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RECEPTORES SENSORIAIS E CIRCUITOS NEURONAIS PARA O PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO – capítulo 47 Guyton TIPOS DE RECEPTORES SENSORIAIS E OS ESTÍMULOS QUE DETECTAM Há cinco tipos básicos de receptores sensoriais: (1) mecanorreceptores, que detectam a compressão mecânica ou o estiramento do receptor ou dos tecidos adjacentes ao receptor; (2) termorreceptores, que detectam alterações da temperatura, alguns receptores detectam o frio, outros detectando calor; (3) nociceptores (receptores da dor), que detectam danos físicos ou químicos que ocorrem nos tecidos; (4) receptores eletromagnéticos, que detectam a luz que incide na retina dos olhos; e (5) quimiorreceptores, que detectam o gosto na boca, o cheiro no nariz, o nível de oxigênio no sangue arterial, a osmolalidade dos líquidos corpóreos, a concentração de dióxido de carbono e outros fatores que compõem a química do corpo. Mecanorreceptores: Sensibilidades táteis da pele (epiderme e derme) Terminações nervosas livres Terminações expandidas Discos de Merkel Mais muitas outras variações Terminações espraiadas Terminações de Ruffini Terminações encapsuladas Corpúsculos de Meissner Corpúsculos de Krause Órgãos do folículo capilar Sensibilidades do tecido profundo Terminações nervosas livres Terminações expandidas Terminações espraiadas Terminações de Ruffini Terminações encapsuladas Corpúsculos de Pacini Mais algumas outras variações Terminações musculares Fusos musculares Receptores tendinosos de Golgi Audição Receptores auditivos da cóclea Equilíbrio Receptores vestibulares Pressão arterial Barorreceptores dos seios carotídeos e da aorta Termorreceptores: Frio Receptores para o frio Calor Receptores para o calor Nociceptores: Dor Terminações nervosas livres Receptores eletromagnéticos: Visão Bastonetes Cones Quimiorreceptores: Paladar Receptores dos botões gustatórios Olfato Receptores do epitélio olfatório Oxigênio arterial Receptores dos corpos aórtico e carotídeo Osmolalidade Neurônios dos núcleos supraópticos ou próximos deles CO2 plasmático Receptores do ou próximos do bulbo, ou dos corpos aórtico e carotídeo Glicose, aminoácidos, ácidos graxos plasmáticos Receptores do hipotálamo SENSIBILIDADE DIFERENCIAL DOS RECEPTORES Dois tipos de receptores sensoriais detectam tipos diferentes de estímulos através de sensibilidades diferenciadas, isto é, cada tipo de receptor é muito sensível a tipo de estímulo para o qual ele é especializado e, ao mesmo tempo, é praticamente insensível a outros tipos de estímulos sensoriais. Assim, os bastonetes e os cones na retina respondem muito à luz, porém não respondem quase completamente aos limites normais de calor, frio, pressão nos globos oculares ou alterações químicas do sangue. Os osmorreceptores dos núcleos supraópticos no hipotálamo detectam alterações mínimas da osmolalidade dos líquidos corporais, porém nunca se soube que respondam ao som. Finalmente, os receptores para dor, na pele, quase nunca são estimulados pelos estímulos habituais de tato ou pressão, porém ficam muito ativos no momento em que os estímulos táteis se tornam intensos o suficiente para lesar os tecidos. Modalidade de Sensação — O Princípio das “Vias Rotuladas”: Cada um dos principais tipos de sensibilidade que podemos experimentar — dor, tato, visão, som — é chamado modalidade sensorial. Assim, a despeito do fato de que experienciamos essas diferentes modalidades de sensação, as fibras nervosas transmitem apenas impulsos. Portanto, como as diferentes fibras nervosas transmitem as diferentes modalidades sensoriais? A resposta é que cada trato nervoso termina em área específica no sistema nervoso central e o tipo de sensação percebida, quando a fibra nervosa é estimulada, é determinado pela região no sistema nervoso para onde as fibras se dirigem. Por exemplo, se fibra de dor for estimulada, o indivíduo percebe dor, a despeito do tipo de estímulo que excita a fibra. O estímulo pode ser elétrico, o superaquecimento da fibra, a compressão da fibra, ou estimulação da terminação nervosa dolorosa, por lesão das células dos tecidos. Em todos esses casos, a pessoa percebe dor. Da mesma forma, se fibra para tato for estimulada pela excitação elétrica de receptor tátil ou de qualquer outra maneira, o indivíduo percebe o tato porque as fibras táteis se dirigem a áreas encefálicas específicas para o tato. De maneira semelhante, as fibras provenientes da retina dos olhos terminam nas áreas visuais cerebrais; as fibras que se originam na cóclea terminam nas áreas cerebrais auditivas, e as fibras