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Falacias.kk

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Aprendendo 
Logica 
Vicente Keller 
Cleverson L. Bastos 
EDITORA 
VOZES 11 EDIÇÃO 
A E 
O 
Urma das maiores dificuldades 
que o professor de filosofia encontra 
na sua atividade magistral é conse 
MUir ds aluiKDS COnCacnacO SC 
qüência, ordem no discurso falado e 
scrito. Qualquer sistema ou doutri- 
na lilosóficos, nan obstante a diver 
Siclade e o pluralismo de suas posi 
es, sempre procura uma coerência 
nterna para sC caracterizar como 
episteme, ou, em outras palavras, 
deve ter uma lógica interna. 
A história da lógica acompanha 
Oxo a arco do desenvolvimento do 
ensamento ocidental, Considerada 
come "orgão (na tradição aristote 
lica), ou identificada como a própria 
filosofia (Hegel), Ou ligando-se a 
matemática (lógica simbólica). 
A obra dos professores Clever 
SOne V icente, apaixenados estudio- 
SOsde Filosofia e mestres em Didá- 
iea, responde ao duplo desafio que
CNO da logIca reqUcr cicmtitic 
dade c, ao mesmo tempo, boa expe
encia didática, evitando as elucu 
braçoes e sofisticação denasiacda de
tantos textos de lógica. 
Recomendamos a obra a todos 
S Cstudantes de Filosolia c a todos 
Os universitários. Ela é úil e im-
portantc para alcancar, além da 
Iécnica tfpica das regras 16gicas, 
uma coerência e disciplina mental, 
indispensáveis para qualquer traba- 
lho sério de pesquisa c aperfeiço- 
ncndo interior. Muitas discussões 
inúteis seriam evitadas se houvesse 
um mínimo entendimento sobre 
tcrmos, palavras envolvidas nas 
Capitulo III 
MEIOS DE CONVENCIMENTOD 
iariamente, através dos meios de comunicação, principal- 
mente, são veiculadas as mais diversas informaçocs. Algu 
mas derntre elas podem ser resgatadas para servir de introdução ao 
que se passa a tratar agora. 
Em 1988, não foi uma nem duas vezes, noticiou-se 
a presença 
de Urutus nas ruas e portas de fabricas. Personagens 
da vida pú- 
blica brasileira fizeram alusão ao possivel uso de tal 
meio de con- 
venciento 
Durante a greve dos professores no Paraná (ago. 1988), 
o g0 
verno estadual distribui nota à imprensa, a guisa 
de esclarecimen-
to, divulgando os "ganhos e 
aumentos salariais" concedidos aos 
professores, ao mesmo tempe em que 
convocava a população para 
Cxigir o retorno às aulas. 
Indices de estatistica são freqüentemente 
utilizados com a fi- 
nalidade de se alterar a legislação. Como exemplo,
o fato de que se 
Comete, no Brasil, anualmente, um 
certo número de abortos clan- 
destinos, legitimaria a moção para a sua legalização. 
Há alguns anos atrás, no polêmico julgamento 
de Raul "Doca" 
Street, o advogado de defesa, em 
nome da "legítima defesa da 
honra, ataca a Vida mOral da vitima, que 
por sinal não podia mais 
se defender; ou, em delito semelhante, 
a defesa apela para a psico- 
grafia de Chico Xavier para 
inocentar o réu. 
Quando dos debates sobre o 
mandato de governo e o regime, 
I1 onstituinte, muito se 
ouviu falar que aqueles que não concor- 
davam com seis ou cinco anos, que 
não concordavam porque, na 
23 
verdade, tratava-se de uma perseguição pessoal, sem outro lunda- mento que não o da subversão da ordem; ou ainda valia-se de tal 
impasse para justificar as açoes ineficientes do governo na solução do grande problema social. 
No dia 27 de março de 1989, ano da elcição presidencial, ao 
fazer um comentário ofical sobre as dificuldades do Plano Verão, 
perante um indice de intlação superior a 6% (seis por cento), o 
porta-voz da presidencia faz a seguinte advertência, mais ou me 
nos nesses termos: "uma hiperinflação amcaça as instituições c 
pOe em I1sco 0 processO de trasiçao democrática. a ponto de se 
ter que adiar as eleiçoes presidenciais 
Existem diversas maneiras de se convencer alguém. Tais mo0- 
dos de "convencimento" em uma linguagcm mais técnica, são 
chamados de argumentos, dentre os quais alguns são corretos ou 
legitimOs e outrOS sao incorretos Ou ilegitimos. Os meios de con- 
Vencimento citados nos paragralos antersores pertencenm à catego- 
Ta dos Incorretos e principalmente ilegitimos, porque fazcm 
a in- 
Icligencia "titubear Tais arguincntos tem como raiz ctimológica 
a palavra sfalo (do grego) c fallere (do latim), que dão origem 
ao 
lermo falacia 
Sofismas ou lalácias são raciocinios que pretendem 
de- 
monstr ar com0 verdadeiros os argumentos 
que logicamente são 
Alsos. Sua efici
ncia consiste 
em transferir a argumentação do 
plano lógico para o psicológico 
ou lingüistico, servindo-se da 
lImgungem, que pode ser usada 
tanto de um modo expressivo 
como dle modo informativo, 
visando assim despertar emoçoes 
e 
SCnlimentos que dão Anu
nei 
a uma conclusao, mas 
não con- 
Vencem logica11ente. 
