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04 GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E POSSIBILIDADES DE SUA LIMITAÇÃO

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Prévia do material em texto

DEFINIÇÃO
A relação entre o direito fundamental à liberdade de ir e vir e o Estado Democrático de Direito,
problematizando a possibilidade de sua limitação; a caracterização do direito fundamental à liberdade de
expressão e à igualdade no contexto do direito à diferença; as garantias do processo constitucional
democrático e os desafios quanto à possibilidade de restrição.
PROPÓSITO
Compreender e analisar os fundamentos do direito à liberdade de ir e vir, à liberdade de expressão e à
igualdade como garantias constitucionais do processo no Estado Democrático de Direito e ter
capacidade de problematizar as possíveis limitações a esses direitos, especialmente em tempos de
pandemia.
PREPARAÇÃO
Ao iniciar o estudo do conteúdo aqui proposto, é importante que você tenha em mãos a Constituição
brasileira de 1988.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer o direito fundamental à liberdade de ir e vir e a possibilidade de sua legítima limitação em
casos de pandemia
MÓDULO 2
Identificar possíveis limitações ao direito fundamental à liberdade de expressão
MÓDULO 3
Descrever as limitações às garantias constitucionais do processo
INTRODUÇÃO
 
 
Neste tema, vamos estudar a importância do direito fundamental à liberdade de ir e vir no Estado
Democrático de Direito, evidenciando sua relação com outros direitos fundamentais a ele correlatos.
Também iremos analisar e problematizar a restrição dessas liberdades constitucionalmente
estabelecidas, principalmente no contexto de pandemia.
 
Fonte: qimono / Pixabay
Ainda estudaremos o direito fundamental à liberdade de expressão, destacando que a efetividade
normativa deste direito passa pelo entendimento da igualdade como decorrência do direito à diferença
para, então, verificarmos se é ou não legítima alguma restrição quanto ao exercício desses direitos.
Ao final, examinaremos o modelo de processo constitucional democrático, destacando as
garantias constitucionais e questionando sobre a possibilidade de eventuais limitações dessas
garantias no Estado Democrático de Direito.
MÓDULO 1
 Reconhecer o direito fundamental à liberdade de ir e vir 
e a possibilidade de sua legítima limitação em casos de pandemia
O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
A democracia é um regime político expressamente previsto no texto da Constituição Federal (CF) de
1988 que, em seu artigo 1º, parágrafo único, estabelece que a República Federativa do Brasil,
formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito, tendo entre seus fundamentos a cidadania, a dignidade humana e a
soberania popular.
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ARTIGO 1º, PARÁGRAFO ÚNICO
O artigo 1º, parágrafo único, diz que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus
representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituição.
 
Fonte: Wikimedia
 Protesto em frente a câmara dos vereadores no Rio de Janeiro.
 
 
A participação popular na tomada de decisões estatais e o direito de os cidadãos fiscalizarem os atos
praticados pelos gestores públicos constituem um dos pilares do Estado Democrático de Direito. Assim,
a democracia deve ser considerada um princípio confirmado nos atuais ordenamentos constitucionais
que se constitui em fonte de legitimação do exercício do poder e que tem sua origem no povo.
 
Nesse sentido, a democracia é mais do que a forma atual de Estado e de governo. (DIAS, 2010, p. 58-
59). A democracia implica a participação do povo, o que dá legitimidade à ação do Estado nas esferas
legislativa, administrativa e judicial, conforme o que estabelece o parágrafo único do artigo 1º da CF
(FREITAS, 2014, p. 10).
O PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO AO ESTADO DEMOCRÁTICO
DE DIREITO EXPRIME-SE, TAMBÉM, PELO PRINCÍPIO DA
RESERVA LEGAL OU PRINCÍPIO DA PREVALÊNCIA DA LEI,
ESTE COM RECEPÇÃO EXPLÍCITA NO TEXTO
CONSTITUCIONAL, POIS SOLENEMENTE DECLARADO NO
ELENCO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO POVO.
(DIAS, 2010, p. 118)
 
No Estado Democrático de Direito, os paradigmas tradicionais precisam ser superados pelas demandas
por transformações sociais e realização efetiva da justiça social, tal como estabelecido pelos princípios
constitucionais (SOARES, 2000, p. 111).
O pressuposto básico de um Estado Democrático de Direito é que os sujeitos do diálogo estejam no
mesmo plano jurídico de argumentação e debate, uma vez que o Estado, ao se colocar em posição
superior a esses sujeitos e impor soberanamente sua decisão, compromete evidentemente a
legitimidade democrática dos provimentos estatais (COSTA, 2016, p. 30).
 
Fonte: Wikimedia
A legitimidade jurídica de todos os atos praticados numa sociedade democrática deve pressupor o
direito de seus destinatários poderem participar dialogicamente dos parâmetros utilizados na construção
do provimento estatal.
 
Fonte: Wikimedia
O debate jurídico, na perspectiva democrática, pressupõe a superação da visão individualista na forma
de ver, ler e compreender os direitos, considerando-se que a autonomia política do cidadão diante dos
interesses econômicos, políticos, sociais, midiáticos e ideológicos é fundamental para a participação
popular racional na construção das decisões de interesse da coletividade.
Assim, o pensamento democrático liga-se estreitamente aos ideais de participação popular,
consequência do exercício da cidadania que, por sua vez, apenas é viabilizado por meio do processo
constitucional (COSTA, 2019, p. 24).
A dialogicidade dos sujeitos direta ou indiretamente interessados na construção das decisões de
interesse da coletividade é fundamental para assegurar a participação popular, elemento essencial da
legitimidade jurídica no Estado Democrático de Direito. É por isso que o princípio democrático precisa
ser compreendido como algo em constante transformação, uma vez que é resultado de uma
sociedade aberta e ativa, não se limitando a um conceito estático.
A democracia é vista como um regime político que:
PERMITE AOS CIDADÃOS O SEU DESENVOLVIMENTO
MEDIANTE A LIBERDADE DE PARTICIPAÇÃO NOS
PROCESSOS POLÍTICOS, ECONÔMICOS E SOCIAIS EM
CONSONÂNCIA COM O ESTABELECIMENTO DE UMA
SOCIEDADE LIVRE, JUSTA E SOLIDÁRIA, SEGUNDO OS
DITAMES DA CONSTITUIÇÃO.
(FERREIRA, 2016, p. 36)
 
Assim, a dignidade humana representa, simbolicamente, a despatrimonialização do direito,
colocando como eixo central do ordenamento constitucional brasileiro a proteção ampla e integral da
pessoa humana.
DIGNIDADE HUMANA
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A dignidade humana deve ser compreendida com base em sua relacionação com o autorrespeito,
como pensamento segundo o qual "qualquer vida é importante e tem o mesmo valor e a
autenticidade relacionada à ideia segundo a qual cabe a cada ser humano desenvolver livremente
seus projetos de felicidade".
Assim, sem que as condições mínimas de sobrevivência e subsistência, ou seja, o mínimo existencial,
sejam garantidas, não será possível atribuir valor igual a toda vida humana, o que se constitui em
dimensão central do autorrespeito (OMMATI, 2018, p. 23).
Com base no princípio aqui apresentado, é possível reconhecer a igualdade dos sujeitos quanto ao
exercício dos direitos fundamentais previstos constitucionalmente.
A LIBERDADE TEM DE SER INDISSOCIADA DA DIGNIDADE
HUMANA, POIS SÃO INTEGRANTES DO NÚCLEO
PRIMORDIAL DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988,
ALÇANDO A PRIMEIRA POSIÇÃO DE PROEMINÊNCIA EM
RELAÇÃO ÀS DEMAIS NORMAS VALORATIVAS,
PARTICULARMENTE NO QUE SE REFERE À UTILIZAÇÃO
COMO CRITÉRIO DE INTERPRETAÇÃO DAS RESTANTES.
(VIEIRA, 2014, p. 122-123)
 
 
LIBERDADE DE IR E VIR
O valor da liberdade ganha mais projeção ao se inserir na dimensão da consciência e da crença
individual, e em seus componentes lógicos, a saber, a "liberdade de expressão e a autodeterminação do
indivíduo para fazer as escolhas existenciais" (VIEIRA, 2014, p. 123).
 
Freepik
 
O reconhecimento de direitos de liberdade do indivíduo decorre necessariamente do direito de os
indivíduos serem tratados como iguais ou com respeito e consideração iguais.Desse modo, o igual
respeito e consideração conduz, necessariamente, a liberdades iguais para todos os indivíduos
(OMMATI, 2018, p. 65).
Isso quer dizer que o direito à liberdade é assegurado a todo cidadão, desde seu nascimento, reflexo
direto da autodeterminação e autonomia privada.
 ATENÇÃO
O exercício do direito à liberdade não garante, no entanto, o direito de fazer o que se quer sem qualquer
restrição, haja vista que "liberdade implica necessariamente o direito de tomar decisão com responsabilidade,
ligando-se, portanto, com o igual respeito e consideração" (OMMATI, 2018, p. 65).
A privação da liberdade é medida excepcional e admitida apenas quando houver processo judicial em
que se assegura ao acusado o direito efetivo à defesa.
PRIVAÇÃO DA LIBERDADE
O texto da Constituição brasileira de 1988, Art. 5º, LIV, é claro ao estabelecer que ninguém será
privado de sua liberdade sem o devido processo legal.
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Fonte: pxhere
 
 
A observância do rito processual adequado é medida exigida para assegurar a legalidade de eventual
decisão judicial que priva a liberdade de um cidadão, além da obrigatoriedade de assegurar a
participação do acusado na formação participada do mérito processual, requisito esse indispensável à
legitimidade democrática do provimento final.
Todo cidadão goza constitucionalmente do estado de inocência, cabendo ao Estado desconstituir essa
presunção de não culpabilidade para, então, possibilitar eventual privação de liberdade, conforme Art.
5°, LVII, CF: ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória.
 
