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1 EMPREENDORISMO E GESTÃO DE NEGÓCIOS NA ÁREA AMBIENTAL 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de em- presários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Gradu- ação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici- pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua forma- ção contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, ci- entíficos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela ino- vação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Sumário EMPREENDORISMO E GESTÃO DE NEGÓCIOS NA ÁREA AMBIENTAL ........ 1 NOSSA HISTÓRIA ....................................................................................................... 2 1 GESTÃO AMBIENTAL E GESTÃO ........................................................................ 4 1.1 ORIGENS E EVOLUÇÃO DAS PRÁTICAS DE POLÍTICA E GESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL ..................................................................................... 10 1.2 A BASE DE REGULAÇÃO PÚBLICA AMBIENTAL (1930-1971) ........... 11 1.3 DESENVOLVIMENTISMO E GESTÃO AMBIENTAL (1972-1987) ........ 13 2 DESENVOLVIMENTISMO E SUSTENTABILIDADE (DE 1988 AOS DIAS ATUAIS) ...................................................................................................................... 14 2.1 EMPREENDEDORISMO ..................................................................................... 21 2.2 GESTÃO AMBIENTAL E EMPREENDEDORISMO ......................................... 27 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 29 file:///C:/Users/Usuario/Desktop/APOSTILA%20%20%20EMPREENDORISMO%20%20E%20GESTÂO%20DE%20NEGOCIOS%20NA%20ARÉA%20AMBIENTAL.docx%23_Toc58924648 4 1 GESTÃO AMBIENTAL E GESTÃO A gestão ambiental é uma nova área do conhecimento e este fato vem causando alguma confusão entre os especialistas em meio ambiente. Para Ortega e Rodrigues (1994 apud SCARDUA, 2003), a gestão do meio ambiente pode ser definida como um conjunto de ações para levar ao fim uma política de meio ambiente, ou alcançar a manutenção de um capital ambiental suficiente para que a qualidade de vida das pessoas e do patrimônio natural seja a mais alta possível dentro de um complexo sistema de relações econômicas e sociais que condicionam tal objetivo. Por outro lado, Fernandez-Vitória (1997 apud SCARDUA, 2003) a define como o conjunto de atividades, meios e técnicas que tendem a conservar os elementos do ecossistema e as relações ecológicas entre eles, em especial quando se produzem alterações provocadas pelo homem. FONTE: Google imagens – acesso em 11/12/2020 De acordo com Bruns (2002), “a gestão ambiental visa ordenar as atividades humanas para que estas originem o menor impacto possível sobre o meio. Esta organização vai desde a escolha das melhores técnicas até o 5 cumprimento da legislação e a alocação correta de recursos humanos e financeiros”. Ainda segundo a autora, “o que deve ficar claro é que 'gerir' ou 'gerenciar' significa saber manejar as ferramentas existentes da melhor forma possível e não necessariamente desenvolver a técnica ou a pesquisa ambiental em si”2. Nesse sentido, conforme observa Lima (2002, p. 3), “hoje o termo gestão aparece sem maiores dificuldades no campo das políticas públicas, mas historicamente o seu emprego origina-se no domínio do privado, especialmente como um conceito jurídico administrativo”3. Godard (1997, p. 209) ao analisar os conceitos e as instituições implicadas no projeto de uma gestão mais integrada dos recursos naturais e do meio ambiente, também afirma que o conceito de gestão surgiu no domínio do privado e “diz respeito à administração dos bens possuídos por um proprietário”. Para o autor, no conceito original estão em jogo duas idéias importantes: a) esses bens são suscetíveis de serem apropriados por pessoas, mas eles podem ser separados dessas pessoas a ponto de sua administração poder ser confiada a um terceiro; b) repousando sobre uma relação entre um sujeito (o titular do direito de pro- priedade ou seu representante) e um objeto (o bem possuído), a relação de gestão pressupõe que o vir-a-ser do objeto, incluindo-se aqui sua destruição, submete-se aos projetos, usos e preferências do sujeito, o que manifesta a concepção plenamente desenvolvida do direito de propriedade que é, de forma última, um direito de destruir. (RÉMOND-GOUILLUD, 1989, apud GODARD, 1997, p. 209). Resgatando essas idéias, Lima (2002, p. 5) afirma que: 6 [...] hoje, quando se formula o conceito de gestão ambiental, anuncia- se muito mais do que a simples gerência de bens privados por um terceiro mandato, sem procuração ou representação legal [...]. Em projetos, planos e ativid- ades pautadas pelas diretrizes do conceito de desenvol- vimento sustentável4, o emprego do termo gestão deixa a raiz gerir e se acomoda no significado de gestar. Não se restringindo mais à gerência de bens particulares (ou públicos), mas também ao planejamento, à discussão pública, à implantação, ao monito- ramento e à avaliação de planos, programas e atividades, isto é, de gestão — da gestação coletiva — de políticas públicas ambientais e de desenvolvimento. Ainda, segundo Lima (2002, p. 5), “a gestão vista pela administração é tida como a própria gerência do bem econômico, envolvendo todo o processo ad- ministrativo na busca de atingir metas e os objetivos traçados (de planejamento, de organização, de produção, de rentabilidade, de comercialização)”. Assim considerada como um processo, a gestão possui características dinâmicas e flexíveis. “A cada mudança ou incremento no sistema produtivo (crescimento, expansão, complexidade), a gestão incorporava mecanismos de administração e um maior controle do processo do trabalho” (LIMA, 2002, p. 5). Nesse contexto, é possível afirmar que os modelos de gestão adotados pelas organizações são estabelecidos conforme uma dada situação, isto é, composta por uma realidade histórica, política, social, econômica e ambiental. Por esta razão, “em cada período de tempo, predominam certas abordagens (ou modelos), os quais são complementados ou questionados por modelos mais recentes que já incorporam novas variáveis” (PEREIRA, J., 1995, p. 8). Esta afirmação caracteriza-se como uma tendência, não significando que todas as organizações ajustarão, necessariamente, a sua evolução gerencial de acordo com as mudanças no seu contexto – há empresas que não evoluem ou não acompanham a velocidade das mudanças e tornam-se obsoletas. 