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Interação transporte e uso do solo APRESENTAÇÃO O Desenvolvimento Orientado pelo Transporte (DOT) é uma política de desenvolvimento urbano que visa a concentrar a densidade urbana em regiões em que já existe rede de infraestrutura de transporte, principalmente transporte público. O uso do solo, ou seja, a utilização da edificação (residencial, comercial, etc.) e a ocupação do solo, ou seja, a forma como o solo é ocupado (a porcentagem de solo utilizado, o gabarito de altura da edificação, etc.) são fatores determinantes no planejamento urbano e, quando bem pensados, podem diminuir a demanda pelo sistema de transporte. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai ver a importância e os impactos dos sistemas de transporte urbano, qual a relação do sistema de transporte principalmente com o uso do solo e, com isso, vai entender a importância dos DOTs. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar o contexto e a importância dos sistemas de transporte urbano. • Discutir os impactos relacionados aos sistemas de transporte.• Relacionar efeitos do sistema de transporte com o uso do solo.• DESAFIO Jane Jacobs (2011) defende que o uso do solo é fator essencial para o estímulo da caminhabilidade em uma área urbana. Além disso, o uso do solo apropriado é fator determinante para a adequação da infraestrutura urbana, principalmente de transporte. Observe: Seguindo as informações fornecidas, indique propostas de uso e ocupação do solo para a região 1 e para a região 2. INFOGRÁFICO O uso do solo urbano está diretamente relacionado com a demanda dos sistemas de transportes. Quando o uso do solo é definido por zoneamento funcionalista, a demanda por sistemas de transportes tende a aumentar; por outro lado, quando o uso do solo é misto, a demanda por sistemas de transportes tende a diminuir. No Infográfico a seguir, você vai ver a relação do uso do solo urbano com os sistemas de transportes. CONTEÚDO DO LIVRO O sistema de transportes está muito relacionado com o uso e a ocupação do solo, sendo que, se o uso e a ocupação do solo forem planejados de forma integrada com o sistema de transportes, a demanda pelos sistemas de transportes diminui e o sistema é otimizado, facilitando, assim, a implementação de transporte público e transportes alternativos, como a pé ou de bicicleta. No capítulo Interação transporte e uso do solo, da obra Planejamento de transportes urbanos, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender sobre os sistemas de transportes, os impactos urbanos relacionados aos sistemas de transportes e os efeitos do sistema de transportes no uso do solo urbano. Você também vai ver um exemplo de Plano Diretor Estratégico elaborado com o objetivo de otimizar o sistema de transportes da cidade. Boa leitura. PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES URBANOS Carolina Girotti Interação entre transporte e uso do solo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar o contexto e a importância dos sistemas de transporte urbano. Discutir os impactos relacionados aos sistemas de transporte. Relacionar efeitos do sistema de transporte ao uso do solo. Introdução A população urbana mundial cresce rapidamente e gera impactos sig- nificativos no meio ambiente. As áreas urbanas tendem a crescer de forma espraiada e horizontal, e vários problemas são associados a esse padrão. O crescimento horizontal é um obstáculo para a implantação de infraestrutura urbana, em especial de transporte público, pois resulta em distâncias maiores. E, por aumentar as distâncias a serem percorridas até o centro da cidade, o crescimento horizontal aumenta também os impactos de emissão de dióxido de carbono (CO 2 ) e consumo de energia. Assim, pode-se afirmar que o uso e a ocupação do solo têm influência relevante nos ambientes urbanos e no padrão de crescimento das ci- dades. Quando aplicados de forma pontual e descontínua, ocasionam vazios e rompimentos da dinâmica urbana. Para evitar esses prejuízos, o uso e a ocupação do solo devem ser planejados de forma integrada com outros instrumentos urbanos. Neste capítulo, você vai estudar os sistemas de transportes urbanos, compreendendo sua importância e complexidade no contexto das cida- des. Você também vai compreender a importância da integração entre o uso e a ocupação do solo e os sistemas de