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E-book 4 Design by Freepik Franceli Guaraldo TEORIA E HISTÓRIA DO DESIGN GRÁFICO Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 ANTECEDENTES DO DESIGN GRÁFICO BRASILEIRO ������������������������������ 5 ART NOVEAU E ART DÉCO ����������������������������������� 12 DESIGN GRÁFICO ENTRE AS DÉCADAS DE 1920 E 1950 ���������������������������������������������������������� 19 DESENVOLVIMENTO DO DESIGN MODERNO NO BRASIL ������������������������������������������������������������� 28 DESIGN GRÁFICO A PARTIR DA DÉCADA DE 1980 ��������������������������������������38 CONSIDERAÇÕES FINAIS ���������������������� 52 SÍNTESE �������������������������������������������������������54 2 INTRODUÇÃO Neste e-book, vamos estudar o desenvolvimento do design gráfico no Brasil, a partir de um panorama geral que abrange várias temáticas, mais especifica- mente desde o período imperial, com o surgimento da atividade projetual e da utilização de códigos visuais para a produção de impressos, marcas registradas e rótulos comerciais de fabricação, distribuição e comercialização dos produtos industriais, bem como a produção de impressos e revistas ilustradas por editoras e artistas gráficos a partir da segunda me- tade do século 19. Vamos abordar também a influência dos movimentos Arts and Crafts, Art Noveau e Art Déco sobre o design gráfico de revistas, cartazes e selos no século 20; a influência da Semana de Arte Moderna (1922) e dos preceitos do Concretismo e Modernismo sobre o design editorial de livros, cartazes, capas de disco e projetos de identidade visual, mas também sobre a institucionalização do ensino de design no Brasil nos moldes ulmianos� Dentro desse contexto, vamos estudar ainda a ques- tão da existência de outras linguagens gráficas as- sociadas a pop art, psicodelismo e, posteriormente, cultura do fragmento, de raiz telecinematográfica. Além disso, vamos percorrer um panorama do design gráfico a partir da década de 1980, no qual temos a assimilação da estética pós-modernista por par- 3 te de vários designers, consolidando-se então uma visão pluralista que acabou por incorporar as ma- nifestações da cultura local, estabelecendo bases mais amplas para o design, que vão além do modelo racionalista-funcionalista (ulmiano), que predominou desde a institucionalização do ensino superior em design no país. Por fim, vamos considerar as diversas manifestações de design gráfico a partir da década de 1990, bem como a influência das novas tecnologias digitais (e virtuais), presentes no mercado globalizado. 4 ANTECEDENTES DO DESIGN GRÁFICO BRASILEIRO O design, como atividade de projeto de complexida- de conceitual e utilização de códigos visuais pree- xistentes, surgiu no Brasil em décadas anteriores a 1960 (CARDOSO, 2005). Desde o início do período imperial, que se estendeu de 1822 a 1889, existiu uma cultura projetiva em design ou relacionada ao projeto no Brasil, o que envolveu a criação de marcas registradas e rótulos comerciais. Isso ocorreu em função do crescimento urbano e do progresso técnico do setor de transportes, que faci- litou a circulação de mercadorias para exportação e consumo interno, bem como a necessidade de inser- ção da economia nacional na economia capitalista industrial que começava a surgir a nível mundial. Tal cultura relaciona-se a questões de ordem comu- nicacional e/ou identificadora para a produção de impressos, marcas registradas e rótulos comerciais, aplicados à fabricação, distribuição e ao consumo de produtos industriais, os quais podemos observar em imagens, tipografias, textos, nomes e formatos dos registros e rótulos com marcas, depositados nos livros-registros da Junta Comercial, no último quartel do século 19, na cidade do Rio de Janeiro (Distrito Federal), adquiridos pelo Arquivo Nacional. 5 Figura 1: Rótulos de fumo no Brasil Imperial (1878). Fonte: AMÍ Comunicação & Design. Figura 2: Xarope d’Abacaxi (1888). Fonte: AMÍ Comunicação & Design. 6 http://www.amicd.com.br/site/wp-content/uploads/2015/04/Fumo-de-Minas.jpg http://www.amicd.com.br/site/wp-content/uploads/2015/04/Fumo-de-Minas.jpg http://www.amicd.com.br/site/wp-content/uploads/2015/04/Xarope-dabacachi-656x1024.jpg Nesse período, as peças gráficas produzidas no Brasil estavam inseridas em um paradigma pré- -fotográfico. Produzidas por meio da litografia e da cromolitografia, essas peças indicam a presença do olhar europeu em sua criação, com filiação às pro- duções das Belas Artes, mas, por sua vez, também são redimensionadas pela realidade local do país. Observe que algumas procuram veicular a imagem regional (exótica) do Brasil para o exterior, enquanto outras trazem as imagens que constituem o reper- tório visual europeu da época. Conforme podemos notar, a imagem do rótulo é com- posta de cantoneiras, com acabamento rococó das vinhetas gráficas e alguns desenhos tipográficos, e a existência de regras de composição, diagramação, tratamento de volume preconizados pela pintura e escultura acadêmicas. A tipografia presente no rótulo utiliza diversos esti- los consagrados na época, entre os quais podemos mencionar o toscano, no “Superior Fumo de Minas” e “Importado do Rio de Janeiro”, o sem serifa em “Ramon Anido”, o tridimensional em “Artigas”. Além disso, os pergaminhos laterais constituem- -se em uma maneira clássica de ênfase e garantia das qualidades do produto, como se estivesse sen- do divulgado por outros além do próprio rótulo. Na embalagem do Xarope, as duas versões do mesmo rótulo foram confeccionadas em Paris, sendo que o texto muda, mas a imagem permanece a mesma. 