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TARIFAÇÃO DO DANO MORAL NO LOCAL DE TRABALHO INSERIDOS PELA LEI Nº 13.467/2017 E SEUS REFLEXOS NAS RELAÇÕES TRABALHISTAS Joana Catarina Portela de Souza1 Jameson Wendel de Sá Pereira 2 Polianna Alves da Silva3 RESUMO O advento da Lei 13.467 de 2017, mais conhecida como Reforma Trabalhista, alterou em seu conteúdo diversos institutos trabalhistas que estão presentes na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), além de também ter introduzido novas temáticas, que anteriormente não existiam no compêndio das Leis laborais. Os dispositivos 223-A e 223-G, que abordam o dano extra patrimonial na esfera do trabalho é um exemplo dessa novidade. Esses artigos positivaram como o tratamento jurídico desse tipo de dano deve ocorrer desde que houve a entrada em vigor da Lei 13.467/17. A presente pesquisa teve como objetivo principal analisar especificamente o dispositivo 223-G, §1º, que trata da tarifação ao dano moral trabalhista, estabelecendo limites máximos à indenização, a depender do nível de gravidade em que a lesão moral for inserida, além de tomar por base também a última remuneração do ofendido como parâmetro para cálculo indenizatório, a fim de que se determine se essas disposições estão de acordo ou não com a Constituição Federal de 1988, assim como, em consonância com os princípios constitucionais da isonomia, dignidade da pessoa humana, razoabilidade e proporcionalidade e o retrocesso social. O estudo teve inicio debruçando-se sobre o conceito de dano moral, posteriormente acerca dos princípios constitucionais, e por fim, sobre a constitucionalidade ou não do instituto. O trabalho foi elaborado em consonância com a metodologia de natureza básica e bibliográfica, e partiu da suposição da inconstitucionalidade do dispositivo 223-G, §1º devido a sua violação evidente dos princípios constitucionais supracitados. O estudo, em suma, concluiu que o mencionado artigo é inconstitucional, uma vez que viola princípios estabelecidos pela Carta Magna Federal de grande importância, não devendo seu teor prevalecer no ordenamento jurídico brasileiro. Palavras-chave: Reforma Trabalhista. Dano Extrapatrimonial. Tarifação do dano moral. ABSTRACT The advent of Law 13,467 of 2017, better known as Labor Reform, changed in its content several labor institutes that are present in the Consolidation of Labor Laws (CLT), in addition to also introducing new themes, which previously did not exist in the compendium of Laws labor. The devices 223-A and 223-G, which deal with extra patrimonial damage in the sphere of work is an example of this novelty. These articles confirmed how this legal treatment of this type of damage should occur since Law 13,467 / 17 came into force. The present research 1 Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitário São Francisco de Barreiras – UNIFASB, e-mail: joanaportela06@gmail.com; 2 Graduando no Curso de Direito do Centro Universitário São Francisco de Barreiras – UNIFASB, e- mail:jameswendel355@gmail.com; 3 Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitário São Francisco de Barreiras – BA – UNIFASB, e-mail: poliannaedu@hotmail.com. had as main objective to specifically analyze the device 223-G, §1º, which deals with the charging of moral damage at work, establishing maximum limits for indemnification, depending on the level of severity in which the moral injury is inserted, in addition to taking also based on the victim's last remuneration as a parameter for calculating damages, in order to determine whether these provisions are in accordance or not with the Federal Constitution of 1988, as well as, in line with the constitutional principles of isonomy, dignity of the person human, reasonableness and proportionality and the social setback. The study began by focusing on the concept of moral damage, later on the constitutional principles, and finally, on the constitutionality or not of the institute. The work was prepared in accordance with the methodology of a basic and bibliographic nature, and started from the assumption of the unconstitutionality of the 223-G, §1º device due to its evident violation of the aforementioned constitutional principles. The study, in short, concluded that the aforementioned article is unconstitutional, since it violates principles established by the Federal Constitution of great importance, and its content should not prevail in the Brazilian legal system. Keyword: Labor Reform. Off-balance sheet damage. Moral damage pricing. SUMÁRIO: 1.0 Introdução, p. 03; 2.0 Breves considerações sobre danos moral, p. 03; 3.0 Princípios que norteiam a análise acerca da (in) constitucionalidade da tarifação do valor de indenização por dano moral inserido pela lei 13.467/2017, artigo 223-g, §1º na consolidação das leis do trabalho, p. 05; 3.1 Princípio da dignidade da pessoa humana, p. 05; 2.3 Princípio da isonomia, p. 06; 2.4 Princípio da proporcionalidade e razoabilidade, p 07.; 2.5 Princípio da vedação do retrocesso social, p.08; 4.0 Análise acerca da (in) constitucionalidade da tarifação do valor de indenização por dano moral inserido pela lei 13.467/2017, artigo 223-g, §1º na consolidação das leis do trabalho, p. 09; Considerações finais, p. 13; Referências, p. 16. 