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CONVERSA INICIAL
Os desafios para alcançarmos o desenvolvimento e o equilibrio planetário são inúmeros. A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é um dos caminhos para o desenvolvimento sustentável. Conhecer o contexto e os fatores que influenciam esta diretriz de gestão estratégica é parte da etapa inicial.
Nesta primeira aula, apresentamos a origem de conceitos relativos a RSE, terceiro setor e sustentabilidade. Aprofundaremos a temática das organizacões da sociedade civil, explicando as características do terceiro setor, o papel que ocupa dentro do sistema organizacional e práticas atuais relacionadas. Retomaremos o tema da sustentabilidade no terceiro tema da aula, com mais detalhamento, de modo a desvelar sua importância, além dos aspectos políticos, econômicos e sociais aos quais se correlaciona.
Também apresentaremos a questão ambiental, com ênfase na evolucão histórica global e no Brasil, fazendo uma análise dos efeitos de mudanças culturais, técnicas, científicas e sociais. O propósito deste estudo é contribuir para a construção de elementos norteadores, que possibilitem ações efetivas para a Gestão da Responsabilidade Social Empresarial.
Para melhor compreensão de conceitos e sua aplicabilidade, trataremos separadamente o tema RS e Sustentabilidade, embora esteja integrado no processo.
CONTEXTUALIZANDO
O panorama mundial, quanto aos impactos socioambientais provocados pela industrialização no curso da história, é marcado pelo uso irrestrito dos recursos naturais e por elevados índices de desigualdade social, realidade que a maioria dos países enfrenta na atualidade. Temos uma história de revoluções industriais cíclicas. Essas revoluções têm sido consequência de um sistema econômico, social, político e cultural fundamentado na produção e no consumo de mercadorias e serviços. Vivenciamos nesse momento a Quarta Revolução Industrial. Ela é marcada por forte participação da sociedade civil, que veio gradativamente se organizando em movimentos associativos comunitários e ONGs de atuação nacional e global, de forma a estabelecer canais de comunicação, reivindicação e pressão para que as indústria, empresas e governos mudem a sua maneira de fazer negócios. Novas teorias de
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administração orientam os gestores, e assim o paradigma do crescimento a qualquer custo está sendo deixado de lado. Mas ainda há muito por fazer. O capitalismo precisa dar lugar ao desenvolvimento sustentável.
Depois de assistir esta aula, reflita sobre essas questões observando o que ocorre na sua cidade, como é sua realidade e seu entorno; considere quais impactos socioambientais estão mais visíveis. E, caso tenha a possibilidade de interagir com uma indústria ou empresa, analise-a sob a ótica da RSE.
TEMA 1 – ORIGEM E CONCEITOS: RSE E SUSTENTABILIDADE
Para a compreensão dos conceitos pertinentes ao tema responsabilidade social e sustentabilidade, vamos estudar a evolução do pensamento desses dois movimentos globais. Tanto a Responsabilidade Social Empresarial quanto a Sustentabilidade promovem mudanças em todos os segmentos de uma empresa, moldando uma nova maneira de fazer negócios. Ambas as áreas são diretrizes estruturantes que norteiam a política de governança de uma organização, além de sua política de gestão, rumo ao equilíbrio social, ambiental e econômico como bases para a perenidade do negócio.
O aspecto desafiador é o modo como lidar com a equação lucro versus responsabilidade social, algo impensado décadas atrás pela Escola da Economia Clássica, que apontava que a única obrigação de uma empresa seria gerar lucro para seus acionistas de acordo com os limites legais. O que chamamos de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) se fundamenta na ética da responsabilidade. Segundo o Livro Verde da Comissão Europeia (2002), responsabilidade social é “um conceito segundo o qual, as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e um ambiente mais limpo”. Outra definição bastante aplicada pelas empresas, por ser de uma das ONG pioneiras no Brasil, é do Instituto Ethos (2007):
RS é a relação que a empresa estabelece com todos os seus públicos (stakeholders) no curto e no longo prazo. As ações das empresas precisam ser pautadas nos seguintes temas: Valores, transparência e governança; Público interno; Meio ambiente; Fornecedores; Consumidores/clientes; Comunidade ; Governo e sociedade.
O conceito de RS, segundo o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, seria:
Responsabilidade Social pode ser traduzido como um princípio ético, aplicado à realidade através de uma gestão que leva em consideração as necessidades e opiniões dos diferentes stakeholders: clientes, funcionários, acionistas, comunidades, meio ambiente, fornecedores, governo e outros.
Patrícia A. Ashley (2005), pesquisadora e autora de diversos livros na área, conceitua RSE como sendo:
um compromisso empresarial para o desenvolvimento da sociedade expresso por suas atitudes e valores. De maneira ampla, as empresas devem contribuir para o desenvolvimento sustentável com obrigações de caráter moral, além das estabelecidas pelas diversas leis às quais está submetida, mesmo que não estejam diretamente vinculadas à sua atividade.
Ashley aponta para um novo modelo, em que a RSE se incorpora às estruturas institucionais, legais, de comunicação e conhecimento, influenciando a cultura e os valores sociais, em diferentes níveis éticos imbricados nos processos sociais de educação, governança, desenvolvimento da sociedade civil e formulação de políticas. Ashley acredita numa renovação das perspectivas existentes sobre o conceito de responsabilidade social.
Até alguns anos atrás, a RSE era confundida com filantropia ou assistencialismo, cujo foco são ações de caridade ou doações voltadas a “fazer o bem” e atender importantes necessidades imediatas, como calamidades naturais (enchentes, terremotos, incêndios). O termo investimento social vem sendo aplicado pelas empresas, que também investem recursos voluntariamente, só que de maneira planejada, visando a transformação das comunidades. Por exemplo, muitas empresas investem em projetos para o desenvolvimento de empreendedorismo comunitário (panificadoras, hortas, artesanato etc.) para geração autosustentável de emprego e renda. Outro exemplo são projetos de inclusão digital, que visam facilitar a inserção no mercado de trabalho. Filantropia, assistencialismo e investimento social fazem parte da RSE. No entanto, é um equívoco comum que empresas divulguem que são socialmente responsáveis apenas por realizarem projetos nessas áreas de atuação. Na verdade, o conceito de RSE é bem mais amplo.
Charles Handy, autor do livro The Hungry Spirit (citado por Visser, 2012), descreve um aspecto da RSE:
Indivíduos e organizações têm um desejo nato de encontrar uma finalidade superior, muito além daquele de fazer dinheiro e obter lucros (esses são simplesmente meios para um fim).
Assim, aponta-se para a importância de a empresa oferecer um lugar melhor para trabalhar. Uma pesquisa na Grã-Bretanha mostrou que 72% dos trabalhadores não gostavam de suas organizações, e que 19% deles as sabotavam. “Não me parece que seja um lugar feliz para se trabalhar. Se quisermos fazer as pessoas terem orgulho da organização onde trabalham, temos de demonstrar que estamos fazendo bem para o mundo”, destaca o autor (Handy, citado por Visser, 2012).
Sem dúvida, a RSE transforma o clima organizacional e tem desempenhado um importante papel na cultura interna das empresas. Ao realizar projetos e programas socioambientais, os gestores têm contribuído para o desenvolvimento da cidadania empresarial. Por sua vez, a cidadania empresarial abre caminhos para a gestão da sustentabilidade.
A sustentabilidade, segundo o sociólogo e pesquisador britânico John Elkington, está relacionada ao equilibrio entre os aspectos econômico, social e ambiental, os quais a organização precisa considerar se deseja estabelecera sustentabilidade como diretriz estratégica. John foi o criador do nome Triple Bottom Line – TBL (em português, linha de base tripla ou tripê da sustentabilidade). Os pilares do TBL são três Ps: planet, people e profit (em português, planeta, pessoas e lucro):
1. O planeta se relaciona ao capital e aos impactos dos recursos naturais na fabricação de bens de consumo, produtos e serviços;
2. As pessoas se referem ao desenvolvimento do capital humano e do capital social, com os stakeholders da organização;
3. O lucro é o resultado econômico positivo da empresa, sem o qual ela não existe.
Vejamos o conceito de sustentabilidade, de acordo com Barbieri (citado por Scatena, 2012):
é a capacidade de desenvolver atividade econômico-produtiva, atendendo às necessidades da geração presente, sem comprometer as fontes de recursos e vida da geração futura.
A sustentabilidade deve atender a três forças: a preservação do meio ambiente; o desenvolvimento econômico; e a responsabilidade social.
A gestão da RSE e Sustentabilidade acontecem com planejamento a longo prazo e, por isso, precisam ser executadas pela organização durante todo
o processo. É preciso pensar inclusive nas atitudes dos membros da organização e seus públicos de interesse. (Arantes, 2014)
Estudiosos resgataram a origem histórica da responsabilidade social e analisaram, que durante a Revolução Industrial (1840-1870), foram realizadas campanhas para: a abolição das prisões por dívidas; a extensão de direito ao voto às mulheres; a restrição do trabalho infantil. Mas foi a atitude do americano Henry Ford que se tornou um marco histórico em 1916, quando, contrariando a maioria dos acionistas da empresa Ford Motor Company, da qual era fundador, dividiu parte dos lucros da empresa com seus funcionários. Esta atitude histórica
o tornou um dos pioneiros da responsabilidade social, impulsionando mudanças no comportamento empresarial.
Quanto à caridade e doações, as corporações americanas passaram a realizar ações de filantropia com base legal, a partir de 1953, por determinação da justiça, mesmo a contragosto dos acionistas, que não queriam diminuir seus ganhos financeiros. Nos anos seguintes, teve início na Europa a mesma adesão (Ashley, 2005). No Brasil, a filantropia acontece desde o século XVIII, diretamente associada, em grande parte, a instituições religiosas. Entretanto, apenas a partir da Constituição de 1988 a assistência social foi instituída como política pública; em 1993, as entidades filantrópicas passam a ser reconhecidas através de certificação.