7 Ao longo da história da ciência da administração, pôde-se registrar algumas Escolas da Administração que, em dado momento, sobressaíram-se a outras por responderem e se adequarem melhor à realidade da época. Tais escolas trouxeram consigo seus respectivos modelos de gestão, como, por exemplo: a escola das relações humanas, a abordagem estruturalista da administração,a abordagem dos sistemas abertos e, dentre outras, a abordagem contingencial da administração que, segundo Lima (2002, p. 6) “passa a abordar a influência nas condições e no espaço de trabalho, da tecno- logia e dos sistemas culturais, políticos, econômicos e sociais. Abre-se a gestão da produção às influências e condicionantes ambientais, internas e externas ao processo produtivo”. Para Lima, o surgimento do modelo da escola da abordagem contingencial da administração foi um passo importante para a aproximação entre gestão de negócios e a gestão ambiental, na medida em que variáveis ambientais inter- nas e externas ao processo produtivo passaram a exercer influência e assim nortear e balizar as tomadas de decisão que o conduzem. Atualmente, é im- possível fazer gestão de negócios e gestão ambiental sem que as variáveis internas e externas sejam efetivamente consideradas. A década de 1980 trouxe o estabelecimento do modelo de gestão participativa, o qual rompe com o modelo taylorista e fordista no que diz respeito à prática de separação entre as “tarefas de concepção e execução, da fragmentação e da especialização das tarefas e da desresponsabilização do trabalhador com a produção e com a vida da empresa” (LIMA, 2002, p. 6). O princípio da participação aqui executado por técnicos de empresas em todo o processo produtivo — planejamento, implantação, monitoramento e avaliação, foi também sendo incorporado por técnicos ambientais que passa- ram a definir a gestão ambiental como processo participativo, indo além do sig- nificado restrito de gerência e de direção para estabelecer um fluxo entre planejamento, implantação, monitoramento e avaliação dos recursos naturais. 8 Além da concepção de gestão enquanto um processo global — que permite romper com os limites impostos pelo gerenciamento restrito do bem econômico, ampliando a atuação do gestor a um ciclo que vai desde o planejamento à análise dos resultados, Lima (2002, p. 7) ainda traça outros paralelos entre o modelo de gestão de negócios e o modelo de gestão ambiental, tais como: A denúnciada falta de racionalidade do processo produtivo. Na empresa está caracterizada pelo foco na produtividade, e, na gestão ambiental está caracter- izada pelo foco na utilização mais racional dos recursos, na prevenção e pre- visão de futuros danos ou acidentes, no controle do desperdício, no reaproveit- amento de materiais. A internalização consiste em integralizar todos os custos do processo produ- tivo, inclusive os danos causados pela externalização dos impactos ambientais negativos (degradação, poluição, contaminação...). Ambos estão presentes nos dois casos. Diante do exposto, é possível perceber as semelhanças e as complemen- taridades entre gestão de negócios e gestão ambiental; logo, por conseqüên- cia, entre crescimento econômico e preservação ambiental. Isso nos leva ao conceito de desenvolvimento sustentável: “O Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a pos- sibilidade de as futuras gerações atenderem as suas próprias necessidades”. (NOSSO..., 1988, p. 46). Esse conceito se propõe a, de um lado, coroar e harmonizar a relação entre crescimento econômico, gestão de negócios e necessidades do presente e, de outro lado, preservação ambiental, gestão ambiental e necessidades futuras. Assim, a evolução do conceito de gestão ambiental vem acompanhando o pro- cesso de mudanças em todas as dimensões da vida contemporânea. A partir dos anos 70, uma das questões centrais que emergiram no contexto internac- ional diz respeito à questão ambiental, principalmente no que se refere ao grau 9 de compatibilidade entre o desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente. De fato, a antiga divisão entre os defensores da natureza, ditos ecologistas, e os que pregavam a exploração irrestrita dos recursos naturais, visando o desenvolvimento econômico, acabou sendo minimizada com o surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável. A incorporação desse conceito e a sua conseqüente aplicação pelas organizações acarretaram uma mudança no padrão de atuação, bem como na formação de profissionais com diferentes perfis: agregando a visão ambientalista à exploração “racional” dos recursos naturais. A ampliação da consciência coletiva em relação ao meio ambiente e a complexidade das atuais demandas ambientais da sociedade impõem um modelo de gestão ambiental compatível com essa nova realidade. Qualquer intervenção será insuficiente se não forem considerados os aspectos políticos, econômicos sociais e culturais. Nessa perspectiva, Lanna (2000, p. 75) define A gestão ambiental como um processo de articulação das ações dos diferentes agentes sociais que interagem em um dado espaço com vistas a garantir a adequação dos meios de exploração dos recursos ambientais naturais, econômicos e sócio-culturais às especificidades do meio ambiente, com base em princípios e diretrizes previamente acordados e definidos. Para efeito deste trabalho, a gestão ambiental deve integrar dialeticamente as organizações privadas, as organizações públicas, o terceiro setor e a sociedade civil. Sendo que a cada um desses atores cabe desempenhar suas funções, cumprir com suas responsabilidades e buscar sempre equilibrar a equação entre uso racional dos recursos naturais, promoção social e desenvolvimento econômico, correspondendo, dessa forma, ao princípio do desenvolvimento 10 sustentável. 