Fonte: Freepik

O ius puniendi e a privação de liberdade somente são possíveis mediante medida judicial excepcional
que limita o direito fundamental de ir e vir, motivo esse que justifica a observância criteriosa do devido
processo legal.
IUS PUNIENDI
direito de punir do Estado.
A eventual privação de liberdade, contrariamente aos princípios constitucionais do processo
(contraditório, ampla defesa e devido processo legal), acarretará o cerceamento de defesa e a ilicitude
da prisão, reflexos de error in procedendo no âmbito do processo judicial autocrático.
IN PROCEDENDO
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um ou mais vícios processuais que colocam o acusado em posição de desigualdade processual
perante o Ministério Público, configurando-se evidente cerceamento de defesa.

 
autor/shutterstock
 
Nesse sentido, somente será admissível a limitação ou restrição temporária do direito de ir e vir quando
efetivamente ficar comprovada a culpabilidade do agente, além de a norma prever de maneira prévia e
expressa a possibilidade de aplicabilidade da pena privativa de liberdade.
O texto constitucional ainda prevê a vedação de pena de caráter perpétuo (Art. 5°, XLVII, b, da
Constituição Federal. ) , deixando mais evidente a dimensão constitucional e humana do direito
fundamental à liberdade de locomoção, pressuposto básico ao exercício dos demais direitos humanos
previstos no ordenamento jurídico brasileiro.
 
OS DIREITOS FUNDAMENTAIS
 
Os direitos fundamentais correspondem à constitucionalização de Direitos Humanos que desfrutaram
de elevada justificação ao longo da história dos discursos morais, sendo, desse modo, entendidos como
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condições para que os demais direitos sejam construídos e exercidos plenamente (GALUPPO, 2003, p.
233).
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Assim, os direitos fundamentais "são concebidos como direitos subjetivos de liberdade pertinentes
ao titular perante o Estado, e, simultaneamente, como normas objetivas de princípios [...] e
decisões axiológicas [...] que possuem validade para todos os âmbitos jurídicos" (SOARES, 2000,
111).
Dessa forma, é possível afirmar que a democracia institui os direitos fundamentais, no entanto, "uma 
vez criados, tornam-se instrumentos que garantem a legitimidade moral do regime democrático"
(MELLO, 2004, p. 151). 
O balizamento jurídico-constitucional central de uma sociedade democrática está nos direitos
fundamentais, que são critérios de interpretação e valores superiores da ordem constitucional e jurídica.
 VOCÊ SABIA
O conceito de que os direitos fundamentais fazem parte de um sistema na dimensão da Constituição foi
recentemente referido na doutrina pátria, tendo como base o argumento de que os direitos fundamentais são,
de fato, "a concretização do princípio fundamental da pessoa humana, consagrado expressamente na Lei
Fundamental" (SARLET, 2004, p. 77, 81).
 
Assim, atualmente, em nossa sociedade, os direitos fundamentais têm crescente importância na
construção de uma sociedade mais livre e igual, na qual os valores ligados à preservação da vida e da
dignidade da pessoa humana se constituem em fundamento de uma comunidade (FABRIZ, 2009, p.
155).
 
RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DE IR E VIR EM
TEMPOS DE PANDEMIA
Diante de todas as proposições teóricas apresentadas até aqui, torna-se relevante a seguinte
indagação:
 
Freepik
 
Trata-se do direito que assegura a dignidade humana, conferindo a cada pessoa a possibilidade de
autodeterminação de acordo com seus anseios e objetivos.
 ATENÇÃO
O Estado não pode intervir arbitrariamente na liberdade de escolha das pessoas, salvo se tais escolhas
esbarrarem no interesse coletivo ou nos direitos de outras pessoas, admitindo-se a responsabilidade jurídica
(civil e criminal) em decorrência de eventuais abusos comprovados.
A constitucionalização do direito fundamental à liberdade de ir e vir permite concluir que esse direito é
um desdobramento interpretativo da presunção de inocência, ressaltando-se que a privação da
liberdade somente se torna juridicamente viável mediante a observância do devido processo legal.
Numa sociedade onde os indivíduos são considerados constitucionalmente livres, assegura-se, também,
a igualdade no que tange ao exercício dos demais direitos fundamentais previstos no plano constituinte.
 
 
Fonte: Wikimedia
 Documento Plano de Contingência Nacional para Infecção Humana pelo novo Coronavírus.
 
 
Excepcionalmente, em tempos de pandemia, o Estado tem legitimidade constitucional para limitar o
direito individual de liberdade de locomoção (ir e vir), haja vista o interesse coletivo de proteger a saúde
pública e, assim, evitar a proliferação de doenças que podem atingir a dignidade humana das pessoas.
Torna-se importante esclarecer que a intervenção estatal em relação à limitação temporária do direito de
ir e vir em tempos de pandemia é constitucionalmente admitida, pois essa é uma das estratégias para
garantir a proteção jurídica do interesse público.
 
Vamos entender mais sobre esse assunto e aprofundar os nossos conhecimentos com o Professor
Doutor Fabrício Veiga Costa:
Neste vídeo, você verá uma breve síntese sobre o Direito Fundamental à Liberdade de Ir e Vir.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. O DIREITO FUNDAMENTAL À LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO (DIREITO DE IR E
VIR) É IMPORTANTE CONQUISTA HISTÓRICA CONSTRUÍDA PELA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA. COM RELAÇÃO AO DIREITO FUNDAMENTAL DE
LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO,
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) No Brasil, é admissível excepcionalmente a prisão administrativa para fins de averiguação,
relativizando-se o devido processo legal quando o acusado comprovadamente é alguém que causa
danos e riscos ao interesse público.
B) O direito fundamental à liberdade de locomoção é pressuposto básico do Estado Democrático de
Direito e, por isso, não se admite sua restrição ou limitação mesmo em tempos de pandemia.
C) A presunção de inocência (não culpabilidade) é um desdobramento da interpretação sistemático-
integrativa do direito fundamental à liberdade de locomoção, cuja limitação se condiciona
obrigatoriamente à observância do devido processo legal.
D) É admissível a limitação do direito fundamental à liberdade de locomoção em tempos de pandemia
no Estado Democrático de Direito, permitindo-se que o Estado tome autocraticamenteessa decisão sem
admitir a participação popular.
2. O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO É UM REGIME POLÍTICO QUE TEM
ENTRE SEUS PRINCIPAIS FUNDAMENTOS A PARTICIPAÇÃO POPULAR E A
FISCALIDADE DOS ATOS PRATICADOS PELO PODER PÚBLICO. COM BASE NA
PREMISSA EXPOSTA, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) A participação popular no Estado Democrático de Direito, em tempos de pandemia, é dispensável,
autorizando o Estado a decidir unilateralmente todas as questões de interesse público, mesmo que
sejam contrárias aos interesses da coletividade.
B) O direito fundamental à participação popular deve ser efetivamente assegurado no Estado
Democrático de Direito, mesmo em tempos de pandemia.
C) A comprovação da existência de pandemia autoriza o Estado a suprimir temporariamente todos os
direitos fundamentais previstos no texto constitucional.
D) Apenas o direito fundamental à participação popular é restringido em tempos de pandemia,
preservando-se os demais direitos fundamentais expressamente previstos no plano constituinte.
GABARITO
1. O direito fundamental à liberdade de locomoção (direito de ir e vir) é importante conquista
histórica construída pela sociedade contemporânea. Com relação ao direito fundamental de
liberdade de locomoção no Estado Democrático de Direito, assinale a alternativa correta:
A alternativa "C " está correta.
 
A prisão administrativa, para fins de averiguação, é proibida no direito constitucional brasileiro, haja vista
a indispensabilidade de observância do devido processo legal. O direito fundamental à liberdade de
locomoção excepcionalmente poderá sofrer limitação em tempos de pandemia, devendo o Estado
possibilitar a participação popular na tomada da decisão. A presunção de inocência é reflexo da
interpretação sistemática e integrativa do direito fundamental à liberdade de locomoção (direito de ir e
vir).
2. O Estado Democrático de Direito é um regime político que tem entre seus principais
fundamentos a participação popular e a fiscalidade dos atos praticados pelo poder público. Com
base na premissa exposta, assinale a alternativa correta:
A alternativa "B " está correta.
 