A partir da década de 1990, questões relativas à ética, meio ambiente, justiça social, educação, inovação, qualidade em produtos e serviços passam a compor a pauta da responsabilidade social das empresas, que assumem novo papel rumo ao desenvolvimento sustentável. Ações de filantropia tomavam lugar de destaque na gestão empresarial, de modo que até hoje ela ainda é confundida com RSE.
TEMA 2 – TERCEIRO SETOR: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
Os países democráticos estruturam a sociedade em organizações sociais.
Essas organizações são classificadas em três setores:
· Primeiro setor – Corresponde ao Estado no âmbito federal, estadual e municipal. São as prefeituras e suas secretariais, governos estaduais e suas secretariais, a presidência da república e os ministérios.
· Segundo setor – Formado por empresas privadas. Engloba toda empresa legalmente constituída, registrada no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas e portadora de CNPJ.
· Terceiro Setor – São as organizações sem fins lucrativos. Nesse setor, o objetivo é o lucro social. Precisam estar legalmente constituídas. São, em geral, associações, fundações e institutos voltados à educação e pesquisa.
As organizações do Terceiro Setor são entidades que trabalham para o bem público, de finalidades coletivas em torno de uma causa comum. Elas não visam lucro e não pertencem a empresas ou governos. Há cinco características em comum nessas organizações:
1. Pessoas jurídicas de direito privado.
2. Sem fins lucrativos, mas que podem e devem ter receitas. Os rendimentos/superávit serão revertidos para o desenvolvimento da missão e não para o benefício pessoal dos membros da entidade.
3. Institucionalizadas, ou seja, devem ser gerenciadas coletivamente.
4. Devem prestar serviços de interesse público.
5. Devem ser de caráter voluntário, ou seja, nascem pela vontade das pessoas de se unirem para uma causa comum. Os membros podem ser remunerados, desde que sejam estabelecidos certos critérios no Estatuto de cada entidade.
Integram o Terceiro Setor todas as organizações que visam ao benefício mútuo, seja em artes, práticas culturais, assistência social, práticas esportivas e, principalmente, na promoção da cidadania e de direitos fundamentais, desde que não possuam como escopo formal a obtenção de lucro financeiro. Para Vital Moreira (citado por Mânica, 2016), “trata-se de um setor intermediário entre o Estado e o mercado, entre o setor público e o privado, que compartilha de alguns traços de cada um deles”.
Segundo Antonio S. Munhoz (2015), o surgimento do Terceiro Setor foi consequência direta da falência do Estado no tratamento das questões sociais, aliada à vontade das pessoas de solucionar problemas graves que eram ignorados. Esse setor contribui para garantir uma gestão democrática das organizações como um todo. Atua como fiscalizador, denunciante e agente de
mobilização social para promover políticas públicas e políticas de mercado empresarial mais justas, menos discriminatórias e tendenciosas, minimizando comportamentos maniqueístas político-partidários ou interesses exclusivamente mercadológicos.
As organizações que integram esse setor são: Fundações; Institutos; Associações; Clubes sem fins lucrativos, tais como Clube de Mães; e Organizações Sociais (OS) destinadas a ensino, pesquisa, desenvolvimento tecnológico, meio ambiente, cultura e saúde. Com a participação de membros do Primeiro Setor, temos Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), instituídas pela Lei Federal n. 9.790, de 1999, que traz disposições estatutárias para a atuação conjunta com o Poder Público com vistas ao acesso a recursos públicos, cabendo ao Ministério da Justiça a expedição de certificado. Empresas apoiadoras e doadoras podem obter dedução fiscal, e os administradores de uma entidade podem ser remunerados. Temos também Organizações da Sociedade Civil (OSC), que é o mesmo que ONG.
As Organizações Não Governamentais (ONGs) derivam de uma expressão criada em 1945 pela ONU para definir as entidades que não estivessem vinculadas ao Estado. O termo ONG, embora mundialmente usado, não pode ser aplicado a todas as entidades do terceiro setor. As ONGs têm amplo poder de influenciar a opinião pública, sendo capaz de angariar recursos financeiros e pessoas para trabalho voluntário para as mais diversas causas sociais e ambientais. A Greenpeace e a World Wildlife Fund (WWF) são conhecidas mundialmente por conseguir adesões massivas em causas ambientais, com ativismo engajado em defesa da sustentabilidade planetária. Por exemplo, a “Pegada Ecológica” introduzida pela ONG WWF é uma metodologia de contabilidade ambiental que avalia a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais. Ela possibilita que cada indivíduo conheça o impacto que seu estilo de vida provoca no planeta.
No Brasil, estimativas apontam que 12 milhões de pessoas estejam envolvidas no Terceiro Setor. Vejamos as estatísticas de 2010. Nesse período, haviam 290 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (FASFIL), voltadas, predominantemente (Abong, 2012):
à religião (28,5%), associações patronais e profissionais (15,5%) e ao desenvolvimento e defesa de direitos (14,6%). As áreas de saúde, educação, pesquisa e assistência social (políticas governamentais) totalizavam 54,1 mil entidades (18,6%).
Dessas instituições, 72,2% não possuíam empregados formalizados. Todas as pessoas trabalhavam como voluntários e/ou na prestação de serviços autônomos (Abong, 2012).
Nastrês últimas décadas, houve uma transformação nas diretrizes de governança de grandes empresas privadas. Por um lado, a inserção da responsabilidade social movimentou as organizações; a maioria não sabia o que fazer nem como fazer. Em 1998, um grupo de executivos da iniciativa privada, interessados em criar grupos de estudos e pesquisas, fundou o Instituto Ethos, entidade do Terceiro Setor que busca apoiar empresas associadas na gestão de responsabilidade social e sustentabilidade. Na mesma época, empresas da iniciativa privada começaram a criar suas próprias organizações do Terceiro Setor. Elas passaram a implementar, monitorar, avaliar resultados e impactos nas comunidades com relação a seus próprios investimentos em projetos sociais e ambientais, na maioria das vezes gerenciados e executados por colaboradores e funcionários da empresa, com apoio de consultorias e auditorias externas. Essas iniciativas estimularam novas práticas de cidadania empresarial, inseridas em indicadores de RSE.
A gestão dos recursos investidos, em busca da sustentabilidade de ações que no passado ficavam à mercê, muitas vezes, de pessoas com poucas qualificações técnicas para a prestação de contas, fez com que esse cenário parecesse promissor para muitas empresas, inclusive para as instituições bancárias. O Banco Itaú criou, em 1986, o Instituto Itaú Cultural, que tem por objeto incentivar, promover e pesquisar linguagens artísticas, de modo preservar o patrimônio cultural do país. O Banco Santander, que pertence a um grupo espanhol, tem a Fundação Banco Santander, que exerce atividades de mecenas no campo das artes, música, letras, ciência e projetos de recuperação do Patrimônio Natural. No setor de produção de bens e mercadorias, a empresa Boticário, uma rede de franquias brasileira de cosméticos e perfumes, desde 1990 desenvolve programas de proteção à natureza por intermédio da Fundação Boticário.
Empresas e órgãos governamentais que possuem governança voltada para RSE e Sustentabilidade costumam atuar de forma integrada e participativa com as organizações do Terceiro Setor. Constroem indicadores, compartilham resultados e mantêm informados seus colaboradores e toda a sociedade.
TEMA 3 – SUSTENTABILIDADE: IMPORTÂNCIA, TRAJETO, ASPECTOS POLÍTICOS, ECONÔMICOS E SOCIAIS
A preocupação com o desenvolvimento sustentável é resultado de longas décadas de exploração dos recursos naturais para a manutenção da indústria, além da alarmante desigualdade social provocada pelo sistema de produção. Essa preocupação advém do questionamento ao sistema econômico dominante, o sistema capitalista, para atender principalmente duas questões: cumprir as normas regulatórias e leis e atender à pressão da sociedade. Pode-se afirmar, nesse sentido, que existem empresas genuinamente preocupadas com todo o processo de fabricação de seus produtos. (Stadler; Maioli 2012, p.99).
O Relatório de Brundtland Comission, intitulado “Nosso Futuro Comum” e divulgado em 1987, abordan as principais questões sobre desenvolvimento sustentável (citado por ONU, 2018):
“O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades.”
“Um mundo onde a pobreza e a desigualdade são endêmicas estará sempre propenso à crises ecológicas, entre outras…O desenvolvimento sustentável requer que as sociedades atendam às necessidades humanas tanto pelo aumento do potencial produtivo como pela garantia de oportunidades iguais para todos.”
“Muitos de nós vivemos além dos recursos ecológicos, por exemplo, em nossos padrões de consumo de energia… No mínimo, o desenvolvimento sustentável não deve pôr em risco os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra: a atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos.”
“Na sua essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de mudança no qual a exploração dos recursos, o direcionamento dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão em harmonia e reforçam o atual e futuro potencial para satisfazer as aspirações e necessidades humanas”.
Em 2002, durante a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada na África, foi elaborado o Plano de Implementação de Johanesburgo, que definiu a integração das dimensões econômicas, sociais e ambientais do desenvolvimento sustentável, reforçando a implementação da Agenda 21, inclusive por meio da mobilização de recursos financeiros e tecnológicos, além de variados programas de capacitação, especialmente para os países em desenvolvimento.
