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EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS Um Guia de Resolução e Estudo de Equações Diferenciais PEDRO HENRIQUE MAGALHÃES BOTELHO GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE COMPUTAÇÃO - QUARTO SEMESTRE QUIXADÁ - CE 2021 Conteúdo 1 Introdução 2 1.1 Formas das Equações Diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.2 Funções Explícitas e Implícitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.3 Variáveis dependentes e independentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.4 Grau de uma Equação Diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 2 Equações Diferenciais e suas Soluções 3 2.1 Soluções de uma Equação Diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 2.2 Formalizando Intervalos e Soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 3 Verificando Soluções 4 4 Problema de Valor-Inicial 5 5 Variáveis Separáveis 5 6 Teorema de Existência e Unicidade 6 7 Equações Exatas 6 7.1 Método de Solução de Equações Exatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 8 Fator Integrante 7 8.1 Encontrando o Fator Integrante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 9 Equações Lineares de Primeira Ordem 8 1 1 Introdução Podemos definir uma equação diferencial como uma equação que contém as derivadas de uma ou mais variáveis dependentes em relação a uma ou mais variáveis independentes. Vamos entender brevemente a magia dessas equações diferenciais. Primeiramente, vamos revisar alguns conceitos básicos: 1.1 Formas das Equações Diferenciais Uma equação está em sua forma normal quando a derivada de grau mais alto da função está isolada, na forma dy dx = F (x, y), d 2y dx2 = F (x, y, y′) e por aí vai, sendo F uma função em termos de x, y e suas derivadas. Podemos escreve-la em sua forma diferencial colocando a derivada junto a equação como um todo, na forma F (x, y, y′) = 0, F (x, y, y′, y′′) = 0, e por aí em diante. É bom lembrar que podemos escrever a equação diferencial tanto como dy dx = F (x, y) como dy = F (x, y)dx. Isso pode ajudar dependendo da forma como se irá resolver a equação. 1.2 Funções Explícitas e Implícitas Função Explícita: Define y explicitamente como uma função de x. Exemplo: f(x) = x−1 x+1 Função Implícita: Define uma função F (x, y), onde y está implicitamente definida, mesmo em função de x. Exemplo: ln |y(x)|+ ln |x− 1| = x 1.3 Variáveis dependentes e independentes Uma variável dependente precisa de uma variável independente para obter seu valor final. Por exemplo: y = f(x), onde y depende de x, mas x não é em função de nenhuma outra variável, pelo contrário, impõe um valor a y. Logo, x é independente e y é dependente. Com isso em mente percebemos que teremos uma derivada de uma variável dependente, ou seja, uma função como y = f(x), em relação a uma variável independente, como um x. 1.4 Grau de uma Equação Diferencial Agora à um conceito novo: "Como definir o grau de uma equação diferencial?". O maior grau, ou ordem, da equação diferencial como um todo é o seu grau por definição. Logo dy dx = F (x, y) é uma equação diferencial de primeiro grau, e d 2y dx2 = F (x, y, y′) de segunda ordem, por exemplo. 2 2 Equações Diferenciais e suas Soluções O grande objetivo de estudar equações diferenciais é encontrar uma variável dependente y = f(x) que seja solução de uma equação envolvendo derivadas de funções, onde f(x) é uma função explícita em função da variável independente x. Logo, será muito comum se ver algo como "dado uma equação dy dx = 2xy encontre um y = f(x) que satisfaça a equação.". Caso a equação diferencial contenha derivadas ordinárias, isso é, derivadas de uma ou mais variáveis dependentes em relação apenas uma variável independente ela é denominada Equa- ção Diferencial Ordinária. Caso ela contenha derivadas parciais, ou seja, derivadas de uma ou mais variáveis dependentes em relação a uma ou mais variáveis independentes, então é chamada de Equação Diferencial Parcial. Iremos estudar equações diferenciais ordinárias nesse livro. 