transportes. Por fim, você vai estudar os impactos urbanos relacionados aos sistemas de transportes e sua relação com a densidade urbana e a cidade periférica. Sistemas de transporte urbano: contexto O termo transporte se refere ao deslocamento de uma pessoa ou mercadoria. Os deslocamentos mais comuns dos indivíduos no contexto atual envolvem o local de residência, o local de trabalho e os locais de lazer. Segundo Ma- galhães, Aragão e Yamashita (2014), esses deslocamentos podem ser es- quematizados como: casa–trabalho, trabalho–casa, casa–lazer, lazer–casa e casa–trabalho–lazer–casa. Magalhães, Aragão e Yamashita (2014) trazem a definição de sistema proposta por Bunge (1979), composta por três itens: elementos inter-relacionados; objetos de entrada e saída; relações binárias, ou seja, relações matemáticas que possuem um con- junto de pares ordenados. Dessa forma, assume-se que um sistema é um elemento complexo, que possui elementos inter-relacionados e conta com um objeto de entrada e um de saída. Entende-se, então, que o sistema de transporte é complexo e deve ligar a infraestrutura urbana e o fluxo de pessoas e possuir um sistema de conexão. O sistema de transporte necessita possuir entrada e saída, o que permite que os atores (pessoas e mercadorias) vençam o deslocamento de forma eficiente. A Figura 1 simplifica o sistema de transporte ideal, ou seja, aquele que possui objetos de entrada e de saída ligados da forma mais simplificada pos- sível; no exemplo, o deslocamento é casa–trabalho. Figura 1. Esquema do sistema de transporte ideal, com objeto de entrada (casa) e objeto de saída (trabalho). Interação entre transporte e uso do solo2 Porém, compor um sistema de transportes de maneira simplificada nem sempre é uma tarefa fácil, já que, em muitos cenários, o deslocamento possui obstáculos. Como exemplo, podemos citar os obstáculos topográficos, como desníveis muito íngremes ou, até mesmo, um rio. Em um sistema de transportes, o deslocamento deve sempre ter conexão; ou seja, o deslocamento não pode ser interrompido, mesmo quando existem obstáculos. A Figura 2 simplifica o sistema de transporte com obstáculos, ou seja, aquele que possui objetos de entrada e de saída ligados da forma mais simplificada possível, mesmo quando existem obstáculos; no exemplo, o deslocamento é casa-trabalho. Figura 2. Esquemas do sistema de transporte com obstáculos, com objeto de entrada (casa) e objeto de saída (trabalho). Além dos obstáculos existentes em um cenário, o sistema de transportes é complexo: na prática, existem inúmeros atores e diversos objetos de entrada e saída, e cada ator possui um deslocamento distinto, conforme ilustra a Figura 3. 3Interação entre transporte e uso do solo Figura 3. Sistema de transporte complexo, com diversos objetos de entrada (casa) e de saída (trabalho). Impactos relacionados aos sistemas de transporte urbano A partir da Revolução Industrial, passou a existir distinção entre residência e trabalho; com isso, surgiu a necessidade diária de deslocamento das pessoas, em horários defi nidos, conforme lecionam Nunes, Rosa e Moraes (2015). Existem diversos modos de vencer a necessidade de deslocamento da popu- lação, e cada modo gera impacto na organização da cidade. Dessa forma, a mobilidade não se reduz, apenas, ao deslocamento das pessoas e das coisas (cargas), abrangendo também o impacto que o sistema de transporte gera no meio ambiente, na organização das cidades e nas atividades nelasexecutadas. Interação entre transporte e uso do solo4 Sistemas de transportes e os impactos urbanos A mobilidade urbana necessita ser compreendida como um todo, a partir de uma perspectiva sustentável; porém, seu entendimento não pode ocorrer pontualmente, de forma isolada. Por exemplo, o entendimento da mobilidade urbana não pode ser reduzido aos aspectos tecnológicos, como a redução da poluição causada pelos automóveis ou o aumento da efi ciência do consumo energético desses automóveis. Isso porque, associados aos aspectos tecnológi- cos, estão o uso e a ocupação do solo e o acesso democrático de seu consumo, conforme apontam Nunes, Rosa e Moraes (2015). É notório que o uso do solo sem planejamento e, consequentemente, a periferização têm efeitos diretos sobre o padrão de viagens e sobre a eficiência da rede de transportes. O modelo de expansão do espaço urbano baseado na horizontalização origina