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Agroecologia - aula_ 1 Conceitos e Principios


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Agroecologia
Prof. Patrikk John Martins
O que é Agroecologia?
A Agroecologia é uma nova abordagem da agricultura que integra diversos aspectos agronômicos, ecológicos e socioeconômicos, na avaliação dos efeitos das técnicas agrícolas sobre a produção de alimentos e na sociedade como um todo. Fazendo uma analogia da Agroecologia com uma grande árvore, podemos imaginar essa disciplina como o tronco principal, de onde partem diversos galhos, que são as correntes alternativas da agricultura. Essas correntes são as seguintes: Orgânica e Biológica, Biodinâmica, Natural e Permacultura. 
Conceito segundo ALTIERI
É a ciência ou a disciplina científica que apresenta uma série de princípios, conceitos e metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar agroecossistemas, com o propósito de permitir a implantação e o desenvolvimento de estilos de agricultura com maiores níveis de sustentabilidade. A Agroecologia proporciona então as bases científicas para apoiar o processo de transição para uma agricultura “sustentável” nas suas diversas manifestações e/ou denominações. 
Miguel A. Altieri (Universidade da Califórnia, Campus de Berkley, EUA
Origem da agricultura
Homem passou de nômade a sedentário.
Agricultura surgiu mais ou menos na mesma época em diversas partes do mundo, tais como na Ásia, na América, na África e na Europa. Paralelo a escrita.
Os registros também apontam que não existia contato entre estas populações.
Evidencia-se, assim, um estágio da história da humanidade.
Histórico da Agricultura
NO PASSADO, a agricultura foi considerada como uma arte e um ofício.
HOJE é uma ciência, pois se torna cada vez menos empírica e, ao mesmo tempo, mais eficiente e previsível.
É renovada não no campo através de experimentos casuais, mas em laboratórios, campos experimentais, centros de pesquisa, universidades e escolas.
Histórico da Agricultura
O desenvolvimento da agricultura associou-se à domesticação de espécies.
O avanço da agricultura foi acompanhado pelo avanço da degradação, via-de-regra.
Exemplos:
Mesopotâmia – salinização das terras irrigadas;
Grécia clássica – destruição das florestas e degradação dos campos de cultivo;
No Vale do Paraíba do Sul – da produção de café, hoje restaram morros degradados …
Histórico da Agricultura
Em diversas ocasiões (Ex. final da Idade Média) houveram crises sociais ocasionadas pela baixa produção da agricultura: secas, ataque de pragas, doenças, desgaste do solo, e outras.
Por outro lado, tais adversidades fizeram com que o homem do campo acumulasse um vasto conhecimento, ao longo da história, sobre técnicas de preparo do solo, de fertilização, de seleção de espécies e variedades, dentre outras.
Tais avanços são registrados na história como as Revoluções Agrícolas.
Histórico da Agricultura
Primeira Revolução Agrícola: ocorreu entre os séculos XVI a XIX.
Características:
Reduziu o problema da escassez de alimentos (maior escala de produção de alimentos);
Aproximou a produção vegetal da pecuária; 
Foi o primeiro estágio da agricultura moderna, sendo que hoje este modelo é chamado de “agricultura tradicional ou convencional”.
Histórico da Agricultura
O principal alicerce foi a implantação do sistema de rotação de culturas, o que permitiu:
Maior lotação de gado – com leguminosas;
Aumento da fertilidade do solo;
Aumento da diversidade de culturas na mesma propriedade;
Intensificar o uso do solo;
Abandonar o sistema de pousio.
Histórico da Agricultura
O interesse em associar a criação de animais à atividade agrícola relacionava-se à:
Obtenção de produtos de origem animal para o auto-consumo;
Força de tração animal;
Produção de esterco – para a adubação do solo.
Dificuldades:
Insuficiência de adubos orgânicos;
Tempo e mão-de-obra necessária; 
Ocupação de parte das terras com os animais.
Histórico da Agricultura
Segunda Revolução Agrícola: ocorreu em meados do século XIX. Características:
Em 1840, Liebig publicou suas pesquisas em que constatou que a nutrição mineral das plantas se dá pelas substâncias químicas.
Liebig desprezava a matéria orgânica e a baixa solubilidade do húmus era tido como evidência de sua inutilidade para a nutrição vegetal.
Formulou a tese de que a produção agrícola seria proporcional à quantidade de substâncias químicas adicionadas ao solo – lei do mínimo.
Tais idéias/teorias impulsionaram a adubação química e mineral (sintética).