7 Na versão nacional, o nome do produto e o nome do país ganham tradução, mas a distinção profissional do fabricante, chimiste e distillateur não. Nos rótulos dessa figura, percebe-se a grande integração entre texto e imagem em uma mesma composição; a ima- gem acontece em toda a extensão de cada rótulo e o texto é sobreposto a ela: por trás da palavra xarope, por exemplo, existe continuidade do cinza das nuvens e do amarelado do pôr-do-sol; na parte de baixo, a faixa desenha um interessante movimento gráfico: a partir do nome do fabricante até o nome do país, a faixa ganha tridimensionalidade, e as letras acom- panham o seu tremular. Cardoso (2008) informa que, a partir da segunda metade do século 19, houve o surgimento de uma preocupação com a qualidade do projeto tanto por parte das editoras quanto por parte dos artistas grá- ficos empregados por elas. No Brasil, essa preocupação esteve presente nas publicações e no editorial das principais publicações da época, como a do editor Francisco de Paula Brito, e no desenhista, litógrafo e editor Henrique Fleiuss. Francisco de Paula Brito iniciou sua carreira como aprendiz de tipógrafo na Tipografia Nacional, e depois se tornou compositor e editor de jornais, dirigindo uma série de “tipografias” (como eram denominadas as editoras), entre 1831 e 1886, no Rio de Janeiro. Essas publicações foram responsáveis por impor- tantes jornais e revistas, assim como boa parte da literatura nacional da época. 8 Henrique Fleiuss iniciou a publicação da Semana Ilustrada em 1860, a mais duradoura e influente das revistas ilustradas brasileiras da primeira geração (Figura 3 e Figura 4), que circulou juntamente com A Lanterna Mágica, uma publicação dirigida pelo poeta e pintor Manuel Araújo Porto-Alegre e ilustrada pelo pintor Rafael Mendes de Carvalho. Ao longo das décadas seguintes, ocorreu uma impor- tante evolução nos impressos brasileiros, destacando- -se os trabalhos do desenhista e editor Angelo Agostini na Vida Fluminense, publicada entre 1868 e 1876, e na Revista Ilustrada, uma publicação política, abolicionista e republicana brasileira, que circulou entre 1876 e 1898. Agostini é considerado um marco fundamental da his- tória gráfica nacional, pois elevou o padrão de design das revistas brasileiras, abrindo espaço para a atuação de artistas,como Pedro Américo, Aurélio de Figueiredo e o caricaturista português Rafael Bordalo Pinheiro. Figura 3: Página de abertura da Revista Ilustrada (1877). Fonte: www. junglekey.pt. 9 https://copaecabanna.files.wordpress.com/2010/09/sem-titulo.jpg https://copaecabanna.files.wordpress.com/2010/09/sem-titulo.jpg Figura 4: Capa do primeiro número da luxuosa Illustração do Brazil, mostrando o retrato da princesa Isabel, do conde d’Eu e do filho do casal, o príncipe do Grão-Pará (1876). Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira. Com o advento da fotografia, como técnica de re- presentação moderna, ocorreram importantes mu- danças na narrativa visual das revistas ilustradas da época, uma vez que elas, dadas as restrições tecnológicas do Brasil até o final do século 19, pas- saram a ser copiadas de fotografias que retratavam acontecimentos ao invés de localidades e pessoas. Cardoso (2005) pondera que o uso corrente do termo “desenho industrial” vem da década de 1850, quando uma disciplina com essa denominação passou a ser ministrada no curso noturno da Academia Imperial de Belas Artes� 10 http://bndigital.bn.br/acervo-digital/ilustracao-brazil/758124 http://bndigital.bn.br/acervo-digital/ilustracao-brazil/758124 Nesse contexto, é importante mencionar a implan- tação de instituições denominadas de Liceus de Artes e Ofícios em várias cidades do país, inspira- das nas ideias de John Ruskin e no Movimento Arts and Crafts. Associado a isso, destaca-se o Primeiro Projeto de Industrialização do país, fundamentado na Política do Ensino do Desenho disseminada pelo Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e pela Reforma do Ensino Primário de Rui Barbosa. Tal política tinha como objetivo a transformação do país de agrário para industrial, tendo como ideia central a Educação Estética (por meio do ensino do desenho) para a construção de um mercado de traba- lho popular, postulando uma união das artes liberais com as artes mecânicas. O historiador Rafael Cardoso (2005; 2008) indica ainda que o uso consciente do projeto em design para a criação de soluções gráficas com apelo ao público consumidor e/ou a atividade projetual que caracterizou o que hoje é conhecido como design passou a ser exercido nas últimas décadas do século 19, em associação com o primeiro surto industrial brasileiro, ocorrido entre 1870 e 1880, trazendo im- portantes consequências para a formação de um mercado consumidor interno e para o processo de desenvolvimento de uma tradição em design no país. 11 ART NOVEAU E ART DÉCO O período que se estendeu do final do século 19 até as primeiras décadas do século 20 abarcou no Brasil também dois outros importantes movimentos artísti- cos: o Art Nouveau e o Art Déco, como um prenúncio do Modernismo que estava por vir. O Art Nouveau se manifestou no campo das artes e do design gráfico, principalmente com as obras de Eliseu Visconti, que frequentava, em Paris, o curso de Artes Decorativas de Eugène Grasset. O pintor e desenhista Eliseu Visconti (1866-1944) é considerado um dos pioneiros no design do Brasil devido à sua visão integradora entre artes decorati- vas e indústria. Visconti produziu a ilustração para a capa da revista Revue du Brésil, em 1896, intro- duzindo o Art Nouveau nas artes gráficas do país, além de diversos trabalhos, tais quais os cartazes, impressos e identidade visual, uma coleção de 16 selos e bilhetes postais para os Correios, em 1903, utilizando a figura feminina como temática (Figura 5, Figura 6 e Figura 7). 12 Figura 5: Capa do primeiro número da Revue Du Brésil (1896). Fonte: Projeto Eliseu Visconti. Figura 6: Cartaz da Companhia Antartica (1920). Fonte: Projeto Eliseu Visconti. 13 https://eliseuvisconti.com.br/visconti-designer-design-de-impressos/ https://eliseuvisconti.com.br/visconti-designer-cartazes-e-artes-graficas/ https://eliseuvisconti.com.br/visconti-designer-cartazes-e-artes-graficas/ Figura 7: Projeto final para selo postal: A Aeronáutica (1903). Fonte: Projeto Eliseu Visconti. O período em que o Art Nouveau e o Art Déco apare- ceram no Brasil coincide com um momento de mo- dernização do país e renovação do mercado editorial nacional. Nesse cenário, surgem diversas revistas: O Malho, Careta, Ilustração Brasileira, Para Todos... e o infantil Tico-Tico (Figura 8, Figura 9 e Figura 10). Nesse mercado, destacam-se as ilustrações e ca- ricaturas de J. Carlos. O período de 1910 até 1930 caracterizou-se por ser uma época de efervescência do mercado editorial no Brasil, no qual se destacaram os ilustradores K. Lixto, Guevara, Raul e Fritz. 