Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
C A P Í T U L O Até agora assumimos a existência de apenas dois ativos financeiros — moeda e títulos — e somente uma taxa de juros — a taxa sobre títulos — determinada pela política monetária. Como se sabe, o sistema financeiro é bem mais complexo que isso. São diversas as taxas de juros e as instituições financeiras. O sistema financeiro desempenha um papel importante na economia; nos Estados Unidos, esse sistema como um todo responde por 7% do PIB, um número considerável. Antes da crise de 2008, a importância do sistema financeiro era minimizada em macroeconomia. Era comum admitir-se que todas as taxas de juros oscilavam de acordo com a taxa determinada pela política monetária, de modo que se podia enfocar apenas a taxa determinada pela política monetária e assumir que outras taxas oscilariam com ela. A crise deixou dolorosamente claro que esta suposição era demasiado simplista e que o sistema financeiro pode ser sujeito a crises com grandes implicações macroeconômicas. O objetivo deste capítulo é analisar mais de perto o papel do sistema financeiro e suas implicações macroeconômicas e, com isso, dar conta do que aconteceu no final dos anos 2000. A Seção 6.1 introduz a distinção entre as taxas de juros nominal e real. A Seção 6.2 apresenta a noção de risco e como ele afeta as taxas de juros cobradas de diferentes devedores. A Seção 6.3 analisa o papel dos intermediários financeiros. A Seção 6.4 amplia o modelo IS-LM para integrar o que acabamos de aprender. A Seção 6.5 aplica este modelo ampliado para descrever a recente crise financeira e suas implicações macroeconômicas. 6.1 Taxas de juros nominal e real Em janeiro de 1980, a taxa do T-bill com vencimento de um ano nos Estados Unidos — ou seja, a taxa de juros sobre títulos do governo com vencimento de um ano — era de 10,9%. Em janeiro de 2006, essa mesma taxa era de apenas 4,2%, e, portanto, tomar empréstimo era claramente mais barato em 2006 do que em 1981. Era mesmo? Em janeiro de 1980 a inflação esperada girava em torno de 9,5%. Em janeiro de 2006 a inflação esperada era de cerca de 2,5%. Isso parece relevante. A taxa de juros nos diz quantos dólares teremos de pagar no futuro em troca de ter mais um dólar no presente. Mas não consumimos dólares. Consumimos bens. Quando tomamos um empréstimo, o que realmente queremos saber é de quantos bens teremos de abrir mão no futuro em troca dos bens que obtemos no presente. Da mesma forma, quando concedemos um empréstimo, queremos saber quantos bens Mercados financeiros II: o modelo IS-LM ampliado 6 Não se iluda, porém� Este capítulo não substitui um livro de finanças, mas apresentará o suficiente para se saber por que a compreensão do sistema financeiro é fundamental para a macroeconomia� No momento da produção deste livro, a taxa do T-bill com ven- cimento de um ano era ainda menor e estava próxima de zero� Para os nossos propósi- tos, comparar 1981 com 2006 é a melhor maneira de transmitir essa noção� Book_Blanchard 1.indb 119 24/10/17 17:17 120 Macroeconomia — e não dólares — teremos no futuro pelos bens de que abrimos mão no presente. O nível de inflação torna essa distinção importante. Qual é o sentido de receber pagamentos de juros altos no futuro, se a inflação até lá for tão elevada que, com o que receberemos depois, não poderemos adquirir mais bens? É aqui que entra a distinção entre taxas de juros nominais e taxas de juros reais. ®® Taxas de juros expressas em dólares (ou, de modo mais geral, em unidades da moeda nacional) são denominadas taxas de juros nominais. As taxas de juros impressas nas páginas de finanças dos jornais são normalmente as nominais. Por exemplo, quando dizemos que a taxa de um T-bill com vencimento de um ano é de 4,2%, queremos dizer que, para cada dólar que o governo toma emprestado ao emitir esses títulos, ele promete pagar US$ 1,042 daqui a um ano. De modo mais geral, se a taxa de juros nominal para o ano t for it, tomar emprestado US$ 1 neste ano exigirá que se pague 1 + it dólares no próximo ano. (Usaremos indis- tintamente “neste ano” para “hoje” e “no próximo ano” para “daqui a um ano”.) ®® Taxas de juros expressas em termos de uma cesta de bens são chamadas de taxas de juros reais. Se denotarmos a taxa de juros real do ano t por rt, então, por defi- nição, tomar emprestado o equivalente a uma cesta de bens neste ano exige que se pague o equivalente a 1 + rt cestas de bens no próximo ano. Qual é a relação entre as taxas de juros nominal e real? Como passamos de taxas de juros nominais — observáveis — para taxas de juros reais — normalmente não observáveis? A resposta intuitiva é que devemos ajustar a taxa de juros nominal levando-se em conta a inflação esperada. Vamos seguir a derivação passo a passo. Suponhamos que exista apenas um bem na economia: o pão (vamos acrescentar geleia e outros bens mais adiante). Denote a taxa de juros nominal de um ano, em termos de dólares, por it. Se tomarmos emprestado US$ 1 neste ano, teremos de pagar 1 + it dólares no próximo ano. Mas não estamos interessados em dólares. O que realmente queremos saber é: se tomarmos emprestado o suficiente para comer mais 500 g de pão neste ano, quanto teremos de pagar, em termos de gramas de pão, no próximo ano? A Figura 6.1 nos ajuda a derivar a resposta. A parte superior repete a definição da taxa de juros real de um ano. A parte inferior mostra como podemos derivar a taxa de juros real de um ano a partir das informações sobre a taxa de juros nominal de um ano e sobre o preço do pão. ®® Comecemos com a seta apontando para baixo no canto inferior esquerdo da Figura 6.1. Suponhamos que queremos comer mais 500 g de pão neste ano. Se o preço de 500 g de pão neste ano for Pt dólares, para comer mais 500 g de pão deveremos tomar emprestados Pt dólares. ®® Se it for a taxa de juros nominal de um ano — a taxa de juros em dólares — e se tomarmos emprestados Pt dólares, teremos de pagar (1 + it)Pt dólares no próximo ano. Isso é representado pela seta da esquerda para a direita na parte inferior da Figura 6.1. ®® O que nos interessa, no entanto, não são os dólares, mas os gramas de pão. Assim, o último passo envolve a reconversão de dólares a gramas de pão no próximo ano. Vamos assumir P et + 1 como o preço do pão que esperamos pagar no próximo ano. (O sobrescrito e indica que se trata de uma expectativa; ainda não sabemos qual será o preço do pão no próximo ano.) O montante que se espera pagar no próximo ano, em termos de gramas de pão, é, portanto, igual a (1 + it)Pt (a quantidade de dólares que teremos de pagar no próximo ano) dividido por P et + 1 (o preço do pão em termos de dólares esperados para o próximo ano), então (1 + it)Pt /P e t + 1. Isso é representado pela seta apontando para cima na parte inferior direita da Figura 6.1. Taxa de juros nominal é a taxa de juros em dólares� Taxa de juros real é a taxa de juros em termos de uma cesta de bens� Se tivermos de pagar US$ 10 no próximo ano e esperamos que o preço do pão no próximo ano seja US$ 2 por unidade, devemos ter de pagar o equi- valente a 10/2 = 5 pães no pró- ximo ano� É por isso que divi- dimos o montante de dólares (1 + it)Pt pelo preço esperado do pão no próximo ano, P et + 1� Book_Blanchard 1.indb 120 24/10/17 17:17 Capítulo 6 Mercados financeiros II: o modelo IS-LM ampliado 121 Juntando o que se vê nas partes superior e inferior da Figura 6.1, tem-se que a taxa de juros real de um ano, rt, é dada por: 1 + rt = 11 + it2 Pt Pt + 1 e (6.1) Essa relação parece intimidante. Duas manipulações simples a deixam bem mais amigável: ®® Denote a inflação esperada entre t e t + 1 por et + 1. Considerando-se que há ape- nas um bem — o pão —, a taxa esperada de inflação é igual à variação esperada no preço do pão entre este e o próximo ano dividida pelo preço do pão neste ano: pt + 1 e = 1Pt + 1e - Pt2 Pt (6.2) Usando a Equação 6.2, reescreva Pt /P e t + 1 na Equação 6.1 como 1 / (1 + e t+ 1). Substitua na Equação 6.1 para obter 11 + rt2 = 1 + it 1 + pt + 1e (6.3) Um mais a taxa de juros real é igual à razão de um mais a taxa de juros nominal, dividida por um mais a taxa esperada de inflação. ®® A Equação 6.3 nos dá a relação exata da taxa de juros real com a taxa de juros nominal e a inflação esperada. Contudo, quando a taxa de juros nominal e a inflação esperada não são muito elevadas — digamos, menos de 20% ao ano — uma aproximação a essa equação é dada por uma relação mais simples: rt ≈ it – et + 1 (6.4) Lembre-se da Equação 6.4, segundo a qual a taxa de juros real é (aproximada- mente) igual à taxa de juros nominal menos a inflação esperada. (No decorrer do livro trataremos frequentemente a relação na Equação 6.4 como uma igualdade. Tenha em mente, no entanto, que se trata apenas de uma aproximação.) Observemos algumas das implicações da Equação 6.4: ®® Quando a inflação esperada é igual a zero, as taxas de juros nominal e real são iguais. t 1 1 Derivação da taxa real 1 bem bens Bens (1 1 it) Pt Definição da taxa real Neste ano 1 bem (1 1 rt) bens Bens No próximo ano (1 1 rt) 5 (1 1 it) Pt Pe t 1 1 P e Pt dólares (1 1 it) Pt dólares Figura 6.1 Definição e derivação da taxa de juros real. Adicione 1 a ambos os lados da Equação 6�2: 1 + pt + 1e = 1 + 1Pt + 1e - Pt2 Pt Reorganize: 1 + pt + 1e = Pt + 1 e Pt Tome o inverso em ambos os lados: 1 1 + pt + 1e = Pt Pt + 1 e Substitua na Equação 6�1 para obter a Equação 6�3� Veja a Proposição 6 do Apêndice 2 no final do livro� Suponhamos i = 10% e e = 5%� A relação exata na Equação 6�3 dá rt = 4,8%� A aproximação dada pela Equação 6�4 resulta em 5% — próxima o suficiente� A aproximação pode ser ruim, no entanto, quando i e e são altos� Se i = 100% e e = 80%, a relação exata dá r = 11%; mas a aproximação resulta em r = 20% — uma grande diferença� Book_Blanchard 1.indb 121 24/10/17 17:17 122 Macroeconomia ®® Visto que a inflação esperada é