos manufacturados”. Em consequência desta política do chamado Estado Novo, e no caso concreto de Moçambique, Portugal precisava de alterar, à seu favor, o domínio do capital estrangeiro. Portugal precisava de desenvolver a sua indústria téxtil e, consequentemente, era preciso garantir um crescente fornecimento de algodão barato a fim de se poder situar o país numa posição competitiva no mercado mundial. Para a concretização das suas pretensões, Portugal: 1- Aboliu os poderes político-administrativos que as companhias majestáticas, que operavam no centro e no norte de Moçambique, até aí detinham, fazendo com que estas passassem apenas a contar com a sua base produtiva. Assim, houve modificações da estrutura económica de Moçambique colonial, pois a actividade do capital estrangeiro ficou restringida à economia de plantações. 2- Assinou, em 1928, uma nova Convenção com África do Sul que prolongava a integração já estabelecida de Moçambique no subsistema de África Austral através do elo- trabalho migratório- serviços de transportes. Esta convenção trazia um novo elemento: a obrigatoriedade do pagamento diferido por parte da África do Sul e, desta forma, assegurar-se a entrada em Moçambique de divisas estrangeiras de parte significava da conta salarial dos mineiros. 5 3- Intensificou, alargou e institucionalizou a prática de trabalho forçado e do cultivo forçado de culturas de rendimento. Economicamente, e em concorrência com formas de capital mais poderosas e mais estabelecidas, a burguesia portuguesa, bem assim como a burguesia dos colonos só poderiam assegurar a sua posição através da expansão, racionalização e institucionalização do sistema de trabalho forçado: quer através da renda da força de trabalho, quer através do cultivo forçado de culturas de rendimento. Estas medidas eram parte de uma estratégia de desenvolvimento da burguesia portuguesa que era subdesenvolvida. Assim, os interesses da burguesia dos colonos e pequena burguesia local, tiveram de se subordinar às necessidades de acumulação da burguesia portuguesa. O aparelho repressivo do Estado tornou-se portanto o instrumento para instituir um sistema de acumulação de capital assente na extracção de mais- valia absoluta: quer directamente, através da venda forçada da força de trabalho, quer indirectamente, através do cultivo forçado de culturas de rendimento. Nesse contexto, é de destacar a circular de 1 de Maio de 1947 que obrigava todos os indígenas a trabalhar seis meses por ano para o Governo, para uma companhia ou para um particular. As importações e a indústria transformadora Por outro lado, Portugal continuou a ser a principal fonte de importações de Moçambique até princípios dos anos “60”. A colónia constituía um mercado para as indústrias transformadoras de Portugal - um mercado que ainda se expandiu mais sob o impulso de uma comunidade colona que aumentou rapidamente. Durante o período 1945-1960, assistiu-se a uma expansão relativamente rápida de determinadas indústrias viradas para o mercado local, e isto por duas razões: A comunidade colono em expansão não podia ser totalmente absorvida pela agricultura; As indústrias viradas para o mercado interno que surgiram nunca foram directamente competitivas com os principais ramos de exportação de Portugal. 6 Os colonos e o povoamento A sobrepopulação em Portugal constituía uma questão séria para as autoridades governamentais. Esta sobrepopulação resultava do facto do desenvolvimento da indústria para as cidades que levou às altas taxas de emigração, condicionado pelas relações sociais de produção prevalecentes em Portugal- domínio dos latifundiários. Houve um empenho activo do regime para: a) evitar queo fluxo de emigração não fosse para as colónias, isto, com o propósito de manter colonos dentro da jurisdição de Portugal, contribuindo para o rendimento nacional e disponíveis para o serviço militar; b) fortalecer a base de apoio do regime transformando a força revolucionária em potência, campesinato proletarizado, numa pequena burguesia colonial e/ou aristocracia operária; c) adoptar uma política de incorporação das colónias como províncias ultramarinas de Portugal, negando assim, formalmente, à existência de uma questão colonial. III Parte AS PRINCIPAIS FASES DA ACUMULAÇÃO DE CAPITAL NO MOÇAMBIQUE COLONIAL, NO PERÍODO 1885-1973 1885-1926: A dominação do Capital Estrangeiro Não Português Economia de plantações (Centro e Norte do País) Reserva de Mão- de- Obra para o capital mineiro Sul- Africano 1926- 1960: A Fase do Nacionalismo Económico de Salazar Intensificação da integração de Moçambique no subsistema da África do Sul Acumulação de capital na base de extracção de Mais Valia Absoluta através da racionalização e institucionalização do sistema de trabalho forçado 7 1960 – (63/64) – 1973: Crise e Reestruturação do Capital Abolição legal do sistema de trabalho forçado (1960- 63/64) Crise da base económica do Salazarismo Políticas de “portas-abertas”. IV Parte OS PLANOS DE FOMENTO EM MOÇAMBIQUE Os objectivos gerais dos Planos de Fomento Após a segunda guerra mundial, os Estados Unidos da América adoptaram o “Plano Marshall”, um programa de ajuda à reconstrução da Europa capitalista. Portugal, tendo beneficiado pouco dessa ajuda, optou por copiar o “modelo” de reconstrução da Europa, em que o Estado concentrava os seus esforços no desenvolvimento de infra-estruturas económicas criando, assim, a base para a industrialização capitalista do sector privado. É nesse contexto que, a partir do início da década “50”, surgiram os Planos de Fomento em Portugal. Assim, o primeiro plano que abrangia o período de 1953 à 1958, concentrava-se na construção de infra-estruturas económicas; o segundo, que englobava o período de 1959 à 1964, dava ênfase à industrialização; o plano de fomento intercalar, de 1965 à 1967, visava dar apoio especial aos sectores de exportação, o terceiro plano de fomento, de novo, focava o desenvolvimento industrial e compreendia o período 1968 à 1973. Por último, o quarto plano, de 1974 à 1979, também contemplava o processo de industrialização. No cômputo geral, os planos de Fomento tinham como objectivos: Elevar o nível de vida dos portugueses; Assegurar aos portugueses novas e melhores oportunidades de emprego; 8 Modernizar a técnica e o equipamento na agricultura e nas indústrias daquele tempo, com a absorção de braços em condições suficientemente remuneradoras através da colonização interna, da colonização ultramarina e da instalação de novas indústrias. Os Planos de Fomento das colónias sempre foram concebidos dentro de uma perspectiva de subordinar os interesses das colónias aos da metrópole. A colónia era vista como fonte de acumulação para o processo de industrialização em Portugal, e no caso concreto de Moçambique como colónia, tinha de assumir o papel de: Produzir matérias-primas baratas para a indústria portuguesa (exemplo: algodão, açúcar, etc.); Ganhar divisas para a metrópole, através da exportação de mão- de obra, dos saldos dos serviços de transportes de mercadorias em trânsito, venda de matérias-primas no mercado mundial- caju, etc.; Fornecer um mercado seguro para os produtos industriais de Portugal, e permitir ao mesmo tempo a migração de portugueses para as colónias. 9 Em resumo, eram os seguintes os objectivos dos Planos de Fomento: Nestas condições não é difícil compreender que, uma grande parte dos planos de fomento nas colónias visava criar as infra-estruturas económicas para exploração colonial, e em particular apoiando o desenvolvimento da economia capitalista dos colonatos. Os Planos de Fomento eram também caracterizados por ser parciais e restritos aos grandes investimentos a efectuar pelo Estado na agricultura, nas vias de comunicação e nos meios de transportes, e aos investimentos a fazer pelos particulares com auxílio directo e indirecto do Estado não só na agricultura e nos meios de transportes, como também na instalação de novas indústrias e no desenvolvimento das existentes. 10 Os Planos de Fomento tinham um duplo carácter: imperativos, em relação aos investimentos exclusivamente públicos; indicativos, no que respeitava aos investimentos de natureza privada. Bibliografia utilizada e recomendada para aprofundamento dos assuntos em análise: Direcção dos Serviços de Planeamento e Integração Económica – Os Planos de Fomento; Hedges, D. & Rochas, A. (...). Moçambique Face à Crise Económica Mundial e o Reforço do Colonialismo Português, 1930 – 1937, in Cadernos de História, nº 3; Lobato, A. & Costa , P. (1973), Moçambique na Actualidade, Lourenço Marques; Newitt, M. (1995), A HISTORY OF MOZAMBIQUE, London, Hurst & Company; Rodrigues, R.C (1972), As Assimetrias Espaciais do Desenvolvimento Sócio– Económico em Moçambique, Universidade de Lourenço Marques; Wuyts, M.E. (1978), Camponeses e Economia Rural em Moçambique, UEM, CEA; ELEMENTOS PRINCIPAIS DA ESTRUTURA ECONÓMICA FORMADA PELO CAPITALISMO COLONIAL EM MOÇAMBIQUE 1. Introdução À altura da independência nacional (1975), a estrutura económica de Moçambique apresentava características gerais muito semelhantes a de qualquer país colonizado, nomeadamente: 1. AGRICULTURA – fonte de rendimento para a maioria da população. 