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Aluna: Diéssica Freiberger de Almeida Matrícula: 20101172 Disciplina: Teorias da Comunicação Turma:3N Ensaio: Storytelling: persuasão, relações de poder e propaganda. Este ensaio consiste em analisar como o Storytelling participa da vida das pessoas, seja na propaganda ou nos hábitos diários, trazendo aspectos que elucidem questões sobre como, porque e por quem ele é utilizado e qual a relação com nossa forma de vida. Baseado na leitura do livro “Storytelling: Histórias que deixam marcas” (do autor Adilson Xavier - escritor, criador publicitário e roteirista) e nos conhecimentos adquiridos ao longo das aulas da disciplina de Teorias da Comunicação. Para iniciar as discussões, temos que definir o termo “Storytelling” e o autor o faz a partir de três perspectivas: pragmática, pictórica e poética. Cada uma delas tem suas particularidades, mas aproximando as três pode-se chegar em um resultado que se aproxime de: “Storytelling é uma tecnarte de criar e desenvolver cenas, de forma envolvente e captando a atenção das pessoas”. Historicamente, pudemos apreciar uma série de mudanças de costumes sociais e também de um aumento nos níveis tecnológicos que nos fazem compreender os motivos de hoje em dia termos um excesso de informações, que é considerada um mal do século. Com isso, não sabemos lidar, ou temos crises de identidade, confusão em nossas histórias individuais, apontando a fragilidade das narrativas clássicas. A homogeneização tira de nós o prazer de sermos surpreendidos, pois tudo, através da globalização se espalhou com facilidade. Com essa nova forma de acesso, muitas pessoas tornaram-se produtores de conteúdos, gerando uma alta no nível de informações; como já citado, fazendo com que se criem conflitos entre os conteúdos e histórias, pois elas dividem o mesmo espaço-tempo que outras milhões, buscando, portanto, atenção e um lugar na memória das pessoas. Há com isso, um questionamento sobre a relevância de cada conteúdo, no livro faz-se a seguinte colocação: [...] Sai de pauta o controle da natalidade, chega com força máxima o descontrole da conectividade. [...], nos fazendo pensar sobre como o virtual tomou um espaço essencial em nossas vidas, como se fosse uma necessidade básica a ser suprida, assim como moradia, alimentação e educação. A tecnologia é um dos fenômenos mais fascinantes do mundo contemporâneo. Ela nos permite viver em um mundo novo, com liberdade e autonomia. Mas, ao mesmo tempo, ela nos faz perder nossas tradições e as nossas relações com o mundo. Isso passou a ocorrer principalmente após a Revolução Industrial em 1789, onde as máquinas passaram a tomar o espaço das pessoas e na vida delas também. Mais adiante, com a nova era que dá espaço aos smartphones e à internet, nos ajudando a viver melhor, mas acabando com algumas atividades que, se não possuía importância na época, hoje é lembrada com saudades. São pequenas coisas que foram aposentadas pela era da informação e de um mundo conectado, que hoje tem total relevância em nosso dia-a-dia. Além disso, cabe analisarmos o que está em queda e o que está em crescimento. Por exemplo: tecnologia, opções de entretenimento, superficialidade e volume de informação estão em alta, enquanto afetividade, tempo, capacidade de retenção e atenção estão com níveis cada vez menores. Quanto mais opções temos, maior nos parece o tédio. Passamos horas em busca de um filme em algum streaming, e ao encontrarmos já estamos tão cansados de procurar que o filme já não parece mais tão interessante. Um dos fatores que mais preocupa é que toda essa informação acaba passando por nós e mesmo que tenhamos capacidade para reter o que é relevante, alguns distúrbios podem ser verificados nas pessoas. Por exemplo, falta de sono, espantado por uma atitude de alerta anormal. As pessoas simplesmente não querem dormir para não perder tempo e continuar consumindo informações, existe medo de estar sempre ficando para trás, principalmente no jovem, que sente que sempre deve estar produzindo. Fundamentação A atenção é um dos atributos mais buscados do séc. XXI, se não for o maior deles. Existe um termo que se chama “Economia da Atenção” que deriva de um livro escrito por Thomas Devenport e Michael Goldhaber que foi publicado em 2001 e que quer dizer que quanto mais informações as pessoas têm, menos tempo elas possuem para se