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ANÁLISE DE CONTEÚDO ESTOMACAL DE PEIXES DOS GÊNEROS BRYCONOPS E ANCISTRUS COLETADOS NA NASCENTE DO RIO SUCURI E EM UM TRECHO DO RIO FORMOSO, BONITO, MATO GROSSO DO SUL Mariana Rodrigues Lacerda e Paula 1, Luciana Paes de Andrade 2 1 Bolsista PIC/UNIDERP - marianarlpaula@gmail.com; 2 Orientadora, Ciências Biológicas – UNIDERP – andradelp@uol.com.br RESUMO O presente estudo baseia – se na análise do conteúdo estomacal avaliando a dieta, as táticas alimentares empregadas e a maneira como duas espécies de peixes dos gêneros, Bryconops e Ancistrus, ocupam seus respectivos microambientes, em um trecho do Rio Formoso e na nascente do Rio Sucuri em Bonito, Mato Grosso do Sul. Foram realizadas coletas mensais entre os meses de agosto de 2007 a outubro de 2007, As amostragens foram feitas através de técnicas tradicionais de coleta (peneira, redes, puçá). As espécies tiveram seu conteúdo estomacal analisado para determinação da dieta e foram agrupadas em guildas tróficas. A importância relativa dos componentes da dieta foi medida pela freqüência de ocorrência e pelo índice alimentar. Foi determinado ainda índice de repleção estomacal. Verificou–se que o gênero Bryconops consome insetos terrestres, sementes e larvas de insetos aquáticos com tendência insetívora, e o gênero Ancistrus consome algas perifítons e sedimentos, com tendência em algivoria. Palavras-chave: dieta; Ictiologia, Serra da Bodoquena. INTRODUÇÃO Os peixes apresentam um importante papel na estrutura das tramas alimentares de riachos, podendo exercer grande influência na comunidade biótica e provocar efeitos diretos ou indiretos sobre suas principais presas. Numerosos trabalhos têm demonstrado que os peixes que coexistem em riachos sobrepõem extensivamente às presas que consomem, repartindo muitos recursos do seu ambiente com várias outras espécies (COSTA, 1987; LOWE-McCONNELL, 1987; TEIXEIRA, 1989; SABINO & CASTRO, 1990; UIEDA et al., 1997). A alimentação é um dos fatores essenciais na vida de todos os seres vivos. O desenvolvimento de uma população depende da disponibilidade de alimento, do encontro entre presa e predador, bem como uma adequada transferência de energia entre os níveis tróficos (KREBS, 1998). O conhecimento sobre a dieta das espécies que compõem o ambiente é de fundamental importância para a compreensão das inter-relações entre os organismos no que se refere à exploração dos recursos (AMANCIO, 2000). Os estudos dos hábitos alimentares são importantes para o entendimento da amplitude de uso de recursos ao longo de distribuição temporal e espacial de qualquer espécie (KREBS, 1998) e da dinâmica das populações e comunidades (CUNNIGHAM, 1989). Tais estudos colaboram no desenvolvimento de estratégias para manejo sustentável dos ecossistemas (HANS e DELARIVA, 2003). Dessa forma, estudos sobre os diversos aspectos biológicos e ecológicos poderiam suprir esta lacuna, auxiliando no conhecimento desta espécie, que ocorre em locais com crescente atividade turística como na região de Bonito, na bacia do Alto Paraguai (PCBAP, 1997; WILLINK et al., 2000). Dois gêneros de peixes que ocorrem com freqüência nos rios da região da Serra da Bodoquena são: Bryconops e Ancistrus. O primeiro pertence à Família Characidae e Subfamília Tetragonopterinae. Esta subfamília caracteriza-se por ser a que reúne o maior número de gêneros e espécies da família Characidae. No geral, são animais de pequeno porte, que possuem dentes geralmente com cúspides aguçadas, uma única série de dentes no dentário e duas séries no pré- maxilar, possuem hábito de vida pelágico. Já o gênero Ancistrus, pertencente à Família Loricariidae e Subfamília Ancistrinae caracteriza-se pela posição inferior da boca, bexiga natatória reduzida, pelo hábito de vida bentônico, permanecendo junto ao fundo, raspando algas ou caçando pequenos invertebrados (BRITSKI et al., 1999). O objetivo deste trabalho foi o de identificar os componentes da dieta de Bryconops e Ancistrus, coletados na região da Serra da Bodoquena. Como as espécies exploram diferentes locais nos rios da região, Ancistrus é um animal bentônico e Bryconops pelágico, procuramos relacionar os itens da