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1 Laís Flauzino | PATOLOGIA | 4°P MEDICINA Dividida em: o Zonas periféricas o Zona de transição Figura 18.10 Próstata do adulto. A próstata normal apresenta várias regiões distintas, entre elas a zona central (ZC), a zona periférica (ZP), a zona transicional (ZT) e uma zona periuretral. A maioria dos carcinomas se origina nas glândulas periféricas do órgão e enquanto a hiperplasia nodular surge nas glândulas situadas mais centralmente. Os tipos de lesões proliferativas são diferentes em cada região. A maioria das lesões hiperplásicas surge na região mais interna da zona de transição – mais propensas a causar obstrução urinária. A maioria dos carcinomas surge nas zonas periféricas – sendo frequentemente detectados por exame retal. A próstata normal contém glândulas com duas camadas de células: o uma camada de célula basal plana e o uma camada sobrejacente composta por células secretoras colunares. O estroma que envolve a próstata contém uma mistura de músculo liso e tecido fibroso. A próstata é acometida por distúrbios: o infecciosos, o inflamatórios, o hiperplásicos e neoplásicos, dos quais o câncer de próstata é, de longe, o mais importante clinicamente. Prostatite: É dividida em 3 categorias: o Prostatite bacteriana aguda – 2%-5% dos casos; causada pelos mesmos organismos associados às infecções agudas do trato urinário o Prostatite bacteriana crônica 2%-5% dos casos; causada por uropatógenos comuns. o Síndrome da dor pélvica crônica 90-95% dos casos. pode ser subdividida em casos inflamatórios (Associados a leucócitos em secreções prostáticas) e casos não inflamatórios (leucócitos ausentes). O diagnóstico de prostatite não é comumente baseado na biópsia, pois os achados histológicos são inespecíficos e a biópsia de uma prostatite infectada pode resultar em sepse. A exceção é a prostatite granulomatosa, que pode produzir endurecimento da próstata, levando à biópsia para descartar um câncer de próstata. Tuberculose prostática: Nos Estados Unidos, a causa mais comum é a instilação do bacilo de Calmette-Guérin (BCG) dentro da bexiga para tratamento do câncer da bexiga superficial. O BCG é uma cepa atenuada do bacilo da tuberculose que produz uma reação imune granulomatosa na próstata indistinguível da tuberculose. A tuberculose prostática disseminada é rara no Ocidente. Prostatite granulomatosa fúngica: geralmente só é observada nos hospedeiros imunocomprometidos. Prostatite granulomatosa inespecífica: É relativamente comum e representa uma reação de corpo estranho às secreções que extravasam para tecidos devido ao rompimento de ductos e ácinos prostáticos. Os granulomas prostáticos pós-cirúrgicos também podem ser observados. Característ icas cl ín icas: Prostatite bacteriana aguda: o Início súbito de febre o Calafrios o Disúria o Dor perineal o Obstrução da saída da bexiga urinário – bloqueio na fase da bexiga. o Pode ser complicada pela sepse. Se houver suspeita de prostatite aguda, exame retal digital é contraindicado, pois a pressão sobre o tecido esponjoso e sensível da próstata pode causar bacteremia. Prostatite bacteriana crônica: o Associada a infecções recorrente do trato urinário intercaladas por períodos assintomáticos. o Lombalgia o Disúria o Desconforto perineal e suprapúbico 2 Laís Flauzino | PATOLOGIA | 4°P MEDICINA Tratamento: Tanto a prostatite bacteriana aguda quanto a crônica são tratadas com antibióticos. A Síndrome Da Dor Pélv ica Crônica É caracterizada por dor crônica localizada no períneo, área suprapúbica e pênis. Dor durante ou após a ejaculação é um achado relevante. A etiologia é incerta, e constitui um diagnóstico de exclusão. Na verdade, nem sequer está claro se a dor está relacionada com uma anormalidade da próstata. O tratamento para a síndrome da dor pélvica crônica é empírico e depende da natureza dos sintomas. Hiperplasia Prostática Benigna: É uma causa extremamente comum de aumento da próstata resultante da proliferação de elementos estromais e glandulares. o Acomete homens a partir dos 40 anos de idade o Frequência aumentada progressivamente com a idade – alcança 90% na oitava década de vida. o Importante causa de obstrução urinária. Embora a causa da HPB ainda não seja plenamente compreendida, está claro que o crescimento excessivo (dependente do androgênio) dos elementos glandular e estromal apresenta um papel essencial. A HPB não acomete homens castrados antes do estabelecimento da puberdade ou homens com doenças genéticas que bloqueiam a atividade do androgênio. A di-hidrotestosterona (DHT), o mediador do crescimento prostático, é sintetizada na próstata a partir da testosterona circulante pela ação