2. INDÚSTRIA – pouco desenvolvida. 3. COMÉRCIO - mercado nacional limitado e subdesenvolvido. 11 - dependência do exterior: importação de bens, equipamentos e matérias-primas à indústria, - exportação de produtos agrícolas. 4. TRANSPORTE – sistema orientado para o mercado internacional 5. CLASSE OPERÁRIA – pequena (incipiente) e desorganizada. 6. PRODUTIVIDADE – baixa e baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas. 2. Agricultura Ocupando cerca de 75% da mão-de-obra activa, a produtividade na agricultura era baixíssima devido à utilização de tecnologias e técnicas agrícolas rudimentares. A mecanização era quase inexistente e a utilização de agro-químicos e de outros factores modernos muito reduzida. O sector da agricultura caracterizava- se pela existência de um dualismo de estruturas que compreendia: Um sector com 4700 propriedades agrícolas, nas quais centenas de milhares de moçambicanos trabalhavam para os colonos, cuja produção se destinava ao mercado ( ex: açúcar, sisal e chá). Esta era a mão- de- obra assalariada usando técnicas relativamente avançadas de cultivo e dedicando-se à produção mercantil. Um outro sector de economia com cerca de 1.700.000 pequenas explorações do tipo familiar e de subsistência cuja produção, pela sua natureza e dimensão, se destinava em cerca de 80% para o auto-consumo. Os excedentes de produção deste sector eram adquiridos pelos colonos à preços extremamente baixos e destinavam- se ao mercado externo e à indústria nacional (ex: algodão, cajú e sementes oleaginosas). Esta era a mão- de- obra familiar usando técnicas de cultivo atrasadas e produzindo para o auto- consumo. 12 Estes factores mantiveram a estrutura económica subdesenvolvida pois a grande maioria da população manteve-se no campo produzindo apenas com a enxada. O isolamento entre camponeses e trabalhadores assalariados não tornou possível o surgimento de operários agrícolas. O desigual e baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas, aliado às técnicas extraordinariamente atrasadas de cultivo e sacha, não podia permitir que a independência nacional, de per si, transformasse a estrutura económica rumo ao desenvolvimento da economia nacional. Subsistiam no paísvestígios de modo de produção pré-capitalistas e de relações de classe com base na ligação da acumulação capitalista ao atraso da agricultura familiar. A dependência para acumulação capitalista de exploração do campesinato era através de: - cultivo forçado de cultura de rendimento; - trabalho sazonal e assalariado nas machambas e plantações dos colonos; - fornecimento (venda) de produtos agrícolas pelos camponeses à preços baixos para a indústria nacional; - fonte de recrutamento de trabalho migratório assalariado. Estas formas de exploração capitalista destruíram a economia de subsistência, pois a produção camponesa foi organizada de forma a constantemente a produzir para a subsistência e ainda um excedente que contribuía para aumentar o capital em Moçambique, Portugal e África do Sul. O baixo custo da força de trabalho colonial- que constituiu a própria base de acumulação de capital colonial- dependia da capacidade da família camponesa de se auto- alimentar e ainda produzir excedentes. Assim, o rendimento proveniente do trabalho assalariado e da produção forçada de culturas de rendimento tornou- se um elemento necessário para a reprodução da agricultura familiar – para a compra de “ inputs”, animais e instrumentos de tracção, bem como de bens de consumo. Daí que se pode considerar a estrutura económica de desequilibrada porque a 13 produção foi organizada para servir o desenvolvimento e interesses de outras economias. 3. Indústria Base industrial muito fraca. A indústria em Moçambique não surgiu em consequência da evolução da estrutura económica global do país, mas como uma actividade subsidiária da exportação, isto é, imposta pela necessidade de transformar produtos primários até à fase exportável. Tendo em conta a aptidão ecológica do país para as culturas de cana-de-açúcar, do sisal, do coqueiro, do algodoeiro, do chá, entre outros, são as indústrias do início do ciclo de transformações industriais destes produtos que primeiro apareceram em Moçambique. Os complexos agro- industrias do açúcar e do sisal são anteriores à grande guerra de 1914. São também antigas e correspondem igualmente à objectivos de exportação as indústrias de extracção de óleos vegetais, do descaroçamento e prensagem de algodão, da preparação do chá e da serração de madeira. Nos finais da década de “40”, embora lentamente, assistiu-se à expansão do mercado interno (25.000 europeus) que tornou viáveis algumas indústrias que respondiam à sua procura. Assim surgiram as indústrias do sabão e do tabaco; depois, as da cerveja, do cimento e do vestuário; mais tarde já na década de “50”, a moagem de trigo e a fiação e tecelagem de algodão e juta; e, por fim, já nos anos “60”, a refinação de petróleos, a laminagem de ferro e aço, a construção e montagem de material de caminho de ferro, e o descasque da castanha de caju. O sector da indústria pesada para produção de máquinas para outros sectores da economia era muito incipiente, com um peso de apenas 11.7% no valor bruto da produção em 1973. A indústria existente, basicamente de transformação primária de produtos agrícolas estava equipada com maquinaria importada, frequentemente em segunda mão ou mesmo obsoleta. Sendo assim, só era capaz de efectuar transformações finais, de acabamento ou de embalagem de produtos importados. 14 Por outro lado, assistia-se à localização desigual das indústrias, estando mais de metade localizadas na cidade capital de Lourenço Marques. Sendo assim, este tipo de indústria só garantia a reprodução da dependência pois, o desenvolvimento industrial em Moçambique estava bastante condicionado pelo proteccionismo às indústrias da metrópole colonial. 4. Comércio Toda a rede comercial na cidade e no campo pertencia e era gerida por estrangeiros (desde a venda por grosso até à venda à retalho). Daí que, neste sector, era visível a discriminação racial. Era vedada aos moçambicanos negros qualquer actividade comercial de conta própria, cabendo a estes assegurar a troca desigual de produtos das suas machambas com os produtos industriais. 5. Serviços Este sector dominava a economia (os serviços contribuíam com 85% no PIB em 1973) e foi responsável pela grande maioria de investimento em infra-estruturas durante o período colonial, tendo atingido expressão económica muito significativa. Os portos e caminhos de ferro foram orientados quase exclusivamente para os países do “hinterland” (África do Sul, Zimbabwe, Malawi, Zâmbia), como reflexo da política colonial de subordinação aos interesses dos países vizinhos, sem ter em conta as necessidades do comércio e desenvolvimento dentro de Moçambique. Contudo, o desenvolvimento do sector terciário criou uma desintegração espacial da economia por carências da rede de transportes (quer rodoviários, quer ferroviários) e ausência de centros polarizantes em vastas regiões do território. As linhas férreas foram construídas na direcção Este-Oeste e não na direcção Norte- Sul. Nem as linhas férreas, nem estradas, ligam as diversas zonas do país. 15 6. Conclusão Em suma, os elementos principais da estrutura económica formada pelo colonialismo que mais dificultaram e continuam a dificultar o desenvolvimento da economia de Moçambique são: a) A integração de Moçambique na divisão internacional do trabalho como: - fornecedor de mão-de-obra barata; - receptor do capital estrangeiro; - produtor de matérias-primas e fornecedor de serviços para servir o desenvolvimento de outras economias: África do Sul e Portugal, sobretudo. b) A forte dependência do exterior, traduzida pela necessidade de importar praticamente todos os bens de equipamentos e uma parte muito considerável dos bens de consumo destinados à satisfação das necessidades primárias. c) A forte dependência do exterior, traduzida pela necessidade de exportar produtos primários ou com pequeno grau de transformação industrial, cujas cotações eram e continuam a ser fortemente dominadas pelos interesses do comprador, apresentando o comércio externo saldos fortemente negativos. Estes saldos eram compensados por invisíveis provenientes de serviços prestados aos países vizinhos, de tudo resultando uma Balança de Pagamentos sistematicamente positiva com o estrangeiro e sistematicamente negativa com a metrópole, em que, ao contrário do que sucede com o estrangeiro, o desequilíbrio é fundamentalmente resultante do movimento de invisíveis. d) Estrutura económica subdesenvolvida e desequilibrada, com uma grande maioria da população vivendo nas zonas rurais (sem condições mínimas) e produzindo apenas com a enxada. e) Agricultura atrasada, indústria rudimentar e estruturas ferro-portuárias deterioradas. 