O pensamento estratégico da sustentabilidade é “pensar no futuro olhando para o todo”, considerando a totalidade em seu devido contexto. Esse
“todo” significa uma visão sistêmica; trata-se de olhar tudo o que está ao redor. A visão sistêmica é originária do método de sistemas, criado inicialmente para atacar complexos problemas organizacionais de âmbito militar. Depois, foi aplicado por biólogos para a compreensão dos seres vivos e, por fim, utilizado por administradores para a resolução de problemas nos negócios.
Segundo Fritjof Capra (2016), o significado raiz da palavra sistema, deriva do grego synhistanai (colocar junto). A visão sistêmica considera cada coisa dentro de um contexto, estabelecendo a natureza das interações e relações entre as partes. Nos organismos vivos, essa relação recebe o nome de ecossistema. Podemos analisar a metáfora da árvore, como exemplo: ao olhar para ela, vemos uma rede de relações entre folhas, ramos, galhos e tronco. Em muitas árvores, não vemos as raízes; no entanto, as raízes dão vida à árvore. Numa floresta, as raízes de todas as árvores estão interligadas e formam uma rede subterrânea e, portanto, não há fronteiras entre uma árvore e outra. A inter- relação entre os elementos é um dos princípios básicos da sustentabilidade.
Nos ecossistemas de produção, todos os bens de consumo, no seu processo de fabricação, utilizam recursos naturais (energia, ar, água, minérios), os quais posteriormente devolvem rejeitos, resíduos que poluem o meio ambiente. São milhares de comunidades que respiram ar poluído, bebem água com alterações químicas e são impactados pelos resíduos de minérios ou por resíduos nucleares, dependendo do tipo de indústria.
Um exemplo de impacto provocado pelo setor industrial é o caso do rompimento da barragem da mineradora Samarco, em 2015, sob o controle acionário das transnacionais Vale S.A. (50%) e da australiana BHP Billiton Brasil (50%). O desastre ocorreu no município de Bento Rodrigues (MG), tendo sido registrado como o pior acidente ambiental na história do Brasil. Foram 34 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério de ferro jorrando nos rios até desaguar no Rio Doce (Mota, 2018). Tal catástrofe traz tem implicações sociais imensuráveis. Comunidades perderam moradias e bens. Surgiram gravíssimos problemas de saúde coletiva. Perdeu-se a biodiversidade da bacia do Rio Doce. Perda total de equipamentos públicos, infraestrutura. Poluição das águas. Além disso, a identidade local foi completamente alterada, uma vez que a população precisou ser acomodada em abrigos emergenciais. Famílias perderam sua fonte de emprego, comerciantes da região tiveram que fechar ou mudar de ramo. Escolas foram destruídas. Altíssimos prejuízos econômicos, sociais e ambientais
para o município e o Estado. Segundo reportagem da BBC Brasil, após dois anos (novembro de 2017), o impacto ambiental do desastre em Mariana continua sendo um grave problema social e ambiental (Mota, 2018).
Outro aspecto importante é a transparência na declaração que a empresa faz sobre si mesma. Sobre a construção imagética da Samarco:
A mineradora Samarco foi reconhecida nos últimos 20 anos como uma das líderes em responsabilidade socioambiental no Brasil. Enfileirou prêmios, foi a primeira mineradora do mundo a ter a certificação de gestão ambiental para todas as etapas de produção. (Almeida, 2015)
Este evento, assim como milhares de desastres ambientais na história, tem suascausas. Há diversas causas relacionadas: falhas técnicas ou humanas, tudo engloba os sistemas de gestão. O desafio mais urgente é conciliar interesses antagônicos; conciliar interesses públicos e privados sobre questões ambientais, mercadológicas, políticas, econômicas. Infelizmente, a implementação de mecanismos de controle, leis e fiscalização adequada e rigorosa, tem sido um ponto problemático. Além disso, o comportamento antiético, como aceitação de propinas e corrupção de gestores e líderes das organizações, têm pautado a agenda de noticiários. São atos que descumprem a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Art. 225:
ao consagrar o meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito de todos, de uso comum e essencial à boa qualidade de vida, atribui a responsabilidade de sua preservação ao Poder Público e à coletividade. (Citado por Berté, 2013)
Diante desse contexto, vejamos a importância do Gestor em Sustentabilidade, cuja função originalmente recebe nomenclatura em inglês, Chief Sustainability Officer (CSO). Cabe a este profissional exercer a liderança com fundamentos éticos e visão sistêmica. Para cada tipo de empresa e segmento de mercado, o CSO estabelece missão flexível o suficiente para adaptação às necessidades e particularidades de cada negócio. Dentre as principais atribuições, estão: promover ações em prol da sustentabilidade com todos os stakeholders; acompanhar ações da concorrência; desenvolver diretrizes e construir indicadores relacionados à sustentabilidade; acompanhar mudanças nos produtos e serviços da empresa, para que se adequem às necessidades de uso racional dos recursos naturais, com redução de resíduos e correto descarte; acompanhar programas de compras sustentáveis junto aos
fornecedores; representar a empresa perante entidades que pesquisam e desenvolvem o tema da sustentabilidade em seus mercados.
Gestores em Sustentabilidade têm aplicado diretrizes do documento “Transformando o Nosso Mundo: Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, proposto pela ONU. Nela estão contidos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para a erradicação da pobreza. Os ODS são o foco da Agenda 2030, durante o período 2016-2030.
Outra plataforma, direcionada para empresas, é o Pacto Global, lançado no Fórum Econômico Mundial (Fórum de Davos) de 1999. É também uma diretriz proposta pela ONU para encorajar as organizações privadas a adotar políticas de responsabilidade social e sustentabilidade em suas práticas de negócios, e considera direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. O Pacto Global disponibiliza uma plataforma online sobre cidadania empresarial, divulga práticas de responsabilidade social empresarial e é uma base para implementar a ISO 26000 de RSE.
Temos também os indicadores internacionais de sustentabilidade, propostos pela Norma Global Reporting Iniciative (GRI), que são amplamente aplicados pelas empresas como orientação de diretrizes para a elaboração de relatórios.
TEMA 4 – A QUESTÃO AMBIENTAL E SUA EVOLUÇÃO
Entre os estudos ambientais, a Ecologia ocupa o primeiro lugar na história. Palavra de origem grega, traz o prefixo oikos, que significa casa/lar, e a base logos quer dizer estudo. Seria, então, o estudo das relações que interligam todos os membros da Terra. Esse termo foi introduzido em 1866 pelo biólogo alemão E. Haeckel. Quase 70 anos depois (1935), o ecologista britânico A.G. Tansley trabalhou a ecologia por uma abordagem sistêmica: a concepção de ecossistema, como sendo o conjunto de elementos bióticos e abióticos de uma determinada área, que se influenciam entre si de maneira cíclica. Num ecosissistema, todos os organismos produzem resíduos; lembramos que aquili que é resíduo para uma espécie é alimento para outra. É assim a evolução: reaproveitamos e reciclamos as moléculas de minerais, de água e ar.
Os ecossistemas podem ser interessantes para a Administração das Organizações, uma vez que os sistemas industriais, e também as atividades comerciais que extraem recursos naturais, são atividades cíclicas, transformando
produtos em resíduos e vice-versa. Segundo Fritjof Capra (2016), a Nova Ciência da Ecologia introduziu duas concepções: comunidade e rede, que formam complexos ecossistemas. Abelhas e formigas são um exemplo, pois são incapazes de sobreviver isoladas; em grande número, agem com inteligência coletiva e capacidade de adaptação muito superiores do que agindo individualamente. Capra descreve os ecossistemas como sendo uma rede, uma teia com nodos. Cada nodo na nova rede pode representar um órgão, o qual, por sua vez, vai ampliando a rede. Em junho de 2012, Capra esteve no Brasil para a Rio+20, a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, e declarou: “Nosso desafio é mudar de um sistema econômico baseado na noção de crescimento ilimitado para um que é tanto ecologicamente sustentável quanto socialmente justo”. (Capra, 2012).
Uma das primeiras vozes a se levantar contra a confiança cega da humanidade no progresso tecnológico foi a da bióloga e escritora americana Rachel Carson. Em 1962, publicou o livro Primavera Silenciosa, no qual denunciou os efeitos desastrosos do poderoso pesticida DDT (diclorodifeniltricloroetano), intensamente utilizados nas plantações após a Segunda Guerra Mundial. Demonstrou que ele penetrava na cadeia alimentar e se acumulava nos tecidos de animais e seres humanos, aumentando os riscos de câncer e danos genéticos. A obra é considera um marco importantíssimo na na trajetória do pensamento ambientalista. (Alencastro, 2015).
Dez anos depois, em 1972, no polêmico relatório “Os Limites do Crescimento”, publicado por um grupo de cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), membros da ONG Clube de Roma abordaram temas sobre meio ambiente e recursos naturais. Utilizando programas de computador, comprovaram que a utilização indiscriminada dos recursos naturais levaria nosso planeta a um colapso, se não fossem tomadas novas atitudes. Foi quando o conceito de desenvolvimento sustentável começou a ser delineado. “A repercussão internacional do Relatório fez com que fosse o principal objeto de discussão, no mesmo ano, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, mais conhecida como Conferência de Estocolmo, na Suécia”. (Portal Educação, 2012)
A partir daí, a temática ambiental se consolidou nos debates e práticas de organizações do mundo todo. Para o Brasil, a Conferência da ONU-ECO-92, também conhecida como Cúpula da Terra e Rio-92, que aconteceu no Rio de
Janeiro, culminou na elaboração do documento Agenda 21 Global, um marco referencial para políticas públicas, com diretrizes para serem adotadas global, nacional e localmente por organizações do sistema das Nações Unidas, de governos e da sociedade civil. A partir desse documento, a Comissão Mundial de Desenvolvimento Sustentável da ONU (CDS) sugeriu a realização da Conferência de Johanesburgo, na África do Sul. Assim, em 2002, na Declaração de Joanesburgo sobre Desenvolvimento Sustentável, foi apresentada a proposta de integrar as três dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental.