14 https://eliseuvisconti.com.br/visconti-designer-selos-postais/ Figura 8: Capa da O Malho (1919). Fonte: Copa & Cabanna Design Brasil. Figura 9: Capa do segundo número da revista A Maçã (1922). Fonte: www.revistaamaca.blogspot.com. 15 https://copaecabanna.files.wordpress.com/2010/09/2514675085_323ab20644_o1.jpg http://4.bp.blogspot.com/_vWPfl_l-_MM/Sco_WZxmtiI/AAAAAAAAAFI/QsTuhZ-S3Bw/s1600/CP_2.jpg Figura 10: Página editorial de A Maçã (1922). Fonte: Cardoso (2005, p. 95 e 110). Uma das revistas que se destacam por suas inova- ções gráficas é a A Maçã, editada por Humberto de Campos, publicada entre 1922 e 1929. Essa revista misturava texto e imagem, apresentando uma diagra- mação inovadora. Nela, utilizava-se uma técnica de impressão denominada zincografia, que consiste na impressão a partir de chapas de zinco ou alumínio, material econômico que barateava o custo. A gravura resultante era colorida pelo artista que, com apenas duas cores, criava as várias nuanças na imagem. A revista Para Todos... é considerada “a menina dos olhos” de J. Carlos. Foi criada em 1918 e circulou até 1926, sendo uma revista relacionada ao cinema 16 e voltada para o público feminino jovem, mulheres de classe média e alta, o que lhe permitiu maior li- berdade gráfica (Figura 11 e Figura 12). Figura 11: Quatro capas sequenciais de Para Todos… (1928). Fonte: Caminhos do Jornalismo. 17 https://caminhosdojornalismo.files.wordpress.com/2011/05/histc3b3ria-para-todos.jpg Figura 12: Desenhos e fotografias que estabelecem um diálogo irô- nico nas páginas de Para Todos…Fonte: Adaptado de Caminhos do Jornalismo. 18 Dessa forma, na década de 1920, o uso consciente do projeto como meio de conjugar linguagens, re- direcionando informações e criando identificação com o público, surpreendeu pela inovação e pelo pioneirismo na produção de livros com capas ilus- tradas e revistas com originais soluções em integrar imagem e texto. A década de 1920 trouxe também novos surtos de crescimento na atividade editorial fora da cidade do Rio de Janeiro, dos quais São Paulo se destacou a partir dos talentos gráficos de Paium e J. Prado, ligados à revista A Garoa, e ainda aqueles relaciona- dos ao movimento modernista da Semana de Arte Moderna de 1922, que provocou uma grande ruptura com os cânones acadêmicos e paradigmas estéticos do século 19. DESIGN GRÁFICO ENTRE AS DÉCADAS DE 1920 E 1950 A Semana de Arte Moderna de 1922, influenciada pelas vanguardas artísticas europeias, incorporou a experimentação e os aspectos da cultura local, buscando com isso uma identidade nacional e uma renovação das Artes como um todo. Na área de design gráfico, vale a pena destacar o tra- balho de Guilherme de Almeida, advogado, jornalista, heraldista, tradutor, crítico de cinema e com forte vínculo com as artes visuais. Trabalhando como edi- 19 tor e designer gráfico, Guilherme de Almeida esteve à frente da revista Klaxon, criando a capa e alguns de seus anúncios, além de participar da concepção gráfica de seus próprios livros (Figura 13 e Figura 14). Figura 13: Capa do primeiro número da Klaxon (1922). Fonte: Design Culture. 20 https://designculture.com.br/wp-content/uploads/2014/01/capaklaxon.jpg https://designculture.com.br/wp-content/uploads/2014/01/capaklaxon.jpg https://enciclopedia.itaucultural.org.br/instituicao19229/itau-cultural Figura 14: Anúncio pagopresente na Klaxon (1922). Fonte: Design Culture. A Klaxon foi a primeira revista modernista no Brasil e começou a circular após a Semana de Arte Moderna de 22 até 1923. Klaxon significa “buzina”, e em suas 21 https://enciclopedia.itaucultural.org.br/instituicao19229/itau-cultural https://designculture.com.br/wp-content/uploads/2014/01/lactacoma.jpg https://designculture.com.br/wp-content/uploads/2014/01/lactacoma.jpg páginas circularam as ideias de modernistas nacio- nais e internacionais, que queriam fazer “barulho” com as novas ideias de pensar e fazer literatura, poesia e artes plásticas, plantando uma semente também de uma nova estética na área de design gráfico brasileiro. Além da disseminação das ideias modernistas, a revista introduziu também uma nova estética na publicidade de seus únicos anunciantes, os chocolates Lacta e o Guaraná Espumante. Os movimentos e manifestos da Semana de Arte Moderna (Movimento Pau Brasil e Manifesto da Antropofagia) influenciaram posteriormente as ma- nifestações no campo das artes e do design, por exemplo, o tropicalismo e a bossa nova. Segundo Cardoso (2008), as mudanças na comunica- ção impostas pelo surgimento do rádio e do cinema modificaram a configuração visual dos impressos ao longo dos anos 1920 e 1940, em que ocorreram diver- sas reformulações gráficas e na interação entre texto e imagem em revistas, livros e cartazes, fazendo sur- gir no mercado editorial brasileiro empresas como a Companhia Editora Nacional, de Monteiro Lobato, em São Paulo, a Livraria José Olympio Editora, no Rio de Janeiro, e a Livraria do Globo, em Porto Alegre� Nesse cenário, o design gráfico do livro entra em uma nova fase, na qual se destacaram ilustradores e ca- pistas como Belmonte, Edgar Koetz, João Fahrion e, principalmente, Tomás Santa Rosa, que se constituiu em um marco fundamental do design gráfico pelo seu trabalho de diagramação e paginação cuidadosa 22 nos 220 livros projetados para a José Olympio, entre 1934 e 1954. O contexto socioeconômico das décadas de 1940 e 1950 envolvia um processo de modernização da pro- dução industrial brasileira, que se iniciou a partir da primeira fase do governo Vargas (1930-1945), após a decretação do Estado Novo (1937) e a eclosão da guerra na Europa (1939). A partir da década de 1950, o Brasil passou por uma