16 f) O carácter totalmente discriminatório do ensino colonial conduziu, naturalmente, à marginalização dos Moçambicanos no acesso ao ensino. g) A cobertura sanitária era muito pobre, essencialmente reduzida aos grandes centros urbanos. h) Na produção e na gestão das unidades económicas e sociais, as ocupações e categorias profissionais, incluindo funções técnicas ou de chefia eram preenchidas e ocupadas por estrangeiros. i) Desintegração espacial da economia por carência da rede de transportes e ausência de centros polarizantes em vastas regiões do território. Estes factos merecem realce porque são os que hoje têm mais peso negativo na luta empreendida por Moçambique independente contra o atraso económico e social. Bibliografia utilizada e recomendada para o aprofundamento dos assuntos em análise: Hedges, D. & Rocha, A. (…), Moçambique Face à Crise Económica Mundial e o Reforço do Colonialismo Português, 1930-1937, In Cadernos de História, nº. 3; Lobato, A. & Costa, P. (1973), Moçambique na Actualidade, Lourenço Marques; Newit, M. (1995), A HISTORY OF MOZAMBIQUE, London, Hurst & Company; Wuyts,M.E. (1978), Camponeses e Economia Rural em Moçambique, UEM, CEA; 17 A AGRICULTURA MOÇAMBICANA: Caracterização, estrutura, políticas agrárias e outros aspectos relevantes (Princípios fundamentais) “1. A organização económica e social da República de Moçambique visa a satisfação das necessidades essenciais da população e a promoção do bem estar social e assenta nos seguintes princípios fundamentais: a) na valorização do trabalho; b) nas forças do mercado; c) na iniciativa dos agentes económicos; d) na coexistência do sector público, do sector privado, e do sector cooperativo e social; e) na protecção do sector cooperativo e social; f) na acção do Estado como regulador e promotor do crescimento e desenvolvimento económico e social”. – Artigo 97 da CRM (Agricultura) “1. Na República de Moçambique a agricultura é a base do desenvolvimento nacional. 2. O Estado garante e promove o desenvolvimento rural para satisfação crescente e multiforme das necessidades do povo e o progresso económico e social do país”. – Artigo 103 da CRM (Sector familiar) “1. Na satisfação das necessidades básicas da população, ao sector familiar cabe um papel fundamental. 18 2. O Estado incentiva e apoia a produção do sector familiar e encoraja os camponeses, bem como os trabalhadores individuais, a organizarem-se em formas mais avançadas de produção”. – Artigo 105 da CRM (Produção de pequena escala) “O Estado reconhece a contribuição da produção de pequena escala para a economia nacional e apoia o seu desenvolvimento como forma de valorizar as capacidades e criatividade do povo”. – Artigo 106 (Empresariado nacional) “1.O Estado promove e apoia a participação activa do empresariado nacional no quadro do desenvolvimento e da consolidação da economia do país. 2. O Estado cria os incentivos destinados a proporcionar o crescimento do empresariado nacional em todo o país, em especial nas zonas rurais”. – Artigo 107 1. O PERÍODO COLONIAL A agricultura no período colonial manteve-se subdesenvolvida pois, a grande maioria manteve-se no campo produzindo apenas com a enxada. No entanto, o subdesenvolvimento da agricultura fora planificado para servir os interesses da acumulação primitiva de capital através da extracção do excedente económico do camponês, sob forma de força de trabalho para a produção de mais-valia, ou sob a forma de produtos dos camponeses comprados a preços baixos. Desprovido de capital financeiro, a burguesia portuguesa no poder não fez mais do que arrendar vastas parcelas de território de Moçambique a capitais estrangeiros (não portugueses) como forma de manter a sua hegemonia e domínio colonial sobre o país. Assim, o Centro e o Norte de Moçambique foram arrendados a companhias estrangeiras com poderes e funções não só económicas, mas também políticos e administrativos. O Sul de Moçambique transformou-se numa reserva de mão-de-obra para o capital mineiro na África do Sul. 19 Durante a 1ª. Fase da colonização também se assistiu à uma imigração de colonos portugueses para Moçambique, o que nas áreas rurais contribui para a formação dos Latifúndios que muito beneficiaram da política colonial de apropriação das terras férteis dos camponeses e da instituição do trabalho forçado (o Chibalo). Recorde-se da Circular de 1 de Maio de 1947 que obrigava todos os indígenas a trabalhar seis meses por ano para o governo, para uma companhia ou para um particular. 1.1 Caracterização e Estrutura da Agricultura na economia colonial Ocupando cerca de 75% da mão-de-obra activa, a produtividade na agricultura era baixíssima devido à utilização de tecnologias e técnicas agrícolas rudimentares. A mecanização era quase inexistente e a utilização de agro-químicos e de outros factores modernos muito reduzida. O sector da agricultura caracterizava-se pela existência de um dualismo de estruturas que compreendia: Um sector com 4700 propriedades agrícolas, nas quais centenas de milhares de moçambicanos trabalhavam para os colonos, cuja produção se destinava ao mercado (ex: açucar, sisal e chá). Esta era a mão-de-obra assalariada usando técnicas relactivamente avançadas de cultivo e dedicando-se à produção mercantil. Um outro sector de economia com cerca de 1.700.000 pequenas explorações de tipo familiar e de subsistência cuja produção, pela sua natureza e dimensão, se destinava em cerca de 80% para o auto-consumo. Os excedentes de produção deste sector eram adquiridos pelos colonos à preços extremamente baixos e destinavam-se ao mercado externo e à indústria nacional (ex: algodão, cajú e sementes oleaginosas). Esta era a mão-de-obra familiar usando técnicas de cultivo atrasadas e produzindo para o auto-consumo. O isolamento entre camponeses e trabalhadores assalariados não tornou possível o surgimento de operários agrícolas. O desigual e baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas, aliado às técnicas extraordinariamente atrasadas de cultivo e sacha, não podia permitir que a independência nacional, de per si, transformasse a estrutura 20 económica rumo ao desenvolvimento da economia nacional. Subsistiam na país vestígios de modos de produção pré-capitalistas e de relações de classe com base na ligação da acumulação capitalista ao atraso da agricultura familiar. A dependência para a acumulação capitalista de exploração do campesinato era através de: Cultivo forçado de culturas de rendimento; Fornecimento (venda) de produtos agrícolas pelos camponeses a preços baixos para a indústria colonial, Fonte de recrutamento de trabalho migratório assalariado. Estas formas de exploração capitalista colonial distruiram a economia de subsistência, pois a produção camponesa foi organizada de forma a constantemente produzir para a subsistência e ainda um excedente que contribuia para aumentar o capital em Moçambique, Portugal e África do Sul. O baixo custo da força de trabalho colonial – que constituiu a própria base de acumulação do capital colonial – dependia da capacidade da família camponesa de se auto-alimentar e ainda produzir excedentes. Assim, o rendimento proveniente do trabalho assalariado e da produção forçada de culturas de rendimentos tornou-se um elemento necessário para a reprodução da agricultura familiar para a compra de “inputs”, animais e instrumentos de tracção, bem como de bens de consumo. Analisando a estrutura social da produção agrícola na colónia de Moçambique podemos verificar cinco elementos principais: 1. As plantações – grandes empresas de monocultura, concentradas no Vale do Zambeze, extraindo o seu trabalho do campesinato, numa base regular ou sasonal. Estas plantações eram controladas pelo capital estrangeiro (não potuguês), e especializadas na produção de culturas de rendimento para a exportação – açucar, chá, copra, sisal, entre outras; 2. Os Latifúndios – grandes propriedades de colonos normalmente com ocupação de parte da sua terra pelos camponeses produzindo muitas vezes em sistema de 21 chibalo ou sendo obrigados a entregar parte de sua produção (sistema de extração da renda em espécie) para os colonos; 3. Médias e pequenas machambas dos colonos – machambas dos colonos dependendo de uma maneira significativa do trabalho familiar do colono assim como do chibalo e trabalho assalariado do campesinato. Eram geralmente unidades de produção mais eficientes caracterizadas por possuirem sistemas de irrigação, mecanização, etc. São exemplos da localização destas unidades de produção: o Vale do Limpopo, em Gaza; o Vale do Incomáti em Umbelúzi, em Maputo. Na sua maioria, a produção deste grupo destinava-se a satisfazer a comunidade de colonos nos centros urbanos. 4. A burguesia e pequena burguesia comercial no campo – fornecia as infraestruturas necessárias em termos de lojas,armazéns e facilidades de transportes em termos de compra e posterior venda dos produtos dos camponeses. As cantinas rurais constituiam, juntamente com os armazenistas, a principal forma de controlo e apropriação de excedentes do compesinato. 