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Rede Unirb Curso de Fisioterapia Disciplina: Bioética Carga horária: 60 h Diretrizes e normas em pesquisa em saúde Professora: Dra. Lina Clara Moreno 31 de agosto de 2021 • Pesquisas envolvendo seres humanos, materiais biológicos e animais seguem regulamentação: -Documentos internacionais; -Leis, decretos, resoluções, portarias, normas e diretrizes de caráter nacional; • Códigos para a execução de pesquisa foram desenvolvidos após mobilizações da comunidade científica diante de atrocidades que ocorreram em estudos realizados com seres humanos; • Para garantir que a realização das pesquisas está dentro dos padrões, existem comitês de ética em pesquisa e Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), cujo objetivo é: -Orientar as pesquisas; -Fiscalizar as pesquisas; -Aplicar penalidades quando ocorrer ilegalidades. Normas e procedimentos aplicados às pesquisas em saúde • “Pesquisa relacionada à saúde” refere-se às atividades destinadas a melhorar ou promover o conhecimento generalizado da saúde no âmbito da pesquisa com seres humanos: -Pesquisa observacional, ensaios clínicos, biobancos e estudos epidemiológicos; • Atualmente existem legislações que regem a pesquisa no Brasil e documentos que regem a pesquisa em caráter internacional; Obs: -Várias pesquisas envolvendo seres humanos dependem de informações obtidas por meio da coleta e análise de materiais biológicos; -Todo material coletado pertence ao indivíduo de origem, mas pode ser armazenado e administrado em estruturas adequadas para fins de pesquisa; -Tais estruturas são: biorrepositórios e biobancos; -São responsáveis pelo armazenamento e gerenciamento de amostras de diversos tipos de materiais humanos: *Tecidos, sangue, material genético de acordo com normas e padrões nacionais e internacionais. • Regulamentação vem de resoluções, decretos, portarias, normas, diretrizes e leis cujos objetivos são: -Orientação pesquisadores de como realizar as etapas da pesquisa; -Determinação de penalidades pelo não cumprimento das normas; • Pesquisas envolvendo seres humanos devem seguir os princípios da bioética; • Autonomia se baseia no que o participante de pesquisa julga ser o melhor para si: -Representa seu poder de decisão sobre o que é melhor para o seu corpo e para a sua vida; • Não maleficência tem como preceito o não causar mal e/ou danos ao indivíduo; • Princípio da beneficência está intimamente relacionado com o da não maleficência e consiste em maximizar os benefícios e minimizar os danos; • Justiça baseia-se na proteção e integridade dos indivíduos com igualdade no tratamento; • Pesquisas com animais são orientadas pelos Princípio dos 3Rs (do inglês replacement, reduction e refinement); • Replacement (substituir) institui a substituição dos animais por outros métodos alternativos; • Reduction (reduzir) representa a diminuição do número de animais utilizados; • Refinement (refinar) significa melhorar os protocolos experimentais para minimizar a dor ou o estresse sempre que possível; • Pesquisadores acreditam que poderiam ser 5Rs, de modo a incluir respect e relevance: -Respeito com o comportamento de cada espécie e manipulação e instalações adequadas; -Relevância ao justificar o uso animal e pensar até que ponto os procedimentos e resultados podem ser extrapolados para a realidade de um tratamento para o ser humano ou outro animal. Legislação em pesquisa em saúde no Brasil • O Ministério da Saúde, através do Conselho Nacional de Saúde, publicou a Resolução nº 196, de outubro de 1996, a qual aprovou as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos; • Essa resolução foi substituída pela Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, que estabelece os fundamentos éticos e científicos a serem respeitados nas pesquisas envolvendo seres humanos no Brasil; • Para regularizar as pesquisas no Brasil há os Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) que trabalham na avaliação de todos os protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos durante todo o processo de execução dos estudos; • Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) analisa projetos com a manipulação de gametas, pré-embriões, embriões e organismos geneticamente modificados (OGMs); • Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) monitora os experimentos realizados com modelo animal junto com a Comissão de Ética no Uso de Animais; • A execução de pesquisas envolvendo animais segue a Lei nº 11.794, de 8 de outubro de 2008, conhecida popularmente como Lei Arouca; • Há uma legislação específica para o uso de OGMs e de células-tronco embrionárias para objetivo científico e terapêutico: -Primeira foi a Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995, que estabeleceu normas de biossegurança para regular a manipulação e o uso no país; -Marco legal no Brasil a Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005, e o Decreto nº 5.591, de 24 de novembro de 2005, que implementaram as normas pertinentes (Lei de Biossegurança); • Portaria nº 2.201, de 14 de setembro de 2011, que estabeleceu as Diretrizes Nacionais para Biorrepositório e Biobanco de Material Biológico Humano com Finalidade de Pesquisa. O início da ética em pesquisa • Ética em pesquisa em saúde atual teve como base: -Código de Nuremberg (1947); -Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948); -Declaração de Helsinque (1964); -Relatório de Belmont (1978); -Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisas Biomédicas Envolvendo Seres Humanos – OMS (1982); -Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos (1997); -Declaração Internacional sobre os Dados Genéticos Humanos (2003); -Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos (2005); • Código de Nuremberg foi o precursor dos documentos internacionais, envolvendo pesquisa em seres humanos; • Fruto do Tribunal de Nuremberg que condenou 23 pessoas (20 médicos) envolvidos nos experimentos realizados nos campos de concentração nazistas, na 2ª Guerra Mundial; • Entre os crimes listados encontram-se: -Manutenção de