térmicas terminam nas áreas associadas à detecção de temperatura. Essa especificidade das fibras nervosas para transmitir apenas uma modalidade sensorial é chamada princípio das vias rotuladas. TRANSDUÇÃO DOS ESTÍMULOS SENSORIAIS EM IMPULSOS NERVOSOS CORRENTES ELÉTRICAS LOCAIS NAS TERMINAÇÕES NERVOSAS — POTENCIAIS RECEPTORES Todos os receptores sensoriais têm característica comum. Qualquer que seja o tipo de estímulo que excite o receptor, seu efeito imediato é o de alterar o potencial elétrico da membrana do receptor. Essa alteração do potencial é chamada potencial receptor. Mecanismos dos Potenciais Receptores: Os diferentes receptores podem ser excitados de várias maneiras para causar um potencial receptor: (1) por deformação mecânica do receptor que distende a membrana do receptor e abre os canais iônicos; (2) pela aplicação de substância química na membrana que também abre os canais iônicos; (3) pela alteração da temperatura da membrana que altera a permeabilidade da membrana; ou (4) pelos efeitos da radiação eletromagnética, tais como a luz no receptor visual da retina que, direta ou indiretamente, alteram as características da membrana do receptor e permitem que os íons fluam pelos canais da membrana. Esses quatro meios de excitar os receptores correspondem, em geral, aos diferentes tipos de receptores sensoriais conhecidos. Em todos os casos, a causa básica da alteração no potencial de membrana é a alteração da permeabilidade da membrana do receptor que permite que os íons se difundam mais ou menos prontamente através da membrana, alterando, desse modo, o potencial transmembrana. Amplitude Máxima do Potencial Receptor: A amplitude máxima da maioria dos potenciais receptores sensoriais é cerca de 100 milivolts, porém esse nível ocorre apenas com estímulo sensorial de intensidade extremamente elevada. Essa é aproximadamente a mesma voltagem máxima registrada nos potenciais de ação e é também a alteração da voltagem verificada quando a membrana fica permeável, o máximo possível, aos íons sódio. Relação do Potencial Receptor com os Potenciais de Ação: Quando o potencial receptor se eleva acima do limiar, para desencadear potenciais de ação na fibra nervosa conectada ao receptor, ocorrem então os potenciais de ação. Observe também que quanto mais o potencial receptor se eleva acima do limiar, maior fica a frequência dos potenciais de ação na fibra aferente. POTENCIAL RECEPTOR DO CORPÚSCULO DE PACINI — EXEMPLO DA FUNÇÃO DO RECEPTOR Na figura pode observar-se que o corpúsculo de Pacini contém uma fibra nervosa que se estende por toda a sua região central. Circundando essa fibra nervosa central existem múltiplas camadas capsulares concêntricas, de modo que qualquer pressão exercida, em qualquer região externa do corpúsculo vai alongar, comprimir ou deformar de alguma maneira a fibra central. A terminação da fibra central na cápsula é amielínica, porém a fibra fica mielinizada (a bainha azul mostrada na figura) um pouco antes de deixar o corpúsculo e entrar em nervo sensorial periférico. Observe a pequena área da fibra terminal que foi deformada pela compressão do corpúsculo, e note que os canais iônicos se abriram na membrana, permitindo que íons sódio com carga positiva se difundam para o interior da fibra. Esse efeito cria aumento da positividade no interior da fibra, que é o “potencial receptor”. Esse potencial receptor, por sua vez, gera fluxo de corrente, o chamado circuito local, mostrado pelas setas, que se distribui ao longo da fibra nervosa. Ao atingir o primeiro nodo de Ranvier, situado no interior da cápsula do corpúsculo de Pacini, o fluxo de corrente local despolariza a membrana da fibra desse nodo, o que, então, desencadeia potenciais de ação típicos transmitidos ao longo da fibra nervosa para o sistema nervoso central. Relação entre Intensidade do Estímulo e Potencial Receptor: A estimulação muito intensa do receptor provoca progressivamente menos e menos aumentos adicionais do número de potenciais de ação. É um princípio extremamente importante aplicável a quase todos os receptores sensoriais. Ele permite que o receptor seja sensível à experiência sensorial muito fraca e ainda assim seja capaz de não atingir a frequência máxima de disparo até que a experiência sensorial seja extrema. Essa característica possibilita que o receptor tenha ampla variedade de respostas de muito fracas até muito intensas. ADAPTAÇÃO DOS RECEPTORES Outra característica de todos os receptores sensoriais é que eles se adaptam, parcial ou completamente, a qualquer estímulo constante depois de certo período. Ou seja, quando estímulo