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Resolucao_Recurso_em_sentido_estrito_-_Henrique_Dias_Andre

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Excelentíssimo Sr. Juiz de Direito da ______ Vara criminal do Tribunal do Júri da Comarca 
de Belo Horizonte/MG 
 
Autos do Processo nº 5398202-27.2009.8.13.0024 
 
(10 linhas) 
 
HENRIQUE DIAS ANDRÉ, já devidamente qualificado nos 
autos do processo em epígrafe, vem respeitosamente, perante 
Vossa Excelência, por seu procurador infra-assinado, 
apresentar as Razões do Recurso em Sentido Estrito, nos 
termos do art. 586 e art. 588, ambos do CPP, requerendo 
sejam recebidas com posterior remessa ao Egrégio Tribunal de 
Justiça do Estado de Minas Gerais. 
 
 
Nestes termos, 
Pede deferimento. 
 
Belo Horizonte, 01 de junho de 2012. 
 
Assinatura do Advogado. 
OAB nº. 
RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO 
 
Recorrente: Henrique Dias André 
Recorrido: Ministério Público do Estado de Minas Gerais 
Processo n°. 5398202-27.2009.8.13.0024 
 
 
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
 
 
Colenda Câmara. 
Ilustres Desembargadores, 
 
 
Em que pese o conhecimento jurídico do Excelentíssimo Juiz de Direito a quo do Tribunal 
do Júri, a decisão de pronúncia por ela exarada não merece prosperar, pelas razões de fato e de 
direito a seguir expostas: 
 
 
I. DOS FATOS 
 
O RECORRENTE, nascido em 15 de julho de 1985, mantinha uma união estável com 
SILMARA Pinto da Silva, tendo como fruto dessa relação dois filhos, Ítalo Henrique Dias da Silva e 
Vitória Jaíne Dias da Silva, com 7 e 2 anos respectivamente na data do fato. 
 
Pois bem, aproveitando a ausência do recorrente HENRIQUE, que havia viajado, sua 
mulher, SILMARA, resolveu ir em um bar cujo nome seria “BAR DO VADÃO” próximo de onde 
residiam, na companhia de uma amiga chamada ERILDA MAGNA SIQUEIRA. Durante o tempo 
que SILMARA ficou no bar, após ingerir certa quantidade de bebida alcoólica, a mulher do 
recorrente começou a ficar um pouco alterada e aproveitando de um momento de distração e 
lazer, resolveu chamar alguns rapazes que se encontravam no local para dançar, dentre eles, a 
vítima, ALENILSON VIANA DA SILVA e seu amigo, PAULO HENRIQUE GOMES PEREIRA, 
conhecido também por “KIKA/QUICA”, dentre outros rapazes que não foram identificados. 
 
Passados alguns dias, HENRIQUE retornou de viagem e através de fofocas e zombarias 
tomou conhecimento que sua mulher SILMARA havia ido no “BAR DO VALDÃO” e lá a vítima 
ALENILSON havia aproveitado da embriaguez da mulher do recorrente pra cantá-la, uma vez que 
ela estava sozinha sem a companhia de HENRIQUE, em razão disso o recorrente ficou 
enciumado com tal conduta de ALENILSON e resolveu tirar satisfação. 
 
Sendo assim, no dia 16/02/2009 o recorrente compareceu a casa de ALENILSON por volta 
das 23h para verificar o que ocorreu na noite em que ele se encontrou com SILMARA no “BAR 
DO VALDÃO”, conforme depoimento do recorrente HENRIQUE (fls. 380/381), a vítima afirmou 
que havia se encantado por SILMARA e que já havia ficado com ela, além disso, afirmou que iria 
toma-la dele, fazendo gestos bruscos e o ameaçando. Nesse momento, HENRIQUE movido por 
violenta emoção e ciúmes em razão do que ALENILSON acabara de alegar, sacou uma arma de 
fogo e efetuou 5 (cinco) disparos contra a vítima e se ausentou do local. 
 