vítimas desnudas em temperaturas baixíssimas por mais de 10 horas ou em tanques de água congelada; -Infecção de pessoas saudáveis por meio de picadas de mosquitos da malária; -Submissão de vítimas à inalação do gás mostarda; -Não tratamento de pessoas feridas, com a intenção de verificar o processo da gangrena; -Esterilização diária de vítimas; • Código de Nuremberg determinou a necessidade do consentimento livre e esclarecido e de limites na pesquisa para manter a integridade física dos participantes (atentando para o risco de morte ou invalidez permanente); • Foram criadas as bases para os princípios bioéticos e ficou determinado que apenas pessoas qualificadas poderiam conduzir os experimentos. Réus com fones de ouvido observam pronunciamento dos juízes, 22/11/1945. Foto: HLS Nuremberg Trials Project. Archive ID: olvwork395360. • Outro que é marco para a condução de pesquisa clínica é a Declaração de Helsinque desenvolvida pela Associação Médica Mundial em 1964; • Declaração complementou os preceitos determinados pelo Código de Nuremberg, além de estabelecer a diferença entre pesquisa científica e prática terapêutica; • Com os anos, a Declaração de Helsinque foi sendo atualizada a fim de acompanhar a evolução da condução das pesquisas internacionais: -Versão de 1975 culminou com o caso de Tuskegee e reforçou a necessidade do consentimento voluntário e esclarecido pelos participantes; Caso Tuskegee: -1932 a 1972 o Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos da América realizou uma pesquisa que envolveu 600 homens negros (399 com sífilis e 201 sem a doença) em Macon, Alabama; -Objetivo do Estudo Tuskegee era observar a evolução da doença livre de tratamento; -Um estudo com 2000 indivíduos já havia sido realizado na Noruega e publicado em 1929 com os dados; -Não foi dito aos participantes do estudo que eles tinham sífilis, nem dos efeitos desta patologia, o diagnóstico era de “sangue ruim”; - -Contrapartida pela participação noprojeto era o acompanhamento médico, uma refeição quente no dia dos exames e o pagamento das despesas com o funeral; -Inadequação inicial do estudo não foi a de não tratar, pois não havia uma terapêutica comprovada para sífilis naquela época: inadequação foi omitir o diagnóstico e prognóstico esperado; -Mesmo após a descoberta da penicilina (década de 40) como um tratamento eficaz para o tratamento da doença, a população infectada foi impedida de obter tratamento adequado ; -Todas as instituições de saúde dos EUA receberam uma lista com o nome dos participantes para evitar que qualquer um deles recebesse tratamento; -Inadequação do estudo foi seguindo o padrão “slippery slope”: inadequação leva a outra e o problema vai se agravando de forma crescente; -Da omissão do diagnóstico se evoluiu para o não tratamento e para o impedimento de qualquer possibilidade de ajuda aos participantes; -Ao término do projeto, somente 74 sobreviveram; -Mais de 100 participantes morreram de sífilis ou de complicações da doença. Normas e procedimentos no Brasil • Pesquisas devem assegurar a integridade e o bem- estar dos participantes dos estudos, respeitando os princípios bioéticos, devendo prevalecer em relação aos interesses da ciência; • Para orientar os pesquisadores na realização de seus estudos, a Resolução nº 466/12 é um documento base no Brasil e apresenta algumas definições: -Benefícios da pesquisa: proveito direto ou indireto, imediato ou posterior, recebido pelo participante e/ou sua comunidade em decorrência de sua participação na pesquisa; -Dano associado ou decorrente da pesquisa: agravo imediato ou posterior, direto ou indireto, ao indivíduo ou à coletividade, decorrente da pesquisa; -Consentimento livre e esclarecido: anuência do participante da pesquisa e/ou de seu representante legal, livre de vícios, dependência, subordinação ou intimidação, após esclarecimento completo e pormenorizado sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e incômodo que esta possa acarretar; -Sujeito ou participante da pesquisa: indivíduo que, de forma esclarecida e voluntária, ou sob esclarecimento e autorização de seu responsável legal, aceita ser pesquisado; Obs: A participação deve se dar de forma gratuita, ressalvadas as pesquisas clínicas de fase I ou de bioequivalência; - Pesquisa envolvendo seres humanos: pesquisa que, individual ou coletivamente, tenha como participante o ser humano, em sua totalidade ou partes dele, e o envolva de forma direta ou indireta, incluindo o manejo de seus dados, informações ou materiais biológicos; - Pesquisador responsável: pessoa responsável pela coordenação da pesquisa e corresponsável pela integridade e pelo bem-estar dos participantes da pesquisa; -Protocolo de pesquisa: conjunto de documentos contemplando a descrição da pesquisa em seus aspectos fundamentais e as informações relativas ao participante da pesquisa, à qualificação dos pesquisadores e a todas as instâncias responsáveis; -Termo de Consentimento Livre e Esclarecido: documento no qual é explicitado o consentimento livre e esclarecido do participante e/ou de seu responsável legal, de forma escrita, devendo conter todas as informações necessárias, em linguagem clara e objetiva, de fácil entendimento, para o mais completo esclarecimento sobre a pesquisa a qual se propõe participar. -Vulnerabilidade: estado de pessoas ou grupos que, por quaisquer razões ou motivos, tenham a sua capacidade de autodeterminação reduzida ou impedida, ou de qualquer forma estejam impedidos de opor resistência, sobretudo no que se refere ao consentimento livre e esclarecido; • Apesar de os pesquisadores serem os principais responsáveis no desenvolvimento das pesquisas, todos os preceitos éticos devem ser respeitados também pelos patrocinadores; • Qualidade de vida dos participantes de pesquisa, independentemente da sua condição clínica ou do risco de vulnerabilidade, são fundamentais para o avanço da ciência; • Experimentos deve ser conduzido sempre respeitando os direitos humanos e a integridade física e moral de todos. OBRIGADA!!!
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