3.1. Tipos de sofismas 
güistico c outro 
psicológico. Convém 
lembrar que muitas delas 
Tecebeam nomes 
latin0s, que são 
mantidos por fazerem parte, 
tra- 
dicionalmente, da linguagem lógica. 
As lalácias podem ser 
reunidas em dois grandes 
grupos, um 
3.1.1 Grupo Psicológico: está relacionado com a uransferência 
para o plano psicologico. 
Conclusão irrelevante (Ignoratio elenchi) quando se con 
duz a argumentacao para uma coclusao, intenc1Onalmente ou 
1não, que não é garantida pelas consideraçoes emquestão. Conclui 
algo que não tem nada a ver com o contexto em questão. sto se 
dá por inteligencia confusa, ou com prévia intenção de confundir o 
interloCutor Exemplos de lal argumentaçao podeim ser encontra 
dos nas justificativas politicas quce se dão em prol de um progresso 
uturo ncerto, para obras públicas, em detrimento de questoes 
emergenciais como: alimentaÇao escolar, ensino publico, ateridi 
inento à saude, habitaçao. 
H 
Outra situação que ilustra este tipo de falácia éa que pode ser 
utilizada para incriminar alguem, tratando-se demoradamentc do 
horror do deio semm considerT OS atenuantes c as eXCeçoes que 
1OSsa haver e1 determinadoS Casos 
Petição de principio (Petilio Principii Quando se presSu- 
põe como certo o que se deveria ter demonstrado, ou sea, a con 
clusao a que leva um raciocInro c Cxtrada de um ponto de partida, 
Sendo que o quc se cquer prOvar c exatamente a veracidade deste 
Onto de partida. stc tpo de alacia e encomtrado treqüentemente 
a filosofia, mas 11ão deixa de fazer parte da vida cotidiana, como0 
quando 0 adulto, talveZ cmbaraçado diante da pergunta de uma 
Criança, dá de antemao como certo aquilo mesmo sobre o que a 
Criança pede explieaçao Excmplo: A cegonha existe? Ora, se 
Hao existisse voce nao estaria aqu 
Na filosofia pode ser lembrada a explicação que Rousseau 
presenta para a origemn da socicdade. Segundo ele, a sociedade 
Cxiste cm virtudc de um contrato social, de onde surgem os deve 
res sociais. A petição está no fato de se pressupor a existêneia de 
al contrato que gera obrigaçaO, Sem demonstrar a coligação de 
homens que ainda nao VIViam cm socicdadee como o contrato po-
deria gerar devercs, sc antes não havia a obrigação de 
respeita-los. 
Circulo viciosoNeste caso ambos, o ponto de partida e a 
conclusäo, carecem de demonstração. Um é demonstrado 
pclo ou- 
Iro, formando assim um circulo. Um cxemplo desta faláciä é cn-
contrado na cxplicação: a inflação, aumento generalizado de 
pre 
ços, corrói o poder aquisitivo dos salários, que precisam 
ser au-
Imentados. Este aumento de salários, por sua vez, gera a necessida- 
de de se elevar os preços dos produtos (caracteristica da inflação) 
para o pagamento doS Imesmos salários. 
Falsa causa (Non causa pro causa post hoc ergo propter 
hoc)-Consiste no sofisma de atribuir a um fenômeno uma falsa 
causa ou concluir como scndo causa dele aquilo que somente o an-
tecedeu. Muitas yCzes a falsa causa está relacionada com fatores 
ideológicos ou miticos integrados à cultura, criando relações arti- 
ficiais e não naturais, 0 que se pode ch1amar de pensaIiento supcrs- 
ticioso, espelho quebrado causa sete anos de azar; 0 pipilar de uma 
Coruja Sobre a Soleira da casa c presSagio d morte, lazer 
uma 
"Simpatia" é garantir a rcalização de um desej0, Cruzar com umgato preto ou passar.debaixo de escadas da azar. 
Por outro lado, não é erro incomum atribuir causalidade aqul- 
lo que é mera sucessäo, tal como juistiticar o caoS politico e 
econ0- 
mico do pais com o argumento que afirma que isto passou a acon- 
tecer porque os Sindicatos se organizaram, promovendo 
greveS, 
passeatas, distürbios; ou, simplesmente, tomar um 
determinado 
cha, durante tantos dias, cura o resfriado; ou ainda 
que a AIDS é 
fruto da liberalização sexual e correspondente decadencia dos va- 
lores, Nos trés casos, ao verificar que um determinado fato 
se dáá 
após outro, conclui-se que o primeiro é causa do 
segundo, sem ou- 
tro apo10 que nao a mera sucessao. 