da enzima 5α-redutase, tipo 2. A DHT se liga aos receptores nucleares do androgênio, que regulam a expressão de genes que sustentam o crescimento e a sobrevivência do epitélio prostático e das células estromais. Embora a testosterona também possa ligar-se aos receptores de androgênio e estimular o crescimento, a DHT é 10 vezes mais potente. Morfologia: o Ocorre sempre na zona transicional interna da próstata. o A próstata aumenta pesando entre 60g e 100g; contém muitos nódulos bem circunscritos que causam protusão na superfície de corte. o Os nódulos podem conter espaços císticos, que correspondem aos elementos glandulares dilatados, ou ser sólidos. o A uretra geralmente está comprimida pelos nódulos hiperplásicos, que deixam apenas uma estreita fenda de passagem. Em alguns casos, os elementos glandulares e estromais hiperplásicos, situados abaixo do epitélio da uretra intraprostática proximal, se projetam no lúmen da bexiga como massa pedunculada e produzem obstrução uretral do tipo válvula de bola (Ball-valve) (também pode ser descrita como hipertrofia do lobo mediano). Microscopicamente, os nódulos hiperplásicos são compostos por proporções variáveis de elementos glandulares proliferativos e estroma fibromuscular. As glândulas hiperplásicas são revestidas por células epiteliais colunares altas e uma camada periférica de células basais planas. Os lúmens glandulares geralmente contêm material secretado denso proteináceo conhecido como corpos amiláceos. Característ icas cl ín icas: Como a HPB envolve preferencialmente as porções internas da próstata, as manifestações mais comuns estão relacionadas com a obstrução do trato urinário inferior. o Hesitação – dificuldade de iniciar o fluxo de urina o Interrupção intermitente do fluxo urinário durante a micção o Urgência e frequência urinárias o Noctúria o Indicadores de irritação da bexiga urinaria. 3 Laís Flauzino | PATOLOGIA | 4°P MEDICINA As manifestações clínicas da hiperplasia prostática ocorrem em apenas cerca de 10% dos homens com evidência patológica de HBP. A presença de urina residual na bexiga urinária causada por obstrução crônica aumenta o risco de infecções do trato urinário. Em alguns homens acometidos, a HPB causa completa obstrução urinária, com resultante distensão dolorosa da bexiga e, na falta do tratamento apropriado, hidronefrose. Tratamento: O tratamento inicial é farmacológico, com o uso de agentes terapêuticos direcionados para a inibição da formação de DHT (como inibidores da 5α redutase) ou que relaxam o músculo liso prostático, bloqueando os receptores α-1 adrenérgicos. Várias técnicas cirúrgicas estão reservadas para os casos gravemente sintomáticos que resistem à terapia farmacológica. Carcinoma De Próstata: Adenocarcinoma da próstata é a forma mais comum de câncer em homens, representando 27% dos casos de câncer nos Estados Unidos em 2014. o Incomum antes dos 50 anos de idade. o Mortalidade diminuiu – relacionada com o maior número de detecções da doença por meio de triagem efetiva. o Há ampla variação na história natural do câncer de próstata, de uma doença agressivae rapidamente fatal à doença indolor e sem importância clínica. É comum encontrar o carcinoma da próstata por acaso durante a necrópsia de homens que morrem devido a outras causas, e a quantidade de homens que morrem com o câncer da próstata é muito maior do que a de homens que morrem em decorrência desse câncer. Atualmente, não é possível identificar com certeza os tumores que terão comportamento mais agressivo. Assim, enquanto alguns homens são, sem dúvida, salvos pela detecção precoce e pelo tratamento do seu câncer da próstata, é igualmente certo afirmar que outros estão sendo “curados” de tumores clinicamente inconsequentes. Patogenia: Observações clínicas e experimentais sugerem que os androgênios, a hereditariedade, os fatores ambientais e as mutações somáticas adquiridas desempenham papéis na patogenia do câncer de próstata. Androgênios: o O câncer da próstata não se desenvolve em homens castrados antes da puberdade, o que indica que os androgênios de alguma forma proporcionam o “solo”, o contexto celular, no qual o câncer de próstata se desenvolve. o Cânceres estabelecidos regridem durante um tempo em resposta à castração química ou cirúrgica. o Os tumores resistentes à terapia antiandrogênica frequentemente adquirem amplificações de genes de receptores de androgênios ou mutações que permitem que os receptores de androgênio ativem a expressão dos seus genes- alvo, apesar da terapia. o Embora o câncer da próstata, como a próstata normal, dependa dos androgênios para sua sobrevivência, não há evidências de que os androgênios iniciem a