cidades espraiadas e periféricas, que acarretam maiores distâncias de deslocamento, o que prejudica consideravelmente os sistemas coletivos de transporte. Enganam-se aqueles que pensam que os sistemas coletivos de transporte dependem da baixa densidade. Na verdade, os sistemas coletivos de trans- porte dependem da aglomeração da demanda, ou seja, de ambientes densos, pois existe relação inversa entre a capilaridade (ou cobertura) do serviço de transporte ofertado e sua capacidade, conforme destacam Nunes, Rosa e Moraes (2015) e Waltonet al. (2007). Dessa forma, cidades pouco densas não conseguem sustentar sistemas de transportes de alta capacidade, como o metrô. Porém, as redes de transportes de baixa capacidade, como linhas de ônibus, exigem várias baldeações para acessos específicos. Nota-se, assim, que, em uma cidade pouco densa, o sistema de transporte coletivo é pouco eficiente; logo, existirá uma preferência pelo transporte motorizado individual. Esse tipo de transporte gera tráfego intenso nas zonas centrais ou que possuem grandes concentrações comerciais. Por isso, a análise do sistema de transporte está diretamente relacionada com a densidade urbana da cidade (residencial e comercial, principalmente), além do uso do solo. A Figura 4 mostra a comparação da densidade populacional, da densidade de empregos e da densidade urbana entre Rio de Janeiro e Londres. 5Interação entre transporte e uso do solo Figura 4. Comparativo de densidade urbana, populacional e de empregos — Rio de Janeiro e Londres. Fonte: Adaptada de LSE CITIES ([2015]). A partir da Figura 4, é possível concluir que: 1. o Rio de Janeiro possui densidade populacional maior do que Londres; 2. apesar da densidade populacional mais baixa, a densidade populacional de Londres é mais concentrada do que a do Rio de Janeiro; 3. Londres possui densidade de empregos maior do que o Rio de Janeiro; 4. Londres possui uma área específica da cidade que possui alta concen- tração de empregos que, felizmente, coincide com a maior densidade urbana da cidade, o que tende a gerar menor deslocamento de pessoas; 5. apesar de o Rio de Janeiro possuir empregos em toda a sua área, é notória a concentração de empregos em determinada região, que, infelizmente, não coincide com a maior densidade urbana da cidade, o que tende a gerar maior deslocamento de pessoas. Interação entre transporte e uso do solo6 Sistemas de transportes e os impactos ambientais Em 2016, 50% da polução mundial vivia nas cidades; em 2018, essa porcen- tagem aumentou para 55% da polução mundial. Espera-se que em 2030 essa porcentagem aumente para 60% da população. No Brasil, a situação é ainda mais marcante: cerca de 85% da população vive nas cidades, segundo dados da Organização das Nações Unidas (UNITED NATIONS, 2016, 2018). Em 2000, havia 371 cidades com até 1 milhão de habitantes no mundo. Até 2018, o número de cidades com pelo menos 1 milhão de habitantes cresceu para 548, e a perspectiva para 2030 é que 706 cidades terão pelo menos 1 milhão de habitantes. O número de cidades com mais de 10 milhões de habitantes (megacidades) também tende a aumentar; em 2018, havia 33 megacidades no mundo, e a perspectiva é que esse número aumente para 43 em 2030, segundo a ONU (UNITED NATIONS, 2018). Com grande parte da população vivendo nas zonas urbanas, a ocupação desses centros foi aumentando de forma caótica e sem planejamento. Por abrigarem grande parcela da população mundial, as zonas urbanas consomem grande quantidade de recursos, incluindo consumo de energia, e emitem mais CO2. A emissão de CO2 em sistemas de transportes responde por cerca de 1/4 do total de emissões globais, sendo os veículos motorizados individuais (automóveis) responsáveis pela maior parte dessas emissões, conforme lecionam Andrade, D’agosto e Leal Junior (2013). Assim, o sistema de transporte gera impactos nas mudanças climáticas, as quais estão relacionadas, principalmente, ao consumo de energia e à emissão de CO2 no deslocamento de pessoas e cargas nas cidades. Nos modelos de cidades existentes, grandes deslocamentos diários são necessários, e esses deslocamentos são realizados, muitas vezes, por meios de transporte ineficientes, como veículos motorizados individuais movidos a combustíveis fósseis, que emitem gases poluentes (Figura 5). Assim, reduzir a necessidade de longos deslocamentos diários é sinônimo de reduzir os impactos da mobilidade urbana nas mudanças climáticas. 