Causa coumQuando dois acontecinmentos 
relacionados 
entre si são tomados um como causa do outro, sem 
considerar quee 
ambos São causados por um terceiro. E comum a afirmação 
de quue 
OS programas de televIsão caIsam 
a clccadenCia moral da socieda- 
de, semm levar e11n conta quc tanto 
a programaçäo como 0s proprios 
valores Imorais São LrutOS de outros fatores, tais 
como ideias filosú- 
Ticas, disputa de poder, interesses 
econöimico-politicos, que não 
São consideralos, vendo-se a decadeI1cia 
co1110 a causa da progra 
maçaoOu que a programação é causa 
da degradação moral. 
-Generalização apressada (enumeração 
imperfeita ou indu-
ção viciosa) acontece quando 
se atribui ao todo o que é própriode 
uma parte. Verifica-se quando, a partir de 
uma obsCrvaçãosobre umn 
caso tipico, esta passa a scr estendida a 
casos atipicos. E o caso em 
que a exceção considera-se 
como regra. Exemplo disto encontra-se
COmumnente noS preconceitos, em que o comportamento
exceptivo
26 
deste ou daquele individuo torna-se a regra discriminatória de todo 
ogrupo ou classe a que ele pertence. Com base nesta falácia são ri 
dicularizados, através de piadas, grupos como: negros, portugue-
ses, padres, sogras, médicOs... Porque um ou alguns fizeram ou 
cometeram este ou aquele ato, não se segue que os outros indiví- 
duos pertencentes a tal grupo ajam da mesma maneira. 
Acidente acontece quando se recorre a regras gerais, não 
levando em consideração as possíveis exceções às quais a regra 
não se aplicaria. Trata-se de atribuir a um caso particular regras 
gerais, não levando em conta circunstâncias acidentais, que tornam 
a regra inaplicável. Incorre-se neste erro quando se julga ou tenta-se 
prever O comportamcnto de um indivídu0 com base no comporta-
1mento que a maioria teve a dada situação. Assim basta lembrar as 
normas gerais: não matar; não furtar. Há casos, em circunstâncias 
especiais, em que tais regras não se aplicam ou até mesmo exigerm 
uma regra contrária. 
Contra o homem (Ad hominem). Utilizado para refutar uma 
posição ou afirmação de alguém. A estratégia, 
neste caso, consiste 
cm atacar diretamente a pessoa em questão ou atacá-la pela cir- 
cunstância especial em que cla se encontra. Constitui-se 
como fa- 
lácia porque a verdade ou a 
falsidade de uma posição ou afirma 
ção independe do caráter ou situação circunstancial 
de uma pes- 
soa. Este meio de convencimento é encontrado, de modo evidente, 
em campanhas eleitorais, onde, ao invés de 
demonstrar a inviabi- 
lidade das propostas ou projetos dos opositores, parte-se 
para ata- 
ques pessoais, visando destruir a imagem do 
outro candidato, fazen- 
do levantamento a cerca de seu comportamento
"irregular Exem- 
plo: quando se inviabiliza a candidatura de 
alguém, apoiando-se no 
Tato de cstar com idade avançada ou 
ter saúde precária, está-se co- 
metendo o argumento contra o 
homem chamado circunstancial, 
porquc visa a situação e não 
diretamente a pessoa dele. Por outro 
lado, quando a pessoa em questão é 
chamada de "múmia" ou "ve 
lho gagá então tem-se o 
argumento contra o homem, ofensivo, 
Dorguc neste caso, o homem 
fo1 atingido diretamente 
Recurso à força (Ad baculum) 
- Incorre nesta falácia quem 
Usa de força ou, sutilmente,
recorre.àameaça do uso da força na 
tenativa de convencer a alguém. 
Em uma negociação salarial, 
porI 
CxOmplo, o patrão pode 
lembrar sutilmente que 
existem muitas 
pessoas desempregadas, que trabalhariam de bom grado por tal sa lário; ou ainda o professor que diante de uma situação dificil lem- bra a data da prova. Em linguagem mais clara, trata-se da "lei do velho oeste ganha quem saca primeiro. 
-Apelo à ignorância (Ad ignorantiam). Baseia-se na suposi- ção de quue uma tese é verdadeira ou falsa, porque ainda não se de- 
monstrou claramente a sua contrária. Na jurisprudência, existe o beneficio da dúvida, que garante a inocência de um réu até prova 
em contrário. Tal princípio é legítimo porque fundamenta-se nos 
direitos humanos e não puramente em questões lógicas, constitu- 
indo assim uma exceção. Além do que, em certas circunstâncias, é 
razoável supor que a ignorância acerca de um fato, que por uma 
investigação rigorosa poderia se descobrir e se mantém ignorado, 
seria considerado como prova em seu favor. No entanto, é falacio- 
so ou sofistico usar da ignorância do outro para sustentar uma tese 
como, por exempo, atirmar que:"Como não há conhecimento e 
registro de transmissão de AlDS em consultório dentário,se con- 
clui que não há perigo de contaminação, pois embora a saliva con 
tenha vírus, sua concentração é baixa, o que não representa peri-
go" (declaração efetuada por ocasião de um Congresso de Odon-
tologia, em 1989). 