sensorial contínuo é aplicado, o receptor responde inicialmente com alta frequência de impulsos, seguida por frequência progressivamente menor e, por fim, por frequência de potenciais de ação muito baixa ou, em geral, cessam os impulsos. É provável que todos os outros mecanorreceptores acabem, por fim, se adaptando quase que completamente, porém, alguns necessitam de horas ou dias para fazê-lo, razão pela qual eles são chamados receptores que “não se adaptam”. O tempo mais longo medido para a adaptação quase completa de mecanorreceptor é cerca de 2 dias, que é o tempo de adaptação para muitos barorreceptores dos corpos carotídeos e aórticos; entretanto, alguns fisiologistas acreditam que esses barorreceptores especializados nunca se adaptam por completo. Alguns dos outros receptores que não os mecanorreceptores — os quimiorreceptores e os receptores para dor, por exemplo — provavelmente nunca se adaptam por completo. Mecanismos pelos quais os Receptores se Adaptam: Os mecanismos de adaptação do receptor são diferentes para cada tipo de receptor, da mesma maneira que o desenvolvimento do potencial receptor é propriedade individual. Por exemplo, no olho, os bastonetes e cones se adaptam modificando as concentrações de substâncias químicas sensíveis à luz. No caso dos mecanorreceptores, o receptor estudado em mais detalhes é o corpúsculo de Pacini. A adaptação ocorre nesse receptor por duas maneiras. No primeiro caso, devido ao corpúsculo de Pacini apresentar uma estrutura viscoelástica, quando força de compressão é aplicada rapidamente de um lado do corpúsculo, essa força é, de modo instantâneo, transmitida pelo componente viscoso do corpúsculo, diretamente para o mesmo lado da fibra nervosa central, desencadeando, assim, um potencial receptor. Todavia, em alguns centésimos de segundo, o líquido no interior do corpúsculo se redistribui, e o potencial receptor não é mais provocado. Dessa forma, o potencial receptor aparece no início da compressão, porém desaparece em pequena fração de segundo, mesmo que a compressão continue. O segundo mecanismo de adaptação do corpúsculo de Pacini muito mais lento resulta do processo chamado acomodação, que ocorre na própria fibra nervosa, isto é, mesmo quando a fibra nervosa central continua a ser deformada, a terminação da fibra nervosa gradualmente passa a ser “acomodada” ao estímulo. Isso resulta provavelmente da “inativação” progressiva dos canais de sódio, na membrana da fibra nervosa, significando que o fluxo da corrente de sódio pelos canais faz com que eles de forma gradual se fechem, efeito que parece ocorrer em todos ou na maioria dos canais de sódio da membrana celular. Presumivelmente, esses mesmos dois mecanismos gerais de adaptação se aplicam a outros tipos de mecanorreceptores, isto é, parte da adaptação resulta de reajustes da estrutura do receptor, e parte é resultado do tipo elétrico de acomodação, na terminação nervosa. Os Receptores de Adaptação Lenta Detectam Estímulos de Intensidade Contínua — Receptores “Tônicos”: Os receptores de adaptação lenta continuam a transmitir impulsos para o sistema nervoso central durante todo o tempo em que o estímulo estiver presente (ou pelo menos por muitos minutos ou horas). Assim, eles mantêm o sistema nervoso central informado constantemente sobre o estado do corpo e sua relação com o meio ambiente. Por exemplo, os impulsos dos fusos musculares e dos aparelhos tendinosos de Golgi possibilitam que o sistema nervoso seja informado sobre o estado da contração muscular e da carga sobre o tendão a cada instante. Outros receptores de adaptação lenta incluem (1) receptores da mácula no aparelho vestibular; (2) receptores da dor; (3) barorreceptores do leito arterial; e (4) quimiorreceptores dos corpos carotídeo e aórtico. Como os receptores de adaptação lenta podem continuar a transmitir informações por muitas horas, até mesmo dias, eles são chamados receptores tônicos. Os Receptores de Adaptação Rápida Detectam Alterações da Intensidade do Estímulo — Os “Receptores de Taxa de Variação”, “Receptores de Movimento” ou “Receptores Fásicos”: Os receptores que se adaptam rapidamente, não podem ser usados para transmitir sinal contínuo, porque esses receptores são estimulados apenas quando a força do estímulo se altera. Ainda, eles reagem fortemente enquanto está acontecendo alteração de fato. Por isso, esses receptores são chamados receptores de transição do estímulo, receptores de movimento ou receptores fásicos. Dessa forma, no caso do corpúsculo de Pacini, pressão súbita aplicada aos tecidos excita esse receptor por alguns milissegundos e, em