No Brasil, em julho de 2002, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) publica a Resolução No. 306, estabelecendo os requisitos mínimos e o termo de referência para a realização de auditorias ambientais. Também define meio ambiente, como sendo “o conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (Brasil, 2002).
Na Rio+20 (2012), Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, foi elaborado o documento “O Futuro que Queremos”. O foco das discussões foi a “Economia Verde”; a eliminação da pobreza e a estruturação institucional para o desenvolvimento sustentável. Neste encontro, também foram iniciadas as discussões para a Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de 2030, com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Na práticadas organizações, a preocupação mundial é grande, porque as devastações provocadas por acidentes industriais aterrorizam as populações, deixando marcas terríveis para os sobreviventes das regiões afetadas e para o ambiente como um todo. Alguns dos mais recentes e principais desastres ambientais no mundo e no Brasil são:
· 1976 – A explosão da fábrica de produtos químicos na Itália lançou ao ar uma nuvem composta de dioxina, gerado na produção de cloro e inseticida e na incineração do lixo. Provocou doenças e mortes.
· 1979/1986/1999/2011 – Acidentes das Usinas Nucleares: Three Mile Island nos EUA; Chernobyl na Ucrânia, quandi a explosão de reatores foi dezenas de vezes maior que a das bombas de Hiroshima e Nagasaki; Tokaimura em Tóquio; Fukushima no Japão.
· 1984 - Vazamento de agrotóxicos na Índia. Mais de duas mil pessoas morreram pelo contato com as substâncias tóxicas, e outras tiveram queimaduras nos olhos e pulmões.
· 1989/1991/2002 - Derramamento de óleo: Navio Exxon Valdez no Alaska; Queima de petróleo no Golfo Pérsico, parte que foi queimada bloqueou a luz do Sol. Aproximadamente mil pessoas morreram por problemas respiratórios; Navio Prestige na Espanha, contaminou 700 praias e mataou mais de 20 mil aves.
· 2015 – Derramamento de rejeitos da Mineradora Samarco, Brasil.
Em relação aos assuntos socioambientais, a empresa pode agir de três formas, segundo aponta Barbieri (citado por Scatena, 2012, p. 219):
1. Controle da poluição: consiste em definir práticas que impeçam os efeitos desta, causados por uma, ou mais, atividades produtivas; o melhoramento no tratamento e descarte de resíduos.
2. Prevenção da poluição: realizar modificações nos processos produtivos tradicionais, com foco na eco-inovação.
3. Incorporação dessas questões na estratégia empresarial: implementação de diretrizes e capacitação para a gestão da sustentabilidade. Os benefícios são posicionamento institucional, renovação do portfólio de produtos, melhores relações de trabalho, abertura de novos mercados e maior facilidade para cumprir os padrões ambientais.
Essas três formas podem ser vistas como fases de um processo pelo qual a empresa se engaja gradualmente ao movimento de preservação e recuperação ambiental. A definição de modelos a serem adotados também é fundamental. Dentre alguns modelos, destacam-se no Brasil a Produção Mais Limpa (P+L), que envolve produtos e processos, estabelecendo uma hierarquia de prioridades: prevençao, redução; reuso e reciclagem, tratamento com recuperação de materiais e energia, tratamento e disposição final. Outro modelo, idealizado em 1992 pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), é o da Ecoeficiência, focado na redução dos impactos ecológicos e na diminuição do uso dos recursos naturais (ex. energia), ao longo da fabricação do produto.
TEMA 5 – ANÁLISE DOS EFEITOS DAS MUDANÇAS CULTURAIS, TÉCNICAS, CIENTÍFICAS E SOCIAIS
Os avanços tecnológicos e seus desdobramentos envolvem, certamente, uma série de riscos e incertezas: são os riscos próprios de todo processo. Ao mesmo tempo, proporcionam à ciência um laboratório em grande escala, uma incubadora para desafios constantes. Para Habermas (citado por Alencastro, 2015, p. 24),
no capitalismo a pressão institucional para aumentar a produtividade do trabalho pela introdução de novas técnicas e uso de tecnologias sempre existiu. Uma mudança aconteceu a partir do século XIX, com o advento da pesquisa industrial em grande escala. A ciência e a técnica passaram a fazer parte de um mesmo sistema.
O sistema de controle de qualidade total dos produtos e a pressão da sociedade civil trouxeram novas metodologias de gestão empresarial. Uma delas, revolucionária para a gestão empresarial, é o Balanced Scorecard (BSC). O BSC foi criado na década de 1990, e é utilizado até os dias de hoje. Kaplan e Norton (citados por Stadler; Maioli, 2012. p.51) classificam o BSC como sistema de mensuração de desempenho das organizações privadas, governamentais e do terceiro setor, com base em medições não financeiras, sempre considerando que nem todas as decisões se baseiam somente nisso, porque há outros mecanismos de gestão que agregam valor ao negócio e ao posicionamento das marcas. Essa filosofia, com visão nas diretrizes de sustentabilidade, foi um marco para o desenvolvimento da RSE.
A Responsabilidade Social, fortemente influenciada por novos valores culturais e motivações compartilhadas provocaram mudanças comportamentais entre os gestores e os públicos da empresa. Com isso, o Investimento Social Privado se fortaleceu, substituindo em grande parte os projetos de caráter filantrópico e assistencial. As ações sociais passam a ser protagonizadas por fundações e institutos de origem empresarial, ou instituídos por famílias, comunidades ou indivíduos. O repasse de recursos privados é feito de maneira voluntária, planejada, monitorada e sistemática, com vistas ao desenvolvimento de projetos de interesse público. Disponibilizam-se incentivos fiscais para repasses do poder público e/ou para alocação de recursos não-financeiros e intangíveis. Segundo o Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE, 2012), os elementos fundamentais de Investimento Social Privado (ISP), são:
1. Preocupação com planejamento, monitoramento e avaliação dos projetos;
2. Estratégia voltada para resultados sustentáveis de impacto e transformação social;
3. Envolvimento da comunidade no desenvolvimento da ação.
Outra consequência provocada pela nova cultura organizacional da RSE é o foco no relacionamento com os públicos, denominados stakeholders. Estudos sobre os públicos nas organizações afirmam os públicos se formam com o objetivo de obter respostas ou formalizar acordos com a organização. Entre as reivindicações do público, podem estar consciência socioambiental, empregabilidade e até mesmo redução no preço dos produtos.
No planejamento estratégico, os stakeholders são os públicos influenciados direta ou indiretamente pelas decisões da organização. De acordo com Grunig e Hunt (citado por Mota, 2016): “são pessoas que estão vinculadas à organização porque exercem consequências uma sobre outra”. Vejamos a definição do criador da Teoria de Stakeholder, Edward Freeman (1984): “Stakeholder é qualquer indivíduo ou grupo que pode influenciar ou ser influenciado pelos atos, decisões, práticas, ou objetivos de uma organização. ”
Com a definição do conceito, é possível compreender a amplitude das empresas no relacionamento com os públicos-chave do negócio. Grayson e Hodges (citados por Arantes, 2014), definem cinco pontos principais que devem ser avaliados para que o relacionamento seja efetivo e consistente:
1. Utilizar canais de comunicação que possibilitem o diálogo permanente;
2. Capacidade de elaborar mensagens que fortaleçam a credibilidade da empresa;
3. Estabelecer parcerias com organizações do 3o. Setor;
4. Haver coerência entre o discurso e as ações que a empresa realiza;
5. Utilizar linguagens de fácil compreensão para cada público.
Segundo diretrizes para o relato da Sustentabilidade G4-Global Reporting Iniciative (GRI), são exemplos de grupos de stakeholders: sociedade civil, clientes, empregados, outros funcionários e seus sindicatos, comunidades locais, acionistas e provedores de capital, e fornecedores.
TROCANDO IDEIAS
Na página do link abaixo você conhecerá os principais acidentes ambientais ocorridos no Brasil. Você consideraria verdadeiro que estas empresas aplicam diretrizes da sustentabilidade? Analise cada caso.
PORTAL EBC. Relembre os principais desastres ambientais ocorridos no Brasil.	2015.	Disponível	em:	<http://www.ebc.com.br/noticias/meio- ambiente/2015/11/conheca-os-principais-desastres-ambientais-ocorridos-no- brasil>. Acesso em: 28 abr. 2018.
NA PRÁTICA
A empresa que adota a diretriz de RSE sem considerar os indicadores necessários normalmente cai no erro comum de considerar que a implementação de um projeto social com funcionários e colaboradores é o suficiente para comunicar em seus relatórios que se trata de uma empresa socialmenteresponsável. A atividade proposta é fazer um levantamento sobre quais são os indicadores de RSE mais aplicados pelas empresas brasileiras. Passos para resolver:
1. Compreender o que são indicadores de RSE
2. Pesquisar práticas no mercado
3. Identificar a empresa o negócio
4. Fazer a análise das informações A síntese de uma resolução:
1. Procurar artigos científicos, teses e dissertações
2. Buscar exemplos de empresas na internet
3. Buscar falhas e acertos na comunicação
4. Elaborar suas próprias conclusões observando os conteúdos da aula
FINALIZANDO
Nesta aula conhecemos a origem, o conceito e os fundamentos da RSE e Sustentabilidade. Também aprendemos sobre o 3o. Setor, suas características e quais entidades integram essas organizações. Conhecemos quais são as atribuições do gestor em sustentabilidade. Finalizamos conhecendo a questão ambiental e sua evolução no contexto das políticas públicas. E ainda, os efeitos
das mudanças, no escopo da RSE. Os desafios não são poucos porque, se por um lado devemos estimular o consumo de bens e produtos, por outro, precisamos educar para o consumo consciente, valores éticos, respeito, honestidade e transparência nos negócios. Entretanto, estes desafios nos tornam pessoas capacitadas para a transformação e para minimizar impactos negativos na sociedade e na natureza.