carcinogênese, nem que os níveis de androgênio estejam associados ao risco de câncer de próstata. Hereditariedade: o Aumento do risco entre os parentes de primeiro grau dos pacientes com câncer de próstata. o A incidência do câncer prostático é incomum entre asiáticos, sendo a mais elevada entre os afro-americanos e os escandinavos. o Estudos de associação genômica ampla identificaram inúmeras variações genéticas associadas ao aumento do risco de desenvolvimento do câncer de próstata. o Embora cada variante contenha apenas um pequeno acréscimo de risco, o efeito é multiplicativo, de modo que os homens com alelos de risco múltiplo podem apresentar até 5 vezes mais risco em comparação com a população em geral. Ambiente externo: o Em imigrantes japoneses nos Estados Unidos, a incidência da doença aumenta (embora não no nível observado entre os nativos dos Estados Unidos). o Além disso, à medida que a dieta asiática se torna mais ocidentalizada, a incidência do câncer de próstata clínico nessa região do mundo está aumentando. Contudo, a relação entre componentes alimentares específicos e o risco de câncer da próstata é obscura. Aberrações genéticas adquiridas: o São os verdadeiros condutores da transformação celular. o Os rearranjos gênicos mais comuns no câncer de próstata criam genes de fusão que consistem no promotor regulado por androgênio do gene TMPRSS2 e na sequência codificadora dos fatores de transcrição da família ETS. o Os genes de fusão TMPRSS2-ETS estão presentes em aproximadamente 40% a 60% dos cânceres da próstata nas populações caucasianas, e ocorrem relativamente cedo na tumorigênese. Surpreendentemente, a prevalência desses rearranjos é menor entre os afro-americanos e outros grupos étnicos. o Outras mutações comumente levam à ativação da via sinalizadora do oncogene PI3K/AKT, entre as 4 Laís Flauzino | PATOLOGIA | 4°P MEDICINA quais as mais comuns são as mutações que inativam o gene supressor de tumor PTEN, que atua como um freio à atividade de PI3K. Morfologia: o Maioria dos detectados clinicamente não é macroscopicamente visível. o As lesões mais avançadas se apresentam como lesões firmes, de coloração branco- acinzentadas, com margens mal definidas que se infiltram na glândula adjacente. Figura 18.13 Adenocarcinoma da próstata. O tecido carcinomatoso é observado na face posterior (embaixo, à esquerda). Observe o tecido sólido, mais esbranquiçado, do câncer em contraste com a aparência esponjosa da zona periférica benigna no lado contralateral. o Maioria composta por adenocarcinomas moderadamente diferenciados que produzem glândulas bem definidas. o As glândulas são geralmente menores que as benignas e são revestidas por uma única camada uniforme de epitélio cúbico ou colunar baixo, perdendo a camada de células basais observadas nas glândulas benignas. o Um contraste adicional em relação às glândulas benignas é que as malignas estão mais aglomeradas e caracteristicamente não apresentam ramificação e projeção papilar. o O citoplasma das células tumorais varia de uma aparência pálida-clara (como nas glândulas benignas) à anfofílica distinta (roxo-escuro). o Os núcleos apresentam aumento de tamanho e frequentemente contêm um ou mais nucléolos proeminentes – pleomorfismo não é acentuado. o Figuras de mitose são incomuns. o Em graus crescentes, estruturas glandulares irregulares, glândulas cribriformes e lâminas de células ou células infiltrantes individuais estão presentes. o O tecido prostático também pode abrigar presumíveis lesões precursoras - neoplasia intraepitelial prostática de alto grau (NIPAG). o Muitas das alterações moleculares observadas nos cânceres invasivos também são observadas na NIPAG. Figura 18.14 (A) Adenocarcinoma da próstata exibindo pequenas glândulas aglomeradas entre glândulas benignas maiores. (B) O campo em maior aumento revela várias glândulas malignas pequenas com núcleos aumentados, nucléolos proeminentes e citoplasma escuro, comparadas às glândulas benignas maiores (topo). Classif icação: Sistema de Gleason – 5 graus com base nos padrões glandulares de diferenciação. o O grau 1 representa os tumores mais bem diferenciados, ao passo que os tumores grau 5 não exibem qualquer diferenciação glandular. o A maioria dos tumores pertence aos padrões 3, 4 e 5. o Uma vez que a maioria dos tumores apresenta mais do que um padrão, um grau primário é atribuído ao padrão dominante, e um grau secundário ao segundo padrão mais frequente. o Os dois graus numéricos são então somados, a fim de se obter uma pontuação combinada do sistema Gleason. o Os tumores que exibem apenas um padrão são tratados como se seus padrões primário e secundário fossem os mesmos e, assim, o