seguida, essa excitação termina mesmo que a pressão continue. Entretanto, mais tarde, ele transmite novamente um sinal quando a pressão é liberada. Em outras palavras, o corpúsculo de Pacini é extremamente importante para informar ao sistema nervoso sobre as deformações teciduais rápidas, porém é inútil para a transmissão de informações sobre as condições constantes do corpo. Função Preditiva dos Receptores de Taxa de Variação: Se a velocidade com que ocorre alguma alteração nas condições do organismo for conhecida, pode-se predizer quais serão essas condições em alguns segundos, ou, até mesmo, alguns minutos mais tarde. Por exemplo, os receptores dos canais semicirculares no aparelho vestibular do ouvido interno detectam a velocidade com que a cabeça começa a mudar de direção quando alguém está correndo em uma curva. Usando essa informação, a pessoa pode predizer quanto ela terá de virar nos próximos 2 segundos e pode, assim, ajustar o movimento das pernas, antecipadamente, para evitar a perda do equilíbrio. Da mesma forma, os receptores localizados nas articulações ou próximos delas ajudam a detectar as velocidades dos movimentos de diferentes partes do corpo. Por exemplo, quando alguém está correndo, as informações dos receptores de adaptação rápida das articulações permitem ao sistema nervoso prever onde os pés estarão durante frações precisas do próximo segundo. Dessa forma, os sinais motores apropriados poderão ser transmitidos para os músculos das pernas para fazer as correções antecipatórias necessárias na sua posição para que a pessoa não caia. A perda dessa função preditiva impossibilita a pessoa de correr. Fibras Nervosas que Transmitem Diferentes Tipos de Sinais e sua Classificação Fisiológica: Alguns sinais precisam ser transmitidos rapidamente para ou do sistema nervoso central; pois, de outra forma, a informação seria inútil. Como exemplo temos os sinais sensoriais que informam o sistema nervoso central sobre as posições momentâneas das pernas, a cada fração de segundo, durante a corrida. No outro extremo, alguns tipos de informações sensoriais, como a informação sobre dor prolongada, não precisam ser transmitidos rapidamente, assim as fibras de condução lenta são suficientes. Classificação Geral das Fibras Nervosas: Na classificação geral, as fibras são divididas nos tipos A e C, e as fibras tipo A são ainda subdivididas em fibras a, b, g e d. As fibras tipo A são as típicas fibras mielinizadas de calibres grande e médio dos nervos espinais. As fibras tipo C são fibras nervosas finas e amielínicas, que conduzem impulsos com baixa velocidade. As fibras C constituem mais da metade das fibras sensoriais na maioria dos nervos periféricos, bem como em todas as fibras autônomas pós-ganglionares. Classificação Alternativa Usada pelos Fisiologistas Sensoriais: Certas técnicas de registro possibilitaram separar as fibras tipo Aa em dois subgrupos, embora essas mesmas técnicas de registro não consigam distinguir, facilmente, entre as fibras Ab e Ag. Assim, a classificação seguinte é frequentemente usada pelos fisiologistas que estudam a sensibilidade: Grupo Ia. Fibras das terminações anuloespirais dos fusos musculares (diâmetro médio de cerca de 17 micrômetros; estas são fibras tipo Aa na classificação geral). Grupo Ib. Fibras dos órgãos tendinosos de Golgi (diâmetro médio de cerca de 16 micrômetros; estas também são fibras tipo Aa). Grupo II. Fibras dos receptores táteis cutâneos mais discretos e das terminações secundárias dos fusos musculares (diâmetro médio de cerca de 8 micrômetros; estas são fibras tipos Ab e Ag na classificação geral). Grupo III. Fibras que conduzem a sensibilidade térmica, do tato não discriminativo e a sensibilidade dolorosa em picada (diâmetro médio de cerca de 3 micrômetros; estas são fibras tipo Ad na classificação geral). Grupo IV. Fibras amielínicas de condução das sensações de dor, coceira, temperatura e tátil não discriminativa (diâmetros de 0,5 a 2 micrômetros; elas são fibras tipo C na classificação geral). TRANSMISSÃO DE SINAIS DE DIFERENTES INTENSIDADES PELOS TRATOS NERVOSOS — SOMAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL Uma das características de cada sinal que sempre tem de ser transmitida é a intensidade — por exemplo, a intensidade da dor. As diferentes graduações de intensidade podem ser transmitidas aumentando-se a quantidade de fibras paralelas envolvidas ou pela elevação da frequência dos potenciais de ação em uma só fibra. Esses dois mecanismos são chamados, respectivamente, somação espacial e somação temporal. Somação Espacial: O fenômeno da somação espacial, em