dieta com tais meso-hábitats. MATERIAL E MÉTODOS A Fazenda São Geraldo fica a 18 km de Bonito, Mato Grosso do Sul, possui 8.405ha. e uma RPPN de 642ha. Nesta fazenda está localizada a nascente do rio Sucuri, afluente da margem direita do rio Formoso. O rio Sucuri é um dos maiores potenciais turísticos da região de Bonito. A fazenda se estende no entorno do Parque Nacional Serra da Bodoquena; suas atividades influenciam a grande depressão varzeana, chamada de "Filtro do Rio Formoso", contribuindo para a conservação da qualidade da água desse rio (www.riosucuri.com.br/riosucuri.htm). A Bacia Hidrográfica do Rio Formoso constitui um sistema hidrológico único com rochas calcárias incluindo rios subterrâneos, florestas primárias, pasto nativo e cerrado. O Rio Formoso tem aproximadamente 100,63 km de extensão, é o principal curso d’água do município de Bonito (www.riosucuri.com.br/riosucuri.htm). Entre o período de agosto de 2007 a outubro de 2007 foram realizadas coletas mensais em um trecho do rio Formoso e na nascente do rio Sucuri. No primeiro trecho citado foram coletados exemplares do gênero Ancistrus, e no segundo trecho exemplares do gênero Bryconops, utilizando redes, peneira, covo e puçá. Os peixes foram preservados em formalina 10%, etiquetados e, após a fixação, transferidos para álcool 70%. De cada exemplar foram tomados dados de comprimento total (em centímetros) do peixe e do estômago e peso total (em gramas) do conteúdo estomacal e do peixe. Os tratos diretórios foram retirados e fixados (álcool 70%), para posterior análise. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os indivíduos coletados do gênero Bryconops apresentaram 100% de repleção do conteúdo estomacal. Estes mostraram preferência insetívora, porém foram encontradas sementes alóctones, sendo identificados alguns insetos aquáticos e terrestres das Ordens: Coleoptera aquático, Diptera, Hymenoptera, Hemíptera aquático, Orthoptera e Homóptera. O comportamento do Bryconops pode ser comparado com o gênero Astyanax da mesma família. De acordo com CASATTI (2002) estes peixes nadam a meia água e a noite permanecem estacionários nos poços mais profundos do rio; porém em algumas ocasiões no período noturno adultos podem capturar insetos que submergiam na água, vindos da vegetação riparia, comportamento também observado em Bryconops, uma vez que estes coletados em período noturno estavam com estômago cheio e também estavam estacionários ficando somente ativos com atrativos alimentares. Já em um estudo realizado por CASSEMIRO (2002) peixes do gênero Astyanax tiveram dieta principalmente herbívora, diferenciando-se de Bryconops que apresentou maior parte da sua dieta alimentar insetívora. Outra espécie (Leporinus lacustris) da mesma família, também apresentou elevados itens alimentares de origem vegetal. (MARÇAL-SIMABUKU e PERET, 2002). Em um estudo realizado por BENNEMANS (2005) as espécies Astianax fasciatus e A. altiparanae observou-se a ocorrência de insetos do mesmo gênero (coleóptera, hemíptera, díptera, hymenoptera) também encontrado em Bryconops. O alto grau de repleção estomacal e os tipos de itens encontrados no trato digestório devem- se pelo fato do horário de alimentação ou pelo local onde os exemplares de Bryconops estavam habitando. Com base nessas comparações Bryconops, apresentou semelhanças e diferenças entre outros gêneros referentes ao hábito alimentar podendo correlacionar as grandes diferenças de meso- hábitats de onde essas espécies são encontradas. No estudo realizado em Ancistrus constatou-se que sua alimentação está baseada exclusivamente em perifíton. Utilizam a tática de pastejo na qual os peixes ficam apoiados sobre rochas, troncos e vegetais submersos, de onde raspam a matriz perifitica, por isso apresentou alto grau de repleção estomacal emtodos os exemplares coletados. Nos estômagos analisados, algas apresentaram grande freqüência de ocorrência. Os mesmos resultados foram encontrados em três espécies de cascudo em um estudo realizados por CASATTI (2002). Nesse mesmo estudo a espécie Hypostomus ancistroides começa a atividade de forrageio com início da noite, principalmente juntos as margens, sobre galhos e troncos submersos, onde