Apelo à piedade (Ad misericordiam)-6 a utilização de 
chantagem emocional, nem sempre claramente perceptível, para 
forçar a adesão de alguém a certo ponto. E induzir à compaixão 
para conseguir o intento que se pretende, dirigindo-se a um inter- 
locutor bem cspecifico. E a forma de convencimento favorito de 
alguns pais que para demover opiniðes ou atitudes dos filhos pro- 
curam, consciente ou inconscientemente, produzir neles um senti- 
mento de culpa em relação a tal opinião ou atitude, ao dizer: "pode 
viajar, não tem problema, talvez você não me encontre vivo quan- 
do voltar" 
Em um tribunal, o advogado de defesa pode apelar, por exem-
plo, para o fato de que os filhos do réu ficarão desprotegidos e 
abandonados caso ele seja condenado. Neste caso, além do apeclo à 
misericórdia, incorre-se na falácia de elenco irrelevante, pois o as-
sunto em foco é deixado de lado, uma vez que se passa a tratar dos 
sentimentos que se seguiräo á sentença. 
28 
- Populismo (Ad populum)- enquanto o apelo à piedade visa um interlocutor em específico, a falácia do populismo tenta atingir a massa. Busca conseguir a concordância da multidão para o que intenta, valendo-se de outras falácias como o elenco irrelevante, falsa causa, apelo à piedade, causa comum... principalmente jo- gando com a vaidade, sentimentos de patriotismo (ou bairrismo), auto-estima, status. 
Basta lembrar o resultados de pesquisas divulgadas por parti dos em vésperas de elciçõcs, que têm a firme intenção de angariar a simpatia da multidão para um candidato determinado, ou então 
as campanhas publicitárias que tentam convencer o consumidor 
sobre as qualidades deste ou daquele produto através de associa- 
ção psicológica com as cores nacionais, liberdade, status, esnobis- 
mo e outros subterfügios. 
Apelo à autoridade (Ad verecundiam)- E critério válido 
para sustentar uma posição apelar para o testemunho de alguém, 
que se constitui como autoridade reconhecida no específico cam- 
po do conhecimento a que tal posição se refere. No entanto, va- 
lcr-se do testemunho de outrem, reconhecida autoridade em um 
determinado campo do saber, pelo simples fato de ser uma autori- 
dade, para apoiar posições que estão fora de sua especialização, é 
cometer a falácia do recurso à autoridade. 
E"nomal encontrar comerciais cmque artistas ou desportis- 
tas garantem as propricdades fabulosas do produto em questão, 
Valendo-se de sua imagem. O mesmo ocorre em muitas outraS 
ocasioes, debates em programas de televisã0, onde os participan-
les são jornalistas, artistas, donas-de-casa,políticos, que apresen- 
lam soluções nos mais diversos campos da ciência como: medici- 
a, psicologia, sociologia.. 
Pergunta complexa-Pela combinação de duas ou mais per- 
guntas em uma só, procura-se confundir o interlocutor, que, des- 
prevenido, se apressa em responder rapidamente, sem se aperce- 
ber que, em verdade, tal pergunta admite duas respostas distintas, 
quc não podem ser resolvidas com um simples "sim" ou "não". 
Um homem, por exemplo, acusado de roubo, é inquirido insisten-
temente por um repórter: ""Você está arrependido do que fez?" Di- 
ntc da insistência do repórter, 0 acusado acaba por responder 
sim, dando ocasião para que o repórter complemente: "então 
bei 
você confessa que cometeu o roubo!" Em uma situação como a se- 
melhante, nem sempre é perceptível a intenção maliciosa de quem 
faz a pergunta. A formulação da pergunta já pressupunha a confis- 
são do acusado, e, portanto, qualquer resposta direta através de 
um "sim" ou um "'não" só faria confirmar o que aprópria pergunta 
induzia como resposta. No caso, se o acusado respondesse com 
um "não", a conclusão seria: "Então quer dizer que você não ad 
mite o delito e nem ao menos se arrepende?" 
A formulação de questões em forma de pergunta complexa 
não é utilizada somente por repórteres, mas tambémé uma estrat�- 
gia comum de promotores e advogados de defesa, que não medem 
esforços para induzir seus interlocutores a dizer aquilo que cles 
querem que seja dito. 