1.1 ORIGENS E EVOLUÇÃO DAS PRÁTICAS DE POLÍTICA E GESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL Conforme visto, pode-se afirmar que a gestão ambiental é um conceito relativamente novo, que tem origens, semelhanças e complementaridade com o modelo de gestão dos negócios e que engloba um conjunto de ações para executar políticas de meio ambiente. A evolução do processo para levar a cabo essas políticas depende do momento histórico em que elas estão inseridas. Assim, para que se possa compreender o desenvolvimento das políticas ambientais praticadas pelas organizações públicas e privadas no Brasil, se faz necessário estabelecer as relações entre os contextos políticos, econômicos e sociais com o objetivo de retratar a evolução do modelo de gestão ambiental e seu estágio atual no Brasil. Ao longo do tempo, conforme observam Cunha e Coelho (2003, p. 45), podem-se constatar três elementos preponderantes nas políticas ambientais brasileiras, que guardam certa ordem cronológica, embora não sejam exatamente sucedâneos, mas cumulativos e complementares entre si. Estes podem ser assim definidos: Regulatórios – dizem respeito às ações baseadas em princípios de comando e controle: As políticas regulatórias dizem respeito à elaboração de legislação específica para estabelecer ou regulamentar normas e regras de uso e acesso ao ambi- ente natural e aos seus recursos, bem como à criação de aparatos institucion- ais que garantam o cumprimento da lei. (CUNHA; COELHO, 2003, p. 45). 11 Estruturadores – aquelas que intervêm diretamente na execução da pol- ítica, seja através do poder público, seja por meio de órgãos não-governa- mentais, como, por exemplo: criação de unidades de conservação, zone- amento ecológico-econômico, investimentos em projetos sustentáveis, etc. Indutores – são as políticas que influenciam o comportamento de pessoas, governos e instituições, normalmente identificadas com a noção de desenvolvimento sustentável e implementadas por meio de linhas especiais de financiamento ou de políticas fiscais e tributárias. Trata-se do uso estratégico de instrumentos econômicos que busquem privilegiar certas práticas consideradas ambientalmente desejáveis e inviabilizar aquelas que podem resultar em degradação ecológica. Como exemplos há incentivos à implantação de projetosde desenvolvimento sustentável, elaboração de Agenda 21, selos ambientais, etc. Da análise da literatura relativa à política e a gestão ambiental no Brasil (CUNHA; COELHO, 2003; NEDER, 2002; SILVA-SANCHEZ, 2000), é possível identificar três grandes momentos na história das políticas ambientais: a) de 1930 a 1971, marcado pela construção de uma base de regulação do uso dos recursos naturais; b) de 1972-1987, marcado por uma ação intervencionista do Estado e pela política de controle da poluição e de zoneamento industrial; c) de 1990 aos dias de hoje, marcado por processos de democratização e descentralização decisórias e pela rápida disseminação da noção de desenvolvimento sustentável. 1.2 A BASE DE REGULAÇÃO PÚBLICA AMBIENTAL (1930- 1971) É possível considerar que a partir de 1930 — período que marca a transição do modelo de desenvolvimento econômico agrário-exportador 12 do país para o modelo baseado na incipiente industrialização — até os dias de hoje o Brasil consolidou na gestão ambiental os três elementos de políticas anteriormente citados, porém de maneira gradual. Até o ano de 1971, no contexto de fatos históricos como a Revolução de 1930, a elaboração da Constituição de 1934, a intensificação do processo de industrialização e a rápida urbanização, ambos centrados na ação do Estado, foi caracterizado um período da gestão ambiental marcado por políticas regulatórias e incipientes políticas estruturadoras. Quanto às políticas regulatórias, registra-se a promulgação dos Códigos Florestal, das Águas e de Minas (1934); a criação da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (1956); a criação do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS (1963); a promulgação ou reformulação dos códigos de pesca (1965), de minas (1967) e florestal (1967) e a criação do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF (1967). No que se refere às políticas estruturadoras, registra-se, dentre outras, a declaração de áreas florestais como as florestas protetoras (1934); a criação do primeiro parque nacional – Itatiaia, no Rio de Janeiro em 1937 e a criação da primeira floresta nacional na Amazônia – FLONA de Caxuanã em 1961. Conforme observa Silva-Sanchez (2000, p. 67): [...] o primeiro momento da política ambiental brasileira foi marcado por duas preocupações básicas: a racionalização do uso e exploração dos recursos naturais e a definição de áreas de preservação permanente [...]. O principal objetivo dessa política foi regulamentar a apropriação dos recursos naturais em âmbito nacional. A política ambiental brasileira nasce de forma tímida, sob o regime de Vargas, marcada por características bastante peculiares: O "Estado" administra os recursos naturais, de modo a atender a indústria nascente; o Executivo concentra os instrumentos de controle e gestão de recursos; a sociedade 13 está ausente no momento de elaboração das políticas ambientais. 