Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Displasia de desenvolvimento do quadril Definição • Conjunto de anormalidades do quadril que podem ser de origem congênita ou desenvolver-se após o nascimento • A displasia implica em progressiva deformidade do qua- dril, no qual o fêmur proximal – o acetábulo e a cápsula articular – são defeituosos • A luxação da cabeça de fêmur poderá ocorrer no útero, ao nascimento ou após o nascimento Epidemiologia: • Incidência – 1 a 1,5: 100- nascidos • Fatores de risco (recém-nascidos): − Depende da população analisada (+ brancos e – ne- gros e asiáticos) − História familiar positiva − Oligodrâmnios / Macrossomia − Primeiro filho − Sexo feminino (relaxina) – 60% − Apresentação pélvica (agripino) – 16% (pior se for po- sição de joelhos) • Lado esquerdo 50% (forçado contra o sacro) − Bilateral – 25% − Mais raro é isolado à direita (pior prognóstico) • Mais comum em índios americanos (Navajos) • Associações: − Torcicolo congênito (15 – 20%) − Metatarso aduto (1,5 – 10%) − Oligodrâmnio − Luxação congênita dos joelhos − PTC sem relação significativa! Torcicolo congênito e metatarso aduto (varo) Classificação: 1. Teratológica → associado a outras desordens • Deformidades graves → acetábulo, cápsula e fêmur pro- ximal • Luxação antes do nascimento, com diminuição do arco do movimento e não redutíveis • Mielomeningocele, artrogripose, agenesia lombossacral e anomalias cromossômicas 2. Típica → crianças normais Desenvolvimento do quadril • Começa na 7ª semana de gestação • O acetábulo se desenvolve a partir da cabeça femoral • Já no nascimento o acetábulo é completamente for- mado por cartilagem e por labrum • O labrum atua na formação acetabular também e desse ser manipulado cuidadosamente no tratamento • O acetábulo assume sua forma definitiva por volta dos 8 anos de idade • O fêmur proximal se desenvolve em um padrão com- plexo e não tão bem esclarecido • A cabeça do fêmur ossifica por volta dos 4 a 7 meses Labrum é uma estrutura fibrocartilaginosa que reveste o acetábulo (onde o fêmur se encaixa). Tem diversas funções: aumentar a superfície de contato, absorção do impacto, lubrificação da articulação, etc. Etiologia • Multifatorial − Lassidão ligamentar − Excessiva anteversão femoral − Anteversão acetabular − Deficiência acetabular − Má posição intrauterina ou pós-natal − Hormonal − Predisposição racial Frouxidão ligamentar • Relaxina é presente na mulher (o que explica, em parte, a maior incidência do sexo feminino) • DDQ tem maior proporção de colágeno tipo II • O excesso de frouxidão da cápsula é o principal fator na falha de manter a cabeça congruente e, por conseguinte, desenvolver a DDQ • A cápsula tem papel mais importar que a estrutura óssea Obstáculos à redução: • Labrum evertido • Ligamento redondo • Ligamento transverso • Pulvinar hipertrofiado • Iliopsoas fazendo constrição capsular • Pós-natal → posição influencia, lembrar dos índios em hiperextensão (Navajos) Evolução: • A luxação pura ao nascer é rara • Ao nascer, o quadril é “luxável”, devido a frouxidão arti- cular associada a uma deflexão do quadril no momento do parto • O quadril luxável pode evoluir para uma luxação real, de- vido a posição em extensão • A displasia acetabular residual é comum na DDQ. Essa displasia dá um mal apoio para a cabeça femoral • Quanto maior o deslocamento, maior a incapacidade funcional • Instabilidade − Quadril está contido e reduzido, mas é instável − Luxável, em decorrência da frouxidão cápsulo-liga- mentar − Pode haver, ou não, displasia concomitante • 60% se estabilizam na primeira semana de vida • 88% se estabilizam