5. O campesinato – para além de produzir para as suas necessidades em alimentação, foi compulsivamente integrado na economia de mercado como fornecedor da força de trabalho para as plantações, latifúndios e colonos, e/ou como pequenos produtores de mercadorias para vender ao colono. Em termos de produção, estes diferentes sectores contribuiam do seguinte modo: Quadro I: Estrutura Global da produção Agrícola Produção agrícola total Da qual: - Produção de subsistência - Produção comercializada 100% 55% 45% 22 Da qual: - Produção camponesa comercializada - Produção de plantações - Produção das machambas dos colonos/latifúndios 15% 15% 15% Fonte: Marc Wuyts (1987), Camponeses e Economia Rural em Moçambique 1.2 As Funções Económicas do Campesinato Moçambicano A Circular de 1 de Maio de 1947 foi uma oficialização da prática de trabalho forçado (chibalo) que propiciou a acumulação primitiva do capital à burguesia colonial. Para além de produzir para a sua subsistência, o campesinato moçambicano contribuiu significativamente para a produção mercantil do País. Cerca de um terço da produção total mercantil tinha como origem os ‘excedentes’ dos camponeses, nomeadamente os seguintes produtos: Quadro II: Importância relativa da produção dos camponeses 23 Fonte: Adaptado de Marc Wuyts (1987) A produção dos camponeses teve um papel significativo na agricultura moçambicana, uma vez que era responsável por cerca de 70% da produção total, sendo 55% para a subsistência e os restantes 15% comercializados como excedente. Em média, os camponeses comercializavam 20% da sua produção e as suas principais produção para o mercado contribuiam em cerca de 44% nas receitas de exportação do país. Quadro III: Alguns principais produtos de exportação,1973 Fonte: Adaptado de Marc Wuyts (1987) Quanto às funções económicas do campesinato pode-se assinalar que em Moçambique, o sistema actuou nas zonas rurais basicamente com dois padrões: por um lado, 24 institucionalizou um sistema de trabalho migratório interno (Centro e Norte do País) e externo (no Sul do País), por outro lado, implantou um processo de campesinatização que exigiu a transformação dos camponeses moçambicanos em produtores de mercadorias. Deste modo, os camponeses moçambicanos muito contribuiram para as seguintes funções económicas na economia colonial: Produção de matérias-primas baratas, especialmente para a exportação (cajú, algodão, copra, chá e tabaco), mas também para fornecer a indústria alimentar virada essencialmente para o mercado interno de colonos (cereais e oleaginosas); Produção de alimentos baratos, para o abastecimento dos próprios trabalhadores e dos colonos; Fornecimento da força de trabalho, para as empresas capitalistas, a baixo custo para o capital. A rendibilidade de trabalho nas plantações, nas médias e pequenas empresas agrárias, nas minas, nos portos e caminhos de ferro, dependia muito do recrutamento da força de trabalho sazonal pelas autoridades administrativas coloniais. Este recrutamento representava sempre uma mais valia para as autoridades administrativas, pois os salários eram baixos mas, por cada trabalhador recrutado o beneficiário pagava uma importância às autoridades administrativas da circunscrição do recrutado; Redução dos custos de produção da força de trabalho, por intermédio da produção familiar destinada ao auto-consumo e da produção de alimentos baratos. 1.3. Padrões Regionais na Estrutura de produção Agrícola Como referido na introdução, a debilidade política e financeira de Portugal ao lado de outras potências internacionais levou à regionalização e especialização do País. Assim, ao Sul de Moçambique coube funcionar como reserva de mão-de-obra para a indústria mineira sul-africana; ao Centro e Norte do País coube a especialização na economia de plantações e transformação do camponês em produto de mercadorias. 25 Em consequência desta especialização regional, a relação entre o produto agrícola total e comercializado, e entre as diferentes formas sociais de produção variou de região para região. Quadro IV: Padrões Regionais da Produção Agrícola em % Fonte: Adaptado de Marc Wuyts (1987), quadro IV, V, VII e VIII 2. TRANSIÇÃO E CRISE NO PERÍODO PÓS-INDEPENDÊNCIA O Acordo de Lusaka entre as autoridades coloniais portuguesas e a FRELIMO no dia 7 de Setembro de 1974 abriu caminho para o fim da colonização e proclamação da independência de Moçambique. O período de transição para a independência testemunhou uma desintegração rápida da burguesia e pequena burguesia colonial através do abandono massivo dos portugueses (para Portugal e África do Sul) combinado com a fuga de capitais, sabotagem, contrabando e destruição de equipamento. 26 Nas zonas rurais, o processo de desintegração da base económica da burguesia colonial foi caracterizado pelo abandono das propriedades pelos colonos, para além da destruição de equipamentos e abate de gado, ou o seu contrabando através das fronteiras da África do Sul e Rodésia. Até a rede de comercialização não escapou, pois esta era quase que exclusivamente controlada pela burguesia e pequena burguesia colonial. Como consequência, assistiu-se a uma dramática baixa na produção e colheita de produtos agro- pecuários, o que aliado com a baixa de produção dos camponeses provocou uma quebra acentuada da comercialização de excedentes mercantis, afectando o mercado interno e as exportações. Quadro V: Crise da Produção Agrícola no período pós-Independência (1974/75) Fonte: Marc Wuyts (1987), Camponeses e Economia Rural em Moçambique, Quadro IX, pág. 48 Estudiosos divergem na análise das causas da crise de 1974-77 e dos indicadores para uma política agrária no período pós-independência. Os dualistas argumentam que a crise 1974/77 reflectiu o carácter dualista, ou bimodal, da economia agrária de então, em Moçambique. Os colonos abandonaram o país e houve desinvestimento nas plantações e como consequência o sector capitalista desmoronou-se e 27 isso afectou negativamente o mercado interno e as exportações. Por outro lado, com a liberdade o campesinato pôde retirar-se da produção agrícola comercializada e da venda da sua força de trabalho. Por isso, a crise da produção agrícola comercializada explica-se pelo facto de o campesinato ter regressado ao modo de produção pré-capitalista (a chamada economia natural ou tradicional), e o facto do sector capitalista ter perdido investimento e força de trabalho. Para os não-dualistas, a crise de 1974/77 foi provocada pelo desmoronamento do sistema e do Estado coloniais, facto que era inevitável. Por um lado, o sector empresarial entrou em crise parcialmente porque os colonos abandonaram o país e porque se registou desinvestimento nas plantações. A quebra da produção agrícola comercializada do campesinato deveu-se, sobretudo, à ruptura dos circuitos de comercialização e dos abastecimentos do campo com bens de consumo e factores de produção, ao desincentivo de preço, à fraqueza do sistema de extensão rural e à deterioração da base de acumulação do campesinato, que se reflectiu num certo desinvestimento na agricultura familiar. Os não-dualistas olham também para o efeito global da crise. Enquanto por um lado, ela pôs em causa a viabilidade do sector empresarial e de todo o sistema de produção agrária coloniais na medida em que este não conseguiu superar a sua dependência em relação ao trabalho sazonal, por outro lado, a crise reflectiu-se com particular severidade na deterioração acelerada da base produtiva do campesinato. Este ficou sem acesso a um salário estável e privou-sedas mais importantes fontes de rendimento. (veja tabela 4, pág. 52-53, Castelo-Branco, 1994). 2.1 As Directivas Económicas do III Congresso da FRELIMO A estratégia de desenvolvimento económico e social de Moçambique independente foi explicada durante o III Congresso da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), em Fevereiro de 1977. A FRELIMO transformou-se em partido marxista-leninista, adoptou um sistema económico de planificação centralizada no contexto da orientação política- ideológica socialista. Esta estratégia foi mais tarde concretizada no Plano Prospectivo Indicativo (PPI), cujo objectivo era acabar com o subdesenvolvimento em 10 anos (1980- 1990). 28 Para o sector agrário, a Colectivização ou Socialização do Campo constituia a espinha dorsal do desenvolvimento do país. A socialização do campo permitiria a criação de um forte sector estatal agrário e a transformação da agricultura familiar através de um dinâmico movimento cooperativo, com o enquadramento de milhões de camponeses em cooperativa agrícolas e a emergência de um operário agrícola. Por outro lado, a socialização do campo criaria condições para o aumento da produtividade no campo. Sendo o sector estatal o dominante, os objectivos do seu desenvolvimento e fortalecimento era contribuir para o cumprimento das metas dos Planos anuais através da dinamização e desenvolvimento das forças produtivas no campo. Para a efectivação deste objectivo, até 1984, mais de 90% dos investimentos e dos técnicos disponíveis foram afectos na agricultura e à componente construção de infraestruturas para apoiar a agricultura, nomeadamente as obras de irrigação. Entre 1977-81, foram importados mais de três mil tractores e cerca de meio milhar de auto- combinados, entre outros equipamentos e maquinaria agrícola. Insumos agrícolas de melhor qualidade foram importados e usados massivamente na agricultura, sendo exemplo os fertilizantes e pesticidas. Em 1978, as empresas estatais agrárias ocupavam 100 mil hectares de terra cultivável, tendo esta área expandido para 140 mil hectares em 1982. A mecanização acelerada destinava-se a modernizar e a aumentar rapidamente a produção do sector