1.3 DESENVOLVIMENTISMO E GESTÃO AMBIENTAL (1972- 1987) O período compreendido entre 1972 e 1987 foi caracterizado pelo chamado “milagre econômico brasileiro”; pela intensificação do processo de industrializa- ção; pelo inchaço d grandes cidades; pela crise do petróleo; por uma crise econômica internacional; e pela Assembléia Nacional Constituinte. Naquele contexto, a ênfase das políticas ambientais se deu na constituição de estruturas administrativas encarregadas de proceder a proibições, licenciamentos e ou- torgas. Esse é o momento em que a ação intervencionista do Estado chega ao ápice, com foco total no desenvolvimento, ao mesmo tempo em que aumentava a crise ecológica global. No tocante às políticas regulatórias do período, destaca-se a criação da Secre- taria Especial de Meio Ambiente – SEMA, em 1973, marcando uma nova fase na política ambiental, mais voltada para o controle da poluição industrial. Con- forme ressalta Monosowski (1989), “a criação de um órgão com as carac- terísticas da SEMA estava em sintonia com a estratégia autoritário-burocrática da modernização do Estado, pautado em suposta eficiência técnica”. Além disso, foi também uma resposta à pressão internacional, que se manifestou na Conferência de Estocolmo, onde o Brasil defendeu o crescimento econômico a qualquer preço como forma de superar o subdesenvolvimento. Nas políticas estruturadoras, registram-se a formulação e a elaboração da Pol- ítica Nacional de Meio Ambiente – PNMA e do Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras (1981). A gestão ambiental se manifesta por intermédio da utilização, pelos órgãos ambientais, de instrumentos do tipo comando e con- trole, tais como: estabelecimento de padrões da qualidade ambiental; zonea- mento ambiental; avaliação de impactos ambientais; licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; incentivos à produção e à instalação de equipamentos de controle de poluição; e criação de tecnologias direcionadas para a melhoria da qualidade ambiental, entre outros. 14 De acordo com Neder (2002), o enfoque estratégico da Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA é que as atividades das empresas privadas e estatais tornaram-se sujeitas a penalidades disciplinares ou compensatórias associa- das ao não-cumprimento das medidas necessárias à preservação ambiental. Com a PNMA e, especialmente, a partir de 1986 com a Resolução do CONAMA/001, o Estado é responsabilizado em relação aos danos ambientais causados por suas próprias atividades. Cabe ressaltar, nesse período, a obrigatoriedade do Estudo de Impacto Ambi- ental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), que passam a nortear as ações dos órgãos ambientais para o licenciamento das atividades potencial- mente poluidoras. A criação de reservas extrativistas em 1985 demonstra clar- amente o início das políticas indutoras, já que a atividade extrativista gera tra- balho e renda, influenciando assim o comportamento de um segmento social. Também é importante ressaltar que o país começa a contar com a parceria das ONGs na implementação das políticas estruturadoras e indutoras. 2 DESENVOLVIMENTISMO E SUSTENTABILIDADE (DE 1988 AOS DIAS ATUAIS) No período atual, que se inicia em 1988 e prossegue até os dias correntes, já se pode afirmar que a gestão ambiental no país dá-se tanto no âmbito isolado de cada uma das esferas, pública e privada, quanto na interação entre ambas. Assim, pode-se dizer que os três destacados elementos de políticas ambientais estão presentes no período, marcado pela crise ambiental mundial que fomentou um movimento internacional, cujo ápice foi a realização da Conferência ECO-92, o qual, por sua vez, lançou as novas bases do desenvolvimento sustentável global baseado nos procedimentos da Agenda 21. 15 O Brasil, como sede da Conferência ECO-92, recebeu influências positivas dessa discussão internacional, embora vivesse um momento conturbado de sua história, pois a redemocratização, ocorrida entre os anos de 1985 a 1990, era recente e a Constituição de 1988, progressista e ambientalmente correta, já estava sendo questionada quanto ocorreu o impeachment do Presidente Collor. Nos últimos dez anos, a economia passou por momentos difíceis; no entanto, o país avançou na área da gestão ambiental, embora não o tenha feito na velocidade desejada. Nas políticas regulatórias referentes ao período, registrou-se a Lei de Crimes Relativos aos Agrotóxicos (1989); a Lei de Crimes Relativos à Poluição; a criação do Ministério do Meio Ambiente e Amazônia Legal (1993); a criação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (1997); a criação da Lei de Crimes Ambientais – LCA (1999); criação da Agência Nacional de Águas - ANA e do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (2000); e o estabelecimento do conselho Nacional de Gestão do PatrimônioGenético (2001). No que diz respeito às políticas estruturadoras, continuou-se com a criação de Unidades de Conservação, já sob a regulamentação do SNUC; formulou-se a Política Nacional de Recursos Hídricos; definiram-se os Corredores Ecológicos; estimulou-se a elaboração do Zoneamento Econômico e Ecológico (ZEE), sendo, este último, realizado em Rondônia ao longo dos anos 90, sob o patrocínio do Banco Mundial. Quanto às políticas indutoras, fizeram-se notar com maior ênfase em financiamentos para projetos de desenvolvimento sustentável apoiados pelo Fundo Nacional de Meio Ambiente. FNMA; condicionamentos ambientais às ações de fomento por órgãos ofi- ciais; educação ambiental; e a construção de Agendas 21 locais e regionais. A fase que abre os anos 90 é de intenso envolvimento de organizações não 16 governamentais ambientalistas e sócio-ambientalistas, além do meio empresarial. No campo não estatal, ganham força as medidas voltadas para a certificação ambiental, selo verde, e para a aquisição de padrões “International Organization for Standartization – ISO". A responsabilidade empresarial quanto ao meio ambiente deixa de ter apenas característica compulsória para transformar-se em atitude voluntária, superando as próprias expectativas da sociedade. Situar-se acima de exigências legais, mediante sistema de gestão ambiental, deixa de ser apenas uma estratégia preventiva para constituir-se mesmo em vantagem competitiva e diferencial de mercado. Guiando-se pelo atendimento isolado aos principais estatutos federais e estaduais, e