2.1 Soluções de uma Equação Diferencial Uma solução de uma equação diferencial é dita explícita se ela esta apenas em função da variável independente. Dessa forma, é possível substituir a solução y = f(x) na equação diferencial. Inversamente, uma solução de uma equação diferencial é dita implícita se ela não pode ser escrita na forma y = f(x), e sim, como G(x, f(x)) = 0, definida em uma intervalo I. É interessante termos sempre que possível uma solução explícita. Ao colocar a equação na forma y = f(x) é possível substituir na equação diferencial e conseguir uma solução geral ou uma solução individual. Falaremos disso mais adiante. 2.2 Formalizando Intervalos e Soluções Uma função y = f(x), definida em um intervalo I, é a solução de uma ED(equação diferen- cial) se quando substituída na equação reduzi-la a uma identidade. Genericamente, a solução de F (x, y, y′, ..., y(n)) = 0 é uma F (x, f(x), f ′(x), ..., f (n)(x)) = 0 que satisfaz a equação, para todo x em um intervalo I. Ou seja, em um intervalo I definido em x−1 ≤ x ≤ x+2 a solução deve ser contínua. I pode ser um intervalo aberto (a, b), intervalo fechado [a, b], intervalo infinito (0,∞) e por aí vai. Chamamos isso de intervalo de existência ou de domínio da solução. Ao utilizarmos funções como f, F, G, e etc, estamos organizando o nosso espaço de estudo das equações diferenciais. Por exemplo, y = f(x), ou y(x), quando y é representado por uma função f que está apenas em função de x, ou F (x, y) = 0, quando uma função F está em função de x e de y, assim como uma solução implícita F (x, f(x)) = 0, e por aí vai. Um caso específico: F (x, y, c) = 0, em que c é uma constante. Mesmo que seja uma constante, é escrito dessa forma pra mostrar que há uma curva de solução. Veremos mais disso adiante. 3 3 Verificando Soluções Vamos nos aprofundar um pouco mais no estudo de equações diferenciais. Uma função y = f(x), definida em um intervalo I aberto, ou seja, (−∞,∞), é solução de uma equação diferencial dy dx = F (x, y, y′, ..., y(n)) se ∀x em I ocorrer dy dx = F (x, f(x), f ′(x), ..., f (n)(x)). Isso quer dizer que em um intervalo aberto, y = f(x) deve se mostrar suficiente em dy dx = F (x, y, y′, ..., y(n)) para todos os valores de x nesse intervalo. Podemos resolver os lados esquerdos e direitos da igualdade para provar isso. Questão Modelo: Verifique se y = f(x) é solução de dy dx = F (x, y, y′, ..., y(n)). 1. Lado esquerdo: Derive y = f(x) → dy dx = f ′(x) 2. Lado direito: Substitua y = f(x) em dy dx = F (x, y) → dy dx = F (x, f(x)) Se os dois lados forem iguais, y = f(x) é solução de dy dx = F (x, y, y′, ..., y(n)), logo, dy dx = F (x, f(x), f ′(x), ..., f (n)(x)). Adicionalmente, podemos encontrar uma solução constante para a EDO (equação diferencial ordinária) em um intervalo I. Se a solução constante for nula em todo um intervalo I a chamamos de solução trivial. Se a solução é tipicamente y = f(x), a solução constante é y = 0. Algumas equações diferenciais tem essa solução como válida(caso todos os termos multipliquem y para que a equação se anule completamente), outras não. De uma mesma equação diferencial podemos ter diferentes soluções. Além da solução trivial, podemos ter uma solução geral, ou família de soluções, e uma solução particular por exemplo. É interessante pensarmos no gráfico da solução de uma equação diferencial como curvas de solução. A solução