A participação popular é um dos pilares regentes do Estado Democrático de Direito. O ordenamento
jurídico brasileiro não autoriza a utilização de qualquer argumento de cunho metajurídico (valorativo),
como a pandemia, para retirar do povo o direito fundamental de fiscalidade dos atos praticados pelo
Estado, haja vista que se trata de um dos fundamentos da República Federativa do Brasil previsto no
artigo 1 do texto constitucional.
MÓDULO 2
 Identificar possíveis limitações 
ao direito fundamental à liberdade de expressão
 
DIREITO FUNDAMENTAL À LIBERDADE DE
EXPRESSÃO
A liberdade é um direito que foi construído e conquistado após muitas lutas travadas nos mais diversos
períodos da história. Ser livre é reconhecer juridicamente a capacidade de autodeterminação conferida a
cada sujeito, corolário da dignidade humana e imprescindível ao reconhecimento da igualdade.
O texto da CF é claro ao sistematizar nos seus mais diversos pontos o direito à liberdade. Desde o
preâmbulo, o legislador constituinte reconheceu a instituição do Estado Democrático de Direito,
estabelecendo como um de seus pilares o exercício da liberdade, visto como valor supremo da
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida com a
ordem interna e internacional.
PREÂMBULO
"Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para
instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na
harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL."
PLURALISTA
O pluralismo político, previsto no artigo 1°, inciso V do texto constitucional, é mero desdobramento
interpretativo do entendimento sistemático e integrativo do direito fundamental à liberdade. O caput
do artigo 5° prevê a igualdade perante a lei, garantindo a brasileiros e estrangeiros residentes no
Brasil a inviolabilidade do direito à vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade. No inciso
VI, do artigo 5°, encontra-se a inviolabilidade da liberdade de consciência e crença, assegurando-
se a proteção dos locais de cultos e de suas liturgias. A liberdade de expressão está prevista no
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inciso IX, do artigo 5° da Constituição democrática, ao preestabelecer a livre expressão da
atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou
licença.
O texto constitucional garante, ainda, a plena liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de
caráter paramilitar (inciso XVII, artigo 5°); a punição legal de qualquer discriminação atentatória aos
direitos e liberdades fundamentais (inciso XLI, artigo 5°); a manifestação de pensamento, criação,
expressão e informação (artigo 220, caput), proibindo a aprovação de leis que objetivem constituir
embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social.
 
Fonte: cookie_studio / Freepik
 
A liberdade de pensamento "é o direito de exprimir, por qualquer forma, o que se pense em ciência,
religião, arte, ou o que for", ou seja, "trata-se de liberdade de conteúdo intelectual e supõe o contato do
indivíduo com seus semelhantes, pelo qual o homem tenda, por exemplo, a participar a outros suas
crenças, seus conhecimentos, sua concepção de mundo, suas opiniões políticas ou religiosas, seus
trabalhos científicos" (SILVA, 2002, p. 240).
Reconhecer a liberdade de pensamento como uma das estruturas da constitucionalidade democrática é
legitimar juridicamente a autodeterminação do sujeito, a autonomia privada como elemento fundamental
para sua dignidade e reconhecimento como pessoa.
 
"A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DE
MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO NÃO PODE
SOFRER NENHUM TIPO DE LIMITAÇÃO PRÉVIA, NO
TOCANTE À CENSURA DE NATUREZA POLÍTICA,
IDEOLÓGICA E ARTÍSTICA" (MORAES, 2004, P. 80),
POIS "A CENSURA PRÉVIA SIGNIFICA O CONTROLE,
O EXAME, A NECESSIDADE DE PERMISSÃO A QUE
SE SUBMETE, PREVIAMENTE E COM CARÁTER
VINCULATIVO, QUALQUER TEXTO OU PROGRAMA
QUE PRETENDE SER EXIBIDO AO PÚBLICO EM
GERAL" (MORAES, 2004, P. 81).
LIBERDADE DE EXPRESSÃO X CENSURA
Censurar é o mesmo que limitar o exercício democrático da liberdade de expressão, numa tentativa
de calar vozes dissidentes que buscam, muitas vezes, opor-se às estruturas sociais que naturalizam a
desigualdade, a discriminação e a indignidade. O ato de censura constitui um atentado ao modelo
jurídico que preconiza o direito de fala, a autonomia de gestão conferida a cada sujeito de se expressar
conforme suas convicções, vontades, comportamentos, gestos e meios próprios de enxergar-se e
compreender socialmente o locus onde se encontra inserido.
 
Fonte: Wikimedia
 Protesto contra a censura.
É nesse contexto que se vislumbram a importância e a dimensão da liberdade de expressão, no seu
mais amplo sentido, na perspectiva sistemático-integrativa de reconhecimento do outro (coletivo ou
individual) como igual no que tange ao exercício de todos os direitos fundamentais previstos no plano
constitucional e infraconstitucional.
"O CARÁTER PREVENTIVO E VINCULANTE É O TRAÇO
MARCANTE DA CENSURA PRÉVIA, SENDO A RESTRIÇÃO À
LIVRE MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO SUA FINALIDADE
ANTIDEMOCRÁTICA".
(MORAES, 2004, p. 81)
 
"A liberdade de expressão de pensamento é tida por uma das mais importantes", haja vista que "a livre
comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo
cidadão pode, pois, falar, escrever, exprimir-se livremente, sujeito a responder pelo abusodesta
liberdade nos casos determinados pela lei" (BASTOS, 1998, p. 187).
 ATENÇÃO
A liberdade não pode ser vista, no entanto, como um direito absoluto, já que seu exercício abusivo terá como
consequência responsabilidades no campo cível e/ou penal.
 
Deve-se pensar o gozo da liberdade de expressão num contexto democraticamente legítimo: ser livre é
respeitar o outro, reconhecendo-o como igual e digno quanto ao pleno exercício de todos os
direitos fundamentais previstos constitucionalmente. Quando o exercício da liberdade individual
esbarra em direitos fundamentais alheios (individuais e/ou coletivos), tal exercício se torna ilegítimo,
devendo o agente reparar eventuais danos como forma de restabelecer o status quo ante ou compensar
monetariamente os prejuízos de ordem material e/ou moral causados.
"A LIBERDADE DE EXPRESSÃO DEVE, PORTANTO, SER
CONSIDERADA COMO IMPORTANTE COMPONENTE E
INSTRUMENTO DE AUTODETERMINAÇÃO".
(FIGUEIREDO, 2020, p. 31)
AUTODETERMINAÇÃO
A autodeterminação é a autonomia reconhecida a cada sujeito de fazer escolhas que não
ocasionem violação de direitos de terceiros.
 
 
Fonte: Freepik
DIREITO DE FALA E EXPRESSÃO
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O direito de fala e de expressão no Estado Democrático de Direito não inclui a reprodução do discurso
de ódio contra minorias socialmente vulnerabilizadas (minorias sexuais; pessoas em situação de rua;
negros; imigrantes; refugiados); significa que o direito de se expressar não comporta a possibilidade de
dizer o que bem entende, sem o cuidado quanto aos desdobramentos do conteúdo da própria fala.
 EXEMPLO
Toda pessoa tem o direito de se expressar em redes sociais, mas esse direito não inclui a possibilidade de
ofender os outros, seja no âmbito individual ou coletivo. Postagens racistas, misóginas, homofóbicas,
machistas, transfóbicas e que estimulam a violência no seu mais amplo espectro (físico, moral, psicológico)
são formas de exercer abusivamente o direito fundamental à liberdade de expressão e, por isso, têm
consequências jurídicas tanto na perspectiva cível (reparação civil) quanto penal (aplicabilidade de pena
prevista em lei).
 
É nesse contexto propositivo que se verifica a proibição legal do discurso de ódio, que se concretiza nos
atos de violências praticados pela fala e pelo abuso do direito de expressão, seja de maneira presencial
ou por intermédio de instrumentos digitais, como a internet.
A liberdade individual dá ao indivíduo a possibilidade de desenvolver seu potencial
integralmente, controlar seu próprio destino e ter influência sobre as decisões coletivas. Isto pode
ser sustentado pelo argumento que considera a autonomia individual com base no pressuposto de que,
se os indivíduos não gozarem do direito de minimamente fazer escolhas por si mesmos, eles deixam de
ser realmente indivíduos. Também se considera que a liberdade de expressão é desdobramento de o
discurso ser, efetivamente, uma concretização da liberdade individual (FIGUEIREDO, 2020, p. 31).
A legitimidade quanto ao exercício do direito fundamental à liberdade de expressão é, além de um ato
democrático, a possibilidade conferida constitucionalmente que permite o direito à livre manifestação de
pensamento, seja na perspectiva científica, religiosa, de crenças ou de concepções decorrentes dos
aspectos subjetivos que marcam a individualidade de cada pessoa.
A LIBERDADE ESTÁ MUITO MAIS NA AÇÃO DO QUE
APENAS NO PENSAR OU NO LEGISLAR, É DIZER, NO
QUERER DE QUEM FAZ A LEI OU DO PODER POLÍTICO",
CONSIDERANDO-SE QUE "QUANDO SE DIZ LIBERDADE DE
EXPRESSÃO, NÃO SE DEVE PENSAR SOMENTE NA
QUESTÃO IDEOLÓGICA, MAS PRINCIPALMENTE NA
PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE, NA ELABORAÇÃO DAS
LEIS E NA SUA APLICAÇÃO.
(TALLARICO; GOLINI, 2017, p. 30)
LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PARTICIPAÇÃO
POPULAR
Outro desdobramento teórico que permite o exercício democrático do direito fundamental à liberdade de
expressão está no direito de participação popular, na soberania popular, na possibilidade de a
coletividade ser parte integrante na prática e fiscalidade dos atos praticados pelos agentes públicos.
 
 
Significa dizer que todos os provimentos estatais, seja no âmbito legislativo, executivo ou judicial,
quando regidos pelo princípio da publicidade e impessoalidade, autorizam o direito de seus destinatários
serem coautores, possibilitando a direta participação para controlar a legalidade de tais atos, além de
conferir-lhes democraticidade.
 