REFERÊNCIAS
CONVERSA INICIAL
O ideário de sustentabilidade tomou conta dos debates nessas últimas décadas. Está sempre presente na mídia e nas conversas entre empresários, tomadores de decisão, governantes, acadêmicos, ativistas e cidadãos de maneira ampla. Poderia se dizer que se trata de uma necessidade quase urgente de reagir aos inúmeros problemas provocados pelos padrões insustentáveis de produção e consumo praticados durante décadas, característicos do capitalismo, modelo do qual fazemos parte até os dias atuais.
Nesta segunda aula, apresentamos conceitos do modelo capitalista e seu contexto na globalização. Abordaremos a linha do tempo relacionada às fases de crise industrial e os impactos sociais da Revolução Industrial. Vamos conhecer as teorias de administração que conduzem às diretrizes da RSE, dentre elas, a Teoria dos Stakeholders. Faremos uma breve análise histórica do capitalismo. Nos dois últimos temas, veremos aspectos relacionados à correlação entre desigualdade social e riscos ambientais, bem como ações voltadas ao crescimento e progresso social. O propósito desse conteúdo é disponibilizar conhecimento e estimular a reflexão sobre as formas de produção de mercadorias e bens realizadas até agora, para que você possa implementar a RSE da maneira mais adequada ao negócio, buscando ser a mais justa para a sociedade, cuidando da saúde do planeta.
CONTEXTUALIZANDO
O crescimento vertiginoso da população e a desigualdade social em níveis alarmantes vêm alertando para o novo paradigma de olhar de maneira holística o mundo e as organizações. Os novos processos de gestão aliam soluções de problemas socioambientais aplicados às estratégias de RSE, prospectando ganhos financeiros, uma vez que a lógica do mercado considera essas ações como valores indiretos remuneráveis.
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TEMA 1 – CONCEITOS: CAPITALISMO, REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Hoje, uma linha de produção de carros está muito distante da fábrica representada por Charles Chaplin em seu filme Tempos modernos, no qual o cineasta faz uma crítica ao modelo de produção do início do século 20. Nas fábricas atuais, em que os robôs são responsáveis por 70% das tarefas relacionadas à fabricação de carros. E as palavras de ordem são eficiência e ergonomia. (Carvalho, 2017)
Nesse trecho da reportagem da Quatro Rodas sobre como funciona uma linha de automóveis, o engenheiro que faz a demonstração na fábrica, complementa: “temos uma máquina que alcança lugares de soldagem que seriam impossíveis para humanos. A última etapa, de tapeçaria e mecânica, é a que exige a presença de um funcionário.” (Carvalho, 2017).
Esse exemplo de automação na fabricação de automóveis ilustra o funcionamento da produção industrial que, embora com enormes avanços tecnológicos, advém desde antes da Primeira Revolução Industrial.
O processo de desenvolvimento industrial começou pelos anos de 1780, na Inglaterra, e se espalhou na Europa e nos Estados Unidos. A Revolução Industrial transformou a capacidade humana principalmente por modificar a natureza na fabricação de bens de consumo. As máquinas foram inventadas para poupar o trabalho humano, aumentando a produtividade e a geração de lucros. Pesquisadores e inventores trabalharam para o desenvolvimento de ferrovias, máquinas a vapor, maquinarias de produção, produção do aço, energia elétrica.
Segundo Rodolfo Pena (2018), no sistema capitalista predomina a propriedade privada. O lucro e a acumulação de capital se manifestam na forma de bens e dinheiro. Ele afirma que, apesar de ser considerado um sistema econômico, o capitalismo estende-se aos campos político, social, cultural, ético, entre muitos outros.
Segundo o trabalho de pesquisa do Grupo de Automação Elétrica em Sistemas Industriais da Universidade de São Paulo, no processo histórico do capitalismo as várias revoluções industriais trouxeram transformações para a sociedade e foram impulsionadas por uma ou mais tecnologias. As respectivas épocas das revoluções industriais foram:
1a. Revolução Industrial (1700-1900): Transformação da produção manual para a mecanizada. Surgem as máquinas a vapor, locomotivas; 2a. Revolução Industrial (a partir de 1870): Produção em massa. Surgem tecnologias, eletricidade, fontes de energia fóssil;
3a. Revolução Industrial (após 1930): Conhecimento acessível a todo o planeta. Surgem os computadores, a tv;
4a. Revolução Industrial (em curso séc. XXI): Mudanças profundas em toda a sociedade. Convergência entre o mundo físico, o biológico e o digital. (Gaesi-USP, citado por Comparato, 2011)
A inovação de produtos e processos foi a principal estratégia de gestão empresarial, a partir dos anos 1990. O foco na aquisição de máquinas e equipamentos foi considerado a principal atividade promovida pelas empresas para o desenvolvimento tecnológico. No Brasil atual, o foco está na introdução de novos produtos, maior eficiência produtiva e abertura de novos mercados (CNI, 2002). Como consequência da industrialização, diversos fatores de crescimento das nações foram impulsionados, além dos tecnológicos. Veremos, durante esta aula, principalmente, os aspectos sociais, ambientais e políticos.
O conceito inicial do capitalismo deriva da obra A riqueza das nações (1776), de Adam Smith. Para ele, o surgimento das indústrias e de novos sistemas de gestão do trabalho humano deveria ser especializado para aumentar o rendimento. Ele, defensor desse sistema, dá o exemplo da Fábrica de Alfinetes para explicar sua teoria. A obra foi considerada fundadora da ciência da economia. Convencionou a divisão social do trabalho classificando-as em: operários; capitalistas e proprietários de terras. “Smith predicava que o mercado se autorregulava através da competição e pela busca dos lucros, gerando acúmulo de capital, o qual, por sua vez, estimulava a produtividade e a riqueza” (Stadler, 2012).
A busca do lucro máximo pelo exercício profissional de uma atividade econômica foi denominado “o espírito do capitalismo”, por Max Weber. “Onde tudo se transforma em mercadoria: bens, ofícios públicos, concessões administrativas e até pessoas, como os trabalhadores assalariados ou os consumidores. É uma radical desumanização da vida” (Comparato, 2011).
No sistema capitalista, os indivíduos sem posses ou propriedade de bens materiais são humilhados à condição de mercadorias, quando não excluídos da sociedade. Esse sistema vigora até os dias de hoje.
É indiscutível que houve um enorme avanço no nível de bem-estar médio dos habitantes do planeta ao logo dos séculos, principalmente a partir da Revolução Industrial, no entanto, muito disso foi conquistado às custas de um uso desordenado dos recursos naturais, principalmente para gerar a energia necessária que sustentoueste crescimento econômico. (Almeida, 2013)
TEMA 2 – IMPACTOS SOCIAIS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
O lançamento do aplicativo Waze, que aconteceu por volta de 2008, trouxe inúmeros benefícios e facilidades para quem dirige, principalmente, nas grandes cidades. De maneira colaborativa, os usuários podem saber a situação do trânsito em tempo real e ainda ter a facilidade de o próprio aplicativo indicar a melhor rota para chegar ao destino final. (Dias, 2018)
O Waze é um exemplo de como o mundo digital transforma comportamentos sociais”, destaca o engenheiro Elcio Brito da Silva, do Grupo de Automação em TI da USP (Dias, 2018).
Esta é considerada a principal característica da Quarta Revolução Industrial, que está em curso. É a convergência cada vez mais forte entre:
O Digital: com a internet e plataformas digitais; O Físico: com a robótica avançada, impressão 3D; O Biológico: com a tecnologia digital aplicada à genética. Exemplo da quebra de barreiras entre esses três mundos (físico, biológico e digital) são as turbinas da General Eletric (GE), que “percebem” quando irão quebrar e, com isso, sabe-se antecipadamente a necessidade de fazer reparos. (Comparato, 2011)
Desde a grande crise financeira mundial de 2008, o sistema capitalista apresenta sintomas de esgotamento. Mundialmente, vem se diminuindo os rendimentos do trabalho assalariado, aumentando os níveis de desemprego e a fome impulsionada por conflitos e mudanças climáticas. Em 2016, a fome afetou 815 milhões de pessoas, 11% da população global (ONU, 2017).
A competição de mercado das 200 empresas globais mostra que as receitas de suas vendas ultrapassam um quarto das atividades comerciais do mundo. A Philip Morris opera em 170 países; a indústria de elevadores Otis utiliza o sistema de portas da França, engrenagens da Espanha, sistema eletrônico da Alemanha, motor especial do Japão e a integração dos sistemas é feita nos Estados Unidos. A Nestlé, a Shell, a Bayer e a Toshiba têm consumidores em quase todos os países há décadas. As empresas globais, além de ter uma reputação que não está ao alcance da concorrência de fabricantes locais, possuem vantagens financeiras, de P&D, de produção, logística e marketing (Kotler, 2006).