até 2 meses de vida (sem TTO) • 10% tendem a evoluir para subluxação / luxação Diagnóstico clínico • Exame físico – rotineiramente – em todos os bebês, para identificar DDQ • Exame neo-natal: testes de Barlow e Ortolani Ortolani + → permite diagnóstico de DDQ, mas, quando negativa, não exclui o diagnóstico porquê alguns quadris são instáveis, porém não luxados A manobra provocativa de Barlow permite o diag- nóstico de instabilidade • Cerca de 88% das crianças com Barlow + evoluem satis- fatoriamente sem desenvolver DDQ • Examinar um quadril de cada vez “Quadril em risco” 1. Primiparidade 2. Cesária = parto pélvico 3. Gemelidade 4. Feto grande 5. Pés deformados A DDQ representa um espectro de anormalidade no desenvolvimento dessa articulação, que variam con- forme a idade do paciente e vão desde DEFEITOS AU- TOLIMITADOS até a LUXAÇÃO. Exame físico do recém-nascido: • “Cliques” no quadril, sons claros, altos e de longa dura- ção são comuns e benignos. Esses devem ser diferenci- ados dos “ressaltos”, sensação de que o quadril está sendo deslocado sobre a margem acetabular Manobra de Barlow: • Se a cabeça femoral estiver no acetábulo no momento do exame, o teste de Barlow descobre alguma instabili- dade do quadril • A deslocação é palpável, uma vez que a cabeça femoral “escapa” para fora do acetábulo • O diagnóstico é confirmado com o teste de Ortolani Manobra de Ortolani • Com o bebê relaxado e sobre uma superfície firme, qua- dril e joelhos devem ser flexionados em 90° • Os quadris devem ser examinados um de cada vez • O dedo do meio do examinador deve ir sobre o trocanter maior e deve-se levantar firmemente a cabeça do fêmur. Enquanto isso, firme e gentilmente, faça a abdução do membro para reduzir a cabeça femoral para o acetábulo • Se positivo, o examinador sente a redução por uma pal- pável e audível “clunck” • O sinal de Ortolani começa a desaparecer gradativa- mente após o 10° dia do nascimento, estando pratica- mente ausente após a 8ª semana. • A medida que o Sinal de Ortolani desaparece, vai apare- cente a RETRAÇÃO DOS ADUTORES, tornando-se evidente uma LIMITAÇÃO DA ABDUÇÃO DO QUADRIL. Exame em crianças > 3 meses • Limitação da abdução dos quadris • Encurtamento de um dos MMII (Galeazzi) • Assimetria de pregas cutâneas (30% dos bebês normais) Exame físico após o início da marcha • Claudicação Também evidenciado após a marcha, devido ao encurtamento produzido pela luxação. A claudicação na luxação bilateral denomina-se anserina • Sinal de Trendelemburg positivo O paciente apoiando-se sobre o membro luxado, a pelve tende a cair para o lado oposto, por insu- ficiência dos abdutores do quadril (glúteo médio) • Hiperlordose lombrar Principalmente em casos bilaterais Toda limitação da abdução é suspeita Ultrassografia dinâmica • Útil no auxílio da confirmação diagnóstica • O núcleo de ossificação da epífise femoral aparece dos 4 aos 6 meses. • A US dinâmica permite identificar o núcleo cartilaginoso • Indicações inquestionáveis da US em recém nascidos: − Nas crianças que estão em grupo de risco − Em recém-nascidos que estão em tratamento • Só pode ser utilizada até os 6 meses • Necessita-se de um radiologista experiente • É necessário fazer a ultrassonografia concomitamente com o teste de Barlow e Ortolani Método de Graf • Avalia a angulação formada pelas estruturas sonográficas • Linha de base Linha passando pelo ílio e pelo centro da CF • Linha de inclinação: Linha ao longo da margem cartilaginosa do ace- tábulo • Linha do teto acetabular: Linha ao longo do teto acetabular Classificação Ângulo α Ângulo β Descrição 1 > 60° < 55° Normal 2a 50° a 60° 55 