normalmente positiva, a taxa de juros real é normalmente mais baixa do que a taxa de juros nominal. ®® Para uma dada taxa de juros nominal, quanto maior a taxa esperada de inflação, menor a taxa de juros real. O caso em que a inflação esperada é igual à taxa de juros nominal merece uma análise mais aprofundada. Suponhamos que a taxa de juros nominal e a inflação esperada sejam, ambas, iguais a 10%, e você é o devedor. Para cada dólar que tomar emprestado neste ano, terá de pagar US$ 1,10 no próximo ano. Isso parece caro, mas os dólares vão valer 10% menos em termos de pão no próximo ano. Assim, se você tomar emprestado o equivalente a 500 g de pão, terá de pagar o equivalente a 500 g de pão no próximo ano. O custo real do empréstimo — a taxa de juros real — é igual a zero. Agora, suponhamos que você seja o credor: para cada dólar que emprestar neste ano, receberá US$ 1,10 no próximo ano. Isso parece atraente, mas os dólares no próximo ano vão valer 10% a menos em termos de pão. Se você emprestar o equivalente a 500 g de pão neste ano, receberá o equivalente a 500 g de pão no próximo ano: apesar da taxa de juros nominal de 10%, a taxa de juros real é igual a zero. Até aqui assumimos que há apenas um bem: o pão. Mas o que fizemos pode ser facilmente generalizado para muitos bens. Tudo o que precisamos fazer é substituir o nível de preço — o preço de uma cesta de bens — pelo preço do pão na Equação 6.1 ou 6.3. Se usarmos o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) para medir o nível de preços, a taxa de juros real nos dirá de quanto consumo devemos abrir mão no próximo ano para consumir mais neste ano. Taxas de juros nominais e reais nos Estados Unidos desde 1978 Voltemos à questão no início desta seção. Podemos agora reformulá-la da seguinte forma: a taxa de juros real em 2006 foi menor do que em 1981? Mais genericamente, o que aconteceu com a taxa de juros real nos Estados Unidos desde o início dos anos 1980? A resposta é mostrada na Figura 6.2, que representa as taxas de juros nominais e reais desde 1978. Para cada ano, a taxa de juros nominal é a taxa de um ano do T-bill no início do ano. Para construir a taxa de juros real precisamos de um indica- dor da inflação esperada — mais precisamente, a taxa de inflação esperada a partir do início de cada ano. Utilizamos, para cada ano, a previsão de inflação usando o deflator do PIB para esse ano publicado no final do ano anterior pela OCDE. Por exemplo, a previsão de inflação considerada para construir a taxa de juros real de 2006 é a previsão de inflação de 2006 publicada pela OCDE em dezembro de 2005, ou seja, 2,5%. Observe que a taxa de juros real (i – e) é baseada na inflação esperada. Se a inflação real for diferente da esperada, a taxa de juros real realizada (i – ) será diferente da taxa de juros real. Por essa razão, a taxa de juros real é às vezes deno- minada taxa de juros real ex-ante (ex-ante significa “antes do fato”; neste caso, antes que a inflação seja conhecida). E a taxa de juros real realizada é denominada taxa de juros real ex-post (ex-post significa “depois do fato”; neste caso, depois que a inflação seja conhecida). A Figura 6.2 mostra a importância do ajuste para a inflação. Embora a taxa nominal tenha sido muito menor em 2006 do que em 1981, a taxa de juros real foi mais elevada nesse período. A taxa real foi de cerca de 1,7% em 2006 e 1,4% em 1981. Dito de outra forma, apesar do acentuado declínio nas taxas de juros nominais, tomar crédito custou efetivamente mais caro em 2006 do que em 1981. Isso se deve ao fato de que a inflação (e, com ela, a inflação esperada) tem baixado regularmente desde o início dos anos 1980. Book_Blanchard 1.indb 122 24/10/17 17:17 Capítulo 6 Mercados financeiros II: o modelo IS-LM ampliado 123 22 0 2 4 6 8 10 12 14 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04 06 08 10 12 14 Taxa nominal Taxa real P er ce nt ua l Figura 6.2 Taxas de juros nominal e real de T-bill com vencimento em um ano nos Estados Unidos desde 1978. A taxa nominal baixou consideravelmente desde o início da década de 1980, mas, visto que a inflação esperada também caiu, a taxa real diminuiu muito menos do que a nominal. Fonte: a taxa de juros nominal é a letra do Tesouro de 1 ano em dezembro do ano anterior: Series TB1YR, Federal Reserve Economic Data (FRED). Disponível em: <http://research.stlouisfed.org/fred2/>. Acesso em 30 jun. 2017. (Series TB6MS em dezembro de 2001, 2002, 2003 e 2004.) A inflação esperada é a previsão de 12 meses, usando-se o deflator do PIB, do Panorama Econômico da OCDE de dezembro do ano anterior. Taxas de juros nominais e reais: o limite inferior zero e a deflação Qual taxa de juros deve entrar na relação IS? Certamente, ao pensar em consumo ou decisões de investimento, o que mais importa para as pessoas ou empresas é a taxa de juros real, aquela em termos de bens. Isso tem uma implicação direta para a política monetária. Embora o Banco Central escolha a taxa nominal (como vimos no Capítulo 3), ele se preocupa com a taxa de juros real porque é a que afeta decisões de gastos. Para determinar a taxa de juros real de sua escolha, o Banco Central deve levar em conta a inflação esperada. Se, por exemplo, ele quer colocar a taxa de juros real no nível r, deverá escolher a taxa nominal i de modo que, dada a inflação esperada, e, a taxa de juros real, r = i – e, esteja no nível desejado. Por exemplo, se quiser que a taxa de juros real seja de 4%, e a inflação esperada for 2%, a taxa de juros nominal, i, será fixada em 6%. Assim, podemos pensar que o Banco Central escolhe a taxa de juros real. Essa conclusão traz, contudo, uma importante advertência que discutimos no Capítulo 4, no contexto da armadilha da liquidez. Como vimos lá, o limite inferior zero implica que a taxa de juros nominal não pode ser negativa; caso contrário, as pessoas não vão manter títulos. Isso implica que a taxa de juros real não pode ser inferior à inflação multiplicadapor menos um. Assim, se a inflação esperada for de 2%, por exemplo, a taxa real mais baixa poderá ser 0% – 2% = –2%. Enquanto a inflação esperada for positiva, poderemos ter taxas de juros reais negativas. Mas, se a inflação esperada se tornar negativa, se as pessoas anteciparem a deflação, o limite inferior da taxa real será positivo e poderá se revelar elevado. Se, por exemplo, a deflação esperada for de 2%, a taxa real não poderá ser inferior a 2%. Isso pode não ser baixo o suficiente para aumentar significativamente a demanda de bens, e a economia poderá permanecer em recessão. Como veremos na Seção 6.5, o limite inferior zero tornou-se um problema sério durante a crise de 2008. Book_Blanchard 1.indb 123 24/10/17 17:17 124 Macroeconomia 6.2 Prêmio de risco e risco Até aqui assumimos que há apenas um tipo de título. No entanto, existem diversos tipos. Eles diferem em termos de vencimento, isto é, o período no qual prometem efetuar pagamentos. Por exemplo, os títulos públicos com vencimento de um ano prometem um pagamento por ano. Os de dez anos prometem um fluxo de pagamentos em dez anos. Também diferem quanto ao risco. Alguns títulos são quase desprovidos de risco; a probabilidade de que o devedor não pague é despre- zível. Outros títulos são arriscados, com uma probabilidade não negligenciável de que o devedor não possa ou não queira quitar. Neste capítulo, enfocaremos o risco deixando de lado a questão do vencimento. Nenhum de nós pode pedir empréstimo à taxa de fundos federais definida pelo Fed. Nem à mesma taxa que o governo dos EUA. Há uma boa razão para isso: quem quer que seja, nosso credor sabe que há uma chance de não sermos capazes de quitar. O mesmo se aplica às empresas que emitem títulos. Algumas empresas apresentam pouco risco e outras mais. Para compensar o risco, os portadores de títulos exigem um prêmio de risco. O que determina esse prêmio de risco? ®® O primeiro fator é a probabilidade de inadimplência. Quanto maior ela for, maior será a taxa de juros que os investidores vão pedir. Mais formalmente, seja i a taxa nominal sobre um título isento de risco e i + x a taxa nominal sobre um título de risco, com probabilidade, p, de inadimplência. Chamamos x o prêmio de risco. Em seguida, para obter o mesmo retorno esperado nos títulos isentos de risco e nos que apresentam risco, a relação a seguir deve ser válida: (1 + i) = (1 – p)(1 + i + x) + (p)(0) O lado esquerdo dá o retorno sobre títulos isentos de risco; o lado direito, o retorno esperado sobre títulos de risco. Com probabilidade (1 – p) não há inadim- plência, e o título pagará (1 + i + x). Com probabilidade p há inadimplência, e o título não pagará nada. Uma reorganização resulta em: x = (1 + i)p/(1 – p) Assim, por exemplo, se a taxa de juros de um título isento de risco for de 4% e a probabilidade de inadimplência for de 2%, o prêmio de risco exigido para produzir a mesma taxa esperada de retorno sobre o título isento de risco é igual a 2,1%. ®® O segundo fator é o grau de aversão ao risco dos portadores de títulos. Mesmo que o retorno esperado do título de risco seja o mesmo que o de um título isento de risco, o risco em si os deixará relutantes em manter o título de risco. Assim, vão pedir um prêmio ainda mais alto para compensar o risco; o quanto a mais dependerá de seu grau de aversão ao risco. E, caso se tornem mais avessos ao risco, o prêmio de risco aumentará ainda que a probabilidade de inadimplência não tenha mudado. Para mostrar por que isso importa, a Figura 6.3 representa as taxas de juros de três tipos de título desde 2000. Primeiro, os títulos do governo dos Estados Unidos, que são considerados quase sem risco. Segundo e terceiro, títulos corporativos ava- liados respectivamente como seguros (AAA) e menos seguros (BBB) por agências de classificação de risco. Observe três coisas sobre a figura. Em primeiro lugar, a taxa dos títulos corporativos mais bem avaliados (AAA) é maior do que a dos títulos do governo dos EUA por um prêmio de cerca de, em média, 2%. O governo pode tomar empréstimos a taxas mais baixas do que as empresas. Em segundo lugar, a taxa dos títulos corporativos de classificação inferior (BBB) supera a dos títulos mais Retomaremos a discussão sobre o vencimento e a relação entre taxas de juros sobre títulos de diferentes vencimentos após apresentarmos um tratamento mais formal das expectativas no Capítulo 14� Para valores baixos de i e p uma boa aproximação para essa fór- mula é simplesmente x = p� As agências de classificação de risco usam sistemas diferen- tes� A escala usada aqui é a da Standard and Poor’s e varia de AAA (quase sem risco) e BBB a C (títulos com alta probabilidade de inadimplência)� Book_Blanchard 1.indb 124 24/10/17 17:17 Capítulo 6 Mercados financeiros II: o modelo IS-LM ampliado 125 bem avaliados por um prêmio muitas vezes superior a 5%. Terceiro, observemos o que aconteceu durante 2008 e 2009 à medida que a crise financeira se desenrolou. Embora a taxa sobre títulos do governo tenha baixado, refletindo a decisão do Fed de reduzir a taxa básica, a taxa de juros sobre títulos com menor rating subiu acentuadamente, atingindo 10% no pico da crise. Em outras palavras, apesar do fato de que o Fed baixava a taxa básica a zero, a taxa na qual as empresas de menor rating poderiam tomar empréstimos tornou-se muito maior, ficando extremamente pouco atraente para essas empresas investirem. Em termos do modelo IS-LM, isso demonstra por que temos de relaxar nossa suposição de que é a taxa básica que entra na relação IS. A taxa a que muitos devedores podem contrair empréstimos pode ser muito mais elevada do que a taxa básica. Resumindo: nas duas últimas seções, introduzimos os conceitos de taxas reais e nominais e o conceito de prêmio de risco. Na Seção 6.4, ampliaremos o modelo IS-LM para abranger ambos os conceitos. Antes disso, vamos nos voltar ao papel dos intermediários financeiros. 6.3 O papel dos intermediários financeiros Até aqui examinamos a questão das finanças diretas, isto é, o empréstimo tomado diretamente dos credores. Na realidade, boa parte da tomada e da concessão de empréstimos ocorre através dos intermediários financeiros, ou seja, instituições finan- ceiras que recebem fundos de alguns investidores e emprestam esses fundos a terceiros. Entre essas instituições estão os bancos, mas também, e cada vez mais, os “não bancos”, como corretores de hipoteca, fundos do mercado monetário, fundos hedge e similares. Os intermediários financeiros exercem uma função importante. Desenvolvem expertise sobre clientes específicos e podem adaptar os empréstimos às suas Por ter crescido à “sombra” dos bancos, a parte não bancária do sistema finan- ceiro é chamada de shadow banking� Mas este segmento cresceu e saiu das sombras� 0 2 4 6 8 10 12 Jan-00 Jan-02 Jan-04 Jan-06 Jan–08 Jan-10 Jan-12 Jan-14 AAA BBB Títulos do Tesouro dos EUA com vencimento em 10 anos P er ce nt ua l 9/11 Figura 6.3 Rendimentos de títulos corporativos AAA e BBB e do Tesouro dos EUA com vencimento em 10 anos, desde 2000. Em setembro de 2008, a crise financeira levou a um acentuado aumento das taxas às quais as empresas poderiam tomar empréstimo. Fonte: para os títulos corporativos AAA e BBB, Bank of America Merrill Lynch; para o rendimento de títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos, Federal Reserve Board. Book_Blanchard 1.indb 125 24/10/17 17:17 126 Macroeconomia necessidades específicas. Em condições normais, atuam sem problemas. Tomam e concedem empréstimos, cobrando uma taxa de juros ligeiramente mais alta que aquela à qual tomam empréstimo, para obter lucro. De vez em quando, no entanto, eles se veem em apuros, e foi isso o que aconteceu na recente crise. Para entender o por que, vamos primeiro nos concentrar nos bancos e começar, na Figura 6.4, com um balancete bastante simplificado (os argumentos também se aplicam aos não bancos, devemos voltar a eles maisadiante). Consideremos um banco que tenha ativos de 100, passivos de 80 e capital de 20. Você pode pensar que os donos do banco investiram diretamente 20 dos seus fundos próprios, em seguida tomaram emprestado 80 de outros investidores, e então compraram vários ativos de 100. Os passivos podem ser depósitos à vista, depósitos com juros a pagar, ou empréstimos de investidores e outros bancos. Os ativos podem ser reservas (moeda do Banco Central), empréstimos a consumidores, empréstimos a empresas, empréstimos a outros bancos, hipotecas, títulos do governo ou outros tipos de título. Ao apresentar um balancete no Capítulo 4, ignoramos o capital (nos concentra- mos na distinção entre reservas e outros ativos). Ignorar o capital não foi importante naquele caso, mas é relevante aqui. Vejamos por quê. A escolha da alavancagem Vamos começar com duas definições. A razão de capital de um banco é definida como a razão entre seu capital e seus ativos; portanto, para o banco na Figura 6.4, 20/100 = 20%. A razão de alavancagem de um banco é definida como a razão entre ativos e capital, então o inverso da razão de capital, neste caso 100/20 = 5. É tradi- cional pensar em termos de alavancagem e enfocar a razão de alavancagem. Vamos seguir a tradição. Mas, dada a relação simples entre ambas, a discussão poderia ser de modo equivalente em termos de razão de capital. Ao pensar em qual razão de alavancagem escolher, o banco deve equilibrar dois fatores. Uma razão de alavancagem mais alta implica uma taxa de retorno esperado maior. Mas uma alavancagem mais alta também implica um risco de falência maior. Analisemos um fator por vez. ®® Suponhamos que a taxa de retorno esperado dos ativos seja de 5% e a taxa de retorno esperado sobre o passivo, de 4%. Então, o lucro esperado do banco é igual a (100 × 5% – 80 × 4%) = 1,8. Considerando-se que os proprietários do banco colocaram 20 de fundos próprios, o lucro esperado por unidade de capital é igual a 1,8/20 = 9%. Agora suponhamos que os proprietários do banco decidiram, em vez disso, colocar apenas 10 de seus próprios fundos e tomaram 90 emprestados. A razão de capital do banco seria igual a 10/100 = 10%, e sua alavancagem, 10. Seu lucro esperado seria igual a (100 × 5% – 90 × 4%) = 1,4; seu lucro esperado por unidade, 1,4/10 = 14%, portanto substancialmente mais elevado. Aumentando sua alavancagem e diminuindo seus recursos próprios, o banco elevaria seu lucro esperado por unidade de capital. Que bom seria se os balancetes dos bancos fossem tão simples e transparentes� Se assim fosse, a crise teria sido muito mais limitada� Qual seria o lucro esperado por unidade de capital se o banco optasse por ter alavancagem zero? E se o banco optasse por alavancagem total (sem capital)? (A segunda pergunta é capciosa�) Ativos 100 Passivos 80 Capital 20 Balancete de um banco Figura 6.4 Ativos, capital e passivos de bancos. Book_Blanchard 1.indb 126 24/10/17 17:17 Capítulo 6 Mercados financeiros II: o modelo IS-LM ampliado 127 ®® Então, por que o banco não deveria escolher um índice alto de alavancagem? Porque uma alavancagem maior também implica um risco maior de que o valor dos ativos se torne inferior ao valor de seu passivo, o que, por sua vez, implica um risco de insolvência maior. Para o banco na Figura 6.4, seus ativos podem ter o valor reduzido a 80 sem que a instituição se torne insolvente e falida. Mas, se escolhesse uma razão de alavancagem de 10, qualquer redução no valor dos ativos abaixo de 90 levaria o banco à insolvência. O risco de falência seria muito mais alto. Assim, o banco deve escolher uma razão de alavancagem que leve em conta ambos os fatores. Uma razão de alavancagem muito baixa implica menos lucro. Uma razão de alavancagem muito alta implica um risco de falência demasiado alto. Alavancagem e empréstimos Suponhamos que um banco tenha escolhido sua alavancagem preferida e que o valor de seus ativos esteja em declínio. Por exemplo, os ativos do banco na Figura 6.4 têm o valor reduzido de 100 para 90, em decorrência de empréstimos duvidosos. O capital do banco baixou para 90 – 80 = 10, e sua razão de alavancagem aumentou de 5 para 9. O banco ainda é solvente, mas está claramente mais em risco do que antes. O que ele pretenderá fazer? Pode aumentar o capital, por exemplo, pedindo a outros investidores que forneçam fundos. Mas também pode diminuir o tamanho de seu balanço. Por exemplo, se puder recuperar alguns empréstimos por um montante de 40, assim reduzindo seus ativos a 90 – 40 = 50, e então usar os 40 para reduzir seu passivo para 80 – 40 = 40, sua razão de capital será 10/50 = 20%, retornando ao seu valor original. Mas, embora a razão de capital do banco esteja de volta ao nível desejado, o efeito será uma redução acentuada nos empréstimos pelo banco. Vamos dar mais um passo adiante. Suponhamos que, a partir do balanço na Figura 6.4, o declínio no valor dos ativos seja acentuado, por exemplo baixando de 100 para 70. Então, o banco torna-se insolvente e vai à falência. Os devedores que dependiam do banco podem ter dificuldade em encontrar outro credor. Por que isso é relevante para nós? Porque se os bancos permanecem solventes, mas reduzem os empréstimos, ou se se tornam insolventes, a redução dos emprésti- mos que isso desencadeia pode muito bem ter grandes impactos macroeconômicos. Novamente, vamos deixar uma discussão das implicações macroeconômicas para a próxima seção. E, antes de chegarmos lá, vamos aprofundar nossa análise. Liquidez Analisamos o caso em que os ativos bancários tiveram seu valor reduzido e cons- tatamos que isso levou os bancos a reduzir empréstimos. Agora, vamos considerar um caso em que os investidores não têm certeza do valor dos ativos do banco e acreditam, estejam certos ou não, que o valor desses ativos pode ter baixado. Então, a alavancagem pode ter efeitos desastrosos. Vejamos por quê. ®® Se os investidores