3.1.2. Grupo lingiüistico: trata-se da transferência do plano lógico para 
o plano das funçoes dialógicas da linguagem. Lembra Edward Lo-
pes, em sua obra Fundamentos da lingüística contemporânea, que 
na comunicação entram fatores segundo Jacobson, seis -que po- 
dem servir para transmitir um conteúdo intelectual, exprimir ou 
ocultar emoçõcs e desejos, para hostilizar ou atrair pessoas, incenti- 
var ou inibir contatos e ainda para, simplesmente, evitar o silêncio. 
Resulta daí quc a atribuição de sentido a uma mensagem depende 
de saber previamente para qual dos fatores ou fiunções ela se desti- 
na. O que constitui sofisma ou falácia é o servir-se erroneamente 
destas funções para o convencimento de alguem. 
-Equivoco-Trata-se da utilização de uma mesma palavra, que 
tem sentidos totalmente diferentes para coisas diferentes. Em lingua- 
gem lógica, a palavra chama-se "termo oral", o que quer dizer: 
a) Termo Indica o fim de um processo. O processo de apreender 
mentalmente alguma coisa. Não basta ter imagens mentais acer 
ca das coisas, é necessário poder expressar esta representação 
aos outrOS. 
b) Oral -A expressão se dá, por convenção, através de signos lin- 
güisticos, que se manifestam oralmente, falando. Por isto, em 
lógica, chama-se termo oral ou escrito a expressão dos concei- 
tos que rcpresentam intelectualmente as coisas. 
O equívoco consiste em utilizar-se de um termmo que, por ser 
polivalente, pode provocar no ouvinte, intencionalmente, uma re- 
30 
presentação mental diversa, levando-o a concluir falsamente. Alguém 
poderá tentar convencer a outrem da seguinte verdade: Um prisio 
neiro não pode agir contra a lei, porque, pelo fato de já ser prisio- 
neiro, cle não tem liberdade; e quem é privado de liberdade é justa- 
mente aquele que não pode agir. 
Na expressão desta verdade, existem os seguintes termos 
equivocos: liberdade, tomada na acepção fisica e jurídica; ação, 
tomada nas acepções fisica e juridica. 
Anfibologia- Trata-se não mais de termos aplicáveis a con- 
textos diferentes, mas de frases ou proposições, que, por terem 
construção gramatical ambigua, induzem a uma interpretação er 
rônea. Em.outros termos, trata-se de um jogo de palavras que dá a 
falsa impressão de cstar no contexto correto. 
O oráculo de Delfos é famoso pelas respostas apresentadasa 
quem o consultava: Sjyphnos era uma ilha grega bastante próspera, 
graças às suas minas de ouro e prata. Quando uma delegação desta 
ilha consulta o oráculo a respeito da duração de sua prosperidade, 
é advertida: "Desconfiai da coorte de madeira e do arauto verme- 
lho..." Alguns mescs depois, a ilha é visitada por uma frota sauria
na (coorte de madeira). Os navios estão pintados de vermelho. O 
comandante vai atéa terra (arauto vermelho), cm busca de um em 
préstimo, que, por desconfiança, Ihe é negado. Diante da negativa, 
a ilha é saqueada. A interpretação dos ilhéus foi errônea porque, 
temendo o "calote", acabaram por ser saqueados. 
O rei Creso, antes de atacar Ciro (Tei da Pérsia), por sua vez, 
recebe a seguinte resposta: "Se Creso declarar guerra à Pérsia, 
verá a destruição de um grande cxército... Creso declara a guerra 
cé vencido. Ao queixar-se ao oráculo, Creso obtém a seguinte ex- 
plicação: o grande exército que seria destruído era o seu. 
Enfase Dentre as funções dialógicas da linguagem, as que 
interessam à lógica são: função referencial, cmotiva e conativa. A 
função referencial diz respeito à mensagem que se rcfere a um 
contexto, transmitindo um significado e fazendo surgir idéias e 
conceitos no interlocutor. Por outro lado, a mesma mensagem 
pode ser usada para acentuar o estado emocional de quem fala ou 
intimidar ou inibir o outro. 
31 
Ao se usar a linguagem com intenções emocionais, ela passa a 
ter função conotativa ou emotiva e, ao ser usada coma intenção de 
coibir, ela tem função conativa ou encantatória. 
Ao utilizar-se da linguagem, algu�m poderá fazê-lo de três 
maneiras diferentes: uma mensagem pode ser usada para simples- 
mente veicular um contexto, que para ser entendido pressupõe so- 
mente a competência lingüística dos membros falantes. No entan- 
to, a mesma mensagem pode ser acentuada em alguma ou algumas 
de suas palavras para produzir no receptor uma compreensão so- 
bre o estado psicológico de quem fala (cmissor), que deste modo 
tenta angariar a anuência dos outros para o seu objetivo. A palavra 
ou palavras acentuadas visam intimidar sutilmcnte o receptor, à 
semelhança do argumento ad baculum. 
