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O PRINCIPIO DA ADEQUAÇÃO SETORIAL NEGOCIADA: PERDA DE FUNCIONALIDADE FRENTE O ADVENTO DA REFORMA TRABALHISTA Francisca Geneci Braga Viana1*, Ysmênia de Aguiar Pontes2 1. Faculdade Luciano Feijão – Iniciação Cientifica Voluntária. 2. Faculdade Luciano Feijão – Professora Do Curso de Direito. Palavras-chave: Adequação setorial negociada. Reforma trabalhista. Norma coletiva. Resumo O estudo instaurado no seguinte trabalho tem como objetivo apresentar o conceito e desdobramentos do princípio da adequação setorial negociada concebido pelo doutrinador trabalhista Mauricio Godinho Delgado e assim reputar se a chegada da lei 13.467/17 acabou por prejudicar a aplicabilidade do princípio, baseando-se em uma pesquisa bibliográfica.0 palavra Introdução Verifica-se claramente no estudo das ramificações do direito do trabalho que as mesmas têm tendências diferentes no tocante aos princípios que as regem, Ora enquanto o direito individual do trabalho dita-se pelo princípio da irrenunciabilidade, pelo qual não e dado ao empregado o poder de transacionar ou até mesmo renunciar direitos trabalhista, na seara coletiva o mesmo tem ampla possibilidade de assim fazer desde que respeitados limites, tais balizas são ponderadas justamente pelo princípio da adequação setorial negociada. Apesar do direito coletivo do trabalho ter tendência flexibilizadora a negociação coletiva não é absoluta e esbarra em fronteiras necessárias para a manutenção de postulados mínimos do direito do trabalho importantes para a conservação da dignidade da pessoa humana. Desta forma o Princípio da adequação setorial negociada postula os limites dos quais é dado a negociação coletiva flexibilizar, ou seja, diminuir a imperatividade das normas protetivas justrabalhistas para assim se atualizar frente as mudanças no mercado de trabalho de acordo com as peculiaridades de cada setor, quando necessário, assim como preceitua Mauricio Coutinho Delgado: Por flexibilização trabalhista entende-se a possibilidade jurídica, estipulada por norma estatal ou por norma coletiva negociada, de atenuação da força imperativa das normas componentes do Direito do Trabalho, de modo a mitigar a amplitude de seus comandos e/ou os parâmetros próprios para a sua incidência. Ou seja, trata-se da diminuição da imperatividade das normas justrabalhistas ou da amplitude de seus efeitos, em conformidade com autorização fixada por norma heterônoma estatal ou por norma coletiva negociada (DELGADO, 2015, p. 67). Metodologia Quanto ao método de estudo o mesmo foi bibliográfico baseado em uma pesquisa combinada entre a obra Curso de Direito do Trabalho do doutrinador Mauricio Godinho Delgado e artigos de diversos autores com a temática sobre os possíveis desdobramentos da Reforma trabalhista lei 13.467/17. A partir dessa compilação o trabalho foi realizado tendo como escopo uma análise descritiva. Resultados e Discussão O princípio da adequação setorial negociada idealizado por Mauricio Godinho Delgado estabelece a prevalência das normas autônomas desde que respeitados alguns critérios, quais sejam, “a) quando as normas autônomas juscoletivas implementam um padrão setorial de direitos superior ao padrão geral oriundo da legislação heterônoma aplicável”; e “b) quando as normas autônomas juscoletivas transacionam setorialmente parcelas justrabalhistas de indisponibilidade apenas relativa (e não de indisponibilidade absoluta)” (DELGADO, 2015, p. 948). O primeiro critério estabelece que as normas coletivas devem elevar o patamar de direitos trabalhistas estabelecidos nas normas heterônomas de forma que esses direitos venham a ser mais benéficos, já o segundo critério exige que sejam transacionados apenas direitos de indisponibilidade relativa e não os de indisponibilidade absoluta, mantendo assim o patamar mínimo civilizatório. São esses critérios condições necessárias para a validade jurídica e eficácia das normas juscoletivas. No tocante ao segundo critério nota-se que ficava a encargo do princípio da adequação setorial negociada ponderar se aquela norma estava ou não transacionando apenas direitos de indisponibilidade relativa, contudo, com o advento da reforma trabalhista lei 13.467/17 mais especificamente em seus artigos 611-A e 611-B a legislação infraconstitucional acaba por trazer uma pauta objetiva de direitos de indisponibilidade relativa e absoluta, respectivamente. A funcionalidade do princípio acaba assim prejudicada, pois o magistrado no exame do caso concreto relacionado a validade ou até o conflito que envolva determinada norma coletiva fica restrito ao rol de ordem objetiva trazido nos artigos. Além do mais a nova legislação privilegia o princípio da intervenção mínima na negociação coletiva, violando flagrantemente o princípio da inafastabilidade da jurisdição dada a limitação do magistrado em relação as novas disposições. Vale ressaltar entretanto que o princípio da negociação setorial negociada ainda assim não tem sua aplicabilidade esgotada, haja vista que o conteúdo disposto nos artigos 611-A e 611-B levantam algumas discussões, como exemplo, o artigo 611-A em seus incisos XII e XIII dispõe que: Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre. [...] XII - enquadramento do grau de Insalubridade; XIII - prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho; Em contrapondo o artigo 611-B em seu inciso XVII estabelece que: Art. 611-B. Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos: XVII - normas de saúde, higiene e segurança do trabalho previstas em lei ou em normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho; Em ambos os artigos e seus incisos supracitados há claramente uma oposição de ideias, basta ver que se uma norma coletiva precisa sobre prorrogação de jornada em ambientes insalubres, como não depreender que o conteúdo da mesma trata sobre saúde, higiene e segurança no trabalho? Obviamente a questão causa um impasse á aquele que deverá soluciona- la. É justamente no sentindo do questionamento anterior que caberá a utilização do princípio da adequação setorial negociada, para a resolução de tais inconvenientes resultantes dos novos arranjos legais. Conclusão Portanto a partir da análise estrutural do princípio da adequação setorial negociada foi possível ressaltar a importância deste enquanto instrumento restritivo das normas coletivas frente ao conteúdo das normas heterônomas protetivas do direito do trabalho, garantindo uma harmonia entre a autonomia juscoletiva e a manutenção do patamar mínimo civilizatório já conquistado pela classe trabalhista. Contudo o surgimento da reforma trabalhista embaraçou a eficiência do princípio, haja vista o rol de direitos passiveis e não passiveis de normatização autônoma terem sido elencados expressamente, dispensando assim maiores discussões antes possíveis em razão da aplicabilidade integral do princípio da adequação setorial negociada, apesar do mesmo ainda ser necessário quando do desentendimento legislativo entre alguns determinados incisos dos artigos 611-A e 611-B. Referências BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial [dos] Estados Unidos do Brasil: secção 1, Rio de Janeiro, DF, 2019, n. 184, p. 11937-11984, 9 ago. 1943. BRASIL. Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm. Acesso em: 10 de mai. 2019. DELGADO, Mauricio. Curso de Direito do Trabalho. 17ªed. São Paulo: Ltr editora. 2018. FIGUEIREDO, Mayra. Os limites da negociação coletiva e o princípio da adequação setorial negociadaem uma provável reforma trabalhista. Faculdade damas, 2017.Disponível em:http://www.faculdadedamas.edu.br/revistafd/index.php/cihjur/article/view/468. Acesso em: 15 de mai. de 2019. . Agradecimentos Agradeço a professora Ysmênia Pontes de Aguiar pela orientação apoio e confiança.
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