tiverem dúvidas sobre o valor dos ativos bancários, o mais seguro para eles será sacar seus fundos do banco. Mas isso cria sérios proble- mas para a instituição, que precisa encontrar fundos para pagar os investido- res. Os empréstimos que ele possui não podem ser recuperados facilmente. Normalmente, os devedores não têm fundos disponíveis; eles foram usados para pagar contas, comprar um carro, adquirir uma máquina etc. Vender os empréstimos para outro banco provavelmente será difícil também. Avaliar o valor dos empréstimos não é tarefa fácil para outros bancos, que não detêm o conhecimento específico sobre os clientes que o banco original possui. De Um banco é solvente se o valor de seus ativos excede o valor de seus passivos� Caso contrário, é insolvente� Book_Blanchard 1.indb 127 24/10/17 17:17 128 Macroeconomia Consideremos um banco saudável, isto é, um banco com uma carteira de bons empréstimos� Suponhamos agora que surjam rumores de que o banco não anda bem e de que alguns empréstimos não serão quitados� Acreditando que a instituição possa falir, as pessoas que possuem depósitos no banco desejarão fechar suas con- tas e fazer a retirada do dinheiro� Se um número suficiente de pessoas fizer isso, o banco ficará sem reservas� Dado que os empréstimos não podem ser recuperados, o banco não conseguirá satisfazer à demanda por papel-moeda e, efetivamente, terá de fechar� Conclusão: o receio de que um banco fechará pode mesmo fazer que ele feche — ainda que todos os seus empréstimos sejam bons� A história financeira dos Estados Unidos até a década de 1930 está repleta dessas corridas bancárias� Um banco pode ir à falência pelo motivo certo (porque fez empréstimos duvidosos)� Isso, então, faz que os correntistas de outros bancos entrem em pânico e saquem dinheiro de seus bancos, forçando-os a fechar as portas� Talvez você já tenha assistido A felicidade não se compra, um filme antigo com James Stewart� Por causa da falência de outro banco na cidade de Stewart, os correntistas da instituiçãofinanceira da qual ele é gerente entram em pânico e também desejam fazer a retirada de seu dinheiro� Stewart consegue convencê-los de que não é uma boa ideia� O filme tem um final feliz� Mas, na vida real, este não foi o caso na maioria das corridas aos bancos� (Outro filme famoso sobre corridas bancárias e como podem começar é Mary Poppins�) O que se pode fazer para evitar as corridas bancárias? Uma solução possível é a chamada atividade bancária limitada (narrow banking)� Essa prática obrigaria os bancos a reter títulos públicos líquidos e certos, como as letras do Tesouro (T-bills)� Os empréstimos teriam de ser feitos por Corridas bancárias FOCO modo geral, quanto mais difícil for para os outros avaliarem o valor dos ati- vos do banco, mais provável será que o banco seja simplesmente incapaz de vendê-los ou que tenham de fazer isso a preços de queima de estoque, que são preços muito inferiores ao valor real dos empréstimos. Tais vendas, no entanto, só pioram as coisas para o banco. À medida que o valor dos ativos diminui, o banco pode muito bem tornar-se insolvente e ir à falência. Por sua vez, à medida que os investidores percebem que isso pode acontecer, isso lhes dá ainda mais razão para querer sacar seus fundos, forçando mais vendas apressadas e pio- rando o problema. Note que isso pode acontecer mesmo que as dúvidas iniciais dos investidores fossem totalmente infundadas, mesmo que o valor dos ativos bancários não tenha diminuído para início de conversa. A decisão dos investi- dores de recuperar seus fundos, e as queimas de estoque que isso desencadeia, pode tornar o banco insolvente mesmo que fosse totalmente solvente de início. ®® Observe também que o problema será pior se os investidores quiserem sacar seus fundos em um curto prazo. Trata-se claramente do caso dos depósitos à vista nos bancos, também chamados depósitos sob demanda, precisamente porque as pessoas podem resgatar seus fundos sob demanda. O fato de os ativos dos bancos serem em grande parte compostos de empréstimos e de seus passivos serem em grande parte constituídos por depósitos sob demanda torna-os particularmente expostos ao risco de corridas bancárias, e a história do sistema financeiro está cheia de exemplos disso, quando preocupações com os ativos de uma instituição levaram a uma corrida aos bancos, forçando-os a fechar. Essa corridas foram uma característica importante da Grande Depressão, e como discutido no quadro Foco “Corridas bancárias”, os bancos centrais tomaram medidas para limitá-las. Contudo, como veremos mais adiante neste capítulo, isso não resolveu totalmente o problema, e uma forma moderna de corridas — desta vez, não aos bancos, mas a outros intermediários financeiros — desempenhou novamente um papel importante na recente crise financeira. Book_Blanchard 1.indb 128 24/10/17 17:17 Capítulo 6 Mercados financeiros II: o modelo IS-LM ampliado 129 Podemos resumir o que acabamos de aprender sobre liquidez de ativos e passi- vos. Quanto menor a liquidez dos ativos (ou seja, quanto mais difícil for vendê-los), maior o risco de queimas de estoque, além do risco de que o banco se torne insol- vente e vá à falência. Quanto maior a liquidez dos passivos (ou seja, quanto mais fácil for para os investidores resgatarem seus fundos em curto prazo), maior o risco de queimas de estoque, bem como o risco de que o banco se torne insolvente e vá à falência. Repetindo, a razão por que isso é relevante para nós é que tais falências, se ocorrerem, podem ter graves consequências macroeconômicas. Esse é o tópico da próxima seção. outros intermediários financeiros que não os bancos� Isso provavelmente eliminaria as corridas bancárias� Algumas alterações recentes nas leis dos Estados Unidos seguiram nesse sentido, restringindo os bancos que dependem de depósitos a se engajarem em determinadas operações financeiras, mas não vão às últimas consequências para impor a atividade bancária limitada� Uma preocupação com essa prática é que, embora possa realmente eliminar as corridas bancárias, o problema pode migrar para o shadow banking e provocar corridas nessa área� Na prática, o problema tem sido abordado de duas maneiras� Primeiro, tentando-se limitar as corridas bancá- rias de início; segundo, se elas vierem a ocorrer, fazendo o Banco Central prover fundos aos bancos para que eles não tenham de recorrer a queimas de estoque� Para limitar as corridas aos bancos, governos dos países mais avançados têm implementado um sistema de seguro de depósitos� Os Estados Unidos, por exemplo, introduziram o seguro federal de depósitos em 1934� O governo norte-americano garante os depósitos de cada conta até um teto que, desde 2008, é de US$ 250 mil� Consequentemente, não há motivo para que os corren- tistas corram para sacar seu dinheiro� Contudo, o seguro de depósitos acarreta alguns pro- blemas� Como não precisam mais se preocupar com seus depósitos, os correntistas não acompanham as atividades dos bancos em que mantêm conta� Os bancos podem, então, se comportar inadequadamente, fazendo emprés- timos que não fariam se não houvesse o seguro de depó- sitos� Podem assumir risco demais, alavancagem demais� Além disso, como a crise infelizmente mostrou, o seguro de depósito já não é suficiente� Em primeiro lugar, os bancos dependem de outras fontes de fundos que não os depósitos, muitas vezes contraindo empréstimos de outras instituições financeiras e investidores� Esses outros fundos não são segurados, e durante a crise houve, na verdade, uma corrida a muitos bancos; dessa vez, não dos tradicionais correntistas, mas de financiadores no atacado� Em segundo lugar, as instituições financeiras que não são bancos podem estar sujeitas ao mesmo problema, com investidores querendo seus fundos de volta rapidamente e com ativos difíceis de alienar ou vender rapidamente� Assim, na medida em que as corridas não podem ser totalmente impedidas, os bancos centrais criaram progra- mas para prover fundos aos bancos no caso de enfrentarem uma corrida� Em tais circunstâncias, o Banco Central conce- derá empréstimo a um banco aceitando como contrapartida o valor de seus ativos� Dessa forma, o banco não precisa vender seus ativos e pode evitar uma queima de estoque� Tradicionalmente, o acesso a essa provisão era restrito aos bancos� Entretanto, mais uma vez, a recente crise mostrou que outras instituições financeiras podem estar sujeitas às corridas e também necessitar desse acesso� Assim como o seguro de depósito, tal provisão de liquidez (denominação pela qual a prática é conhe- cida) pelo Banco Central não é uma solução perfeita� Na prática, os bancos centrais podem enfrentar uma escolha difícil� Avaliar quais instituições financeiras além dos bancos podem ter acesso à provisão de liquidez é uma tarefa delicada� Avaliar o valor dos ativos e, portanto, decidir quanto pode ser emprestado a uma instituição também não deve ser nada fácil� O Banco Central não vai querer fornecer fundos a uma instituição que esteja realmente insolvente; mas, no meio de uma crise finan- ceira, a diferença entre insolvência e iliquidez pode ser difícil de estabelecer� Para assistir a um trecho de It’s a wonderful life (A felicidade não se compra), acesse <https://www�youtube� com/watch? v=lbwjS9iJ2Sw>� Para assistir a um trecho de Mary Poppins, acesse <https://www�youtube�com/watch?v=C6DGs3qjRwQ>� Book_Blanchard 1.indb 129 24/10/17 17:17 130 Macroeconomia 6.4 Estendendo o IS-LM O modelo IS-LM que apresentamos no Capítulo 5 tinha apenas uma taxa de juros. Essa taxa de juros era determinada pelo Banco Central e entrava nas decisões de gastos. Aparecia tanto na relação LM quanto na relação IS. As primeiras três seções deste capítulo revelam de modo convincente que, embora esse tenha sido um primeiro passo útil, a realidade é consideravelmente mais complexa, e devemos ampliar nosso modelo inicial. Primeiro, devemos