7Interação entre transporte e uso do solo Figura 5. Transporte motorizado individual e a poluição. Fonte: Quarta/Shutterstock.com. Efeitos do sistema de transporte no uso do solo Em cidades de países em desenvolvimento, como o Brasil, a urbanização e a metropolização cresceram de forma não planejada e desenfreada, principal- mente nas últimas décadas. Segundo Jabareen (2006), no Brasil, dentre as consequências do crescimento da urbanização, destacam-se: aumento do consumo de energia (principalmente pelo sistema de transportes); maiores emissões de gases poluentes; periferização urbana; Interação entre transporte e uso do solo8 segregação urbana; falta de espaços verdes; falta de infraestrutura adequada; congestionamento viário; falta de acesso ao sol; e especulação imobiliária, que adensa as cidades sem estudos apropriados. O sistema de transporte e o uso e a ocupação do solo são interligados. A periferização urbana, isto é, o modelo de expansão do espaço urbano baseado na horizontalização, gera intervenção na eficiência dos sistemas de transportes, conforme destaca Lamour (2018). Quanto mais espraiada a cidade for, mais distante será o deslocamento a vencer até o centro da cidade, o que afeta diretamente o sistema de transporte público, que se torna mais difícil de ser implantado e operacionalizado. Além disso, o consumo de energia e a emissão de CO2 são maiores nesse tipo de urbanização, principalmente pelo uso do transporte motorizado individual, conforme ilustra a Figura 6. Figura 6. Esquema de cidade periférica: a zona residencial comumente é localizada na periferia da cidade, e a zona comercial fica no centro, o que aumenta a demanda por transporte motorizado individual. Segundo Miana (2010), como estratégia de eficiência no desenvolvimento urbano e nos sistemas de transportes, é necessária a minimização do uso do solo. Nesse sentido, destaca-se o conceito de uso misto, que está relacionado com a compacidade. O modelo de expansão do espaço urbano baseado na horizontalização dá origem às cidades periféricas. Já o desenvolvimento urbano baseado no uso misto está associado à cidade densa e compacta. A densidade e a compacidade incidem na morfologia urbana (forma urbana) e na sua funcionalidade, minimizando as redes de infraestrutura urbana, especialmente de mobilidade e transporte, conforme lecionam Walton et al. (2007). O uso misto apresenta como benefício principal a redução das neces- sidades de deslocamento em um ambiente urbano, ao aproximar o trabalho, o comércio e os serviços da moradia.9Interação entre transporte e uso do solo Segundo Jacobs (2011, p. 167), “[...] o distrito […] deve atender a mais de uma função principal e tais funções devem garantir que as pessoas saiam de casa em horários diferentes e estejam nos locais por motivos diferentes, mas sejam capazes de utilizar boa parte da infraestrutura (urbana)”. Ao aproximar o trabalho da moradia, o uso misto tende a reduzir a demanda pelo uso do transporte individual motorizado, além de estimular o uso do transporte público associado a modos de transportes ativos, ou seja, a pé e de bicicleta, conforme ilustra a Figura 7. Figura 7. O transporte alternativo (caminhada e bicicleta) é estimulado com o uso misto do solo, principalmente quando é implantada a fachada ativa com uso comercial e de serviço. O uso misto também favorece a diversidade de usos e reforça a vitalidade urbana. Ou seja, por meio do aumento da caminhabilidade, aumenta o que Jacobs (2011) chama de vigilância, e, consequentemente, aumenta a sensação de segurança de um bairro, oferecendo qualidade de vida para seus habitantes. De acordo com Walton et al. (2007), o uso misto possui os seguintes benefícios: acesso facilitado à infraestrutura urbana, como rede elétrica e transporte; redução do congestionamento urbano; maiores oportunidades de interação social, por conta da maximização da caminhabilidade; comunidades socialmente diversas, já que a cidade não é mais dividida; estimulação visual, por conta de diferentes edifícios na mesma área urbana; maior sensação de segurança, por conta da maximização da vitalidade urbana; maior eficiência energética e uso mais eficiente de espaços e edifícios, por conta dos ambientes mais densos. Interação entre transporte e uso do solo10 Jacobs (2011) levantou os benefícios