Esse sistema de transnacionalidade das empresas globais promove grandes deslocamentos de empresas, dos antigos países desenvolvidos para os novos países ditos “emergentes”, faz com que uma empresa dominante, com sede em determinado país, estabeleça relações de senhorio e servidão com outras em várias partes do mundo, obrigando as empresas “dominadas” a operar em sistema de “dumping” social e negação dos mais elementares direitos trabalhistas. Trabalho escravo, mão de obra infantil, abusos e assédio têm sido alvo de denúncias permanente (Gonçalves, 2017).
Diretrizes da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) contemplam esses fatores como parte dos indicadores de gestão, visando acabar com as práticas de abuso e melhorar a transparência nas relações com funcionários, colaboradores e segmentos da cadeia de suprimentos (fabricantes, fornecedores, distribuidores, transportadores).
Historicamente, um importante avanço para dirigentes e administradores foi a Teoria das Relações Humanas (1930) do australiano George Elton Mayo. Ele propõe democratizar a administração do trabalho das indústrias, provocando um importante movimento de oposição à Teoria Clássica. Os administradores e dirigentes passam a tratar de forma mais humanizada os trabalhadores. Pela primeira vez, há preocupação com os aspectos emocionais das pessoas e a integração social com trabalhos em grupo.
Os avanços das teorias de administração evoluíram no aspecto de incorporar a visão econômica do mercado à sociologia e política da sociedade. Em 1984, Edward Freeman propõe a Teoria dos Stakeholders como um novo direcionamento para a gestão das organizaçoes. Sua preocupação estava em compreender e resolver problemas que fossem além dos interesses exclusivos de sócios e investidores, ampliando para outros públicos que afetam ou são afetados pela empresa. Esse universo de públicos recebeu a nomeclatura de stakeholders, que “são grupos ou indivíduos que podem influenciar ou serem influenciados pelas ações, decisões, políticas, práticas ou objetivos da organização”.
Esse conceito passa a oferecer uma nova maneira de pensar a gestão estratégica das organizações, que a direciona para uma forma mais democrática e participativa de implementar a estratégia de negócio.
Nos relatos de sustentabilidade e indicadores de RSE, o relacionamento com os stakeholders é utilizado como instrumento de avaliação.
Os parâmetros aplicados para estabelecer relacionamentos são essenciais na definição de diretrizes éticas e de transparência, premissas da RSE.
O quadro, apresentado a seguir, orienta sobre as atribuições de cada stakeholder. As informações são baseadas na revisão da literatura publicada pelo autor da teoria, E. Freeman, nos períodos de 2008-2015 (Charotta, 2016).
Quadro 1 – Atribuições de cada stakeholder
	Stakeholders
	Atribuição
	
Clientes
	Cada vez mais assumem o papel de consumidores conscientes e cobram informações detalhadas sobre produtos, processos de fabricação,
comportamento e idoneidade das marcas.
	
Proprietários
	Possibilitam à organização ter acesso à sua principal fonte de recursos.
Tem poder de controle: majoritários, sobre as decisões da empresa; e minoritários, sem poder de controle sobre as decisões da empresa.
	
Funcionários
	Participam, implementam e executam as decisões para atingir os objetivos
da empresa. Proveem a organização com conhecimentos, habilidades e compromissos. Refletem a cultura e o clima da empresa.
	
Fornecedores
	Fornecem serviços, insumos e matéria-prima na cadeia de suprimentos da organização (fabricação, estoque, transporte, distribuição, embalagem, descarte de resíduos). Precisam ser capacitados sobre as diretrizes da
RSE e Sustentabilidade para garantir coerência nos procedimentos.
	Governo
	Criador e mediador dos instrumentos reguladores da organização.
	Concorrentes
	Importante instrumento de benchmarking.
	Entidades/
Sindicatos
	Influenciadores	nas	dinâmicas	da	organização.	Essenciais	em
organizações democráticas. Representa filiados.
	Comunidade
	Situada no entorno da empresa, precisa receber benefícios diretos ou
indiretos devido aos impactos positivos e negativos gerados pela empresa.
	Sociedade
	Monitora o ambiente legal e moral em que a organização opera.
Fonte: Adaptado de Charotta, 2016.
Leitura complementar
Na gestão da RSE, a utilização da ferramenta “Painel de Stakeholders” é amplamente utilizada para estabelecer a política de governança baseada no relacionamento com seus públicos de interesse. Esse instrumento pode trazer contribuições para as empresas e ajudá-las tanto no tratamento de questões específicas quanto na definição de estratégias. Para saber mais, leia o artigo Painel de stakeholders: uma abordagem de engajamento versátil e estruturada. Disponível em: <https://www3.ethos.org.br/cedoc/painel-de-stakeholders-uma- abordagem-de-engajamento-versatil-e-estruturada>.
TEMA 3 – ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO CAPITALISMO NA DESIGUALDADE SOCIAL E NA AMPLIAÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS
Nas primeiras décadas do século XX, Henry Ford inaugurou nos Estados Unidos a primeira linha de carros em série. Poucos anos depois, veio a Crise de 1929, considerada a primeira crise do capitalismo. Como consequência, milhões de empresas foram à falência e o desemprego foi massivo. No Brasil, os empresários viram a necessidade de criar nova infraestrutura para o desenvolvimento da indústria pesada e começaram a dar os primeiros passos nessa direção.
O início dos anos 2000 foram marcados por uma nova crise global provocada, principalmente, pelo choque nos sistemas comerciais e financeiros. O estudo realizado em 2017 por economistas da organização intergovernamental South Centre, com sede em Genebra, aponta:
O colapso avassalador da recessão no Brasil ocorre em um momento de complicações globais sem solução no horizonte. [...] A respostapolítica do Hemisfério Norte, de restringir gastos dos governos e inundar o mercado com dinheiro a juros baixos ou negativos, falhou ao promover uma recuperação robusta e agravou problemas crônicos globais, como a desigualdade, a insuficiência da demanda e a fragilidade financeira, com “fortes efeitos” desestabilizadores para o Hemisfério Sul.
As crises “cíclicas” financeiras recorrentes desde a década de 1990 são apontadas como fatores intrínsecos do sistema capitalista, da vulnerabilidade econômica provocada por investidores e credores estrangeiros. São exemplos o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), entre outros. São organizações criadas para atender às demandas da globalização e atuam fortemente nos mercados financeiros internos de países emergentes e em desenvolvimento. O estudo da South Centre aponta para a influência exercida pelo sistema: “As políticas propostas pela nova administração nos Estados Unidos tendem a representar um duplo golpe para os países que se tornaram altamente dependentes de mercados externos, capital e corporações transnacionais, advertem os autores do estudo” (Drummond, 2017).
Os valores representam um conceito coletivo do que as pessoas consideram desejável, importante e moralmente apropriado para o convívio em sociedade. Citando Durkheim: “o conjunto das crenças e sentimentos comuns à média dos membros de uma sociedade forma um sistema determinado, que tem
vida própria”, e que pode ser chamado consciência coletiva ou comum (Comparato, 2011).
Os principais valores sustentados pelo sistema capitalista foram basicamente o crescimento econômico e o consumo. Ambos têm sido determinantes para reger normas de comportamento das organizações e da sociedade como um todo. Valores fazem com que as pessoas identifiquem prioridades e orientem atitudes de acordo com o que é importante, suas crenças, hábitos e ideiais de vida.
A produção de riquezas é o ponto-chave do sistema capitalista. O lucro, nesse contexto, é a meta da empresa. Como vimos, é o mecanismo econômico que o rege. Esse mecanismo o faz decidir o que, como e para quem produzir: qual produto ou serviço deve ser feito, para qual público e em que quantidade e frequência. Stadler (2012) afirma que:
Tudo o que for produzido precisa atender necessidades e satisfazer desejos. Valores preconizados pelas estratégias de marketing. Para alcançar o lucro, maior participação no mercado, lancar novos produtos ou serviços, se diferenciar da concorrência, entre outros. Tudo isso depende da utilização e maximização dos recursos disponíveis: matérias-primas, trabalho etc. (Stadler, 2012)
Nosso sistema global de alimentos é responsável por 80% do desmatamento e é a principal causa da perda de espécies e de biodiversidade.
O sistema também é responsável por mais de 70% do consumo de água doce. Nesse contexto, dados das Nações Unidas (ONU, 2015) indicam que “o consumo global já é 1,5 maior que a capacidade da Terra de aguentar. Se a população e as tendências de consumo continuarem a crescer, a humanidade precisará do equivalente a dois planetas Terra para sustentar-se em 2030”.
Na obra Ética e meio ambiente: construindo as bases para um futuro sustentável, Mario Alencastro (2015) aponta que
o controle sobre as forças da natureza apresenta à humanidade um problema cuja solução ultrapassa o escopo da ciência ou da tecnologia. A questão envolve uma reflexão sobre as causas e uma apurada análise em torno da construção de princípios, valores e atitudes que possam mediar os atos humanos relativos ao seu relacionamento com a natureza, temática central de uma emergente visão rumo à ética ambiental.
A RSE está diretamente relacionada às expectativas, necessidades da sociedade e à forma de responder pelas consequências de atitudes e impactos causados aos indivíduos ou grupos, bem como ao ecossistema. Os princípios da RSE representam atitudes compromissadas imutáveis, refletem o “caráter” da
organização sendo um conjunto de posturas inegociáveis. Valores universais são pilares para a convivência entre cidadãos de todo o mundo. Tomemos por exemplo uma empresa que fabrica veículos. Ela provoca impactos principalmente ambientais e no transporte da sociedade. Assim, ela pode determinar que os valores de posicionamento da marca serão segurança no trânsito e meio ambiente, inseridos na responsabilidade social e sustentabilidade.
Os indivíduos passam, mas a consciência coletiva permanece viva e atuante, de geração em geração. O importante é frisar que esse conjunto de ideias, sentimentos, crenças e valores predominantes forma um sistema, que atua na mente de cada um de nós como uma espécie de reator automático, no julgamento de fatos ou pessoas” (Comparato, 2011, p. 252).