fazer a distinção entre taxa de juros nominale taxa de juros real. Em segundo lugar, devemos distinguir a taxa básica fixada pelo Banco Central e as taxas de juros cobradas dos devedores. Como vimos, essas taxas de juros depen- dem tanto do risco associado aos devedores quanto da saúde dos intermediários financeiros. Quanto maior os riscos, ou quanto maior a razão de alavancagem dos intermediários, maior será a taxa de juros a pagar. Capturamos esses dois aspectos reescrevendo o IS-LM da seguinte maneira: Relação IS: Y = C(Y – T) + I(Y, i – e + x) + G Relação LM: i = i – A relação LM permanece a mesma. O Banco Central ainda controla a taxa de juros nominal, mas há duas mudanças na relação IS: a presença da inflação esperada, e, e um novo termo que vamos chamar de prêmio de risco e indicar por x. ®® O termo inflação esperada reflete o fato de que as decisões de gastos dependem, mantidas as demais condições inalteradas, da taxa de juros real, r = i – e, e não da taxa nominal. ®® O prêmio de risco, x, capta, de forma simplista, os fatores que discutimos ante- riormente. Pode ser alto porque os credores percebem um risco maior de inadim- plência ou porque são mais avessos ao risco. Ou pode ser alto porque os inter- mediários financeiros estão reduzindo os empréstimos por preocupações de solvência ou de liquidez. As duas equações deixam claro que a taxa de juros que entra na equação LM, i, não é mais a mesma que a taxa de juros que entra na relação IS, r + x. Vamos chamar a que entra na equação LM de taxa básica (nominal) (que é determinada pela política monetária), e a taxa que entra na equação IS de taxa de empréstimo (real) (visto que é a taxa à qual consumidores e empresas contraem empréstimos). Uma simplificação: como discutimos na Seção 6.2, embora o Banco Central escolha formalmente a taxa de juro nominal, ele pode fazer isso de modo a atingir a taxa de juros real que almeja (isso ignora a questão do limite inferior zero ao qual deveremos voltar). Assim, podemos pensar nos bancos centrais escolhendo a taxa básica real diretamente e reescrever as duas equações como: Relação IS: Y = C(Y – T) + I(Y, r + x) + G (6.5) Relação LM: r = r– (6.6) O Banco Central escolhe a taxa básica real, r, mas a taxa de juros real relevante para as decisões de gastos é a taxa de empréstimo, r + x, que depende não somente da taxa básica, mas também do prêmio de risco. Ambas as equações estão representadas na Figura 6.5. A taxa básica é medida no eixo vertical e o produto no eixo horizontal. A curva IS é traçada para valores dados de G, T e x. Se todas as outras condições permanecerem inalteradas, um aumento na taxa básica real reduz gastos e, por sua vez, o produto: a curva IS é inclinada para baixo. A LM é apenas uma linha horizontal na taxa básica, a taxa de juros real implicitamente escolhida pelo Banco Central. O equilíbrio é dado pelo ponto A, com o nível associado de produto Y. A maneira pela qual o Banco Central controla a taxa de juros nominal é ajustando o estoque de moeda� Se precisar recapitu- lar o tema, volte ao Capítulo 4� Duas distinções importantes: taxas de juros reais e nomi- nais; taxa básica e taxa de empréstimo� Book_Blanchard 1.indb 130 24/10/17 17:17 Capítulo 6 Mercados financeiros II: o modelo IS-LM ampliado 131 Choques financeiros e políticas Suponhamos que, por alguma razão, haja um aumento em x. São muitos os cenários possíveis nesse caso. Pode ser, por exemplo, que os investidores tenham se tornado mais avessos ao risco e demandem um prêmio de risco maior, ou pode ser que uma instituição financeira tenha falido e os investidores ficaram preocupa- dos com a saúde de outros bancos, iniciando uma corrida e forçando esses outros bancos a reduzir empréstimos. Em termos da Figura 6.5, a curva IS desloca-se para a esquerda. À mesma taxa básica r, a taxa de empréstimo r + x aumenta, levando a uma diminuição na demanda e no produto. O novo equilíbrio está no ponto A. Problemas no sistema financeiro provocam uma recessão. Em outras palavras, uma crise financeira torna-se uma crise macroeconômica. O que a política econômica pode fazer? Assim como no Capítulo 5, a política fiscal, seja um aumento de G, seja uma redução de T, pode deslocar a curva IS para a direita e elevar o produto. Mas um grande aumento de despesas ou um corte nos impostos pode implicar um considerável aumento do déficit orçamentário, e o governo provavelmente relutará em fazê-lo. Considerando-se que a causa do produto baixo é que a taxa de juros que os devedores enfrentam é demasiado elevada, a política monetária parece ser uma ferramenta melhor. Com efeito, uma redução suficiente na taxa básica, tal como ilustrado na Figura 6.6, pode, em princípio, bastar para levar a economia ao ponto A e devolver o produto a seu nível inicial. Com efeito, em face do aumento de x, o Banco Central deve diminuir r de modo a manter inalterada r + x, a taxa relevante para as decisões de gastos. Observe que a taxa básica que é necessária para aumentar suficientemente a demanda e devolver o produto a seu nível anterior pode muito bem ser negativa. É assim que traçamos o equilíbrio na Figura 6.6. Suponhamos que, por exemplo, no equi- líbrio inicial, r seja igual a 2% e x a 1%. Suponhamos que x aumenta em torno de 4%, de 1% a 5%. Para manter o mesmo valor de r + x, o Banco Central deve baixar a taxa básica de 2% para 2% – 4% = –2%. Isso levanta uma questão, já discutida no Capítulo 4, ou seja, a restrição resultante do limite inferior zero da taxa de juros nominal. T ax a d e ju ro s, r Produto, Y YY AA IS IS LMr Figura 6.5 Choques financeiros e o produto. Um aumento em x leva a um deslocamento da curva IS para a esquerda e a uma diminuição no produto de equilíbrio. Para simplificar, analisamos um aumento exógeno de x� Mas x pode muito bem depender do produto� Uma diminuição no produto, digamos uma recessão, aumenta a proba- bilidade de alguns devedores não serem capazes de quitar a dívida; trabalhadores que perdem o emprego podem não ter condições de pagar os empréstimos; empresas que perdem vendas podem ir à falência� O aumento do risco acarreta um aumento adicional do prêmio de risco e, portanto, um aumento adicional da taxa de empréstimo, que pode dimi- nuir ainda mais o produto� Book_Blanchard 1.indb 131 24/10/17 17:17 132 Macroeconomia Produto, Y T ax a b ás ic a, r Y A IS 0 IS LM LM A r r Figura 6.6 Choques financeiros, política monetária e produto. Se suficientemente grande, uma redução da taxa básica pode, em princípio, compensar o aumento do prêmio de risco. O limite inferior zero pode, no entanto, limitar a diminuição da taxa básica real. Dado o limite inferior zero da taxa nominal, a menor taxa real que o Banco Central pode atingir é representada por r = i – e = 0 – e = – e. Ou seja, a menor taxa básica real que o Banco Central pode alcançar é o negativo da inflação. Se a inflação for alta o suficiente, por exemplo 5%, uma taxa nominal igual a zero implicará uma taxa real de – 5%, que é provável que seja suficientemente baixa para compensar o aumento de x. Mas, se a inflação for baixa ou até mesmo negativa, a taxa real mais baixa que o Banco Central poderá atingir pode não ser suficiente para compensar o aumento de x. Pode não bastar para devolver a economia a seu equilíbrio inicial. Como veremos, duas características da recente crise foram, realmente, um aumento considerável de x e uma baixa inflação real e esperada, limitando o quanto os bancos centrais poderiam usar a política monetária para compensar o aumento de x. Agora temos os elementos necessários para entender o que desencadeou a crise financeira de 2008, e como ela se transformou em uma grave crise macroeconômica. Esse é o tema da próxima e última seção deste capítulo. 6.5 De um problema imobiliário a uma crise financeira Quando os preços dos imóveis residenciais começaram a cair nos Estados Unidos em 2006, a maioria dos economistas previu que isso acarretariauma redução da demanda e uma desaceleração do crescimento. Poucos anteciparam que isso pro- vocaria uma grave crise macroeconômica. O que a maioria não previu foi o efeito do declínio dos preços de imóveis residenciais no sistema financeiro e, por sua vez, seu efeito sobre a economia. Esse é o foco desta seção. Preços de imóveis residenciais e hipotecas subprime A Figura 6.7 mostra a evolução de um índice de preços de imóveis residenciais nos Estados Unidos desde 2000, índice esse conhecido como Case-Shiller, em home- nagem aos dois economistas que o criaram. O índice é normalizado a 100 em janeiro de 2000. Pode-se ver a grande elevação de preços no início dos anos 2000, seguida Pesquise Case-Shiller na inter- net se quiser encontrar o índice e verificar sua evolução recente� Você também pode observar o que aconteceu com os preços na cidade onde mora� Book_Blanchard 1.indb 132 24/10/17 17:17 Capítulo 6 Mercados financeiros II: o modelo IS-LM ampliado 133 por uma queda acentuada mais tarde. De um valor de 100 em 2000, o índice subiu para 226 em meados de 2006, e, então, começou a declinar. Até o final de 2008, no início da crise financeira, caiu para 162. No início de 2012, chegou a 146 e começou a se recuperar em seguida. No segundo semestre de 2015 estava em 195, ainda abaixo de seu pico em 2006. O acentuado aumento dos preços de 2000 a 2006 foi justificado? Em retrospecto, e dado o colapso que se seguiu, certamente não. Mas, na época, quando os preços estavam subindo, os economistas não tinham tanta certeza disso. Alguma elevação nos preços era claramente justificada. ®® Os anos 2000 foram um período de taxas de juros inusitadamente baixas. As taxas de hipoteca eram baixas, aumentando a demanda por moradia, e, assim, empurrando o preço para cima. ®® Outros fatores também estavam em ação. Os credores hipotecários pareciam cada vez mais dispostos a conceder empréstimos a devedores de maior risco. Essas