Fonte: Wikimedia
 População indígena no planalto.
Ao estudar o processo legislativo no Estado Democrático de Direito, compreendemos que a população
e a sociedade civil podem ser autoras de propostas legislativas, mediante a iniciativa popular. Veja:
ARTIGO 14, INCISO III O artigo 14, inciso III do texto da Constituição brasileira de 1988,
estabelece que a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto,
com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante iniciativa popular. ARTIGO 27,
PARÁGRAFO 4º O artigo 27, parágrafo 4 do texto constitucional vigente, prevê que a lei
disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual. ARTIGO 29, INCISO
XIII O artigo 29, inciso XIII, prevê que os municípios são regidos pela lei orgânica, devendo ser
assegurado o direito à iniciativa popular de projetos de lei de interesse municipal específico ou de
bairros, através da manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado. ARTIGO 61,
PARÁGRAFO 2° O artigo 61, parágrafo 2° do texto constitucional, prevê que a iniciativa
popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por,
no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído em pelo menos cinco estados, com não
menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.
Esses dispositivos materializam a possibilidade efetiva de exercício do direito à liberdade, corolário da
participação na formação discursiva dos provimentos legislativos. No mesmo sentido, temos o direito de
os destinatários finais dos provimentos jurisdicionais serem seus coautores, como é o caso, por
exemplo, do processo coletivo cujas demandas de cunho metaindividual têm o poder de atingir toda a
coletividade, permitindo-se, assim, que esses sujeitos afetados pelos efeitos dessas decisões possam
participar discursivamente da sua construção, requisito essencial para assegurar sua democraticidade.
 ATENÇÃO
Na seara do Poder Executivo, o direito à liberdade de expressão, como desdobramento do direito à
participação popular, permite que todo cidadão possa fiscalizar a legalidade e a moralidade administrativa
dos atos praticados pelos gestores públicos, como é o caso, por exemplo, dos processos licitatórios, abertos
como requisito para a seleção de pessoas habilitadas a contratar com o poder público.
 
LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O DIREITO À
IGUALDADE E À DIFERENÇA
O estudo crítico do direito fundamental à liberdade de expressão no Estado Democrático exige,
inicialmente, a análise do direito à igualdade no contexto das diferenças que marcam o pluralismo
e a diversidade da sociedade contemporânea. O direito fundamental à igualdade pressupõe o
reconhecimento de todas as pessoas no âmbito de suas individualidades.
Ao direito democrático cabe a responsabilidade de proteger todos os cidadãos indiscriminadamente, não
se admitindo que a ciência jurídica seja utilizada como parâmetro para discriminar, excluir e marginalizar
pessoas.
 
 
Fonte: Freepik
 Multiculturalismo.
 
Nesse cenário, o direito à diferença ressalta a necessidade de reconhecimento das diferentes
identidades dos indivíduos, e o alcance do direito à igualdade traz em si a premissa de não
discriminação ao que é diferente. Ser livre é ter protegido o igual direito de ser diferente no contexto
plural das diversidades sociais.
 
A violação dos direitos fundamentais ocorre em grande medida pela dificuldade de reconhecer o outro
em sua diferença e pelo temor ao diferente, que gera a dicotomiaeu X outro, faz com que o distinto
seja motivo para diminuir o outro em seus direitos e dignidade. O direito à diferença é corolário do direito
fundamental à igualdade. Ou seja, não é juridicamente viável, sob o ponto de vista democrático, utilizar-
se da norma jurídica para discriminar e segregar pessoas, justificando tal tratamento com base no
cognominado direito à diferença.
 COMENTÁRIO
Pensar o direito à igualdade numa sociedade plural e marcada pela diversidade é um meio de assegurar
visibilidade, dignidade, liberdade e inclusão de todas as pessoas, para que não sejam discriminadas e
excluídas em razão de suas escolhas realizadas no âmbito da subjetividade situada.
 
As proposições jurídicas trazidas pela modernidade baseiam-se na homogeneização de pessoas e
padrões de condutas, ignorando a diversidade como característica ínsita da sociedade plural e
globalizada.
 
Fonte: Wikimedia
Aqueles sujeitos que destoam dos padrões pasteurizados e ideologizados pelas ciências são
patologizados ou passam a integrar o rol das condutas consideradas criminosas pela ciência do direito.
 
Fonte: Wikimedia
A criminalização da mendicância, a patologização da homossexualidade e da transexualidade são
alguns exemplos que ilustram com clareza que as ciências médicas e jurídicas são recintos utilizados
para a segregação daqueles que fogem aos padrões binários e capitalistas decorrentes de máximas
generalizantes impostas institucionalmente.
 
Fonte: Wikimedia
Assim, legitima-se a violação institucionalizada do direito fundamental à liberdade de expressão, pois
esses sujeitos, que deixam de corresponder às máximas generalizantes imposta por padrões
homogêneos, são excluídos e colocados em posição jurídico-estrutural de desigualdade perante os
demais, pelo simples fato de não poderem ser livres em suas escolhas pessoais.
É nesse contexto propositivo que pessoas são segregadas e violadas no direito constitucional de serem
livres, seja em razão da inadequação aos padrões homogêneos e universais, seja em virtude da
naturalização da invisibilidade desses sujeitos.
A igualdade formal e material proposta pelas legislações constitui um mecanismo que objetiva amenizar
os impactos dessas desigualdades estruturais que acometem os sujeitos excluídos ao longo da história
pelas instituições (família, sociedade, religiões, Judiciário, Legislativo, Executivo), proporcionando
condições fático-jurídico-legais de assegurar a liberdade como corolário da dignidade humana.
 
IGUALDADE FORMAL
A igualdade formal é a que garante idêntico tratamento a todos perante a lei.
 

 
IGUALDADE MATERIAL
Já a igualdade material leva em consideração as diferenças, de modo a possibilitar o tratamento
desigual àqueles que estão em situações desiguais.
A dignidade humana emerge como fundamento da República Federativa do Brasil, expressamente
mencionada no artigo 1° da Constituição brasileira de 1988, para despatrimonializar a forma de
compreender a ciência do direito, colocando a pessoa humana como centro da proteção jurídica de todo
o ordenamento legal e constitucional. A ampla proteção integral da pessoa humana exige o respeito à
diferença, o reconhecimento do outro como igual no que tange ao acesso aos direitos civis, além da
vedação de qualquer tipo de discriminação ou preconceito que venham reproduzir o modelo
institucionalizado de segregação daquelas pessoas que fogem aos padrões homogêneos impostos
pelos ideais individualistas e patrimonialistas reproduzidos pela modernidade.
Assim, com a exaltação da dignidade humana, o direito à diferença encontra-se amparado pela
perspectiva universalista que considera o ser humano como destinatário final da tutela jurídica, de modo
que o respeito à sua individualidade e realização é observado como desdobramentos lógicos da
concretização do direito fundamental à liberdade de expressão. O direito à diferença se traduz, enfim,
em uma luta pelo reconhecimento das classes minoritárias da sociedade que, na dicotomia eu x outros,
constantemente são prejudicadas. 
Apenas o decreto de igualdade de todos perante a lei não é suficiente para garantir a possibilidade de
realização do reconhecimento pleno desse direito na vida social (BITTAR, 2009, p. 553). A simples letra
fria do texto legal é insuficiente para corrigir as desigualdades estruturais e, assim, permitir aos cidadãos
o direito digno de serem livres em suas diferentes formas de ver, ler e compreender o mundo.
 
PODEMOS NOTAR, ENTÃO, QUE O EQUILÍBRIO DAS
RELAÇÕES HUMANAS NÃO É SUPRIDO PELA IDEIA
DE IGUALDADE, MAS SIM PELO RECONHECIMENTO
DA DIVERSIDADE DA NATUREZA HUMANA COMO
FORMA DE DESCONSTRUÇÃO DAS ESTRUTURAS
DE DOMINAÇÃO (FAMÍLIA, ESTADO, SOCIEDADE,
IGREJA) QUE NATURALIZAM HISTORICAMENTE A
MARGINALIDADE, A EXCLUSÃO, A SEGREGAÇÃO E
A DESIGUALDADE DAQUELES SUJEITOS QUE
INTEGRAM AS "DITAS" MINORIAS SOCIAIS.
 
EIXOS DA TUTELA DO DIREITO
Na visão de Farias (2015), a tutela do direito à diferença ocorre em três eixos:
EIXO REPRESSIVO
Defende que as normas punitivas servem para tutelar as identidades individuais e grupais e, portanto, o
Direito Penal pode funcionar como instrumento de promoção da cidadania. Como exemplo de atuação
desse eixo, podemos mencionar a Lei 7.716/1989, que trata dos crimes resultantes de preconceito por
raça, cor, etnia, credo ou nacionalidade.
EIXO PREVENTIVO
Atua por meio de políticas públicas voltadas para a defesa dos direitos humanos — como a educação,
por exemplo —, partindo do pressuposto de que é fundamental auxiliar as pessoas a reconhecerem o
que é dignidade e a exercerem a cidadania.
EIXO INCLUSIVO
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Consiste na atuação do poder público ou privado por meio de ações afirmativas que buscam orientar os
cidadãos quanto à solução das situações de desigualdades já existentes. Visam, assim, ao
desfazimento de exclusões históricas. Ações desse eixo podem ser vistas, por exemplo, nas políticas
públicas voltadas ao público LGBTQI+, assim como às minorias historicamente marginalizadas e às
cotas raciais para ingresso na educação de nível superior e em concursos públicos (FARIAS; 2015). O
respeito à diferença, além de ser visto como um desdobramento da interpretação extensivo-sistemático-
integrativa do direito fundamental à igualdade, materializa-se no reconhecimento da liberdade de
expressão, na possibilidade de garantir às pessoas autonomia e autodeterminação para se construírem
conforme suas subjetividades, sem que essas diferentes formas de ler e ver a vida sejam utilizadas
como ferramentas para discriminações.
 
Fonte: Freepik
 
LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DISCURSOS
VIOLENTOS
A proteção dos direitos humanos, a repressão do discurso de ódio contra as minorias, a regulamentação
dos limites constitucionais do exercício do direito fundamental de liberdade de expressão, a efetividade
do princípio da não discriminação e o repúdio a qualquer meio ou forma de tornar invisível o direito à
diferença são alguns dos compromissos assumidos pelo Estado Democrático de Direito.
 COMENTÁRIO
Não se propõe aqui fazer uma reflexão teórica profunda para limitar os conceitos definitivamente, mas é
necessário, ao menos, problematizar algumas questões essenciais ao debate crítico do objeto aqui proposto.
 