Isto posto, o RECORRENTE foi denunciado pelo Ministério Público, pela prática de 
Homicídio Qualificado nos termos do art. 121, §2º, incisos I e IV do Código Penal, devendo ser 
submetido a julgamento perante o E. Tribunal do Júri da Comarca de Belo Horizonte – MG, 
conforme decisão de pronúncia de fls. 393/399, sendo publicada em 26 de julho de 2011, quando 
as partes foram intimadas. 
 
 
 
II. DO DIREITO 
 
DA AUSÊNCIA DE QUALIFICADORA 
 
a) Inexistência de motivo torpe 
 
Conforme consta nos autos, o motivo do recorrente ter cometido tal delito foi em razão de 
fato que ocorreu durante sua ausência, pois o recorrente estava viajando e, logo que voltara para 
o bairro onde residia, foi pego de surpresa com as brincadeiras e zombarias maldosas que os 
moradores comentavam, sobre um suposto galanteio de um morador em relação a sua mulher, 
Silmara, em um bar próximo onde moravam. 
 
Sabe-se que Henrique mantinha uma união estável com Silmara há muitos anos e que até 
já possuíam filhos, frutos dessa relação. E em um momento de fúria, com receio de tal fato 
arruinar a família que construiu e visando preservar sua reputação, Henrique resolveu tirar 
satisfações com a vítima, Alenilson, indo até a sua residência no dia 16 de fevereiro de 2009. 
 
Ao comparecer no local, o recorrente verificou que a vítima não estava na casa e, resolveu 
então esperar até que a vítima chegasse para então conversarem sobre o fato ocorrido. 
 
Momentos depois, Alenilson chegou e então começou a discussão, Henrique o indagou 
perguntando o que ocorrera no bar aquela noite e o porquê tentou seduzir Silmara, sabendo que 
ela era mulher do recorrente. Irresignado, a vítima foi para cima de Henrique, conforme 
interrogatório fls. 387/389, “a vítima disse que havia se encantado com a mulher do interrogado, 
que já havia ficado com ela e que havia toma-la do interrogado (...) durante a conversa a vítima 
começou a fazer gestos brusco e ameaçar o interrogado”. 
 
Nesse momento, sob violenta emoção e ciúmes do que acabara de ouvir, o recorrente 
sacou a arma da cintura e efetuou 5 (cinco) disparos contra a vítima. 
 
Pode-se observar que a vítima instigou o recorrente, o confrontando até fazê-lo “perder a 
cabeça” e tomar uma atitude extrema. 
 
A ação decorrente de ciúme, embora seja reprovável, não pode ser compreendida como causa 
de repugnância, de torpeza, que revela profundo descompasso com o sentimento mínimo de respeito 
aos costumes da coletividade, circunstância que não restou caracterizada no caso em tela. 
 
Desta forma, não se pode concluir que o ciúme - sentimento que naturalmente permeia a 
mente humana - seja considerado torpe, uma vez que este não afronta os padrões éticos e morais da 
sociedade. 
 
Contemplando tal de entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça dispõe: 
 
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. HOMICÍDIO. DECOTE DA 
QUALIFICADORA DO MOTIVO TORPE. CABIMENTO. CIÚME QUE NÃO 
CONFIGURA TORPEZA. MANUTENÇÃO DA DECISÃO EMBARGADA. 
INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO. 
REDISCUSSÃO DE MATÉRIA JÁ ANALISADA À EXAUSTÃO. 
IMPOSSIBILIDADE. EMBARGOS REJEITADOS. 
- Rejeitam-se os embargos de declaração que tem por fim a reapreciação 
de questões já enfrentadas no aresto que, no entendimento do 
embargante, não teriam sido analisadas de acordo com a melhor aplicação 
do direito ou a correta valorização da prova. Ausência dos requisitos 
constantes do artigo 619 do Código de Processo Penal. 
- O ciúme não se compõe como motivo torpe, qualificadora esta que 
se apresenta somente quando se trata de motivo repugnante, abjeto, 
indigno ou que repugna a consciência média. 
- Embargos de declaração rejeitados. (TJMG - Embargos de Declaração-
Cr 1.0114.16.005333-5/002, Relator(a): Des.(a) Doorgal Borges de 
Andrada , 4ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 13/11/2019, publicação 
da súmula em 20/11/2019) (GRIFAMOS) 
 
EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PRONÚNCIA. EXCLUSÃO 
DE QUALIFICADORAS. INADMISSIBILIDADE. RECURSO 
DESPROVIDO. 
- Sob pena de se invadir a soberana competência do Tribunal do Júri, a 
decisão de pronúncia só deve afastar qualificadora manifestamente 
improcedente, pois, nesta primeira fase, eventual dúvida reverte-se em 
favor da sociedade. 
v.v. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - HOMICÍDIO QUALIFICADO E 
HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO - PEDIDO DE IMPRONÚNCIA - 
IMPOSSIBILIDADE - PROVA DA MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE 
AUTORIA - PALAVRA DA VÍTIMA SOBREVIVENTE AMPARADA POR 
OUTROS ELEMENTOS - DECOTE DAS QUALIFICADORAS - 
NECESSIDADE - MOTIVO TORPE - CIÚME - NÃO CONFIGURAÇÃO - 
RECURSO DE DIFICULTOU OU IMPOSSIBILITOU A DEFESA DA 
VÍTIMA - AUSÊNCIA DE SURPRESA - AMEAÇA ANTERIOR - NÃO 
CONFIGURAÇÃO - RECURSO PROVIDO EM PARTE. 
1. Deve-se pronunciar o agente quando existir prova robusta acerca da 
acusação que se leva a efeito, ou seja,prova concreta da materialidade do 
delito e elementos contundentes da autoria. 
2. O motivo torpe deve, necessariamente, assemelhar-se às hipóteses 
descritas na lei, quais seja, a motivação da paga ou da promessa, que 
revela no agente a tomada da vida humana como moeda de troca. Motivo 
torpe é aquele ignóbil, repugnante, que ofende gravemente o sentimento 
social. O ciúme, por si só, não pode ser considerado motivo torpe. 
3. A qualificadora do recurso que dificulta ou impossibilita a defesa da 
vítima, apenas se caracteriza quando ocorrer umas das situações descritas 
no início do inciso, ou seja, quando for ele, o recurso, insidioso, traiçoeiro, 
totalmente inesperado, não existindo, pois, tal situação, quando o 
desentendimento já havia se instaurado. 
4. Recurso provido em parte. (TJMG - Rec em Sentido Estrito 
 1.0024.10.196996-2/001, Relator(a): Des.(a) Alexandre Victor de Carvalho 
, 5ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 14/01/2014, publicação da 
súmula em 20/01/2014) (GRIFAMOS) 
 