hipotecas, conhecidas como subprime, existiam desde meados da década de 1990, mas passaram a predominar na década de 2000. Em 2006, cerca de 20% das hipotecas nos Estados Unidos eram subprimes. Isso era necessariamente ruim? Novamente, na época, isso foi visto pela maioria dos economistas como um desenvolvimento positivo. Permitia que mais pessoas pobres comprassem casas, e sob o pressuposto de que os preços da habitação continuariam a subir, de modo que o valor da hipoteca baixaria ao longo do tempo em relação ao preço do imóvel, parecia seguro tanto para os credores quanto para os devedores. A julgar pelo passado, a suposição de que os preços da habitação não diminuiriam também parecia razoável. Como se pode ver na Figura 6.7, esses preços não bai- xaram mesmo durante a recessão de 2000-2001. Em retrospectiva, esses desenvolvimentos eram muito menos favoráveis do que a maioria dos economistas imaginava. Primeiro, os preços da habitação pode- riam cair, como ficou evidente a partir de 2006. Quando isso aconteceu, muitos devedores se viram em uma situação na qual a hipoteca que deviam passara a exceder o valor do seu imóvel (quando o valor da hipoteca excede o valor do imóvel, diz-se que ela está debaixo d’água [underwater]). Em segundo lugar, ficou 100 120 140 160 180 200 220 240 Jan-00 Jan-02 Jan-04 Jan-06 Jan-08 Jan-10 Jan-12 Jan-14 Figura 6.7 Preços de imóveis residenciais nos EUA desde 2000. O aumento dos preços de imóveis residenciais de 2000 a 2006 foi seguido por um declínio acentuado a partir de então. Fonte: Case-Shiller Home Price Indices, índice de preços de habitação em 10 cidades, <http://www.standardandpoors.com/ indices/main/en/us>. Mesmo que as pessoas não financiassem a compra da casa própria fazendo uma hipoteca, as taxas de juros baixas levariam a um aumento no preço dos imóveis residen- ciais� Veremos mais sobre isso quando discutirmos valores presentes descontados no Capítulo 14� Alguns economistas se preocu- pavam mesmo com os preços em ascensão� Robert Shiller, um dos dois economistas por trás do índice Case-Shiller, estava entre eles, alertando que o aumento de preços era uma bolha prestes a estourar� Shiller recebeu o Prêmio Nobel em 2013 por seu trabalho sobre preços de ativos� Book_Blanchard 1.indb 133 24/10/17 17:17 134 Macroeconomia claro que, em muitos casos, as hipotecas eram realmente muito mais arriscadas do que o credor supunha que fossem ou do que o devedor compreendia. Em vários casos, os devedores haviam contraído hipotecas com taxas de juros iniciais baixas, conhecidas como “taxas promocionais” e, portanto, pagamentos de juros iniciais baixos, provavelmente sem ter plena consciência de que os pagamentos aumen- tariam acentuadamente ao longo do tempo. Mesmo que os preços dos imóveis residenciais não tivessem caído, muitos desses devedores não teriam conseguido honrar a quitação de suas hipotecas. Assim, à medida que os preços dos imóveis residenciais sofreram uma reviravolta e muitos devedores ficaram inadimplentes, os credores se viram diante de grandes perdas. Em meados de 2008, as perdas em hipotecas foram estimadas em cerca de US$ 300 bilhões. Trata-se de um número alto, mas, em relação ao porte da economia dos Estados Unidos, não é tão vultoso assim. Essa cifra representa apenas cerca de 2% do PIB norte-americano. Poderíamos imaginar que o sistema financeiro do país pudesse absorver o choque e que o efeito adverso sobre a produção seria limitado. Não foi o que aconteceu. Embora o gatilho da crise tenha sido o declínio dos preços dos imóveis residenciais, seus efeitos foram imensamente amplificados. Até mesmo os economistas que tinham antecipado o declínio do preço dos imóveis não percebe- ram a intensidade que teriam os mecanismos de amplificação. Para compreendê-los, devemos retomar o papel dos intermediários financeiros. O papel dos intermediários financeiros Na seção anterior, vimos que alta alavancagem, iliquidez dos ativos e liquidez dos passivos intensificaram o risco de problemas no sistema financeiro. Os três elementos estavam presentes em 2008, criando uma tempestade perfeita. Alavancagem Os bancos estavam altamente alavancados. Por quê? Por uma série de razões: primeiro, as instituições bancárias provavelmente subestimaram o risco que estavam assumindo: eram bons tempos e, em bons tempos, os bancos, assim como as pessoas, tendem a subestimar o risco dos maus momentos. Em segundo lugar, o sistema de compensações e bônus incentivou gerentes a buscarem altos retornos esperados sem levar em conta o risco de falência. Terceiro, embora a regulamentação financeira exigisse que os bancos mantivessem sua razão de capital acima de um mínimo, eles encontraram novas formas de contornar as leis, criando novas estruturas financei- ras chamadas de veículos de investimento estruturado (SIVs, do inglês structured investment vehicles). No lado dos passivos, os SIVs tomavam empréstimo dos investidores, normal- mente sob a forma de dívida de curto prazo. No lado dos ativos, detinham várias formas de título. Para tranquilizar os investidores quanto a serem reembolsados, os SIVs costumavam apresentar uma garantia do banco que os criara de que, se necessário, lhes forneceria fundos. Embora o primeiro SIV tenha sido criado pelo Citigroup em 1988, essas estruturas cresceram rapidamente de tamanho na década de 2000. Você pode estar se perguntando por que os bancos simplesmente não faziam todas essas coisas em seu próprio balancete em vez de criar um veículo separado. A principal razão era poder aumentar a alavancagem. Se os próprios bancos realizas- sem essas operações, elas apareceriam no balancete e estariam sujeitas a exigências regulatórias de capital, obrigando-os a manter capital suficiente para limitar o risco de falência. Praticar essas operações por meio de um SIV não exigia que os bancos aportassem capital. Por esse motivo, com a criação de um SIV, os bancos podiam aumentar a alavancagem e os lucros esperados, e foi o que fizeram.Alguns desses empréstimos ficaram conhecidos como empréstimos NINJA (acrônimo em inglês para sem renda, sem emprego e sem ativos — no income, no job, no assets)� Book_Blanchard 1.indb 134 24/10/17 17:17 Capítulo 6 Mercados financeiros II: o modelo IS-LM ampliado 135 Quando os preços dos imóveis residenciais começaram a baixar e muitas hipo- tecas acabaram se revelando maus negócios, os títulos detidos pelos SIVs caíram de valor. Surgiram dúvidas quanto à solvência dos SIVs, e considerando-se a garantia dos bancos de fornecerem fundos a essas estruturas se necessário, surgiram dúvidas sobre a solvência dos próprios bancos. Em seguida, dois outros fatores — a securi- tização e o financiamento no atacado — entraram em ação. Securitização Um importante desenvolvimento financeiro dos anos 1990 e 2000 foi o cresci- mento da securitização. Tradicionalmente, os intermediários financeiros que faziam empréstimos ou emitiam hipotecas optavam por mantê-los em seu próprio balanço. Isso trazia óbvias desvantagens. Um banco local, com empréstimos e hipotecas locais em seus livros contábeis, estava muito exposto à situação econômica local. Quando, por exemplo, os preços do petróleo caíram acentuadamente em meados dos anos 1980 e o Texas entrou em recessão, muitos bancos locais faliram. Se tivessem uma carteira mais diversificada de hipotecas, digamos de muitas regiões do país, esses bancos poderiam ter evitado a falência. Essa é a ideia por trás da securitização. Trata-se da criação de títulos com base em uma cesta de ativos (por exemplo, uma cesta de empréstimos ou uma cesta de hipotecas). Por exemplo, um título garantido por créditos hipotecários (MBS, do inglês mortgage-based security) é um direito aos retornos de uma cesta de hipotecas, com o número de hipotecas subjacentes muitas vezes na casa das dezenas de milhares. A vantagem é que muitos investidores, que não se interessavam em manter hipote- cas individuais, estavam dispostos a comprar e deter esses títulos. Esse aumento da oferta de fundos dos investidores deve, por sua vez, baixar o custo dos empréstimos. A securitização pode ir mais longe. Por exemplo, em vez de emitir títulos com direitos idênticos aos retornos sobre uma cesta subjacente de ativos, pode-se emitir diferentes tipos de títulos. Por exemplo, pode-se emitir títulos sênior, que têm os primeiros direitos sobre os retornos da cesta, e os títulos júnior, que vêm depois e pagam somente se sobrar algo após os títulos sênior terem sido pagos. Os títulos sênior atraem investidores com perfil de baixo risco; os títulos júnior atraem inves- tidores propensos a mais risco. Esses títulos, conhecidos como títulos de dívida colateralizada (CDOs, do inglês collateralized debt obligations), foram emitidos pela primeira vez no final da década de 1980, mas, novamente, ganharam importância nos anos 1990 e 2000. A securitização foi ainda mais longe, com a criação de CDOs usando CDOs anteriormente criados, ou CDO2. A securitização parecia uma boa ideia, uma forma de diversificar os riscos e envolver um grupo maior de investidores em empréstimos a famílias ou empresas. E, na verdade, é isso. Mas ela também veio com dois grandes custos, o que ficou claro durante a crise. O primeiro era que, se o banco vendesse a hipoteca que oferecera como parte de uma cesta de securitização, e, portanto, não a mantivesse em seu balanço, ele teria menos incentivos para garantir que o devedor quitaria a dívida. O segundo era o risco de que as agências de rating — empresas que classificam o risco de vários títulos — tivessem errado por larga margem. Quando as hipotecas subjacentes se tornavam um mau negócio, avaliar o valor das cestas subjacentes aos MBSs, ou, mais ainda, dos MBSs subjacentes aos CDOs, era tarefa extremamente difícil de realizar. Esses ativos ficaram conhecidos como ativos tóxicos. Levavam os investidores a assumir o pior e relutar em mantê-los ou continuar