Na gestão da RSE, os princípios estabelecidos para a RS são seis: transparência; comportamento ético; respeito pelos interesses das partes interessadas; respeito pelo estado de direito; respeito pelas normas nternacionais de comportamento; e accountability, ou responsabilização. Identificar qual é o perfil da organização de acordo com o negócio, criar valor para o cliente, entregar e sustentar esse valor é umas das atribuições do gestor em ser (Inmetro, 2018).
TEMA 4 – DESIGUALDADE SOCIAL VERSUS RISCO AMBIENTAL: MINIMIZAÇÃO DOS RISCOS
O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em discurso na ONU em setembro de 2016, declarou: “um mundo no qual 1% da humanidade controla uma riqueza equivalente à 99% dos demais nunca será estável.”
Dados preocupantes foram apresentados durante o Fórum Mundial Social, em 2017, pela ONG britânica Oxfam, que todo ano apresenta em Davos o mapa da desigualdade mundial. Desde 2015, apenas 1% da população global concentrava em mãos mais riqueza que os 99% restantes; ao longo dos próximos 20 anos, 500 pessoas transferirão mais de US$ 2,1 trilhões para seus herdeiros – soma mais alta que o PIB da Índia, que tem 1,2 bilhão de habitantes. A Oxfam aponta que o crescimento da desigualdade social é o caldo de cultura para o aumento da criminalidade, do terrorismo e da insegurança global. E assinala: “há cada vez mais pessoas vivendo com medo do que com esperança”.
Embora as políticas sociais tenham retirado milhões de pessoas da miséria e da pobreza nas últimas décadas, ainda hoje uma em cada nove pessoas vai dormir com fome. E a fome, que não tem ideologia, facilmente reduz um homem a um animal feroz (Frei Betto, 2017).
No Brasil, cerca de 50 milhões de brasileiros, o equivalente a 25,4% da população, vivem na linha de pobreza e têm renda familiar equivalente a R$ 387,07. Os dados foram divulgados em 15/12/2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outro estudo divulgado pelo Jornal Folha de São Paulo destaca que: um grupo formado por cerca de 1,4 milhão de brasileiros, equivalente a 1% da população, fica com 28% de toda a renda nacional; os 10% mais ricos da população ficam com mais da metade da renda nacional. (IBGE; WID; Extreme and Persistent Inequality: New Evidence for Brazil Combining National Accounts, Surveys and Fiscal, 2001-2015)
Na opinião dos especialistas, o único caminho para combater os elevadíssimos índices de desigualdades social, é a transferência de capital dos ricos para os pobres.
O maior desafio das organizações é conciliar interesses. Conciliar interesses públicos e privados sobre questões ambientais, sociais, mercadológicas, políticas, econômicas que, na maior parte das vezes, são antagônicos. Isso leva à implementação de mecanismos de controle.
Esses sistemas de controle se dão pela estruturação das organizações com base em sistemas normativos. As normativas e a legislação brasileira são estabelecidas em nível municipal, estadual e federal. Num sistema globalizado, o âmbito de aplicação das normas e leis ultrapassam as fronteiras de cada Estado e se aplicam leis internacionais, comuns a diversos países; são as normas internacionais.
A exemplo das normativas relacionadas à erradicação da pobreza e do meio ambiente, a Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil de 1988, art. 3, institui erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.
Com base na legislação, surgiram outras normas e certificações que se constituem, cada vez mais, na garantia dos atributos ambientais e socialmente responsáveis divulgados pelas empresas.
Para o consumidor, as normativas são uma garantia de estar adquirindo um produto ou serviço de qualidade para si, para o ambiente e respeito às questões sociais. Os stakeholders que se relacionam com a empresa certificada representam a garantia de fazer negócios e ganho de visibilidade mútuo.
Na gestão da Sustentabilidade e Responsabilidade Social, as normas são de uso voluntário, isto é, não são obrigatórias por lei. Funciona a ética da responsabilidade. Certificações voluntárias são aquelas em que a empresa define se deve ou não certificar o seu produto de acordo com o disposto em uma norma técnica, com base em benefícios que identifiquem o que essa certificação pode trazer ao seu negócio. Os principais benefícios da aplicação de normas e certificações são:
a. Tornar a fabricação e o fornecimento de produtos e serviços mais eficientes.
b. Facilitar o comércio mais justo entre países.
c. Fornecer aos governos uma base técnica para saúde, segurança e legislação ambiental.
d. Atender à reivindicação da sociedade.
Outros benefícios são avaliação da conformidade, o compartilhamento dos avanços tecnológicos, inovação, boas práticas de gestão e melhoria da imagem perante a sociedade.
Quadro 2 – Avaliação de conformidade
	Norma
	Ano
	Tema
	
ISO 26000
ABNT-NBR ISO 26000
	
2010 – Genebra, Suíça 2010 – São Paulo, BR
	
Diretrizes sobre responsabilidade social corporativa
	
SA 8000
	1997 – 1.a edição 2014 – 2.a edição
	Responsabilidade Social e
stakeholders internos – cadeia de suprimentos
	ABNT-NBR 16001
	2004 – 1.a edição
2012 – 2.a edição
	Responsabilidade social sistema da
gestão
TEMA	5	–	CRESCIMENTO	ECONÔMICO	E	PROGRESSO	SOCIAL RECONSIDERADOS: O DOMÍNIO DA POLÍTICA
Em 2010, o governo brasileiro, ao lançar para consulta pública o Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis, anunciou ser fundamental atuar em duas frentes: a produção mais limpa e o consumo mais responsável. “[...] sem isso, é impossível progredir rumo a uma economia de baixo carbono, rumo a uma economia mais sustentável”, declarou a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.”
Segundo analistas do Instituto Ethos de Responsabilidade Social:
O tema da produção e consumo sustentáveis ganha a cada dia maior relevância no cenário nacional e internacional. Iniciativas consideráveis podem ser observadas nos últimos 10 anos tanto por parte do setor público quanto do setor privado que buscam praticar uma economia mais limpa, observando critérios de conservação ambiental, e de diminuição dos Gases de Efeito Estufa (GEE). (Teixeira, 2010).
Na área ambiental, o Brasil tem desenvolvido importantes políticas de proteção ambiental e instrumentos legais, dentre eles, a Lei Nacional de Recursos Hídricos (1998); a Política Nacional de Educação Ambiental (1999) e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (2002).
Em 2009, a Política Nacional sobre Mudança do Clima e a Política Nacional de Resíduos Sólidos (2010) forneceu diretrizes para orientar as ações das empresas e indústrias para o desenvolvimento sustentável.
Inserido nas diretrizes globais propostas pela ONU, em 2010, o governo brasileiro elaborou o Plano de ação para produção e consumo sustentáveis (PPCS).
O conceito de Produção e Consumo Sustentáveis (PCS) resultou da prática de profissionais atuantes na área e de políticas ambientais de Produção mais Limpa (P+L) (Brasil, 2010). “As seis prioridades apontadas no documento são: Educação para o consumo sustentável; Compras públicas sustentáveis; Agenda ambiental na Administração Pública; Aumento da reciclagem de resíduos sólidos; Varejo sustentável; Construções sustentáveis” (Portal Brasil, 2014).
É importante refletir a respeito da ideia equivocada de culpar governos e indústrias por todos os problemas relacionados ao atual colapso climático e poluição mundial. Há tendência de esquecer que não são as empresas de petróleo que dirigem os carros, pois são os próprios consumidores, responsáveis pelas escolhas de consumo. Um exemplo, sob a ótica de consumidor, é a do motorista que avalia os custos de seu carro levando em conta preço do combustível, estacionamento, gasto de manutenção, pedágio e pagamento de taxas do veículo. No entanto, nunca atribui qualquer valor ao fato de que seu veículo emite gases de efeito estufa. Isso ocorre porque esse valor nunca lhe é cobrado. Os consumidores avaliam os gastos com base em fatores de precificação do mercado porque os custos aplicados ao uso ou impactos provocados aos recursos naturais não são precificados.
Fernando Meneguin (2012) afirma:
se forem adequadamente quantificados e internalizados os custos ambientais dos empreendimentos, não há margem para a dicotomia entre crescimento econômico e sustentabilidade, isto é, se determinado projeto for lucrativo após a incorporação dos custos associados aos prejuízos ambientais que acarreta, ele pode ser implementado. Isso é sustentável.
Objetivando o desenvolvimento sustentável, para considerar os custos dos recursos naturais e prevenir a escassez futura, são necessárias novas políticas de intervenção fiscal, mudança nos subsídios nocivos, aplicação de instrumentos para corrigir falhas de mercado, intervenção e fiscalização do poder público. Além disso, é preciso que haja investimentos públicos de incentivo à inovação e educação para a ética ambiental.
As crises que pontuam a longa história do capitalismo são também descritas como erros de política. Combinar os limites planetários e sociais cria uma nova perspectiva para o desenvolvimento sustentável. Enquanto defensores dos direitos humanos trabalham para garantir o direito de cada pessoa ao essencial à vida, economistas ecológicos enfatizam a necessidade de situar a economia global.
Há muitas interações dinâmicas e complexas ao longo e entre os múltiplos limites. Há o Piso Social dos Direitos Humanos, que envolve acesso a água, comida, saúde, educação, igualdades de gênero e social, energia, trabalho, voz. Ainda, há o Teto Ambiental dos Limites Planetários, que engloba mudanças climáticas, água potável, poluição química, acidificação dos oceanos, acúmulo de aerossóis na atmosfera, destruição da camada de ozônio, perda de biodiversidade, alterações no uso dos solos. Entre o piso e o teto há um espaço representado em forma de diagrama, na figura a seguir, que é trabalhar para “o espaço justo e seguro para a humanidade”, e ao mesmo tempo, realizar ações para o “desenvolvimento econômico inclusivo e sustentável” (Rockström, citado por Assadourian; Prugh, 2013, grifo nosso).