Composição- Trata-se de um conflito verbal entre as pro- 
priedades de classes diferentes, que podem ser atribuídas sucessi- 
vamente e não simultancamente. gnorar tal distinção é cometer a 
falácia de composição. A falácia é cometida, por exemplo, ao se 
atribuir ao todo e às partes propriedades simultâneas. O fato de a 
fotografia das cenas de um filme ser perfcita não autoriza classifi-
car todo o filme como perfeito. No entanto, embora exista o todoe 
lhe falte uma seqiüência inteligivel, a atribuição de perfeito valeria 
as partes e ao todo sucessivamente, mas não simultancamente. 
Divisão-Eoprocesso inverso da composição. Trata-se de 
atribuir a uma classe dois predicados que Ihe cabem simultanea 
mente, mas não sucessivamente. Por exemplo, ao afirmar que os 
homens estão desaparecendo porque os índios estão desaparecen- 
do e são homens, comete-se a falácia de divisão, pois os predica 
dos índios e homens são simultâneos e não sucessivos. 
EXERCÍCIOS 
IDENTIFICAR E EXPLICAR OS SOFISMAS: 
1. Qucem é livre não pode se sujeitar a nenhuma autoridade. 
Como o homem pode ser definido por sua liberdade... 
2. Górgias (483-375 aC), na sua obra Sobre o não ser, nega a 
realidade das coisas. Resumidamente: 
a. Nada existe, 
32 
b. se existisse algo, não poderíamos conhecer; 
C. Se pudéssemos conhecer, não poderíamos comunicá-lo a 
outrem. 
Demonstra da seguinte maneira: 
a. Nada existe se algo existe, ou é ser ou não ser ou os dois 
juntos. Que o não ser não existe é evidente. Que o ser existe: se 
existe é eterno, criado ou ambas as coisas. Se é eterno, � infinito e, 
se infinito, não está em nenhum lugar; se em nenhum lugar, não 
existe. Criado também não pode ser, pois para isto seria necessário 
que o fosse do ser ou do não ser. Do não ser não pode vir, poiso 
não ser não pode gerar. Do ser também não, pois o que já existe 
não precisa ser gerado. Portanto, nada existe. 
b. Se existisse alguma coisa, não poderia ser conhecida -o 
mundo real não é o que a razão pensa dele. Coma razão, pode-se 
pensar o que existe ou o que não existe (o real ou a fantasia). Pode 
ser que tudo o que se pensa não passe de fantasia, imaginação. 
Conclui-se que o ser não é pensável... 
c. Se fosse possivel conhecer, não seria possivel comunicá-lo 
a outros-como se comunica a outros o que se conhece? Pela lin- 
guagem. Eo que é a linguagem? Um simnples ruído. Então, como 
se pode fazer do ruido um meio para conhecer o que não éruído? 
Assim como o visivel não pode tornar-se audivel e vice-versa, as- 
sim o ser, pois que subsiste fora (da razão), não pode 
transfor-
mar-se em palavras. 
3. Zenão de Eléia (504-460 aC). Argumentação contra a per- 
cepção dos sentidos: Se se derrama um saco de trigo no chão, 
ouve-se um ruído; mas se se joga um só grão, não se percebe ruído 
algum. Ora, se um grão não produz ruído, 
dois também não produ- 
zirão, nem 10, nem 1000 grãos. Se se percebe o ruído, isto é ape- 
nas um engano dos sentidosS. 
4. Identificar todas as falácias do texto 
extraído de Sidney 
Sheldon. A ira dos anjos. São Paulo, Nova Cultural, 1988, p. 
187-191. 
Numa manhã de quarta-feira, no inicio de agosto, come- 
çou o julgamento de "Connie 
Garret x Nationwide Mo- 
tors Corporation. Normalmente, o julgamento 
merece 
ria apenas um ou dois parágrafos nos jornais. Mas, 
como 
33 
Jennifer Parker estava representando a querelante, os 
meios de comunicação compareceram em peso. 
Patrick Maguire sentou à mesa da defesa, cercado por 
um batalhão de assistentes vestidos em ternos cinza 
conservadores. 
Oprocesso da escolha do júri começou. Maguire estava 
quase indiferente, pois sabia que Connie Garrett não ia 
comparecer ao tribunal. A presença de uma linda jo- 
vem, sem pernas nem braços, seria uma alavanca pode- 
rosa com que arrancar uma vultosa quantia de um júri... 
mas não haveria a jovem e não haveria a alavanca. 
Desta vez", pensou Maguire, "Jennifer Parker foi mais 
esperta do que ela própria'". 
Ojúri foi finalmente selecionadoeojulgamento come-
çou. Patrick Maguire fez a sua declaração de abertura, e 
Jennifer não pôde deixar de reconhecer que ele real 
mente era muito bom. Discorreu longamente sobre a di- 
ficil situação da pobre Connie Garrett, falando todas as 
coisas que Jennifer planejara dizer e privando-a assim 
de toda a sua carga emocional. Comentou o acidente, 
ressaltando que Connie Garrett escorregara no0 gelo e 
que o motorista do caminhão não tivera qualquer culpa. 