que o aumento da intensidade do sinal é transmitido usando, progressivamente, número maior de fibras. Cada uma dessas fibras se arboriza em centenas de pequenas terminações nervosas livres que atuam como receptores da dor. O conjunto de terminações de fibra dolorosa abrange geralmente a área da pele bastante grande, com diâmetro de 5 centímetros. Essa área é chamada campo receptor ou receptivo da fibra. O número de terminações é grande, no centro do campo, porém diminui em direção à periferia. Pode-se também observar que as terminações arborizadas de uma só fibra se sobrepõem às terminações de outras fibras dolorosas. Assim, uma picada na pele, costuma estimular, simultaneamente, terminações de várias fibras para dor. Quando a picada é no centro do campo receptor de uma fibra para dor em particular, o grau de estimulação dessa fibra é muito maior do que quando ocorre na periferia do campo, pois o número de terminações nervosas livres no centro do campo é muito maior do que na periferia. TRANSMISSÃO E PROCESSAMENTO DOS SINAIS EM GRUPAMENTOS NEURONAIS O sistema nervoso central é composto por milhares a milhões de grupamentos neuronais; alguns desses grupos contêm poucos neurônios, enquanto outros têm grande quantidade de neurônios. Por exemplo, todo o córtex cerebral poderia ser considerado como um só grande grupamento neuronal. Outros grupamentos neuronais incluem os diferentes núcleos da base e os núcleos específicos no tálamo, cerebelo, mesencéfalo, ponte e bulbo. Também, toda a substância cinzenta dorsal da medula espinal poderia ser considerada como um grande grupamento de neurônios. Cada grupamento neuronal apresenta sua própria organização especial, que faz com que ele processe os sinais de maneira própria e única, possibilitando, assim, que as associações entre os diversos grupamentos realizem a multiplicidade de funções do sistema nervoso. TRANSMISSÃO DE SINAIS PELOS GRUPAMENTOS NEURONAIS Organização dos Neurônios para a Transmissão de Sinais: Cada fibra aferente se ramifica por centenas a milhares de vezes, gerando milhares de terminações ou mais que se distribuem por grande área dentro do grupamento de neurônios, fazendo sinapses com dendritos ou corpos celulares dos neurônios desse grupamento. Os dendritos geralmente também se arborizam e se espalham por centenas a milhares de micrômetros, dentro do grupamento neuronal. A área neuronal, estimulada por cada fibra nervosa aferente, é chamada campo estimulatório. Grande quantidade de terminais de cada fibra aferente se situa no neurônio mais próximo de seu “campo”, e que progressivamente menos terminais se situam nos neurônios mais distantes. Estímulos Limiares e Sublimiares — Excitação ou Facilitação: A descarga de um só terminal pré-sináptico excitatório quase nunca provoca um potencial de ação no neurônio pós-sináptico. Ao contrário, para induzir a excitação do neurônio é necessário que grande número de terminais aferentes o estimule simultaneamente ou provoque descargas repetidas. Por exemplo, na figura, vamos assumir que seis terminais têm de descarregar quase simultaneamente para excitar qualquer um dos neurônios. Deve ser notado que a fibra aferente 1 tem quantidade suficiente de terminações para induzir uma descarga do neurônio a. O estímulo da fibra aferente 1 neste neurônio é chamado estímulo excitatório; ele também é chamado estímulo supralimiar porque ele está acima do limite requerido para a excitação. A fibra aferente 1 também contribui com terminais para os neurônios b e c, porém não são suficientes para produzir excitação. Apesar disso, a descarga desses terminais faz com que esses dois neurônios tenham maior probabilidade de ser excitados pelos sinais transmitidos por outras fibras nervosas aferentes. Assim, os estímulos para esses neurônios são ditos sublimiares, e os neurônios se encontram no estado facilitado. De modo semelhante, para a fibra aferente 2, o estímulo para o neurônio d é o supralimiar, e os estímulos para os neurônios b e c são sublimiares, porém facilitadores. Na porção central do campo da figura, designado pela área circular, todos os neurônios são estimulados pela fibra aferente. Por isso, esta área é chamada de zona de descarga da fibra aferente, também chamada zona excitada ou zona limiar. De cada lado, os neurônios estão facilitados, mas não excitados, e essas áreas são chamadas zona facilitada, também chamada zona sublimiar. Inibição de Grupamento Neuronal: Algumas das fibras aferentes inibem os neurônios em vez de excitá-los. Esse mecanismo é o oposto da facilitação, e todo o campo das terminações inibitórias é chamado