intensa transformação, ocorrendo um grande proces- so de urbanização e uma industrialização forçada, em função de visões e políticas nacionalistas e de- senvolvimentistas (50 anos em 5) no país. Para Cardoso (2008), no campo do design gráfico, a partir de 1950, ocorreram importantes inovações relacionadas às ideias de modernidade que transfor- mavam a economia e a sociedade. Com a rápida evo- lução fonográfica, surgiu o design das capas de dis- co, em que se destacou o trabalho da dupla Joselino e Mafra (fotógrafo) e do argentino Paéz Torres, que foram pioneiros nessa atividade no Brasil, abrindo espaço para o trabalho de César G. Villela, que, na década de 1960, foi autor antológico na época da bossa nova. A atuação de Villela está diretamente relacionada à gravadora Elenco, que lançou discos de todos os expoentes do movimento Bossa Nova. De acordo com Chico Homem de Melo (2006), pode- -se considerar Cesar Villela um modernista livre das regras do Modernismo. As capas que dão visibilidade ao seu trabalho têm sempre um mesmo esquema 23 compositivo: foto do artista em alto contraste em um fundo branco, três bolinhas vermelhas, e uma invenção gráfica, ou no título, ou em algum traço par- ticular junto a esse conjunto reduzido de elementos. (Figura 15 e Figura 16). Figura 15: Capa de disco: Antônio Carlos Jobim. Fonte: Instituto Antônio Carlos Jobim. Figura 16: Capa de disco: Nara. Fonte: André Egg. 24 http://www.jobim.org/jobim/bitstream/handle/2010/8360/antoniocarlosjobim.capa.jpg?sequence=3 http://www.jobim.org/jobim/bitstream/handle/2010/8360/antoniocarlosjobim.capa.jpg?sequence=3 http://andreegg.org/wp-content/uploads/2017/02/disco-nara-1963.jpg A indústria fonográfica, na década de 1960, con- centrou-se em três grandes eixos: a Bossa Nova (e MPB), o Tropicalismo e a Jovem Guarda. Enquanto a MPB fazia a opção por uma linguagem modernista, o Tropicalismo apostava na vertente oposta, incorporan- do o psicodelismo e a pop art; já as capas de disco da Jovem Guarda contêm uma linguagem convencional. No campo editorial, os novos padrões tecnológicos associados ao ingresso da impressão offset no país ge- raram uma grande renovação no design gráfico de livros e revistas, no qual se destacaram: desenho de capas de Eugênio Hirsch e a diagramação de Roberto Pontual, junto à editora Civilização Brasileira; o trabalho de Carlos Scliar, Glauco Rodrigues, Michel Burton, Reynaldo Jardim e Bea Feitler no projeto gráfico da revista Senhor (Figura 17, Figura 18, Figura 19, Figura 20 e Figura 21). Figura 17: Capa da edição 1 da Senhor (1959). Fonte: O Globo. 25 https://s2.glbimg.com/7ADYdgne-0B9kt8wGy2e_JBacP4=/top/i.glbimg.com/og/ig/infoglobo1/f/original/2019/01/27/revista.jpg Figura 18: Capa da edição 7 da Senhor (1959). Fonte: www.zupi. pixelshow.co. Figura 19: Capa da edição 36 da Senhor (1962). Fonte: www.zupi. pixelshow.co. 26 https://i1.wp.com/zupi.pixelshow.co/wp-content/uploads/2013/06/149175-400x600-11.jpeg?w=680&ssl=1 https://i1.wp.com/zupi.pixelshow.co/wp-content/uploads/2013/06/149175-400x600-11.jpeg?w=680&ssl=1 https://i2.wp.com/zupi.pixelshow.co/wp-content/uploads/2013/06/149181-400x600-11.jpeg?w=680&ssl=1 https://i2.wp.com/zupi.pixelshow.co/wp-content/uploads/2013/06/149181-400x600-11.jpeg?w=680&ssl=1 Figura 20: Páginas internas da Senhor. Fonte: Homem de Melo (2005, p. 109-133). Figura 21: Páginas internas da Senhor. Fonte: Homem de Melo (2005, p. 109-133). 27 De acordo com Chico Homem de Melo (2006), no projeto gráfico dessa revista havia grande flexibi- lidade e liberdade para experimentações gráficas, pois texto, imagem e diagramação interagiam no sentido de promover um único diálogo. Muitas vezes, a ilustração dava a tônica da página e estabelecia a mancha gráfica. É importante mencionar também que houve uma ruptura com os padrões existentes no design edito- rial de capas, uma vez que o logotipo era posiciona- do distintamente em cada edição, sem interferir na identidade da revista Senhor, que resultava de um conjunto de elementos gráficos, não apenas de um elemento isolado� A revista também explorou as limitações da produ- ção gráfica, sendo quase inteiramente produzida em uma cor, buscando explorar novas possibilidades expressivas com poucos recursos gráficos. DESENVOLVIMENTO DO DESIGN MODERNO NO BRASIL Nos anos de 1950, ocorreu também a entrada oficial dos ideais concretistas no Brasil, que se iniciou com a poesia concreta (Noigandres). O concretismo, cuja gênese está ligada aos movimentos de vanguarda europeus do início do século 20, particularmente ao grupo De Stijl, está aglutinado no Brasil em torno dos grupos Ruptura (São Paulo) e Frente (Rio de Janeiro). 28 Os seus teóricos mais radicais, como Waldemar Cordeiro (Ruptura), postularam uma arte racional e objetiva, instaurando no país uma revolução estética com novas maneiras de pensar e fazer no campo das artes plásticas, do design, da poesia e da publicidade. Assim, grandes transformações artísticas marcaram o eixo Rio-SP, proporcionadas em sua grande maioria pela repercussão das Bienais de São Paulo (Figura 22, Figura 23 e Figura 24). Podcast 1 Figura 22: Cartazes da Bienal: (sentido horário) Antonio Maluf. Fonte: www.bienal.org.br. 29 https://famonline.instructure.com/files/168880/download?download_frd=1 http://imgs.fbsp.org.br/files/01bsp-poster-720px.jpg Figura 23: Alexandre Wollner. Fonte: www.bienal.org.br. Figura 24: Gobel Weyne. Fonte: www.bienal.org.br. 30 http://imgs.fbsp.org.br/files/03bsp-poster-720px.jpg http://imgs.fbsp.org.br/files/09bsp-poster-720px.jpg A partir da premiação da escultura Unidade Tripartida,do suíço Max Bill, na primeira edição da Bienal, artistas, designers e poetas que já focavam suas experiências na construção racional e no abs- tracionismo passaram a enfatizar modelos europeus construtivistas e funcionalistas em seu trabalho, como possibilidade de expressão e comunicação de novos valores da nova sociedade que emergia dos novos centros urbanos, e do homem moderno. O concretismo alcançou a sua popularização nos anúncios publicitários da revista