A querelante está pedindo, senhoras e senhores do júri, 
uma indenização de cinco milhöes dólares.Maguire 
sacudiu a cabeça, com uma expressão de incredulidade. 
-Cinco milhões de dólares! Já viram tanto dinheiro as 
sim? Eu nunca vi. Minha firma representa alguns clien- 
tes abastados, mas quero Ihes dizer que em todos os 
meus anos de exercicio da advocacia nunca vi um mi- 
lhão de dólares... ou sequer meio milhão de dólares 
Pelas expressões dos jurados, Maguire podia perceber 
que eles também nunca tinham visto. 
- A defesa vai apresentar testemunhas para Ihes contar 
como o acidente aconteceu. E foi de fato um acidente. 
Antes de terminar o julgamento, vamos provar que a 
Nationwide Motors não teve absolutamente qualquer 
responsabilidade. Já devem ter notado que a pessoa que 
está movendo a ação, Connie Garrett, não está no tribu- 
nal hoje. A sua advogada informou ao Juiz Silverman 
34 
que a querelante não irá comparecer. Connie Garrett 
não está neste tribunal hoje, como deveria estar, mas 
posso lhes dizer onde se encontra. Neste momento, en- 
quanto estou de péaqui a lhes falar, Connie Garrett está 
sentada em sua casa a contar o dinheiro que acha que 
vão lhe proporcionar. Está esperando que o telefone to- 
que e sua advogada lhe diga quantos milhões de dólares 
conseguiu arrancar de vocês. 
"Vocês e eu sabemos per feitamente que, sempre que 
ocorre um acidente, e há uma grande corporação envol- 
vida, mesmo que indiretamente... há pessoas que logo 
vão dizer: Ora, a companhia é rica. Pode se dar ao luxo 
de pagar. Vamos arrancar tudo o que pudermos" 
Patrick Maguire fez uma pausa. 
Connie Garrett não está neste tribunal hoje porque 
não pode encará-los. Ela sabe que o que está tentando 
tazer e imoral. Pois vamos fazer com que sua advogada 
saia daqui com as mãos vazias, como uma lição para 
outras pessoas que possam sentir-se tentadas a fazer a 
mesma coisa no futuro, Uma pessoa tem de assumir a 
responsabilidade por suas próprias ações. Se escorregar 
em um pouco de gelo na rua, não se pode culpar o ir 
mão rico por isso. E não se deve tentar lesá-lo em cinco 
milhões de dólares. Obrigado. 
Ele virou-se e fez uma ligeira mesura para Jennifer, en- 
caminhando-se depois para a mesa da defesa e sentan- 
do-se. 
Jennifer se levantou e aproximou-se do júri. Exami- 
nou o rosto de cada um, tentando avaliar a impressão 
causada por Patrick Maguire. 
-Meu estimado colega Ihes disse que Connie Gar 
rett não comparecerá ao tribunal durante este julgamen- 
to. Isso é correto. -Jennifer apontou para um lugar va- 
zio na mesa da querelante, - E ali que Connie Garrett 
deveria estar sentada, se estivesse aqui. Mas não naque 
la cadeira. Numa cadeira de rodas especial. A cadeira 
em que ela vive. Connie Garrett não está neste tribunal, 
mas todos terão uma oportunidade de conhecê-la, como 
eu própria passei a conhecê-la. 
35 
Patrick Maguire franziu o rosto, perplexo. Inclinou-see
sussurrou para um de seus assistentes. Jennifer continu- 
ou a falar: 
Fiquei escutando Mr. Maguire falar tão eloqüente- 
mente e quero lhes dizer quue fiquei comovida. Fiquei 
constrangida porque essa corporação de bilhões de dó- 
lares está sendo implacavelmente atacada por uma jo 
vem de vinte e quatro anos que não tem braços nem per 
nas... uma jovem que, neste momento, está sentada emn 
sua casa aguardando gananciosamente o telefonema 
que lhe dirá que está rica. 
Jennifer baixou a voz:
Rica para fazer o que? Sair e comprar diamantes para 
as mãos que não possui? Comprar sapatos de baile para 
os pés que não possui? Comprar lindos vestidos que nun- 
ca poderá usar? Um Rolls Royce para levá-la às festas 
para as quais jamais será convidada? Pensem um pouco 
em toda a diversão que ela poderá ter com esse dinheiro. 
Jennifer falava calmamente, com uma sinceridade pro 
funda, os olhos deslocando-se lentamente pelos rostos 
dos jurados. 
Mr. Maguire nunca viu cinco milhões de dólares de 
uma só vez. Eu também não. Mas uma coisa posso di- 
zer: se oferecessem a qualquer um de vocês neste 
mo- 
mento cinco milhões de dólares, pedindo-lhes em troca 
apenas que deixassem cortar 
seus braços e pernas, não 
creio que cinco milhões de 
dólares fossem lhes parecer 
tanto dinheiro assim.. 