não em função dos mecanismos do mercado, a gestão ambiental promovida pelas indústrias, ainda na década de 1980, caracterizava-se por ser reativa, limitada, setorializada e fragmentada, apesar de alguns gestores ambientais já haverem, à época, vislumbrado soluções sistêmicas mais amplas, embora sem conseguir implementá-las. Para Tibor (1996, p. 40): Os gerentes ambientais eram, normalmente, gerentes de crises e não planejadores proativos. Muitos eram conscientes de que os problemas de conformidade às regulamentações podiam, com freqüência, serem diagnosticados como problemas sistêmicos [...], porém, poucos deles implementavam mudanças em nível de sistema. Ainda, pode-se afirmar que a gestão ambiental praticada pelo setor produtivo baseava- se, inicialmente, em relações do tipo comando e controle, nas quais quase todas as etapas do processo produtivo eram associadas a uma regulamentação específica, desde a compra de matéria prima até a disposição dos resíduos. As auditorias ambientais eram realizadas nas indústrias a fim de assegurar sua conformidade e demonstrar suas boas intenções ao público, aos investidores, aos credores e aos concorrentes. Em termos práticos, as indústrias responderam com a instalação de 17 equipamentos redutores de poluição, que, a despeito de seu alto custo, mostraram-se insuficientes para resolver os problemas ambientais. Na condição de pessoas jurídicas as indústrias sofriam aplicação de multas por parte dos órgãos públicos ambientais Apenas no ano de 1998, com a promulgação da Lei de Crimes Ambientais, é que pessoas físicas, no caso, diretores, administradores, membros de conselho e mandatários de pessoas jurídicas, passaram a ser passíveis de prisão em caso de comprovada culpabilidade pelos crimes ambientais previstos na Lei. Os infratores pessoas físicas ainda passaram a incorrer no pagamento de multas. Na Lei, a responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato, ou seja, ambas, concomitantemente, podem sofrer as implicações previstas. O endurecimento da legislação, a pressão exercida pela sociedade para a proteção ao meio ambiente, a análise minuciosa executada por instituições financeiras que, atualmente, verificam se fábricas em construção e novos processos produtivos não trarão problemas ambientais que depreciem o valor de seus investimentos e, principalmente, os altos custos de instalação de equipamentos de controle de poluição e sua relativa ineficiência contribuíram para alavancar o melhoramento da gestão ambiental desenvolvida pelos segmentos privados. Assim, a tradicional abordagem de comando e controle em relação às regulamentações estatais foi ampliada para incluir mecanismos de mercado. Tal evolução pode ser caracterizada como a segunda geração de respostas do setor produtivo às questões ambientais. Os mecanismos de mercado, tais como incentivos tributários, intercâmbios de emissões, taxas de poluição, taxas pelo uso de combustível e outros, demandaram dos gestores ambientais posições mais pró-ativas e sistêmicas, ao invés de passivas e reativas. Estes passaram então a atuar na redução de resíduos e efluentes, no uso racional da energia, na 18 reciclagem de materiais e na diminuição de custos relativos ao processo produtivo. Agora, teoricamente, a gestão ambiental deixa de ser uma função de conformidade aos regulamentos do setor estatal para se enquadrar no planejamento estratégico e nas operações do dia-a-dia das organizações. A gestão ambiental torna-se presente em todas as etapas do processo produtivo, desde o projeto inicial até a avaliação dos resultados, torna-se um fluxo, um fator comum a todas as áreas. É nesse cenário que ganha importância e espaço o Sistema de Gestão Ambiental – SGA, um importante instrumento hoje utilizado por algumas organizações que procuram se situar acima das exigências legais, adquirindo vantagem competitiva e diferencial no mercado. A implantação do SGA, resultado prático da certificação das séries das normas ISO 14000, mais especificamente das normas que tratam da organização (14001-14004), visa promover a melhoria contínua dos resultados ambientais e econômicos das empresas, além de ser, em alguns casos, condição essencial para a conquista do mercado externo, já que, atualmente, tratados de comércio exterior podem exigir que empresas exportadoras possuam tal certificação. Porém, alguns autores acreditam que já não se pode enfrentar os problemas ambientais apenas por meio de mecanismos de mercado. Questionam, sobretudo, a relação entre o alto custo dos processos de certificação e os reais benefícios ambientais alcançados. Byron (2001, apud COELHO e CUNHA, 2003, p. 62) “se surpreende com a quantidade de dinheiro e esforços gastos com a certificação ambiental”. Para Kant (2001 apud COELHO; CUNHA, 2003, p. 62), Ainda que o processo de certificação florestal, por exemplo, tenha aumentado as oportunidades de consulta entre diversos atores sociais envolvidos com o manejo florestal, seu objetivo principal, o de reduzir o ritmo do desmatamento das florestas 19 tropicais do mundo, tem falhado. Generalizando-se a firmação de Kant (2001), pode-se dizer que os processos de certificação ambiental contribuíram para aumentar as oportunidades de consulta e participação entre os diversos atores sociais envolvidos com a gestão dos recursos naturais. Aqui, é possível caracterizar uma terceira geração de respostas às questões ambientais, agora não apenas provindas do setor produtivo. A gestão ambiental passa a ser desenvolvida de forma integrada entre o setor produtivo, as organizações públicas, o terceiro setor e a sociedade civil, baseando-se em relações de parceria. As relações de parceria constituem-se em modelos alternativos de participação de diversos atores sociais nos processos de formulação de políticas e de implementação de programas e projetos de caráter ambiental. Porém, o que se vê na realidade é a participação da sociedade restringir-se normalmente à etapa de implementação, permanecendo