zona inibitória. O grau de inibição, no centro dessa zona, é grande por causa do extenso número de terminações no centro; ele se torna, progressivamente, menor em direção às suas bordas. Divergência dos Sinais que Passam pelos Grupamentos Neuronais: Frequentemente, é importante que os sinais fracos que entram em um grupamento neuronal promovam a excitação de grande número de fibras nervosas, que deixam esse grupamento. Esse fenômeno é chamado divergência. Dois tipos principais de divergências ocorrem e apresentam propósitos inteiramente diferentes. Tipo de divergência amplificadora significa que o sinal aferente se espalha para número progressivamente maior de neurônios, à medida que passa por ordens sucessivas de neurônios no seu trajeto. Esse tipo de divergência é característico da via corticoespinal quando do seu controle da musculatura esquelética, quando uma só célula piramidal grande no córtex motor é capaz, em condições muito facilitadas, de excitar número suficiente de neurônios motores que resultem na excitação de até 10.000 fibras musculares. O segundo tipo de divergência, é a divergência em tratos múltiplos. Nesse caso, o sinal é transmitido em duas direções, partindo do grupamento neuronal. Por exemplo, as informações ascendentes, transmitidas pela medula espinal até as colunas dorsais, assumem dois trajetos no tronco cerebral: (1) para o cerebelo; e (2) para o tálamo e para o córtex cerebral, pelas regiões ventrais do encéfalo. Da mesma forma, no tálamo, quase todas as informações sensoriais são retransmitidas tanto para estruturas ainda mais profundas do tálamo quanto, ao mesmo tempo, para regiões discretas do córtex cerebral. Convergência dos Sinais: Convergência significa que sinais de aferências múltiplas excitam um só neurônio. Na convergência de fonte única, múltiplos terminais de um trato de fibras aferentes terminam no mesmo neurônio. A importância desse tipo de convergência é que os neurônios quase nunca são excitados pelo potencial de ação de uma só terminação aferente. Entretanto, potenciais de ação provenientes de múltiplos terminais convergindo no neurônio fornecem a somação espacial suficiente para trazer o neurônio ao limiar necessário para a descarga. A convergência pode também resultar de sinais aferentes (excitatórios ou inibitórios) de fontes múltiplas. Por exemplo, os interneurônios da medula espinal recebem sinais convergentes das (1) fibras nervosas periféricas que entram na medula; (2) fibras proprio espinais que passam de um segmento da medula para outro; (3) fibras corticoespinais do córtex cerebral; e (4) várias outras longas vias descendentes do encéfalo para a medula espinal. Em seguida os sinais dos interneurônios convergem nos neurônios motores anteriores para controlar a função muscular. Essa convergência possibilita a somação de informações de diferentes fontes, e a resposta resultante é o efeito somado de todos os diferentes tipos de informação. A convergência é um dos modos importantes pelos quais o sistema nervoso central correlaciona, soma e separa diferentes tipos de informações. Circuito Neural com Sinais Eferentes Tanto Excitatórios Quanto Inibitórios: Às vezes, o sinal aferente para grupamento neuronal gera sinal excitatório eferente em uma direção e ao mesmo tempo sinal inibitório na outra. Por exemplo, ao mesmo tempo em que sinal excitatório é transmitido por grupo de neurônios na medula espinal, gerando o movimento da perna para a frente, sinal inibitório é transmitido por grupo diferente de neurônios inibindo os músculos da parte de trás da perna, de modo que não se oponham ao movimento para a frente. Esse tipo de circuito é característico do controle de todos os pares de músculos antagonistas e é chamado circuito de inibição recíproca. A fibra aferente excita diretamente a via eferente excitatória, mas estimula interneurônio inibitório (neurônio 2), que secreta substância transmissora diferente, inibindo a segunda via eferente desse grupamento. Esse tipo de circuito é também importante para evitar a atividade excessiva em muitas partes do encéfalo. PROLONGAMENTO DE UM SINAL POR UM GRUPAMENTO NEURONAL — “PÓS-DESCARGA” Até aqui, consideramos sinais que são meramente transmitidos pelos grupamentos neuronais. Entretanto, em muitos casos, o sinal aferente para um grupamento provoca descarga eferente prolongada, chamada pós-descarga, com a duração de alguns milissegundos até muitos minutos depois que o sinal eferente tenha terminado. Pós-descarga Sináptica: Quando as sinapses excitatórias atuam sobre as superfícies dos dendritos ou do corpo celular do neurônio, desenvolve-se