3 1 INTRODUÇÃO O dano moral não é um fenômeno atual, principalmente dentro de uma relação de emprego, seja no âmbito privado ou público, sempre que houver relações pessoais o dano moral poderá nascer e se desenvolver. A presente pesquisa tem como aspecto o estudo do dano moral no local de trabalho visto que as humilhações, discriminações e hierarquia dentro da relação laboral enfraquece a defesa da vítima que acaba se acomodando e aceitando tal conduta ilícita. Tal conduta acarreta inúmeros danos à personalidade, à dignidade, à saúde física e psíquica da vítima, gerando assim direito a indenização, tanto pelo princípio do direito de ação quiçá pela inafastabilidade do controle jurisdicional. Assim, diante de uma normativa tipificando a conduta do dano moral dentro do mercado de trabalho, faz-se necessário um estudo para analisar a efetividade dos mecanismos utilizados pelos tribunais pátrios na reparação dos danos à vítima e repreender os assediadores. Diante da reforma trabalhista lacuna na qual tabelou os danos morais trabalhistas, questiona-se: como o ordenamento jurídico atual deve aplicar as normas protetivas ao trabalhador de modo a coibir o dano moral no local de trabalho e garantir a igualdade na reparação diante de um tabelamento positivado aparentemente inconstitucional? Logo, a problemática da pesquisa gira em torno da análise acerca de como o ordenamento jurídico deverá aplicar as normas que protegem o trabalhador, com o objetivo de coibir o dano moral nas relações laborais, garantindo a igualdade nas relações, quando diante de um tabelamento advindo com a Reforma Trabalhista de 2017. Dessa forma, o presente estudo buscará chegar a uma resposta para o problema levantado, demonstrando a eficácia dos mecanismos disponíveis no ordenamento jurídico pátrio, os prejuízos e desigualdades nas fixações das indenizações em casos de dano moral laboral, e para isso, se fará uso de documentos, como livros, artigos científicos, jurisprudências, ter-se-á, a priori, os seguintes autores responsáveis por embasar o presente trabalho: PABLO STOLZE GAGLIANO, RODOLFO PAMPLONA FILHO, CRISTIANO CHAVES DE FARIAS, NELSON ROSENVALD. 2.0 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE DANOS MORAL A promoção da solidariedade e a redução das desigualdades são objetivos intrínsecos desde a promulgação da Constituinte de 1988. Dessa forma, o reconhecimento da 4 reparabilidade dos danosmorais em seara civil fora formalizado na nova codificação e insculpida pelo artigo 186 do Código Civil de 2002, no qual, aquele que viola o direito de outrem, seja por ação ou omissão, negligência ou imprudência, “ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Apesar de uma resistência histórica ao arbitramento do dano moral e sua possível indenização, a Constituição Federal de 1988 já havia pacificado o tema em preceito constitucional aduzindo o seguinte: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:(...) X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; (BRASIL, 1988, on-line). Dessa forma, cientes da importância da reparabilidade do dano moral e confirmada a moralidade como um aspecto relevante e constitucional, passamos a analisar o conceito deste instituto, de tamanha relevância e recorrente nas relações trabalhistas, cíveis e criminais. Afirma Favaretto (2008, p. 11), O dano é o principal fundamento da obrigação de reparar: esta é imposta quando é quebrado o princípio romano traduzido na expressão latina neminem laedere, ou seja, o dever de não lesar o outro. Ocorrendo o evento danoso, deve-se responsabilizar o agende lesante, a fim de restituir o lesado. O dano moral, na visão de Gagliano (2018) é representado pela violação ao direito personalíssimo, violação a direitos no qual o conteúdo não é pecuniário, lesionando, portanto, a esfera personalíssima da pessoa, seja na imagem, na honra, na intimidade, na vida e em outros bens jurídicos protegidos pela Lei Maior. O resultado do dano moral, assim, é aquele que “não é pecuniário, nem comercialmente redutível a dinheiro”. (GAGLIANO, 2018, p. 113, grifo nosso) A lesão afeta, portanto, o terraço moral da vítima, devendo, assim, ser indenizado, independentemente se houver reflexos materiais, estando diante do dano moral propriamente dito. Aponta Farias (2018, p. 297) o dano moral é categoria cuja construção é fundamentalmente jurisprudencial, apoiada no contributo de gerações sucessivas de juristas. Assim, o pesquisador deve se recorrer à doutrina e julgados para termos um conhecimento mais profundo do tema já que a lei não exauriu tal dialética. A denominação aplicada ao dano em estudo é diversificada na doutrina, isso porque há o uso do termo dano moral e dano extrapatrimonial, sendo ambas amplamente aceitas pelo ordenamento jurídico. Porém, o termo mais adequado, na visão de Gagliano (2018, pg. 114) seria a expressão “dano não material” se referindo a lesões do patrimônio imaterial, indo de contraponto ao dano material. 