do uso misto e sua relação com as redes de transporte em 1961, no livro Morte e Vida nas Grandes Cidades. Jacobs e a obra se somaram às críticas contra o urbanismo de zonificação funcionalista; até hoje, o livro é um dos mais influentes do urbanismo. O desenvolvimento urbano atual, orientado pelo transporte, possui bastante semelhança com o pensamento de Jacobs. Desenvolvimento orientado pelo transporte O desenvolvimento orientado pelo transporte (DOT) é uma metodologia atual de desenvolvimento urbano e possui como principal objetivo direcionar o desenvolvimento urbano para onde já existe transporte público de massa, conforme Lamour, Morelli e Marins (2019). Ou seja, o DOT é uma estratégia de planejamento urbano que integra o uso e a ocupação do solo e o sistema de transportes. Ele objetiva aumentar a densidade populacional em áreas com acesso facilitado ao transporte público, conforme destaca Lamour (2018). De acordo com a Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana (2015), as políticas de DOT se configuram em oito regras, descritas a seguir. 1. Caminhar: estimular vias para pedestres desobstruídas, bem iluminadas e de alta qualidade. 2. Pedalar: desenvolver um plano cicloviário que aumenta a segurança dos ciclistas ao reduzir a velocidade nas faixas de rodagem e apresentar pistas separadas para as bicicletas. 3. Conectar: estimular uma rede densa para trajetos a pé ou de bicicleta, a qual resulta em conexões mais curtas, variadas e diretas. 4. Promover o transporte coletivo: desenvolver um sistema de transporte coletivo rápido, frequente, confiável e de alta capacidade. 5. Compactar: desenvolver a reorganização ou a requalificação da malha urbana existente. 6. Misturar: estimular o uso misto. 7. Adensar: estimular o adensamento de usos residencial e comercial no entorno das estações de transporte público de massa. 11Interação entre transporte e uso do solo 8. Promover mudanças: estimular tarifas adequadas de estacionamento e a redução da oferta geral de vagas em vias públicas e em áreas privadas. A revisão do plano diretor estratégico do município de São Paulo, em 2014, vai de encontro com as políticas de DOT, principalmente por estimular o uso misto e o adensamento próximo ao transporte público de massa, conforme mostra a Figura 8. Figura 8. Nova estruturação urbana do plano diretor estratégico do município de São Paulo, de 2014, e sua relação com o sistema de transporte. Fonte: São Paulo ([2019], documento on-line). ANDRADE, C. E. S.; D’AGOSTO, M. D. A.; LEAL JUNIOR, I. C. Avaliação do ganho na redu- ção de CO2 devido a disponibilidade de um sistema metroviário: aplicação no Metrô do Rio de Janeiro. Transportes, v. 21, n. 2, p. 5-12, 2013. Disponível em: https://www. revistatransportes.org.br/anpet/article/view/653. Acesso em: 21 out. 2019. JABAREEN, Y. R. Sustainable urban forms. Journal of Planning Education and Research, v. 26, n. 1, p. 38-52, 2006. Interação entre transporte e uso do solo12 JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011. LAMOUR, Q. Avaliação da estratégia dos eixos de estruturação da transformação urbana, do município de São Paulo, frente à teoria do desenvolvimento orientado pelo transporte (DOT), estudo de caso: área de influência da estação Belém do metrô. 2018. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-17072018-135405/ publico/QuetinLamourCorr18.pdf. Acesso em: 21 out. 2019. LAMOUR, Q.; MORELLI, A. M.; MARINS, K. R. D. C. Improving walkability in a TOD context: spatial strategies that enhance walking in the Belém neighbourhood, in São Paulo, Brazil. Case Studies on Transport Policy, v. 7, n. 2, p. 280-292, 2019. Disponível em: https://www. sciencedirect.com/science/article/pii/S2213624X18301408. Acesso em: 21 out. 2019. LSE CITIES. Urban age. [2015]. Disponível em: https://urbanage.lsecities.net/. Acesso em: 21 out. 2019. MAGALHÃES, M. T.; ARAGÃO, J. J. G.; YAMASHITA, Y. Definição de transporte: uma re- flexão sobre a natureza do fenômeno e objeto da pesquisa e ensino em transportes. Transportes, v. 22, n. 3, p. 1-11, 2014. MIANA, A. C. Adensamento e forma urbana: inserção de parâmetros ambientais do processo de projeto. 2010. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. NUNES, T.; ROSA, J. S.; MORAES, R. F. Sustentabilidade urbana: impactos do desenvolvi- mento econômico e suas consequências sobre o processo de urbanização em países emergentes: textos para as discussões da Rio+20 2012. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2015. SÃO PAULO (cidade). Gestão Urbana de São Paulo. Onde estão localizados? [2019]. Disponível em: https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/estruturacao-territorial/ eixos-de-transformacao/localizacao/. Acesso em: 21 out. 2019. UNITED NATIONS. The world’s cities in 2016: data booklet. 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Disponível em: https://www.revistatransportes.org.br/anpet/article/view/101/90. Acesso em: 21 out. 2019. EWING, R.; CERVERO, R. Travel and the built environment. Journalof the American Planning Association, v. 76, n. 3, p. 265-294, 2010. LAMOUR, Q.; MARINS, K. R. C. C. Análise dos eixos de estruturação da transformação urbana de São Paulo, segundo indicadores selecionados. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 16., 2016, Santa Maria. Anais [...]. Rio Grande do SUL: SOBRAC, 2016. SÃO PAULO (cidade). Plano diretor estratégico do Município de São Paulo ilustrado. 2014. Interação entre transporte e uso do solo14 DICA DO PROFESSOR O estímulo à mobilidade urbana sustentável nas cidades depende do planejamento do uso e da ocupação do solo de forma integrada aos sistemas de transportes. A mobilidade urbana sustentável visa a diminuir a demanda pelos transportes. Nesta Dica do Professor, você verá qual a relação entre o uso e a ocupação do solo e os sistemas de transportes e quais as alternativas para diminuir a demanda por transportes mediante o planejamento urbano. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) A intensificação do fenômeno da urbanização, observada em escala global a partir da segunda metade do século 20, em seus níveis mais expressivos nos países emergentes, tem acarretado graves pressões e problemas no domínio dos transportes e da mobilidade. (NUNES; ROSA; MORAES, 2015, p. 14) Pode-se afirmar sobre a relação entre o fenômeno da urbanização e os problemas de transporte e mobilidade: A) Quanto maior o número de pessoas vivendo nas cidades, maiores serão os problemas dos transportes e da mobilidade. B) A urbanização não planejada gera a cidade espraiada, a qual causa problemas significativos em relação aos sistemas de transportes. C) A urbanização aumenta a densidade das cidades, e cidades densas causam problemas nos sistemas de transportes. D) Quanto maior a oferta de empregos na cidade, maior será o deslocamento dentro dela, e o transporte será pouco eficiente. E) A urbanização causa problemas significativos no sistema de transportes, pois concentra muitas pessoas em pouco espaço. 2) O sistema de transportes é um sistema complexo que tem como objetivo o deslocamento. Os deslocamentos mais comuns em um sistema de transportes são os de carga, passageiros ou serviços. Sobre os sistemas de transportes, é correto afimar: A) O sistema de transportes não apresenta função sem conexão. B) O sistema de transportes deve ser o mais simples possível, mesmo que necessite ser interrompido para vencer algum obstáculo. C) É comum que ocorram interrupções no deslocamento em um sistema de transportes, mas elas devem ser evitadas. D) O sistema de transportes tem função a partir do momento em que há deslocamento entre dois ou mais objetos. O deslocamento pode ser interrompido quando há obstáculos. E) O principal objetivo do sistema de transportes é a funcionalidade. A mobilidade urbana e as mudanças climáticas se relacionam principalmente pelo consumo excessivo de energia para o deslocamento nas cidades. O desenvolvimento das cidades atuais exige grandes deslocamentos diários, que são realizados, muitas vezes, por meios de transporte ineficientes – como os veículos motorizados individuais – e movidos a combustíveis fósseis, os quais são responsáveis por elevada emissão de gases de efeito estufa. 3) Reduzir a necessidade de longos deslocamentos diários e promover meios de transporte eficientes são passos fundamentais para reduzir os impactos da mobilidade urbana nas mudanças climáticas. Quais medidas as cidades devem tomar para reduzir os impactos da mobilidade urbana nas mudanças climáticas? A) Reduzir a poluição causada pelos automóveis. B) Aumentar a eficiência do consumo energético dos veículos. C) Estimular o uso de veículos elétricos. D) Desenvolver medidas associadas ao transporte, como o uso e a ocupação do solo orientados para o transporte. E) Aumentar os sistemas de transporte público de massa. 