o potencial elétrico pós-sináptico no neurônio que dura muitos milissegundos, especialmente quando algumas substâncias transmissoras de ação prolongada estão envolvidas. Enquanto esse potencial permanece, ele pode continuar a excitar o neurônio, fazendo com que transmita sequência contínua de impulsos eferentes. Assim, apenas como resultado desse mecanismo de “pós-descarga” sináptica, é possível que um só sinal aferente instantâneo gere sinal eferente sustentado (série de descargas repetitivas) que dure por muitos milissegundos. Circuito Reverberante (Oscilatório) como Causa do Prolongamento do Sinal: Um dos mais importantes circuitos em todo o sistema nervoso é o circuito reverberante ou oscilatório. Tais circuitos são causados por feedback positivo dentro do circuito neuronal, quando o estímulo retorna excitando novamente uma aferência desse circuito. Como consequência, uma vez estimulado, o circuito pode descarregar- se repetidamente por longo período. Características do Prolongamento do Sinal em um Circuito Reverberante: O estímulo aferente pode durar apenas aproximadamente 1 milissegundo e, ainda assim, os impulsos eferentes podem durar por muitos milissegundos ou até mesmo por minutos. A intensidade do sinal eferente, em geral, aumenta para valor alto, no início da reverberação e, em seguida, diminui até valor crítico, no qual ele cessa rápida e completamente. A causa dessa cessação súbita da reverberação é a fadiga das junções sinápticas do circuito. A fadiga, além de certo nível crítico, reduz a estimulação do próximo neurônio no circuito até abaixo do nível limiar, de modo que o circuito de feedback é subitamente interrompido. A duração do sinal total antes de seu término pode ser controlada por sinais de outras regiões do encéfalo que inibem ou facilitam o circuito. Quase exatamente, esses mesmos sinais eferentes são registrados nos neurônios motores que excitam o músculo envolvido no reflexo flexor que ocorre após estímulo doloroso no pé. Sinal Eferente Contínuo de Alguns Circuitos Neuronais: Alguns circuitos neuronais emitem continuamente sinais eferentes mesmo na ausência de sinais aferentes excitatórios. Pelo menos dois mecanismos podem causar esse efeito: (1) descarga neuronal contínua intrínseca; e (2) sinais reverberatórios contínuos. Descarga Contínua Causada pela Excitabilidade Neuronal Intrínseca: Os neurônios, assim como outros tecidos excitáveis, descarregam repetidamente se o seu potencial de membrana aumenta acima de certo nível limiar. Os potenciais de membrana de muitos neurônios normalmente são o suficientemente altos para fazer com que produzam impulsos de forma contínua. Esse fenômeno ocorre especialmente em muitos neurônios do cerebelo, bem como na maioria dos interneurônios da medula espinal. As frequências com que essas células geram impulsos podem ser aumentadas pelos sinais excitatórios ou diminuídas pelos sinais inibitórios; os sinais inibitórios muitas vezes podem reduzir a frequência do disparo até zero. Sinais Contínuos Emitidos por Circuitos Reverberatórios como Modo de Transmitir Informações: Um circuito reverberante, em que a fadiga não é suficiente para impedir a reverberação, é fonte de impulsos contínuos. Além disso, os impulsos excitatórios que entram no circuito reverberante podem aumentar o sinal eferente, enquanto a inibição pode diminuir ou até mesmo extinguir o sinal. O grupo de neurônios pode estar emitindo impulsos por causa da excitabilidade neuronal intrínseca ou como resultado da reverberação. O sinal aferente excitatório aumenta muito o sinal eferente, enquanto o sinal aferente inibitório diminui muito os sinais eferentes. Os estudantes familiarizados com os radiotransmissores vão reconhecer isso como a transmissão de informações do tipo onda carreadora, isso é, os sinais de controle excitatório e inibitório não causam o sinal eferente, porém controlam seu nível de intensidade. Observe que esse sistema de onda carreadora possibilita tanto a diminuição da intensidade do sinal como seu aumento. Esse tipo de transmissão de informação é usado pelo sistema nervoso autônomo para controlar funções, tais como tônus vascular, tônus intestinal, grau de constrição da íris do olho e frequência cardíaca, isto é, o sinal excitatório para cada uma dessas áreas pode ser aumentado ou diminuído por sinais aferentes acessórios para a via neuronal reverberatória. Sinais Eferentes Rítmicos: Muitos circuitos neuronais emitem sinais eferentes rítmicos — por exemplo, sinal respiratório rítmico se origina nos centros respiratórios do bulbo e da ponte. Esse sinal rítmico respiratório