número é dobrado. o Portanto, os tumores mais diferenciados obtêm pontuação de 2 (1 + 1) e os menos diferenciados de 10 (5 + 5). Um novo sistema de estadiamento também baseado no padrão glandular foi recentemente aceito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para ser usado inicialmente em conjunto com o sistema de Gleason; ele varia de 1 (prognóstico excelente) a 5 (prognóstico sombrio). Característ icas cl ín icas: o A maioria dos cânceres de próstata consiste em lesões assintomáticas, pequenas, não palpáveis, descobertas na realização de uma biópsia por agulha fina para investigar o nível sérico elevado do antígeno prostático específico (PSA). o Cerca de 70% a 80% dos cânceres da próstata originam-se nas glândulas externas (periféricas) e, por isso, podem ser reconhecidos como nódulos irregulares e duros no exame de toque retal. o A minoria dos carcinomas é descoberta inesperadamente durante um exame histopatológico do tecido removido de uma HPB, por meio de ressecção transuretral. 5 Laís Flauzino | PATOLOGIA | 4°P MEDICINA o Por causa da localização periférica, é menos provável que o câncer de próstata cause obstrução uretral, do que a HPB, nos estágios iniciais. o Os cânceres avançados localmente se infiltram na vesícula seminal e nas zonas periuretrais da próstata e podem invadir os tecidos moles adjacentes, a parede da bexiga urinária ou (menos comumente) o reto. o Metástases ósseas, particularmente no esqueleto axial, são frequentes nos estágios avançados da doença e tipicamentecausam lesões osteoblásticas (produtoras de ossos) que podem ser detectadas em uma cintilografia óssea. Diagnóstico: o PSA é o exame mais usado no diagnóstico e no controle do câncer de próstata, mas apresenta várias limitações. o O PSA é um produto do epitélio prostático normalmente secretado no sêmen. o Embora a triagem por PSA possa detectar os cânceres da próstata em seu estágio inicial, estudos sobre o histórico natural da doença (os chamados “estudos observe e espere”) confirmaram que muitos cânceres de próstata são clinicamente insignificantes, o que faz com que dispensem tratamento às vezes por décadas. o O sobretratamento desses cânceres pode levar a complicações significativas, como morbidade e, particularmente, disfunção erétil e incontinência. o Uma segunda limitação do PSA como biomarcador é que ele não é específico para câncer. A HPB, a prostatite, os infartos prostáticos, a instrumentação da próstata e a ejaculação também aumentam os níveis séricos do PSA. Inversamente, 20% a 40% dos pacientes com câncer da próstata, confinado ao órgão, apresentam nível de PSA abaixo dos níveis utilizados, como ponto de corte, para identificar pacientes com propensão ao câncer de próstata. o Por outro lado, uma vez diagnosticado o câncer, as medições seriadas do PSA são muito valiosas para o acompanhamento da resposta ao tratamento. Por exemplo, um nível crescente de PSA após uma prostatectomia radical ou radioterapia para a doença localizada é indício de doença disseminada ou recorrente. Tratamento: Os tratamentos mais comuns para o câncer de próstata clinicamente localizado são a prostatectomia radical e a radioterapia. O prognóstico após uma prostatectomia radical baseia-se no estadiamento patológico, se as margens ressecadas estão livres do tumor e na gradação de Gleason. A gradação de Gleason, o estágio clínico e os valores séricos do PSA são importantes preditores do resultado pós-radioterapia. Já que muitos cânceres da próstata se comportam de forma indolente, a vigilância ativa (“espera vigilante”) é uma abordagem apropriada no caso de homens mais velhos, pacientes com significativa comorbidade ou mesmo pacientes mais jovens com valores séricos de PSA baixos e cânceres pequenos de baixo grau. O carcinoma metastático avançado é tratado com privação de androgênio, conseguida pela orquiectomia ou pela administração de agonistas sintéticos do hormônio liberador do hormônio luteinizante (HLRL). Além disso, existem muitas terapias que reduzem a síntese de androgênios ou sinalizam o câncer de próstata metastático. Embora a terapia antiandrogênica induza remissões, clones independentes do estímulo androgênico surgem posteriormente e levam a uma progressão rápida da doença e ao óbito. Como já mencionado, esses clones mutantes continuam a expressar muitos genes que são dependentes de androgênio na próstata normal, o que sugere que mecanismos que reativam a sinalização androgênica se originam mesmo no quadro de terapia de privação do androgênio. Vinay Kumar. Robbins Patologia Básica. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Grupo GEN, 2018.
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