aprofundarem nisso. Nessa linha, diz Nicholas Negroponte, do Laboratório de Mídia do MIT: “Não quero quinhentos canais de televisão. Só quero aquele único canal que me oferece o que quero ver.” A partir disso, surgem, com a publicidade principalmente, mais dois conceitos que estão interligados, sendo eles: Capital Emocional e Economia Afetiva. O primeiro diz respeito a uma série de recursos, muito usada em comerciais, que servem para entrar na cabeça e no coração das pessoas, como reforça até mesmo Steven J. Heyer, presidente da Coca-Cola. O segundo tenta fazer a junção de grandes histórias e grandes vendas. Com isso, chegamos à capacidade de retenção, que pode ser considerado o somatório desses três fatores. Como se constrói isso é que pode vir a tornar-se o X da questão. Muitas vezes, não se é feito de forma inocente ou verdadeira, mas se aumentam coisas irreais para tocar as pessoas, de forma enganosa, reforçando apenas um ponto de vista. Como já citado, isso ocorre em diversos setores sociais, relacionando-se com as diferentes relações de poder que existem na sociedade seja no âmbito político, ideológico ou econômico. Existe outro parâmetro que ajuda definir o modo como são captadas as informações e depois produzidos os conteúdos para o público. Os arquétipos começaram na Grécia, com Platão. Designavam as ideias que serviriam de modelo para tudo que nos cerca. Arquétipo é definido como “modelo de seres criados, padrão, exemplar, protótipo...”. Foram identificados os padrões comportamentais de várias marcas conhecidas, facilitando um processo de análise tão útil para exercícios de autoconhecimento quanto para análise de cenário competitivo e planejamento de migração arquetípica. Quanto às nomenclaturas, podemos citar: Inocente, Explorador, Sábio, Cara Comum, Amante, Bobo da Corte, Herói, Fora da lei, Mago, Governante, Prestativo e Criador. O comportamento desses está totalmente atrelado a nomenclatura dos mesmos. Os arquétipos são iguais perante o marketing e a comunicação de marcas, não existindo qualquer hierarquia entre eles, porém, uma pessoa/marca pode ser mais de um ao mesmo tempo e as interpretações podem variar conforme as situações. Entre as várias histórias relevantes citadas pelo autor e que não existe nenhuma dúvida de seu sucesso, pois são retiradas do livro mais vendido do mundo, são as passagens bíblicas. Pudemos, por vários fatores, observar como essas histórias afetaram e afetam a humanidade.Servindo como um balizador para tomadas de decisões e como um suporte para o bem-estar das pessoas, as diversas passagens [...] nos dizem de onde viemos e para onde vamos, organizando o caos de nossas inquietações com “explicações” sem respaldo racional, mas que, pelo simples enunciado de conceitos alinhados com nossas expectativas mais profundas, vem, há mais de um milênio, funcionando como guia e bálsamo para as ansiedades existenciais que nos perseguem[...]. Esse manual de instruções de como se portar socialmente segue uma lógica de convivência muito ultrapassada mas que é extremamente difícil de ser superada. Primeiramente por ter um número de histórias tão grande e com uma gama de detalhes ainda maior, segundamente por ser transmitido a anos, de geração em geração; e que mesmo com as comprovações científicas de que muito disso é fictício, ainda é considerada extremamente relevante, pois um dos benefícios mais buscados na literatura é justamente a autoimagem. O poder que essas histórias somaram ao longo dos anos faz com que uma desconstrução seja muito demorada e já tardia. A célebre frase: “Uma mentira dita mil vezes, torna-se verdade”pode ter sido experimentada inúmeras vezes nos textos bíblicos, sem questionamento, pois como poderiam questionar um Deus todo poderoso? Afinal, duvidar dEle já era motivo para temer, primeiramente a um julgamento público, depois divino e então, uma ida ao inferno. Com isso, a religião, mais precisamente a Igreja Católica, comandou por centenas de anos as ações humanas e se manteve no poder, satanizando todos os seres que fugissem do padrão aceito socialmente. No âmbito comunicacional, fugiam até mesmo da expressão “comunicação em massa''. Por isso, adotaram a "comunicação social" já que na outra estava implícita a ideia de manipulação. A forma como os representantes da Igreja se intitularam “filhos de Deus” e escolhiam o modo de vida das pessoas, dizendo aos pobres, por