os indivíduos ficam aderidos pela boca enquanto raspam, apresentando as nadadeiras peitorais distendidas, o que provavelmente, auxilia a sua estabilidade. Provavelmente, os exemplares que foram coletados no presente estudo têm pelo menos hábito alimentar diurno, pois como foi dito, todos os exemplares apresentaram estomago cheio. Os resultados mostraram uma forte preferência de Ancistrus sp. por substratos de pedra, bem acima do esperado pelo acaso. Preferem substratos rochosos, mas ocorrem em substratos mistos, que contenham pedras além de areia ou folhiço. Locais com apenas areia no fundo parecem ser evitados (INOCENCIO, FROEHLICH, SILVA e CAVALLARO, 2002). CONCLUSÕES As dietas de Ancistrus sp. e Bryconops sp. são baseadas em itens alimentares distintos, já que ocupam diferentes meso-hábitats no ambiente aquático. Ancistrus sp. alimentam-se exclusivamente de perifíton (alimento de origem autóctone). Bryconops sp. têm dieta variada, com predominância de artrópodes, mas também se alimentam de itens de origem alóctone (sementes). AGRADECIMENTOS Agradecemos à UNIDERP pela bolsa de Iniciação Científica concedida e à FUNDECT pelo financiamento do Projeto Peixes de Bonito. Ao Prof. Dr. Silvio Fávero pelo auxílio na identificação dos insetos e aos acadêmicos Thiago Taveira, Thiago Kohagura e Larissa Olmedo pelo auxílio nas coletas. Ao proprietário e funcionários da Fazenda São Geraldo, oferecendo toda a infra-estrutura e apoio necessários. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMANCIO, J. M. Hábitos alimentares dos crustáceos decápodos braquiúros da plataforma interna de São Sebastião, SP. USP, 2000, 104p. Dissertação (Mestrado). Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico, 2000. BENNEMANN, S.T.; CASATTI, L. e OLIVEIRA, D.C.Alimentação de peixes: proposta para análise de itens registrados em conteúdos gástricos. Biota Neotropica. V.6, n.2, 2006. BENNEMANN, S.T., GEALH, A. M., ORSI, M. L. SOUZA, L.M. Ocorrência e ecologia trófica de quatro espécies de Astyanax (Characidae) em diferentes rios da bacia do rio Tibagi, Paraná, Brasil. Iheringia. V.95, n.3, p. 247-254, 2005. CASATTI, L. Alimentação dos peixes em um riacho do parque estadual Morro do Diabo, Bacia do Alto Paraná, sudeste do Brasil. São José do Rio Preto, SP. Biota Neotropica. V.2, n.2 ,2002. CASSEMIRO, F. A. S., HAHN N. S. e FUGI, R. Avaliação da dieta de Astyanax altiparanae Garutti e Britski, 2000 (Osteichthyes, Tetragonopterinae) antes e após a formação do reservatório de Salto Caxias, Estado do Paraná, Brasil. Acta Scientiarum. v. 24, n. 2, p. 419-425, 2002. COSTA, W.J.E.M. Feeding habits of a fish community in a tropical coastal stream, rio Mato Grosso, Brazil. Studies of Neotropical Fauna & Environmental. V.22, p.145-153, 1987. CUNNINGHAM, P.T.M. Observações sobre o espectro alimentar de Ctenosciaena gracilirrhus (Metzellar), Scianidae. Revista Brasileira de Biologia. V.49, n.2, p.335-339, 1989. INOCÊNCIO, L. S., FROEHLICH, O., SILVA, D. e CAVALLARO, M. R. Distribuição espacial de Ancistrus sp. (Siluriforme, Loricaridae) quanto a tipo de substrato em porções na Serra da Bodoquena – MS. ; Resumos do XXIV Congresso Brasileiro de Zoologia; Itajaí, SC; BRASIL, 2002 KREBS, C. J. Ecological Methodology. New York, Harper & Row Plublishers. 1989. LOWE-McCONNELL, R. Ecological studies in tropical fish communities. Cambridge: Cambridge University Press. 382 p. 1987. PCBAP. Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai (Pantanal). Resumo Executivo. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Programa Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Brasília. 49 p. 1997. SABINO, J. & CASTRO, R.M.C. Alimentação, período de atividade e distribuição espacial dos peixes de um riacho da Floresta Atlântica (Sudeste do Brasil). Revista Brasileira de Biologia. V.50, p. 23- 36, 1990. SIMABUKU, M. A. M. e PERET, A.C. Alimentação de peixes (Osteichthyes, Characiformes) em duas lagoas de uma planície de inundação brasileira da Bacia do rio Paraná. Revista Interciência. V.27, n.6, 2002 UIEDA, V. Métodos Para Cuantificar contenidos estomacales en peces. UNIVERSIDAD DE LOS LLANOS. 37p. 1994.
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