a 77° Imaturo (< 3 meses) 2b > 50° a 60° 55 a 77° ≥ 3 meses 2c 43° a 49° > 77° Deficiência acetabular 2d 43° a 49° > 77° Labrum evertido 3 < 43° > 77° Labrum evertido 4 Imensurável Imensurável Deslocado Ecogenicicade: • Cartilagem hialina quadril → hipoecoica • Cápsula e musculatura → hipoecoica • Fibrocartilagem labral → hiperecoica Exame radiográfico • Poucas informações do RN → estruturas cartilaginosas • Exame negativonão afasta possibilidade DDQ • A indicação da radiografia é principalmente após o apa- recimento do núcleo de ossificação da cabeça femoral, entre o 4° e 6° mês de vida • Radiografia da bacia em AP e posição de rã • Sinais radiográfico importante: − Deslocamento para fora e para cima da cabeça fe- moral cartilaginosa e desenvolvimento do acetábulo − Hipoplasia do núcleo de ossificação da cabeça femoral Parâmetros a serem avaliados: • Linha horizontal de Hilgenrainer: através da cartilagem trirradiada • Linha vertical de Ombrédane ou linha Perkins: bordo la- teral do teto do acetábulo e forma 4 quadrantes com a linha de Hilgenrainer − Normal → quadrante ínfero-medial − Luxado → quadrante súpero-lateral • Um ângulo alfa menor indica um acetábulo mais raso. • Um ângulo beta menor indica uma cartilagem aceta- bular melhor • A medida que a cabeça do fêmur é luxada, o ângulo alfa diminui e o ângulo beta aumenta • Ângulo acetabular − Formado entre a linha de Hilgenrainer e o bordo mais ossificado do teto do acetábulo − Normal: até 30° • Linha ou arco de Shenton: − Entre o bordo interno do colo do fêmur e o bordo superior do forame obturador − Contínuo no quadril normal e interrompido no quadril luxado Princípios do tratamento • Recentrar a cabeça femoral • Reduzir sem necrose avascular • Diagnosticar e prevenir • Conseguir um acetábulo normal • Estabilizar precocemente • Acompanhar Tratamento conservador: Aparelhos ortopédicos • Iniciar o mais precoce possível • Redução obtida com facilidade no RN até os 6 meses de vida • Posição humana – flexão: 100 a 110°, com abdução de 45° (uma abdução maior pode causar necrose avascular por compressão dos vasos reticulares • Uso de aparelhos gessados Falha do uso da órtese: redução incruenta sob anestesia e aparelho pelvi-podálico na “posição humana” Artrografia ou CT para verificar estabilidade da re- dução • Suspensório de Pavlik De 0 a 1 mês → de 3,6 meses de uso De 1 a 3 meses - 7 meses de uso Contraindicado em casos de: Desequilíbrio mus- cular (casos de paralisia cerebral ou mielomenin- gocele), Frouxidão ligamentar (Ehlers-Danlos), Ri- gidez muscular (artrogripose). Tratamento cirúrgico • Objetivo: reduzir a cabeça femoral ao acetábulo através de tração contínua, cutânea ou transesquelética, asso- ciada ou não a tenotomia doa adutores (3 a 4 semanas com controle radiográfico) Cirurgia de partes moles • Tenotomia dos adutores: é a secção dos músculos adu- tores da coxa, retraídos na luxação e dificultam a redu- ção incruenta Tríade de Putti (“Tríade maldita”) • Cabeça femoral hipoplásica • Sinal de Waldestron (aumento da distância entra a cabeça e o sinal da lágrima – tearsdrop) • Acetábulo raso • Cirurgia de Sommerville: é a ressecção do limbus que se encontra interposto entre a cabeça e a cavidade aceta- bular Cirurgia óssea • Operação de Salter: osteotomia do ilíaco para aumentar a profundidade da cavidade acetabular. São as denomi- nadas acetabuloplastias ou tetoplastias. • Osteotomia de variação ou derrotação do fêmur: quando o fêmur que é, o muito valgizado ou antevertido, realiza- mos as osteotomias corretivas, com a finalidade de cen- trar a melhor cabeça do fêmur no acetábulo.
Compartilhar