particular nos remete a um valor com apenas uma curva, enquanto uma solução geral - ou família de soluções tem várias curvas que dependem de uma ou mais constantes. Tanto é que escrevemos F (x, y, c) quando temos uma constante c que denota uma curva de solução, justamente para a identificar. Suponha uma equação diferencial do tipo F (x, y, y′) escrita como y′ + y = 0. Essa mesma equação tem três soluções: • Solução Trivial: y(x) = 0, nula em todo instante I. • Solução Particular: y(x) = e−x, logo, uma solução bastante singular, e em outras palavras, um gráfico único. • Solução Geral: y(x) = Ce−x, com C ∈ R, onde uma qualquerconstante C define as curvas de solução de forma mais geral possível, modelando o gráfico da equação. Para diferentes valores de C o gráfico da função se comportará de maneira diferente, com várias curvas de solução. 4 4 Problema de Valor-Inicial Quando precisamos resolver uma equação diferencial que satisfaça uma condição inicial, temos um Problemas de valor-inicial. Ou seja, determinar uma solução y = f(x) para a equação dy dx = F (x, y, y′, ..., y(n)) que satisfaça uma certa condição inicial y(x0) = y0. Questão Modelo: Determine uma solução y = f(x) da equação diferencial dy dx = F (x, y) que satisfaça y(x0) = y0. 1. Integre dy dx = F (x, y) para achar y = f(x) → ∫ F (x, y)dx+ C = y(x), C ∈ R. 2. Verifique se y(x0) = y0, onde (x0, y0) são as condições iniciais dadas. 3. Em equações diferenciais as constantes reais fazem toda a diferença, então não as ignore. Questão Modelo: Dado uma família de soluções y = F (x, c1, ..., cn) de uma equação dife- rencial dy dx = F (x, y), encontre uma solução y = f(x) no ponto y(x0) = y0. 1. Substitua a condição inicial y(x0) = y0 na solução geral y = F (x, c1, ..., cn) e encontre as constantes c1, ..., cn. 2. Substitua as constantes na família de soluções. 3. Agora você tem uma solução individual para aquele certo ponto, nas curvas definidas pelas constantes. 5 Variáveis Separáveis Se pudermos escrever a equação diferencial dy dx = F (x, y) de forma que as variáveis x e y estejam separadas pela igualdade, na forma P (x)dx = Q(y)dy, onde P (x) é uma função definida em uma intervalo aberto I1 e somente em função da variável independente x, e Q(y) é uma função definida em uma intervalo aberto I2 e somente em função da variável dependente y, então temos uma Equação Diferencial de Variáveis Separáveis. Para resolve-la, devemos achar suas respectivas primitivas, e ao final, encontrar a solução y = f(x). Questão Modelo: Resolva dy dx = F (x, y), onde F (x, y) = P (x) Q(y) . 1. Transcreva da forma normal para a forma diferencial dy dx = P (x) Q(y) → P (x)dx = Q(y)dy 2. Encontre as primitivas ∫ P (x)dx = ∫ Q(y)dy + C, C ∈ R. 3. Resolva a equação p(x) = q(y)+C e ache a solução geral y = F (x, c) ou, caso implícita, F (x, y, c) = 0. 5 6 Teorema de Existência e Unicidade Vamos agora formalizar um teorema que vimos nas seções passadas introspectivamente. Formalizando o Teorema de Existência e Unicidade Se F (x, y) tiver derivadas parciais contínuas, então dy dx = F (x, y) tem soluções. Adicionalmente, dado um (x0, y0) em F (x, y) existe uma única solução y = f(x) de dy dx = F (x, y) que satisfaz y(x0) = y0 Vimos isso algumas vezes nesse livro, mas de maneira muito tímida. Ao falarmos dos Proble- mas de Valor-inicial vimos que dado uma família de soluções e um ponto, podemos achar uma solução particular e única. Nem sempre uma equação diferencial terá solução, mas sempre que tiver uma solução particular ela será única. 