5 Dessa forma, o dano moral ou dano extrapatrimonial surgindo da violação de direitos personalíssimos tem, de acordo com a doutrina, uma finalidade dupla. Para Kertzman e Lapa (2018) a finalidade é pedagógica e compensatória. Pedagógica, pois, desestimula o infrator a cometer outros ilícitos, e compensatória, porque a indenização auferida tem o condão de amenizar os efeitos desagradáveis sentidos pelo ofendido concretizando-se a tutela individual. Na visão de Farias (2018) o dano moral pode ser entendido pelo viés da dignidade humana devendo ser realizado um estudo aprofundado, fazendo uma aferição intersubjetiva e relacional do fenômeno da dignidade da pessoa humana com a lesão provocada pelo dano moral. Aduz ainda que “o dano moral pode ser conceituado como uma lesão a um interesse existencial concretamente merecedor de tutela. Para que esta definição possa ser bem compreendida, cabe um aprofundamento da própria noção de dignidade da pessoa humana.” (FARIAS, 2018, p. 301, grifo do autor). A dignidade da pessoa humana, “é o fim supremo de todo o direito; logo, expande os seus efeitos nos mais distintos domínios normativos para fundamentar toda e qualquer interpretação. É o fundamento maior no Estado Brasileiro” (FARIAS e NETO, 2012, p. 69). 3.0 PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM A ANÁLISE ACERCA DA (IN) CONSTITUCIONALIDADE DA TARIFAÇÃO DO VALOR DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL INSERIDO PELA LEI 13.467/2017, ARTIGO 223-G, §1º NA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO É fundamental que antes de abordar quanto à constitucionalidade ou não da tarifação do dano moral trazida pela Reforma Trabalhista, que seja analisada a importância que os princípios possuem no ordenamento jurídico brasileiro, especialmente, atinente aos princípios constitucionais, já que eles serão essenciais, e servem como parâmetro para que seja determinado o último Capítulo da presente pesquisa. 2.2 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA Para melhor compreensão acerca das disposições do princípio da dignidade da pessoa humana no plano do direito, é importante que considerações de ordem geral primordialmente sejam traçadas. É importante ressaltar que, a pessoa humana deve ser considerada enquanto valor, e o princípio relatado, é absoluto, devendo sempre prevalecer de forma indiscutível e infinitamente sobre qualquer outro princípio ou valor. O que aduz a característica do ser 6 humano como ser dotado de dignidade, é que ele nunca pode ser considerado como meio para outros, mas sim, fim em si mesmo. Moraes (1997, p. 46) interpreta o dispositivo 28 da Declaração das Nações Unidas, estabelecendo o seguinte: Os direitos humanos fundamentais não podem ser utilizados como um verdadeiro escudo protetivo da prática de atividades ilícitas, nem tampouco como argumento para afastamento ou diminuição da responsabilidade civil ou penal por atos criminosos, sob pena de total consagração ao desrespeito a um verdadeiro Estado de Direito. Os direitos e garantias fundamentais consagrados pela Constituição Federal, portanto, não são ilimitados, uma vez que encontram seus limites aos demais direitos igualmente consagrados pela Magna Carta (principio da relatividade ou convivência das liberdades públicas). Dessa forma, quando houver conflito entre dois ou mais direitos e garantias fundamentais, o intérprete deve utilizar-se do princípio da concordância ou da harmonização, de forma a coordenar e combinar os bens jurídicos em conflito, evitando o sacrifício total de uns em relação aos outros, realizando uma redução do âmbito de alcance de cada qual (contradição dos princípios), sempre em busca do verdadeiro significado da norma e da harmonia do texto constitucional com suas finalidades precípuas. Logo, a premissa básica da dignidade da pessoa humana é o reconhecimento do homem em sua própria dignidade, sendo considerada desprezável, eticamente falando, qualquer conduta que incompatível com essa condição. O princípio da dignidade humana obriga as demais pessoas, cidadãos, juízes, advogados, legisladores, entre outros, ao inafastável compromisso com o absoluto e irrestrito respeito à identidade e a integridade das pessoas. 2.3 PRINCÍPIO DA ISONOMIA O princípio da isonomia, modernamente foi inserido na Constituição Federal de 1988, retratando em seu conteúdo os direitos e garantias fundamentais e individuais, dentes os quais se inclui o princípio da igualdade. Segundo o caput do dispositivo 5° da Carta Magna (BRASIL, 1988, on-line) “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. O princípio da isonomia é dividido entre igualdade formal e igualdade material. A igualdade formal tem por característica a abstenção da estatal, que se baseia na concepção estática de igualdade, isso significa dizer que o estado não pode intervir para garantir privilégiosque determina a categoria dos indivíduos. Outrossim, a igualdade material desapega da concepção formalista da formalidade, passando-se a considerar as desigualdades concretas existentes na sociedade, de forma a tratar diferentemente situações desiguais. 