4) O distrito [...] deve atender a mais de uma função principal e tais funções devem garantir que as pessoas saiam de casa em horários diferentes e estejam nos locais por motivos diferentes, mas sejam capazes de utilizar boa parte da infraestrutura (urbana). (JACOBS, 2011, p. 167) Sobre a relação entre as funções (zoneamento) e o sistema de transportes de uma cidade, é correto afirmar: A) A cidade deve ser dividida por zonas (residenciais, comerciais, etc.), pois assim o planejador conhece o deslocamendo do indivíduo e o sistema de transportes é otimizado. B) A cidade deve ser dividida por zonas (residenciais, comerciais, etc.), pois zonificação urbana funcionalista é sinônimo de planejamento, e o sistema de transporte necessita de planejamento. C) A cidade deve ser dividida por zonas (residenciais, comerciais, etc.), pois a zonificação urbana funcionalista aumenta o número de pessoas que utilizam o transporte público, o que justifica a implantação do transporte público de massa. D) A cidade deve ser dividida por zoneamento misto, pois este facilita o acesso à infraestrutura urbana, inclusive de transporte, diminuindo assim o congestionamento urbano. E) A cidade deve ser dividida por zoneamento misto, pois este diminui o número de pessoas que utilizam o transporte público, aumentando assim o conforto dos usuários. 5) O entendimento dos sistemas de transportes deve ser feito como um todo e de maneira sustentável, ou seja, o sistema de transporte não pode ser compreendido de forma pontual. Nota-se que o uso e a ocupação do solo sem planejamento causam a periferização, o que interfere diretamente sobre o padrão de viagens e, consequentemente, sobre a eficiência da rede de transporte. Dessa forma, o planejamento dos sistemas de transportes deve ser feito considerando outros elementos do desenvolvimento urbano. O desenvolvimento urbano orientado pelo transporte é aquele que considera quais elementos principais? A) Planejamento de cidades com densidade urbana e uso do solo apropriados. B) Eficiência dos transportes. C) Maior implantação de ciclovias. D) Planejamento de cidades baseado na horizontalização. E) Planejamento de cidades baseado no conceito de zonificação urbana funcionalista. NA PRÁTICA O uso do solo e a densidade urbana apresentam interferência direta sobre os sistemas de transporte. Por isso, chama a atenção o conceito das políticas de DOT (Desenvolvimento Orientado pelo Transporte). O principal objetivo das políticas de DOT é justamente orientar o desenvolvimento urbano onde já existe infraestrutura de transporte público de massa. Veja na prática como o Plano Diretor Estratégico de São Paulo – PDE 2014 foi desenvolvido. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: WRI explica: DOTS - Desenvolvimento orientado ao transporte sustentável (2018) Neste vídeo, você verá uma apresentação do WRI Brasil sobre o DOTS, o planejamento que alia a mobilidade e o uso do solo para construir cidades mais eficientes e sustentáveis. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Urbanidade & mobilidade: saídas para a mobilidade urbana (2014) Neste vídeo gráfico-didático baseado na apresentação do urbanista Carlos Leite no evento Urbanismo e Jornalistas (São Paulo, 2013), você verá 4 problemas urbanos relacionados à mobilidade e suas possíveis soluções. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Mobilidade urbana 1 - Sustentabilidade urbana: impactos do desenvolvimento econômico e suas consequências sobre o processo de urbanização em países emergentes (2015) Caderno de mobilidade urbana que faz parte de um projeto de cooperação técnica internacional, resultado da parceria entre o Ministério do Meio Ambiente, o Ministério das Cidades, o Ministério das Relações Exteriores e o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat). Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Análisedos Eixos de Estruturação da Transformação Urbana de São Paulo, segundo indicadores selecionados (2016) Artigo apresentado em congresso brasileiro que analisa os Eixos de Transformação Urbana previstos no Plano Diretor Estratégico do município de São Paulo (2014) e suas consequências ambientais e sociais. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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