Figura 1 – Teto e piso
Fonte: Rockström, citado por Assadourian; Prugh, 2013.
TROCANDO IDEIAS
Que tal utilizar o diagrama de Rockström para analisar sua cidade ou o bairro em que mora? Quais seriam as necessidades e potencialidades no Piso Social e Teto Ambiental?
NA PRÁTICA
Nesta aula, tivemos a oportunidade de conhecer a Teoria dos Stakeholders, uma diretriz amplamente utilizada na gestão da RSE. A atividade proposta é pesquisar quais questões são avaliadas sobre stakeholders nos indicadores de sustentabilidade. Passos para resolver: 1. Pesquisar: GRI-G4 Global Reporting Iniciative; Diretrizes do Instituto Ethos; Pacto Global ONU; 2. Identificar o que é avaliado sobre stakeholders; 3. Fazer a correlação com a sua vivência profissional/sua realidade. A síntese de uma resolução: 1. Pesquisar na internet; 2. Selecionar os indicadores nos relatórios de Sustentabilidade; 3. Buscar falhas e acertos na comunicação elaborando suas próprias conclusões.
FINALIZANDO
Esta aula foi direcionada para os aspectos conceituais e históricos do modelo capitalista e seus impactos no mercado industrial. Apresentamos os precursores do capitalismo e datas mais relevantes na história. Em uma linha do tempo, observamosos períodos em que aconteceram as revoluções industriais.
Para aplicabilidade na RSE, abordamos as diretrizes que devem ser consideradas no planejamento estratégico da empresa: o conceito de stakeholders, a segmentação dos públicos e a teoria de E. Freeman.
Ainda, nos debruçamos sobre dados e números que demonstram a influência e consequências dos padrões de consumo adotados desde que o modelo capitalismo foi implantado no mundo. Observamos o impacto também das crises globais. Destaca-se a importância de assistir ao documentário Home, cujo link está disponível na seção Contextualizando, pois ele ampliará sua percepção sobre os assuntos tratados nesta aula.
REFERÊNCIAS
Nesta terceira aula veremos o que é o modelo fordista de produção e o que levou a que Henry Ford fosse considerado o precursor da ideia de responsabilidade social. Conheceremos visões de autores sobre relações entre trabalho e consumo estabelecidas pelo modelo capitalista. Veremos também em que se baseia a teoria do livre mercado, do economista Milton Friedman, e sobre a função das empresas. Serão apresentadas análises feitas por outros autores a respeito das teorias de Friedman. Por último, conheceremos a mudança de paradigma na administração das empresas, da gestão tradicional para a gestão ecocêntrica, esta última considerada um dos valores da RSE. Disponibilizamos também o Roteiro Básico para Diagnóstico de Responsabilidade Social Empresarial (RSE).
Convidamos para uma reflexão, ao final desta aula, para que avalie se, com o decorrer dos anos, as mudanças têm sido significativas e, principalmente, sob quais aspectos
CONTEXTUALIZANDO
Os temas ligados à sociedade de mercado estão intrinsecamente conectados à produção de bens materiais, oferta de serviços e produtos, em que tudo é fabricado graças à força de trabalho, às máquinas produzidas pelos próprios indivíduos e ao desenvolvimento de pesquisa e novas formas de gestão, entre outros.
Tudo gira em torno do consumo e da economia de mercado, pois sem eles não há capital para circular e produzir. Gira como o faz uma roda gigante, sempre em torno do mesmo eixo, suspensa em torres verticais, segurando em bancos oscilantes para que as pessoas girem ao seu redor.
Assim tem funcionado o sistema industrial durante séculos, preocupado com o equilíbrio entre oferta e demanda através da livre circulação de capitais, produtos e pessoas. Tudo girando sob o eixo do capitalismo.
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CONVERSA
 
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Figura 1 – O modelo fordista
Fonte: Questão... (2009).
O fordismo é caracterizado como sendo um modelo que transformou a maneira de administrar a indústria. A gestão da produção passou a ser em massa, ou seja, em grande escala. A fabricação, a montagem padronizada e estocada em grandes quantidades para comercialização foi característica desse modelo. São exemplos a produção de carros automobilísticos, a construção naval, equipamentos de transporte, o aço, produtos petroquímicos, a borracha, os eletrodomésticos. Outro foco do fordismo eram os trabalhos altamente especializados para determinadas tarefas.
O modelo teve origem no pioneirismo do industrial americano Henry Ford, vigorando entre 1914 até início dos anos 1970. Segundo o Portal História da Administração:
Henry Ford, fundador da Ford Motor Company foi o idealizador das modernas linhas de montagem utilizadas na produção em massa e se tornou uma das pessoas mais ricas de sua época. Com o desenvolvimento e produção do Modelo T revolucionou o transporte por automóvel e indústria americana. Também foi um inventor prolífico e registrou mais de 161 patentes. (Henry..., 2009)
Dois destaques resultantes desse modelo de administração estavam no fato de que se fabricava um grande número de automóveis que podiam ser adquiridos por preços acessíveis pelos consumidores e que os trabalhadores da fábrica recebiam bons salários. Foi a partir daí que as relações entre trabalho e consumo tomaram proporções transformadoras na indústria de grande escala, uma vez que a capacidade de produzir mercadorias passou a crescer num índice muito mais rápido do que a capacidade de consumir porque
TEMA 1 – O MODELO FORDISTA DE PRODUÇÃO
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as pessoas precisavam ter dinheiro para consumir o que era fabricado em massa.
No meio empresarial, a fase em que predominava o modelo fordista foi denominada de gigantismo industrial, marcada pelo grande poder das industrias geradoras de riquezas (Chiavenato, citado por Stadler, 2012, p. 18)
A crise desse modelo se dá a partir da década de 1970, com o avanço das novas tecnologias de informação e comunicação, da microeletrônica e da automatização. No pós-fordismo, o conflito de classes passou a se intensificar. As novas formas de industrialização segregavam os trabalhadores, em vez de uni-los. Cardoso (2011) faz uma análise e conclusão sociológica no estudo publicado na revista Tempo Social: “Poderíamos afirmar que o mundo do trabalho pacificou conflitos no pós-fordismo? Não é neste mundo contemporâneo do capital que essa tendência deixa de se afirmar”.
Para o pesquisador, basta observar a distribuição dos novos centros produtivos na zona oriental do planeta. Está evidente a depredação da força de trabalho, a ampliação das jornadas, o uso intensivo do trabalho feminino e infantil e, inclusive, os baixos salários. No contexto brasileiro, Cardoso (2011) lembra que, “no pós-fordismo, tem-se constatado um aumento considerável do número de trabalhadores que recorrem ao Judiciário como forma de buscar uma solução para minimizar conflitos surgidos na relação contemporânea entre capital e trabalho”.
1.1 O pioneiro na ideia de responsabilidade social
Em 1914, Henry Ford, presidente e acionista majoritário da fábrica automobilística Ford Motor Company, sediada em Michigan (EUA), tomou três medidas que provocaram a ira dos acionistas: reverteu uma parte dos lucros com os trabalhadores da fábrica; aumentou salários e criou um fundo para fazer face à previsível redução das receitas devido à baixa dos preços do Modelo T. Os acionistas, revoltados porque Ford não estava distribuindo parte dos lucros exclusivamente com eles, abriram uma ação judicial contra a empresa no Tribunal do Michigan. Para se defender no tribunal, Ford argumentava:
o propósito da empresa é fazer o máximo para todas as pessoas envolvidas, ganhem dinheiro e usem, criem emprego e desenvolvam
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carros que as pessoas possam usar… e, por acaso, ganhem dinheiro. (Lopes, 2016)
Essa ideia de que os negócios seriam um serviço prestado à comunidade foi ridicularizada pelo tribunal, dando ganho de causa aos acionistas. A Suprema Corte deferiu que uma empresa é organizada e orientada, primeiramente, para os lucros dos acionistas. Segundo a professora da Universidade Lusófona de Lisboa, Dra. Marta Lopes, esse acontecimento marcaria os anos seguintes da participação social das empresas:
Henry Ford ficará na história dos transportes e na história da Responsabilidade Social Empresarial. No primeiro caso, por ter revolucionado o mercado automóvel, no segundo, por não ter conseguido implementar as medidas sociais que tinha como propósito. (Lopes, 2016)
Saiba mais
Assista ao filme Ford: o homem e a máquina – parte 1, uma biografia de Henry Ford: <https://www.youtube.com/watch?v=WQIz665YEHY&feature=yout u.be>.
TEMA 2 – TRABALHO E CONSUMO
Zygmunt Bauman (1925-2017), sociólogo e filósofo contemporâneo, se referia às grandes fábricas fordistas como a personificação completa da tendência à rotina dos estímulos e da reação aos estímulos. Consistia no direito de estabelecer leis infringíveis, vigiar para garantir que fossem cumpridas. Para Bauman, esse modelo de dominação exigia um compromisso recíproco e constante dos administradores e dos administrados (Porcheddu, 2009).
Figura 2 – Capacidade de trabalhar e produzir versus capacidade de consumir
capacidade de trabalhar e produzir
capacidade de consumir
Na história da escola de administração de empresas, estudiosos preocupados com os impactos provocados pelo sistema de produção em massa, nos relacionamentos e comportamento

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