7 Rothenburg (2008, p. 92) afirma: Os graus diferentes (e crescentes) de especificação vão da igualdade formal à igualdade material. Percebe-se que a igualdade material é, como categoria jurídica, uma concretização maior, um aperfeiçoamento em relação à igualdade formal e não algo diferente. Dito de outro modo, a igualdade material é, do ponto de vista jurídico, um avanço no sentido de superar as situações injustas de desigualdade. O conceito jurídico de igualdade é, portanto, suficientemente abrangente para compreender as dimensões formal e material da igualdade. Proponho, assim, um conceito amplo (e não duas igualdades distintas) que englobe e eventualmente supere os conceitos por vezes confusos de igualdade formal e igualdade material. Por seu turno, nota-se que, o princípio da isonomia encontra-se na base da República, elencado também na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, constituindo importante fundamento da democracia, e no contexto da tarifação do dano moral, não admite que o legislador, ao analisar o nível da natureza do dano que irá gerar a indenização, ofereça privilégios determinados em decisão arbitraria, realizando distinções em casos concretos. (BRASIL, 1988). 2.4 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE Trata-se de princípio essencial, apesar das dificuldades que existem quanto à possibilidade de sua definição. Logo, entende-se que, ele deve nortear as decisões estatais tomadas, tanto na esfera jurisdicional como administrativa e legislativa, tornando a decisão mais justa possível, sobrepesando efeitos positivos e negativos da medida, além das eventuais consequências para que soluções proporcionais sejam realmente adotadas ao caso concreto. É importante salientar também que, o princípio da razoabilidade e proporcionalidade é um princípio constitucional, e decorre dos mais variados preceitos que constam nela, conforme explica Sarlet (2017, p. 391): Embora não se pretenda sobrevalorizar a identificação de um fundamento constitucional para os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade no ordenamento jurídico brasileiro, em termos gerais, é possível reconduzir ambos os princípios a um ou mais dispositivos constitucionais. Assim, de acordo com a vertente germânica, o ponto de referência é o princípio do Estado de Direito (art. 1º da CF), notadamente naquilo que veda o arbítrio, o excesso de poder, entre outros desdobramentos. Já para quem segue a orientação do direito norte-americano, a proporcionalidade guarda relação com o art. 5º, LIV, da CF, no que assegura um devido processo legal substantivo [...] Tais princípios podem ser subdivididos em três partes, para que seja possível a análise da pertinência de uma ação: a adequação, a necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito. De forma resumida, deve-se analisar a medida que deve ser tomada, para que haja a 8 conclusão se a mesma é realmente ou não necessária para aquela determinada situação, além de analisar a adequação da medida. Por fim, no que diz respeito à análise da proporcionalidade em sentido estrito, quando na ponderação do ônus imposto e o benefício trazido, determinar se a medida é legítima, a proporcionalidade irá definir sua constitucionalidade ou não. Logo, entende-se com isso que, na tomada de decisões, os agentes estatais, tanto da esfera administrativa, como da esfera judicial e legal, devem sempre se basear na razoabilidade e na proporcionalidade, examinando as circunstâncias que norteiam o caso concreto. 2.5 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO SOCIAL Finalizando a análise dos princípios constitucionais, será abordado o princípio da vedação ao retrocesso social, considerado como implícito, e extraídos dos demais princípios e direitos garantidos pela Constituição, como explica Barroso em seu voto no julgamento do Recurso Extraordinário (RE878694/MG) no Supremo Tribunal Federal: [...] Não bastasse, o art. 1.790 promove uma involução na proteção dos direitos dos companheiros que viola o princípio da vedação ao retrocesso. Trata-se de princípio constitucional implícito, extraído dos princípios do Estado Democrático de Direito, da dignidade da pessoa humana e da máxima efetividade dos direitos fundamentais (art. 5o, §1o), que impede a retirada de efetividade das normas constitucionais. Entende-se que a Constituição estabelece para o legislador a obrigação de concretizar, por meio da legislação, os direitos fundamentais estabelecidos no texto constitucional. Como resultado, quando o legislador tenha cumprido tal função, impede-se tanto que (i) possa revogar tais concretizações sem aprovar legislação substitutiva, de modo a aniquilar a proteção constitucional conferida ao direito, quanto que (ii) possa editar legislação substitutiva que limite ou reduza, de forma arbitrária ou desproporcional, o grau de concretização do direito fundamental anteriormente em vigor.45 (RE 878694/MG, Relator(a): Min. Luís Roberto Barroso, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/17, DJE 06/02/18). (BRASIL, 2016, on-line), Por mais que não esteja expresso na Constituição Federal brasileira, há vários julgados nas cortes brasileiras regionais e Superiores em que o princípio é reconhecido como implícito, principalmente no que tange aos direitos sociais. O Superior Tribunal de Justiça, em decisão proferida em sede de Agravo Interno ao Recurso Especial sacramentou, em 2015, quando