O Cruzeiro� Nesse panorama de grandes transformações eco- nômicas, sociais e principalmente artísticas, ocor- reu a implantação e institucionalização formal do ensino superior em desenho industrial por meio da criação da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), em 1963, no Rio de Janeiro, e também com a introdução da chamada sequência de Programação Visual, no Departamento de Projetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Inspiradas nas ideias de Max Bill e no modelo da Escola de Ulm, a ESDI disseminou um ensino do de- sign baseado em uma estética modernista e em uma filosofia racionalista/funcionalista, cujos pressupos- tos são a simplicidade, objetividade e universalidade, dos quais se originou a “boa forma”. A ESDI tornou-se a matriz para a maioria das esco- las de design que surgiram nas décadas seguintes. Desse modo, no Brasil, a influência dos princípios 31 funcionalistas da Bauhaus e da Escola de Ulm po- dem ser encontradas no projeto do Instituto de Arte Contemporânea (IAC) do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), em 1951, e na forma- lização do ensino superior na área de design com a implantação em 1963 da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), no Rio de Janeiro. Vale mencionar que importantes artistas e de- signers brasileiros como Geraldo de Barros e Alexandre Wollner foram alunos do IAC, sendo que este último, por intermédio de Max Bill, se tornou estudante na Escola de Ulm e posteriormente atuou na implantação da ESDI, como docente da escola no Brasil� As décadas de 1950 e 1960 caracterizaram-se pelo período de implantação e organização de estatais, como a Vale do Rio Doce e a Petrobrás, e pela ins- talação de multinacionais, como a Mercedes Benz e a Pirelli, o que possibilitou a abertura de novos campos de trabalho para o designer gráfico, como o de projetos de identidade visual. Observe a figura a seguir: 32 Figura 25: Identidades visuais projetadas por Alexandre Wollner. Fonte: Adaptada de Stolarski (2005). Com isso, em 1958, surgiu na cidade de São Paulo o Forminform, considerado o primeiro escritório de design do Brasil. Foi fundado por Geraldo de Barros, Rubens Martins e Alexandre Wollner, mais o admi- nistrador e publicitário Walter Macedo. Baseado nos princípios funcionalistas de design da Escola de Ulm, o escritório desenvolveu diversos projetos de identi- dade visual e embalagens. O Forminform dissolveu- -se em 1968, após a morte de Rubens Martins. Alexandre Wollner, considerado o pai do design gráfico moderno brasileiro, logo se destacou no Forminform. Formado pela escola de Ulm, partici- pou da implantação da ESDI, sendo um de seus pri- meiros docentes, e é conhecido ainda hoje por seus cartazes e projetos de identidade visual realizados para grandes empresas, como o banco Itaú, Klabin e Coqueiro/Metal Leve, entre outros. 33 SAIBA MAIS Você pode conhecer melhor o desenvolvimento do design moderno no Brasil e a trajetória profis- sional do designer Alexandre Wollner, assistindo ao documentário Alexandre Wollner e as origens do design moderno no Brasil, produzido em 2005, por André Stolarski. Disponível neste link. Acesso em: 29 nov. 2019. Outro grande ícone do design gráfico brasileiro que se destacou pela sua colaboração na implantação da ESDI e pelo trabalho na área de identidade visual é Aloísio Magalhães, considerado o mais influente de- signer brasileiro do século 20. Embora tenha iniciado sua trajetória com o movimento O Gráfico Amador, em Recife (PE), o designer alcançou visibilidade durante as décadas de 1960 e 1970, a partir de seus projetos de identidade visual para a Fundação Bienal de São Paulo, a Universidade de Brasília, Unibanco, Light, Petrobrás, Souza Cruz e Banco Boa Vista, dentre outros (Figura 26). Figura 26: Identidades visuais projetadas por Aloísio Magalhães. Fonte: Design Culture. 34 https://www.youtube.com/watch?v=s7LOZLMRRO0 https://designculture.com.br/wp-content/uploads/2017/04/Logos-Famosos-Aloisio-Magalhaes-Capa.png Muitas das identidades visuais criadas por ele ainda estão em uso. É autor também de projetos públicos de comunicação visual marcantes, como as séries de cédulas de dinheiro de 1968 e 1978 para a Casa da Moeda, o Sesquicentenário da Independência (1972) e o Quarto Centenário da Fundação da cida- de do Rio de Janeiro (1965), dentre outros. Atuou como secretário de cultura do Ministério da Educação e da Cultura (MEC) e como diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), procurando refletir sobre o ensino e a atuação profis- sional em design, considerando questões associadas aos valores da cultura brasileira� FIQUE ATENTO Excerto da palestra proferida pelo designer Aloí- sio Magalhães por ocasião dos 15 anos de exis- tência da ESDI, sobre o design industrial e seu desenvolvimento em países do Terceiro Mundo, como o Brasil: “[...] É preciso atentarmos para o fato de que nes- sa segunda metade do século 20 os conceitos de desenvolvimento socioeconômico e das relações entre países de economia centralizadora e econo- mia periférica precisam ser revistos. Nesse caso, nossa posição no domínio do Desenho Industrial pode oferecer, através da ótica abrangente que o modelo nos proporcionou, condições de recon- ceituar a própria natureza da atividade que nas- ceu voltada apenas para a solução de problemas 35 https://pt.wikipedia.org/wiki/Minist%C3%A9rio_da_Educa%C3%A7%C3%A3o_(Brasil) https://pt.wikipedia.org/wiki/Minist%C3%A9rio_da_Educa%C3%A7%C3%A3o_(Brasil) https://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_do_Patrim%C3%B4nio_Hist%C3%B3rico_e_Art%C3%ADstico_Nacional https://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_do_Patrim%C3%B4nio_Hist%C3%B3rico_e_Art%C3%ADstico_Nacional https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_brasileira emergentes da relação tecnologia/usuário em contextos altamente desenvolvidos, a bitola es- treita da relação produto/usuário nas sociedades eminentemente de consumo. (Fonte: MAGALHÃES, A. O que o design industrial pode fazer pelo país? Revista Arcos, Rio de Janeiro, v. 1, p. 8-12, 1998). REFLITA A partir da leitura do texto/palestra de Aloísio Magalhães, reflita sobre as possibilidades e limi- tes de desenvolvimento do design brasileiro no século 21. Aponte caminhos para que isso possa ser viabilizado. A linguagem gráfica instaurada pelo modelo moder- nista prevaleceu no design corporativo, pelo menos até o final da década de 1960, utilizada por desig- ners, com diferentes visões, mas pertencentes aos circuitos mais eruditos da profissão (HOMEM DE MELO, 2006). Na área de design editorial, a linguagem gráfica mo- dernista se fez presente no final da década de 1960 e coexistiu com as anteriormente existentes no Brasil, acrescendo-se a essas outras variantes oriundas da pop art, do psicodelismo (Figura 27 e Figura 28) e da cultura do fragmento, de raiz telecinematográfica. 