a etapa de formulação das políticas e das estratégias de gestão ambiental centrada nas instituições públicas. Assim, o Estadomantém-se como o ator principal: o responsável direto pela definição das linhas principais da política ambiental brasileira e pela mediação de conflitos decorrentes dos diversos interesses dos outros atores sociais. Vale ressaltar uma interessante contradição presente nessa relação. Conforme visto anteriormente no Capítulo I, nos anos 90, com a reforma administrativa do Estado, observa-se no Brasil a tentativa de enxugar a máquina estatal por meio de experiências desestatizantes. Porém, nos limites deste mesmo cenário, observa-se surgir a questão ambiental como uma expressiva exceção à regra geral, já que foram sendo criadas estruturas governamentais voltadas para a regulamentação e fiscalização das atividades causadoras de possíveis 20 danos ambientais. Ainda que o Estado tenha se mantido como ator principal na condução da política ambiental brasileira, é inquestionável a participação efetiva de novos atores e de novos parceiros. Entre os atores não estatais, estão incluídas as organizações internacionais e as organizações não governamentais sem fins lucrativos – ONGs. As organizações internacionais como Banco Mundial e Organização das Nações Unidas – ONU têm forte peso na definição de uma agenda ambiental global e cooperam com países em desenvolvimento em programas que afetam diretamente o meio ambiente. As ONGs também participam da definição de uma agenda ambiental, tanto internacional como nacionalmente, influenciam nas negociações sobre mecanismos de regulação, exercendo pressão sobre o Estado, e põem em prática as políticas ambientais de agências de doadores internacionais, mediante implementação de projetos de intervenção direta ou de programas de pesquisa. Atualmente, é imprescindível que a gestão ambiental passe a ser desenvolvida com base em negociações e em relações de parceria com representantes das ONGs, configurando um novo modelo de gestão. Como exemplo, pode-se citar a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres – RENCTAS, ONG que ainda aliou uma estratégia empreendedora à gestão ambiental desenvolvida em prol do combate ao tráfico da fauna silvestre. A seguir, será analisado o desenvolvimento dessa estratégia no âmbito da gestão ambiental. Para tanto, primeiramente, é necessário estudar de maneira mais ampla o tema “empreendedorismo”, enquanto modelo de gestão que foca as características que conformam o perfil e o comportamento do agente transformador das organizações. 21 2.1 EMPREENDEDORISMO Conforme visto, pode-se reafirmar que os modelos de gestão adotados pelas organizações são estabelecidos conforme uma dada realidade histórica, política, social, econômica e ambiental. Nesta perspectiva, busca-se situar a origem histórica do modelo de gestão empreendedor que, para Silva (2002), ocorre no período de transição entre a Segunda Onda, também chamada de Era da Revolução Industrial, e a Terceira Onda, ou Era da Informação5. Essa transição veio acompanhada de mudanças de valores que, por sua vez, acarretaram significativos impactos nos campos econômico, político, social, cultural, organizacional, e etc., que se encontram destacados nas análises das megatendências dos anos 80 e do século XXI6. No mesmo enfoque, Pereira (1995) pontua que a revolução da informação pôde ser dividida em duas eras empresariais: a era da qualidade, na década de 1970 e a era da competitividade, na década de 1980. Estas, por sua vez, caracterizaram-se por possuirem, numa escala cronológica, três modelos de gestão: O modelo da administração japonesa, que atingiu seu apogeu na dé- cada de 1970 e possibilitou àquele país se recuperar dos estragos sofridos durante a II Guerra Mundial. O modelo baseava-se no princípio da melhoria da qualidade, de Edwards Deming — no qual a inspeção da qualidade “abrange todo o processo de produção, desde os insumos até o consumidor, bem como a revisão do projeto do produto/serviço para o futuro” (PEREIRA, J., 1995, p. 78). O modelo de gestão da administração participativa, conforme visto anteriormente, tem como base o princípio da participação, que amplia a noção de gerência para a noção de gestão, na medida em que téc- 22 nicos da organização passam a interagir em todo o processo produ- tivo da organização: do planejamento à avaliação dos resultados. Se- gundo Lima (2002), esse modelo teve início nos anos 80. O modelo de gestão empreendedora, por ser um dos objetos de es- tudo, será, a seguir, explorado quanto ao conceito e às principais ca- racterísticas do empreendedorismo sócio-ambiental. A escala cronológica apresentada por Pereira (1995) não “congela” a realidade e não implica que a prática dos modelos de gestão nas organizações aconteceu em prazos determinados e que não foram concorrentes entre si. Esta apresentação representa uma realidade dinâmica e multifacetária. Antes de iniciar o estudo do empreendedorismo sócio-ambiental propriamente dito, cabe revisar a produção intelectual referente ao seu contexto mais amplo. Pode-se começar considerando que pesquisadores e intelectuais tendem a perceber e definir o termo empreendedor usando premissas de suas próprias disciplinas; assim, economistas associam o empreendedor com inovação, enquanto os comportamentalistas concentram-se em seus aspectos criativos e intuitivos. Pesquisadores como o canadense Louis Jacques Filion, da Escola de Altos Estudos Comerciais – HEC de Montreal, concordam em dizer que a origem deste conceito remonta ao século XVIII, início da Revolução Industrial no Reino Unido, nas obras de Cantillon (1755), que foi um banqueiro da época, mas que hoje poderia ser considerado um investidor de risco. Filion (1999, p. 2) assim interpreta o conceito de empreendedor adotado por Cantillon em 1755: “Para ele, o empreendedor era aquele que 23 comprava matéria prima por um preço certo para revendê-la a um preço incerto. Ele entendia, no fundo, que se