ao adicional de atividade penosa, elucidando quanto a eficácia ilimitada do artigo que versa sobre a temática, sendo inviável sua aplicação por analogia em carreira distinta aquela ocupada pela parte ora Agravante: AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO. GRATIFICAÇÃO ESPECIAL DE LOCALIDADE - GEL. EXTINÇÃO PELA LEI 9.527/1997. TRANSFORMAÇÃO EM VPNI, EM CARÁTER TRANSITÓRIO. ADICIONAL DE PENOSIDADE. ART. 71 DA LEI 9 8.112/1990. AUSÊNCIA DE REGULAMENTAÇÃO. ALEGADA AFRONTA AO PRINCÍPIO DE PROIBIÇÃO DE RETROCESSO SOCIAL. OFENSA REFLEXA. EXAME DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE. (STJ - AgInt no REsp: 1572782 PR 2015/0310070-2, Relator: Ministro BENEDITO GONÇALVES, Data de Julgamento: 03/10/2017, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 07/11/2017). Com isso, há o entendimento de que esse princípio é fundamental na proteção dos direitos e garantias que foram conquistados após muitas lutas e obstáculos pelos envolvidos à época, não podendo os legisladores simplesmente eliminarem essas garantias sem motivos que sejam considerados como plenamente justificáveis, ou sem que apresentem alternativas viáveis ao direito que estará sendo prejudicado. 3.3 ANÁLISE ACERCA DA (IN) CONSTITUCIONALIDADE DA TARIFAÇÃO DO VALOR DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL INSERIDO PELA LEI 13.467/2017, ARTIGO 223-G, §1º NA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO A reparação de danos de natureza extrapatrimonial, derivados da relação de trabalho, recebeu especial atenção pela redação original da Lei 13.467/2017, a saber: Art. 223-G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará:[…]§1º. Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada um dos ofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação: I - ofensa de natureza leve, até três vezes o último salário contratual do ofendido; II - ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário contratual do ofendido; III - ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do ofendido; IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual do ofendido. (BRASIL, 2017, on-line). Dessa forma, a partirda vigência da lei supra, que instituiu a reforma trabalhista, as indenizações por danos morais no âmbito das relações laborais receberam tarifação sendo fixados limites máximos de valores a serem sancionados no caso concreto. Porém, tal novidade legislativa tem provocado grandes discussões nos tribunais e uma insegurança jurídica que já foi levada a discussão em Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 6.050/DF, proposta pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho-ANAMATRA, figurando como interessados o Presidente da República, Congresso Nacional, e atuando como relator o Ministro Gilmar Mendes. Na referida ADI 6.050/DF, o Ministério Público Federal, em manifestação apresentou o seguinte: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade com pedido de medida cautelar ajuizada pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho – Anamatra, por meio da qual postula a declaração da inconstitucionalidade do art. 223-G-§1º-I-II-III-IV do Decreto-Lei 5.452, de 1º de maio de 1943 (CLT), inserido pelo art. 1º da Lei 13.467, de 13 de julho de 2017. Alega-se ofensa aos arts. 5º-V- 10 X1, 7º-XXVIII2, 170-VI3 e 225-§3º4 da Constituição. Os dispositivos legais cuja higidez constitucional se questiona integram o complexo normativo referente à reparação de danos de natureza extrapatrimonial decorrentes da relação de trabalho, composto pelos arts. 223-A a 223-G da CLT.5 Dispõem os enunciados impugnados, em sua redação original conferida pela Lei 13.467/2017:Art. 223-G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará:[…] §1º. Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada um dos ofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação:I - ofensa de natureza leve, até três vezes o último salário contratual do ofendido; II - ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário contratual do ofendido; III - ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do ofendido; IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual do ofendido. A requerente sustenta que a lei não pode cercear o Poder Judiciário e o exercício da jurisdição mediante limitação do valor das indenizações por dano extrapatrimonial. Argumenta que o uso do salário do ofendido como critério de cálculo do quantum indenizatório enseja tratamento indevidamente diferenciado das vítimas e inviabiliza a reparação adequada e justa dos prejuízos sofridos. Afirma que a Constituição assegura indenização ampla e irrestrita de dano moral decorrente de lesão ocorrida na relação de trabalho. Assevera que o STF já concluiu pela impossibilidade de tarifação de dano moral, ao reconhecer como não recepcionado pela Carta Magna o art. 52 da Lei 5.250/1967. No mérito, com as mesmas finalidades de economia, racionalidade e celeridade processual, a PGR reporta-se, per relationem, aos fundamentos constantes do parecer apresentado na ADI 5.870/DF, ajuizada em 21/12/2017 também pela Anamatra, no sentido da procedência do pedido, com a declaração da inconstitucionalidade do art. 