continua por toda a vida. Outros sinais rítmicos, como os que causam os movimentos de coçar da perna traseira de cão ou os movimentos da marcha, em qualquer animal, exigem estímulos aferentes para os respectivos circuitos para que iniciem os sinais rítmicos. Todos ou quase todos os sinais rítmicos que foram estuda dos experimentalmente mostraram ser resultantes de circuitos reverberatórios ou de sucessão de circuitos reverberatórios sequenciais que fornecem sinais excitatórios ou inibitórios de grupamento neuronal para o seguinte, em via circular. Os sinais excitatórios ou inibitórios podem também aumentar ou diminuir a amplitude dos sinais eferentes rítmicos. INSTABILIDADE E ESTABILIDADE DE CIRCUITOS NEURONAIS Quase todas as regiões do encéfalo se conectam, direta ou indiretamente, com todas as outras regiões, o que cria um problema sério. Se a primeira região excita a segunda, a segunda excita a terceira, a terceira excita a quarta, e assim por diante, até que, por fim, o sinal excita novamente a primeira região, fica claro que o sinal excitatório que chegue em qualquer região do encéfalo desencadearia ciclo contínuo de reexcitação de todas as regiões. Se esse ciclo ocorresse, o sistema nervoso seria inundado por massa de sinais reverberantes sem controle — sinais que não transmitiriam informação alguma, porém, ainda assim, consumiriam os circuitos encefálicos de modo que nenhum dos sinais contendo informação poderia ser transmitido. Efeito como esse ocorre em amplas áreas encefálicas durante as convulsões epilépticas. Como o sistema nervoso central impede que esse efeito ocorra todo o tempo? A resposta está principalmente em dois mecanismos básicos que funcionam em todo o sistema nervoso central: (1) circuitos inibitórios; e (2) fadiga das sinapses. CIRCUITOS INIBITÓRIOS COMO UM MECANISMO PARA A ESTABILIZAÇÃO DA FUNÇÃO DO SISTEMA NERVOSO Dois tipos de circuitos inibitórios em áreas encefálicas extensas ajudam a evitar a disseminação excessiva de sinais: (1) circuitos inibitórios de feedback que retornam das terminações das vias de volta para os neurônios excitatórios iniciais das mesmas vias (esses circuitos ocorrem em praticamente todas as vias sensoriais e inibem tanto os neurônios aferentes quanto os interneurônios da via sensorial, quando as terminações sensoriais são excessivamente excitadas); e (2) alguns grupamentos neuronais que exercem controle inibitório difuso sobre amplas áreas do encéfalo (p. ex., muitos dos núcleos da base exercem influências inibitórias sobre os sistemas de controle dos músculos). FADIGA SINÁPTICA COMO MEIO DE ESTABILIZAR O SISTEMA NERVOSO A fadiga sináptica significa simplesmente que a transmissão sináptica fica progressivamente mais fraca quanto mais prolongado e mais intenso for o período de excitação. Ajuste Automático a Curto Prazo da Sensibilidade da Via pelo Mecanismo de Fadiga: Vamos agora aplicar esse fenômeno da fadiga a outras vias do sistema nervoso central. As que são normalmente muito utilizadas ficam fatigadas, assim ocorre a redução da sua sensibilidade. Ao contrário, as que são subutilizadas ficam descansadas, e suas sensibilidades aumentam. Dessa forma, a fadiga e a recuperação da fadiga constituem meio importante a curto prazo de moderar as sensibilidades de diferentes circuitos do sistema nervoso. Essas funções ajudam a manter os circuitos operando em faixa de sensibilidade que permite funcionalidade efetiva. Alterações a Longo Prazo na Sensibilidade Sináptica Causadas por Regulação Automática Negativa ou Positiva dos Receptores Sinápticos: As sensibilidades das sinapses, a longo prazo, podem ser muito alteradas pelo aumento do número das proteínas receptoras nos sítios sinápticos, quando houver hipoatividade, e pela redução do número de receptores, quando houver hiperatividade. O mecanismo envolvido é o seguinte: as proteínas receptoras estão sendo constantemente formadas pelo sistema que compreende o complexo de Golgi e o retículo endoplasmático e estão sendo constantemente inseridas na membrana sináptica do neurônio receptor. Entretanto, quando as sinapses são superutilizadas, de modo que excesso de substância transmissora se combine com as proteínas receptoras, muitos desses receptores são inativados e removidos da membrana sináptica. É de fato muito oportuno que a regulação positiva e a regulação negativa dos receptores, bem como outros mecanismos de controle da sensibilidade sináptica, ajustem continuamente a sensibilidade de cada circuito para o nível quase preciso, que é necessário para a função adequada.
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