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ANÁLISE DA ADPF 779 STF

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO 
BEATRIZ SAMPAIO GROSSI
DIREITO PENAL III
Análise da ADPF 779 – STF 
Recife – Pernambuco 
2021
	A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 779, relatada pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli, apresenta a inconstitucionalidade da tese da Legítima Defesa da Honra. Essa temática foi demasiadamente utilizada para justificar o comportamento dos réus acusados de feminicídio. A defesa do acusado apresentava, diante do Tribunal do Júri, o argumento de que era plenamente aceitável consumar o feminicídio, caso a mulher cometesse adultério. O artigo 240 do Código Penal de 1940 tipificava a conduta do adultério como criminosa, porém foi revogado no ano de 2005. A Legítima Defesa da Honra é a tentativa da apresentação da vítima como a única culpada pela forma cruenta que o feminicídio ocorreu.
	O Tribunal do Júri, instituído em 1822, é o órgão responsável pelo julgamento dos crimes dolosos contra a vida. O Júri Popular é um direito fundamental (cláusula pétrea), instituído no art. 5°, XXXVIII da Constituição Federal de 1988. O referido inciso contém, entre outras atribuições do Tribunal do Júri, a soberania dos vereditos e a plenitude da defesa. É composto por vinte e cinco jurados e durante muito tempo era formado, em sua maioria, por homens. Além da Carta Magna, o art. 23 do Código Penal também relata que não há ilícito penal quando o agente comete o crime em legítima defesa. Entretanto, a Legítima Defesa da Honra não é condizente com a tese protegida pelo ordenamento jurídico brasileiro. O art. 28 do Código Penal expõe que não é excluída a imputabilidade penal quando o ilícito é cometido por emoção ou paixão, como é o caso da Legítima Defesa da Honra.
	Ademais, tomando-se despiciendas considerações alentadas sobre a Legítima Defesa da Honra, é imprescindível analisar o julgamento da ADPF – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – 779 do Supremo Tribunal Federal. O PDT (Partido Democrático Trabalhista) ajuizou a ação para que fosse conferida uma interpretação à luz da Constituição Federal dos arts. 23, II e 25 do Código Penal e art. 65 do Código de Processo Penal. O PDT argumentou que a Legítima Defesa da Honra não é conciliável com os direitos fundamentais, tais como a dignidade da pessoa humana e a igualdade de gênero. A tese apreciada pelo STF foi julgada, por unanimidade, inconstitucional. Assinale, ainda, que o Supremo deferiu, segundo dispõe a Magna Carta, o sentido dos arts. 23, II e 25 do Código Penal e art. 65 do Código de Processo Penal, de modo a eliminar a tese da Legítima Defesa da Honra da esfera do instituto tutelado pelas leis brasileiras.
	Releva notar, ainda, que o Excelso Pretório não pode abolir, alterar ou reduzir quaisquer dos direitos e garantias fundamentais, devendo a Suprema Corte declará-la inconstitucional. Delineia-se, assim, na síntese magistral do Ministro Ayres Brito que “a eficácia das regras jurídicas produzidas pelo Poder Constituinte Originário não está sujeita a nenhuma limitação normativa, porque provem de um exercício de poder de fato ou suprapositivo.” Entretanto, o Código de Processo Penal prevê, no art. 593, hipóteses em que são possíveis as recorrências da decisão do Tribunal do Júri, um direito fundamental. Em verdade, o princípio da soberania dos vereditos, por exemplo, não é um direito absoluto. É plausível, que, em caso de expressa deliberação feita pelo Júri Popular, diante de um caso concreto em que a Legítima Defesa da Honra é aplicada, contrária às provas dos autos processuais, exempli gratia, é estabelecido a submissão do réu a novo julgamento.
 	A vista do que até aqui exposto, conclui-se que, conforme o art. 226, § 8, da Constituição Federal “não pode o Estado permanecer omisso perante a naturalização da violência contra a mulher, sob pena de ofensa ao princípio da vedação da proteção insuficiente e do descumprimento ao compromisso adotado pelo Brasil de coibir a violência.” Em última análise, a Legítima Defesa da Honra não encontra mais acolhida à luz da Carta Magna, sob penalidade de ofender aos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade de gênero. 
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Centro Gráfico, 1988.
BRASIL. Código Penal (1940). Rio de Janeiro, RJ: Centro Gráfico, 1940.
BRASIL. Código de Processo Penal (1941). Rio de Janeiro, RJ: Centro Gráfico, 1941.
OLIVEIRA, DANIELY. Politize, 2021. A Tese da Legítima Defesa da Honra: o que é e por que é inconstitucional. Disponível em: https://www.politize.com.br/. Acesso em: 30 ago. 21 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2021). ADPF 779. Brasília, DF: Praça dos Três Poderes, 2021.

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