Uma primeira aproximação possível com os temas de discursos violentos, liberdade de expressão e
democracia que preza por direitos humanos parte da noção de que as identidades humanas são
necessariamente formuladas na interlocução com o outro. O diálogo com o outro, no sentido mais amplo
possível, é o que viabiliza a consolidação do próprio "eu", tanto na afirmação e retroalimentação do que
os outros afirmam quanto na luta contra os que querem se ver em nós.
"PARECE PLAUSÍVEL SUPOR QUE A LIBERDADE É UMA
QUALIDADE QUE, POR EXEMPLO, PODE SER ATRIBUÍDA
ÀS PESSOAS, AÇÕES E SOCIEDADES". OU SEJA, "ESSA
SERIA, NO ENTANTO, UMA PERSPECTIVA BASTANTE
RUDIMENTAR E SUPERFICIAL. QUEM DIZ QUE UMA
PESSOAÉ LIVRE PRESSUPÕE QUE, PARA ESSA PESSOA,
NÃO EXISTEM EMBARAÇOS, RESTRIÇÕES OU
RESISTÊNCIAS DE QUALQUER ESPÉCIE (...) COM ISSO,
PODER-SE-IA CONSIDERAR LIBERDADE COMO UMA
RELAÇÃO DIDÁTICA ENTRE UMA PESSOA E UM
EMBARAÇO À LIBERDADE. MAS ISSO NÃO É SUFICIENTE".
Robert Alexy (2003, p. 219)
A liberdade de expressão, nesse contexto, não pode ser entendida como direito ilimitado de veicular
opiniões. Em um regime político democrático, que ao menos se propõe a prezar pelo igual respeito e
dignidade entre seus cidadãos, não é possível considerar que esteja dentro da esfera de direitos de uns
vociferar palavras de ódio contra outros. A liberdade de expressão encontra limites em outros valores
reputados importantes e, no limite, na própria segurança dos membros da comunidade política.
 
O preconceito e o ódio, portanto, não podem ser considerados exercícios da liberdade individual, sob
pena de serem vistos sob uma ótica individualizante e de cortesia, quando, na verdade, estão em jogo
problemas estruturais e de justiça social. Pensar a liberdade de expressão numa sociedade democrática
implica privilegiar a observância dos direitos fundamentais, ou seja, todas as vezes que o referido direito
for absolutizado, permitindo que pessoas sejam ilimitadamente livres para expressar o que quiserem,
abre-se a possibilidade de institucionalizar o discurso de ódio, cuja sistematização é reflexo da
contrariedade da teoria dos direitos fundamentais.
 
Fonte: Wikimedia
 Manifestação contra o racismo.
Uma primeira aproximação possível com os temas de discursos violentos, liberdade de expressão e
democracia que preza por direitos humanos parte da noção de que as identidades humanas são
necessariamente formuladas na interlocução com o outro. O diálogo com o outro, no sentido mais amplo
possível, é o que viabiliza a consolidação do próprio "eu", tanto na afirmação e retroalimentação do que
os outros afirmam quanto na luta contra os que querem se ver em nós.
A existência de conflitos entre os direitos fundamentais no plano da aplicação exige a ponderação das
normas diante do caso concreto que privilegie o exercício das liberdades individuais e coletivas no
contexto propositivo da dignidade humana daqueles sujeitos vulneráveis, excluídos, marginalizados que
integram grupos minoritários. O discurso democrático deve tornar visíveis os direitos de todos os
segmentos da sociedade civil e exigir a proteção jurídico-constitucional da diversidade e do pluralismo
social.
Sabemos que a identidade humana é socialmente construída. Para os integrantes de grupos
minoritários, o processo de descoberta e reconhecimento da identidade pode ser violento. Isso porque,
ao serem alvo de interlocuções que os colocam em patamar de cidadania inferior ao que lhes é
juridicamente garantido, eles acabam atingidos ao menos de duas formas diferentes. Primeiro no diálogo
interior, podendo se converter em enfraquecimento da autoestima e depreciação, como afirma Taylor
(2013, p. 242).
Fonte: Wikimedia
Depois, no nível público, no espaço social, integrantes de grupos minoritários podem ser afetados por
discursos inferiorizantes proferidos por instituições, por exemplo. Esses discursos têm grande potencial
para incentivar outros membros da sociedade a atitudes como inferiorizar minorias ou agredi-las
fisicamente e de outras formas. 
Isso posto, há de se entender que discursos odiosos são os que inferiorizam ou depreciam pessoas ou
grupos sociais, podendo causar-lhes danos físicos e/ou psicológicos. Ao bloquearem a via do
reconhecimento das identidades, que é "uma necessidade humana vital" (TAYLOR, 2013, p. 242), esses
discursos subjugam à marginalização social os cidadãos que pleiteiam o direito à identidade e,
em alguma medida, restringem sua liberdade de expressão.
 VOCÊ SABIA
O Brasil apresenta dados alarmantes sobre violência contra minorias, notadamente mulheres, negros e
LGBTQI+. Em 2019, por exemplo, foi registrada uma morte de mulher a cada duas horas, quase seis
estupros por hora e uma morte de LGBTQI+ a cada 26 horas. Além disso, em 2015, os números indicaram
que, do total de homicídios, 71% foram cometidos contra negros (SOUTO, 2018).
 
POSSIBILIDADES DE LIMITAÇÃO AO DIREITO
DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Antes de afirmar que o exercício do direito de liberdade de expressão pode sofrer qualquer limitação, é
importante esclarecer que ele deve ser exercido num contexto em que se reconheça a legitimidade
democrática de seus titulares. 
 
 
Fonte: Pxhere e freepik
 Liberdade a crença.
Ser livre é poder expressar de forma autônoma as percepções individuais, as crenças, valores e
concepções de mundo. Essa liberdade não é absoluta e irrestrita, deve ser regulada pelo Estado para
prevenir a possibilidade de violação de direitos de outros sujeitos.
A restrição do direito à liberdade de expressão nada mais é do que o direito que o Estado tem de regular
o seu exercício, estabelecendo critérios e parâmetros para o reconhecimento do direito de ser livre e se
expressar, de modo a reconhecer o(s) outro(s) de forma igual e digna.
Nesse sentido, a democracia é mais do que a forma atual de Estado e de governo. (DIAS, 2010, p. 58-
59). A democracia implica a participação do povo, o que dá legitimidade à ação do Estado nas esferas
legislativa, administrativa e judicial, conforme o que estabelece o parágrafo único do artigo 1º da CF
(FREITAS, 2014, p. 10).
É por isso que o ordenamento jurídico-constitucional brasileiro veda o discurso de ódio contra as
minorias sociais, punindo seus agentes e os responsabilizando tanto na esfera cível quanto criminal. Se
o Estado reconhecesse a liberdade de expressão como um direito absoluto, legitimaria a possibilidade
de ofensa a terceiros, seja na perspectiva individual e/ou coletiva, contrariando o livre exercício dos
demais direitos fundamentais expressamente previstos no plano constitucional. 
Assim, todo cidadão possui o direito de se expressar, porém há limites constitucionais de preservação
dos direitos fundamentais que devem ser respeitados. Entenda mais sobre esse assunto no vídeo a
seguir:
Neste vídeo, iremos fazer uma breve síntese sobre o tema Direito Fundamental à Liberdade de
Expressão.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA A AFIRMAÇÃO CORRETA
RELACIONADA AO DIREITO FUNDAMENTAL À LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
A) A autodeterminação e a autonomia privada são desdobramentos interpretativos que legitimam a
aplicabilidade sistemático-integrativa do direito fundamental à liberdade de expressão no Estado
Democrático de Direito.
B) Ter liberdade de expressão é reconhecer especialmente a si, no contexto dos direitos individuais
expressamente previstos no plano constitucional e infraconstitucional, dispensando-se o reconhecimento
do outro como sujeito igual, haja vista que essa é a principal premissa estabelecida pelo Estado
Democrático de Direito.
C) A liberdade de expressão deve ser vista, compreendida e exercida de modo a garantir o exercício
amplo e incondicionado das vontades individuais, mesmo que tal autonomia venha a esbarrar
excepcionalmente em aspectos coletivos, pois o mais importante nesse contexto é a dignidade humana
de seu titular.
D) O exercício do direito fundamental à liberdade de expressão, expressamente previsto no plano
constitucional, não sofre qualquer restrição e, por isso, é inviável a responsabilização civil e/ou penal de
seu titular.
2. O DIREITO FUNDAMENTAL À LIBERDADE DE EXPRESSÃO DEVE SER
INTERPRETADO DE FORMA AMPLA O SUFICIENTE PARA NÃO ATENDER
APENAS ÀS DEMANDAS INDIVIDUAIS PERTENCENTES AOS SEUS
RESPECTIVOS TITULARES, POR ISSO É CORRETO AFIRMAR QUE:
A) O direito fundamental à liberdade de expressão está no direito de participação popular, na soberania
popular, na possibilidade de a coletividade ser parte integrante na prática e na fiscalidade dos atos
praticados pelos agentes públicos.
B) Reconhecer a liberdade de pensamento como uma das estruturas da constitucionalidadedemocrática
é legitimar juridicamente a autodeterminação do sujeito, sua autonomia privada como elemento
fundamental para a dignidade e o reconhecimento do outro, admitindo-se, excepcionalmente, a censura,
de modo especial quanto às questões políticas e religiosas.
C) O pluralismo político, previsto no artigo 1°, inciso V do texto constitucional, não pode ser visto e
compreendido como um desdobramento interpretativo do entendimento sistemático e integrativo do
direito fundamental à liberdade de expressão.
D) O estudo do direito fundamental à liberdade de expressão no Estado Democrático não exige,
necessariamente, a análise do direito à igualdade no contexto das diferenças que marcam o pluralismo e
a diversidade da sociedade contemporânea.
GABARITO
1. Assinale a alternativa que apresenta a afirmação correta relacionada ao direito fundamental à
liberdade de expressão.
A alternativa "A " está correta.
 