 
EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PRONÚNCIA. HOMICÍDIO 
QUALIFICADO TENTADO. MATERIALIDADE COMPROVADA. INDÍCIOS 
DE AUTORIA. DESCLASSIFICAÇÃO PARA LESÃO CORPORAL. 
INVIABILIDADE. INEXISTÊNCIA DE PROVAS INDUBITÁVEIS ACERCA 
DA AUSÊNCIA DE ANIMUS NECANDI. QUALIFICADORA DO MOTIVO 
TORPE. CIÚME NARRADO COMO MOTIVAÇÃO. DECOTE. 
POSSIBILIDADE. RECURSO QUE DIFICULTOU A DEFESA DA VÍTIMA. 
QUALIFICADORA QUE NÃO SE MOSTRA MANIFESTAMENTE 
IMPROCEDENTE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. - Nos termos 
do artigo 413 do CPP, para o decreto de pronúncia basta que o juízo se 
convença da existência do crime e de indícios de autoria, ou seja, havendo 
dúvida, mínima que seja, a questão deve ser remetida ao Tribunal do Júri, 
originalmente competente para a decisão final. - Comprovada a 
materialidade delitiva e havendo indícios da prática do delito de homicídio 
qualificado tentado, mostra-se inviável a sua desclassificação na fase 
sumariante, uma vez que a suscitada ausência de animus necandi não 
restou cabalmente demonstrada nos autos. - Verificado que não há 
elementos nos autos a evidenciar a manifesta improcedência da 
qualificadora combatida, deve essa ser mantida na sentença de pronúncia. 
- A motivação do crime em decorrência de ciúme não caracteriza a sua 
torpeza, impondo-se o decote de tal qualificadora. - A presença de indícios 
de que a recorrente teria, em tese, agido mediante recurso que dificultou a 
defesa da vítima autoriza a manutenção da qualificadora do inciso IV do § 
2º do art. 121 do CP, para que seja submetida à apreciação pelo Conselho 
de Sentença. (TJMG - Rec em Sentido Estrito 1.0317.13.007340-4/001, 
Relator(a): Des.(a) Nelson Missias de Morais , 2ª CÂMARA CRIMINAL, 
julgamento em 31/08/2017, publicação da súmula em 11/09/2017) 
 
Acerca desse tema, a doutrina não discrepa: 
 
Homicídio por motivo torpe é aquele que causa repugnância geral, aversão, 
que atinge gravemente o sentido ético da sociedade. Nessa categoria incluem-
se sentimentos como a cobiça, o egoísmo inconsiderado, a depravação dos 
instintos etc. Aníbal Bruno menciona algumas hipóteses de torpeza: 'a 
ambição do lucro de quem pratica o homicídio para receber um prêmio de 
seguro ou apressar a posse de uma herança, ou eliminar um co-herdeiro, ou 
fazer desaparecer um credor inoportuno [...]." (Franco, Alberto Silva. Código 
Penal e Sua Interpretação. Doutrina e Jurisprudência, 8ª Ed., Editora Revista 
dos Tribunais, p. 631) 
 
 
 
Portanto, deve ser reconhecida a exclusão da qualificadora prescrita no art. 121, §2º, I, do 
Código Penal. 
 
b) Da ausência de recurso que dificultasse a defesa da vítima 
 
De acordo com o alegado pelo recorrente, antes de cometer o crime, conversou com a 
vítima e a questionou o ocorrido naquela noite no bar, em seu relato, Henrique diz que chegou a 
discutir com a vítima e que entraram em luta corporal. 
 
Sendo assim, não há o que se falar na qualificadora expressa no art. 121, §2º, IV, 
argumentando que houve “tocaia” ou qualquer recurso que dificultasse ou tornasse impossível a 
defesa da vítima, pois, segundo a narrativa de Henrique, eles discutiram, Alenilson reagiu e eles 
se confrontaram e consequentemente o recorrente em um momento sob o domínio de violenta 
emoção e provocação da vítima, perdeu a cabeça e disparou a arma de fogo em direção a vítima, 
qualificando então em homicídio simples com diminuição de pena, nos termos do art. 121, §1º do 
Código Penal. 
 
Por fim, deverá então o magistrado realizar a modificação do crime imputado ao recorrente 
para Homicídio Simples, com diminuição de pena, em razão do crime impelido ter sido por 
motivado sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, nos 
termos do art. 121, §1º do CP. 
 
 
III. DOS PEDIDOS 
 
Diante de todo o exposto, O RECORRENTE requer: 
 
a) O conhecimento e provimento do presente Recurso em Sentido Estrito; 
 
b) Preliminarmente, o reconhecimento da não existência das qualificadoras alegadas e 
alteração do crime que o recorrente está sendo acusado para Homicídio Simples, com 
diminuição de pena, em razão do crime impelido ter sido por motivado sob o domínio de 
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, nos termos do art. 121, 
§1º do CP. 
 
Nestes termos, 
Pede deferimento. 
 
Belo Horizonte, 01 de junho de 2012. 
 
Assinatura do advogado 
OAB nº 
 
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