estatal. No entanto, o tipo e a intensidade da mecanização introduzidos levantaram problemas sérios tendo em conta a estrutura económica existente: a) Reduziram as oportunidades de emprego dado o aumento da produtividade do factor trabalho pela mecanização. Esta situação contribuiu para o aumento da instabilidade do emprego; b) Aumentaram as necessidades pelo trabalho sazonal, especialmente nos períodos de pico da colheita, pois a mecanização não contemplou todas as fases do processo de produção (da lavoura à colheita); 29 c) O fluxo de serviços que concorreria para optimizar o aproveitamento da mecanização nem sempre estava disponível. São os casos de assistência técnica, fornecimento de combustíveis e lubrificantes, peças sobressalentes, manutenção corrente e pessoal técnico à altura; d) Faltaram, com muita frequência, os insumos que pudessem garantir a estabilidade da produção em quantidade e qualidade, o que diminuiu a rendibilidade e a qualidade das culturas, aumentou os custos unitários e quase que eliminou a viabilidade económica do investimento realizado; No entanto, a economia, no seu global, estava longe de ser planificada dadas as dificuldades de se planificar a produção do sector familiar, as calamidades naturais cheias de 1977-78 e secas de 1981-83), os choques externos do mercado internacional (aumento do preço do petróleo e deterioração dos termos de troca do comércio internacional), deslocamento das populações das zonas de residência e de produção, como consequência da sabotagem e insegurança provocadas pelas acções armadas de desestabilização. Apesar desta conjuntura nacional e internacional, a partir de 1977, os níveis gerais da produção apresentam tendências para aumentar, mas o ponto de partida era, contudo, demasiado baixo, devido à quebra havida nos dois últimos anos do colonialismo. O crescimento da produção bruta agrária de 1977 a 1981 foi de cerca de 9% no período, e a contribuição do sector agrário para o Produto Social Global foi, em média, de 40% ao ano, no período em referência. O subsequente aumento da contribuição da agricultura para a produção bruta agrária, resultou principalmente do crescimento da comercializção particularmente nos seguintes produtos. Quadro VI: Produção Bruta Agrária Comercializada 30 Algodão caroço Chá folha verde Citrinos ,, ,, ,, 52.0 79.0 25.0 73.6 99.2 36.7 Fonte: CNP: Informaçào Económica, 1984 O sector familiar contribuiu com cerca de 36% da produção agrária comercializada, sendo a sua participação considerável em culturas como o algodão, o cajú, oleaginosas, o milho e outros cereais. As inundações de 1977-1978, em conjugação com as secas de 1981 a 1983, devastaram enormes áreas na região sul do país, onde se produzia cerca de 80% do arroz e 20% do acuçar, onde se encontrava 70% dos efectivos bovinos do país. As principais exportações continuaram a ser origem agrícola. Quadro VII: Evolução das Exportações de Produtos Agrícolas (Mil contos de MT) Fonte: CNP, 1982 31 Por isso, a contribuição do sector agrícola foi bastante condicionada pela enorme flutuação dos preços dos produtos agrícolas no mercado internacional, para além dos factores internos já referidos anteriormente, as inundações e secas, a diminuição do aprovisionamento por importação e as acções de desestabilização. O crescimento do valor das exportações até resultou da melhor organização do processo de exportação e da retirada de Moçambique da zona do escudo. É digno mencionar que as estratégias de desenvolvimento agrário desenhada no III Congresso não foi integralmente implementada. No entanto, foram significativos os resultados do desempenho do sector agrícola até 1983: Quadro VIII: Produção Agrária de principais Produtos, em Mil Toneladas Fonte: Elaborado a partir de Informações Estatísticas da CNP, DNE À excepção do arroz, todos os produtos apresentam, em 1981, os melhores índices em termos de resultados, como consequência dos esforços de investimentos alocados prioritariamente no sector estatal agrícola. No entanto, a política para as zonas rurais tinha se baseado num número de pressupostos que não estavam em concordância com as condições materiais do abastecimento de bens alimentares na zona rural, nem com os padrões vigentes. O apoio ao sector familiar foi negligenciado, o que contribuiu para a redução da produção nacional agrícola comercializada. 32 Quadro IX: Produção Pecuária Fonte: Elaborado apartir de informações estatísticas da CNP, DNE Em consequência de todos os factores que influiam na economia moçambicana, depois de 20 anos consecutivos de guerra (1964-1983), agressões, destruições, saques, sem reservas económicas e com a economia estruturalmente dependente e subdesenvolvida, o sonho da reconstrução e desenvolvimento do sector agrário não foi tarefa fácil. A estratégia para modernização para o desenvolvimento rural, que Moçambique escolheu em 1977, não obteve os resultados previstos. Contribuiram para tal dentre outros os seguintes factores: Crise e queda do colonialismo, agravada pelo desenvolvimento de uma profunda crise económica internacional (a elevação da taxa de juros no mercado internacional, a contracção geral na concessão de créditos novos pelos bancos internacionais, a determinação dos termos de troca no comércio internacional) e pela subida vertiginosa dos preços do petróleo a partir de 1974; Calamidade naturais, os actos de agressão e de destruição e as acções sistemática de desestabilização económica e social; Reduzido número de técnicos moçambicanos, erros e insuficiências próprias de quadros que adquirem experiências de direcção e gestão política económica no próprioprocesso de transformação da vida económica e social; 33 A não confirmação de Moçambique como membro do pleno direito da Comissão de Ajuda Mútua Económica (CAME); A aplicação integral de sanções ao regime rebelde de Ian Smith, em cumprimento da Resolução 253 (1968) aprovada em 29 de Maio de 1968 pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas; Agindo contra a independência de Moçambique e em reacção contra a aplicação de sansões à colónia rebelde da Rodésia do sul, o regime sul africano planeou e desencadeou uma guerra não declarada contra Moçambique; Destruição de 400 estabelecimentos comerciais nas zonas rurais em 1982 e de cerca de 500 outros em 1983, com efeitos multiplicadores negativos para a economia camponesa. 2.2. As Directivas Económicas do IV Congresso e o Desenvolvimento da Agricultura Aquando da realização do IV Congresso do Partido Frelimo, em Abril de 1983, a crise económica e os seus efeitos demolidores da guerra de agressão e da desestabilização contra Moçambique já eram uma realidade. A reflexão sobre o estágio da estrutura e desenvolvimento da economia moçambicana levou o IV Congresso da Frelimo a formular Directivas Económicas e Sociais profundas que estabeleciam o quadro global de desenvolvimento para 5 anos. As directivas difiniam uma metodologia de utilização máxima e integral dos recursos disponíveis localmente e o máximo aproveitamento das capacidades produtivas com vista a minimizar as importações e aumentar progressivamente as exportações. Contrariamente às Directivas do III Congresso, o IV Congresso recomendava uma forte combinação dos pequenos e grandes para o combate à fome e o aumento de receitas em divisas para o país. A estratégia definida pelo IV Congresso da Frelimo para o sector agrário reafirmava que a vitória sobre o desenvolvimento assentava no apoio concentrado e integrado do sector de produção familiar, em especial na actividade agro-pecuária, assegurando os recursos 34 necessários em instrumentos de trabalho, meio de produção e bens essenciais para a troca no campo. O objectivo era aumentar a produtividade do sector familiar e estimular a produção mercantil que garantisse excedentes para o aprovisionamento interno e para o aumento das exportações. O esforço principal incidiria na produção de cereais, na plantação e repovoamento de cajueiros, no incentivo à apanha de castanha de cajú, na produção de algodão, mandioca, oleaginosas, feijão, na pecuária e produção de carne, e na pesca. As conversações à nível governamental entre Moçambique e a África do Sul com vista ao estabelecimento de um clima de boa vizinhança, assente reconhecimento e na prática de princípios universalmente aceites da coexistência pacífica e do respeito pela soberania e integridade territorial, da não ingerência nos assuntos internos de cada Estado, e a perspectiva de relacionamento económico comercial com base na igualdade e reciprocidade de benefícios, permitiam encarar o futuro da economia do país com muito optimismo e confiança. Em cumprimento do Programa de Acção Económica (PAE) aprovado no IV Congresso da Frelimo, iniciou-se um processo de liberalização de preços que pouco a pouco ia marcando os primeiros momentos da introdução da economia de mercado em Moçambique. A visita do Presidente Samora Machel aos Estados Unidos, em 1983, a assinatura do Acordo de Nkomati entre Moçambique e a África do Sul, em 1984, e a aceitação de Moçambique como membro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), permitiram que o país começasse a receber uma significativa assistência bilateral das instituições