A liberdade de expressão é um direito fundamental cujo exercício democraticamente legítimo pressupõe
o reconhecimento da dignidade humana do(s) outros(s) individual e/ou coletivo. Trata-se de direito que
decorre da interpretação sistemático-integrativa da autodeterminação e autonomia privada. Seu
exercício, para ser legítimo no Estado Democrático de Direito, não poderá privilegiar apenas aspectos
individuais, devendo reconhecer também aspectos coletivos, ressaltando-se que eventuais abusos
ensejarão responsabilidade no campo cível e/ou criminal.
2. O direito fundamental à liberdade de expressão deve ser interpretado de forma ampla o
suficiente para não atender apenas às demandas individuais pertencentes aos seus respectivos
titulares, por isso é correto afirmar que:
A alternativa "A " está correta.
 
A interpretação sistemática e integrativa do direito fundamental à liberdade de expressão legitima o
reconhecimento de participação popular na fiscalidade e construção dos atos dos agentes públicos,
reflexo do pluralismo político previsto no artigo 1, inciso V do texto constitucional. O exercício do direito à
liberdade de expressão exige o reconhecimento da igualdade do outro como corolário do direito à
diferença. A censura às manifestações políticas e religiosas constitui uma afronta ao direito fundamental
à liberdade de expressão, especialmente se não houver conteúdo ofensivo, indigno ou odioso na sua
manifestação.
MÓDULO 3
 Descrever as limitações às garantias constitucionais do processo
O PROCESSO CONSTITUCIONAL
DEMOCRÁTICO
 
 
 
 
Fonte: Wikimedia
 Promulgação da Constituição em 1988.
O direito constitucional possibilitou juridicamente a aquisição da condição de cidadãos mediante a
previsão legislativa da inviolabilidade dos direitos fundamentais e das garantias e princípios
constitucionais. O estudo do processo constitucional nos tempos atuais viabiliza indagações acerca da
hermenêutica constitucional, do controle de constitucionalidade, da aplicabilidade e do exercício dos
direitos fundamentais como meio de controle e de fiscalidade da construção dos atos e provimentos
estatais.
O parâmetro para a interpretação racional das normas jurídicas é a Constituição, considerada a
norma limitadora dos excessos praticados pelo Estado e pelo julgador, que muitas vezes utiliza de
outros critérios em detrimento da objetividade e racionalidade crítica no julgamento das demandas.
Considerado um dos princípios regentes do Estado Democrático de Direito, a soberania popular
viabiliza, por meio do devido processo constitucional, a participação popular na construção e no controle
dos atos estatais.
 
A constitucionalização do processo, que permite o debate de pontos controversos da demanda pelas
partes interessadas, assegura a legitimidade democrática do provimento final. A efetivação dos direitos
expressos na Constituição apresenta um dilema, já que sua aplicação, sob o ponto de vida prático,
continua sendo muitas vezes simbólica, quase uma "letra morta", desprezando toda a principiologia e
sistematicidade constitucional. As ações constitucionais são a via para o exercício desses direitos
constitucionalmente garantidos.
 ATENÇÃO
A importância do processo como concretizador dos direitos fundamentais no Estado Democrático de Direito
deve ser compreendida com fundamento nos princípios do devido processo constitucional, isonomia,
contraditório, ampla defesa, fundamentação das decisões judiciais, reserva legal, inafastabilidade do controle
jurisdicional e supremacia da constituição.
 
O processo constitucional democrático é a instituição jurídica que legitima a implementação dos direitos
fundamentais expressos e previamente previstos no plano legislativo.
 
NESSE SENTIDO, O PROCESSO CONSTITUCIONAL
DEVE SER VISTO COMO "LUGAR" DE
DISCURSIVIDADE ISONÔMICA E ISOMÊNICA DOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS, QUE DEVERÃO SER
IMPLEMENTADOS PELO ESTADO, COMO FORMA DE
GARANTIR O EXERCÍCIO DA CIDADANIA.
ISOMENIA
Iigualdade fática e jurídica conferida à pessoa humana em relação à lei ou ao texto constitucional.
Trata-se de igualdade argumentativa; igual oportunidade de diálogo e debate conferida às partes
no âmbito processual, especialmente quanto às iguais possibilidades conferidas às partes de
interpretação e aplicabilidade da norma jurídica.
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ISONOMIA
Igualdade construída a partir e por meio da lei. É uma proposta normativa, legal e constitucional
que objetiva oferecer à pessoa humana igualdade no âmbito do direito, sem garantir efetivamente
igualdade no plano fático, pois a letra da lei é insuficiente para mudar as estruturas sociais que
naturalizam a desigualdade.
Nessa perspectiva, você deve estar se perguntando: qual a função do Judiciário?
JUDICIÁRIO
A ele cabe a responsabilidade de utilizar a jurisdição constitucional como meio de viabilizar o exercício
de tais direitos, já que a jurisdição constitucionalmente democratizada é uma função estatal que supera
o protagonismo judicial.
A interpretação das normas constitucionais não pode restringir ou tolher direitos, tampouco conferir
tratamento jurídico ofensivo ao princípio da isonomia. O processo constitucional é o meio garantidor da
eficácia e do exercício dos direitos fundamentais via ações constitucionais. O Judiciário, no exercício da
função jurisdicional, viabilizará tal exercício através das pretensões levadas até ele, uma vez que os
problemas estruturais enfrentados pelo Estado não servem de justificativa ao descumprimento dos
direitos fundamentais.
Nesse sentido, o processo constitucional democrático é instituição jurídica que legitima a implementação
dos direitos fundamentais expressa e previamente previstos no plano legislativo.
A sistematização teórica do modelo de processo constitucional democrático pressupõe a superação do
entendimento clássico adotado pela doutrina: o processo é uma relação jurídica instituída entre pessoas
(juiz, autor e réu) e o magistrado se encontra em posição hierarquicamente superior aos sujeitos do
processo.
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Fonte: Freepik
 
ESCOLA PAULISTA DE PROCESSO
A Escola Paulista de Processo, também denominada de Escola Instrumentalista, defende o
entendimento por meio do qual o processo é um instrumento para o exercício da jurisdição, facultando
ao julgador utilizar discricionariedade e protagonismo judicial, proferindo decisões unilaterais e
autocráticas por meio das quais prevalecerá a onisciência e a forte carga metajurídica do julgador.
 
Fonte: Freepik

Na perspectiva instrumentalista, o magistrado tem o poder de decidir solitariamente a lide, haja vista que
não é obrigado a permitir que os sujeitos que integram a relação jurídica participem diretamente da
construção da decisão judicial.
Em contrapartida, no âmbito do processo constitucional democrático, as partes diretamente afetadas
pelos efeitos do provimento final de mérito terão o direito fundamental de participar da sua construção
discursiva.
CONSTRUÇÃO DISCURSIVA
O processo que, nessa perspectiva científica,é visto como locus (espaço) de ampla dialeticidade e
exauriência argumentativa de todos os pontos controversos da demanda.

 
Fonte: Freepik
 
A superação do instrumentalismo processual, mediante a ruptura com os escopos metajurídicos da
jurisdição e o protagonismo judicial, será possível mediante a utilização do espaço processual como
locus de ampla discursividade da pretensão deduzida no contexto da racionalidade crítica, pois assim se
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tornará viável abandonar a forte carga axiológica das decisões judicias e, assim, garantir a segurança
jurídica por meio do princípio da fundamentação racional das decisões judiciais.
O estudo da jurisdição é outro tema que gera debate na doutrina. Para a Escola Instrumentalista, a
jurisdição é um poder pessoal do magistrado, que o coloca em posição hierarquicamente
superior aos demais sujeitos do processo. Os instrumentalistas defendem que a jurisdição tem
escopos (finalidades) metajurídicos (valorativos), como é o caso dos fins sociais, políticos, econômicos e
morais.
 COMENTÁRIO
No momento em que se permite ao juiz buscar fundamentos fora da ciência do Direito para proferir suas
decisões judiciais, fortalece-se o seu protagonismo, legitimando-o pressupostamente ao poder de decidir de
modo unilateral, sem permitir a participação dos destinatários do provimento final na formação participada do
mérito.
 
O protagonismo e a discricionariedade judicial são parâmetros utilizados para a sistematização teórica
de um modelo de jurisdição autocrática, que legitima pressupostamente a autoridade do julgador em
proferir julgados unilaterais, sem o compromisso de garantir às partes o direito de participarem da
construção dialógica dos fundamentos jurídico-constitucionais e fáticos da decisão final de mérito.
Outra questão relevante, quando se debate os fundamentos da jurisdição autocrática, diz respeito à
criatividade do julgador diante do julgamento do caso concreto; o poder criativo do juiz fica evidente,
quando a jurisdição é vista por ele como uma atividade pessoal que o autoriza a reproduzir suas
percepções pessoais como fundamentos do julgamento do mérito da pretensão deduzida.
 