a conceder empréstimo a essas instituições, tais como os SIVs que as detinham. Em termos da discussão na seção anterior, muitos dos ativos detidos por bancos, SIVs e outros intermediários financeiros eram ilíquidos. Extremamente difíceis de avaliar, eram, portanto, difíceis de vender, exceto a preços de queima de estoque. Um dos principais obstáculos à compreensão do sistema financeiro é a sopa de siglas: SIVs, MBS, CDOs etc� Book_Blanchard 1.indb 135 24/10/17 17:17 136 Macroeconomia Financiamento no atacado Outra evolução das décadas de 1990 e 2000 foi o desenvolvimento de outras fontes financeiras, além dos depósitos à vista, pelos bancos. Cada vez mais, eles dependiam de empréstimos de outros bancos e outros investidores, sob a forma de dívida de curto prazo, para financiar a compra de seus ativos, um processo conhecido como financiamento no atacado. Os SIVs — entidades financeiras criadas pelos bancos — eram inteiramente financiados por esse tipo de financiamento. O financiamento no atacado também parecia uma boa ideia, dando aos ban- cos mais flexibilidade no montante de fundos que poderiam usar para fazer empréstimos ou comprar ativos. Mas havia um custo, e esse custo mais uma vez se tornou claro durante a crise. Embora os correntistas fossem protegidos por um seguro de depósito e não tivessem de se preocupar com o valor depositado, não era esse o caso dos demais investidores. Assim, quando esses investidores se preocupavam com o valor dos ativos detidos pelos bancos ou SIVs, pediam seus fundos de volta. Em termos da discussão na seção anterior, os bancos e SIVs tinham passivos líquidos, muito mais líquidos do que seus ativos. O resultado dessa combinação de alta alavancagem, ativos ilíquidos e passivos líquidos foi uma grave crise financeira. À medida que os preços dos imóveis resi- denciais declinavam e algumas hipotecas não eram quitadas, a alta alavancagem implicava um declínio acentuado do capital de bancos e SIVs. Isso, por sua vez, obrigava-os a vender alguns de seus ativos. Como esses ativos eram muitas vezes difíceis de avaliar, eles tinham de vendê-los a preços de queima de estoque. Isso, por sua vez, diminuía o valor de ativos similares remanescentes em seu balanço ou no balanço de outros intermediários financeiros, acarretando mais declínio das razões de capital e forçando novas vendas de ativos e quedas nos preços. A complexidade dos títulos detidos pelos bancos e SIVs dificultava a avaliação de sua solvência. Os investidores relutavam em continuar a lhes emprestar e o financiamento no atacado cessou, o que forçou novas vendas de ativos e quedas nos preços. Até os bancos relutavam em fazer empréstimo para outros bancos. Em 15 de setembro de 2008, o Lehman Brothers, um grande banco com mais de US$ 600 bilhões em ativos, declarou falência, levando os participantes financeiros a concluir que muitos, se não a maioria, dos outros bancos e instituições financeiras estavam realmente em risco. Em meados de setembro de 2008 o sistema financeiro estava paralisado. Os bancos basicamente pararam de fazer empréstimos entre si ou a quem quer que fosse. Rapidamente, o que havia sido em grande parte uma crise financeira se transformou em uma crise macroeconômica. Implicações macroeconômicas Os efeitos imediatos da crise financeira sobre a macroeconomia foram dois. Primeiro, um considerável aumento nas taxas de juros às quais pessoas e empresas poderiam contrair empréstimos, se conseguissem obtê-los; em segundo lugar, uma queda acentuada na confiança. Vimos o efeito sobre diversas taxas de juros na Figura 6.3. No final de 2008, as taxas de juros dos títulos mais bem classificados (AAA) subiram para mais de 8%, ao passo que as dos títulos de ratings mais baixos (BBB) subiram para 10%. De repente, tomar empréstimo ficou extremamente oneroso para a maioria das empresas. E, para as muitas empresas pequenas demais para emitir títulos, e, portanto, dependentes de crédito bancário, isso se tornou praticamente impossível. Os acontecimentos de setembrode 2008 também disseminaram angústia entre os consumidores e as empresas. O fantasma de outra Grande Depressão e, de modo mais generalizado, confusão e temor sobre o que estava acontecendo Book_Blanchard 1.indb 136 24/10/17 17:17 Capítulo 6 Mercados financeiros II: o modelo IS-LM ampliado 137 no sistema financeiro fizeram a confiança desabar. A evolução dos índices de confiança dos consumidores e das empresas nos Estados Unidos é mostrada na Figura 6.8. Ambos os índices são normalizados a 100 em janeiro de 2007. Observe como a confiança dos consumidores, que começou a cair em meados de 2007, sofreu uma derrocada no início de 2008 e atingiu um mínimo de 22 no início de 2009, um nível muito inferior às baixas históricas. O resultado da redução da confiança e da redução dos preços dos imóveis residenciais e das ações foi uma contração acentuada do consumo. Respostas políticas O alto custo de contrair empréstimos, os preços mais baixos das ações e o menor nível de confiança, juntos, reduziram a demanda por bens. Em termos do modelo IS-LM, houve um deslocamento acentuado e adverso da curva IS, tal como repre- sentado na Figura 6.5. Em face dessa queda na demanda, os formuladores de política econômica não permaneceram passivos. Políticas financeiras As medidas mais urgentes visavam o fortalecimento do sistema financeiro: ®® Para evitar uma corrida por parte dos correntistas, o seguro de depósito fede- ral teve um aumento de US$ 100.000 para US$ 250.000 por conta-corrente. Vale lembrar, no entanto, que o financiamento dos bancos não advinha dos depósitos, mas sim da emissão de dívida de curto prazo para investidores. Para permitir que os bancos continuassem a usar o financiamento no ata- cado, o governo federal ofereceu um programa de garantia a novas emissões pelos bancos. ®® O Federal Reserve ofereceu ampla liquidez ao sistema financeiro. Vimos que se os investidores quisessem recuperar seus fundos, os bancos tinham de vender alguns de seus ativos, muitas vezes a preços de queima de estoque. Em muitos Consulte o quadro Foco “A falência do Lehman, temores de outra grande depressão e deslocamentos da função consumo”, no Capítulo 3� 0 20 40 60 80 100 120 Jan-07 Jul-07 Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 Jul-11 Con�ança dos consumidores Ín d ic e d e co n� an ça (j an ei ro 2 00 7 = 1 00 ) Con�ança das empresas Figura 6.8 Confiança dos consumidores e das empresas nos EUA, 2007-2011. A crise financeira provocou uma queda acentuada na confiança, que chegou ao fundo do poço no início de 2009. Fonte: Bloomberg LP. Book_Blanchard 1.indb 137 24/10/17 17:17 138 Macroeconomia casos isso significava falência. Para evitar isso, o Fed implementou uma série de programas de liquidez que visavam facilitar a tomada de empréstimos, não só por parte dos bancos, mas também de outros intermediários financeiros. Por fim, ampliou-se o conjunto de ativos que as instituições financeiras pode- riam usar como garantia ao contrair esses empréstimos (garantia refere-se ao ativo que um devedor empenha ao pedir empréstimos a um credor. Em caso de inadimplência, o ativo vai para o credor). Juntas, essas facilidades possi- bilitavam que bancos e intermediários financeiros pagassem os investidores sem vender seus ativos. Também reduziam os incentivos dos investidores para resgatar seus fundos porque atenuavam o risco de falência de bancos e intermediários financeiros. ®® O governo introduziu um programa denominado Troubled Asset Relief Program (TARP) [Programa de Resgate de Ativos Problemáticos], que visava sanear os bancos. O objetivo inicial do programa de US$ 700 bilhões, implementado em outubro de 2008, era remover ativos complexos do balanço dos bancos, assim diminuindo a incerteza, tranquilizando os investidores e facilitando a avaliação da saúde de cada banco. Contudo, o Tesouro enfrentou os mesmos problemas que os investidores privados. Se esses ativos complexos fossem trocados, por exemplo, por letras do Tesouro, a que preço seria? Em poucas semanas ficou evidente que a tarefa de avaliar o valor de cada um desses ativos era extrema- mente difícil e levaria muito tempo, de modo que o objetivo inicial foi aban- donado. O novo objetivo passou a ser o aumento do capital dos bancos. Isso se deu com o governo adquirindo ações e, assim, provendo recursos para a maioria dos principais bancos dos Estados Unidos. Ao aumentar sua razão de capital, e consequentemente diminuir sua alavancagem, o objetivo do programa con- sistia em permitir que os bancos evitassem a falência e, no decorrer do tempo, voltassem ao normal. Até o final de setembro de 2009, os gastos totais sob o TARP foram de US$ 360 bilhões, dos quais US$ 200 bilhões foram gastos com a compra de ações em bancos. As políticas fiscais e monetárias também foram utilizadas de forma agressiva. Política monetária A partir do verão de 2007, o Fed começou a se preocupar com uma desace- leração do crescimento e passou a reduzir a taxa básica, lentamente no início, mais rapidamente depois, quando as evidências da crise se acumularam. A evo- lução da taxa dos fundos federais a partir de 2000 foi mostrada na Figura 1.4, no Capítulo 1. Em dezembro de 2008 a taxa baixara a zero. Nesse momento, no entanto, a política monetária foi limitada pelo limite inferior zero. A taxa básica não podia cair mais. O Fed voltou-se, então, para o que ficou conhecido como política monetária não convencional, comprando outros ativos de modo a afetar diretamente a taxa cobrada dos devedores. Exploraremos as várias dimensões da política monetária não convencional com mais detalhes no Capítulo 23. Basta dizer que, embora essas medidas fossem úteis, a eficácia da política monetária foi, no entanto, severamente restringida pelo limite inferior zero. Política fiscal Quando o tamanho do choque adverso ficou claro, o governo dos Estados Unidos recorreu