o empreendedor lucrava além do esperado, isto ocorria porque ele havia inovado: fizera algo de novo e de diferente.” O economista, industrial e professor do Collège de France, Jean-Baptiste Say adotou, em 1803, o termo entrepreneur ou empreendedor para designar, segundo Osborne e Gaebler (1994, p. XVI), “aquele que movimenta os recursos econômicos de um setor de menor produtividade para outro de maior produtividade e melhor rendimento”. É importante perceber que, tanto em Cantillon como em Say, o empreendedor era considerado como alguém que aproveitava a oportunidade de inovar nos negócios na perspectiva de obter lucros, porém, assumindo os riscos inerentes ao processo. Entretanto, foi o economista austríaco Joseph Schumpeter, autor do conceito de “destruição criativa”, empresário empreendedor, quem realmente lançou o campo do empreendedorismo associado à inovação: A essência do empreendedorismo está na percepção e aproveitamento das novas oportunidades no âmbito dos negócios... sempre tem a ver com criar uma nova forma de uso dos recursos nacionais, em que eles sejam deslocados de seu emprego tradicional e sujeitos a novas combinações. (SCHUMPETER, 1928). Schumpeter também associa o empreendedor ao desenvolvimento econômico, pois cabe ao empresário empreendedor ser o agente ativo no processo de “destruição criativa” que provoca o desequilíbrio dinâmico, em vez do equilíbrio e da otimização almejados pela economia clássica. A “destruição criativa” para Schumpeter é a marca de uma economia dinâmica e sadia. A economia impôs barreiras ao estudo do empreendedorismo na medida em que o limitava apenas como um conceito quantificável e mensurável. Esta re- strição acabou direcionando o universo do empreendedorismo para os intelec- tuais e pensadores de outras áreas da ciência, como: psicologia, sociologia,24 psicanálise, dentre outras. Este grupo de pesquisadores, para quem o em- preendedorismo era um conceito intangível e não mensurável, foi denominado de comportamentalistas; por buscar um conhecimento mais aprofundado acerca do comportamento do empreendedor. Para Filion (1999, p.6) um dos primeiros pensadores a mostrar interesse no estudo do comportamento do empreendedor foi Max Weber (1930): Ele identif- icou o sistema de valores como um elemento fundamental para a explicação do comportamento empreendedor. Ele via os empreendedores como inovado- res, pessoas independentes cujo papel de liderança nos negócios inferia uma fonte de autoridade formal. Porém, sob o ponto de vista comportamental, quem melhor define a atitude do empreendedor é McClelland (1961), para quem tais pessoas estão estimuladas a trabalhar duramente para atingir um objetivo pessoal e seu comportamento se manifesta através de três níveis de motivação: Necessidade de realização: é a necessidade do sucesso competitivo, medido em relação a um padrão pessoal de excelência. Cada pessoa tem seu critério próprio de sucesso — motivo financeiro, realização profissional, reconhecimento, entre outros Necessidade de afiliação: é a busca de relacionamentos afetivos com outras pessoas; Necessidade de poder: visando controlar ou influenciar outras pessoas. Ainda sob este enfoque, Fernando Dolabela, professor, autor de livros sobre o tema, e referência nacional sobre o assunto, assim observa o comportamento do empreendedor: O empreendedor é alguém capaz de desenvolver uma visão, mas não só. Deve saber persuadir terceiros, sócios, colaboradores, investidores e convencê-los de que sua visão poderá levar todos a uma situação con- fortável no futuro. 25 Além de energia e perseverança, uma grande dose de paixão é necessária para construir algo a partir do nada e continuar em frente, apesar de obstáculos, armadilhas e da solidão (DOLABELA, 2003, p. 44). Além dos economistas e dos comportamentalistas, pesquisadores de outras áreas, motivados pela ascensão do tema — Filion (1999) afirma que só no Canadá, anualmente, são editadas sobre o tema mais de mil publicações, são realizadas mais de 50 conferências e são editados mais de 25 revistas espe- cializadas —, colocaram em questão a relevância de se conceituar o em- preendedorismo pela ótica do “quem é o empreendedor?”. Esses pesquisa- dores propuseram que o marco central da pesquisa fosse alterado para “o que faz o empreendedor?”. Filion (1997) observa que ao longo dos anos 90 várias pesquisas foram desen- volvidas sobre empreendedorismo por diferentes pesquisadores. Nestas, foram identificadas 25 temas como sendo mais comumente associados ao em- preendedorismo, dentre os quais se destacam: parceria estratégica; redes; mulheres, grupos minoritários, grupos étnicos e empreendedorismo; educação empreendedora; empreendedorismo e sociedade. Nota-se, a partir dessa observação, que o empreendedorismo rompe de vez com as fronteiras da economia, ampliando seu leque de relações, que passa, então, a incluireducação sociologia, antropologia, informática, etc. É de se notar, também, que nas pesquisas catalogadas por Filion (1997) nenhuma referência foi feita à relação entre empreendedorismo, o homem e o meio ambiente. A mesma escassez foi sentida durante a pesquisa bibliográfica executada para o desenvolvimento desta dissertação, que tem como objetos de estudo o em- preendedorismo e a gestão ambiental. Apenas algumas poucas referências bibliográficas, que serão posteriormente comentadas, foram identificadas nesta área. 26 Apesar disso, sabe-se que, conforme discutido no capítulo 1, nas últimas dé- cadas houve crescimento do número de organizações sem fins lucrativos que incorporaram o modelo de gestão empreendedor associado às causas sociais e ambientais. Assim, constata-se que a relação entre empreendedorismo e gestão ambiental nas organizações sem fins lucrativos já vem sendo desen- volvida na prática por seus representantes. Este fato marca o início de um novo conceito para o empreendedorismo, o de- nominado empreendedorismo social, precursor de um conceito mais amplo e que melhor