internacionais de ajuda ao desenvolvimento. A adesão às instituições de Bretton Woods proporcionaram ao país beneficiar de um programa de recuperação e transformação económica. Em Janeiro de 1987 iniciava em Moçambique a implantação do Programa de Realibitação Económica (PRE) que em 1989 integrou também a componente social (PRES). Os objectivos do PRE que eram inspirado e condicionado pelas políticas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, tinha como objectivos principais: Reverter a queda da produção nacional; 35 Assegurar à população das zonas rurais, receitas mínimas e um nível de consumo mínimo; Reinstalar o balanço macro-económico através da diminuição do déficit orçamental; Reforçar a balança de transações correntes e a balança de pagamentos. O PRE tinha por objectivo liberalizar a economia e sucessivamente deixá-la orientar-se para o mercado. Para que isso acontecesse era imprescindível que medidas políticas à nível financeiro, monetário e comercial fossem tomadas. As empresas estatais deviam ser reestruturadas e, tanto quanto possível, privatizadas. Deviam ser introduzidos critérios rígidos de rentabilidade em toda a gestão económica. Deviam ser depositados mais esforços na agricultura privada, de pequena escala e familiar, através de melhores termos de troca e de um aumento de ofertas de bens. O comércio devia ser liberalizado e o sistema de preços fixos abolido. Uma análise à implementação do PRE permite constatar que, a descida brusca da produção, que caracterizou o período compreendido entre 1983-86, conseguiu ser abrandado nos primeiros anos do programa de reabilitação, 1987-89. Um crescimento negativo foi substituido por um crescimento anual de 5%. Quadro X: Produção Agrária de Principais Produtos (Mil Toneladas) 36 5. Cast. Cajú 6. Copra 40.1 28.6 37.5 25.5 45.0 24.7 50.2 10.5 22.5 31.2 31.1 24.8 Fonte: Elaborado apartir de informações Estatísticas da CNP,DNE 3. O ACORDO GERAL DE PAZ, A RECONCILIAÇÃO E A RECONSTRUÇÃO DO PAÍS Em Novembro de 1990 entrou em vigor uma nova Constituição onde o sistema político multipartidário e a economia de mercado são a nota dominante. Em 4 de Outubro de 1992 foi assinado o Acordo Geral de Paz em Roma, Itália, entre o governo e a RENAMO, pondo fim a cerca de 16 anos de guerra civil em Moçambique, e abrindo uma nova página para o povo moçambicano. Em consequência do acordo e da introdução do pluralismo político, foram relizadas as primeiras Eleições Gerais Multipartidárias em Moçambique, em Outubro de 1994, as segundas Eleições Gerais em 1999, e as Terceiras Eleições Gerais em 2004. Como consequência da reconciliação e do clima de paz que prevalece em todo o país, anos após ano, têm se registado um crescente desempenho no sector agrário da economia, em particular a participação do sector familiar. É esse engajamento das populações que tem contribuido para minorar os efeitos das secas e cheias e garantir uma segurança alimentar. 4. NOVA POLÍTICA DE TERRAS E O DESENVOLVIMENTO “Salvaguardar os direitos dos moçambicanos sobre a terra e outros recursos naturais, enquanto promovendo o investimento e o uso sustentável e equilibrado dos recursos”. As prioridades da política nacional de terras são: Aumentar a produção de comida; Criar condições para o desenvolvimento e crescimento da agricultura familiar; Promover um investimento privado sustentável; 37 Conservar as áreas de interesse ecológico; Introduzir um sistema de taxas baseada na ocupação e uso do solo. (Conselho de Ministros, Setembro de 1995) Os princípios fundamentais da nova Política de Terras são: Manter a terra como propriedade do Estado; Garantir que tanto a população assim como investidores tenham acesso à terra; Garantir que a mulher tenha acesso à terra; Promover o investimento nacional e estrangeiro sem prejudicar a população residente; Participação activa dos nacionais como parceiros em pequenas empresas privadas de capital estrangeiro e/ou misto; Definir os princípios básicos para a transformação de direitos de uso e aproveitamento da terra; Usar os recursos naturais de uma maneira sustentável de modo a garantir uma qualidade de vida às populações. 5. A NOVA LEI DE TERRAS E SEU REGULAMENTO A nova lei de terras, Lei nº19/97, de 1 de Outubro, reitera o princípio geral consagrado na Constituição da República de que ”A terra é propriedade do Estado e que não pode ser vendida ou, por qualquer outra forma, alienada, hipotecada ou penhorada” (Artigo 3). Esta lei cria o Fundo Estatal de Terras e considera as Zonas de Protecção Total e Parcial como do domínio público. Define-se um prazo máximo de 50 anos, renovável por igual período, ao direito de uso e aproveitamento da terra para fins de actividades económicas. No entanto, não está sujeito a nenhum prazo o direito de uso e aproveitamento da terra: 38 Adquirido por ocupação pelas comunidades; Destinado à habitação própria; Destinado à exploração familiar exercida por pessoas singulares nacionais. O regulamento da nova lei de terra foi aprovado através do decreto nº 66/98, de 8 de Dezembro, do Conselho de Ministros. O artigo 13 do Regulamento da Lei de terras define os Direitos dos Títulares do direito de uso e aproveitamento da terra, seja adquirido por ocupação, seja por autorização de um pedido, nomeadamente: Defender-se contra qualquer intrusão de uma segunda parte, nos termos da lei; Ter acesso à sua parcela e aos recursos hídricos de uso público através das parcelas vizinhas, constituindo para o efeito as necessárias servidões. 6. POLÍTICA AGRÁRIA “Desenvolver a actividade com vista a alcançar a segurança alimentar através da produção diversificada de produtos para o consumo, fornecimento à indústria nacional e para a exportação, tendo como base a utilização sustentável de recursos naturais e a garantia da equidade social”. A segurança alimentar pressupõe: A disponibilidade (oferta) de produtos; O acesso (procura) aos produtos; A estabilidade permanente da população; alimentos em qualidade e quantidade; Saúde e robustez física. Os objectivos de desenvolvimento económico do país dão ênfase à necessidade da segurança alimentar que conduz à: 39 Desenvolvimento económico sustentável, Redução de taxas de desemprego; Redução dos níveis de pobreza absoluta. 7. LINHAS GERAIS DO PROGRAMA QUINQUENAL DO GOVERNO PARA 1995-1999 7.1 Os Objectivos e prioridades do Governo de Moçambique durante o quinquénio 1995-99 foram definidos como sendo: Garantia da paz, estabilidade e unidade nacional, pois elas são as condições básicas para a realização da actividade económica e social; Redução dos níveis da pobreza absoluta através do crescimento da produção interna, do desenvolvimento económico e humano sustentável; Melhoria da vida do povo, com incidência na educação, saúde, desenvolvimento rural e emprego. 7.2 Para a concretização destes objectivos, o Governo assentou a sua estratégia de desenvolvimento em quatro áreas fundamentais: Desenvolver o capital humano, através da melhoria da quantidade e qualidade dos serviços públicos básicos; Reabilitar infraestruturas que promovem o crescimento económico; Apoiar o sector familiar agrícola, força produtiva maioritária do país; Criar um clima favorável ao investimento privado, através da implementação de medidas de política económica que visem a redução da inflação e o equilíbrio da balança de pagamentos à médio prazo. O objectivo central do desenvolvimento económico do país no período 1995-1999 era a erradicação da pobreza. 40 Tomando em consideração que a maioria da população vive no campo, e que a população deslocada e regressada seria reassentada nas zonas rurais, e que a actividade agrícola constitui a principal fonte de riqueza do país, o desenvolvimento rural foi definido como constituindo uma prioridade importante da acção governativa. Previa-se que, a curto e médio prazos, a prioridade fosse assegurar, progressivamente, a auto-suficiência alimentar em produtos básicos (milho, arroz, mapira, mexoeira, feijão, amendoim, mandioca), o fornecimento de matérias-primas à indústria nacional e contribuir para a melhoria da balança de pagamentos no país, através da produção de produtos de exportação (algodão, chá, copra, açucar, castanha de caju e outros) e da redução de importação de produtos agrícolas. Deste modo, o objectivo principal do governo seria: A recuperação da produção agrícola; O reforço de mecanismo que assegurem o acesso à terra e ao seu uso e aproveitamento; A promoção do repovoamento das principais espécies pecuárias, dando particular importância ao gado bovino; A promoção da utilização racional e sustentável das florestas e fauna bravia, de modo a servir a economia do país, em geral, e os interesses das comunidades nela inseridas, em particular; Apoio à comercialização agrária, através da realização e expansão da rede comercial rural, liberalização dos preços dos produtos agrícolas e estabelecimento dos preços mínimos de compra ao produtor, desenvolvimento de acções visando a conservação de produtos agrícolas e a redução de perdas pós-colheita; A adopção de uma política de crédito que apoie as iniciativas empresariais, sobretudo dos pequenos produtores; Promover a maximização da utilização dos sistemas de regadio existentes; Promoção da investigação e extensão agrária. 