EM CONTRAPARTIDA, E SOB A ÓTICA DA
CONSTITUCIONALIDADE DEMOCRÁTICA,
ENQUANTO A JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL É
VISTA E COMPREENDIDA COMO UM DIREITO
FUNDAMENTAL, O PROCESSO É CONSIDERADO
UMA GARANTIA CONSTITUCIONAL.
 
Uma das principais características do processo constitucional democrático é a possibilidade de os
destinatários do provimento final serem coautores do conteúdo decisório de mérito. Compreender a
jurisdição constitucional como um direito fundamental é o mesmo que reconhecer a legitimidade
democrática de acesso amplo e igualitário ao Poder Judiciário a todos os cidadãos.
A inafastabilidade do controle jurisdicional, também denominada de princípio do amplo acesso à justiça,
tem previsão expressa no artigo 5°, inciso XXXV da Constituição brasileira de 1988 (a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito). A jurisdição constitucional se efetiva
inicialmente com o direito assegurado a todos os cidadãos de poderem levar sua pretensão para o
Judiciário, objetivando ter acesso a uma decisão judicial participada e fundada em parâmetros
condizentes com a racionalidade crítica.
 
Fonte: Wikimédia
 Movimento sindical participando da sessão deliberativa ordinária.
Trata-se de proposição teórica que objetiva desconstruir o protagonismo e a discricionariedade judicial,
pois o fundamento e o referencial lógico para as decisões não podem ser a subjetividade e as
percepções pessoais do julgador, visto que o jurisdicionado tem o direito fundamental a um provimento
jurisdicional construído discursivamente em bases fundadas na racionalidade crítico-constitucionalizada
do julgador, que deverá privilegiar a proteção dos direitos fundamentais e dos direitos humanos
expressamente previstos no plano constitucional e infraconstitucional do ordenamento jurídico brasileiro
vigente.
 
PRINCÍPIOS REGENTES DO MODELO DE
PROCESSO E JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL
DEMOCRÁTICO
Com base nas proposições críticas do modelo de processo e jurisdição autocráticos defendidos pela
Escola Instrumentalista, e apresentando como contraponto argumentativo estudos sistematizados no
âmbito do processo constitucional democrático e da jurisdição como direito fundamental, vamos iniciar o
exame dos princípios regentes do modelo de processo e jurisdição constitucional democrático:
CONTRADITÓRIO
Trata-se de princípio constitucional expressamente previsto no artigo 5°, inciso LV da Constituição
brasileira de 1988, e dispõe que "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral, são assegurados o contraditório e ampla defesa, bem como os meios de recursos a ela
inerentes". A principal característica do princípio do contraditório é garantir igualdade a todos os sujeitos
do processo de debaterem de forma ampla os pontos controversos da demanda. A não oportunização
ou não implementação do contraditório tem como consequência direta a configuração do cerceamento
de defesa. No Estado Democrático, o contraditório legitima o espaço processual de debate isonômico e
isomênico dos pontos controversos da demanda judicial, uma vez que viabiliza o direito de as partes
participarem da construção do provimento final.
AMPLA DEFESA
Princípio que genuinamente prevê o dever de o magistrado, ao longo do processo judicial, bem como no
âmbito administrativo, garantir o direito de fala, produção de provas e ampla argumentação no que atine
aos fatos alegados. Trata-se de princípio constitucional explícito (artigo 5°, inciso LV da Constituição
brasileira de 1988) que caminha numa via de mão dupla com o contraditório, mas com ele não se
confunde. Enquanto o contraditório assegura a dialeticidade processual dos pontos controversos da
demanda, a ampla defesa garante o direito de produção de provas consideradas essenciais ao
esclarecimento da verdade processual e à fundamentação das decisões judiciais. Considerada o
aspecto substancial do princípio do contraditório, a ampla defesa confere aos litigantes todos os meios
em direito para se defender, possibilitando a participação direta dos sujeitos no julgamento da lide, de
forma a influenciar na decisão do magistrado. A ampla defesa, no contexto do processo constitucional
democrático, legitima todos os sujeitos do processo no que tange a como devem agir, atuar e conduzir o
procedimento legal de esclarecimento objetivo dos pontos controversos da demanda, mediante a
exauriência probatória. É um princípio que garante igualmente a todos os sujeitos do processo o direito
de provarem tudo o que foi alegado em seu desfavor, oportunizando a resistência processual e
procedimental legitimada pelos limites legais.
DEVIDO PROCESSO LEGAL
Funda-se na obrigatoriedade de procedimentalizar a resolução de conflitos, garantindo-se aos sujeitos
do processo a exauriência argumentativa e a amplitude quanto à produção das provas necessárias ao
esclarecimento dos fatos alegados. O devido processo legal é considerado princípio constitucional
explícito, previsto no artigo 5°, inciso LIV da Constituição brasileira de 1988, que é clara ao estabelecer
que "ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal". Observar o
devido processo legal é seguir uma ritualística que oportuniza igualdade argumentativa às partes;
legitima-se, dessa forma, o direito de os sujeitos do processo participarem dialogicamente da construção
do provimento final. Observar todas as etapas processuais previstas em lei; exigir do julgador a
fundamentação racional da decisão judicial; garantir que todas as provas produzidas e argumentos
trazidos aos autos sejam apreciados pelo magistrado como meio de viabilizar a racionalidade discursiva
do provimento final; oportunizar aos sujeitos do processo o direito de sanar vícios processuais,
priorizando-se o julgamento do mérito dapretensão deduzida; legitimar a criação de técnicas
processuais e procedimentais voltadas à maior efetividade processual são alguns dos desdobramentos
interpretativos do devido processo legal.
ISONOMIA PROCESSUAL
Sob a perspectiva do processo constitucional democrático, todos os sujeitos do processo devem ter
asseguradas iguais possibilidades de produção de provas e alegações referentes aos pontos
controversos da demanda judicial. Compreender o processo como um espaço de ampla discursividade
pressupõe assegurar às partes igualdade e oportunidades de debate, ressaltando-se que a efetivação
do princípio da isonomia processual passa não apenas pela oportunidade de diálogo processual, mas,
sim, pelo direito de ver todas as alegações e provas racionalmente analisadas pelo julgador no momento
da apreciação do mérito da pretensão inicialmente deduzida em juízo. O artigo 7° do Código de
Processo Civil brasileiro vigente assegura às partes "paridade de tratamento em relação ao exercício de
direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação das
sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório". A previsão constitucional do
princípio da isonomia processual encontra-se no caput do artigo 5° do texto constitucional, que consagra
que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, assegurando aos brasileiros
natos e estrangeiros residentes no Brasil a inviolabilidade do direito à vida, liberdade, igualdade,
segurança e propriedade".
INDISPENSABILIDADE DO ADVOGADO
O advogado é considerado função essencial à justiça, conforme dispõe o artigo 133 da CF. A advocacia
não integra nenhum dos poderes previstos constitucionalmente, ou seja, existe de forma autônoma e
independente em relação ao Executivo, Legislativo e Judiciário. A indispensabilidade do advogado no
âmbito do processo constitucional democrático se justifica em razão do direito de as partes terem
acesso a uma defesa técnica, assistidas por profissional com conhecimento suficiente a lhe assegurar a
ampla defesa, contraditório, isonomia processual e devido processo legal. O jus postulandi constitui uma
exceção ao princípio da indispensabilidade do advogado, já que esse instituto jurídico garante ao
jurisdicionado, em situações específicas e pontuais, o acesso ao Judiciário independentemente de estar
representado por um advogado. Mesmo assim, sabe-se que é por meio da advocacia tecnicamente
preparada que se torna viável resistir aos arbítrios da atuação jurisdicional decorrente da
discricionariedade do julgador. Eventuais abusos no exercício da função jurisdicional poderão ser
alegados e questionados pelo advogado, que garante às partes envolvidas no conflito não serem
subtraídas de seus direitos em virtude da postura beligerante de alguns magistrados que decidem de
forma parcial, valoram provas com o propósito de privilegiar algumas partes em detrimento de outras.
Reconhecer constitucionalmente a advocacia como uma função essencial à justiça, além de proteger
imediatamente as partes quanto aos eventuais abusos decorrentes da jurisdição autocrática, constitui
uma proposta de democratizar o acesso à justiça. O acesso ao Judiciário só é efetivamente assegurado
quando o jurisdicionado tem a possibilidade de debater as questões técnicas e jurídicas que permeiam a
pretensão deduzida. Para isso, é fundamental estar assistido por um advogado, profissional com
formação específica para atuar nesse quesito.
INAFASTABILIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL
A inafastabilidade do controle jurisdicional também é denominada de princípio do amplo acesso à
justiça, com previsão expressa no artigo 5°, inciso XXXV da CF (a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito). Objetiva a democratização das vias de acesso ao Judiciário,
oportunizando a todas as pessoas, indistintamente, iguais condições de pleitear o reconhecimento de
determinado bem da vida ou o exercício de direitos. O acesso à justiça, na perspectiva da
processualidade democrática, não objetiva apenas o direito de levar determinada pretensão para o
Poder Judiciário. Além da possibilidade de movimentar o Judiciário, a efetivação do acesso à justiça
ocorre quando se garante isonomicamente às partes interessadas o direito de amplo debate de suas
alegações, produção probatória exauriente e legitimidade jurídica na formação participada do provimento
final. O processo constitucional democrático é visto como um espaço que garante não apenas o direito
de a parte apresentar sua pretensão para o Judiciário. Pelo contrário, garante que o direito pleiteado em
juízo seja amplamente debatido, provado, esclarecido pelas partes interessadas. O acesso à justiça,
visto sob a ótica da democraticidade do processo constitucional, deve se dar no tempo razoável a evitar
o perecimento do direito pretendido pelas partes. Por meio do acesso ao Judiciário, as partes precisam
reconhecer e exercer os direitos pleiteados, de modo que o provimento jurisdicional seja proferido no
tempo necessário a evitar dilações indevidas, atos protelatórios e perda de direitos. O direito
fundamental de acesso à justiça deverá assegurar às partes iguais condições de interpretação
(isomenia) e aplicabilidade da norma jurídica ao caso concreto, privilegiando o julgamento racional,
juridicamente fundamentado e baseado nas provas produzidas pelas partes em juízo.
PUBLICIDADE
O caráter normativo do princípio da publicidade dos atos processuais justifica-se em razão do dever
legal de transparência e da legitimidade conferida a todos os interessados em fiscalizar os atos
praticados pelos magistrados, auxiliares da justiça e representantes do Ministério Público. O artigo 93,
inciso IX, da CF estabelece expressamente que todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, ressaltando-se que o inciso LX, do artigo 5°, estabelece que a lei só poderá restringir a
publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social exigirem. Já no
plano infraconstitucional, o artigo 189 do Código de Processo Civil brasileiro vigente prevê que os atos
processuais são públicos, todavia tramitarão em segredo de justiça os processos: a) em que o exija o
interesse público ou social; b) que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação,
união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; c) em que constem dados
protegidos pelo direito constitucional à intimidade; d) que versem sobre arbitragem, inclusive sobre
cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada
perante o juízo. No mesmo sentido, o artigo 368 do Código de Processo Civil institui que "a audiência
será pública, ressalvadas as exceções legais". O legislador do atual Código de Processo Civil reafirma o
princípio da publicidade no artigo 8° e também no artigo 11. A expressa previsão legal e constitucional
justifica a afirmação de que a publicidade é um princípio jurídico explícito, que zela pela possibilidade
conferida a todas as pessoas de terem acesso e conhecimento dos fatos alegados e debatidos no
âmbito dos processos judiciais, salvo as hipóteses instituídas em lei. Tornar público o conteúdo dos atos
processuais é uma forma de reconhecer o caráter democrático do processo civil, oportunizando o direito
de ampla fiscalidade a todos os interessados quanto ao que foi decidido e alegado. O princípio da
publicidade não pode ser aplicado e interpretado de forma absoluta e irrestrita nos processos judiciais.
Há pretensões que, quando discutidas no contexto do processo civil brasileiro vigente, correrão em
segredo de justiça, ou seja, são processos cujo conteúdo não pode ser publicizado em virtude de
versar sobre a privacidade e intimidade das pessoas.
ARTIGO 8°
Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humanae observando a proporcionalidade, a
legalidade, a publicidade e a eficiência.
ARTIGO 11
Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade.
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SEGREDO DE JUSTIÇA
Os clássicos exemplos de processos que correm em segredo de justiça são os processos de
família (divórcio, separação judicial, reconhecimento de paternidade, cumprimento de sentença de
alimentos, destituição de poder familiar, reconhecimento e dissolução de união estável), além
daqueles processos que versam sobre direitos de crianças e adolescentes (adoção, ação de
alimentos). Além desses casos clássicos de processos judiciais que correm em segredo de justiça
por determinação legal, o magistrado poderá, por meio de decisão fundamentada, determinar a
restrição da publicidade, quando verificar que o conteúdo constante dos autos versa sobre
questões atinentes à privacidade e/ou intimidade dos sujeitos do processo.
DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
É considerado um princípio constitucional implícito, já que não existe no texto da Constituição brasileira
de 1988 um dispositivo específico que o preveja expressamente. Sua formulação jurídica decorre da
interpretação extensiva e sistemática das normas constitucionais que disciplinam a organização do
Poder Judiciário, estruturando-o em órgãos de primeira e segunda instância (grau de jurisdição). O
direito de recorrer é reflexo do status normativo conferido ao princípio do duplo grau de jurisdição.
Recorrer constitui a possibilidade de revisão, reexame, reapreciação dos fundamentos de fato e de
direito utilizados pelo julgador para proferir a decisão judicial recorrida. Importante esclarecer que esse
direito poderá ser exercido em casos de sentenças terminativas; sentenças definitivas; decisões
interlocutórias; acórdãos; decisões monocráticas; despachos de mero expediente. É controversa entre
os estudiosos a recorribilidade dos despachos de mero expediente. Garantir a implementação do
princípio do duplo grau de jurisdição constitui um meio de assegurar a legitimidade de amplo debate no
espaço processual destinado à exauriência argumentativa. Oportunizar o exercício do direito
fundamental de recorrer, mediante a alegação de error in procedendo e error in judicando,
materializa a oportunidade de corrigir eventuais injustiças processuais mediante a possibilidade de
invalidação, reforma, esclarecimento ou integração do conteúdo da decisão recorrida. Dessa forma,
garante-se uma análise mais apurada racionalmente dos fundamentos decisórios, visando avaliar sua
coerência e adequação aos fatos alegados e provados em juízo.
O error in procedendo decorre da inobservância de uma questão formal, procedimental, enquanto
o error in judicando deriva de uma falha na análise de questões materiais, caracterizando um erro
de julgamento.
DIGNIDADE HUMANA NO DIREITO PROCESSUAL
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Expressamente prevista no artigo 1º, inciso III, da Constituição brasileira de 1988, a dignidade da
pessoa humana é considerada um dos fundamentos da CF. A natureza fundamental decorre de seu
conteúdo aberto, utilizado como referencial teórico à compreensão sistemática do direito que prioriza a
proteção jurídica das pessoas na sua maior amplitude possível, seja no aspecto individual ou coletivo.
Sob a ótica processual, a dignidade humana viabiliza a compreensão do processo como espaço de
ampla discursividade de pretensões que objetivam a proteção da pessoa humana, não especificamente
do patrimônio. Pensar a dignidade humana sob o espectro processual é reconhecer que o objetivo das
partes deve ser a proteção integral da pessoa humana, ressaltando-se que os efeitos jurídicos dos
provimentos jurisdicionais não podem atentar contra a integridade física, moral, psicológica das pessoas.
 