223-G-§1º-I- II-III-IV da CLT e, por arrastamento, dos parágrafos 2º e 3º do art. 223-G e dos arts. 223-A e 223- C da CLT, todos com redações inseridas pela Lei 13.467/2017. Diante o exposto, o conflito de normas resta latente e evidente, isso, pois, para o MPF, na pessoa da Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, ter-se-á uma inconstitucionalidade na fixação de danos morais extrapatrimoniais, na qual fundamentou o pedido de declaração de inconstitucionalidade, nas seguintes dicções: 2. A Constituição de 1988 positivou os direitos humanos da personalidade, conferindo à integridade moral do indivíduo status de direito fundamental, cuja tutela (arts. 5º-V-X-§2º) se assenta no dever de proteção da dignidade da pessoa humana (art. 1º-III), fundamento da ordem constitucional. Precedentes. 3. A fixação legal, prévia e abstrata, de limites máximos de valores de indenizações por dano extrapatrimonial afronta o princípio da reparação integral do dano (Constituição, art.5º-V) sempre que, nos casos concretos, esses valores não fo- rem bastantes para conferir ampla reparação do prejuízo, proporcional ao agravo e à capacidade financeira do infrator. Precedentes. 4. Os bens ideais dos direitos da personalidade, como a honra, a imagem, a intimidade e a vida privada, desafiam critério objetivo único, com pretensão de validade universal, de mensuração do dano à pessoa. Por conseguinte, a reparação do gravame a tais bens “não é recondutível a uma escala econômica padronizada, análoga à das valorações relativas dos danos patrimoniais” (RE 447.584/RJ, Relator Ministro Cezar Peluso). Jurisprudência reiterada no julgado da ADPF 130/DF, Relator Ministro Ayres Britto.- Parecer pelo conhecimento da ação e pela procedência pedido, com a declaração da inconstitucionalidade do art.223-G-§1º-I-II-III-IV da CLT e, por arrastamento, dos parágrafos 2º e 3º do art. 223-G e dos arts. 223-A e 223-C da CLT, todos com redações conferidas pela Lei 13.467/2017. A dignidade da pessoa humana foi o princípio de interpretação usado no caso concreto acima ilustrado. Em uma análise histórica da dignidade da pessoa humana, esta esteve 11 bastante ligada ao cristianismo. Farias e Neto (2012, p. 69) afirma “sua fundamentação está amparada no fato de que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus”. Ultrapassando os preceitos religiosos, e reconhecendo sua importância, a dignidade da pessoa humana impõe uma observação das normas jurídicas a partir do indivíduo, o mesmo estando no centro, no núcleo das atenções e detentor de proteção, eis que carrega o bem jurídico mais importante do ordenamento pátrio, qual seja a vida humana. Assim, não seria uma surpresa o pedido de declaração de inconstitucionalidade do referido artigo feito pela Procuradoria, uma vez que além de afrontar princípios constitucionais da isonomia, dignidade da pessoa humana e reparação integral, afronta também os direitos da personalidade, devendo, portanto, ser conferido ampla reparação do prejuízo. Em igual sentido, manifestada a Procuradoria Geral da República, em ADI nº 5.870/DF, sustentou a Procuradora que os dispositivos questionados afrontam diretamente os preceitos constitucionais, senão passamos a um trecho da referida defesa: A questão da tarifação normativa do dano moral já fora analisada pelo STF, quando declarou a inconstitucionalidade da Lei da Imprensa, no ponto que impunha uma limitação ao Poder Judiciário, decorrente de ofenda de ofensa à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas (RE 396.386-4/SP, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 13/08/2004). Na oportunidade, a Corte sedimentou que a Constituição emprestou à reparação do dano moral tratamento especial, “desejando que a indenização decorrente desse dano fosse a mais ampla. Posta a questão nesses termos, não seria possível sujeitá-la aos limites estreitos da lei”.Quanto aos dispositivos questionados, está-se diante de regras legais pós-constitucionais (Lei 13.467 de 13 de julho de 2017), que impõem limitações quantitativas à indenização por danos extrapatrimoniais decorrentes das relações de trabalho (CLT, art. 223-A- caput), o que constitui verdadeiro obstáculo infraconstitucional a uma justa e equitativa compensação, consideradas as circunstâncias objetivas e subjetivas do caso.Não suficiente, os artigos consolidados em questão atentam contra o princípio da isonomia, na medida em que a única medida econômica para a mensuração da indenização dos danos extrapatrimoniais é o “salário contratual do ofendido” (art. 223-G-§1º), independentemente da capacidade econômica do autor da lesão. Assim, os valores máximos de indenizações inseridos com a Lei 13.467/2017, artigo 223-G §1º afrontam o princípio da reparação integral do dano servindo de obstáculo infraconstitucionalna busca pela reparação de forma equânime, afetando assim, a esfera personalíssima do ofendido. O comando constitucional ordena que em qualquer lesão ou ameaça a direito deve ser repelida com o devido processo legal e suas garantias correlatas. É o que se busca. Porém, o uso do salário do ofendido como base de fixação de uma futura reparação viola, além da isonomia, sem quaisquer resquícios de dúvidas, a