41 8 LINHAS GERAIS DO PROGRAMA QUINQUENAL DO GOVERNO PARA 2000-2005 Agricultura e Desenvolvimento Rural. O Governo definiu a agricultura como base do desenvolvimento económico e social do país. Por outro lado, desenvolveu medidas de política visando aumentar a produção agrícola, em particular, dos cereais para a auto-suficiência alimentar. O governo continuou a accionar medidas com vista a alcançar um desenvolvimento agrário sustentável, que pudesse permitir o alcance dos seguintes objectivos: A redução do nível de pobreza; A auto-suficiência e segurança alimentar em produtos básicos; O fornecimento de matérias primas à indústria nacional; O desenvolvimento do sector familiar, cooperativo e privado, e criação de emprego; Melhoria da balança de pagamentos. Para garantir os objectivos acima definidos, o governo propunha-se desenvolver as seguintes estratégias multi-sectoriais: Promover um ambiente favorável para o desenvolvimento agrário baseado nas regras do mercado, providenciando incentivos para o investimento e crescimento produtivo; Melhorar a rede de estradas, infra-estruturas de comunicação, desenvolvimento dos mercados e comercialização; Melhorar o desempenho dos serviços públicos de suporte ao sector familiar, principalmente na investigação, extensão, apoio à produção agrícola, pecuária e informação sobre mercados; 42 Garantir o uso sustentável dos recursos naturais, através do envolvimento das comunidades na gestão e utilização da terra, recursos hídricos, florestas e fauna bravia, em seu próprio benefício; Desenvolver acções aos níveis micro que permitam aumentar o ritmo de crescimento económico das zonas rurais, com impacto na melhoria da vida da população rural. 9 CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DA AGRICULTURA O país tem aproximadamente uma áres de 80 milhões de hectares dos quais: 36 milhões de hectares de terra arável sendo: i. 26 milhões de hectares agricultáveis e apenas 5 milhões cultivados; ii. 3 milhões de hectares irrigáveis, dos quaias 125.000 hectares infraestruturados e 50.000 actualmente irrigados; 44 milhões de hectares de formações florestais com mais de 22 milhões de m3 de madeira. O país tem mais de 3 milhões de exploração agrícolas correspondentes a 3.866.806 hectares cultivados, ou seja, 6.923.646 parcelas. A agricultura no país tem as seguintes características específicas: 1. Factores biológicos; 2. Factores climáticos que às vezes podem ser adversos; 3. Condições fisiológicas (topográfia e solo); 4. Terra e outros recursos naturais (solo e subsolo); 5. Dispersão; 6. Subsistência versus integração na economia monetária; 43 7. Aspectos sócio-económicos (tamanho e composição das famílias, valores culturais atitudes, crenças, tradições,género, etc); 8. Actividade de risco ; 9. IMPORTÂNCIA DO SECTOR AGRÁRIO A agricultura é tomada como a base do desenvolvimento nacional (Artigo 39 da Constituição da República); 80% da população moçambicana tem ocupação nas zonas rurais; 40% do produto Interno Bruto (PIB) provém da agricultura; 60% das receitas de exportação são gerados pelo sector agrário; Sector complementado pelas Florestas e Fauna Bravia, Pecuária, Pesca e outras riquezas minerais. Nota Importante: Recomenda-se o estudo da Legislação sobre a terra em Moçambique, nomeadamente, a lei nº 19/97, de 1 de Outubro , e o seu respectivo Regulamento, Decreto nº 66/98, de 8 de Dezembro. Bibliografia: Abrahamsson, H. E Nilsson, A (1994), Moçambique em Transição: um estudo da história de desenvolvimento durante o período 1974-1992, CEEI-ISRI, Maputo; Castelo-Branco, C.N. (1994), Moçambique: Perspectivas Económicas, UEM, Maputo; GoM-Governo de Moçambique (2000), Constituição da República de Moçambique, Maputo; Machel, S.M. (1983), A Luta Contra o Subdesenvolvimento, Partido Frelimo, Maputo; GoM-Governo de Moçambique (2004), Legislação de terras, MozLegal, Maputo; Wuyts, M. (1978), Camponeses e Economia Rural em Moçambique, CEA, UEM, Maputo. 44 AGRICULTURA: A POSSE E DESENVOLVIMENTO DA TERRA EM MOÇAMBIQUE 1. ÁFRICA PRÉ-COLONIAL - Existência de sistemas indígenas de posse de terra com base em: linhagens, tribos, comunidades, etc. Estes sistemas regulavam os direitos e obrigações das pessoas em relação às outras, com referências à terra. - Existência de DISPUTAS, REGRAS DE SUCESSÃO, integradas no chamado DIREITO COSTUMEIRO ou CONSUETUDINÁRIO. 2. ÁFRICA COLONIAL - Institucionalização da propriedade privada da terra; - Discriminação e segregação com base nos direitos sobre a terra; - “Abolição” do Direito Costumeiro da terra. 3. ÁFRICA INDEPENDENTE - Institucionalização da propriedade estatal da terra, que trouxe a inalienabilidade da terra; - Existência da propriedade privada da terra, com um Mercado (às vezes especulativo) de terras; - Falta de clareza e segurança no sistema de posse de terra, caracterizados pela ausência de mecanismos transparentes de acesso à terra; - Nacionalização da terra e inexistência do valor comercial da terra. 4. MOÇAMBIQUE INDEPENDENTE Nacionalização da terra no dia 24 de Julho de 1975, cerca de um mês após a declaração da independência nacional de Moçambique. 45 A consagração na Lei Fundamental (Constituição da República) de aspectos ligados à terra, quer na primeira Constituição, aprovada em 1975; quer na segunda Constituição, aprovada em 1990, quer na actual constituição aprovada a 16 de Novembro de 2004: ARTIGO 109 1. A terra é propriedade do estado; 2. A terra não pode ser vendida, ou por qualquer outra forma alienada, nem hipotecada ou penhorada. 3. Como meio universal de criação da riqueza e do bem-estar social, o uso e aproveitamento da terra é direito de todo o povo moçambicano. ARTIGO 110 1. O estado determina as condições do uso e aproveitamento da terra. 2. ..................... ARTIGO 111 1. Na titularização do direito de uso e aproveitamento da terra o Estado reconhece e protege os direitos adquiridos por herança ou ocupação, salvo havendo reserva legal ou se a terra tiver sido legalmente atribuida a outra pessoa ou entidade. Quatro anos após a independência nacional foi aprovada a Lei de Terras, que viria apenas a ser regulamentada oito anos depois. (Lei de Terras – Lei 6/79 e Lei 1/86), Regulamento de lei de Terra – Decreto 16/87) A lei 6/79, definia no seu artigo 11 que a terra para fins agrícolas tinha os seguintes tipos de utilização: Agrícola, Pecuário e Silvícola. Por outro lado, o artigo 19 explicitava que os objectivos do uso e aproveitamento da terra para fins não agrícolas eram os seguintes: Habitação, Indústria, Comércio, Mercados, feiras, parques e jardins, e instalações para fins culturais, desportivos e outras actividades sociais. Desenvolvimento Agrário Rural e Conflitos 46 As inconsistências tanto do sistema formal assim como os sistemas consuetudinários de posse de terra originaram conflitos e disputas de terra. Os conflitos tomaram e tomam diversas configurações mas que podem ser resumidos no seguinte: I. Conflitos entre o Estado e os pequenos proprietários (e, nalguns casos, interesses comerciais de maior invergadura), devido à expropriação de terras por parte do estado; II. Conflitos entre o estado e pequenos proprietários sobre terras das explorações agrícolas estatais que pequenos proprietários ocuparam ilegalmente (como zonas residenciais também), ou ocuparam como trabalhadores antigos ou como antigos donos; III. Conflitos entre o Estado e produtores comerciais sobre terras alienadas pelo estado mais de uma vez, por exemplo: a) Por diferentes ministérios; b) Pelos governos provinciais e centrais; c) Pelo mesmo ministério ou província a mais do que uma pessoa; IV. Conflitos entre o estado e produtores comerciais, por causa de terras de explorações agrícolas estatais; V. Conflitos entre produtores comerciais privados; VI. Conflitos entre o estado e produtores comerciais, por causa de arrendamentos à curto prazo; VII. Conflitos entre novos produtores comerciais e interesses portugueses regressados, ou entre novos interesses comerciais (tanto estrangeiros como nacionais), e antigo capital moçambicano do período colonial; VIII. Conflitos entre empresas mistas e interesses comerciais privados, e entre empresas mistas e pequenos proprietários; 47 IX. Conflitos entre interesses comerciais e pequenos proprietários; X. Conflitos entre pequenos proprietários, especialmente entre populações deslocadas ou em reintegração e populações locais (indígenas); XI. Conflitos entre o Governo e a Renamo, por causa da distribuição de concessões de terras fora do âmbito da lei nas suas respectivas zonas de influência. Tal como no resto de África, Moçambique tem numerosos regimes consuetudinários de posse de terra, os quais no seu conjunto formam o sector consuetudinário da posse da terra. Estes regimes diferem notavelmente de localidade para localidade conforme uma variedade de factores, incluindo a densidade populacional, a organização do grau de parentesco, os padrões de herança (matrilinear ou patrilinear), a qualidade da terra, os mercados e experiência histórica. Em Moçambique os regimes de posse consuetudináriua diferente grandemente como resultado de muitos factores, incluindo a sua interacção específica e peculiar com as autoridades coloniais e com a economia colonial, antes da independência, a guerra civil depois da independência (acompanhada de migração forçada de mais de 6 mil pessoas), as cheias e as secas, a política governamental e as recentes mudanças económicas. 