exemplo, que Deus os queria em tal condição foi desumana. Comunidades de mulheres, negros e lgbt’s foram tratados como escórias sociais, pois não era do interesse da igreja perder seus poderes para novos grupos sociais. Os papas intervieram muito na política, criando conflitos entre reis e imperadores e, não é surpreendente, portanto, que até hoje possuímos a bancada evangélica - pelo menos no Brasil, como um grupo político importante. Outro mestre do Storytelling, que deparamo-nos nesse estudo foram os super-heróis, que têm em comum o nascimento no pós-guerra, sendo então, o medo e a insegurança das pessoas seu maior álibi. Construída por judeus, que são grandiosos no campo do storytelling ao longo da história, essas são mais umas das narrativas que buscam a mesma coisa: significado. Dar significado à nossa existência, às pessoas e coisas que nos cercam é a meta que buscamos desde sempre. Com esses exemplos de sucesso, cabe a ressalva de que é preciso representar algo, para não falhar em tudo, pois nesse período de economia da atenção não se pode ir atrás de modismos, temos, na verdade, que nos dedicar em construir relações consistentes. Sendo autêntico e tendo significado para o público (autenticidade - através de elementos que gerem identificação), já se tem um ótimo caminho para, pelo menos, prender a atenção. Aristóles, no livo “A ética” nos trás a seguinte questão: Como um ser humano deve viver sua vida? A função primária de uma história é o entretenimento, mas logo após essa análise, nos deparamos com a certeza de que também significa manter e conservar os aprendizados e as tradições. A busca por entretenimento também vem pela necessidade de oxigenação e socialização. Essa busca sofreu importantes transformações culturais, à medida em que ocorreram a convergência dos meios. Antes, um emissor todo poderoso emitia uma mensagem e, a todos nós, só cabia consumir esse conteúdo. Não havia muito espaço para que pessoas comuns produzissem e disseminassem o seu próprio. Mas, isso mudou com a cultura digital, especialmente depois da web 2.0. É pensando na união das velhas e atuais mídias que se faz necessário criar uma cultura da convergência, capaz de estimular a imaginação e a criatividade das pessoas — além de possibilitar a sensação de que estão fazendo parte daquele universo que tanto gostam. No livro Cultura da Convergência, o autor Jenkins fala sobre uma coisa chamada “Cultura Participativa”, onde o poder do público fica mais evidente, pois são utilizadas estratégias que chamem as pessoas para alguma ação, fazendo com que elas participem ativamente na construção daquele conteúdo, como, por exemplo, em programas onde o público vota o destino de algum jogador. Além disso, o público começa ser tão ativo que às vezes acaba deixando de somente apenas consumir, mas torna-se produtor de conteúdos, como os fãs de Harry Potter que em três dias traduziram os livros e postaram nas redes para que os outros fãs brasileiros tivessem acesso, através da sua linguagem nativa. Considerando, por exemplo, o Modelo de Lasswell, que apontava cinco questões cruciais para a compreensão correta da mensagem midiática: “Quem? Diz o quê? Através de que canal? A quem? Com que efeito?”. Observa que, embora a comunicação de massa tenha ocorrido unidirecionalmente na maioria dos canais, por um longo período de tempo, o público também pôde ter um papel ativo no processo, o que implica em ser possível fechar os ciclos comunicativos que parecem unilaterais. Uma história só é bem-sucedida quando trazemos o público para dentro dela. Uma vez conseguido isso, através da carga emocional, por exemplo, fica mais fácil de reter a atenção. E através desses estudos, como o dos arquétipos e das outras teorias dos vários autores que estudaram e estudam a comunicação e suas vertentes que, além de histórias incríveis, (pois, nos dias de hoje, vemos que é praticamente impossível suportar a existência humana sem imaginação e fantasia), também surgem manipulações que dificultam a compreensão do ser humano sobre si e sobre o outro. Seguindo essa afirmação, pode-se perceber por que os donos das maiores histórias do mundo utilizam, demasiadamente, recursos que acabam trazendo consigo consequências sociais que perduram, historicamente, como reguladores/balizadores e formadoras de caráter. Pois, sempre que nos expressamos, inevitavelmente o fazemos de um