reparação justa e proporcional endossada na Constituição Federal de 1988. Na visão de Farias (2018, p. 371), O legislador criou parâmetros abstratos para que o juiz possa subjetivamente alcançar a sua conclusão quanto a classificação da natureza da lesão, o que em si não é um equivoco, pois, o problema reside em converter tais critérios em um 12 aprisionamento dos valores reparatórios, com a agravante de qualificar os montantes com base no salário de cada vítima, o que obviamente é um retrocesso em tudo o que já veiculamos sobre a consideração dos valores existenciais de cada ser humano em uma perspectiva alheia a órbita do mercado. Dessa forma, o dano moral tarifado (ou tabelado) entrou no ordenamento jurídico eivado de vício de legalidade, não passando pelo filtro do controle de constitucionalidade, sendo um impedimento ao verdadeiro e justo valor indenizatório decorrente de danos nas relações trabalhistas, não sendo recepcionada pela Constituição Federal de 1988. Em regresso a discussão sobre a Lei de Imprensa, em especial na ADPF nº 130, o Superior Tribunal de Justiça, na redação da súmula 281 já havia afastado a tarifação do dano moral, não estando sujeita a lei, a saber súmula 281. STJ: a indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na lei de imprensa”. Nesse ínterim, nítido, à época da discussão que ensejou o nascimento da referida súmula, já se era visível e concreto a independência do dano moral, o qual varia em cada caso concreto, restando clarividente sua máxima efetividade e reparação se fora dos ditames estabelecidos pela Lei nº 13.467/2017 (BRASIL, on-line). Há, em uma análise mais profunda, principalmente após confrontar tal reforma trabalhista com o parâmetro/filtro da dignidade da pessoa humana, uma restrição da tutela dos direitos fundamentais do empregado e do empregador. Isso porque, a fixação do dano sofrido por ambos não pode ser diferente se a lesão sofrida é a mesma. Analisando a letra fria da lei, o legislador prefere fixar uma reparação que não afete, por exemplo, a atividade econômica, pouco se importando com o dolo e a culpabilidade do agressor e as consequências sofridas pelo ofendido/vítima. Aduz Favaretto (2008, p. 10), Especificamente nas relações de consumo a realidade é ainda mais crítica, pois o consumidor vê seu direito da personalidade esmagado pelos interesses econômicos dos agentes lesantes. O natural desequilíbrio da relação contratual não é eficazmente corrigido na fixação do valor indenizatório. Mais uma vez, estamos diante de uma flagrante inconstitucionalidade, isso, pois, a exegese da lei está de contra ao positivado na Lei Maior, qual seja: Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: […] V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; […] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; […]. (BRASIL, 1988, on-line) (grifo nosso). 13 A tarifação, em qualquer momento da lei ou da vida social, é incompatível com o tratamento assegurado pelos incisos V e X da CF/1988, isso, pois, a reparação pelo dano moral causado, além da função desmotivadora, deve cumprir a função punitiva sem se prender a limitações abstratas e com o fito de desprestigiar e despenalizar a conduta ilícita. A reparabilidade do dano moral enfrenta dificuldades em sua exatidão. Mas, reconhecemos que é uma atividade dificultosa a do quantum debeatur justo e capaz de validar a tríplice função do dano extrapatrimonial. Assim, o instituto jurídico do dano extrapatrimonial, na visão de Favaretto (2008, p. 13) assume três funções indispensáveis e automáticas: “compensar alguém em razão de lesão cometida por outrem à sua esfera personalíssima, punir o agente causador do dano, e, por último, dissuadir e/ou prevenir nova prática do mesmo tipo de evento danoso, tanto especificamente em relação ao lesante como à sociedade em geral” (grifo nosso). Reforça-se que as funções do dano extrapatrimonial, É dirigida à pessoa que sofreu o dano; a outra atinge o responsável pela ocorrência do dano e a última dispõe que tanto o responsável pelo evento danoso não deve repeti-lo como também a sociedade, razão pela qual é muitas vezes denominada pedagógica ou educativa. Em síntese, as funções do dano extrapatrimonial podem ser representadas por três verbos: compensar, punir e dissuadir. (FAVARETTO, 2008, p. 11) (grifo nosso) A reflexão sobre a reparabilidade do dano moral em sede trabalhista, objeto de estuda da presente deixa confirmado (e positivado se encontra) de que, qualquer lesão ao direito enseja reparação, seja material, moral, estética, lucros cessantes, perda de uma chance, e que em campo trabalhista, não teria outra interpretação. Passemos agora, a uma análise do referido comando legal versus a principiologia constitucional, em especial a princípios essenciais para se realizar uma análise subjetiva para um competente arbitramento, chegando a uma cognição judicial justa e proporcional. “Princípio” para Jorge e Neto (2012) pode ser classificado como uma norma jurídica a ser aplicada ou um preceito de valor normativo, podendo se “converter em norma jurídica como em valor normativo” (2012, p. 43), auxiliando, portanto, na aplicação da norma ou servindo de interpretação