5. NOVA POLÍTICA DE TERRAS E O DESENVOLVIMENTO “Salvaguardar os direitos dos moçambicanos sobre a terra e outros recursos naturais, enquanto promovendo o investimento e o uso sustentável e equilibrado dos recursos” As prioridades da política nacional de terras são: Aumentar a produção de comida; Criar condições para o desenvolvimento e crescimento da agricultura familiar; Promover um investimento privado sustentável; Conservar as àreas de interesse ecológico; Introduzir um sistema de taxas baseado na ocupação e uso do solo. 48 (Conselho de Ministros, Setembro de 1995) Os princípios fundamentais da nova Política de Terras são: Manter a terra como propriedade do Estado; Garantir que tanto a população assim como investidores tenham acesso à terra; Garantir que a mulher tenha acesso à terra; Promover o investimento nacional e estrangeiro sem prejudicar a população residente; Participação activa dos nacionais como parceiros em pequenas empresas privadas de capital estrangeiro e/ou misto; Definir os princípios básicos para a transferência dos direitos de usos e aproveitamentoda terra; Usar os recursos naturais de uma maneira sustentável de modo a garantir uma qualidade de vida às populações. 6. A NOVA LEI DE TERRAS E SEU REGULAMENTO A nova lei de terras, Lei nº 19/97, de 1 de Outubro, reitera o princípio geral consagrado na Constituição da República de que ”A terra é propriedade do estado e que não pode ser vendida ou, por qualquer outra forma, alienada, hipotecada ou penhorada” (Artigo 3). Esta lei cria o Fundo Estatal de Terras e considera as Zonas de Protecção Total e Parcial como do domínio público. Define-se um prazo máximo de 50 anos, renovável por igual período, ao direito de uso e aproveitamento da terra para fins de actividades económicas. No entanto, não está sujeito a nenhum prazo o direito de uso e aproveitamento da terra: Adquirido por ocupação pelas comunidades; Destinado a habitação própria; 49 Destinado à exploração familiar exercida por pessoas singulares nacionais. O regulamento da nova lei de terra foi aprovado através do decreto nº 66/98, de 8 de Dezembro, do Conselho de Ministros. O artigo 13 do Regulamento da Lei de terras define os Direitos dos Títulares do direito de uso e aproveitamento da terra, seja adquirido por ocupação, seja por autorização de um pedido, nomeadamente: Defender-se contra qualquer intrusão de uma segunda parte, nos termos da lei; Ter acesso à sua parcela e aos recursos hídricos de uso público através das parcelas vizinhas, constituindo para o efeito as necessárias servidões. 7. POLÍTICA AGRÁRIA “Desenvolver a actividade com vista a alcançar a segurança alimentar através da produção diversificada de produtos para o consumo, fornecimento à indústria nacional e para a exportação, tendo como base a utilização sustentável de recursos naturais e a garantia da equidade social”. A segurança alimentar pressupõe: A disponibilidade (oferta) de produtos; O acesso (procura) aos produtos; A estabilidade permanente da população; alimentos em qualidade e quantidade; Saúde e robustez física. Os objectivos de desenvolvimento económico do país dão ênfase à necessidade da segurança alimentar que conduz à: Desenvolvimento económico sustentável, 50 Redução da taxa de desemprego; Redução dos níveis de pobreza absoluta. 8. CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DA AGRICULTURA O país tem aproximadamente uma áres de 80 milhões de hectares dos quais: 36 milhões de hectares de terra arável sendo: i. 20 milhões de hectares agricultáveis e apenas 5 milhões cultivados; ii. 3 milhões de hectares irrigáveis, dos quaias 125.000 hectares infraestruturados e 50.000 actualmente irrigados; 44 milhões de hectares de formações florestais com mais de 22 milhões de m3 de madeira. O país tem mais de 3 milhões de exploração agrícolas correspondentes a 3.866.806 hectares cultivados, ou seja, 6.923.646 parcelas. A agricultura no país tem as seguintes características específicas: 1. Factores biológicos; 2. Factores climáticos que às vezes podem ser adversos; 3. Condições fisiográficas (topografia e solos); 4. Terra e outros recursos naturais (solo e subsolo); 5. Dispersão; 6. Subsistência versus integração na economia monetária; 7. Aspectos sócio-económicos (tamanho e composição das famílias, valores culturais, atitudes, crenças, tradições, género, etc); 8. Actividade de risco. 51 9. IMPORTÂNCIA DO SECTOR AGRÁRIO - A agricultura é tomada como a base do desenvolvimento nacional (Artigo 39 da Constituição da República); - 80% da população moçambicana tem ocupação nas zonas rurais; - 40% do Produto Interno Bruto (PIB) provém da agricultura; - 60% das receitas de exportação são gerados pelo sector agrário; - Sector complementado pelas Florestas e Fauna Bravia, Pecuária, Pesca e outras riquezas minerais. Nota Importante: Recomenda-se o estudo da Legislação sobre a terra em Moçambique, nomeadamente, a lei nº 19/97, de 1 de Outubro , e o seu respectivo Regulamento, Decreto nº 66/98, de 8 de Dezembro. A INDÚSTRIA MOÇAMBICANA: Caracterização, estrutura, políticas industriais e outros aspectos relevantes “Na República de Moçambique a indústria é o factor impulsionador da economia nacional” – Artigo 104 da Constituição da República de 2005. 1. O PERÍODO COLONIAL A indústria existente em Moçambique não surgiu em consequência da evolução da estrutura económica global do país, mas como uma actividade subsidiária da exportação, isto é, imposta pela necessidade de transformar produtos primários até à fase exportável. Tendo em conta a aptidão ecológica do país para as culturas de cana-de-açúcar, do sisal, do coqueiro, do algodoeiro, do chá, entre outros, são as industrias destes produtos que primeiro apareceram em Moçambique. Os complexos agro-industriais do açúcar e do sisal são anteriores à guerra de 1914. São também antigas e correspondem igualmente à 52 objectivos de exportação as indústrias de extracção de óleos vegetais, do descaroçamento e prensagem de algodão, da preparação do chá e da serração de madeira. Nos finais da década de “40’, embora lentamente, assistiu-se à expansão do mercado interno (25.000 europeus) que tornou viáveis algumas industrias que respondiam à sua procura. Assim surgiram as indústrias do sabão e do tabaco; depois, as da cerveja, do cimento e do vestuário; mais tarde e já na década de “50”, a moagem de trigo e a fiação e tecelagem de algodão e juta; e por fim, já nos anos “60”, a refinação de petróleos, a laminagem de ferro e aço, a construção e montagem de material de caminho de ferro, e o descasque da castanha de caju. O sector da indústria pesada para a produção de máquinas para outros sectores da economia era muito incipiente, com um peso de apenas 11,7% no valor bruto da produção de 1973. A indústria existente, basicamente de transformação primária de produtos agrícolas estava equipada com maquinaria importada, frequentemente em segunda mão ou mesmo obsoleta. Sendo assim, só era capaz de efectuar pequenas transformações finais, de acabamento ou de embalagem de produtos importados. Por outro lado, assistia-se à localização desigual das indústrias, estando mais de metade localizadas na cidade capital de Lourenço Marques. 1.1. Objectivos da Indústria Transformadora A industrialização no período colonial obedeceu à objectivos específicos, nomeadamente: 1. A oferta de matérias–primas semi-processadas para exportação e/ou para aprovisionamento da indústria portuguesa. Ex.; descasque da castanha de cajú; descaroçamento do algodão; sisal; copra; açúcar; etc. 2. Satisfazer a crescente procura (formada por cerca de 250.000 colonos em 1974) de bens terminais de consumo. 3. Criar oportunidades de investimento para o pequeno empresário português residente. 53 4. Oferecer um mercado para recolocação dos equipamentos e máquinas tecnologicamente ultrapassados e fisicamente depreciados que a indústria portuguesa teria de substituir no processo da sua modernização; diminuir o custo de oportunidade tecnológico para a indústria de Portugal. 5. Tentar melhorar a face do regime colonial de modo a aliviar a crescente pressão política doméstica e internacional, intensificada com a luta armada de libertação nacional. 1.2 Estrutura da Indústria A estrutura da indústria transformadora moçambicana herdada do colonialismo era subdesenvolvida e desequilibrada, débil e dependente, vulnerável e ineficiente (Veja os mapas e gráficos, em anexo). A indústria transformadora tinha muito pouco impacto na economia, contribuindo com apenas 17% no PIB, em 1973. Havia uma fraqueza das ligações inter e intra-industriais e em consequência, 67% da produção industrial provinha de apenas três ramos da indústria: alimentos, bebidas e tabacos. Os téxteis, vestuário e couro ocupavam 7%, enquanto a madeira e o mobiliário, 6%. A dependência da indústria era e continua atípica. A produção do ramo de téxteis e vestuário era
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