Lei do mínimo
“A produção das culturas é limitada pelo nutriente mineral menos disponível às plantas”
Histórico da Agricultura
Apesar dos alertas e das descobertas dos defensores da matéria orgânica (Pasteur e a fermentação; a nitrificação; e outros), as descobertas de Liebig conquistaram o setor produtivo (industrial e agrícola), abrindo um amplo e promissor mercado de fertilizantes artificiais/sintéticos (Liebig, um industrial).
Conseqüências:
Os agricultores foram abandonando as criações e a rotação de cultura com leguminosas A substituição dos sistemas complexos, por sistemas simplificados e monoculturais.
Histórico da Agricultura
Revolução Verde – Terceira Revolução Agrícola: ocorreu a partir dos anos 1960 e 1970.
Fundamentos:
Melhoria da produtividade agrícola;
Substituição de padrões locais por um conjunto homogêneo de práticas tecnológicas (semente, fertilizantes, agrotóxicos, moto-mecanização e irrigação), chamado de “pacote tecnológico”;
Monocultura;
Maior independência em relação ao meio;
Controlar e modificar processos biológicos;
Adaptar culturas de clima temperado aos diferentes ambientes – apropriacionismo internacional.
Histórico da Agricultura
Mas a história também registrou outros exemplos, em formas mais sustentáveis.
Civilizações Orientais – cultivam arroz irrigado há pelo menos 40 séculos nos mesmos terrenos, os quais mantêm, com recursos locais, os seus padrões de fertilidade;
Na Europa Feudal da Idade Média (França), um sistema de rotação trienal de culturas permitia a manutenção dos níveis de fertilidade do solo;
Agricultura Convencional
Entende-se por agricultura convencional aquela resultante da Segunda e Terceira Revolução Agrícola. Para alguns autores, inclui também a Quarta Revolução Agrícola.
Características centrais:
Mecanização intensa e redução do emprego de mão-de-obra;
Uso intensivo de produtos químicos (fertilizantes e biocidas);
Regime da monocultura (especialização).
Agricultura Convencional
Objetivos explícitos:
Obter rendimentos máximos das culturas;
Aumentar a disponibilidade de alimentos para evitar o espectro da fome.
Objetivos implícitos:
Maximizar lucros;
Aumentar o fluxo e a velocidade do fluxo de capital.
Agricultura Convencional
Efeitos:
Degradação ambiental (compactação do solo; eliminação, inibição e redução da flora microbiana do solo; perda acentuada do potencial produtivo do solo);
Exclusão social (desemprego rural; êxodo rural);
Concentração de terra, renda e poder;
Poluição alimentar (absorção desequilibrada de nutrientes, produzindo alimentos desnaturados, prejudicando a cadeia alimentar; também, facilitando o ataque de pragas e doenças);
Agricultura Convencional
Efeitos:
Encarecimento violento dos custos de produção (maquinaria e insumos; monetarização da atividade e endividamento);
Erosão cultural (introdução de pacotes tecnológicos fechados; monetarização da vida);
Aumento da fome (problema não está na produção, mas na distribuição dos alimentos);
Redução da biodiversidade (Segundo a FAO, a humanidade usou cerca de 7000 espécies de plantas para se alimentar e 75000 poderiam ser utilizadas; hoje cerca 30 espécies cobrem 90% da dieta mundial).
AGRICULTURAS DE BASE ECOLÓGICA
Surgiu a partir da segunda metade do século XX (há antecedentes desde o início do século).
Surgiu como resposta aos problemas ambientais, sociais, econômicos, de saúde e nutricionais gerados pela agricultura convencional.
AGRICULTURAS DE BASE ECOLÓGICA
No Brasil, começou a tomar corpo ao longo da década de oitenta do século XX. 
Há diversas correntes: agricultura natural, agricultura biológica,agricultura ecológica, agricultura biodinâmica, agricultura orgânica e agroecologia.
AGRICULTURAS DE BASE ECOLÓGICA
Conceitos/idéias centrais:
Importância fundamental dos
microorganismos e da matéria orgânica;
Solo é um corpo vivo;
Harmonia e equilíbrio entre água, solo e planta;
Visão holistíca. (visão do todo) – sistêmica, global.
AGRICULTURAS DE BASE ECOLÓGICA
AGROECOLOGIA
Idéias centrais:
Teleológica – não existem causas e efeitos, mas finalidades e propósitos – descobrir processos e ritmos da natureza;
Harmonização com a natureza – utilização racional da terra e seus produtos na perspectiva da sustentabilidade de longo prazo.