ponto de vista particular, sujeito a distorções culturais. Considerações Finais Desde os primórdios o homem sentiu a necessidade de comunicar-se, como bem sabemos isso iniciou-se através das pinturas rupestres, com os desenhos que contavam muito sobre as caças e evoluiu com o aparecimento da escrita; sendo então a transição da pré-história para a história, o que consideramos um dos fatores de transição mais importantes da história do mundo. Após a invenção da impressão, através da impressora de Gutemberg, pudemos observar uma rápida evolução em todos os âmbitos sociais. Com a imprensa e as diversas novas formas de comunicação o mundo passou a ter acesso a um tipo de conhecimento e informação que antes não existia. A partir do filósofo e comunicador John Dewey, com a Teoria dos Efeitos, passou-se a avaliar os efeitos da mídia sobre os seres humanos. Além disso, outro conceito que pode ligar-se a isso são os chamados“gatekeepers” - que funcionavam como porteiros da informação, podendo, portanto, ser pessoas que receberam influência de terceiros, que socialmente possuem um status com maior relevância e esse poderio midiático foi construído através do domínio hegemônico desde a época da colonização. Na área do marketing, por exemplo, pesquisadores afirmam que ela vem se modificando com o tempo e que está se afastando da ideia de uma publicidade invasiva, mas existem muitos dados que comprovam que isso não é tão verdadeiro assim. Por exemplo, uma pesquisa realizada pela agência Razorfish feita em 2014 mostrou que 73% dos brasileiros consideravam os anúncios em páginas, sites ou jogos uma grande interferência na experiência de navegação. Através dos Adwares -que são a combinação das palavras “advertising” (publicidade) e “software” (e se refere a qualquer software, malicioso ou não, que exibe anúncios em um aplicativo ou no navegador da web para gerar receita a partir de cliques e impressões em anúncios) empresas ganham cliques e vendas. Na internet o público tem vez e voz: opina, reclama, participa… E é justamente por esse motivo que entender esse público é fundamental para fazer uma boa campanha. Infelizmente, foi através desse pensamento que muitas tragédias ocorreram ao longo da história. Na Segunda Guerra Mundial, Hitler e o Partido Nacional Socialista, através de uma sábia e trágica estratégia de comunicação conseguiram, primeiramente levar milhares de jovens para a guerra e também exterminar milhões de Judeus; fazendo isso através da manipulação comunicativa: ativando o sentimento de patriotismo e de superioridade racial. Foi possível perceber, dentre essas e outras histórias, o quanto o poder, vulgo, quem está no poder teme que as massas sejam ativas e saibam interpretar e contar as suas próprias histórias, pois, se as massascontrolarem o poder, o poder deixaria de controlá-las O jogo de interesse que existe nessa relação, conta com diversos fatores mas esse, com certeza é primordial. Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer: foram os criadores do conceito de “Indústria Cultural” (que substitui o termo cultura de massa), onde a cultura é transformada em mercadoria, desde a manipulação e as mensagens ocultas. Alguns autores apontam sobre a consciência do público ao consumir esses anúncios e histórias, que não deve ser simplista, nem ingênua, porém como o ensino também é dominado por um grupo que não deseja sair do poder, esse é defasado e inconsistente. Ao Storytelling, portanto, que não se apliquem apenas críticas, pois é através dele que também podemos contar histórias boas, relevantes e verdadeiras, mas que, devido a uma construção histórica de poder, é fortemente influenciada a pender para o lado de maior capital. Assim, cabe ao público a contínua busca por conhecimento e interpretações de forma a usar o senso crítico, conquistado com o ensino escolar. Referênicias Xavier, Adilson. Storytelling: Histórias que deixam marcas. Best Business, 2015. HOHLFELDT, Antonio; FRANÇA, Vera V.; MARTINO, Luiz C. Teorias da Comunicação: Conceitos, escolas e tendências. Rio de Janeiro: Vozes, 2001 (2o pavimento, Área A, 301.14 T314tr). CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999. MORAES, Dênis de (org). Globalização, mídia e cultura contemporânea. Campo Grande: Ed. Letra Livre, 1999. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009
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