à política fiscal. Quando a administração Obama assumiu o poder em 2009, sua prioridade foi criar um programa fiscal que aumentasse a demanda e reduzisse a recessão. Esse programa fiscal, chamado de American Recovery and Reinvestment Act (Decreto Norte-Americano de Recuperação No segundo semestre de 2015 todos os bancos haviam com- prado de volta suas ações e reembolsado o governo� Na verdade, na estimativa final, o TARP chegou a auferir um pequeno lucro� Lembre-se de que a taxa de juros cobrada dos devedores é dada por r + x� Você pode pensar na política monetária convencional como a escolha de r, e na política monetária não convencional como uma medida para reduzir x� Book_Blanchard 1.indb 138 24/10/17 17:17 Capítulo 6 Mercados financeiros II: o modelo IS-LM ampliado 139 e Reinvestimento), foi aprovado em fevereiro de 2009 e demandou US$ 780 bilhões em novas medidas, sob a forma tanto de redução de impostos quanto de elevação de gastos, em 2009 e 2010. O déficit orçamentário do país aumentou de 1,7% do PIB em 2007 para 9,0% em 2010. Esse aumento foi, em grande parte, o efeito mecânico da crise, porque a diminuição da demanda acarretou uma diminuição das receitas fiscais e um aumento dos programas de transfe- rência, tais como o seguro-desemprego. Mas também foi resultado de medidas específicas do programa fiscal que se destinavam a elevar a despesa privada ou pública. Alguns economistas argumentaram que o aumento das despesas e o corte dos impostos deveriam ser ainda maiores, dada a gravidade da situação. Outros, no entanto, preocupavam-se com os déficits que se tornavam muito elevados e poderiam levar a uma explosão da dívida pública, defendendo que tinham de ser reduzidos. A partir de 2011, o déficit foi reduzido e é atualmente muito menor. Podemos resumir nossa discussão voltando ao modelo IS-LM desenvolvido na seção anterior. Isso é mostrado na Figura 6.9. A crise financeira levou a um acentuado deslocamento da curva IS para a esquerda, de IS para IS. Na ausência de mudanças na políticaeconômica, o equilíbrio ter-se-ia deslocado do ponto A para o ponto B. Políticas financeiras e fiscais compensaram parte do deslo- camento, de modo que, em vez de passar para IS, a economia foi para IS. E a política monetária acarretou um deslocamento da curva LM para baixo, de LM para LM, de modo que o equilíbrio resultante foi no ponto A. Nesse ponto, o limite inferior zero na taxa básica nominal implicava que a taxa de juros real não poderia baixar mais. O resultado foi uma diminuição do produto de Y para Y. O choque inicial foi tão grande que a combinação de medidas financeiras, fiscais e monetárias não foi suficiente para evitar uma acentuada queda no produto, com o PIB dos Estados Unidos caindo 3,5% em 2009 e recuperando-se apenas lentamente a partir daí. IS IS LM LM T ax a d e ju ro s, r Produto, Y YY A AB IS r Figura 6.9 A crise financeira e o uso das políticas financeira, fiscal e monetária. A crise financeira acarretou o deslocamento da curva IS para a esquerda. As políticas financeira e fiscal levaram a um deslocamento de volta para a direita de IS. A política monetária levou a um deslocamento da curva LM para baixo. As políticas não foram suficientes, porém, para evitar uma grave recessão. É difícil saber o que teria acontecido na ausência des- sas políticas� É razoável pen- sar, mas impossível provar, que a redução do produto teria sido muito maior, pro- vocando uma repetição da Grande Depressão� Book_Blanchard 1.indb 139 24/10/17 17:17 140 Macroeconomia Resumo ®® A taxa de juros nominal indica quantos dólares são necessários pagar no futuro em troca de um dólar no presente. ®® A taxa de juros real informa quantos bens são necessários pagar no futuro em troca de um bem no presente. ®® A taxa de juros real é aproximadamente igual à taxa de juros nominal menos a inflação esperada. ®® O limite inferior zero da taxa de juros nominal implica que a taxa de juros real não pode ser infe- rior ao negativo da inflação esperada. ®® A taxa de juros de um título depende tanto da probabilidade de que o emitente do título vá ficar inadimplente quanto do grau de aversão ao risco dos detentores de títulos. Uma probabilidade maior ou um grau mais elevado de aversão ao risco levam a uma taxa de juros mais alta. ®® Os intermediários financeiros recebem fundos de investidores e emprestam esses fundos a outros. Ao escolher sua razão de alavancagem, os intermedi- ários financeiros ponderam o lucro esperado e o risco de insolvência. ®® Devido à alavancagem, o sistema financeiro está exposto aos riscos de solvência e iliquidez. Ambos podem levar os intermediários financeiros a dimi- nuir os empréstimos. ®® Quanto maior o índice de alavancagem, ou quanto mais ilíquidos os ativos, ou quanto mais líquidos os passivos, maior o risco de uma corrida bancária, ou, de modo mais geral, de uma corrida aos interme- diários financeiros. ®® O modelo IS-LM deve ser ampliado para levar em conta a diferença entre a taxa de juros nominal e a taxa de juros real, e a diferença entre a taxa básica escolhida pelo Banco Central e a taxa de juros às quais as empresas e as pessoas podem contrair empréstimo. ®® Um choque no sistema financeiro leva a um aumento da taxa de juros à qual pessoas e empresas podem tomar empréstimo a uma dada taxa básica. Isso leva a uma redução no produto. ®® A crise financeira do final da década de 2000 foi desencadeada por uma queda nos preços dos imóveis residenciais. E amplificada pelo sistema financeiro. ®® Os intermediários financeiros estavam altamente alavancados. Por causa da securitização, seus ati- vos eram difíceis de avaliar e, portanto, ilíquidos. Devido ao financiamento no atacado, seus passivos eram líquidos. Corridas forçaram os intermediários financeiros a reduzir os empréstimos, com fortes efeitos adversos sobre o produto. ®® Foram utilizadas políticas financeiras, fiscais e monetárias. Elas não foram suficientes, no entanto, para evitar uma profunda recessão. Palavras-chave ®® agências de rating, 135 ®® American Recovery and Reinvestment Act, 138 ®® atividade bancária limitada, 128 ®® ativos tóxicos, 135 ®® aversão ao risco, 124 ®® corridas bancárias, 128 ®® credores hipotecários, 133 ®® debaixo d´água (underwater), 133 ®® depósitos sob demanda, 128 ®® finanças diretas, 125 ®® financiamento no atacado, 136 ®® garantia, 138 ®® hipotecas subprime, 133 ®® insolvência, 127 ®® liquidez, 129 ®® política monetária não convencional, 138 ®® preços de queima de estoque, 128 ®® prêmio de risco, 124 ®® programas de liquidez, 138 ®® provisão de liquidez, 129 ®® razão de alavancagem, 126 ®® razão de capital, 126 ®® securitização, 135 ®® seguro federal de depósito, 129 ®® shadow banking, 125 ®® taxa básica, 130 ®® taxa de empréstimo, 130 ®® taxa de juros nominais, 120 ®® taxa de juros reais, 120 ®® título garantido por créditos hipotecários (MBS), 135 Book_Blanchard 1.indb 140 24/10/17 17:17 Capítulo 6 Mercados financeiros II: o modelo IS-LM ampliado 141 ®® títulos de dívida colateralizada (CDO), 135 ®® títulos júnior, 135 ®® títulos sênior, 135 ®® Trouble Asset Relief Program (TARP), 138 ®® veículos de investimento estruturado (SIVs), 134 Questões e problemas Teste rápido 1. Utilizando as informações deste capítulo, diga se cada afirmação a seguir é verdadeira, falsa ou incerta. Explique brevemente. a. A taxa de juros nominal é medida em termos de bens; a taxa de juros real é medida em termos de moeda. b. Enquanto a inflação esperada permanecer pratica- mente constante, os movimentos da taxa de juros real serão praticamente iguais aos movimentos na taxa de juros nominal. c. A taxa de juros básica nominal estava no limite inferior zero nos Estados Unidos em 2013. d. Quando a inflação esperada sobe, a taxa de juros real cai. e. Todos os títulos têm o mesmo risco de inadimplên- cia, e, portanto, pagam as mesmas taxas de juros. f. A taxa de juros básica nominal é definida pelo Banco Central. g. Um aumento no índice de alavancagem de um banco tende a aumentar tanto seu lucro esperado quanto seu risco de falência. h. A taxa de empréstimo real e a taxa básica real sempre se movem na mesma direção. i. Pode ser difícil avaliar ativos de bancos e outros intermediários financeiros, particularmente em uma crise financeira. j. Quando um banco tem alta alavancagem e baixa liquidez deve vender ativos a preços de queima de estoque. k. Os bancos e outros intermediários financeiros possuem ativos que são menos líquidos do que seus passivos. l. Os preços dos imóveis residenciais aumentaram constantemente desde o ano 2000. m. O programa de estímulo fiscal adotado pelos Estados Unidos em resposta à crise financeira ajudou a compensar o declínio na demanda agre- gada e reduzir o tamanho da recessão. n. O programa de estímulo fiscal adotado pelos Estados Unidos incluiu um considerável aumento no déficit medido como percentual do PIB. 2. Calcule a taxa de juros real usando a fórmula exata e a fórmula aproximada para cada conjunto de pres- supostos listados nos itens a) a c). a. i = 4%; πe = 2%; b. i = 15%; πe = 11%; c. i = 54%; πe = 46%. 3. Preencha a tabela a seguir e responda às perguntas relacionadas com os dados nela contidos. S itu aç ão Taxa de juros básica nominal Inflação esperada Taxa de juros básica real Prêmio de risco Taxa de empréstimo nominal Taxa de empréstimo real A 3 0 0 B 4 2 1 C 0 2 4 D 2 6 3 E 0 –2 5 a. Quais situações correspondem à armadilha da liquidez definida no Capítulo 4? b. Quais situações correspondem ao caso em que o valor da taxa de juros básica nominal está no limite inferior zero? c. Qual situação tem o prêmio de risco mais alto? Quais são os dois fatores de risco nos mercados de títulos que acarretam um prêmio de risco positivo? d. Por que é tão importante, quando a taxa de juros básica nominal está no limite inferior zero, manter uma taxa de inflação esperada positiva? 4. Corridas
Compartilhar