O processo não pode ser visto como instrumento de coisificação ou desumanização dos seus atores.
Qualquer decisão judicial deve ter como propósito reconhecer a proteção jurídica da pessoa humana na
sua integralidade. É com fundamento nessa visão principiológica que o legislador brasileiro delimitou os
parâmetros regentes da procedimentalidade jurídica de análise do mérito da pretensão.
 
O processo não pode ser visto, portanto, como uma oportunidade de violação de direitos e coisificação
das pessoas humanas. Pelo contrário, no âmbito processual deve-se buscar procedimentalizar meios
hábeis que garantam às pessoas condições que legitimam o exercício dos direitos fundamentais
expressamente previstos no plano constituinte.
 
O processo de conhecimento tem como finalidade principal garantir o reconhecimento ou o acertamento
dos direitos pretendidos pelo autor da ação, motivo esse que justifica a existência das fases postulatória,
instrutória e decisória como referenciais que caracterizam o procedimento comum. Sob a ótica do
princípio da dignidade humana, consideram-se ilícitas as provas obtidas por meio de coação e tortura,
haja vista que tais meios configuram violação de direitos fundamentais e, consequentemente, a ofensa
do princípio constitucional em tela. O patrimônio imaterial deve ser preservado de qualquer ato ou
conduta arbitrariamente praticado contra a integridade humana das partes envolvidas diretamente no
conflito de interesses levado ao Judiciário.
TORTURA
"III- ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;" — artigo 5º da
Constituição Federal.
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REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS
Agora, vamos examinar o objeto das ações constitucionais, vistas como espaços hábeis a assegurar o
exercício e a implementação dos direitos fundamentais previstos no plano constituinte e instituinte:
1. MANDADO DE SEGURANÇA
Trata-se de ação constitucional expressamente prevista no artigo 5°, inciso LXIX do texto da
Constituição brasileira de 1988, que garante a proteção de "direito líquido e certo não amparado por
habeas corpus e habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público". O objetivo da
respectiva ação constitucional é assegurar proteção jurídica às pessoas físicas e jurídicas, quando
violadas em seus direitos fundamentais líquidos e certos previstos constitucionalmente. Sempre que
uma autoridade pública ou um agente que exerce atividades de natureza pública praticar ato contrário a
um direito líquido e certo poderá ser demandado via mandado de segurança. Tal ação possui rito próprio
(especial) previsto na Lei 12.016, de 07 de agosto de 2009. Exige-se que a prova da violação do direito
líquido e certo seja documental e pré-constituída, haja vista que é inadmissível a dilação probatória. A
concessão de liminares inaudita altera partes é uma possibilidade real no âmbito do mandado de
segurança, desde que o demandante alegue e prove o fumus boni iuris e o periculum in mora, mediante
a demonstração de risco de dano iminente quanto à violação do direito líquido e certo ora alegado em
juízo.
2. HABEAS CORPUS
O artigo 5°, inciso LXVIII do texto da Constituição de 1988, prevê que o habeas corpus será concedido
sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Trata-se de ação constitucional que objetiva proteger
processualmente o direito fundamental de liberdade de ir e vir quando violado mediante a prática de ato
ilícito. É considerada uma das ações constitucionais mais antigas na história da humanidade cujo
objetivo central é proteger o direito fundamental de liberdade de ir e vir contra qualquer ato ilícito que
venha a desencadear, por exemplo, alguma prisão abusiva ou ilícita. Sempre que o Poder Judiciário ou
um delegado de polícia determinar uma prisão em flagrante, qualquer prisão provisória (preventiva e
temporária) ou sentença penal condenatória que priva ilicitamente a liberdade do condenado, o cidadão

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