caracteriza a relação entre empreendedorismo e gestão ambiental: o empreendedorismo sócio-ambiental. Antes de iniciar a exposição dos atuais conceitos de empreendedorismo social, serão expostas as diferenças entre empreendedores sociais e em- preendedores de negócios. O ponto de partida para a exposição das diferenças será, contrariamente, uma semelhança: ambos associam a inovação e a criação ao senso de oportunidades, ou seja, ambos criam e inovam quando sentem uma oportunidade para tal. Neste caso, a diferença reside no tipo de criação que daí surge. A criação central do empreendedor de negócios esta voltada para produtos ou serviços que geram riquezas, que terão o seu valor determinado pelas regras e pelo ritmo do mercado. No empreendedor de negócios, a criação central está direcionada para a sua missão, que pode ser, por exemplo, diminuir os índices de analfabetismo numa dada região, ou, reinserir na sociedade. grupos específicos de excluídos, ou, num contexto mais amplo, promover a geração de renda em uma dada comunidade, associação, grupo, etc. São inúmeras as possíveis missões que um empreendedor social pode vir a assumir num país carente como o Brasil. Conseqüentemente, a missão social do empreendedor social 27 também produz bens e serviços — só que não mais com o foco no mercado. O empreendedor social produz bens e serviços para a comunidade, e seu foco está direcionado para a busca de soluções para problemas sociais. A criação central do empreendedor social, ou seja, idéias, conceitos e metodologia, não são de apropriação individual e de registro de propriedade material e intelectual, a exemplo dos registros de patentes e marcas, feitos pelos empreendedores de negócio. Ao contrário, suas idéias são de caráter coletivo, devem ser multiplicadas e aplicadas em outras situações, caso seja comprovada a eficiência na resolução dos problemas. O empreendedor de negócios superdimensiona a economia; assim, suas ações são desenvolvidas para obter o máximo de lucro possível, o que, conseqüentemente, servirá de indicador do seu desempenho: quanto maior o lucro, melhor o desempenho do empreendedor. Outro indicador de desempenho nesse caso é o grau de satisfação das necessidades dos clientes e a medida de crescimento dos negócios. Aqui, o escopo de atuação do empreendedor de negócios é o mercado atual e potencial. O empreendedor social concentra seus esforços na dimensão social, colocando a economia em segundo plano. O seu indicador de desempenho é o impacto social desencadeado a partir de suas ações e o seu escopo de atuação é a comunidade ou as comunidades afetadas pelos problemas. O quadro abaixo sintetiza o exposto: 2.2 GESTÃO AMBIENTAL E EMPREENDEDORISMO Primeiramente, é preciso evidenciar que, a partir deste ponto da dissertação, será adotado o conceito de empreendedorismo sócio- ambiental em todas as referências feitas ao empreendedorismo. Em 28 seguida, deve-se retornar ao conceito de gestão ambiental aqui adotado: a gestão ambiental deve integrar dialeticamente as organizações privadas, as organizações públicas, o terceiro setor e a sociedade civil. A cada um destes atores cabe desempenhar suas funções, cumprir com suas responsabilidades e buscar sempre equilibrar a equação entre uso racional dos recursos naturais, promoção social e desenvolvimento econômicocorrespondendo, desta forma, ao princípio do desenvolvimento sustentável. É justamente na questão do princípio do desenvolvimento sustentável que se nota a primeira relação entre empreendedorismo sócio-ambiental e gestão ambiental: ambosdirecionam seus esforços no sentido de promovê-lo. Seja através da minimização da exclusão social e dos impactos ambientais negativos; seja através da busca do equilíbrio da equação entre o uso racional dos recursos naturais, promoção social e desenvolvimento econômico. Nesse caso, o que os diferencia é que o primeiro pensou uma questão sócio-ambiental de forma inovadora e única; já no segundo caso esta mesma questão foi tratada de forma usual. Outra relação situa-se na forma de atuação: o estabelecimento de parcerias. O empreendedorismo sócio-ambiental desenvolve suas ações por meio de redes de parcerias e, na gestão ambiental, as organizações públicas, privadas, o terceiro setor e a sociedade civil devem estar dialeticamente integradas, o que também caracteriza o estabelecimento de parcerias. Uma terceira relação se estabelece no momento em que instituições como a Ashoka ofertam recursos financeiros, humanos e conhecimento para a implementação de idéias empreendedoras sócio-ambientais que, ao serem postas em prática, podem trazer resultados positivos para a gestão ambiental. Finalmente, conforme visto, pode-se afirmar que tanto o 29 empreendedorismo sócio-ambiental como a gestão ambiental tiveram suas origens na esfera privada, nos negócios. Foi apenas após a incorporação de valores sociais e ambientais que ambos evoluíram e passaram a adotar os novos conceitos. FONTE: Google imagens – acesso em 11/12/2020 Analisados os pressupostos teóricos que fundamentam a relação entre empreendedorismo e gestão ambiental, se faz necessário, com base nos dados coletados pela pesquisa, caracterizar as políticas de gestão ambiental desenvolvidas pelas RENCTAS e pelo IBAMA no combate ao tráfico de animais silvestres, para, então, ainda com base nos dados das pesquisas, caracterizar o modelo de atuação da parceria desenvolvida entre ambos no desempenho desta atividade. Este modelo ainda explicitará como a primeira, a segunda e a terceira relações realmente acontecem na prática; a quarta relação, por ser somente de fundo teórico, não poderá ser tratada sob este enfoque. REFERÊNCIAS ASHOKA Empreendedores Sociais. Programa de seleção e fellowship Brasil e Paraguai. 30 Workshop de treinamento para fellows 2000 [s.n.t.]. BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. 9. ed. Brasília: Ed. Univ. Brasília, 1997. BORN, R. H. Terceiro setor. 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