36 Figura 27: Capa do primeiro álbum de Caetano Veloso (1968). Fonte: ResearchGate. Figura 28: Capa do segundo álbum de Gilberto Gil (1968). Fonte: www. hastaluegobaby.blogspot.com. 37 https://www.researchgate.net/publication/326606774/figure/fig1/AS:652329846067200@1532538963145/Figura-1-Capa-do-disco-Caetano-Veloso-1968-com-projeto-grafico-de-Rogerio-Duarte.png http://3.bp.blogspot.com/_cr71CgHJ5Rg/Ssqdw6GfWAI/AAAAAAAAAys/qEkUlF-VkE0/s1600/Capa+Gilberto+Gil+1968.jpg http://3.bp.blogspot.com/_cr71CgHJ5Rg/Ssqdw6GfWAI/AAAAAAAAAys/qEkUlF-VkE0/s1600/Capa+Gilberto+Gil+1968.jpg DESIGN GRÁFICOA PARTIR DA DÉCADA DE 1980 A década de 1970 preparou as mudanças que acon- teceram nas décadas seguintes no design gráfico brasileiro. A partir de 1980, com o final da Ditadura Militar (1964-1985), o Pós-Modernismo chegou ao Brasil, e os designers brasileiros assimilaram a es- tética pós-modernista em prol da reafirmação (e da construção) do design local, que se estabeleceu sob bases mais amplas, além do modelo racionalista- -funcionalista que havia predominado desde a insti- tucionalização do ensino superior em design no país. De modo similar ao pensamento pós-moderno eu- ropeu, a prática do design abriu-se para uma abor- dagem pluralista, incorporando como referências diversos elementos culturais existentes nas várias regiões do país, como a cultura popular, o folclore, o carnaval e até as telenovelas, evidenciando uma estética múltipla, um hibridismo, um sincretismo, que buscava resgatar cada vez mais os elementos da cultura brasileira, isto é, uma identidade nacional. Diante de uma perspectiva de globalização, junto com o advento das novas tecnologias de comuni- cação e informação (TIC), desde a década de 1990, o campo do Design no Brasil tem passado por di- versas e profundas mudanças, no que diz respeito ao estabelecimento de diálogos férteis com outras áreas (Arte, Artesanato e Vernacular), pela constru- ção de linguagens diversificadas, novos sistemas 38 de trabalho, novas formas de criação, produção e comercialização de produtos nos vários segmentos do design� Podcast 2 Dessa forma, no design gráfico brasileiro contempo- râneo (a partir de 1990), estão presentes as lingua- gens do gesto, da complexidade, excesso, variedade e fragmento, oriundas da televisão e do cinema, da pós-fotografia e finalmente pelos recursos da com- putação gráfica, adotados pela maioria dos profis- sionais atuantes na época, bem como pelas novas tecnologias digitais (e virtuais) presentes no mercado globalizado. Rico Lins é um designer gráfico, ilustrador e profes- sor formado pela ESDI em 1979, que tem atuado no +Studio desde 1995, com um design múltiplo que, segundo o próprio designer, dialoga com as fronteiras da comunicação: arte, design, ilustração, publicidade e educação. Aborda, de modo plural e integrado, as áreas de cria- ção, pesquisa, estratégia e identidade. Tem traje- tória e reconhecimento internacionais, pois atuou nas últimas três décadas em diversas cidades, tais quais Paris, Londres, Nova York, Rio de Janeiro e São Paulo; mas também para diversas instituições como CBS Records, NY Times, Newsweek, Time, MTV, TV Globo, Grupo Abril, Natura, Sesc, Museu da Língua Portuguesa, além de inúmeras editoras. 39 https://famonline.instructure.com/files/210459/download?download_frd=1 Ao atuar em diversos segmentos do design, o desig- ner sempre buscou o engajamento e o envolvimento do público em suas peças de comunicação, como é o caso dos cartazes que compõem o projeto Marginais Heróis, no qual se propõe o uso de tecnologias hí- bridas, explorando as diversas linguagens visuais, considerando ainda as ações de preservação do patrimônio gráfico brasileiro, memória e identidade (Figura 29, Figura 30 e Figura 31). Figura 29: Cartaz para a Alliance Graphique Internationale (2005). Fonte: www.ricolins.com. 40 https://www.ricolins.com/wp-content/uploads/2017/04/coexistence-main.jpg Figura 30: Cartaz para a 30ª Bienal de São Paulo (2012). Fonte: www. ricolins.com. Figura 31: Projeto Marginal Heróis: Cartazes + exposição (2012-2015). Fonte: www.ricolins.com. 41 https://www.ricolins.com/wp-content/uploads/2017/07/bienal_sp_30_bienal_cartaz_cmyk_120903-1.jpg https://www.ricolins.com/wp-content/uploads/2017/07/bienal_sp_30_bienal_cartaz_cmyk_120903-1.jpg https://www.ricolins.com/wp-content/uploads/2015/09/marginal_heroi_1.jpg Kiko Farkas, designer gráfico e ilustrador, é filho de Thomas Farkas, um dos pioneiros da fotografia mo- derna no Brasil. Formado pela FAU-USP em 1982, é um dos fundadores da Associação dos Designers Gráficos (ADG), com trabalhos de reconhecimento internacional. Segundo seu colega Rui Ohtake, Farkas pode ser caracterizado por um designer que desenha. Tem uma visão funcionalista da atividade projetual em design, concebendo-a como uma atividade de resolução de problemas, trabalhando no seu estúdio denominado de máquina� De acordo com o designer e professor João de Souza Leite, o trabalho de cartazes musicais de Kiko Farkas se notabiliza por uma estética moderna referente ao design suíço dos anos de 1950 e 1960. Farkas trabalha de forma sofisticada e refinada com a fotografia em preto e branco e com duotone, uti- lizando diversos recursos de linguagem visual, tais quais: fotografias recortadas ou com tratamento de cor, integrando tipografias em arranjos acidentais, elementos geométricos, pinceladas e desenhos ges- tuais, apropriando-se da estética de diversos perío- dos da história do design gráfico. Desde 1990, o design de cartazes é uma atividade re- corrente em sua trajetória, utilizando-se de conceitos provenientes das áreas visual e musical, como ritmo, harmonia, precisão, complexidade, vibração, con- traponto, procurando veicular a música através das imagens (Figura 32, Figura 33, Figura 34 e Figura 35). 