conforme a Constituição, sendo, nessa última, o princípio da interpretação que se materializa em norma jurídica. CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa teve por principal objetivo analisar as novidades advindas com a Reforma Trabalhista, mais especificamente, quanto ao dano extrapatrimonial trabalhista, a fim 14 de verificar se o novo dispositivo 223-G, §1º, nas suas disposições, viola ou não os princípios constitucionais que são reconhecidos pelo ordenamento jurídico brasileiro, e, assim, decidir acerca da (in) constitucionalidade do dispositivo. Dentre os princípios constitucionais, quatro foram escolhidos para que se contraponham a esse instituto: o princípio da isonomia, o princípio da dignidade da pessoa humana, proporcionalidade e razoabilidade, e o princípio da vedação ao retrocesso social. Nesse sentido, quando da análise do artigo frente aos princípios ora mencionados, percebeu-se que todos eles foram transgredidos com a redação do dispositivo. Preliminarmente, constatou-se, por exemplo, que o princípio da isonomia foi violado em dois momentos: ao impor limitação do dano moral quando não existe em outro ramo do direito, diferenciando, nesse caso, trabalhadores dos demais envolvidos em outras relações jurídicas, e também ao utilizar o último salário do empregado como parâmetro ao cálculo da reparação, menosprezando e prejudicando os que recebem menores salários se comparado aos que recebem mais. Logo, com base nos argumentos mencionados, não há razão plausível que justifique a existência dessa diferenciação entre pessoas que se encontram em posição de igualdade, havendo nesse sentido uma quebra da isonomia formal que é garantida de forma expressa pela Constituição Federal em seu artigo 5º, caput, devendo ela guiar legisladores e juristas. Outro princípio violadoque pode ser apontado nas considerações presentes é a vedação ao retrocesso social, isso porque, anterior à vigência da Lei 13.467 de 2017 as regras para cálculo do dano moral eram realizadas conforme a Carta Magna Federal, que em seu conteúdo não prevê tarifação de valores máximos e mínimos. Logo, essa nova forma de abordar a reparação desse tipo de dano configura-se em verdadeiro retrocesso social aos direitos dos trabalhadores, que estão garantidos no dispositivo 5º, Inciso V e X, e 7º, Inciso XXVIII, todos de índole fundamental. Ademais, há ainda violação aos outros demais princípios abordados no presente trabalho, e assim sendo, ao estabelecer-se um preço tarifado para a dor e o dano sofrido pelo trabalhador, além de desfavorecer e menosprezar mais ainda os menos abastados e mais desfavorecidos na relação processual trabalhista, o valor e a dignidade dessas pessoas é intrinsecamente violado, e consequentemente o âmago de sua dignidade humana entre os demais princípios que norteiam seus direitos são feridos, que de uma forma ou de outra também estão ligados à dignidade humana, ainda que indiretamente. Conclui-se, portanto, afirmando a inconstitucionalidade do dispositivo 223-G, §1º da Consolidação das Leis Trabalhistas, haja vista que, esse instituto fere direta e indiretamente os 15 princípios constitucionais mencionados na presente pesquisa, devendo, por esse motivo, ser retirado do ordenamento jurídico brasileiro. O direito do trabalho tem por função primordial proteger a todo momento a figura do trabalhador contra as desigualdades que são inerentes a relação de trabalho existente, em que o empregador, em posição mais favorável, possui capital e o poder diretivo, inclusive, na maioria das vezes, suficiente para arcar com o ônus da reparação dos danos causados ao empregado. Portanto, o objetivo desse ramo deve ser conceder e proteger as garantias mínimas e básicas daqueles que são hipossuficientes na relação laboral, auxiliando na proporção de uma vida mais digna, seja no trabalho como na vida pessoal. Constitui também dever do Estado proteger os seus trabalhadores, com a garantia de seus direitos básicos, não permitindo que haja a possibilidade de que se imponha, através dos legisladores, condições indignas de trabalho e de tratamento, sob esse pretexto falso de flexibilização para maior geração de empregos. Com isso, defende-se e busca evidenciar que um ordenamento jurídico só é justo e básico quando garante direitos mínimos e necessários, na medida do possível, a todos os cidadãos, isso, nas suas mais varias relações jurídicas, e especialmente nas relações trabalhistas, ramo essencial e importante a construção de um país desenvolvido. 16 REFERÊNCIAS AMORMINO, Tatiana Costa de Figueiredo. Inconstitucionalidade da tarifação do dano moral promovida pela Reforma Trabalhista. 2018. Disponível em: Acesso em: 30/03/2020. ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios. 13 ed. São Paulo, Malheiros, 2012, p. 78. BARBA FILHO, Roberto Dala. A Inconstitucionalidade da Tarifação De Indenização Por Dano Extra Patrimonial No Direito Do Trabalho. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/266105/a-inconstitucionalidade-da-tarifacao-da- indenizacao-por-dano-extrapatrimonial-no-direito-do-trabalho. Acesso em 16/04/2020. BARROSO, Luís Roberto. 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