7 Equações Exatas O método de Variáveis Separáveis é muito útil quando se é possível separar as variáveis da função F em duas funções, onde cada uma depende apenas de uma variável. Retomando brevemente: • Temos uma equação diferencial do tipo dy dx = F (x, y) • Ao separar F (x, y) em duas funções P e Q, temos dois resultados possíveis – Se for possível obter P (x)dx = Q(y)dy −→ Método de Variáveis Separáveis – Se só for possível obter P (x, y)dx+Q(x, y)dy = 0 −→Método de Equações Exatas Para aplicar o método de resolução de Equações Exatas devemos primeiramente verificar se ambas P (x, y) e Q(x, y) são exatas. Genericamente, dizemos que a equação P (x, y)dx + Q(x, y)dy = 0 é exata se existe uma função φ(x, y) que satisfaz ∂φ ∂x = P (x, y) e ∂φ ∂y = Q(x, y). Você pode estar se perguntando "Mas quem é φ?". Caso a equação seja exata, a sua solução é dada pelas curvas de φ(x, y) = c, onde c ∈ R. Logo, um φ(x, y, c) = 0 caracteriza sua solução. Há duas condições para uma equação ser exata: • As derivadas parciais de Q e P devem ser iguais: ∂Q ∂x = ∂P ∂y • P (x, y) e Q(x, y) devem estar definidas em todo o R2 ou em um domínio simplesmente conexo do plano, ou seja, contínuo e sem buracos. 6 7.1 Método de Solução de Equações Exatas Se a equação for exata, podemos aplicar o seu método de solução e chegar em uma solução geral sem muitas dificuldades. Relembrando a condição de existência de φ: Condição de Existência Uma equação do tipo P (x, y)dx+Q(x, y)dy = 0 é exata se existir uma função φ(x, y) que satisfaz ∂φ ∂x = P (x, y) e ∂φ ∂y = Q(x, y). Com base nisso, podemos perceber que a partir de φ podemos chegar tanto em P quanto em Q. O processo contrário é dado pela primitivação. Logo, o que queremos é encontrar φ a partir de P e Q. Temos que: ↪→ ∂φ ∂x = P (x, y) ↪→ ∂φ ∂y = Q(x, y) Podemos aplicar a primitivação nas duas equações e encontrar duas funções φ: ↪→ φ(x, y)P = ∫ P (x, y)dx+ h(y) ↪→ φ(x, y)Q = ∫ Q(x, y)dy + g(x) Sendo φ(x, y)P apenas em relação a x, y é tratado como constante, por isso um h(y) ∈ R constante. Da mesma forma em φ(x, y)Q, sendo em relação a y, com x e g(x) ∈ R constantes. Com φ(x, y)P e φ(x, y)Q em mãos, podemos compara-los e obter uma função φ final. Verifique as diferenças, e acima de tudo, verifique h(y) e g(x). A equação mais completa e de maior grau é a real φ. Ao final teremos um φ(x, y) = c, com c ∈ R, que é a solução geral para dy dx = F (x, y). Suas curvas de soluções caractererizam as soluções da equação diferencial. 8 Fator Integrante Caso a equação diferencial não seja exata, então não podemos aplicar o seu método de solu- ção, pelo menos não diretamente. Se multiplicarmos a equação inteira por um coeficiente em específico, ela se tornará exata, e então será possível aplicar o método de solução. Esse coe- ficiente é chamado de fator integrante, e podemos acha-lo de uma maneira muito simples. 7 8.1 Encontrando o Fator Integrante Há uma única condição aqui: Se ∂Q ∂x − ∂P ∂y Q(x,y) só depender de x, ou for constante, então é posível calcular o fator integrante. Caso contrário, não. Primeiramente, vamos calcular g(x), que irá nos auxiliar a encontrar o fator integrante µ. ∂Q ∂x − ∂P ∂y Q(x,y) = g(x) µ(x) = e ∫ g(x)dx Devemos, então, multiplicar a equação inteira por esse fator: (µ(x))P (x, y)dx+ (µ(x))Q(x, y)dy = 0 Agora já é possível aplicar o método de resolução de Equações Exatas. 9 Equações Lineares de Primeira Ordem Podemos classificar uma equação diferencial por sua linearidade. Uma equação diferencial linear de primeira ordem tem a seguinte forma: dy dx + p(x)y = q(x) Toda equação linear com esse formato tem um fator integrante µ(x) = e ∫ p(x)dx. Logo, podemos reescrever a equação como: e ∫ p(x)dx. dy dx + e ∫ p(x)dx.p(x)y = e ∫ p(x)dx.q(x) Logo, podemos encontrar y = f(x) da seguinte forma: y(x) = e− ∫ p(x)dx( ∫ e ∫ p(x)dxq(x)dx+ C), com C ∈ R. 8
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