42 Figura 32: Cartaz criado para a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Máquina Studio), de 2003 a 2007. Fonte: www.kikofarkas.com.br. Figura 33: Cartaz criado para a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Máquina Studio), de 2003 a 2007. Fonte: www.kikofarkas.com.br. 43 https://www.kikofarkas.com.br/app/uploads/2015/10/osesp-cartazes-09-semana5-2005-930x1362.jpg https://www.kikofarkas.com.br/app/uploads/2015/10/osesp-cartazes-09-semana1-2005-930x1362.jpg Figura 34: Cartaz criado para a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Máquina Studio), de 2003 a 2007. Fonte: www.kikofarkas.com.br. Figura 35: Cartaz criado para a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Máquina Studio), de 2003 a 2007. Fonte: www.kikofarkas.com.br. 44 https://www.kikofarkas.com.br/app/uploads/2015/10/osesp-cartazes-08-semana2-2005-930x1362.jpg https://www.kikofarkas.com.br/app/uploads/2015/10/osesp-cartazes-12-institucional-2005-930x1362.jpg Carlos Augusto Martins Lacaz, o Guto Lacaz, artista multimídia, ilustrador, designer, desenhista e cenó- grafo, é formado em Arquitetura (FAU-SJC) e Artes Plásticas. Seu trabalho percorre diversas áreas entre design gráfico, criação de objetos do cotidiano e ex- ploração de interfaces tecnológicas na Arte, sendo caracterizado por toques de humor e ironia, com um estilo experimental. Seus trabalhos têm sido expos- tos nas cidades brasileiras e do mundo. Na área de design gráfica especificamente, o artista tem diver- sos trabalhos: cartazes, ilustrações, livros, CDs e programas, logotipos etc. (Figura 36, Figura 37, Figura 38 e Figura 39): Figura 36: Cartaz para a Rio 2016. Fonte: www.gutolacaz.com.br. 45 http://www.gutolacaz.com.br/2016/12/cartazes/2/olimpiada.jpg Figura 37: Ilustração a guache para o caderno de apresentação da empresa Freios Varga. Fonte: www.gutolacaz.com.br. Figura 38: Logotipo Tupi or not Tupi. Fonte: www.gutolacaz.com.br. 46 http://www.gutolacaz.com.br/grafica/ilustracoes/imgs/01.jpg http://www.gutolacaz.com.br/2017/08/logos/tt/12.jpg Figura 39: Catálogo da exposição Santos Dumont Designer. Fonte: www.gutolacaz.com.br. Gustavo Piqueira é um dos mais premiados designers gráficos brasileiros da contemporaneidade, com re- conhecimento internacional. Formado pela FAU-USP, é proprietário de um estúdio de design, a Casa Rex, na qual atua nas mais diversas áreas do design: ilus- tração, design editorial (livros e revistas, tipografia, objetos, entre outros. Sua concepção de design está relacionada à questão do diálogo e integração entre design, arte, história e literatura, questionando os limites entre as lingua- gens. Piqueira fundou a editora Lote 42, em 2012, e é autor de mais de 30 livros, nos quais mistura livrementetexto, imagem e design. 47 http://www.gutolacaz.com.br/grafica/sd/imgs/01.jpg Figura 40: Livro Lululux (2015). Fonte: www.lote42.com.br. Figura 41: Livro Lululux (2015). Fonte: www.lote42.com.br. 48 http://lote42.com.br/wp-content/uploads/2018/09/grid-4-fotos-lululux-2.jpg Figura 42: Livro Lululux (2015). Fonte: www.lote42.com.br. Figura 43: Livro Lululux (2015). Fonte: www.lote42.com.br. 49 http://lote42.com.br/wp-content/uploads/2018/09/grid-lululux-foto-3.jpg http://lote42.com.br/wp-content/uploads/2018/09/grid-lululux-foto-4.jpg Figura 44: Livro Lululux (2015). Fonte: www.lote42.com.br. Figura 45: Livro Lululux (2015). Fonte: www.lote42.com.br. Entre os vários designers gráficos brasileiros con- temporâneos, em diversos segmentos da área de design gráfico, destacam-se também Ana Couto, Fred Gelli, Fabio Silveira, Celso Longo, Breno Bittencourt, 50 http://lote42.com.br/wp-content/uploads/2018/09/grid-lululux-foto-05.jpg http://lote42.com.br/wp-content/uploads/2018/09/grid-lululux-foto-06.jpg Walter Mattos, Adilson Gonzalles, Diego Aguilar, Cristina Pagnoncelli, Butcher Billy, Fernanda Schimdt, Verônica Sauthier, Eduardo Lima, Cristina Grether, Thiago Reginato, Daniel Linard, Pedro Veneziano, Jean Wojciechowski, Tatiana Frambach, Bruno Porto, Willian Matiola, Cyla Costa, Ricardo Ohtake, Priscila Lena Farias, Francisco Ignácio Homem de Mello, Hans Donner, Guilherme Cunha Lima, Ana Luisa Escorel, Edith Derdik etc. 51 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando o breve panorama do desenvolvimento do design gráfico brasileiro aqui abordado, foi possí- vel verificar que o Brasil faz design há muito tempo, uma vez que a prática do design no Brasil acontece desde o período imperial, caracterizada pela utiliza- ção de códigos visuais preexistentes à produção de impressos, marcas registradas, rótulos comerciais e revistas que, de modo similar ao design europeu, tem como base os paradigmas estéticos relacionados ao estilo de arte acadêmica e, posteriormente, aos movimentos Arts and Crafts, Art Noveau e At Déco. Com o advento da Semana de Arte Moderna (1922) e, em seguida, nas décadas de 1950 e 1960, com o Concretismo e a implantação e institucionalização formal do ensino superior em “desenho industrial” por meio da criação da ESDI e FAU-USP, uma estética modernista, pautada em uma filosofia racionalista/ funcionalista, é disseminada e abre novas possibili- dades para o desenvolvimento e a consolidação do design gráfico como um todo no país. Entretanto, se a prática do design baseado nos mol- des do modelo modernista prevaleceu no design corporativo até a década de 1960, no design editorial tal prática envolveu uma linguagem gráfica que incor- porou linguagens gráficas preexistentes, assimilando também variantes da pop art e do psicodelismo, além 52 daquelas oriundas do fragmento, influenciadas pela TV e pelo cinema. Na década de 1980, com a influência do pós-mo- dernismo, o design gráfico brasileiro assumiu sua verdadeira vocação, estabelecendo-se sobre bases mais amplas que aquelas estabelecidas pelo modelo racionalista-funcionalista (ulmiano). Assim, a partir de 1990, tendo como base um mo- delo pluralista, o design gráfico brasileiro incorpo- rou a cultura local, com o resgate das referências da cultura brasileira e fortalecendo o diálogo com Arte, Artesanato e Vernacular, estabelecendo-se a partir do hibridismo, da complexidade, da variedade e fragmento, integrados aos recursos das novas tec- nologias digitais existentes no mundo globalizado. 