AGRICULTURAS DE BASE ECOLÓGICA
Bases tecnológicas:
Conservação do meio ambiente;
Diversificação da produção – biodiversidade;
Melhoria da capacidade produtiva do solo;
Nutrição equilibrada das plantas (velocidade natural);
Fitossanidade preventiva (aumentar resistência das plantas e equilíbrio do ecossistema) e não curativo.
AGRICULTURAS DE BASE ECOLÓGICA
AGROECOLOGIA
Bases tecnológicas:
Otimização do balanço energético
Qualidade biológica e sanitária dos alimentos;
Qualidade nutricional dos alimentos;
Continuidade do fluxo produtivo em longo prazo;
Sementes nativas (crioulas);
Conhecimento e recursos locais
AGRICULTURAS DE BASE ECOLÓGICA
Bases sócio-econômicas:
Inclusão social;
Pequena escala (agricultura familiar);
Diminuição da dependência do agricultor acerca dos insumos externos;
Implica em uma consciência que se aplica ao cultural, ao econômico, ao político, ao social e à concepção da vida.
Capital social, capital cultural
Dimensões da sustentabilidade
Agricultura Sustentável
Baixa dependência a inputs comerciais;
Uso de recursos renováveis localmente acessíveis;
Utilização dos impactos benéficos do meio ambiente local;
Aceitação e/ou tolerância das condições locais, antes que a dependência da intensa alteração ou controle do meio ambiente;
Agricultura Sustentável
Manutenção a longo prazo da capacidade produtiva do Agroecossistema;
Preservação da diversidade biológica e cultural;
Utilização do conhecimento e da cultura da população local;
Produção de mercadorias para o consumo interno e para a exportação.
Práticas Agroecológicas
Compostagem
IMPORTÂNCIA DA MATÉRIA ORGÂNICA:
Promove a agregação e a estruturação
Reduz a densidade
Aumenta a aeração dos solos argilosos
Aumenta a infiltração e a retenção de água
Aumenta a CTC
Aumenta o poder tampão
Reduz a toxidez do alumínio
Aumenta a produtividade
Aumenta a disponibilidade dos nutrientes
Estimula o crescimento das raízes
PRINCIPAIS PROPRIEDADES DOS
FERTILIZANTES ORGÂNICOS
Umidade
Densidade
Granulometria
Teor de matéria orgânica
Relação C/N
Retenção de água
Retenção de cátions (CTC)
Teor de nutrientes
pH
Compostagem
Resíduos Orgânicos
Matéria Orgânica
Húmus
Fertilizantes Orgânicos
Principais Propriedades dos fertilizantes orgânicos
Umidade
Densidade
Granulometria
Teor de matéria orgânica
Teor de nutrientes
Relação C/N
pH
Retenção de Água
Retenção de Cátions (CTC)
Objetivos da Compostagem
Reciclar resíduos
Aproveitar materiais com propriedades inadequadas
Transformar resíduos crus em fertilizantes orgânicos, ou seja, produto que melhora as características do solo e aumenta a produtividade das culturas.
Condições Necessárias
Presença de microorganismos
Umidade adequada
Aeração suficiente
Relação C/N equilibrada
Associações de Resíduos
Resíduo muito úmido + resíduo com baixa umidade
Resíduo com alta C/N + resíduo com baixa C/N
Resíduo com textura muito fina + resíduo grosseiro
Resíduo sem inóculo+ resíduo inoculante.
Umidade
A água é indispensável aos microorganismos
Umidade ideal: em torno de 55%
Aeração
Decomposição pode ser aeróbica e anaeróbica
Compostagem: processo essencialmente aeróbico
É um dos mais limitantes da compostagem
A compostagem ocorre mesmo sob níveis muito baixos de oxigênio
Aeração por revolvimento da pilha ou liteira.
Relação C/N
O que é relação C/N
Relação C/N de alguns resíduos:
Leguminosas – 20/1 a 30/1
Palhas de cereais – 50/1 a 200/1
Madeiras e derivados – 500/1 a 1.000/1
Relação C/N ideal
30/1
10 partes de C + 1 parte de N – húmus
20 partes de C – convertidos em energia – CO2
Montagem da pilha
Componentes da mistura
Resíduos energéticos – camada de 15 cm
Resíduos nutritivos e inoculantes – camada de 5 cm
Piso levemente inclinado
Disponibilidade de água
Altura da pilha 1,50 a 1,70 m
Montagem da pilha
Temperatura – 50 a 60° C
Revolvimento a cada 7 ou 15 dias
Estabilização após 30 a 60 dias
Cura completa após 90 a 120 dias – resfriamento completo