Jennifer fez uma pausa e depois explicou: 
A lei, nestes casos, é muito clara. Num julgamento 
an 
terior, que a querelante perdeu, 
os réus estavam consci- 
entes de que havia um 
defeito no sistema de freio de 
seus caminhões. Ocultaram 
esta informação da quere 
lante e do tribunal. Esta é a 
base para o novo julgamento 
que estamos agora 
realizando. De acordo com 
recente 
pesquisa do governo, 
os fatores que mais contribuem 
para acidentes 
de caminlhões 
envolvem as rodas e os 
pneus, os freios eo 
sistema de direção. Se examinarem 
estes dados por um 
momento... 
36 
Patrick Maguire estava avaliando o júri, algo em que 
era um perito. Enquanto Jennifer discorria sobre estatís- 
ticas, Maguire podia perccber que os jurados começa- 
vam a ficar entediados com o julgamento. Estava se tor- 
nando técnico demais. O julgamento não mais envolvia 
uma jovem aleijada, sem braços nem pernas. Era sobre 
caminhoes, distâncias seguras para se frear, tambores 
de freios defeituosos. Os jurados estavam perdendoo 
interesse 
Maguire olhou para Jennifer e pensou: "Ela não é tão 
esperta quanto diziam" Maguire sabia que, se estivesse 
do outro lado, defendendo Connie Garrett, ignoraria in- 
teiramente as estatísticas e problemas mecáânicos, con- 
centrando-se nas emoçõesdo júri. Jennifer Parker fize- 
ra exatamente o oposto. 
Patrick Maguire recostou-se na cadeira e relaxou. 
Jennifer estava se aproximando do juiz. 
Meritíssimo, coma permissão deste tribunal, eu gos- 
taria de introduzir uma prova. 
-Que espécie de prova?- perguntou o Juiz Silverman. 
Quandoo julgamento começou, prometi ao júri que iria 
conhecer Connie Garrett. Como não pôde comparecer 
pessoalmente a este tribunal, eu gostaria de ter permis- 
são para apresentar algumas imagens dela. 
O Juiz Silverman disse: 
Não vejo qualquer objeção. -E virou-se para Patrick 
Maguire. O advogado de defesa tem alguma objeção? 
Patrick Maguire levantou-se, avançando devagar, pen 
sando depressa. 
Que espécie de imagens? 
- Algumas imagens de Connie Garrett em casa. 
Patrick Maguire teria preferido que não fossem apre- 
sentadas fotografias. Mas, por outro lado, simples fotogra- 
fias de uma jovem aleijada, sentada numa cadeira de ro- 
das; eram certamente muito menos dramáticas que 
o seu 
comparecimento ein pessoa. E havia outro fator a consi- 
derar: se ele objetasse, a reação do júri seria desfavorável. 
37 
E ele disse, generosamente: 
-Não tenho qualquer objeção. Pode mostrar. - Obrigada.
Jennifer virou-se para Dan Martin e acenou com a cabe- ça. Dois homens no último banco dos espectadores avançaram com uma tela portátil e um projetor de cine-ma, começando a montá-los. 
Patrick Maguire tornou a se levantar, surpreso. 
Ei, espere um pouco! O que é isso? 
Jennifer respondeu, com um ar de inocência 
As imagens que concordou em que eu mostrasse. 
Patrick Maguire ficou imóvel, em silêncio, furioso. Jen- nifer nada falara sobre um filme. Mas era tarde demais 
para levantar uma objeção. Ele acenou com a cabeça 
bruscamente e tornou a sentar-se. 
Jennifer mandou instalar a tela de forma a que o júri e o 
Juiz Silverman pudessem assistir com toda a clareza. 
PodemOs apagar as luzes, Meritíssimo? 
Ojuiz fez sinal para um funcionário. As cortinas foram 
fechadas, quase todas as lâmpadas apagadas. Jennifer 
encaminhou-se para o projetor de dezesseis milímetros 
e ligou-o. As imagens surgiram na tela. 
Pelos trinta minutos seguintes, nâo se ouviu qualquer 
ruido no tribunal, a não ser o zumbido do projetor. Jen- 
nifer contratara um cinegrafista profissional e um jo- 
vem diretor de comerciais para fazerem o filme. 
Eles filmaram um dia na vida de Connie Garrett. E eram 
uma história de horror, verdadeira, realista. Nada fora 
deixado à imaginação. O filme mostrava a linda jovem 
sem braços nem pernas sendo tirada da cama pela ma- 
nha, carregada para o banheiro, lavada como um bebê 
desamparado, tomando banho.. sendo alimentada e 
vestida... Jennifer já assistira ao filme por diversas ve- 
zes. Agora, ao vê-lo novamente, sentiu o mesmo aperto 
na garganta, seus olhos ficaram marejados de lágrimas. 
Ela sabia que estava causando o mesmo efeito no juiz, 
jurados e espectadores. 
38 
Quando o filme terminou, Jennifer virou-se para o Juiz 
Silverman e disse: 
A querelante nada mais tem a acrescentar.

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