53 SÍNTESE ART NOVEAU E ART DÉCO O período do final do século 19 até as primeiras décadas do século 20 abarcou no Brasil também dois outros importantes movimentos artísticos: Art Nouveau e o Art Déco, como um prenúncio do Modernismo que estava por vir. O Art Nouveau se manifesta no campo das artes e do design gráfico, e coincide com um momento de modernização do País e renovação do mercado editorial nacional. DESIGN GRÁFICO ENTRE AS DÉCADAS DE 1920 E 1950 A Semana de Arte Moderna (1922), influenciada pelas vanguardas artísticas europeias, incorpora a experimentação e aspectos da cultura local, buscando uma identidade nacional e uma renovação das Artes como um todo. No campo do design gráfico faz surgir a Klaxon, a primeira revista modernista do Brasil. Os movimentos e manifestos da Semana de Arte Moderna (Movimento Pau Brasil e Manifesto da Antropofagia) influenciam posteriormente manifestações no campo das artes e do design, por exemplo, o tropicalismo e a bossa nova. ANTECEDENTES DO DESIGN GRÁFICO BRASILEIRO Desde o início do período imperial (1822-1889), existiu uma cultura projetiva em design ou relacionada ao projeto no Brasil, ordem comunicacional e/ou identificadora para a produção de impressos, marcas registradas e rótulos comerciais, aplicados à fabricação, distribuição e ao consumo de produtos industriais. Tal cultura está baseada num paradigma pré-fotográfico, e as peças gráficas são produzidas por meio da litografia e da cromolitografia, com um olhar europeu em sua criação, com filiação às produções das Belas-Artes (arte acadêmica). TEORIA E HISTÓRIA DO DESIGN GRÁFICO DESIGN GRÁFICO NO BRASIL O DESENVOLVIMENTO DO DESIGN MODERNO NO BRASIL Com a introdução do movimento de Arte Concreta (anos 1950) e com a implantação e institucionalização do ensino superior, baseado no modelo da Escola de Ulm, uma estética modernista, e uma filosofia racionalista/funcionalista, que tem como pressupostos a simplicidade, objetividade e universalidade, dos quais se origina a “boa forma” são disseminados na prática profissional em design no país. Surge, em 1958, o primeiro escritório de design no Brasil, o Forminform. Embora tal modelo prevaleça no design corporativo, no design editorial a linguagem gráfica modernista está presente ao final da década de 1960, e coexiste com as anteriormente existentes no Brasil, acrescendo-se a essas outras variantes oriundas da Pop Art, do psicodelismo da cultura do fragmento, de raiz telecinematográfica. DESIGN GRÁFICO A PARTIR DA DÉCADA DE 1980 Com a influência do pós-modernismo a partir da década de 1980, e com o advento das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC), o design gráfico brasileiro assume sua verdadeira vocação, e se estabelece sobre bases mais amplas que aquelas estabelecidas pelo modelo racionalista-funcionalista (ulmiano). A partir de 1990, tendo como base um modelo pluralista, o design gráfico brasileiro incorpora a cultura local, com o resgate das referências da cultura brasileira, e fortalece o diálogo com a Arte, o Artesanato e o Vernacular, estabelecendo-se a partir do hibridismo, da complexidade, da variedade e fragmento, integrados aos recursos das novas tecnologias digitais existentes no mundo globalizado. Referências Bibliográficas & Consultadas BURDEK, B� E� História, Teoria e Prática do Design de Produtos. 2. ed. São Paulo: Blücher, 2010 [Minha Biblioteca]. CARDOSO, R� Uma introdução à história do de- sign. São Paulo: Edgard Blücher, 2008 [Minha Biblioteca]. CARDOSO, R. (Org.). O design brasileiro antes do design: aspectos da história gráfica, 1870-1960� São Paulo: Cosac Naify, 2005. CONSOLO, C. (Org.). Tipografía em Latinoamérica: Orígenes y Identidad. São Paulo: Edgard Blücher, 2013 [Minha Biblioteca]. HELLER, S.; SCHWAST, S. Graphic Style: from victorian to postmodern. London: Thames and Hudson Ltd., 1988. HOLLIS, R. Design Gráfico: uma história concisa� São Paulo: Martins Fontes, 2001. HOMEM DE MELO, C. (Org.) Design gráfico brasi- leiro: Anos 60. São Paulo: Cosac Naify, 2006. HOMEM DE MELO, C. Linha do tempo do design gráfico no Brasil. São Paulo: Cosac Naify, 2011. MEGGS, P. B.; PURVIS, A. W. História do Design Gráfico. São Paulo: Cosac Naify, 2009. PATROCÍNIO, G.; NUNES, J. M. (Orgs.). Design e Desenvolvimento: 40 anos depois. São Paulo: Edgard Blücher, 2015 [Minha Biblioteca]. SANTOS, J� C� C� História da arte e do design� Porto Alegre: Sagah,2018 [Minha Biblioteca]. SCHNEIDER, B. Design: uma introdução: o design no contexto social, cultural e econômico. São Paulo: Edgard Blücher, 2010. STOLARSKI, A. Alexandre Wollner e a formação do design moderno no Brasil. São Paulo: Cosac Naify, 2005� _inluochzbg4s _5xza96z1dq7m _tktf3bdvjz5r _sp7pbrvv9lt _424nwzb16pw7 _rteg5gsrtexp _ux87pxqzywqs _97rblwbgb9te _duiqpfo4evsy _zhjsff6s9gjz _vs66wrevh26p _lm0ljsqmdvxo _6szvz2k86ig0 _p5mg4sse927v _orp9fw2x9awl _mecwfoe8rrid _5rtw69bwxb7u _eu68h5pvk68j _r5i387hul3fq _oz1tab8dwbll _i4szgjkka57o _abs7m6yja885 _an2crldzk7wj _olueupxcaoe3 INTRODUÇÃO ANTECEDENTES DO DESIGN GRÁFICO BRASILEIRO ART NOVEAU E ART DÉCO DESIGN GRÁFICO ENTRE AS DÉCADAS DE 1920 E 1950 DESENVOLVIMENTO DO DESIGN MODERNO NO BRASIL DESIGN GRÁFICO A PARTIR DA DÉCADA DE 1980 CONSIDERAÇÕES FINAIS Síntese
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